Jorge, um saudoso farmacêutico – por alceu sperança / cascavel.pr

Quando Jorge Pereira do Valle nasceu, há 91 anos, estava sendo proclamada a República Portuguesa e começava a Revolução Mexicana. No Brasil, piorava a briga entre Paraná e Santa Catarina, que iria dar no conflito sangrento do Contestado, e acontecia o vergonhoso massacre da Chibata. Como sempre, o mundo mudava e o Brasil continuava o mesmo por muito mais tempo.

Mas em 1910, ano de tantos avanços no mundo e muita sacanagem governamental no Brasil, nascia esse farmacêutico ao qual muitas famílias estabelecidas no Oeste paranaense devem uma dica preciosa: “Cascavel será uma grande cidade, invista aqui”.

Jorge Pereira do Valle morreu há pouco, no Hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul, durante uma cirurgia que deveria lhe recompor a bacia fraturada.

Não se pode dizer que o Brasil tenha vivido muito bem esses 91 anos, mas Jorge viveu. Foi uma vida de trabalho e a serviço da família e de suas amizades.

Sua figura amiga e voz suave brotam da gravação em que saúda os 50 anos da Acic, da qual foi um dos fundadores. Nela, conta que foi para Cascavel em 1946, integrando a equipe médica de apoio aos militares e operários encarregados de construir a atual BR-277, e recorda as famílias com as quais mais teve amizade, especialmente os Galafassi, Pompeu e Tolentino.

Participou da formação da cidade e da criação do Município. Mesmo depois de ter seguido adiante acompanhou sempre Cascavel e a terra vermelha ficou marcada em sua memória. No vídeo, a mana Regina lhe pergunta: “Do que o sr. sente saudades em Cascavel?” “De tudo! De todas as amizades que deixei lá”.

Nascido em Tijucas do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba, em 27 de março de 1910, filho dos agricultores Tobias Pereira do Valle e Ana Isabel do Valle, depois de completar o curso primário ele já começou a trabalhar.

Jorge foi indicado por um parente para trabalhar na Comissão de Estradas de Rodagem (CER-1), que construía a rodovia federal Estratégica. Auxiliava os seis enfermeiros destacados para prestar atendimento aos operários ao longo das obras.

Chegou a Cascavel e já não o deixaram mais sair para continuar o serviço médico da Comissão de Estradas. Convidado pela Madeireira M. Lupion a prestar atendimento de saúde aos operários como enfermeiro, passou a atender na Serraria Central, que depois passaria à Industrial Madeireira do Paraná.

Na época, os enfermeiros conseguiam se habilitar ou se provisionar como farmacêuticos e montavam seu próprio negócio. Comprando a farmacinha pioneira de Antônio Massaneiro, instalou-se com sua Farmácia São Jorge onde hoje é a loja Bigolin, na antiga rua Moysés Lupion, atual Sete de Setembro.

Em 1964 retornou a Curitiba, atitude da qual depois iria se arrepender, abrindo uma farmácia em Colombo. Em seus dois casamentos, teve nove filhos: Ivete, Alceu, Fernando, Osmar, Luiz, Ana, Josiane, Edson e Roberto.

Mesmo sendo fundador de uma associação comercial, não era um dos comerciantes mais espertos deste mundo: vendeu seu estoque para a Farmácia Santa Cruz e foi para São José dos Pinhais. Na RM de Curitiba, perdeu tudo o que havia conseguido em vinte anos de Cascavel, precisando recomeçar a vida. E foi o que fez.

Não apenas por isso, mas sobretudo porque os seis filhos do primeiro casamento nasceram todos em Cascavel, a lembrança da cidade oestina paranaense batia sempre.

Sentir saudades de Cascavel com tantos filhos cascavelenses era obrigatório. E agora a saudade fica por nossa conta, seu Jorge!

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Alceu A. Sperança – escritor

alceusperanca@ig.com.br

3 Respostas

  1. De fato Alceu,para Curitiba, só veio o corpo,a alma continuou nessa terra que ele tanto amou.Osmar Vale,filho.

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  2. Agradecemos a sua menifestação ,valorizando homens como * Seu Jorge*.acrescentamos ainda que,aos 90 anos,bastava fazer-lhe uma pergunta sobre a sua trajetória e podia esperar uma aula de historia com detalhes impressionantes,tudo com datas,nomes,desde a sua infância,chegando a cascavel,citando todos os momentos vividos na formação desta magnifica cidade.
    Um grande abraço de Osmar Vale irmãos e esposa.

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  3. Sou um dos filhos, agradeço muito em nome de minha família por seu artigo.
    Um grande abc.

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