FUGA PICTÓRICA poema de tonicato miranda

  

um piano pulsa teclas soltas e belas

peixes no aquário nadam e param, nadam e param

seguindo os arroubos de Rachmaninov

meus olhos voam além da sacada e varam

todos telhados da cidade, até o fim desta estrofe

 

Curitiba acorda e se põe preguiçosa

sob este lençol de bruma, no céu cinzento

dentro da sala, sobre o móvel, dentro da música

o passado retorna de forma gradual e lento

na voz do oboé, há uma sonoridade lúbrica

 

segue o piano rendilhando sua rapsódia

preso está Rachmaninov na eternidade

seus floreios tocam-me e são passos nos mattos

andando-me dentro do peito, por sobre a cidade

tristeza seguindo-me desde meus primeiros sapatos

 

um último acorde rompe-me da lucidez

as plantas nos vasos observam-me com seus olhos verdes

diferente da moça ao piano, no quadro da contracapa

sentada, de costas, toca Rachmaninov, Paganini ou Verdi

tecendo em mim com os dedos toda uma cidade e seu mapa

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