POEMA de otilia martel/ Porto/Portugal
Sonho-te
Que sonhando-me
Sonhas-me,
Em teus braços,
Mil beijos
SussurradosSonho-te
E sonhando-me
Amo-te
No rasgar da pele
Buscando
carícias longas
Entregando-me
Sonho-te
No abraço incontido
Corpo entregue
Vencido
Em noites de vendaval
E esse perfume errante
– seiva quente –
dá vida dá alento
Mesmo que não passando
De ilusão,
Que se desfaz em nada,
Tal qual nuvem
Em tarde de Verão.
Sonho-te
Que sonhando-me
Sonhas-me…
Amando-te…
POEMA de ANTONIN ARTAUD – 1896/1948*
“Quem sou eu?
De onde venho?
Sou Antonin Artaud
e basta que eu o diga
Como só eu o sei dizer
e imediatamente
hão de ver meu corpo
atual,
voar em pedaços
e se juntar
sob dez mil aspectos
diversos.
Um novo corpo
no qual nunca mais
poderão esquecer.Eu, Antonin Artaud, sou meu filho,
meu pai,
minha mãe,
e eu mesmo.
Eu represento Antonin Artaud!
Estou sempre
morto.Mas um vivo morto,
Um morto vivo.
Sou um morto
A tragédia em cena já não me basta.
Quero transportá-la para minha vida.
Eu represento totalmente a minha vida.
Onde as pessoas procuram criar obras
de arte, eu pretendo mostrar o meu
espírito.
Não concebo uma obra de arte
dissociada da vida.
Este Artaud, mas, por falta do que fazer…
Eu, o senhor Antonin Artaud,
nascido em Marseille
no dia 4 de setembro de 1896,
eu sou Satã e eu sou Deus,
e pouco me importa a Virgem Maria.
POEMAS MAL_DITOS de julio almada*
Um poeta em seu reino dos céus
Tem sempre esse inferno particular:
Se cortando na sutileza dos véus
Olha no olho do que há para revelar
Vê claro o que claramente oculto
É o mais escondido dos tesouros.
logo o acusam de estar em surto
ao dançar com a alma dos touros.
Chega de promessas do paraíso
repleto de prazeres artificiais.
Escrevo uma dor ácida e aviso:
sou o menos morto dos mortais!
Vestido com a ousadia nua:
Como flor de lótus nos funerais.
Quero a tinta que a beleza sua
E deitar vivo, aonde a vida jaz.
* do livro POEMAS MAL_DITOS.
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