A MIDIA NÃO É INEVITÁVEL – por jorge lescano / são paulo.sp
Sim, é possível.
Livro das cinzas e do vento.
Neste fim de semana a notícia sensacional è a morte da linda cantora pop Whitney Houston aos 48 anos. Espécie de fenômeno de vendas de discos e com carreira em vários ramos do espetáculo há mais de trinta anos. A notícia é repetida com insistência em todos os canais de televisão e pela internet e eu me perguntava quem seria esta celebridade, como se diz hoje. Só ao ver um retrato da artista quando jovem é que a reconheci. De fato, eu havia visto o filme O guarda-costas dez dias antes num canal de televisão especializado em filmes “antigos”, como se costuma dizer. Para mim ela morreu com dez dias de idade, pois antes de ver o filme nunca tivera notícia de sua existência.
Parece que existe uma hierarquia criada pelos meios de comunicação que vai de ídolo à celebridade e desta ao mito. Um leitor me adverte que Whitney Houston não era uma celebridade e sim uma cantora, aí eu me perco e não sei mais como tratar o tema, pois parece que se alguém é cantor não pode ser celebridade, e/ou vice versa.
A minha ignorância do assunto se deve ao puro desinteresse por esse ramo do jornalismo e das artes do espetáculo? Não tenho certeza.
Interrogando-me sobre o assunto notei que nunca assisti o famigerado BBB, tão popular, ironizado e vilipendiado por uma fração da imprensa e alguns internautas. Contudo, precisamente por esta insistência, estou desconfiando que eu acabe sendo mais um número na estatística do IBOP do tal programa. É de domínio público a frase: Falem mal de mim, mas falem? Parece que funciona. Se eu ceder à tentação televisiva prometo comunicar isto ao gentil leitor com o intuito de ele tirar suas próprias conclusões sobre a propaganda boca a ouvido (não boca a boca, por favor!).
Não me lembro de ter lido qualquer comentário dos críticos do BBB sobre a violação de leis trabalhistas brasileiras praticada pela rede Mcdonald, ou sobre a provável relação entre celibato e pedofilia na igreja católica, ou do crime contra a educação representado pelos livros destinados a alunos da rede pública vendidos como sucata (a autoridade responsável declarou que os livros obsoletos – do ano anterior – são vendidos para ser picotados e que os atuais serão distribuídos oportunamente. Assim anda a educação: o conhecimento é descartável ano a ano.). Isto para não falar dos aparelhos médicos e ambulâncias retidas em depósitos pela burocracia.
Estes assuntos circulam pelos mesmos meios que divulgam os programas de TV. Não costumo freqüentar as mídias mais sofisticadas. Sou uma pessoa à moda antiga, que lê manchetes de jornais, ouve rádio e assiste telejornais, portanto posso estar sendo injusto com esses críticos. Ainda assim a quantidade de referencias a estes assuntos (que aqui servem apenas de exemplos, há muitos mais) são menos volumosas que às do BBB. Sobre este programa não tenho opinião contra nem a favor, antes pelo contrário, isto pela simples razão de que nunca o vi. Acho que nisto minha consciência leva vantagens sobre as dos seus críticos.
Os políticos em geral não têm tempo para se ocupar da mídia (a não ser para aparecer nela) e tratam dos seus próprios negócios (graças a Deus, se não seria o caos). No congresso fazem política partidária acusando e/ou defendendo colegas e ministros corruptos dos outros partidos (fidelidade partidária é fundamental) e batalham duramente para conseguir cargos no governo. Assim, a mídia corre solta ao gosto dos patrocinadores e da Democracia Compulsória.
A coisa não merece texto mais longo. O que pretendo dizer é que a mídia não é inevitável, isto é, pode-se viver nos grandes centros urbanos, freqüentar a internet e, no entanto, permanecer moderadamente a salvo da influência da cultura de massas (!?) e dos meios de comunicação para as mesmas massas. Reconheço a existência da mídia – o seu questionamento pressupõe este reconhecimento – mas contesto a sua prepotência que direciona e controla inclusive a opinião dos seus críticos. As drogas existem e estão ao nosso alcance, não preciso consumir ou traficar para constatar a sua realidade. Negar a mídia seria como negar a existência das estrelas.
Por falar em estrelas, quem, que não seja especialista, criança ou morador de rua se preocupa com a existência delas? Serei eu um fenômeno isolado, único?
Senhoras e senhores, respeitável público, eu vos garanto: não sou um ET!
DESENCONTROS – por olsen jr / rio negrinho.sc
Foi na arrumação de uma caixa que percebi o envelope, era uma carta entre duas mulheres contendo um perfil de alguém que uma delas parecia interessada, não fosse… Afirmava: “… Se você pretende ser uma pessoa nom grata na casa dele, basta fazer estas coisas, não necessariamente nesta ordem: depois de comer, limpar a boca ou as mãos no pano de enxugar pratos; utilizar o garfo com que está comendo para esgravatar uma salada ou qualquer outro à mesa; terminada a refeição, indagar se na casa não existe palitos; servir-se de uma fatia de pão e sair espalhando migalhas pela casa; esquecer o cigarro aceso no balcão do bar (o seu canto favorito depois da biblioteca) de maneira que a xepa queime e atinja a madeira”…
Fui lendo distraidamente o texto e achando curioso que alguém se desse aquele trabalho, continuo… “Mexer nas peças de barro que representam o nosso boi-de-mamão e perguntar se pode levar esta ou aquela figura de recordação; pedir um livro emprestado de sua biblioteca; no banheiro, fazer xixi e não acionar a descarga ou lavar as mãos e respingar a água num raio de10 cmao redor da pia; tentar beliscar a carne na churrasqueira antes que ela esteja assada; pedir se não dá pra gelar um pouco o vinho tinto”…
Comecei a prestar mais atenção naquele comportamento sistematizado, até porque estava constatando certa familiaridade com o que eu próprio fazia, sigo… “Fazer a seguinte observação, sem ofender, mas não dá pra por um pouco de açúcar no chimarrão; cortar o queijo com a mesma faca com que você usou para passar geléia no pão; adoçar o café com a colher do açucareiro; perguntar se “ele” já consertou o desgraçado do telhado”…
Já estava identificado com muita coisa ali, ou então era uma grande coincidência, avanço… “Indagar quando irá por uma maldita lareira naquela casa; questionar se é bom morar sozinho naquele paraíso; especular se “ele” não gosta de outro grupo musical além dos Beatles; descobrir se “ele” não tem um interesse honesto por outra coisa que não sejam os livros e a literatura; ousar conhecer os segredos do “feiticeiro”, ou seja, saber se “escrever é fácil”; confirmar o que disse o poetinha Vinicius de Moraes, se o cachorro é o melhor amigo do homem ou se o uísque é o cachorro que vem engarrafado; finalmente, você sabe que “está na hora de ir embora” quando, imitando o mais nobre sotaque ilhéu, “ele” pergunta: — “Já vais? (pronunciando como um manezinho: — “Já vásss?”.
Se este cara aí não for minha “alma gêmea” então sou eu mesmo. Não contenho o riso. A carta estava datada de 1995 com a recomendação de me ser entregue depois que sua autora estivesse viajado para os Estados Unidos… Nunca dei importância, talvez a encarregada da incumbência não me inspirasse confiança e tivesse pensado que a tal carta fosse dela… Cá entre nós, não mudaria nada, afinal a cretina tinha feito uma radiografia acurada, claro, passado tanto tempo poderia ser acrescentado outros detalhes, aliás, o detalhe é a sofisticação do método, mas ela concluiu bem na carta para a amiga “… Meu anarquismo plebeu não combina com as esquisitices de um intelectual”…
E se fosse o contrário, penso, com esta sensibilidade, a escritora poderia ser ela!
NOTAS:
Olá, camaradas, salve!
Com esse texto me despeço…
Vamos manter a comunicação…
Em breve retomo, de outro lugar… Assim espero…
http://www.youtube.com/watch?v=CKHA2AGbXtI
Essa música “You’ve Got to Hide Your Love Away”, dos Beatles integra o
álbum “Help” (1965) e também faz parte da trilha sonora do filme de igual nome…
Sempre tive um carinho especial por ela, pela sonoridade, eles eram muito musicais…
Foi a segunda música em que convidaram alguém de fora (o flautista John Scott) para participar de uma gravação…
A primeira vez foi com “Love me Do”…
A letra diz que “você deve esconder o seu amor”…
Well, não é fácil… Nem esconder “o seu” amor e tampouco partir… Ir embora…
Dói…
Dói mesmo!
Até breve in another place…
PAULO – de gilda kluppel / curitiba.pr
Entre tantas escolhas
a mais difícil
ser um educador
retirando do cotidiano
a inspiração para as letras
não apenas adicionadas
e mal coladas
sílabas quaisquer
não pertencentes a ninguém
mas, agora construídas
formam
o tijolo do pedreiro
a agulha da costureira
a farinha do padeiro
sem o beabá dos outros
daquela cartilha estranha
sem a alma do povo
de repetidas palavras mudas
distantes da realidade de cada um.
E em boa hora se soletraria:
Ci-da-da-ni-a!
Paulo
fora dos confortáveis gabinetes
sempre misturado com gente
forneceu a trilha
da esperança
povo educado
corruptos envergonhados.
Sonho…utopia?
Ensinou
de que serve a vida sem ideais.
Este era Paulo
conhecido por peregrino
de sobrenome Freire.
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