Arquivos Diários: 26 outubro, 2009

UM ADEUS A SATURNO de josé dagostim / criciuma.sc


 

Vai saturno…

Até tenho saudade de tua paciência comigo

Escrevi a alma nos versos da

Carta natal.

Às vezes, não acertei o enredo,

Mas na canção de Florbela encontrei

Neruda.

No ciclone, encontrei a brisa.

No vulcão, encontrei Plutão.

No reinado, encontrei a utopia.

Vai, adeus saturno,

Espero-te na curva do destino.

 

José Dagostim

12/10/2009

 

* Ouvindo Marcos Assumpção cantando os versos de Florbela Espanca (Capricorniana) escrevi estes versos, como “forma” de oferenda ao deus (Cronos), Saturno regente de Capricórnio. Que depois de dois anos dá adeus ao signo de virgem. Agradecer aos deuses que habitam nosso interior é uma generosidade que devemos cultivar para que a flor exterior floresça e a poesia amanheça…

 

MIGUEL BAKUN: homenagem ao seu centenário / curitiba

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Miguel Bakun era filho de Pedro Bakun – natural da cidade de Sokal – Ucrânia e Juliana Maksymowicz – natural da aldeia de Ripniv – Ucrânia.

O Embaixador da Ucrânia no Brasil Volodymyr Lakomov vira de Brasília a Curitiba para as solenidades organizadas em comemoração ao centenário de nascimento de Miguel Bakun.

No dia 27 de outubro, em razão das comemorações do centenário do artista paranaense Miguel Bakun (1909-2009), a Secretaria de Estado da Cultura, por meio da Coordenadoria do Sistema Estadual de Museus (COSEM), promove uma série de atividades para celebrar a vida e obra do artista. Neste dia, acontecem na Casa Andrade Muricy (Al. Dr. Muricy, 915 – Centro) o lançamento do Museu Virtual Miguel Bakun, apresentações de grupos folclóricos ucranianos, dos quais o artista descende, e a projeção de um filme sobre ao artista, de Sylvio Back.

Os eventos começam pela manhã, às 10h30, com uma solenidade póstuma no Cemitério Municipal de Curitiba (Praça Padre João Sotto Maior, s/n, São Francisco). Lá, o público poderá assistir a apresentação do Coral da Paróquia Ucraíno, uma missa em rito bizantino, além de visitar o túmulo de Bakun.

Na parte da tarde, às 16h, a Casa Andrade Muricy (Al. Dr. Muricy, 915, centro) irá realizar o lançamento do Museu Virtual Miguel Bakun, de vínculo com a rede do Sistema Estadua de Museus do Paraná. Durante o lançamento, o grupo folclórico ucraniano Poltava irá apresentar o espetáculo com banduristas, instrumento típico eslavo.

No final do dia, 18h, ainda na CAM, o público terá a oportunidade de assistir ao filme O Auto-Retrato de Bakun(1984), dirigido e produzido por Sylvio Back. Após a projeção, que terá a duração de 43 minutos, o cineasta irá participar de um bate-papo com a platéia. A produção foi contemplada com o prêmio Glauber Rocha de “Melhor Filme”, na XIII Jornada Brasileira de Curta-Metragem da Bahia.

Museu Virtual

Colocar as obras do artista na internet foi o caminho encontrado pela COSEM para divulgar e facilitar o acesso do público geral ao trabalho e legado artístico de Miguel Bakun. “Claro que não substituem um espaço museológico físico, mas complementam, apoiam a área da museologia por divulgar acervos e contribuir para o conhecimento”, explica Eliana Réboli, coordenadora da COSEM.

Os trabalhos que estarão em exposição na internet tiveram curadoria da equipe da própria COSEM, por intermédio de uma grande pesquisa bibliográfica em conjunto com grupos de estudos do Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC). “O Museu será sempre alimentado com outras obras e dados sobre Bakun”, garante Eliana.

Miguel Bakun

Rosemeire Odahara, coordenadora de projetos especiais da SEEC, destaca a importância deste artista para as artes plásticas paranaenses, justamente por ele ser uma espécie de elo entre a 1ª geração de artistas paranaenses, de uma época conhecida como Paraná Tradicional, e artistas que dialogaram com o modernismo. “Poucos conseguiram transitar entre estes dois momentos da arte e manter sua própria identidade”, explica.

Nascido em 1909 em Mallet, no Paraná, filho de imigrantes eslavos, Bakun começa sua produção artística na década de 40, quando participa de uma ateliê coletivo ao lado de artistas como Alcy Xavier, Loio Pérsio, Marcel Leite, Esmeraldo Blasi e Nilo Previdi. Ao longo de sua carreira, Bakun participou de diversas mostras coletivas e individuais e recebeu diversos prêmios, dentre eles o Salão Paranense de Belas Artes.

SERVIÇO: Centenário do Nascimento de Miguel Bakun, dia 27 de outubro 2009.

Programação:

10h30 – Solenidade Póstuma

Visita ao túmulo do artista

Oferta de flores

Apresentação do Coral da Paróquia Ucraíno – Católica N.S. Auxiliadora

Cerimonia Ucraniana em rito bizantino

Placa em homenagem ao centenário de nascimento do artista

Local: Cemitério Municipal de Curitiba (Praça Padre João Sotto Maior,          s/n, São Francisco)

16h – Espaço Miguel Bakun

Apresentação Capela de Banduristas Fialka do Grupo Folclórico Poltava

Lançamento do Museu Virtual Miguel Bakun vinculado à rede dos Sistema Estadual  de Museus do Paraná (SEEC)

Local: Casa Andrade Muricy (Al. Dr. Muricy, 915 – Centro)

18h – Exibição do filme, O AUTO-RETRATO DE BAKUN (1984). Roteiro, direção e produção de Sylvio Back; participação do pintor, Nelson Padrella. Co-produção: Embrafilme, Secretaria de Estado da Cultura e Fundação Cultural de Curitiba. Prêmio “Glauber Rocha”, de “Melhor Filme” na XIII Jornada Brasileira de Curta-Metragem da Bahia. Duração: 43 min.; cor/PB. Após a projeção, conversa com o cineasta Sylvio Back. Local: Casa Andrade Muricy(Al. Dr. Muricy, 915 – Centro)

O CASO DOS GENERAIS por jorge lescano / são paulo

O cromo representa o general Beresford (William Carr, vizconde de, 1768-1854 – Nota do Compilador) comandante invencível, entregando o espadim em sinal de rendição. Está de perfil e à esquerda do espectador como corresponde a quem chega – na convenção de nossa escrita — : oferece a arma com as duas mãos. As mãos do outro militar estão espalmadas e juntas, formando uma bandeja digna de receber o símbolo de sua vitória. A farda do invasor é vermelha com textura de veludo (uniforme negro imperial, de escamas brilhantes, com uma única estrela de ouro e esmeraldas no peito, e botas altas de verniz, que contrastavam com a palidez do seu rosto.- Enrique Molina: Uma Sombra Onde Sonha Camila O’Gorman; Editora Guanabara; R.J.; 1986; páginas 76/77). A do seu adversário, de tecido mais leve, azul com alamares dourados e detalhes em branco. Também o branco e o dourado fazem parte da roupa de Beresford, vencido porém orgulhoso súdito de sua Majestade Britânica (Alto, delgado, calvo […] infeliz executor dos desígnios da coroa – E.M.) O outro, anônimo ou de nome esquecido nos bancos escolares, é súdito de Fernando VII, rei da Espanha (Don Santiago de Liniers y Bremond, militar  francês a serviço da Espanha, 1753-1810. Foi vice-rei, governador e chefe da esquadra, simultaneamente, nomeado pela Primeira Junta de Governo que o mandou fuzilar alguns meses mais tarde. Reempossado pelos historiadores, seu primeiro sobrenome   designa um bairro e sua estação ferroviária na capital do país. – N.C.). Ambos militares se encontram em continente estranho e longínquo das metrópoles. Determinou o acaso – que alguns chamam A História –, que estes homens saíssem da Europa e se confrontassem numa geografia neutra, embora o chão que pisam pertença, por direito de ocupação, a Espanha (superfície de terreno coberta por uma multidão desprezível, gauchos, negros e gente de pigmentação subversiva, incapazes de respeitar as bandeiras do mais poderoso império da terra – E.M.).

Sir Home Riggs Popham, almirante de uma esquadra de seis navios “e por iniciativa privada”, lançou-se à conquista do Rio da Prata em 1806. Acompanhavam os barcos tropas de infantaria – 1.635 soldados, “porque o objetivo da Grã Bretanha é a felicidade e prosperidade daqueles países” – comandados pelo general Beresford, que depois seria famoso na guerra da Independência espanhola, isto é, lutando contra os franceses.

Porque a sorte beneficia os audazes, o desembarque foi um sucesso, apenas alguns disparos ao acaso. Em 27 de junho,  as tropas desfilaram pelas ruas de Buenos Aires com bandeiras e tambores, surpreendendo seus habitantes. Em princípio, a esquadra tinha por objetivo Montevidéu, cidade de 15.000 habitantes, contra os 40.000 de Buenos Aires; notícias de uma forte remessa de ouro nesta última, modificaram o filantrópico programa. No forte da praça, residência do vice-rei, o brigadeiro Quintana  lhes entregou a cidade.

Em 12 de agosto daquele mesmo ano, don Santiago de Liniers y Bremond “reconquista” a cidade.  – N. do C.

O quadro original (óleo sobre tela) foi realizado em data incerta para glorificar o vencedor. Talvez por isso o britânico se inclina sutilmente e mantêm os olhos baixos (um olho coberto por um emplastro negro – E.M.); tal atitude permitiu ao artista aumentar a estatura do seu herói, sem que parecesse desproporcionado, ou impertinente seu gesto familiar, a mão  direita sobre o ombro esquerdo do vencido, como Spinola no quadro de Velázquez (Os dois rivais se confundiram num abraço. Uns gauchos próximos  propuseram degolar o general inglês. Liniers os conteve com um gesto. – E.M.).  As cores escolhidas para retratar as tropas em conflito são vistosas, mas deixam margem à dúvida. A farda azul e branca do militar da direita prefigura a bandeira pátria que, no entanto, seria criada mais de uma década depois deste encontro, durante a guerra de independência da Espanha e por um general improvisado.

Se o pintor optou por excluir da paleta o amarelo da bandeira espanhola, poderia ter apresentado o vencedor em farda verde, cor complementar do vermelho, e que contraposto a ele produz intensa vibração na retina. Este contraste cromático reiteraria visualmente as hostilidades cujo epílogo se ilustra. Foi um ato instintivo o que lhe sugeriu a escolha do azul, ou, pelo contrário, trata-se de um anacronismo deliberado? Não é impossível que por ignorância ou esquecimento, tenha pressuposto que estas sempre foram as cores nacionais. Contudo, se a pintura é contemporânea das Invasões Inglesas, conforme recentes pesquisas permitem suspeitar, poderia ter inspirado as cores da bandeira pátria. As opiniões de que as cores da tela teriam sido alteradas posteriormente, e de que o cromo não respeita a obra original (misteriosamente desaparecida) não merecem crédito.

O leitor tem o direito  de perguntar se este símbolo é uma homenagem ao vencedor  do cromo. Se  assim for,  todo o  exercício (vide box) poderia ser interpretado como um eco do primeiro  confronto, na versão de um pintor desconhecido e  onipresente.

As cores azul e vermelho percorreram todo o século XIX, desatando-amarrando nós de ódio na santa guerra fratricida que forjou a nacionalidade. Azuis e Vermelhos irmanados pelo sangue dos degolados. Duas cores com prerrogativas de Destino: nascia-se e já se pertencia a uma das facções, sem que, muitas vezes, se soubesse por quais delas se morria (N. do C.).

Passado mais de um século e meio daquela derrota britânica, nas manobras de treinamento do Exército Nacional, as duas facções em que era dividido adotavam os nomes das cores das tropas representadas no quadro. Tratava-se de uma identificação meramente verbal. Os soldados, para cumprir à risca o exercício, vestiam uniformes de campanha (calça e jaqueta cáqui, estampadas em sépia; capacete de papelão sanfonado por dentro, com incrustações de gravetos e folhas naturais tenras no exterior, coturnos ocre), com a função de se mimetizarem na vegetação onde realizavam as escaramuças. Prática esta assimilada dos exércitos de nações altamente civilizadas e com larga tradição bélica. Porém, as roupas de campanha igualavam as tropas. Assim, para que as manobras alcançassem o fim pretendido com qualidade, sem confusão entre soldados do mesmo país e com fardas semelhantes, os comandos tornaram obrigatório o uso de um bracelete (de cetim) com a cor respectiva à sua facção (azul no braço direito, vermelho no esquerdo). – Roldán Barros:  Primeiro Simpósio da Moda Militar; Curuzú Cuatiá, década de 1990.)

Por cento e setenta e cinco anos Beresford (mantinha sob o braço esquerdo um sabre curto, cuja língua bifendida aparecia intermitentemente pela ponta; na mão direita, preso por uma das pontas, empunhava um emplumado bicorne de oleado. – E.M.) capitulou no cromo. Depois do sacrifício de dois mil Rapazes Azuis, na frustrada invasão às ilhas ocupadas por súditos de Sua Majestade Britânica, é previsível que o General Vermelho, sem homenagens, brindes nem banquetes, receba o atributo da vitória postado na margem direita do vídeo. O Azul se inclina sutilmente para depositar em suas mãos em bandeja o espadim original, retirado sem cerimônias do Museu Nacional.