Mãe Stella de Oxóssi, discurso de posse na Cadeira nº 33 da Academia de Letras da Bahia
Mãe Stella é a primeira sacerdotiza do culto afro no Brasil a ocupar uma cadeira na Academia de Letras. O Fato histórico aconteceu no último dia 12 de setembro de 2013.
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Mãe Stella na Academia de Letras Da Bahia |
Gostaria muito de iniciar meu discurso de posse nesta essa venerável Academia de Letras, dirigindo-me a todos, indistintamente, chamando-os de amigos. Entretanto, fui educada por uma religião que tem na hierarquia a sua base de resistência, o que coincide com a tradicionalidade desta Academia. Sendo assim, inicio este discurso saudando as autoridades presentes ou representadas, sentindo que estou saudando a todos que aqui vieram para engrandecer esta cerimônia
Não sou uma literata “de cathedra”, não conheço com profundidade as nuanças da língua portuguesa. O que conheço da nobre língua vem dos estudos escolares e do hábito prazeroso de ler. Sou uma literata por necessidade. Tenho uma mente formada pela língua portuguesa e pela língua yorubá. Sou bisneta do povo lusitano e do povo africano. Não sou branca, não sou negra. Sou marrom. Carrego em mim todas as cores. Sou brasileira. Sou baiana. A sabedoria ancestral do povo africano, que a mim foi transmitida pelos “meus mais velhos” de maneira oral, não pode ser perdida, precisa ser registrada. Não me canso de repetir: o que não se registra o tempo leva. É por isso e para isso que escrevo. Compromisso continua sendo a palavra de ordem. Ela foi sentenciada por Mãe Aninha e eu a acato com devoção. Em um dos artigos que escrevi, eu digo: Comprometer-se é obrigar-se a cumprir um pacto feito, tenha sido ele escrito ou não. O verbo obrigar, que tem origem no latim obligare, significa unir. Portanto, quando dizemos um “muito obrigado”, estamos sugerindo a alguém que nos fez um favor que a ele estaremos ligados, em virtude do favor que nos foi prestado. Obrigação é uma das palavras chaves do candomblé: aquela que abre muitas portas. Fazer uma obrigação ou a obrigação, fica sendo, então, uma forma de estar cada vez mais unido aos oríÿa.
Waldemar Mattos também escreveu o livro A Bahia de Castro Alves e foi na sede da Associação Comercial da Bahia que o conclamado Poeta dos Escravos, na verdade poeta dos fracos e oprimidos, fez sua última declamação pública. Na tarde do dia 10 de fevereiro de 1871, apenas cinco meses antes de deixar esta vida, Castro Alves recitou o poema No meeting du Comité du Pain durante uma reunião filantrópica promovida pela colônia francesa em benefício das crianças desvalidas da Guerra Franco-Prussiana.
A frágil saúde de Bira Gordo, como gostava de ser chamado, não o impediu de dar uma grande contribuição ao mundo intelectual e de transmitir alegria por onde passava e para todos com quem convivia. Sua prestabilidade era incontestável! Nunca se negava a participar de nenhum evento para o qual fosse convidado a contribuir com sua forma única de estoriar a história. Intelectual cinco estrelas; contador de “causos” de estrelas incontáveis. Bira registrou pouco seus vastos conhecimentos.
Muitas pessoas, no passado e no presente, lutaram para que hoje eu pudesse, de maneira natural, fazer parte desta Academia. Uma delas foi o patrono da cadeira onde me firmo. Antônio Frederico de Castro Alves entoou gritos poéticos na tentativa de despertar a sociedade brasileira para a mais cruel de todas as atitudes humanas: a privação da liberdade. Em 1868, através de seu poema “Vozes d’África”, ele clamou:
Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito…
Onde estás, Senhor Deus?…
Qual Prometeu tu me amarraste um dia
Do deserto na rubra penedia
– Infinito: galé! …
Por abutre – me deste o sol candente,
E a terra de Suez – foi a corrente Que me ligaste ao pé…
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar. Tinir de ferros… estalar de açoite… Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar…
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente…
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais …
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos… o chicote estala.
E voam mais e mais…
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
A poesia de caráter social de Castro Alves era típica da terceira geração do Romantismo brasileiro, chamada Condoreira, pois o condor é uma ave símbolo de liberdade. Representante da burguesia liberal, Castro Alves foi o último grande poeta da geração Condoreira que, por meio da literatura, instigava o povo para exigir a abolição da escravidão e a proclamação da república, aproximando, assim, o Romantismo do gênero literário seguinte – o Realismo.
São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo, no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.
Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu…
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.
Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar…
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.
Unidas… Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!
Ôba Kawoo
Ôba Kawoo Kabiesile
Kö mö èsi kunlè
Ôba Kawoo
Ôba Kawoo Kabiesile
Çkùn
Esse adurá, em tradução, quer dizer: “Xangô, Rei Leopardo cuja decisão e ação ninguém poderá questionar. Dê-me como resposta a construção completa desta casa”. Através dessa reza em forma de cântico, Mãe Aninha pediu condições para construir o Ilé Àÿç Opo Afonjá. Ainda hoje, nós, seus descendentes espirituais, continuamos entoando sua oração, todas as quartas-feiras na “Casa de Candomblé” construída por ela, pedindo forças para nos mantermos firmes em nossas decisões; pedindo humildade para mudar as ações que nos sejam questionadas, apenas quando elas forem justas. Somos descendentes de Mãe Aninha! Somos filhos de ßàngó! Somos filhos da justiça! Somos educados, polidos e firmes. Somos filhos da resistência!
Se Mãe Aninha pediu a seu oríÿa, ßàngó, forças para construir seu “Terreiro de Candomblé”, eu peço a meu oríÿa, Õÿösi, que dê força, saúde e prosperidade a mim e a todos aqui presentes, principalmente aqueles cujos corações são puros.
Mãe Stella puxa o cântico em homenagem a seu oríÿa:
Olówo mo npe mi ô iye iye
Ôdç mo pe mi olùbö ai pè
Mo npe mi ô iye iye
Ôdç mo pe mi olùbö ai pè
Mo npe ni ná së ni dé ná
GILMAR MENDES CONDENA WAGNER MOURA / brasilia.df
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Gilmar Mendes condena Wagner Moura
30/05/2012 19:02 | Categoria: Brasil
Gilmar Mendes exigiu também que Wagner Moura fizesse trabalhos vocais forçados com Susana Vieira
NAS FAVELAS, NO SENADO – Indignado com um falsete emitido por Wagner Moura na interpretação de A Via Láctea, o ministro Gilmar Mendes, do STF, condenou o ator a fazer uma ponta em Malhação por 6 anos. “Os gângsters da MTV organizaram essa homenagem aos bandidos da Legião Urbana com o claro intuito de desviar o foco do julgamento do mensalão”, vociferou, em si bemol.
Ao se deparar com outro maneirismo vocal na canção Teorema, Gilmar Mendes perdeu o controle: “Maneirismo ignorante! Coisa de gente de gente burra, de uma nota só! Vamos parar com isso! Quem precisa disso!? Eu e a música popular brasileira não precisamos desses recursos para sobreviver”. A seguir, ainda exaltado, completou: “Esse show é uma orquestração do Lula com o setores radicais da MPB para desmoralizar o Supremo”.
Ainda fora de si, o ministro balbuciou palavras desconexas em alemão, tais como “mensalonen”, “marmeladen”, “Demostenen und Ich”. “Era uma menção ao pacto com o Demo, no Fausto, de Goethe”, explicou depois o assessor para assuntos germânicos do STF.
Socorrido com um copo de água benta, o ministro recobrou a consciência e perguntou “Que país é esse?”. Depois, bateu palmas e, ainda pálido, comentou: “Puxa, não tocaram Faroeste Cabloco‘. É a minha predileta!”
PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF dá posse a COMISSÃO da VERDADE (vídeos, foto, texto) / brasilia.df
dê UM clique no centro do video:
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Integrantes falam na posse da COMISSÃO:
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O Brasil e as novas gerações merecem a verdade, afirma presidenta Dilma
Presidenta Dilma Rousseff durante cerimônia de instalação da Comissão Nacional da Verdade, no Palácio do Planalto. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
A presidenta Dilma Rousseff afirmou hoje (16), no Palácio do Planalto, ao dar posse aos integrantes da Comissão da Verdade, que o Brasil e as novas gerações merecem a verdade. Segundo Dilma, a comissão, que terá prazo de dois anos para apurar violações aos direitos humanos ocorridas no período entre 1946 e 1988, que inclui a ditadura militar (1964-1985), não será pautada pelo revanchismo e pelo ódio.
“O Brasil merece a verdade, as novas gerações merecem a verdade e, sobretudo, merecem a verdade factual aqueles que perderam amigos e parentes e que continuam sofrendo como se eles morressem de novo e sempre a cada dia. É como se disséssemos que, se existem filhos sem pais, se existem pais sem túmulo, se existem túmulos sem corpos, nunca, nunca mesmo, pode existir uma história sem voz. E quem dá voz à história são os homens e as mulheres livres que não têm medo de escrevê-la.”.
Segundo a presidenta, a criação da Comissão da Verdade não foi movida pelo desejo de reescrever a história. Para Dilma, a instalação da comissão é a celebração da transparência da verdade de uma nação que vem trilhando seu caminho na democracia.
“Ao instalar a Comissão da Verdade não nos move o revanchismo, o ódio ou o desejo de reescrever a história de uma forma diferente do que aconteceu, mas nos move a necessidade imperiosa de conhecê-la em sua plenitude, sem ocultamentos, sem camuflagens, sem vetos e sem proibições”.
Dilma afirmou que os sete integrantes da Comissão da Verdade – Cláudio Fonteles, Gilson Dipp, José Carlos Dias, João Paulo Cavalcanti Filho, Maria Rita Kehl, Paulo Sérgio Pinheiro e Rosa Maria Cardoso da Cunha – foram escolhidos pela competência e pela capacidade de entender a dimensão do trabalho que vão executar.
“Ao convidar os sete brasileiros que aqui estão e que integrarão a Comissão da Verdade, não fui movida por critérios pessoais nem por avaliações subjetivas. Escolhi um grupo plural de cidadãos, de cidadãs, de reconhecida sabedoria e competência. Sensatos, ponderados, preocupados com a justiça e o equilíbrio e, acima de tudo, capazes de entender a dimensão do trabalho que vão executar. Trabalho que vão executar – faço questão de dizer – com toda a liberdade, sem qualquer interferência do governo, mas com todo apoio que de necessitarem”, disse a presidenta.
Na cerimônia, a presidenta também falou sobre a Lei de Acesso à Informação, que passa a vigorar a partir de hoje, junto com a Comissão da Verdade.
“A nova lei representa um grande aprimoramento institucional para o Brasil, expressão da transparência do Estado, garantia básica de segurança e proteção para o cidadão. Por essa lei, nunca mais os dados relativos à violações de direitos humanos poderão ser reservados, secretos ou ultrassecretos”.
AMILCAR NEVES, discurso de posse na ACADEMIA CATARINENSE DE LETRAS
(Discurso à moda de ficção)
Discurso de posse da Cadeira nº 32 da Academia Catarinense de Letras, proferido em 12.04.2012
Senhoras e Senhores,
Preciso pedir-vos desculpas antes mesmo de proferir as primeiras e pobres palavras que tenho para vos dirigir. Desculpai-me pela data escolhida para esta solenidade, especialmente se ela vos comprometeu outros melhores afazeres: não tenho tanta culpa assim que este evento ocorra no dia de hoje. O presidente Péricles Prade
reuniu a diretoria desta Casa de José Boiteux e o escritor e acadêmico Mário Pereira ficou encarregado de me telefonar, dizendo que a Academia sugeria o dia 12 de abril de 2012 para que novo inquilino tomasse posse da Cadeira de Santos Lostada, a Cadeira de número 32. A mim me cabia apenas concordar com a sugestão feita ou propor outra ocasião, e eu aceitei este 12 de abril.
Ninguém sabe disto, mas exultei com a data escolhida. Conto-vos agora, contista que me considero ser, em primeiríssima mão, o motivo dessa minha estranha satisfação.
Houve outro 12 de abril em minha vida, há precisos 25 anos. Há exatamente um quarto de século eu me encontrava na cidade de Acapulco, estado de Guerrero, na costa do México, às margens do Pacífico. Participava da convenção latino-americana da empresa para a qual então trabalhava, uma grande multinacional da área de informática; na verdade, a maior empresa do mundo nesse segmento da tecnologia que tanto crescia e tão mais cresceu de lá para cá. Naquele dia, em 1987, faltavam 12 dias para que eu completasse meus 40 anos de vida. Era um domingo, a tarde iniciara-se belíssima, ensolarada, com um ar temperado e muito agradável para sair meio ao acaso. Pela manhã, houvera a última sessão de trabalho da convenção e, à noite, teríamos a cena de clausura, que é como os espanhóis confinantes e os espanhóis distantes chamam o nosso jantar de encerramento. No dia seguinte, bem cedo, um pequeno grupo daqueles que ali se encontravam, mais precisamente 12 analistas de sistemas, entre os quais contava este que vos fala, partiria para um périplo de 10 dias por fábricas e laboratórios da empresa ao longo da costa Oeste dos Estados Unidos, em Vancouver, no Canadá, terminando o circuito tecnológico no estado de Nova York, com ponto final da viagem programado para Manhattan.
A tarde dominical ficou reservada para o lazer. Muitos preferiram, como sempre preferiam nessas ocasiões, beber à beira da piscina do hotel 6 estrelas – tratava-se do Acapulco Princess – em que nos puseram hospedados, um conjunto que efetivamente se proclamava, à época, detentor daquela avaliação raríssima, a máxima possível. Eu, porém, não sairia do meu cultivado canto ilhéu para deixar-me quedar por horas a tomar aperitivos hexa-estrelados à beira de uma enorme piscina, protegido por toda a segurança possível e inimaginável contra o mexicano suspeito. Pois mexicano pobre é mexicano suspeito. E o mexicano asteca, para complicar mais ainda sua situação, nem branco é. Portanto, a segurança se fazia imprescindível para resguardar centenas de cabeças privilegiadas e premiadas, posto que alcançar o direito de ir a uma convenção era, antes de tudo, um prêmio cobiçadíssimo e muito valorizado por toda a linha gerencial da empresa de origem estadunidense. Não, recusei-me a ficar na piscina, mesmo porque não foi necessária nenhuma atitude heroica, de supremas coragem e ousadia, para exercer tal recusa: bastou-me escolher outra opção de programa das muitas oferecidas pela organização.
Outros colegas das Américas preferiram passar a tarde na praia, programa que nada sensibilizava alguém que mora o ano todo em uma ilha atlântica. Terceiros resolveram ir para o apartamento, ligar a televisão – vício indomável para muita gente – a esperar o sono e dormir, ocupando assim o enorme tempo ocioso que lhes destinaram. Houve também naquele domingo, como de hábito, um bocado de conversa ao pé do ouvido que definiu, ou alterou, transferências, promoções, chefias e cotas de venda, essas coisas capitalistas.
Transbordantes de civismo, grupos de quatro ou cinco convencionais se deslocavam já em direção à área de esportes do hotel a fim de, em defesa das cores pátrias, ainda mais sagradas e saudosas quando se está no exterior, incentivar os atletas ou participar da indefectível partida de futebol entre Brasil e Argentina, com camisas oficiais e tudo o mais. Tampouco me seduziria essa pequena guerra contra los hermanos. Ou deles contra los macaquitos brasileños. Não; o cardápio de opções oficiais de lazer oferecia mais.
Oferecia uma frota de ônibus saindo a intervalos regulares do hotel e parando em pontos predeterminados ao longo das franjas da belíssima Baía de Acapulco, pelas quais se espalha a região mais charmosa e turísticada cidade, até o lado oposto, em frente ao porto, onde se situa o Fuerte de San Diego. Em tais pontos, os convencionais, identificados, podiam descer do ônibus e visitar as atrações das redondezas, geralmente com guias à disposição, enquanto o ônibus continuaria circulando. Ou abordar o veículo, embarcar e seguir até a parada adiante que lhes interessasse conhecer. Pensando nos fortes portugueses da Ilha de Santa Catarina, obviamente optei pelo forte espanhol, que espreita o mar sobre a Avenida Costera Miguel Alemán.
Perdoai-me, distintas Senhoras, desculpai-me, nobres Senhores, já chego lá: é que sempre gostei muito de viajar. Por isso me apanho quase viajando de novo ao falar de viagens.
Eu já estivera em Acapulco no ano anterior. Nunca planejei ir àquela cidade criada a propósito para atrair estadunidenses ricos – e, no entanto, voltava ali um ano depois. Em 1986 foi a Literatura que me levou até ela. Era o ano da segunda Copa do Mundo de Futebol a se realizar no México e o selecionado brasileiro, sem dúvida alguma, seria outra vez campeão mundial. Num concurso literário promovido pela finada Rede Manchete de Televisão e patrocinado por uma grande multinacional do tabaco, entre doze mil concorrentes de todo o Brasil, um texto meu, um pequeno conto de 20 linhas ou menos (essa era a condição imposta pelos organizadores: somente seriam aceitos contos com o mínimo de dez e o máximo de 20 linhas), um conto de título Galera oito foi o quinto colocado, o que me valeu um aparelho de televisão.
Entretanto, o meu Galera sete ficou em primeiro lugar nesse mesmo concurso, dando-me como prêmio a viagem ao México para assistir, à minha escolha, fosse em Guadalajara ou na Ciudad de México, jogos das semifinais e finais da Copa do Mundo: um carro me apanhava no mesmo Acapulco Princess do ano seguinte, me levava ao aeroporto, eu voava até o destino escolhido, onde outro carro já me aguardava com o ingresso na mão, deixava-me no estádio e, terminada a partida, repetia-se o trajeto, agora invertido, para me deixar em casa, digamos assim. Para as despesas fora do hotel, a multinacional do cigarro deu-me, livre de prestação de contas, isenta de recibo e em dinheiro vivo, a quantia de 500 dólares dos Estados Unidos. Preciso fazer as contas para descobrir quanto me rendeu cada linha daquele conto.
Esses meus dois contos, aos quais juntei as demais Galeras de um até onze (um time de futebol) e oCamisa doze (a torcida), estão publicados no livro Relatos de Sonhos e de Lutas.
Permiti-me, suplico-vos, duas anotações mais, rápidas, sobre a primeira viagem a Acapulco. Uma façanha que logrei foi ter encontrado – e comprado – na Sanborns, uma pequena loja da Avenida Costera que também vendia alguns livros, uma bela edición íntegra, encadernada em vermelho e baratinha, de El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de la Mancha, ilustrada con grabados de Gustavo Doré. Aposto que não existe muita gente que tenha algum livro comprado em Acapulco. Ninguém compra livros em Acapulco. Aliás, até me parece que ninguém lê livros em Acapulco. Talvez em outros lugares esse fastio também aconteça, não sei.
A segunda anotação: à época eu fumava. Fui um bom fumante, ocupação que me dava enorme prazer, especialmente quando me punha a escrever e mantinha uma dose de uísque à mão. Hoje continuo com o uísque no gelo e a escritura, muitas vezes manuscrita, o que igualmente me dá profunda satisfação. Pois então eu fumava, à época, e faz-se escusado dizer que não gastei, em toda a viagem, um centavo sequer de cruzado, um cent que fosse de dólar, com a compra de cigarros. Comecei a fumar Camel brasileiro já em São Paulo, antes da partida, depois Camel americano na escala em Miami, Camel mexicano no país da Copa e até Camelda Alemanha, pois havia em paralelo, no Princess, uma convenção da filial alemã do fabricante – e, subitamente, esses dias agora, me dei conta de que aquela marca de cigarros pagou a minha viagem de 1986 por causa de um texto literário e, hoje, vejo-me, aqui, prestes a sentar-me à Cadeira 32 deste elevado sodalício, desta ilustre sociedade de homens e mulheres de letras – e o 32, no jogo do bicho, é precisamente um dos quatro números do camelo…
Avancemos um ano, ou pouco menos do que isso, para retornarmos ao 12 de abril de 1987.
Era domingo, fazia sol, o clima punha-se ameno e eu estava a ponto de desembarcar em frente ao Fuerte de San Diego. Aquela viagem começava com a convenção no México, passaria pelos Estados Unidos e Canadá e, de Nova York, concluída a fase profissional da turnê, precisamente chamada pela empresa de Tour Tecnológico, já tudo planejado, eu viajaria até Miami, onde encontraria Maria Vitória, que chegava da Ilha de Santa Catarina. Naquele momento, eu entraria em férias por um mês, gastando-o todo em um circuito a dois que seguia direto para os meus 40 anos na cidade do México e prosseguia depois pela costa Oeste dos Estados Unidos (Los Angeles e San Francisco), cruzando para Leste até a província de Québec, no Canadá (Montréal e dali, por carro, até a Ville de Québec, ida e volta), para terminar outra vez em Nova York. Ainda em casa, nesta Ilha que tantas ideias interessantes nos sugere a todo instante, decidi que 40 dias de viagem, 5 semanas fora do País, mereciam que eu finalmente fizesse o que sempre pensara fazer e nunca tinha efetivamente realizado: escrever toda santa noite, onde quer que estivesse e à hora que fosse, ao menos dez linhas sobre os acontecimentos, sensações e observações do dia – o que me rendeu, eu vos confesso, mais de 170 laudas de texto bruto que guardo comigo, escondido dos olhos do mundo (assim como outros trabalhos literários mais), com zelo e orgulho – orgulho por ter cumprido à risca o compromisso solene que assumira comigo mesmo, inclusive naquele dia 12 de abril, quando cheguei ao meu quarto de hotel, devido às circunstâncias, apenas às 4 horas da madrugada (para viajar às 8 com um braço imobilizado).
Subi os degraus da escadaria de granito que leva da avenida até o pórtico de entrada do forte e, mais tarde, na delegacia do Distrito Judicial de Tabares, afirmei, com toda a segurança e convicção, que os fatos se deram precisamente às 4 horas e 12 minutos, conforme mostrava o meu relógio digital que travara com aqueles números estáticos no visor de cristal líquido. Em verdade, por virtude de uma pancada recebida, o relógio passara do modo relógio para o modo calendário, este no formato inglês, e aí “congelara”, ao mesmo tempo em que todos os seus botõezinhos de controle ficaram presos e inoperantes: as 4 horas e 12 eram, de fato, abril, dia 12.
O pórtico de entrada do San Diego é como se fosse um pequeno túnel de pedra medindo cerca de oito a dez metros de comprimento e largo bastante para grupos de pessoas entrarem e saírem com folga. Ao chegar à metade da travessia, ouvi às minhas costas passos de gente correndo; instintiva, porém despreocupadamente, olhei e vi dois garotos, de 15 e 18 anos presumíveis, aproximando-se de mim, ambos com longos e grossos porretes de madeira erguidos nas mãos. O mais velho trazia um segundo cacete em cuja ponta encrustava-se, de alguma maneira, uma baioneta. E chegaram batendo para valer, sem ameaças nem intimações.
Bailamos um longo tempo, ou durante o que me pareceu ser, na hora, quase uma eternidade. Eles batiam e eu me protegia com o antebraço esquerdo dobrado em frente ao rosto, preocupado em não ser golpeado na cabeça; a baioneta estocava insistente e cruzava-me à frente, procurando a macieza do abdômen para mais facilmente me abater. Eu me esquivava e dançávamos, os três, uma dança de morte. Uma estocada melhor aplicada varou minhas defesas, chegou-me à camisa, pressionou-me a pele da barriga – mas não conseguiu perfurá-la, deixando-me de lembrança apenas uma pequena equimose arredondada. Antes ou depois desta investida (cuja impressão epidérmica só fui perceber mais tarde), a baioneta zuniu de novo à minha frente, eu pulei para trás – havia também a preocupação máxima de não me deixar cair; no chão, eu seria vítima por demais fácil para os adolescentes –, pulei para trás mas não o suficiente: a ponta de metal da arma branca alcançou a camisa, cortou o tecido na horizontal e atingiu a pele na altura do estômago; atingiu a pele, produziu nela um pequeno risco que fez aflorar alguma gordura superficial ou um soro transparente – e foi embora. Certamente que, por uma questão de frações de milímetro, não cheguei a sangrar.
Os dois adolescentes me deixaram, talvez um pouco assustados pela demora da ação, assim que um deles conseguiu arrancar-me do ombro a máquina fotográfica com um filme inteiro quase completamente batido, a partir de uma escuna, na véspera, dos saltos para mergulho em La Quebrada, por parte de garotos pobres mexicanos ou de rapazes exibicionistas, entre as rochas íngremes e sobre o pedregal do fundo assim que o mar preenche a falésia.
Tive as mãos muito inchadas, especialmente a esquerda, e o antebraço engessado num hospital depois de limpas do sangue coagulado todas as áreas atingidas pelos golpes. Nem um só dos meus ossos se partiu. Às 4 horas, não direi morto de cansado, mas vivo e cansado, eu cumpria responsavelmente a minha obrigação das dez linhas. Depois dos 40 dias, já no Brasil, em casa, recuperei em detalhes os acontecimentos daquele 12 de abril, colocando-o em palavras escritas. É incrível como, muito perto da morte, sai-se de um episódio assim com lembranças tão persistentemente vivas e minuciosamente detalhadas. Mais tarde, arrisquei muito ao pegar esse acontecimento real, vivido por mim, para tentar, com ele, fazer ficção – expediente que, no geral, não funciona bem: um excelente, ou interessante, ou engraçado, ou dramático, ou assustador fato real de hábito dá péssima literatura. Ainda assim, mesmo receoso, fui em frente e escrevi um conto. Mais tarde ainda, mandei esse conto, inédito, para um concurso literário. Algumas semanas depois, recebo, junto com um cheque de 350 dólares, a notícia de que o conto foi premiado em primeiro lugar e, traduzido, saiu em edição bilíngue português e espanhol na revista Plural – uma maravilhosa publicação cultural mensal do Excelsior, o maior jornal exatamente do… México.
Fascínio, o conto em questão, também está em Relatos de Sonhos e de Lutas, possivelmente o mais mexicano dos livros que escrevi até agora…
Senhoras e Senhores,
Devo dizer-vos que os riscos que assumi na vida não pararam por aí. O mais recente deles aconteceu há umas poucas semanas, quando solicitei ao escritor e presidente Péricles Prade, dirigente maior desta mui respeitável Academia Catarinense de Letras, que designasse o escritor e acadêmico João Nicolau Carvalho para me receber nesta Casa. Vós vistes o resultado da minha imprudência…
O risco, a exposição a que me submeti agora, decorre do fato de que o João Nicolau é meu amigo de uma época na vida em que não se esconde nada de ninguém, menos ainda dos amigos do peito. E assim fomos nós na Tubarão da década de 60 do século passado – o que explica, também, os exageros engrandecedores que ele me atribuiu. De tudo o que ele disse de mim, para o bem e para o mal, tiremos 90% antes de tirarmos conclusões.
Algumas das melhores experimentações a que frequentemente nos dedicávamos lá, naquela época, foram discutir literatura, escrever literatura (o João bem mais do que eu, já com um romance na gaveta só para me causar inveja) e escrever sobre literatura. Onze anos depois desses dias na terra que Virgílio Várzea batizou de Cidade Azul, e após passar dez anos sem escrever uma só linha de texto literário, após fazer um curso de Engenharia Mecânica, após concluir uma pós-graduação em Fabricação, após iniciar-me profissionalmente nos mistérios e entranhas da informática, após morar um ano em Curitiba e quatro em Londrina, e após retornar a Santa Catarina em meados de 1975, indo morar em São José porque a Ilha não tinha espaço disponível para abrigar uma família de casal e dois filhos, decidi investir algum tempo, esforço e dedicação no velho sonho de escrever contos e, com eles escritos, tentar a publicação de um livro, um apenas, para atender a uma aspiração secreta de juventude. Publicar um livro me deixaria realizado como escritor – eu assim pensava, de verdade.
Autodidata, comecei a escrever do jeito que eu achava que deveria ser um conto, da maneira como eu gostaria de ler um texto de ficção. Guiei-me pelas leituras que, essas, não cheguei jamais a interromper. Lembro-me muito bem, por exemplo, da profunda impressão que me causaram no espírito os contos de Rubem Fonseca: O Homem de Fevereiro ou Março, O Cobrador e, especialmente, Feliz Ano Novo. Eram horizontes que se rasgavam, possibilidades infindas que se abriam, ideias audaciosas postas a borbulhar.
Assim, de 1975 a 1978 produzi um punhado de contos, desses meus contos autodidatas, mas não tinha ideia do que fazer com eles – mais ainda, não sabia que valor teriam aqueles textos, se é que eles tinham algum valor. Precisava desesperadamente de um escritor (de um crítico, na verdade, de um Lauro Junkes) que me avaliasse o material, que me indicasse como proceder, que me apontasse quais caminhos trilhar, mas eu não conhecia nenhum espécime dessa gente. Só o João. Mas, para mim, o João, antes de ser escritor, era amigo. Mas era o único escritor que eu conhecia pessoalmente, com livro publicado e tudo. E era reitor da UDESC e havia criado a UDESC Editora, mas isso não significava objetivamente nada. Pedi-lhe o obséquio de ler aquelas páginas e dar-me uma opinião, tão dura e sincera quanto precisasse ser. Ele leu e deu sua opinião.
– Manda para a editora da Universidade, ele falou, acho que o teu trabalho tem algum mérito e, quem sabe, até pode ser publicado. Lá temos um conselho editorial que dará um parecer. Vamos ver o que eles acham.
Eles acharam horrível e mandaram jogar tudo fora.
Na realidade, foi, coincidentemente, um acadêmico desta Confraria, já falecido, que não gostou do tom ideológico do conjunto e dos aspectos eróticos de uns tantos contos: “Despropósitos que a editora de uma universidade oficial jamais poderá publicar!”, ele decretou. Estávamos ainda sob a ditadura, lembremo-nos disto. Mas havia também um fado padrinho, a versão masculina da fada madrinha. Ele também atendia pelo nome de batismo de João, João Paulo Silveira de Souza, o grande escritor brasileiro, um dos maiores dos nossos ficcionistas de todos os tempos, e, por acaso, igualmente acadêmico desta Casa. O Silveira, de quem (suponho eu) mais tarde virei amigo, pediu vistas do projeto de livro e deu um parecer que, em votação, acabou prevalecendo, frontalmente contrário ao anterior. Por culpa exclusiva dele, pois, acabou saindo, em 1979 (33 anos passados, já!), o meu primeiro livro, com o inspirado título de O Insidioso Fato – algumas historinhas cínicas e moralistas.
De acordo com minhas mais caras ambições juvenis, esse era para ser o único e bastante, mas até o momento são oito os livros de ficção que publiquei, supondo que o meu amigo, escritor e acadêmico Francisco José Pereira me empreste, apenas para efeitos estatísticos, sua coautoria no livro O Tempo de Eduardo Dias – Tragédia em 4 tempos, uma peça de teatro que escrevemos sobre a vida do grande pintor catarinense. Este livro nos rende três processos judiciais, com pedidos de sua virtual retirada de circulação e de indenização por danos morais, nenhum deles da parte de familiares do artista, que eventualmente poderiam julgar-se ofendidos pela aparente realidade retratada – escrever biografias hoje, no Brasil, mesmo que ficcionais, é garantia de aborrecimentos profundos. A menos, naturalmente, que se tratem dessas obras laudatórias tão em voga, em regra encomendadas, as quais versam sobre personagens impolutos, nobres e desprendidos, mesmo quando o biografado é um político, ou um empresário, ou um ser humano. Dos processos a que eu, o Francisco e sua Editora Garapuvu respondemos, dois já foram arquivados com decisões a nosso favor. Pelo terceiro deles, entretanto, penamos as possibilidades da condenação ao pagamento de pesada indenização por conta de um fatos marginais relatados na obra, plenamente verídicos e totalmente documentados, narrados em forma de conversa de bar entre personagens secundários da peça. No entanto – pasmai, Senhores!, enrubescei, Senhoras! –, fatos tais ocorridos nesta cidade no ano da graça de 1919! Um ano antes, pois, da fundação desta excelsa Casa de Cultura! Estamos a pique de sermos penalizados porque um juiz decretou que, “ainda que verdadeiros os fatos, ainda que documentados os acontecimentos, a família do ofendido sofre demais ao ver assim tratado um seu antepassado”.
Senhoras e Senhores,
Caso o Francisco me conceda esse favor estatístico, serão oito os livros que terei publicado até aqui, até o momento da minha surpreendente aceitação por esta magna Sociedade – e oito, não nos esqueçamos, dizem, posto que nada conheço do assunto nem o utilizo, é o grupo do camelo no jogo do bicho, bicho que simboliza a Cadeira de Manoel dos Santos Lostada, a qual teve o fecundo jornalista Gustavo Neves como fundador e o admirável professor e incomparável ser humano Lauro Junkes como antecessor deste que vos fala (já há tanto tempo, há tempo demais, é verdade). Não é nada fácil desmembrar didaticamente a Cadeira de número 32, tamanho o entrelaçamento existente, e muito forte, entre seus vários ocupantes. Gustavo Neves, por exemplo, era genro adotivo de Santos Lostada, posto que casou com Benta dos Santos, filha adotiva do patrono. Como fruto das suas minuciosas pesquisas, Lauro nos ensina que Gustavo viveu na casa de Santos Lostada desde 1914, ou seja, a partir dos 15 anos de idade – quase um irmão, pois, de Benta, com quem veio a casar e ter filhos. Por outro lado, Lauro não nos informa os nomes dos pais de Gustavo Neves, situação similar à que ocorre com os pais de Ataliba Gonçalves das Neves, que vem a ser o avô paterno deste Amilcar, também Neves, que ora vos fala: ninguém me disse até agora quem são os meus bisavós Neves, nem de onde eles teriam vindo.
E há ainda os números e as datas que envolvem toda essa gente.
Algumas curiosas constatações: o patrono Manoel dos Santos Lostada nasceu em 8 de março (de 1860), enquanto Lauro Junkes, o terceiro na linha de sucessão, digamos assim, nasceu a 9 de março (de 1942). Ambos, porém, morreram em um 20 de outubro: Lostada em 1923, Lauro em 2010 – aliás, Lauro teve o capricho de escolher uma data de morte absolutamente redonda: 20 de 10 de 20-10, ou de 2010. Já os dois Neves da 32 nasceram em meses de abril: Gustavo em 10 de abril de 1899 (há 113 anos, pois, anteontem completados) e Amilcar a 24 de abril de 1947. Como os outros dois morreram no mesmo 20 de outubro e Gustavo se foi desta para melhor em 1º de abril de 1980, existe uma substancial possibilidade de que Amilcar venha a morrer também num primeiro de abril; estatisticamente, tal probabilidade é de 0,3%, só que o problema não é, claramente, de fundo estatístico, mas factual. Assim, caso isto se confirme, sinto-me aliviado pelo fato de acabar de superar mais um 1º de abril – o que, aqui entre nós, considerando o calendário gregoriano, me dá um bom fôlego, pelo menos até o finalzinho de março próximo.
Santos Lostada foi um nome que, do interior da minha ignorância, sempre me soou agradável e instigante pelo seu timbre espanholado, mas fazia-se difícil, para mim, à distância no tempo, conhecer algo da sua produção literária, a qual nem foi tão extensa. No seu discurso de posse nesta Academia, em 23 de junho de 1983, Lauro assumiu o compromisso: “Como está dispersa e quase inacessível para o leitor, proponho-me ao compromisso de, como homenagem a meu patrono, reunir futuramente o que for possível de sua obra e dar-lhe publicação em alguma forma de livro.” Homem de palavra e homem de pesquisa minuciosa, nosso notável Lauro, a quem muito deve a cultura literária deste Estado, resgatou em 2008 o solene compromisso publicamente assumido um quarto de século antes. E o fez através do volume 35 da Coleção ACL (coleção que, de forma magistral, ele tanto impulsionou, especialmente através do seu laborioso trabalho de resgate das raízes da nossa Literatura, compilando e nos trazendo obras quase esquecidas dos fundadores das letras catarinenses). Ao livro de Manoel dos Santos Lostada, Lauro Junkes deu o título de Minutos de Mar, uma referência direta à coluna de mesmo nome que nosso Patrono comum assinou no jornal Folha do Commerciopelo menos entre 1909 e 1910. E, desse livro, ressaltam as qualidades embrionárias do contista, com três obras promissoras de um gênero que lamentavelmente ele não desenvolveu mais, e, em especial, destacam-se as virtudes do cronista – no caso, obviamente, crônicas publicadas às quartas-feiras, como hoje o imita este também cronista semanal no Diário Catarinense.
Agrada-me sobremaneira a abertura da crônica Os crótons, publicada há 112 anos completados quatro dias atrás (A Página, Florianópolis, 08.04.1900): “Madalena, a esfíngica Magdá dos íntimos, profunda, austera, de ironias lacônicas e olhos em cismas, teve o extraordinário capricho de estar alegre. Recebeu-me em risos, de coração aberto. […] Jamais a vira assim, tão palavrosa e gárrula. Toda de branco, no festival do jardim, suavizava-lhe o rosto o cabelo abundante e negro, solto pelas espáduas.”
Erotismo, parece-me.
Magdá, Lostada… Ele foi grande amigo, íntimo, de João da Cruz e Sousa e de Virgílio dos Reis Várzea. Juntos, os então três jovens poetas publicaram, em 1883, o livreto dedicado “à Julieta dos Santos”, uma atrizinha de nove anos que passou pela Ilha derrubando corações. Cruz é o nome maior do simbolismo brasileiro, nosso negro sublime, o marco da poesia barriga-verde. Várzea, na prática, deu formas ao conto catarinense, além de ser considerado um marinhista de escol, votado ao culto das coisas do mar, mar ao qual nossa Capital sempre foi, estranhamente, por estar numa ilha, tão avessa. E o Manoel, Manoel dos Santos Lostada? Será que não seria o caso de pensarmos nele como o patrono, não só daquela Cadeira 32, que daqui vislumbro, como da crônica catarinense?
Senhoras e Senhores,
Entrego a palavra àqueles que detiverem a necessária autoridade para dirimir a questão – deixando claro que a melhor pessoa a fazê-lo teria sido o nosso inesquecível Lauro Junkes.
Este Lauro, que sempre foi tão gentil comigo – mas que o era com todos os que o procurassem; este Lauro, que está aqui muito perto de todos nós que o conhecemos tão bem e que dele tanto admiramos a sagaz inteligência; este Lauro, que nos deixou esparsa em jornais, revistas e livros alheios uma obra com o registro fundamental da produção literária catarinense; este Lauro, que tantas pessoas, tantos intelectuais, tantos escritores melhor do que eu teriam a necessária competência para sucedê-lo na Cadeira 32; este Lauro, de quem não fui aluno formal, nem colega de magistério, nem comandado na Academia, mas que mesmo assim vez ou outra me chamou cá para dentro desta augusta Casa para ouvir e, até, suprema audácia!, para falar; este Lauro que tanto respeitamos e que tanto valorizou a Literatura feita em Santa Catarina, por insignificante que ela fosse – por insignificante que ela seja – , porque acreditava que não seria na Universidade do Acre que as nossas letras seriam estudadas academicamente, mas apenas aqui, no seu espaço nativo, nas faculdades e universidades locais é que ela encontraria espaço, um espaço que ele tão soberanamente valorizou e pelo qual tanto brigou, nem sempre com o merecido êxito; este Lauro Junkes olhou para mim um dia e disse, em palavras candentes que me marcam até hoje e que me marcarão até um primeiro de abril desses aí:
– Tudo bem que escrever crônicas e publicá-las em jornal é interessante, divulga o teu nome, torna-te conhecido onde o jornal for lido. Entretanto, isso, a crônica, é passageiro, tão passageiro como o jornal que a veicula. Se queres algo das Letras, se desejas a tua obra inserida na Literatura, concentra-te no conto, na novela e no romance. Isto é o que permanece um pouco mais, isto é o que poderá trazer algum respeito pelo teu trabalho literário.
Ele me falava de imortalidade, a pequena imortalidade que buscamos todos os que escrevemos com seriedade, sem concessões, fieis a nós mesmos, aos nossos princípios, às nossas ideologias. Preciso ouvir o Mestre – ouvir no sentido de seguir suas palavras.
Senhoras e Senhores,
Acreditai em mim, rogo-vos: eliminei mais de 80, talvez 90% do que, ingenuamente, planejara dizer-vos. Talvez um livro dê conta da tarefa – um livro que, como costumeiro, poucos lerão (mas, ainda assim, teimamos em escrever livros).
Quero aqui, agora, agradecer, e agradecer de coração: agradecer aos acadêmicos que, sei lá por quais motivos, escolheram votar no meu nome para ocupar esta prestigiosa Cadeira 32; agradecer, com igual ênfase e reconhecimento, a todos aqueles que preferiram outros nomes para sufragar: uma unanimidade, se ocorresse, deixar-me-ia muito mal: só é unânime quem nada diz, quem nunca se posiciona, quem espera o vento soprar para escolher o lado para o qual pular; agradecer aos eventuais leitores que me prestigiam no jornal, no livro e na sala de aula: o que eles verdadeiramente prestigiam é a obra, não o autor, que pouco importa frente ao trabalho que este possa ou consiga desenvolver; agradecer a vós todos aqui presentes, e a muitos outros daqui ausentes pelos mais sérios e justos motivos, que poderiam destinar este tempo todo a tarefas bem mais gratificantes e prazerosas; agradecer aos amigos, parentes, conhecidos e seres humanos que a gente encontra e desencontra pelas esquinas da vida, pelos cantos do mundo; agradecer à Maria Vitória, um enigma: começamos a namorar no mesmo ano em que comecei a escrever, e agora já não sei mais se escrevo porque a amo ou se a amo porque escrevo, e assim não posso, sob pena de grave risco, prescindir, bígamo, nem dela nem da Literatura; agradecer a paciência e compreensão, ainda que forçadas, dos filhos Amilcar, Maria Alice e Lúcia Helena, dos netos Caio e Gabriel, do genro Nathan e da nora Mônica: esse povo todo sofre, sofreu, uns mais e outros menos, por causa dessa circunstância que faz os escritores necessariamente alhearem-se um tanto do mundo para criarem um outro mundo, fictício e mais real, de que outras pessoas, absolutamente estranhas e desconhecidas, é que eventualmente irão desfrutar; agradecer, por fim, a todos aqueles que aqui não citei por absoluta desmemória, inaceitável, da minha parte.
Senhoras e Senhores,
Assumo todas as responsabilidades desta honrosa investidura e coloco-me desde agora ao serviço das Letras, da Cultura e desta Academia de Santa Catarina.
Obrigado.
(Amilcar Neves)
NO DIA INTERNACIONAL DA MULHER, ofereço aos homens, companheiros de jornada no mundo – por zuleika dos reis / são paulo.sp /
A mulher só conseguirá se libertar inteira para si mesma, para o lar e para o mundo quando o homem que se queira novo também florescer inteiro, em todas as suas potencialidades de ser, para si mesmo, para o lar, para o mundo.
Não há como separar a evolução, a plenitude, os direitos e os deveres da mulher dos deveres, dos direitos, da plenitude e da evolução do homem. Quando ambos se puserem, ampla, geral e irrestritamente a serviço um do outro, e juntos a serviço do lar, e juntos a serviço do mundo, haverá de brotar um tempo melhor, um tempo mais justo.
É preciso que a nova mulher olhe de frente o novo homem e vice-versa. É preciso que se conheçam, para que se possam, efetivamente, reconhecer.
Folha e Globo escondem relação de importantes políticos com um dos maiores criminosos do Brasil
“Pensei que ele tivesse abandonado o crime”. Não é piada. Foi isso o que disse Demóstenes Torres (DEM), um dos principais moralistas do Congresso, sobre suas relações com Carlinhos Cachoeira, o mais destacado mafioso brasileiro. Não, Demóstenes. O Brasil inteiro sabia das atividades ilegais do bicheiro.
Senador Demóstenes Torres, encarado pela imprensa brasileira como Paladino da ética, recebia até presentes do mafioso Carlinhos Cachoeira
A prisão do bicheiro Carlinhos Cachoeira, que administrava uma série de cassinos ilegais em Goiás e nas cercanias de Brasília, cada um com faturamento mensal na casa de R$ 3 milhões, tem provocado um verdadeiro tsunami político em Goiás, estado administrado por Marconi Perillo, que vinha sendo apontado como um possível presidenciável do PSDB. Até agora já se sabe que:
1) o mafioso Cachoeira nomeava delegados e pagava mesada a policiais de Goiás
2) o mafioso Cachoeira distribuía presentes ao senador Demóstenes Torres (DEM/GO)
3) o mafioso Cachoeira indicava parentes até para a Secretaria de Indústria e Comércio de Goiás
Agora, mais uma revelação estarrecedora. Ele foi preso na sua residência, em Goiânia. Uma casa que, até 2010, pertencia a quem? Ao governador Marconi Perillo.
Reação de DEMÓSTENES TORRES (DEM-GO)
Ex-delegado, o senador Demóstenes Torres (DEM/GO) se especializou nos últimos anos em posar como eterno paladino da ética, pronto a assinar qualquer pedido de CPI e a prestar declarações a todo órgão de imprensa disposto a repercutir escândalos de corrupção. Até aí, tudo bem. Esse é o papel democrático da oposição. O que não se sabia – e se sabe agora – é que Demóstenes Torres é amigão do peito do bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso ontem na Operação Monte Carlo da Polícia Federal. Questionado sobre suas relações com o Don Corleone brasileiro, Demóstenes soltou uma pérola: “Pensei que ele tivesse abandonado a contravenção e se dedicasse apenas a negócios legais”.
Não, Demóstenes.
Impossível. O Brasil inteiro sabia das atividades ilegais de Carlinhos Cachoeira. Especialmente em Goiás, onde ele administrava uma rede de cassinos ilegais. O que o Brasil não sabia – e sabe agora – é que Cachoeira dava as cartas no governo de Goiás, nomeando delegados e técnicos de várias áreas do governo.
O que o Brasil também não sabia – e sabe agora – é que Cachoeira dava presentinhos ao senador mais moralista da República. No casamento do senador, o presente dado pelo bicheiro foi uma cozinha completa. “Sou amigo dele há anos. A Andressa, mulher dele, também é muito amiga da minha mulher”, declarou Demóstenes.
Além de desmoralizar o senador goiano, a Operação Monte Carlo também pode arruinar a carreira política do governador Marconi Perillo, do PSDB, que entregou a segurança pública do seu estado a um dos maiores contraventores do País.
FOLHA DE S. PAULO
Pé de uma página par, sem fotos, e sem referência aos nomes dos políticos no título e no olho. Assim, a Folha de S. Paulo noticiou o que apurou sobre as relações entre o mafioso Carlinhos Cachoeira e dois personagens centrais da política goiana: o governador Marconi Perillo, do PSDB, e o senador Demóstenes Torres, do DEM.
Intitulada “Preso pela PF tinha contato com políticos de GO”, a matéria está bem escondida. No entanto, a reportagem tem revelações importantes. Uma delas, a de que Perillo recebeu Carlinhos Cachoeira em audiência oficial. Outra, a de que Demóstenes jantava com frequência com o bicheiro, contando muitas vezes com a presença do governador. Além disso, Cachoeira era um suposto lobista da Delta Engenharia junto ao governo de Goiás.
Assim, como a Folha, as Organizações Globo também esconderam o que a Operação Monte Carlo traz de mais relevante: o fato de Carlos Cachoeira possuir influência direta no governo goiano.
ORGANIZAÇÕES GLOBO
É incrível silêncio das Organizações Globo, maior grupo de comunicação do País, sobre a Operação Monte Carlo, que prendeu o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Bom, de fato, há uma matéria no G1, portal de notícias da Globo. Mas é preciso ter lupa para encontrá-la. O texto remete para uma reportagem de Época, com título anódino: “As ligações de Carlinhos Cachoeira com políticos”. Políticos, como se vê, é uma expressão como outra qualquer. Poderia ser, por exemplo, baleias. Nenhuma preocupação em dar, no título da matéria, nome aos bois, indicando o governador Marconi Perillo, do PSDB, e o senador Demóstenes Torres, do DEM. Será que seria assim se os amigos do peito do bicheiro fossem representantes da base governista ou, mais precisamente, do PT?
Temos nossas dúvidas. Na reportagem de Época, Demóstenes Torres é quase uma vítima do bicheiro, que o iludiu. “Pensei que ele havia abandonado a contravenção”, disse ele.
Aguardemos as próximas aparições de Patrícia Poeta.
Brasil.247
DE POEMAS E DA POESIA – por zuleika dos reis / são paulo
Se meus poemas são poesia, não o sei com certeza, que nem todo poema é poesia, assim como muita prosa é poesia, tal qual a prosa de Guimarães Rosa, que já a tem desde o próprio nome. Gostaria de ter sobre minha escrita “poética” a mesma lucidez que me ocorre diante da escrita poética das outras pessoas.
Talvez eu seja apenas portadora de uma boa antena poética, que me garante a percepção de muita da poesia que flui das coisas e isto já é cota razoável de bem em um mundo de infinitas miserabilidades, criadas pela nossa Espécie.
Vejo a poesia como um bem de vocação comunitária, ao menos se avançarmos rastro atrás até a sua origem, vocação que se manteve, sob formas diversas, até ainda a Idade Moderna – falo de Ocidente – e que foi, a partir daí, se afastando cada vez mais celeremente dessa vocação e se tornando um exercício mais e mais solitário, para leitura de leitores apenas em seus espaços particulares. A Internet parece-me estar a trazer de volta, em novos moldes, a partilha da poesia, recuperando a sua dimensão social. Se ainda não é um bem para todos – nunca o foi, em verdade, em tempo histórico algum, este sonho é uma Utopia – é pão necessário para muitos, tão necessário para a vida como o são os pães feitos de trigo; água tão imprescindível como a água que permite a sobrevivência do corpo.
Se sou efetivamente poeta, não o sei; com certeza, nutro-me de poesia, da poesia que não se encontra só nos poemas, mas, em outras manifestações da arte. Sem a poesia, neste sentido mais amplo, eu seria um ser deveras miserável, digno de muitíssima pena. Sem a bênção da poesia eu seria, apenas, uma completa e irremediável mendiga, mendiga de mim mesma a me pedir esmolas ao real, ao que chamamos real imediato, com o qual temos os compromissos necessários e obrigatórios, no centro do qual, sem a poesia e o sentimento poético do mundo, segundo a expressão de Drummond, eu – só posso dar meu testemunho pessoal – morreria por falta de oxigênio.
O Pensamento de Parmênides – editoria
Seu pensamento está exposto num poema filosófico intitulado Sobre a Natureza e sua permanência, dividido em duas partes distintas: uma que trata do caminho da verdade (alétheia) e outra que trata do caminho da opinião (dóxa), ou seja, daquilo onde não há nenhuma certeza. De modo simplificado, a doutrina de Parmênides sustenta o seguinte:
- Unidade e a imobilidade do Ser;
- O mundo sensível é uma ilusão;
- O Ser é Uno, Eterno, Não-Gerado e Imutável.
- Não se confia no que vê.
Devido a essas , alguns veem no poema de Parmênides o próprio surgimento da ontologia. Ao mesmo tempo, o pensamento de Parmênides é tradicionalmente visto como o oposto ao de Heráclito de Éfeso.
Para alguns estudiosos, Parmênides fundou a metafísica ocidental com sua distinção entre o Ser e o Não-Ser. Enquanto Heráclito ensinava que tudo está em perpétua mutação, Parmênides desenvolvia um pensamento completamente antagônico: “Toda a mutação é ilusória”.
Parmênides vai então afirmar toda a unidade e imobilidade do Ser. Fixando sua investigação na pergunta: “o que é”, ele tenta vislumbrar aquilo que está por detrás das aparências e das transformações.
Assim, ele dizia: “Vamos e dir-te-ei – e tu escutas e levas as minhas palavras. Os únicos caminhos da investigação em que se pode pensar: um, o caminho que é e não pode não ser, é a via da Persuasão, pois acompanha a Verdade; o outro, que não é e é forçoso que não seja, esse digo-te, é um caminho totalmente impensável. Pois não poderás conhecer o que não é, nem declará-lo.”
Numa interpretação mais aprofundada dos fragmentos de Heráclito e Parmênides, podemos achar um mesmo todo para os dois e esta oposição entre suas visões do todo passa a ser cada vez menor.
Parmênides comparava as qualidades umas com as outras e as ordenava em duas classes distintas. Por exemplo, comparou a luz e a escuridão, e para ele essa segunda qualidade nada mais era do que a negação da primeira.
Diferenciava qualidades positivas e negativas e, esforçava-se em encontrar essa oposição fundamental em toda a Natureza. Tomava outros opostos: leve-pesado, ativo-passivo, quente-frio, masculino-feminino, fogo-terra, vida-morte, e aplicava a mesma comparação do modelo luz-escuridão; o que corresponde à luz era a qualidade positiva e o que corresponde à escuridão, a qualidade negativa. O pesado era apenas uma negação do leve. O frio era uma negação do quente. O passivo uma negação ao ativo, o feminino uma negação do masculino e, cada um apenas como negação do outro.
Por fim, nosso mundo dividia-se em duas esferas: aquela das qualidades positivas (luz, quente, ativo, masculino, fogo, vida) e aquela das qualidade negativas (escuridão, frio, passivo, feminino, terra, morte). A esfera negativa era apenas uma negação da esfera positiva, isto é, a esfera negativa não continha as propriedades que existiam na esfera positiva.
Ao invés das expressões “positiva” e “negativa”, Parmênides usa os termos metafísicos de “ser” e “não-ser”. O não-ser era apenas uma negação do ser. Mas ser e não-ser são imutáveis e imóveis. No seu livro: Metafísica, Aristóteles expõe esse pensamento de Parmênides: “Julgando que fora do ser o não-ser é nada, forçosamente admite que só uma coisa é, a saber, o ser, e nenhuma outra… Mas, constrangido a seguir o real, admitindo ao mesmo tempo a unidade formal e a pluralidade sensível, estabelece duas causas e dois princípios: quente e frio, vale dizer, Fogo e Terra. Destes (dois princípios) ele ordena um (o quente) ao ser, o outro ao não-ser.”
O Vir-a-Ser
Quanto às mudanças e transformações físicas, o Vir-a-Ser, que a todo instante vemos ocorrer no mundo, Parmênides as explicava como sendo apenas uma mistura participativa de ser e não-ser. “Ao vir-a-ser é necessário tanto o ser quanto o não-ser. Se eles agem conjuntamente, então resulta um vir-a-ser”.
Um desejo era o fator que impelia os elementos de qualidades opostas a se unirem, e o resultado disso é um vir-a-ser. Quando o desejo está satisfeito, o ódio e o conflito interno impulsionam novamente o ser e o não-ser à separação.
Parmênides chega então à conclusão de que toda mudança é ilusória. Só o que existe realmente é o ser e o não-ser. O vir-a-ser é apenas uma ilusão sensível. Isto quer dizer que todas as percepções de nossos sentidos apenas criam ilusões, nas quais temos a tendência de pensar que o não-ser é, e que o vir-a-ser tem um ser.
O Ser-Absoluto
Toda nossa realidade é imutável, estática, e sua essência está incorporada na individualidade divina do Ser-Absoluto, o qual permeia todo o Universo. Esse Ser é onipresente, já que qualquer descontinuidade em sua presença seria equivalente à existência de seu oposto – o Não-Ser.
Esse Ser não pode ter sido criado por algo pois isso implicaria em admitir a existência de um outro Ser. Do mesmo modo, esse Ser não pode ter sido criado do nada, pois isso implicaria a existência do “Não-Ser”. Portanto, o Ser simplesmente é.
Simplício da Cilícia, em seu livro Física, assim nos explica sobre a natureza desse Ser-Absoluto de Parmênides: “Como poderia ser gerado? E como poderia perecer depois disso? Assim a geração se extingue e a destruição é impensável. Também não é divisível, pois que é homogêneo, nem é mais aqui e menos além, o que lhe impediria a coesão, mas tudo está cheio do que é. Por isso, é todo contínuo; pois o que é adere intimamente ao que é. Mas, imobilizado nos limites de cadeias potentes, é sem princípio ou fim, uma vez que a geração e a destruição foram afastadas, repelidas pela convicção verdadeira. É o mesmo, que permanece no mesmo e em si repousa, ficando assim firme no seu lugar. Pois a forte Necessidade o retém nos liames dos limites que de cada lado o encerra, porque não é lícito ao que é ser ilimitado; pois de nada necessita – se assim não fosse, de tudo careceria. Mas uma vez que tem um limite extremo, está completo de todos os lados; à maneira da massa de uma esfera bem rotunda, em equilíbrio a partir do centro, em todas as direções; pois não pode ser algo mais aqui e algo menos ali.”
O Ser-Absoluto não pode vir-a-ser. E não podem existir vários “Seres-Absolutos”, pois para separá-los precisaria haver algo que não fosse um Ser. Consequentemente, existe apenas a Unidade eterna.
texto original da wikipédia.
JADER BARBALHO por JADER BARBALHO e descendentes – por flávio gomes / belém.pa
perguntado por jornalistas o porque das caretas, o pequeno jader respondeu: “papai mandou eu fazer para zombar de voceis!”
é isso aí, assim começa a educação da elite brasileira com relação ao seu povo.
oh! pra voceis!!
...e pra voceis também!!
DEUS, segundo Spinoza / amsterdã.ho / séc XVII
“Acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo na harmonia
de tudo o que existe, e não no Deus que se interessa pela sorte e
pelas ações dos homens”.
DEUS SEGUNDO SPINOZA
“Pára de ficar rezando e batendo o peito !
O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.
Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que
Eu fiz para ti.
Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo
construíste e que acreditas ser a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias.
Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.
Pára de me culpar da tua vida miserável.
Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que
tua sexualidade fosse algo mau.
O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu
amor, teu êxtase, tua alegria.
Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.
Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo.
Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus
amigos, nos olhos de teu filhinho… Não me encontrarás em nenhum
livro!
Confia em mim e deixa de me pedir.
Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?
Pára de ter tanto medo de mim.
Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo.
Eu sou puro amor.
Pára de me pedir perdão.
Não há nada a perdoar.
Se Eu te fiz… Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de
sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.
Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?
Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez?
Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos
que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus
pode fazer isso?
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são
artimanhas para te manipular, para te controlar,
que só geram culpa em ti.
Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti.
A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu
estado de alerta seja teu guia.
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem
um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.
Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.
Eu te fiz absolutamente livre.
Não há prêmios nem castigos.
Não há pecados nem virtudes.
Ninguém leva um placar.
Ninguém leva um registro.
Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um
conselho. Vive como se não o houvesse.
Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir.
Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei.
E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não.
Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste…
Do que mais gostaste?
O que aprendeste?
Pára de crer em mim – crer é supor, adivinhar, imaginar.
Eu não quero que acredites em mim.
Quero que me sintas em ti.
Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas
tua filhinha, quando acaricias
teu cachorro, quando tomas banho no mar.
Pára de louvar-me!
Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja?
Me aborrece que me louvem.
Me cansa que agradeçam.
Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas
relações, do mundo.
Te sentes olhado, surpreendido?… Expressa tua alegria!
Esse é o jeito de me louvar.
Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te
ensinaram sobre mim.
A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo
está cheio de maravilhas.
Para que precisas de mais milagres?
Para que tantas explicações?
Não me procures fora!
Não me acharás.
Procura-me dentro… aí é que estou, batendo em ti.”
As sábias palavras são de Baruch Espinoza – nascido em 1632 em
Amsterdã, falecido em Haia em 21 de fevereiro de 1677, foi um dos
grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia
Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz. Era de
família judaica e é considerado o fundador do criticismo
bíblico moderno.
A Justiça Brasileira! – de naldo souza / ilha de santa catarina.sc
Isso foi exibido em todos os telejornais noturnos na quinta feira.
Paulo, 28 anos, casado com Sônia, grávida de 04 meses, desempregado há dois meses, sem ter o que comer em casa foi ao rio Piratuaba-SP a 5km de sua casa pescar para ter uma ‘misturinha’ com o arroz e feijão, pegou 900gr de lambari, e sem saber que era proibido a pesca, foi detido por dois dias, levou umas porradas. Um amigo pagou a fiança de R$ 280,00 para liberá-lo e terá que pagar ainda uma multa ao IBAMA de R$ 724,00. A sua mulher Sônia grávida de 04 meses, sem saber o que aconteceu com o marido que supostamente sumiu, ficou nervosa e passou mal, foi para o hospital e teve aborto espontâneo. Ao sair da detenção, Ailton recebe a noticia de que sua esposa estava no hospital e perdeu seu filho, pelos míseros peixes que ficaram apodrecendo no lixo da delegacia.
Quem poderá devolver o filho de Sônia e Paulo?
Henri Philippe Reichstul, de origem estrangeira, Presidente da PETROBRAS. Responsável pelo derramamento de 1 milhão e 300 mil litros de óleo na Baía da Guanabara. Matando milhares de peixes e pássaros marinhos. Responsável, também, pelo derramamento de cerca de 4 milhões de litros de óleo no Rio Iguaçu, destruindo a flora e fauna e comprometendo o abastecimento de água em várias cidades da região. Crime contra a natureza, inafiançável.
Este camarada encontra-se em liberdade e pode ser visto jantando nos melhores restaurantes do Rio e de Brasília.
Mahmoud Abbas na ONU. Aqui o discurso completo. / eua.ONU

Discurso da presidenta Dilma Rousseff na abertura da Assembleia Geral da ONU
dê UM clique no centro do vídeo:
“Senhor presidente da Assembleia Geral, Nassir Abdulaziz Al-Nasser,
Senhor secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon,
Senhoras e senhores chefes de Estado e de Governo,
Senhoras e senhores,
Pela primeira vez, na história das Nações Unidas, uma voz feminina inaugura o Debate Geral. É a voz da democracia e da igualdade se ampliando nesta tribuna que tem o compromisso de ser a mais representativa do mundo.
É com humildade pessoal, mas com justificado orgulho de mulher, que vivo este momento histórico.
Divido esta emoção com mais da metade dos seres humanos deste Planeta, que, como eu, nasceram mulher, e que, com tenacidade, estão ocupando o lugar que merecem no mundo. Tenho certeza, senhoras e senhores, de que este será o século das mulheres.
Na língua portuguesa, palavras como vida, alma e esperança pertencem ao gênero feminino. E são também femininas duas outras palavras muito especiais para mim: coragem e sinceridade. Pois é com coragem e sinceridade que quero lhes falar no dia de hoje.
Senhor Presidente,
O mundo vive um momento extremamente delicado e, ao mesmo tempo, uma grande oportunidade histórica. Enfrentamos uma crise econômica que, se não debelada, pode se transformar em uma grave ruptura política e social. Uma ruptura sem precedentes, capaz de provocar sérios desequilíbrios na convivência entre as pessoas e as nações.
Mais que nunca, o destino do mundo está nas mãos de todos os seus governantes, sem exceção. Ou nos unimos todos e saímos, juntos, vencedores ou sairemos todos derrotados.
Agora, menos importante é saber quais foram os causadores da situação que enfrentamos, até porque isto já está suficientemente claro. Importa, sim, encontrarmos soluções coletivas, rápidas e verdadeiras.
Essa crise é séria demais para que seja administrada apenas por uns poucos países. Seus governos e bancos centrais continuam com a responsabilidade maior na condução do processo, mas como todos os países sofrem as conseqüências da crise, todos têm o direito de participar das soluções.
Não é por falta de recursos financeiros que os líderes dos países desenvolvidos ainda não encontraram uma solução para a crise. É, permitam-me dizer, por falta de recursos políticos e algumas vezes, de clareza de ideias.
Uma parte do mundo não encontrou ainda o equilíbrio entre ajustes fiscais apropriados e estímulos fiscais corretos e precisos para a demanda e o crescimento. Ficam presos na armadilha que não separa interesses partidários daqueles interesses legítimos da sociedade.
O desafio colocado pela crise é substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo novo. Enquanto muitos governos se encolhem, a face mais amarga da crise – a do desemprego – se amplia. Já temos 205 milhões de desempregados no mundo. 44 milhões na Europa. 14 milhões nos Estados Unidos. É vital combater essa praga e impedir que se alastre para outras regiões do Planeta.
Nós, mulheres, sabemos, mais que ninguém, que o desemprego não é apenas uma estatística. Golpeia as famílias, nossos filhos e nossos maridos. Tira a esperança e deixa a violência e a dor.
Senhor Presidente,
É significativo que seja a presidenta de um país emergente, um país que vive praticamente um ambiente de pleno emprego, que venha falar, aqui, hoje, com cores tão vívidas, dessa tragédia que assola, em especial, os países desenvolvidos.
Como outros países emergentes, o Brasil tem sido, até agora, menos afetado pela crise mundial. Mas sabemos que nossa capacidade de resistência não é ilimitada. Queremos – e podemos – ajudar, enquanto há tempo, os países onde a crise já é aguda.
Um novo tipo de cooperação, entre países emergentes e países desenvolvidos, é a oportunidade histórica para redefinir, de forma solidária e responsável, os compromissos que regem as relações internacionais.
O mundo se defronta com uma crise que é ao mesmo tempo econômica, de governança e de coordenação política.
Não haverá a retomada da confiança e do crescimento enquanto não se intensificarem os esforços de coordenação entre os países integrantes da ONU e as demais instituições multilaterais, como o G-20, o Fundo Monetário, o Banco Mundial e outros organismos. A ONU e essas organizações precisam emitir, com a máxima urgência, sinais claros de coesão política e de coordenação macroeconômica.
As políticas fiscais e monetárias, por exemplo, devem ser objeto de avaliação mútua, de forma a impedir efeitos indesejáveis sobre os outros países, evitando reações defensivas que, por sua vez, levam a um círculo vicioso.
Já a solução do problema da dívida deve ser combinada com o crescimento econômico. Há sinais evidentes de que várias economias avançadas se encontram no limiar da recessão, o que dificultará, sobremaneira, a resolução dos problemas fiscais.
Está claro que a prioridade da economia mundial, neste momento, deve ser solucionar o problema dos países em crise de dívida soberana e reverter o presente quadro recessivo. Os países mais desenvolvidos precisam praticar políticas coordenadas de estímulo às economias extremamente debilitadas pela crise. Os países emergentes podem ajudar.
Países altamente superavitários devem estimular seus mercados internos e, quando for o caso, flexibilizar suas políticas cambiais, de maneira a cooperar para o reequilíbrio da demanda global.
Urge aprofundar a regulamentação do sistema financeiro e controlar essa fonte inesgotável de instabilidade. É preciso impor controles à guerra cambial, com a adoção de regimes de câmbio flutuante. Trata-se, senhoras e senhores, de impedir a manipulação do câmbio tanto por políticas monetárias excessivamente expansionistas como pelo artifício do câmbio fixo.
A reforma das instituições financeiras multilaterais deve, sem sombra de dúvida, prosseguir, aumentando a participação dos países emergentes, principais responsáveis pelo crescimento da economia mundial.
O protecionismo e todas as formas de manipulação comercial devem ser combatidos, pois conferem maior competitividade de maneira espúria e fraudulenta.
Senhor Presidente,
O Brasil está fazendo a sua parte. Com sacrifício, mas com discernimento, mantemos os gastos do governo sob rigoroso controle, a ponto de gerar vultoso superávit nas contas públicas, sem que isso comprometa o êxito das políticas sociais, nem nosso ritmo de investimento e de crescimento.
Estamos tomando precauções adicionais para reforçar nossa capacidade de resistência à crise, fortalecendo nosso mercado interno com políticas de distribuição de renda e inovação tecnológica.
Há pelo menos três anos, senhor Presidente, o Brasil repete, nesta mesma tribuna, que é preciso combater as causas, e não só as consequências da instabilidade global.
Temos insistido na interrelação entre desenvolvimento, paz e segurança; e que as políticas de desenvolvimento sejam, cada vez mais, associadas às estratégias do Conselho de Segurança na busca por uma paz sustentável.
É assim que agimos em nosso compromisso com o Haiti e com a Guiné-Bissau. Na liderança da Minustah, temos promovido, desde 2004, no Haiti, projetos humanitários, que integram segurança e desenvolvimento. Com profundo respeito à soberania haitiana, o Brasil tem o orgulho de cooperar para a consolidação da democracia naquele país.
Estamos aptos a prestar também uma contribuição solidária, aos países irmãos do mundo em desenvolvimento, em matéria de segurança alimentar, tecnologia agrícola, geração de energia limpa e renovável e no combate à pobreza e à fome.
Senhor Presidente,
Desde o final de 2010, assistimos a uma sucessão de manifestações populares que se convencionou denominar “Primavera Árabe”. O Brasil é pátria de adoção de muitos imigrantes daquela parte do mundo. Os brasileiros se solidarizam com a busca de um ideal que não pertence a nenhuma cultura, porque é universal: a liberdade.
É preciso que as nações aqui reunidas encontrem uma forma legítima e eficaz de ajudar as sociedades que clamam por reforma, sem retirar de seus cidadãos a condução do processo.
Repudiamos com veemência as repressões brutais que vitimam populações civis. Estamos convencidos de que, para a comunidade internacional, o recurso à força deve ser sempre a última alternativa. A busca da paz e da segurança no mundo não pode limitar-se a intervenções em situações extremas.
Apoiamos o Secretário-Geral no seu esforço de engajar as Nações Unidas na prevenção de conflitos, por meio do exercício incansável da democracia e da promoção do desenvolvimento.
O mundo sofre, hoje, as dolorosas consequências de intervenções que agravaram os conflitos, possibilitando a infiltração do terrorismo onde ele não existia, inaugurando novos ciclos de violência, multiplicando os números de vítimas civis.
Muito se fala sobre a responsabilidade de proteger; pouco se fala sobre a responsabilidade ao proteger. São conceitos que precisamos amadurecer juntos. Para isso, a atuação do Conselho de Segurança é essencial, e ela será tão mais acertada quanto mais legítimas forem suas decisões. E a legitimidade do próprio Conselho depende, cada dia mais, de sua reforma.
Senhor Presidente,
A cada ano que passa, mais urgente se faz uma solução para a falta de representatividade do Conselho de Segurança, o que corrói sua eficácia. O ex-presidente Joseph Deiss recordou-me um fato impressionante: o debate em torno da reforma do Conselho já entra em seu 18º ano. Não é possível, senhor Presidente, protelar mais.
O mundo precisa de um Conselho de Segurança que venha a refletir a realidade contemporânea; um Conselho que incorpore novos membros permanentes e não-permanentes, em especial representantes dos países em desenvolvimento.
O Brasil está pronto a assumir suas responsabilidades como membro permanente do Conselho. Vivemos em paz com nossos vizinhos há mais de 140 anos. Temos promovido com eles bem-sucedidos processos de integração e de cooperação. Abdicamos, por compromisso constitucional, do uso da energia nuclear para fins que não sejam pacíficos. Tenho orgulho de dizer que o Brasil é um vetor de paz, estabilidade e prosperidade em sua região, e até mesmo fora dela.
No Conselho de Direitos Humanos, atuamos inspirados por nossa própria história de superação. Queremos para os outros países o que queremos para nós mesmos.
O autoritarismo, a xenofobia, a miséria, a pena capital, a discriminação, todos são algozes dos direitos humanos. Há violações em todos os países, sem exceção. Reconheçamos esta realidade e aceitemos, todos, as críticas. Devemos nos beneficiar delas e criticar, sem meias-palavras, os casos flagrantes de violação, onde quer que ocorram.
Senhor Presidente,
Quero estender ao Sudão do Sul as boas vindas à nossa família de nações. O Brasil está pronto a cooperar com o mais jovem membro das Nações Unidas e contribuir para seu desenvolvimento soberano.
Mas lamento ainda não poder saudar, desta tribuna, o ingresso pleno da Palestina na Organização das Nações Unidas. O Brasil já reconhece o Estado palestino como tal, nas fronteiras de 1967, de forma consistente com as resoluções das Nações Unidas. Assim como a maioria dos países nesta Assembléia, acreditamos que é chegado o momento de termos a Palestina aqui representada a pleno título.
O reconhecimento ao direito legítimo do povo palestino à soberania e à autodeterminação amplia as possibilidades de uma paz duradoura no Oriente Médio. Apenas uma Palestina livre e soberana poderá atender aos legítimos anseios de Israel por paz com seus vizinhos, segurança em suas fronteiras e estabilidade política em seu entorno regional.
Venho de um país onde descendentes de árabes e judeus são compatriotas e convivem em harmonia – como deve ser.
Senhor Presidente,
O Brasil defende um acordo global, abrangente e ambicioso para combater a mudança do clima no marco das Nações Unidas. Para tanto, é preciso que os países assumam as responsabilidades que lhes cabem.
Apresentamos uma proposta concreta, voluntária e significativa de redução [de emissões], durante a Cúpula de Copenhague, em 2009. Esperamos poder avançar já na reunião de Durban, apoiando os países em desenvolvimento nos seus esforços de redução de emissões e garantindo que os países desenvolvidos cumprirão suas obrigações, com novas metas no Protocolo de Quioto, para além de 2012.
Teremos a honra de sediar a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em junho do ano que vem. Juntamente com o Secretário-Geral Ban Ki-moon, reitero aqui o convite para que todos os Chefes de Estado e de Governo compareçam.
Senhor Presidente e minhas companheiras mulheres de todo mundo,
O Brasil descobriu que a melhor política de desenvolvimento é o combate à pobreza. E que uma verdadeira política de direitos humanos tem por base a diminuição da desigualdade e da discriminação entre as pessoas, entre as regiões e entre os gêneros.
O Brasil avançou política, econômica e socialmente sem comprometer sequer uma das liberdades democráticas. Cumprimos quase todos os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, antes 2015. Saíram da pobreza e ascenderam para a classe média no meu país quase 40 milhões de brasileiras e brasileiros. Tenho plena convicção de que cumpriremos nossa meta de, até o final do meu governo, erradicar a pobreza extrema no Brasil.
No meu país, a mulher tem sido fundamental na superação das desigualdades sociais. Nossos programas de distribuição de renda têm nas mães a figura central. São elas que cuidam dos recursos que permitem às famílias investir na saúde e na educação de seus filhos.
Mas o meu país, como todos os países do mundo, ainda precisa fazer muito mais pela valorização e afirmação da mulher. Ao falar disso, cumprimento o secretário-geral Ban Ki-moon pela prioridade que tem conferido às mulheres em sua gestão à frente das Nações Unidas.
Saúdo, em especial, a criação da ONU Mulher e sua diretora-executiva, Michelle Bachelet.
Senhor Presidente,
Além do meu querido Brasil, sinto-me, aqui, representando todas as mulheres do mundo. As mulheres anônimas, aquelas que passam fome e não podem dar de comer aos seus filhos; aquelas que padecem de doenças e não podem se tratar; aquelas que sofrem violência e são discriminadas no emprego, na sociedade e na vida familiar; aquelas cujo trabalho no lar cria as gerações futuras.
Junto minha voz às vozes das mulheres que ousaram lutar, que ousaram participar da vida política e da vida profissional, e conquistaram o espaço de poder que me permite estar aqui hoje.
Como mulher que sofreu tortura no cárcere, sei como são importantes os valores da democracia, da justiça, dos direitos humanos e da liberdade.
E é com a esperança de que estes valores continuem inspirando o trabalho desta Casa das Nações que tenho a honra de iniciar o Debate Geral da 66ª Assembleia Geral da ONU.
Muito obrigada.”
do Planalto.
Solidão Furiosa – por omar de la roca / são paulo
Então,tudo o que fazemos é por medo da solidão? É por isso que renunciamos a todas as coisas as quais iremos nos arrepender no fim da vida ? É por isso que raramente dizemos o que pensamos?Porque, alem disso,nos prendemos a casamentos falidos,falsas amizades,entediantes festas de aniversário? O que aconteceria se recusássemos tudo isso, por um fim a chantagem disfarçada e fossemos nós mesmos? Se deixássemos nossos desejos aprisionados e nossa fúria desta escravidão jorrar forte como uma fonte ? Em que consiste esta tão temida solidão ? No silêncio de mudas reprovações ?Em não precisar engatinhar no campo minado da vida de casado ou de meias verdades amigáveis, prendendo a respiração? Na liberdade de não ter alguém a nossa frente durante as refeições? Na integridade do tempo que boceja quando não temos compromissos? Estas coisas não são maravilhosas? Uma situação divina ? Então, porque teme-la ? Não é na verdade um medo que existe apenas porque não pensamos através dos objetos ? Um medo que nos foi incutido pelos pais , professores ou padres ?E como podemos estar certos que os outros não nos invejarão ao ver a extensão de nossa liberdade ? E que eles se afastarão em resposta?
Amadeu do Prado
CAIADO ataca BORNHAUSEN, irmãos gêmeos / brasilia

“Jorge Bornhausen e Saulo Queiroz mudaram o nome e os rumos do PFL, fracassaram, tentaram covardemente jogar a culpa em outros e saíram”.
Realça no ex-correligionário a vocação governista: “Jorge Bornhausen, que sempre foi de se acomodar à sombra do poder, trabalha para entrar no governo do PT”.
Recorda uma passagem da eleição de 2010: o comício em que Lula atacou, na Santa Catarina de Bornhausem, o DEM:
“Jorge Bornhausen ajuda Lula, que disse, em SC, tentar exterminar o DEM! A que ponto chegamos. Também faz a ponte entre governo-PSD”.
Trata Bornhausen como um silvério: “A atuação da quinta coluna no DEM foi lamentável e já entrou para a história”.
Devagarzinho, a conflagração que corrói as entranhas do DEM vai transbordando. Caiado lavou a roupa suja dos gabinetes fechados para a mais moderna das praças públicas: a internet.
JS.
DILMA ROUSSEFF: íntegra do discurso no palácio do PLANALTO / BRASIL – 19.3.2011
“Excelentíssimo senhor Barack Obama, presidente dos Estados Unidos da América,
Senhoras e senhores integrantes das delegações dos Estados Unidos da América e do Brasil,
Senhoras e senhores jornalistas,
Senhoras e senhores,
Senhor presidente Obama,
A sua visita ao meu país me enche de alegria, desperta os melhores sentimentos de nosso povo e honra a histórica relação entre o Brasil e os Estados Unidos. Carrega também um forte valor simbólico.
Os povos de nossos países ergueram as duas maiores democracias das Américas. Ousaram também levar aos seus mais altos postos um afrodescendente e uma mulher, demonstrando que o alicerce da democracia permite o rompimento das maiores barreiras para a construção de sociedades mais generosas e harmônicas.
Aqui, senhor presidente Obama, sucedo a um homem do povo, meu querido companheiro Luiz Inácio Lula da Silva, com quem tive a honra de trabalhar. Seu legado mais nobre, Presidente, foi trazer à cena política e social milhões de homens e mulheres que viviam à margem dos mais elementares direitos de cidadania.
Dos nove chefes de Estado norte-americanos que visitaram oficialmente o Brasil, o senhor é aquele que encontra o nosso país em um momento mais vibrante. A combinação de uma política econômica séria com fundamentos sólidos e uma estratégia consistente de inclusão fez do nosso país um dos mais dinâmicos mercados do mundo. Fortalecemos o conteúdo renovável da nossa matriz energética e avançamos em políticas ambientais protetoras de nossas importantes reservas florestais e de nossa rica biodiversidade.
Todo esse esforço, presidente Obama, criou milhões de empregos e dinamizou regiões inteiras antes marginalizadas do processo econômico. Permitiu ao Brasil superar, com êxito, a mais profunda crise econômica da história recente, mantendo, até os dias atuais, níveis recordes de geração de postos de trabalho.
Mas são ainda enormes os nossos desafios. Meu governo, neste momento, se concentra nas tarefas necessárias para aperfeiçoar nosso processo de crescimento e garantir um longo período de prosperidade para o nosso povo.
Meu compromisso essencial é com a construção de uma sociedade de renda média, assegurando oportunidades educacionais e profissionais para os trabalhadores e para a nossa imensa juventude, garantindo também um ambiente institucional que impulsione o empreendedorismo e favoreça o investimento produtivo.
O meu governo trabalhará com dedicação para superar as deficiências de infraestrutura, e não pouparemos esforços para consolidar nossa energia limpa, ativo fundamental do Brasil.
Enfim, daremos os passos necessários para alcançar nosso lugar entre as nações com desenvolvimento pleno, forte democracia e ampla justiça social.
É aqui, senhor presidente Obama, que enxergo as melhores oportunidades para o avanço das relações entre nossos países. Acompanho com atenção e a melhor expectativa seus enormes esforços para recuperar a vitalidade da economia americana.
Temos assim, como o mundo todo, uma única certeza: a de que o povo americano, sob a sua liderança, saberá encontrar os melhores caminhos para o futuro dessa grande nação.
A gentileza da sua visita, logo no início do meu governo, e o longo histórico de amizade entre nossos povos me permitem avançar sobre dois temas que considero centrais nas futuras parcerias que fizermos: a educação e a inovação.
Aproximar e avançar em nossas experiências educacionais, ampliando nosso intercâmbio e construindo progresso em todas as áreas do conhecimento é uma questão chave para o futuro dos nossos países.
Na pesquisa e inovação, os Estados Unidos alcançaram as mais extraordinárias conquistas nas últimas décadas, favorecendo a produtividade em diferentes setores econômicos. O Brasil, senhor presidente Obama, está na fronteira tecnológica em algumas importantes áreas, como a genética, a biotecnologia, as fontes renováveis de energia e a exploração do petróleo em águas profundas.
Combinar as nossas mais avançadas capacidades no campo da pesquisa e da inovação certamente trará os melhores frutos para as nossas sociedades. Tomo como exemplo o pré-sal, a mais recente fronteira alcançada pela tecnologia brasileira. Acreditamos que os enormes desafios de cada etapa da exploração dessas riquezas poderão reunir uma inédita conjunção do conhecimento acumulado pelos nossos melhores centros de pesquisa.
Mas, senhor Presidente, se queremos construir uma relação de maior profundidade é preciso também, com a mesma franqueza, tratar de nossas contradições.
Preocupam-me em especial os efeitos agudos decorrentes dos desequilíbrios econômicos gerados pela crise recente. Compreendemos o contexto do esforço empreendido por seu governo para a retomada da economia americana, algo tão importante para o mundo. Porém, todos sabem que medidas de grande vulto provocam mudanças importantes nas relações entre as moedas de todo o mundo. Este processo desgasta as boas práticas econômicas e empurra países para ações protecionistas e defensivas de toda natureza.
Somos um país que se esforça por sair de anos de baixo desenvolvimento, por isso buscamos relações comerciais mais justas e equilibradas. Para nós é fundamental que sejam rompidas as barreiras que se erguem contra nossos produtos – etanol, carne bovina, algodão, suco de laranja, aço, por exemplo. Para nós é fundamental que se alarguem as parcerias tecnológicas e educacionais, portadoras de futuro.
Preocupa-me igualmente a lentidão das reformas nas instituições multilaterais que ainda refletem um mundo antigo. Trabalhamos incansavelmente pela reforma na governança do Banco Mundial e do FMI. Isso foi feito pelos Estados Unidos e pelo Brasil, em conjunto com outros países. E saudamos o início das mudanças empreendidas nestas instituições, embora ainda que limitadas e tardias, quando olhada a crise econômica. Temos propugnado por uma reforma fundamental no desenho da governança global: a ampliação do Conselho de Segurança da ONU.
Aqui, senhor Presidente, não nos move o interesse menor da ocupação burocrática de espaços de representação. O que nos mobiliza é a certeza que um mundo mais multilateral produzirá benefícios para a paz e a harmonia entre os povos.
Mais ainda, senhor Presidente, nos interessa aprender com os nossos próprios erros. Foi preciso uma gravíssima crise econômica para mover o conservadorismo que bloqueava a reforma das instituições financeiras. No caso da reforma da ONU, temos a oportunidade de nos antecipar.
Este país, o Brasil, tem compromisso com a paz, com a democracia, com o consenso. Esse compromisso não é algo conjuntural, mas é integrante dos nossos valores: tolerância, diálogo, flexibilidade. É princípio inscrito na nossa Constituição, na nossa história, na própria natureza do povo brasileiro. Temos orgulho de viver em paz com os nossos dez vizinhos há mais de um século, agora.
Há uma semana, senhor Presidente, entrou em vigor o Tratado Constitutivo da Unasul, que deverá reforçar ainda mais a unidade no nosso continente. O Brasil está empenhado na consolidação de um entorno de paz, segurança, democracia, cooperação e crescimento com justiça social. Neste ambiente é que deve frutificar as relações entre o Brasil e os Estados Unidos.
Senhor Presidente, quero dizer-lhe que vejo com muito otimismo nosso futuro comum.
No passado, esse relacionamento esteve muitas vezes encoberto por uma retórica vazia, que eludia o que estava verdadeiramente em jogo entre nós, entre Estados Unidos e Brasil.
Uma aliança entre os nossos dois países – sobretudo se ela se pretende estratégica – é uma construção. Uma construção comum, aliás, como o senhor mesmo disse no seu pronunciamento sobre o Estado da Nação.
Mas ela tem de ser uma construção entre iguais, por mais distintos que sejam esses países em território, população, capacidade produtiva ou poderio militar.
Somos países de dimensões continentais, que trilham o caminho da democracia. Somos multiétnicos e em nossos territórios convivem distintas e ricas culturas.
Cada um, a sua maneira, temos o que um poeta brasileiro chamou de “sentimento do mundo”.
Sua presença no Brasil, senhor Presidente, será de enorme valia nessa construção que queremos juntos realizar.
Uma vez mais, presidente Obama, bem-vindo ao Brasil.”
BARACK OBAMA: íntegra do discurso no palácio do PLANALTO. /BRASIL – 19.3.2011
“Obrigado, senhora presidente, pelas gentis palavras. Muito obrigado a vocês e ao povo brasileiro pela calorosa recepção e pela famosa hospitalidade brasileira com que vocês receberam Michelle, a mim e nossas filhas. ‘Muito obrigado’.
Em nossa reunião hoje, mencionei que esta é minha primeira visita à América do Sul e o Brasil é minha primeira parada, e não por acaso. A amizade entre os povos americano e brasileiro já soma mais de dois séculos. Nossos empreendedores e empresários inovam juntos, nossos cientistas e pesquisadores estão criando novas vacinas, juntos nossos alunos e professores exploram novos horizontes. Todos os dias trabalhamos para tornar nossas sociedades mais inclusivas e mais justas.
O crescimento extraordinário do Brasil, senhora Presidente, atrai a atenção do mundo todo. Graças ao sacrifício de pessoas como a presidente Dilma Roussef, o Brasil saiu da ditadura para a democracia, é uma das economias que mais crescem no mundo, tirando milhões da pobreza e levando-os à classe média. Hoje os EUA e o Brasil são as duas maiores democracias do hemisfério e as duas maiores economias. O Brasil, líder regional que promove uma cooperação maior entre todas as Américas e o Brasil é, cada vez mais, um líder mundial, passando de receptor de ajuda externa para doador, reivindicando um mundo sem armas nucleares e estando sempre adiante dos esforços globais para lutar contra a mudança climática. Como presidente, eu sempre promovo o compromisso baseado em respeito mútuo e interesses mútuos e uma parte fundamental desse compromisso é promover uma cooperação maior com centros de influência do século XXI, incluindo o Brasil. Em suma, os EUA não apenas reconhecem o crescimento do Brasil, mas apóiam esse crescimento com entusiasmo. Por isso criamos o G20, o principal fórum de cooperação econômica mundial, para ter certeza de que países como o Brasil terão mais voz ativa. Por isso aumentamos a cota de votação do Brasil e o seu papel nas instituições financeiras internacionais. Por isso que eu vim ao Brasil hoje.
A presidente Roussef e eu acreditamos que esta visita seja uma oportunidade histórica para colocar os EUA e o Brasil na rota de uma cooperação ainda maior nas décadas vindouras. Hoje estamos começando a aproveitar esta oportunidade. Senhora Presidente, gostaria de agradecê-la pelo seu compromisso pessoal em fortalecer as alianças entre as nossas duas nações. Estamos ampliando o comércio e os investimentos, criando empregos nos nossos dois países. O Brasil é um dos nossos principais parceiros comercias, mas ainda há muito que podemos fazer.
Mais tarde hoje, a presidente e eu vamos nos reunir com líderes de negócios dos nossos dois países, vamos ouvir e decidir quais serão as etapas concretas que vão expandir nossas relações econômicas. Vamos anunciar uma série de novos acordos, inclusive um diálogo financeiro e econômico que venha promover relações comerciais, expandir a colaboração na área de ciência e tecnologia e à medida que o Brasil se prepara para receber a Copa do Mundo e as Olimpíadas e, ainda me magoa tocar neste assunto, estamos assegurando que as empresas americanas terão um papel entre os projetos de infraestrutura necessários para essas competições. Estamos criando um novo diálogo estratégico sobre energia para garantir que as cúpulas dos nossos governos estão trabalhando conjuntamente para aproveitar novas oportunidades, em particular, como as novas descobertas de petróleo no Brasil, como disse a presidente Roussef, o Brasil quer ser um grande fornecedor de novas fontes estáveis de energia e eu falei para ela que os EUA também querem ser um grande cliente dessas fontes, o que traria benefícios para ambos os países.
Ao mesmo tempo, estamos expandindo nossa parceria em energia limpa, fundamental para nossa segurança em energia em longo prazo. Como líder na área de energia renovável, como biodiesel, e como parte da parceria de energia e clima entre as Américas que proponho, o Brasil está compartilhando seu conhecimento na região e no mundo. Esse novo diálogo de economia verde que estamos criando hoje aumenta ainda mais nossa cooperação construindo prédios “verdes” e desenvolvimento sustentável. Na área de segurança, nossos exércitos trabalham com proximidade ainda maior para lidar com crises humanitárias, como fizemos no Haiti. Nossas polícias trabalham em conjunto contra os narcotraficantes que ameaçam a todos nós, o Brasil se aliou ao esforço internacional para evitar o contrabando de armas nucleares por seus portos. Agradeço à presidente Roussef pela liderança do Brasil em criar um centro regional de promoção de excelência na área de segurança nuclear.
Como membro do conselho de direitos humanos, o Brasil se juntou a nós na condenação aos abusos aos direitos humanos realizados pela Líbia. Gostaria de rapidamente mencionar a situação na Líbia porque conversei sobre isso com a presidente. Ontem a comunidade internacional exigiu um cessar fogo imediato na Líbia, inclusive um fim a todos os ataques contra civis, e hoje a secretária Clinton se reuniu com uma coalizão internacional com nossos parceiros árabes e europeus em Paris para discutir como
aplicar a resolução do conselho de segurança criada pela ONU em 1973. Houve um consenso coeso e a conclusão foi clara: o povo da Líbia deve ser protegido e se não for colocado um fim imediato à violência contra civis, nossa coalizão está preparada para entrar em ação, e agirá com urgência. Conversei com a presidente Roussef sobre os passos que estão sendo tomados nesse sentido.
Finalmente, estou especialmente satisfeito pelo Brasil e os EUA estarem juntos em criar uma governança democrática para além de nossos hemisférios. O Brasil está ajudando a liderar a iniciativa global que anunciei nas Nações Unidas de promover governos abertos e novas tecnologias que capacitem os cidadãos no mundo todo. Hoje estamos lançando novos esforços para ajudar outros países a combater a corrupção e o trabalho infantil. Estamos expandindo nossos esforços para aumentar a segurança alimentar nesse movimento de desenvolvimento da agricultura na África. Acredito que este seja apenas o começo do que os dois países podem fazer juntos em todo o mundo. Por isso, os EUA continuarão se esforçando para ter certeza de que as novas realidades do século XXI serão refletidas nas instituições internacionais, como disse a senhora Presidente, incluindo as Nações Unidas onde o Brasil aspira a um assento permanente no conselho de segurança. Como falei à presidente Roussef, os EUA continuarão a trabalhar tanto com o Brasil quanto com outras nações nas reformas que vão tornar o conselho de segurança mais eficaz, eficiente e representativo para poder levar adiante nossas visões compartilhadas de um mundo mais seguro e pacífico.
Mais uma vez, com os resultados de hoje, criamos uma base para uma cooperação maior entre EUA e Brasil nas décadas vindouras. Gostaria de agradecer a presidente Roussef por sua liderança, por tornar este progresso possível. Não conheço a senhora Presidente há muito tempo, mas noto a paixão extraordinária no sentido de oferecer a oportunidade a todo povo brasileiro para que todos possam progredir e essa é uma paixão que compartilho com a senhora Presidente e aqui representando os cidadãos americanos também. Portanto, tenho certeza de que, dado esse espírito que compartilhamos, essa amizade que existe não apenas no âmbito governamental mas entre os nossos povos, que vamos continuar a progredir no futuro e aguardo ansiosamente minha passagem pelo Rio amanhã, onde terei a oportunidade de me dirigir diretamente ao povo brasileiro sobre o que nossos países podem fazer conjuntamente como parceiros globais no século XXI.
Muito obrigado.”
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