um piano pulsa teclas soltas e belas
peixes no aquário nadam e param, nadam e param
seguindo os arroubos de Rachmaninov
meus olhos voam além da sacada e varam
todos telhados da cidade, até o fim desta estrofe
Curitiba acorda e se põe preguiçosa
sob este lençol de bruma, no céu cinzento
dentro da sala, sobre o móvel, dentro da música
o passado retorna de forma gradual e lento
na voz do oboé, há uma sonoridade lúbrica
segue o piano rendilhando sua rapsódia
preso está Rachmaninov na eternidade
seus floreios tocam-me e são passos nos mattos
andando-me dentro do peito, por sobre a cidade
tristeza seguindo-me desde meus primeiros sapatos
um último acorde rompe-me da lucidez
as plantas nos vasos observam-me com seus olhos verdes
diferente da moça ao piano, no quadro da contracapa
sentada, de costas, toca Rachmaninov, Paganini ou Verdi
tecendo em mim com os dedos toda uma cidade e seu mapa