A ESMOLA DE DULCE – de augusto dos anjos / sapé.pb
Ao Alfredo A.
E todo o dia eu vou como um perdido
De dor, por entre a dolorosa estrada,
Pedir a Dulce, a minha bem amada
A esmola dum carinho apetecido.
E ela fita-me, o olhar enlanguescido,
E eu balbucio trêmula balada:
– Senhora dai-me u’a esmola – e estertorada
A minha voz soluça num gemido.
Morre-me a voz, e eu gemo o último harpejo,
Estendendo à Dulce a mão, a fé perdida,
E dos lábios de Dulce cai um beijo.
Depois, como este beijo me consola!
Bendita seja a Dulce! A minha vida
Estava unicamente nessa esmola.
Tentativa número 3 – de “sofista pirateado”
Tentem os homens de forte fé
Ou tantos incrédulos da ciência
Explicarem a mim isso o que é
Desculpa para tédio ou doença:
Já não sou mais o mesmo menino
Se sou pensei ter crescido homem
Enganou me o tempo e o destino
E à noite os meus sonhos somem
Como tivesse todas as moléstias
Fraco dos nervos, até da cabeça
Coitado que não vai mais às festas
Quer mais que o mundo o esqueça
Como, com que força, que vontade
Meus sentidos transmudam, tremem
Vou falar, frases saem pela metade
Mudo minha cara, não me entendem
Como entenderiam minhas lágrimas
Esse tormento que aflige meu estar
Essa febre que não passa, trágicas
Sinfonias frias que teimo em escutar
Perdi a fome mesmo, pareço fraco,
Pareço pedaços, sou feito de vidro
Feito cacos do velho espelho opaco
Que os meus sonhos têm refletido.
Ainda te amo mesmo partindo
Esta estrada não tem distância
Amarei-te longe por lembrança
E será meu lembrar mais lindo.
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