PAULO TIMM – politica e economia

JUSTIÇA E VIOLENCIA

Paulo Timm – copyleft – Torres set 14

Ontem, apesar do cansaço de todo mundo com o assunto do “Mensalão” , o assunto veio de novo à baila e hoje ocupa os espaços da mídia e das redes sociais. Tudo por causa da discussão e divisão do Supremo Tribunal Federal em torno dos “ embargos infringentes”. Nome difícil, para os leigos, que não obstante vão se familiarizando com a nomenclatura jurídica. Trata-se de um recurso de condenados no sentido de rever o processo e as penas à que foram submetidos. No caso do “ Mensalão” , precisamente 11 condenados, justamente os de maior visibilidade política, ligados ao PT, o mais célebre deles o Ex-Ministro Zé Dirceu. Curiosamente, são também 11 os Ministros do Supremo, sendo que 10 deles já votaram, sendo 5 a favor da aceitação dos ditos embargos e, portante, da revisão de todo o processo que poderá se arrastar por mais alguns anos e 5 contra. Empate! O desenlace se dará na semana que entra, com o voto que se imagina favorável aos 11 réus, o que significa que o “Mensalão” dificilmente os atingirá .

Até aqui os fatos recentes. Sobre eles, muitas paixões, análises e reticências. De uma forma geral, os partidários do PT e seus Governos e Líderes, respiram aliviados. A revisão do processo poderá confirmar o que vêm afirmando com veemência: O processo foi político, jamais houve “Mensalão”. A maior parte da opinião pública, porém, açodada pela Mídia e apesar de até aprovar o Governo Dilma, do PT e lhe creditar nítida vantagem sobre os concorrentes para as eleições à Presidente no ano que vem – 2014 -, já e decepcionam com a Justiça, esperando o pior no voto faltante: Preferiam ver os condenados presos. Isso indica que o público brasileiro não se sensibiliza muito com o tema corrupção, a ponto de desacreditar este ou aquele político ou Partido, em função de denúncias ou processos. O exemplo mais flagrante é do Deputado Paulo Maluf, com eleição sempre garantida…Outro, o do Ex-Governador José Roberto Arruda, do Distrito Federal, quem saiu algemado do Palácio Buriti, foi condenado e hoje é o favorito na preferência dos eleitores brasilienses, caso venha a se candidatar novamente ao Governo. Junto com ele, outro campeão de votos naquela cidade: Joaquim Roriz, que também promete voltar, apesar da “má fama”. Ainda assim, este mesmo público demonstra insatisfação com a Justiça quando ela não pune exemplarmente os culpados. Vá entender…!

Mais além – ou aquém – dos mandatos infringentes do “ Mensalão” e das contradições populares sobre eventuais corruptos, o processo em pauta merece uma reflexão positiva: Ele é didático. Ele ensina ao eleitor e cidadão, como funciona a Justiça, nos marcos do Direito e não dos Valores. Primeira lição: A Justiça repousa sobre a Lei e não sobre a Verdade. Neste sentido, o Direito tem suas origens no pensamento pré-socrático, que sempre afirmou haver no mundo o justo e o injusto , sendo ambos igualmente justificáveis. Daí que os gregos mandassem seus filhos à Escola para aprender Oratória e Retórica, ambas indispensáveis à construção dos argumentos que levariam à cata da Verdade. Veneravam eles a Lei como um mandamento da Polis, mas sabiam que ela não era uma mera administração de regulamentos.

No Brasil, houve um Vice Presidente da República, Pedro Aleixo, no Governo Costa e Silva, que sintetizou magistralmente essa questão quando discordou da edição do AI – 5, em 1968, vindo , por isto a ser estigmatizado pelos militares. Disse ele: “ O que tenho medo com este Ato não é dos generais, mas do Guarda da esquina”. Ou seja, percebia ele que naquele Ato a Lei deixava de ser um monumento da autoridade constituída para se converter no cacetete do milico de turno. No fundo, perdia ela o caráter transcendental de caminho da Verdade para erigir-se na própria Verdade.

Qual a relação disto com o “Mensalão” e os embargos infringentes? Isto tudo é a expressão da Lei em processo. Não há verdades. Elas são construídas no Processo e serão revisadas pela História. Há decepções, de lado a lado. Ora a espada pende sobre o pescoço dos acusados, ora em seu benefício. Este o papel da Justiça e ele está se construindo didaticamente para nós.

Segunda lição: Não é a Justiça que corre atrás do cidadão, mas este que vai ao encontro de seus direitos, sejam eles meros consumidores amparados pela Lei de Defesa do Consumidor, sejam mulheres aviltadas por maridos violentos que correm ao abrigo da Lei Maria da Penha, seja o Zé Dirceu, que tem todo o direito de recorrer enquanto houver espaço para tanto, em busca de sua absolvição. Assim funciona o Império da Lei. Ela só existe quando reitera permanentemente este espaço. Isto pode lhe custar um ônus político, como aparentemente comprova a sua condenação pela opinião pública, mas ninguém sabe como esta mesma opinião se comportará caso ao final do processo. E se ele acabar sendo inocentado…?

Vajamos, em contrapartida, como funciona o Código de Honra no mundo do crime, fora da alçada do Estado, no post do Jornalista Renato Riella FB, quem lamenta que ‘ A Justiça brasileira especializa-se em abandonar a avaliação do mérito em processos graves, detendo-se em questões burocráticas e deixando de condenar gente importante da política brasileira’ :

BRASIL, UM PAÍS EM QUE A JUSTIÇA NÃO TEM MÉRITO

O PCC, facção criminosa que domina os presídios, principalmente em São Paulo, decidiu fazer justiça e condenou à morte os cinco bandidos que mataram, com um tiro no rosto, um menino boliviano. Dois dos assaltantes foram envenenados na prisão e outros dois, que estavam ainda soltos, baleados e mortos. O quinto, de 17 anos, está num presídio de menores à espera da sua hora. Não escapará aos braços justiceiros do PCC, que não admite crime contra crianças.

Aparentemente, a Justiça Sumária do PCC é mais profunda do que a do STF. Mas ela não é Justiça no sentido que o processo civilizatório conferiu às instituições em torno do Estado de Direito. Ela é mera violência, sem qualquer garantia de verificação processual , nem muito menos direito de defesa dos acusados. Ela se impõe como VERDADE SUPREMA. Uma barbárie. E se os jovens mortos não foram, realmente, os criminosos? Lembremo-nos, sempre de um filme, já caído no esquecimento: “ Um pequeno-burguês, pequenininho, pequenininho”, de Mario Monicelli, creio. Nele um pai resolve vingar pelas próprias mãos os assassinos do filho. Descobre-os, persegue-os e os mata implacavelmente. Até que lê num jornal a descoberta pela Polícia dos reais assassinos…

Terceira lição: A Justiça tarde e exige a qualificação de profissionais na busca dos direitos da cidadania. É um processo difícil, às vezes caro e discriminador, porque exclui os mais pobres do acesso a direitos, mas inevitável. É tão caro como a medicina. Ou a boa arte. Ou a educação esmerada. Pode-se pensar em universalizar o acessos a tais serviços e bens, mas jamais eliminá-los por serem “ caros “ . O que estamos assistindo no “ Mensalão “ não deveria nos constranger. Pelo contrário, levar-nos a nos orgulharmos de dispor no Brasil de instituições que se estão aperfeiçoando com o aprofundamento da democracia entre-nós, ao tempo em que demonstra a cabal sedimentação de uma sólida cultura jurídica dos profissionais envolvidos no Processo.

De minha parte, enfim, que torço pela democracia, pouco me importa que os condenados sejam ou não absolvidos ou condenados. Definitivamente, para mim, esta é uma questão institucional sobre a qual recairá o juízo histórico. Desconfio, porém que, para Zé Dirceu e seus companheiros condenados, caso venham a ser amparados pela revisão do processo , esta venha a ser uma vitória do Pirro…

 

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UMA SEMANA DOURADA

     Paulo Timm – Especial para A FOLHA, Torres – setembro 12

Os últimos dias me  foram particularmente aprazíveis: o tempo maravilhoso, antecipando o primeiro veranico, distensão internacional com a  suspensão dos bombardeios americanos sobre a Síria, memoráveis lembranças na celebração, com o os amigos Luiz Inácio Zaga e Paulo Roberto Pegas, do meu majestoso ingresso no umbral dos 69 anos…Além disso boas notícias da família, espalhada no vasto mundo. Sou feliz e eterno. E me confirmo na melhor máxima que bolei até hoje: A eternidade é a medida do tempo sem compasso; o homem, a eternidade a cada  passo…A cada dia…Para completar minha euforia, vou visitar Porto Alegre, tomar aquele cafezinho no Mercado e ver os primos em Santa Maria, onde tive minhas primeiras letras em meados do século passado. Redulces cariños al´ alma…

Mas aproveito para transmitir  aos torrenses algumas impressões dos dias que passam.

A primeira: A INTERNET é uma dádiva dos tempos atuais. A quantidade de informações que nos propicia e a amplitude de relações novas que oferece através das Redes me impressiona. Nossa velocidade ainda é baixa, o sinal não muito bom, mas é alvissareiro saber que 70% dos lares brasileiros já têm acesso à INTERNET. Há cidades, aliás, que mercê dos esforços da Prefeitura local, todos já têm tal acesso gratuito.   Vamos nessa, Dona Nílvia!

Tenho, a propósito, me batido contra vários Quixotes da minha geração que continuam brigando contra a tecnologia a serviço da informação. Tinha um amigo que pediu para ser enterrado com uma velha Remington. O foi… A todos, lembro que tudo começou com o domínio do primeiro homínida sobre o fogo. Do gesto, à fala. Da fala à escrita, que fez do grego a primeira língua universal. Da escrita, à imprensa, que multiplicou a palavra de Deus à serviço de qualquer homem, sem a mediação do clero. Da imprensa à interconectividade eletrônica da Aldeia Global. Um monge espanhol, no século XVII- Baltazar Gracián,  já dizia: Mundo sem informação, mundo às escuras. Pois, fez-se a luz…

Outra dádiva: A televisão a cabo.

Custei muito a ter e assistir televisão. Lembro-me que ainda nos anos 1970-73, quando morava no Chile, não tinha aparelho de televisão. Não sentia a menor falta. Fui conhecê-la de perto quando mudei para Brasília e me aprazia assistir aos jornais. Quando a TV ficou colorida, me interessei um pouco mais. E vibrei quando vi a Manchete transmitindo as imagens do Sambódromo, em 1984. Mas sempre odiei o resto da  programação. Preferia o rádio. Aí, quando chegou a TV a cabo, mudei de idéia. Comecei a ver cada vez mais televisão. E hoje sou refém dela. A quantidade de canais de excelente qualidade justifica minha decisão e a recomenda.

Registro, aqui, um Canal novo, vinculado à Bandeirantes: Canal Curta. Uma excelente programação de curtas e documentários jamais vistos e de excelente qualidade. Outro, o Arte 1, é também um primor. Verdadeira maravilha que coloca a beleza, até há pouco, privilégio das elites, à disposição de quase 30 milhões de famílias brasileiras.  Mas há também os programas de cultura e jornalismo, como o CANAL LIVRE, da TV Cultura de São Paulo. Vi, na semana, um debate sobre a Síria, verdadeiramente inédito. Sem dirigismo editorial, como faz a Globo que só dá uma versão dos fatos: a dos donos da emissora. Outra excelente entrevista foi com o campeão de vendas de livros, autor de “ 1808”, Laurentino Gomes. Também da TV Cultura, recomendo CARAVANA DOS LIVROS ,  QUINTAS 22 H e CAFÉ FILOSÓFICO – Domingos 22h. Outros canais poderiam ser indicados. Mas fica pra outra vez.

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REMEMORANDO O CHILE

Paulo Timm – Torres set 11 – copyleft

Há muitos 11 de setembro. Para os americanos, a data será sempre referida ao atentado que derrubou as Torres Gêmeas em N.York. Para nós, latino-americanos,  há também pranto, mas pelo que ocorreu no Chile em 1973. Haverá, por certo, outros mais. O tempo não pára, nem a palavra corta. Para mim, entretanto, cada vez que a data se repete, se renovam as memórias do tempo vivido no Chile e a brutalidade do Golpe que derrubou o Presidente Allende. Já não tenho muito a dizer de novo sobre aqueles memoráveis anos Releio, apenas, as crônicas que já escrevi e me comovo às lágrimas. E as transcrevo, no que têm de permanente.

No início da década de 70,  o regime militar se estabilizava no Brasil, tanto por causa da repressão desatada pelo AI , em 13 de dezembro de 1968, como pelos inesperados  êxitos econômicos. A resistência armada, eufórica num primeiro momento, ia se desmantelando e jogando seus quadros sobeviventes na prisão e no exílio. Eu havia recém me formado e amanheci a década em Santiago do Chile, onde via  aumentar, dia a dia o número de exilados brasileiros, que teriam chegado a 10 mil entre 1970 e 73. De uma maneira geral, pode-se dizer que encontrávamos todos,  naquele país, um período de grande entusiasmo, marcado pela vitória da Unidade Popular, Governo de esquerda, liderado pelo Presidente Salvador Allende, do Partido Socialista. Imediatamente, todos se regozijavam com os primeiros indicadores de desempenho da economia, divulgados pelo Ministro Pedro Vuskovic e  que alimentavam melhor  aceitação do  Governo. Com o tempo, porém, a crise foi se instalando,   exigindo intensa mobilização de toda a comunidade exilada nos trabalhos voluntários, de forma a compensar a boicote de setores empresariais que esvaziavam as prateleiras em todo o país. Em 73, até o dia 11 de setembro, cresceram as grandes apreensões, que desembocariam no terror.

“Em 1973, a inflação chegou a cifras de 381,1%, os produtos básicos de consumo desapareceram das prateleiras, o desemprego crescia assustadoramente e a produção e o valor da moeda de então, o Escudo Chileno, em proporção inversa, caíam de forma vertiginosa.”

                                              (wiki)

Os brasileiros, mergulhados na vida cotidiana do Chile, iam aprendendo melhor a língua, os costumes, as variantes culturais e, sobretudo, a especificidade da via chilena. Alguns casamentos. Todo o começo é sempre difícil. E foi muito difícil entender aquela obstinação que tinham os chilenos com a estabilidade institucional do país. Ela fora convertida em mito pela esquerda chilena. Ela confiava pia e sagradamente que a profissionalização de suas forças armadas, há 40 anos distante de qualquer intervenção, jamais seria capaz de fazer o que fizeram em outros países do continente. A via chilena, enfim, era um dogma, que o Presidente Allende, levou, coerentemente, às últimas conseqüências.  Apenas um pequeno mas atuante grupo, à esquerda da Unidade Popular, o MOVIMIENTO DE IZQUIERDA REVOLUCIONÁRIA – MIR-  , contestava o mito da via pacífica para o socialismo. Tratava-se de um grupo  altamente consciente da gravidade da situação política, que via se deteriorar vorazmente ao longo de 1973, diante do greves nos transportes e “acaparamientos”. (Esta era uma técnica dos empresários   que consistia na retirada de produtos básicos das prateleiras_. Mas poucos lhes davam ouvidos. A “via chilena” se consagrara acima de qualquer questionamento. Insólita, como a qualificou Fidel Castro, em visita – incômoda- ao país. Mas imperativa.

Toda esta trajetória da Paixão e Morte da Via Chilena , não foi apenas vivenciada pelos brasileiros que lá estavam. Hoje ela está fartamente avaliada em diversos livros e Teses acadêmicas, como,por exemplo,  “ Salvador Allende e o mito da estabilidade chilena”, de Ana Cristina Augusto de Souza – http://www.revistaintellector.cenegri.org.br/ed2007-06/anacristina-2007.pdf , na qual se pode encontrar farta indicação bibliográfica. Naquela época, porém, cada grupo que lá vivia , avaliava a situação  segundo sua ótica política própria.

A “aristocracia” exilada, mais antiga e acomodada nos órgãos internacionais sediados em Santiago ou na Universidade , quando não no próprio Governo, como Conceição Tavares, José Serra, Fernando Henrique Cardoso, pactuou firmemente com o mito da estabilidade. Todos eles tiveram um papel importantíssimo na colônia pela crítica ao regime militar no Brasil e apoio à “Caixinha”. Creio que um dos últimos responsáveis por ela , aliás,  foi o nosso saudoso conterrâneo Paulo Renato,  funcionário da OIT, cuja temperança política não fazia par com o destemor e espírito de solidariedade que demonstrou nos dias cruciais do Golpe. Muitos lhe devem a vida. Eu lhe devo a fidalguia de ter acompanhado minha segunda esposa, chilena, acusada pelo ex-marido como terrorista e seqüestradora de uma filha, a um Tribunal.

Outros segmentos de brasileiros acomodavam-se em seus respectivos grupos políticos. E com a quantidade de gente que já lá estava em 1973, era impossível fazer qualquer classificação. Uma coisa, porém, é certo: Tiramos lições.

A primeira lição que aprendemos no Chile foi sobre a importância da democracia. A esquerda brasileira vinha de uma formação estalinista, propensa a descartar qualquer importância às Instituições e ao Estado, tomados como burgueses. Mesmo com as tensões da Via Chilena e seu posterior fracasso, começamos a dar um valor crescente à construção da democracia como um valor universal. E ao Estado como instrumento social. Pouco depois, Carlos Nelson Coutinho nos brindaria como um artigo, no Brasil, com este título e que inauguraria o arejamento da esquerda com o contributo gramsciano da  importância da hegemonia e não apenas do assalto ao  Poder na  conquista do socialismo.

Outra lição importante, para todos nós, foi a compreensão das alianças, corolário do anterior, na montagem de estratégias de Poder. Pudemos perceber, na experiência chilena, que numa sociedade moderna, a classe média e suas representações políticas têm um papel importantíssimo, que pode ou não viabilizar estratégias de mudança. Digo até, que essa foi uma lição decisiva para pensadores  marxistas ortodoxos, como Emir Sader e Marco Aurélio, na montagem de estratégias de governabilidade do Governo do PT no Brasil, a partir de 2004.

Decisivo foi também o entendimento de uma dialética interna da esquerda, quando,  dentro e fora de um Governo , há fronteiras a serem respeitadas. Muitos até debitam o enfraquecimento de Allende às divergências internas da UNIDADE POPULAR ou à existência de uma ultra-esquerda, o MIR, que lhe teria solapado o vigor ideológico. Ledo engano! As divergências internas foram extremamente salutares ao  regime e o MIR, conquanto de extrema esquerda, e fora do Governo, jamais abriu baterias contra a pessoa do Presidente Allende. Pelo contrário, conta-se que a Guarda Pessoal de Allende era feita por militantes do MIR. Nada parecido com o que hoje presenciamos na cena brasileira, na qual  , a cada defecção escorre um filamento de ódios incontidos.

Um último registro daqueles tempos idos e vividos no Chile: Eles  realimentaram a esquerda brasileira de um elemento decisivo na sua decantação humana, a solidariedade. Talvez até pela necessidade. Mas foi um fato, talvez já extraviado.   As portas se abriam a cada um que chegava, amizades se fortaleciam no apoio a pessoas que deixavam para trás família, maridos ou pais presos, empregos, estabilidade. Refinava-se o ingrediente básico de uma visão de mundo mais fraterna, curiosamente destacado sempre pelo próprio Allende, ao  frisar, incansavelmente,  que tudo deveria começar no coração de cada chileno. Tenho o orgulho de ter, nesse processo, aberto não só nossa casa a muitos camaradas, maioria gaúchos exilados, com os quais me reaproximei (não tanto em obediência à fórmulas doutrinárias de socialismo, mas ao reconhecimento de valores humanos como caráter, coragem , determinação e amizade) , como meu espírito para novos desafios que viria a enfrentar .

No dia 11 de setembro de 1973, tudo acabou. No comando dos acontecimentos, a velha potencia imperial, os Estados Unidos.

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MIDIA NINJA : “CATAR E CAPTAR”

Paulo Timm – Torres agosto 21 – copyleft

Capilé criou um reino particular a partir de “simulacros” do mundo real. A contabilidade virou “Banco FdE”. Eventos com debates formam uma “Universidade FdE”. Viagens viram “colunas”. O lobby político é o “Partido da Cultura”. E a comunicação tornou-se “Mídia Ninja”.

CARTA CAPITAL

As recentes movimentações populares no Brasil trouxeram à tona a existência de um grupo denominado Mídia Ninja, com incrível habilidade para transmitir ao vivo, durante horas, sem edição, diretamente dos locais dos acontecimentos. Mídia Ninja é um nome fantasia associado a uma empresa de eventos e publicidade Fora do Eixo – FdE -. Empresa, aliás, não é bem o caso, pois o Grupo tem mais a característica de uma seita onde está banida a  palavra “lucro” e as relações de trabalho são mistificadas como missão, com severo controle dos líderes sobre os seus membros, como noticiou a Carta Capital.

O Fora do Eixo nasceu em 2005, e seu nome faz menção ao fato de a iniciativa ter começado em centros distantes de São Paulo e do Rio. Capilé é de Cuiabá. Do Mato Grosso, o coletivo expandiu-se para Uberlândia (MG) e Rio Branco (AC), e dali para outras cidades. A relação com os artistas funciona assim: uma banda iniciante entra na programação de eventos culturais do grupo e faz shows em algumas cidades. Não paga passagem, hospedagem e alimentação (fica nas casas Fora do Eixo). Em contrapartida, não recebe cachê. O dinheiro arrecadado com suas apresentações financia o movimento.

Capilé e seus apoiadores calculam 2000 integrantes, mas o Fora do Eixo se resume a sete casas (São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Porto Alegre, Belém e Porto Velho), onde vivem em média dez ativistas, ou seja, cerca de 70 no total. Há ainda algumas casas de coletivos parceiros, como em Bauru e São Carlos. Quando se soma os agregados, na estimativa mais otimista, a organização tem hoje 200 participantes.

Oficialmente, o financiamento é baseado em shows e editais do governo ou de empresas estatais e privadas. Existe, no entanto, uma terceira fonte significativa: a apropriação de dinheiro e bens particulares de colaboradores.

              CARATA CAPITAL – http://www.cartacapital.com.br/sociedade/fora-do-eixo-6321.html

O resultado da ação ninja, que opera sob o lema “ Catar e Cooptar”,, foi surpreendente tanto em termos de informação, como de repercussão. A diferença de abordagem da Mídia Ninja e dos veículos da Grande Mídia é muito simples: Os primeiros vão ao teatro de operações cobertos pelas forças policiais; os ninjas se misturam à massa. Os primeiros selecionam as tomadas com vistas à salvaguarda dos sagrados princípios da “liberdade”, da “democracia” e sobretudo, dos bons modos tão ao gosto da Boa Sociedade; os segundos apresentam a realidade como ela é, sem condenar, inclusive os mais violentos; os primeiros, são profissionais da imprensa; os ninjas são guerrilheiros da notícia. E por aí vai…

Foi tão impactante a cobertura da Mídia Ninja que eles acabaram convidados por Alberto Dines para participar no domingo ante-passado do “Roda Viva”, na TV Cultura de São Paulo.Deram um show… Compareceram à entrevista coletiva os dois líderes do Grupo – o próprio Pablo Capilé e BrunoTorturra- e seu desempenho foi simplesmente explosivo, deixando velhos e experientes jornalistas verdadeiramente constrangidos. Aí as conseqüências começaram a brotar de todos os lados: contra o grupo , denúncias sobre o caráter autoritário e trambiqueiro do Grupo, que tem em Capilé, seu líder; a favor , diversos depoimentos de cidadãos honrados e conscientes, evidenciando o inédito do grupo, como este, abaixo:

Voltando à entrevista no Roda Viva. Parece que havia um cenário montado para  colocar em descrédito o FdE e a Mídia Ninja.  Quase todos os entrevistadores demonstravam haver uma opinião preconcebida, bastante negativa, em relação ao Movimento. Era também visível  certa impaciência com o que estava por acontecer. Como  se a TV Cultura estivesse abrindo  espaço excessivo, e em horário nobre, para coisa de pouco valor.

A entrevista foi uma grata surpresa para os telespectadores. Principalmente para os de espírito aberto e sem preconceitos. E tornou-se um calvário para os entrevistadores que aos poucos foram se tornando impiedosos inquisidores, com a exceção de um deles, o experiente Alberto Dines, do Observatório da Imprensa.

(Geniberto Paiva Campos –  Agosto/2013  – Observatório da Saúde/DF )

 

A Carta Capital – acima – , porém, foi atrás de antigos colaboradores da Mídia Ninja, os quais não pouparam adjetivos desqualificando o Grupo como senão criminoso, perto disso.

Os diversos segmentos políticos institucionalizados, mostraram-se, também reticentes.

Não obstante, independentemente deste grupo em especial, o “ Mídia Ninja”, o fato demonstra a importância do momento tecnológico que hoje vivemos. Que distância dos tempos de Cristo, cujos conselhos em forma de Evangelhos levariam mais de 50 anos, depois de sua morte, para serem escritos e outros tantos para ganharam um mínimo de visibilidade! Ou mesmo de Lênin, com suas prosaicas recomendações no “ Que Fazer? “ . Hoje qualquer um  dispõe de meios para fazer um jornal , uma Revista Digital Diária, como eu mesmo, sozinho faço meu “Drops” , velho sonho de juventude, ou mesmo, até uma TV Digital, como os ninjas e tantos outros estão fazendo. Sempre soubemos da correlação entre tecnologia e comunicação – a fala, a escrita, a imprensa e, agora, a digital – , mas ainda não percebemos muito bem o alcance revolucionário deste impacto. Os políticos, sobretudo, não entenderam nada. Sequer sabem abrir um email, que fica a cargo de uma infinidade de secretárias. Jamais respondem a qualquer indagação, sugestão ou crítica. E continuam gastando milhões em selos que acabam desaparecendo… Selos!!! A essas alturas…!! São, literalmente, analfabetos tecnológicos, por fora de tudo o que está ocorrendo, a velocidade incrível no mundo inteiro. Viramos, mesmo, a ALDEIA GLOBAL, com todas as implicações que isto significa na “Era dos Artefatos”, quando uma criança é bombardeada em um dia pela mesma quantidade que seu avô via durante a vida inteira. Agora, é vai ou racha. E a meninada está rachando com as concepções mecanicistas de muita gente que ainda pensa com o instrumental da primeira revolução industrial, filosóficamente amparado com  o Iluminismo e sua crença religiosa na existência de um sujeito moral capaz de legislar sobre o seu destino… Ora…ora…ora…!  Como dizia o Cazuza: “Ideologia??? Eu quero uma pra viver…

Ideologia

            Cazuza

http://letras.mus.br/cazuza/43860/

Meu partido
É um coração partido
E as ilusões
Estão todas perdidas
Os meus sonhos
Foram todos vendidos
Tão 
barato
Que eu nem acredito
Ah! eu nem acredito…

Que aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Frequenta agora
As festas do “Grand Monde”…

Meus heróis
Morreram de 
overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma pra viver
Ideologia!
Eu quero uma pra viver…

O meu prazer
Agora é risco de vida
Meu sex and drugs
Não tem nenhum 
rock ‘n’ roll
Eu vou pagar
A conta do analista
Pra nunca mais
Ter 
que saber
Quem eu sou
Ah! saber quem eu sou..

Pois aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Agora assiste a tudo
Em cima do muro
Em cima do muro…

Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma pra viver
Ideologia!
Pra viver…

Pois aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Agora assiste a tudo
Em cima do muro
Em cima do muro…

Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma pra viver
Ideologia!
Eu quero uma pra viver..
Ideologia!
Pra viver
Ideologia!
Eu quero uma pra viver…

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Os cubanos estão chegando!

Paulo Timm – Torres agosto, 22 – Copyleft

Fim da novela: Ontem foi assinado o Convênio com a Organização Panamericana de Saúde (OPAS) para a contratação de 4 mil médicos cubanos.  Lei é lei. Cumpra-se! Embora, como dizia Bismark, se o povo soubesse como são feitas as salsichas e as leis… ! Enfim, a primeira leva, de 400, chega logo , obedecendo o seguinte cronograma:

400 dia    26 agosto

2.000  dia  04  outubro

1.600  final novembro

.

Cumprido um ritual de adaptação ainda incerto em Universidades Brasileiras, se aprovados , irão para 701 municípios do interior selecionados pelo  Programa Mais Médicos, 84% nas regiões Norte e Nordeste. A eles o Governo oferecerá as mesmas condições de trabalho que oferece aos brasileiros: Salário de R$ 10.000,00 , a cago da União, e Auxílio Moradia pelas Prefeituras. . O valor total do acordo com a Opas é de R$ 511 milhões até fevereiro de 2014 mas os recursos serão passados ao Governo de Cuba, que fixará, então, o salário dos médicos. Ninguém  sabe, na verdade quanto eles receberão. Trata-se, rigorosamente, da famigerada “terceirização”, desta vez em escala internacional.

O fato inflamou os médicos e suas corporações e incendiou os mais conservadores que denunciam tanto a qualidade destes profissionais como uma possível ação política de infiltração comunista no interior do Brasil. Só por esta alegação, embora um pouco paranóica, o assunto merece reflexão. Não nos iludamos, o anti-comunismo como fermento ideológico de ódios políticos ainda subsiste. E embora talvez grande parte dos médicos que aqui aportarão já tenham até se desencantado com o sonho revolucionário, sobre eles recairá a peçonha fascista. Para a imprensa conservadora será um prato cheio: descobrir aqui e acolá, seja um espião, seja um lapso profissional, inevitável até no Eistein, seja um fanático por denunciar o regime castrista.

Tenho olhado este Programa com cautela, lendo os artigos do CEBES e depoimentos de vários profissionais da saúde, todos reticentes. Como um velho comunista, embora com mais dúvidas do que certezas, até porque velho, fico na contramão de vários companheiros: Sou contra, não a vinda dos médicos cubanos, mas da maneira  apressada como tudo isto está sendo conduzido. Afinal, o governo petista já aí está há três mandatos. Só agora saiu correndo em busca de uma solução mágica? Desconfio. Acho que a pressa não é só inimiga da perfeição. É inimiga, também, da virtude, que tem na prudência seu fulcro. Há interesses eleitorais em jogo, embora a intenção seja até boa. Boa, primeiro, para as populações periféricas, que terão, pelo menos, el consuelo de um profissional da saúde. Boa para o Governo Cubano, também, que embolsará parte significativa dos dólares recebidos, redistribuindo-os em bem-estar a uma população castigada pelo bloqueio comercial há décadas. Boa para os médicos cubanos, que, assim, poderão conhecer novos ares e, eventualmente, por eles se encantarem abrindo novos horizontes de vida. Como não há médicos brasileiros dispostos a irem para os grotões indicados, nenhum médico brasileiro será prejudicado. Então, por que tanta grita? Como diria Ortega y Gasset: Pelas circunstâncias…

Ninguém reclamaria, por exemplo, se este Acordo fosse feito com a ONG Médicos sem Fronteiras, ou equivalente, em levas menores, intercaladas no tempo, após avaliação de resultados.  E que se limitasse ao Norte/Nordeste, regiões reconhecidamente carentes. Também não reclamariam se, prudentemente, o Acordo previsse um tempo “razoável”, superior a três semanas, quiçás um ano,  de agiornamento dos médicos nos Hospitais Universitários, para que dominassem melhor a língua portuguesa, conhecessem a cultura e visitassem os lugares para os quais serão, quase militarmente, “ designados”. Também se exigiria que ditos lugares recebessem, previamente, alguma atenção suplementar do SUS, afim de que os pobres cubanos não se defrontem com a barbárie que são nossos hospitais de província: sem medicamentos, sem leitos, sem as mais mínimas condições para o adequado exercício profissional. Ahhh! Mas tudo isso exige tempo. E tempo é o que o Governo não tem…Há eleições à vista!

O maior problema, porém, não são os médicos cubanos. É a maneira como o assunto vem sendo abordado. Ou se é contra ou se é a favor, como se fosse possível essa redução, refém de paixões ou interesses.  Ou, o que dá na mesma: Há os que enaltecem o sistema de saúde em Cuba, trazendo até depoimentos internacionais irretorquíveis sobre suas maravilhas, deduzindo daí que o MAIS MÉDICOS com os cubanos será um êxito; e os que , mesmo sem conhecê-lo, o condenam, dentre outras porque é produto de um regime que odeiam e daí viram alarmistas com a vinda dos cubanos.  Convenhamos: O que tem a ver a vinda de médicos cubanos com o Sistema de Saúde de Cuba. Aliás, lá o “ Sistema” funciona, porque é eminentemente preventivo:

Médicos de família, junto com enfermeiras e outros profissionais de saúde, são os responsáveis por dar atendimento primário e serviços preventivos para seu grupo de pacientes — cerca de mil pacientes por médico em áreas urbanas.

Todo o cuidado é organizado no plano local e os pacientes e seus profissionais de saúde geralmente vivem na mesma comunidade. Os dados médicos em fichas de papel são simples e escritos à mão, parecidos com os que eram usados nos Estados Unidos 50 anos atrás. Mas o sistema é surpreendentemente rico em informação e focado na saúde da população.

Todos os pacientes são categorizados de acordo com o nível de risco de saúde, de I a IV. Fumantes, por exemplo, estão na categoria de risco II, e pacientes com doença pulmonar crônica, mas estável, ficam na categoria III.

As clínicas comunitárias informam regularmente ao distrito sobre quantos pacientes tem em cada categoria de risco e sobre o número de pacientes com doenças como a hipertensão (bem controlada ou não), diabetes, asma, assim como sobre o status de imunização, data do último teste de Papanicolau e casos de gravidez/cuidado pré-natal.

(Edward W. Campion, M.D., and Stephen Morrissey, Ph.D.)

The New England Journal of Medicine, January 24, 2013, citado no Blog do Nassif

Aqui no Brasil, além da miséria das populações marginais, que vai impressionar os cubanos que pensam que eliminamos a pobreza, não há saneamento básico, principal vetor da saúde pública, o sistema do SUS está em crise, há falta de recursos, os prefeitos não dispõem de recursos – quando não os roubam!- . Pobres médicos cubanos. Como toda a potência imperial, só estamos pensando nos “ nossos pobres ” esquecendo-nos das míseras almas que estarão por trás dos chalecos, jogadas em lugares incertos e desconhecidos,  provavelmente super-explorados pelo próprio Governo, sem família, sujeitos a inúmeros controles em seus movimentos.

Até por isso, mesmo contra o que considero uma insanidade, “ jamais vista na História deste país” , recebo os cubanos de braços abertos. Bem vindos à Terra dos Catataus! Sejam felizes!

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A VOLTA DOS  ESQUELETOS NAS CONTAS PUBLICAS

Paulo Timm – Torres, agosto 17 – copyleft

GLOBONEWS – Miriam Leitão -Economistas debatem alquimia fiscal do Governo

http://g1.globo.com/globo-news/miriam-leitao/videos/t/todos-os-videos/v/economistas-debatem-as-alquimias-fiscais-do-governo/2761595/

  E ainda há quem fale em eliminar o superávit primário.  Impossível.  Seria loucura.   O superavit é a mesada regular feita aos rentistas, para que eles continuem dispostos a participar do jogo.

Ceci Juruá – Economista RJ- correspondência pessoal com autor

Há coisas incompreensíveis no Brasil. O Governo não tem dinheiro para pagar professores, para manter  funcionando adequadamente os hospitais, para conservar as estradas, pelas quais circula o grosso da riqueza nacional, mas tem dinheiro para o trem-bala, orçado em R$ 38 bilhões, mas que poderá chegar ao dobro disso, como teve R$ 7 bilhões para os Estadios da COPA. Não há dinheiro, sequer, para terminar o projeto prioritário da Era Lula, que foi a Transposição do São Francisco.   A Lei de Responsabilidade Fiscal explica: Ela é rigorosa : não permite que haja despesa sem a demonstração da fonte dos recursos. Como não há disponibilidade orçamentária, nada feito. É omissa, porém, quando as despesas se destinam a investimentos, como o trem-bala. O  caminho é meio obscuro, mas tem funcionado da seguinte maneira:

O Tesouro Nacional emite Títulos, que são negociados no mercado financeiro pelo Banco Central, que os repassa para o BNDES. Aí o BNDES alardeia que bate recordes inauditos de aplicações, contratadas pelo setor privado, mas esconde que deixa para trás maior  endividamento – caro –do Governo. Ninguém sabe direito como tudo isso acontece e como é contabilizado. São os famosos “ esqueletos” que ficam escondidos nos escaninhos de Brasília e que levaram, outrora, Pedro Malan, Ministro da Fazenda,  a afirmar:

No Brasil nem o passado se pode planejar…

Um dia, porém, como no famoso romance de Érico Veríssimo, os mortos saem das tumbas e assombram os vivos.

Há apenas um Relatório periódico do Tribunal de Contas da União que, depois de muito perseguir os números, os divulga. Uma pista para se calcular estes montantes, é o registro dos haveres do Banco Central junto ao BNDES, mas este número nunca fecha com os deste Banco, o qual se credita, por sua vez, junto ao Tesouro pelo custo dos subsídios dados em seus empréstimos. Trocando em miúdos, como o BNDES não emite moeda, ele toma emprestado do próprio Governo. Como o Governo também não tem dinheiro, emite títulos  a juros geralmente superiores à Taxa SELIC , na ordem de 10% a.a. e empresta o dinheiro ao BNDES, que o entrega à uma média de 5% a.a., inferior ao que paga ao Governo, aos tomadores privados. A diferença entre o que cobra e o que paga é novamente cobrada do Governo, que assim, terá pago, no fim do ciclo, pelo dinheiro (que não tinha) , os 10% a.a. + 3% (proxi) dos subsídios. Bem, em quanto monta isso tudo? No final de 2012 este valor estava em R$ 400 bilhões, valor que subiu para R$ 438 no final de junho. Custo disso?   Em 2012 algo em torno de R$ 52 milhões, ou pouco menos de R$ 60 no ano em  curso. Sem falar nos empréstimos similares aos outros Bancos oficiais: BB e CEF…

Este, enfim, o valor monstruoso  do BOLSA EMPRESÁRIO no Brasil, retro-alimentado pela transferência – esse o nome técnico dos juros pagos aos titulares de títulos governamentais –  no vértice da pirâmide de renda da bagatela de R$ 100 bilhões, ou o equivalente a quatro BOLSAs FAMÍLIA. A BOLSA EMPRESÁRIO beneficiando um seleto segmento de, no máximo, 5 mil família, enquanto o BOLSA FAMÍLIA beneficia mais de 23 milhões. Isso é o Brasil!!!! Mas “ Que país é este”…¹

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MENORES INFRATORES

Paulo Timm – Torres agosto 09 – copyleft

“Quando um menor ingressa numa Escola Correcional, ele recebe o rótulo de infrator, de delinqüente ou de marginal, e sai de lá com mínimas chances para mudar de vida. A sociedade tem medo dele e, portanto, não lhe dá oportunidades. Na Instituição, ele especializa-se como ladrão, porque percebe que não terá outra alternativa. A repressão imposta a ele pelo Poder Judiciário não tem o papel corretivo, ao contrário, incrementa ainda mais as suas habilidades infratoras. Enfim, as instituições têm favorecido o desenvolvimento da Identidade do Menor Infrator, através da aquisição e fortalecimento de características físicas próprias deste grupo social e do desenvolvimento de hábitos importantes para a sobrevivência do grupo.”

Paula Inez Cunha Gomide  IN A instituição e a identidade do menor infrator – http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-98931988000100013&script=sci_arttext

*

Há coisas que não consigo compreender no Governo Federal.  Parece que o isolamento do Poder os encerra numa tal clausura que não sabem o que vai pelo mundo, a menos que a mídia lhe cite nominalmente  como vilão. Ou os incense na tal Fogueira das Vaidades…Onde o Serviço de Inteligência? Onde os jornalistas e assessores bem informados que passam informações? Será que nenhum Político acessa a Internet, optando por deixar seus email e twitters à cargos das Secretárias?  O Governo se disse surpreso diante das manifestações de Junho. Não obstante, diversas pesquisas feitas nas barbas das autoridades e com recursos públicos já vinham apontando o descontentamento da juventude.

Antes das manifestações, jovens tinham apontado problemas do país

CORREIO BRAZILIENSE – 09-AGO-2013 –

Uma pesquisa feita com jovens de 15 a 29 anos, entre abril e maio, mostrou que eles já sabiam quais pautas deveriam abraçar e como iriam fazê-lo, nos dois meses seguintes, marcados por manifestações. Segundo a Pesquisa Nacional Sobre Perfil e Opinião dos Jovens Brasileiros 2013, a juventude apontava a saúde (99%) e a educação (98%) como os principais desafios a serem superados, e acreditava que as mobilizaçoes de rua (45%) seriam a melhor forma de buscar melhorias. Embora 54% considerassem a política muito importante, 88% afirmaram que nunca entrariam em partidos políticos. O entendimento predominante (53%) é de que os governos conhecem as necessidades dos jovens, mas não fazem nada a respeito. O documento, da Secretaria de Juventude da Presidência da República, foi divulgado ontem

Outra coisa : Segunda feira passada, a Presidente Dilma sancionou o proclamado Estatuto da Juventude, num evento ao qual participaram produtores culturais, artistas e, naturalmente, jovens. Pensei que haveria, concomitantemente, algum pronunciamento sobre a situação dos jovens  no Brasil, vez que na semana passada o IBGE havia divulgado o IDHM com inúmeras informações preciosas sobre escolaridade, evasão escolar etc. Quem sabe, até, o lançamento de algum programa específico para os brasileirinhos e brasileirinhas. Apressei-me, naquele dia, 05 de agosto ,   alinhavar em minha reflexão diária – COLUNA DO TIMMwww.paulotimm.com.br  – dados, argumentos e opiniões sobre o que designei como “Geração Perdida”,  especialmente homens entre 18 e 25 anos. A turma do “nem-nem-nem” ( nem estão estudando, nem trabalham, nem têm acesso à equipamentos de lazer e cultura). Em países como Coréia do Sul,  95% deles se encontram em bons cursos de nível superior, garantindo, com isso, o futuro daquele pequeno país. No Brasil, estão fora da escola , não conseguem entrar no mercado de trabalho, são extremamente vulneráveis às drogas, aos acidentes de trânsito e à homicídios. Acreditava eu, com isto, acompanhar o que seria dito por autoridades federais. Nada disso, o Estatuto da Juventude ficou restrito aos debates sobre meia-entrada, ainda assim, paradoxalmente estendidas às `crianças´ de até 29 anos…Piada. Os que têm entre 30 e 60 pagarão a conta…

Além de insuficiente, o dito Estatuto de Juventude, foi também inoportuno. Tivesse esperado mais três dias e poderia ter incorporado alguma coisa sobre Menores Infratores, eis que, precisamente ontem, o Conselho Superior do Ministério Público publicou o Relatório da Pesquisa intitulado “Um Olhar mais atento às unidades de internação e semiliberdade para adolescentes”. Este documento é extremamente importante para se conhecer melhor a situação dos menores que cometeram Atos Infracionais, assim classificados pelo Estatuto de Criança e do Adolescente, afim de que possamos ver como estamos tratando da sua socialização para um mundo melhor. Transcrevo, a propósito, matéria da própria Agência Brasil, a qual, creio, não tem sido muito acessada pelos Assessores da Presidência de República, os quais sequer sabiam de seu andamento:

Brasil tem déficit de quase 3 mil vagas para acolher jovens em conflito com a lei

  Alex Rodrigues – Repórter Agência Brasil – Brasília – Edição Aecio Amado

O Brasil tem atualmente um déficit de quase 3 mil vagas para acolher os 18.378 jovens em conflito com a lei obrigados a cumprir medidas socioeducativas. Segundo um relatório do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) divulgado hoje (8), as 443 unidades de internação e de semiliberdade, juntas, somam 15.414 vagas. Além disso, mais da metade dos estabelecimentos inspecionados foram considerados insalubres.

Promotores de Justiça da Infância e Juventude inspecionaram, em março de 2012 e no mesmo mês deste ano, 287 das 321 unidades de internação provisória ou definitiva cadastradas no banco de dados do CNMP. Eles relataram ter encontrado estabelecimentos superlotados em 15 estados, além do Distrito Federal. No Maranhão, segundo os promotores, o total de internos superava em 459% o número de vagas. Entre os piores resultados, na sequência vem Mato Grosso do Sul (354%); Alagoas (325%); Ceará (203%) e Paraíba (202%).

Ainda em relação às unidades de internação, o melhor resultado, em termos percentuais, foi verificado no Piauí, onde 6% das vagas disponíveis estavam ocupadas. O estado tem dois estabelecimentos que, juntos, oferecem 31 vagas, das quais cinco estavam ocupadas. Ainda em termos percentuais, em seguida vem o Rio Grande do Norte (55%); Roraima (56%); Amazonas (63%) e Mato Grosso (83%).

A superlotação também foi verificada em grande parte das 105 unidades de semiliberdade visitadas. Segundo o CNMP, há 122 estabelecimentos desse tipo em funcionamento no país. Em Alagoas, estado onde os promotores constataram uma situação “alarmante”, o sistema de acolhimento tem condições de atender a 15 crianças ou adolescentes e, segundo o relatório, havia 175 em situação de conflito com a lei – um déficit de 1.166%.

O relatório Um Olhar Atento às Unidades de Internação e Semiliberdade para Adolescentes aponta outros problemas constatados nas unidades visitadas, como a falta de separação dos internos por faixas etárias, porte físico e tipos de infração.

O documento também chama a atenção para a distância entre o local onde os jovens cumprem a medida socioeducativa e o lugar onde seus pais ou parentes mais próximos vivem. Em todas as regiões brasileiras, ao menos 20% das unidades abrigam uma maioria de internos que poderia estar em estabelecimentos mais próximos das casas de seus pais. A distância, sugere o relatório, prejudica as ações socioeducativas que dependem do envolvimento familiar.

Embora em todas as regiões o percentual de unidades que responderam dispor de sala de aula tenha superado os 50%, atingindo 83% na Região Sudeste e 72,5% na Região Norte, o relatório aponta a inadequação desses espaços. O resultado é ainda pior quando verificada a existência de espaços para a profissionalização dos internos e um pouco melhor quanto a existência de espaços para a prática de esportes, cultura e lazer.

A conclusão do relatório vai no sentido contrário dos que apontam a necessidade de penas mais rigorosas para os jovens infratores. Para os responsáveis pela publicação, apesar do “desconforto social causado pelo envolvimento de adolescentes em atos de requintada violência, limitar a problemática infracional ao debate sobre a redução da maioridade penal é, de todas e, de longe, a saída mais fácil e menos resolutiva”.

Se formos averiguar melhor quem são estes quase vinte mil adolescentes “ condenados”, amontoados como lixo nestes infectos  depósitos de gente, sem qualquer separação em termos de idade ou tipo de conflito, vamos ver que eles são pobres, frutos de lares desfeitos, habitantes de periferias urbanas, em grande parte negros e pardos. Diversas teses acadêmicas já foram defendidas evidenciando-os mais como vítimas  de uma sociedade decomposta pela pobreza, que internalizam, inclusive, a culpa pela sua condição sem vislumbrar melhor destino, do que criminosos. E apesar do delírio da Boa Sociedade quanto às barbáries praticadas por um ínfimo número deles, clamando pela redução da maioridade penal de todos, eis o perfil de seus “ crimes” :

As informações apontam que, entre os menores nas unidades de internação ou semiliberdade, mais da metade das infrações cometidas foram roubo (38,1% das punições) e tráfico (26,6%). Dos que cumprem medidas socioeducativas, 8,4% cometeram homicídio e 5,6%, furto.

Meninos de 16 a 18 anos predominam entre os menores. As meninas representam apenas 5% do total de infratores.

(http://www.policiaepolitica.com.br/)

 

 

A Pesquisa do CSMP demonstra cabalmente como o Brasil Real está distante do Brasil Legal. Eis o que preconiza a Lei sobre Menor Infrator:

No Brasil, o termo tem origem jurídica, e acabou ganhando amplo uso nos meios de comunicação. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) brasileiro, os crimes praticados por tais menores são chamados de infrações ou “atos infracionais”,1 e as penalidades de “medidas sócio-educativas”.2

O ECA estabelece uma diferenciação entre crianças infratoras – definidas como indivíduos até os 12 anos de idade incompletos3 – e adolescentes infratores, que são aqueles dos 12 aos 18 anos.

Crianças infratoras

As crianças infratoras estão sujeitas a medidas de proteção e não podem ser internadas. Segundo os artigos 101 e 105 do ECA, essas medidas incluem, entre outras:

·        o encaminhamento aos pais;

·        orientação;

·        matrícula e freqüência obrigatórias em escola da rede pública;

·        inclusão em programa comunitário;

·        requisição de tratamento médicopsicológico ou psiquiátrico;

·        inclusão em programa de tratamento de alcoólatras e toxicômanos;

·        abrigo em entidade;

·        colocação em família substituta.

Adolescentes infratores

Os adolescentes infratores estão sujeitos às medidas sócio-educativas listadas no Capítulo IV do ECA, entre as quais está a internação forçada (detenção física) por um período de no máximo 3 (três) anos, conforme artigo 121, § 3º, do referido Estatuto.

Esta limitação em três anos tem sido objeto de controvérsias e debates no campo da opinião públicainclusive entre políticos, e diversas propostas no sentido de se aumentar o tempo máximo de internação para o adolescente infrator já foram apresentadas ou discutidas, geralmente como alternativa para a redução da maioridade penal no Brasil.

Além da internação, outras possíveis medidas sócio-educativas, listadas no artigo 112 do ECA, prevêem:

·        advertência – consiste na repreensão verbal e assinatura de um termo (art.115);

·         

·        obrigação de reparar o dano – caso o adolescente tenha condições financeiras (art.116);

·        prestação de serviços à comunidade – tarefas gratuitas de interesse geral, junto a entidades, hospitais, escolas etc., pelo tempo máximo de seis meses e até oito horas por semana (art.117);

·        liberdade assistida – acompanhamento do infrator por um orientador, por no mínimo seis meses, para supervisionar a promoção social do adolescente e de sua família; sua matrícula, freqüência e aproveitamento escolares; e sua profissionalização e inserção no mercado de trabalho (arts.118 e 119);

·        regime de semi-liberdade – sem prazo fixo, mas com liberação compulsória aos 21 anos, o regime permite a realização de tarefas externas, sem precisar de autorização judicial; são obrigatórias a escolarização e a profissionalização; pode ser usado também como fase de transição entre a medida de internação (regime fechado) e a liberdade completa (art.120).

                                                      (Wikipédia)

Um verdadeiro Estatuto da Juventude não poderia jamais deixar de analisar com profundidade a situação das crianças e adolescentes no Brasil, evidenciando todos os fatores de sua vulnerabilidade e destino. No tocante aos Menores Infratores, urge uma intervenção da sociedade no sentido de impedir a condenação definitiva destes jovens que em mais de 50% reincidirão no crime infestando as estatísticas de violência. Os países desenvolvidos têm desenvolvidos estratégias e instituições que podem ajudar na formulação de novas Diretrizes de Ação para os Menores Infratores. Uma metodologia apropriada para a investigação deste tipo de problema vem sendo recentemente desenvolvida pela Psicologia Social Européia (Tajfel, 1978 e 1981 citado por Paula Inez Gomide )

o mais importante, neste momento, é o desenvolvimento de projetos, a realização de pesquisas com a realidade brasileira a fim de que se possa romper com este imobilismo técnico instalado no interior das Instituições. Diariamente sente-se a dificuldade existente em se trabalhar e pesquisar o assunto, pois não há tradição de pesquisa da área do menor infrator e as questões teóricas, metodológicas e políticas formam uma tríplice aliança que tem um caráter complicador, que dificulta bastante o entendimento do problema. As tentativas de tratamento dos delinqüentes através da psicoterapia, das mais variadas correntes terapêuticas, infelizmente, têm falhado e, inadvertidamente, foi difundida a idéia de que delinqüentes não têm cura, quando, possivelmente, o que está ocorrendo é a utilização do tratamento inadequado &— visto que as mudanças no indivíduo ocorrem por muitos outros fatores, que não a psicoterapia. e está sendo incorporada gradualmente aos nossos modelos de análise. Por fim, os discursos políticos-eleitoreiros sobre a questão do menor encobrem a ineficiência e ineficácia do atendimento, pois produzem um entendimento de que é através de mudanças políticas que as necessidades destas crianças seriam atendidas. Há evidências, no entanto, de que as contribuições teóricas e metodológicas advindas dos países desenvolvidos aliadas à formação política originada aqui mesmo, poderão produzir resultados satisfatórios e eficazes, no sentido de apontarem a saída operacional para o atendimento justo e competente da criança brasileira abandonada.

Paula Inez Cunha Gomide  IN A instituição e a identidade do menor infrator –http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-98931988000100013&script=sci_arttext

As ruas já se locupletaram em multidões exigindo o fim da corrupção, mais recursos para educação e para saúde e melhores serviços públicos. Falta sensibilizá-las, ainda, para a barbárie reinante em nossos presídios e nas unidades de acolhimento de menores infratores, as quais engolem no passo em falso o futuro de milhares de jovens em crítico estado de vulnerabilidade. É difícil, porque isso não nos atinge no cotidiano. Mas é um imperativo de consciência se quisermos construir não apenas uma Nova Política, mas também uma Nova Sociedade. Contudo, enquanto Setembro não vem – alguns até esperam um recrudescimento das manifestações na Semana da Pátria – , parabéns ao Conselho Superior do Ministério Público pela iniciativa da Pesquisa. Pelos Menores Infratores que não falam, não lêm, não escrevem, não sonham e só têm a cobrar , estendo aos seus Conselheiros  sinceros agradecimentos…Como Simone de Beauvoir, eles, os jovens, “ desejam apenas viver nada mais que sem tempos mortos” …

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Aguardem o sete de setembro

O clima de descontentamento nacional deflagrado em junho passado arrefeceu : cansaço dos materiais, visita do Papa, estabilização da inflação, recuperação do susto. Proliferou em análises de todos os matizes ideológicos, sendo de registrar o artigo fortemente crítico aos governos petistas de um dos maiores ícones da esquerda atual: James Petras – “O grande salto para trás” http://resistir.info/petras/petras_23jul13.html . Houve ainda o mea culpa  de alguns políticos, apesar da imensa insensabilidade da “corporação”  e uma tímida avaliação crítica do próprio PT, no poder há dez anos, através da contra-ofensiva o ex-Presidente Lula, que se reflete na reativação dos movimentos  próximos do Governo. Nesta semana realizou-se em São Paulo a Plenária Nacional da Coordenação dos Movimentos Sociais, reunindo lideranças sindicais, comunitárias, indígenas, negras, estudantis, feministas e Sem Terra de 15 Estados. A conferência ocorreu em clima de grande unidade e euforia e franca disposição de marcar posição frente à conjuntura, resultante, segundo consenso geral, do abandono das ruas nos últimos anos em benefício, apenas, da governabilidade. Prometem grandes manifestações na Semana da Pátria com um conjunto de bandeiras que combinam velhas reivindicações trabalhista, como jornada de 40 horas e fim da terceirização com outras bandeiras de caráter mais geral como destinação de 10% dos recursos da União, tanto para Educação como para Saúde, democratização da Mídia e defesa da soberania nacional, contra os leilões da Agência Nacional do Petróleo. Um dos presentes, conclamava, eufórico ao final do Encontro:

“Democratize, democratize, já, democratize a comunicação/ Eu quero ouvir a voz do povo na televisão/ Tem que acabar com o monopólio da informação/ Mas se eu só tenho a cartolina aqui na minha mão/ Eu vou postar no Facebook pra a toda nação”, entoava um jovem paraibano do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), dando força à iniciativa, acompanhado por um coro de manifestantes.

As manifestações do Sete de Setembro não estão, entretanto, restritas aos Movimentos Sociais ditos “ organizados”. Vários grupos que participaram das manifestações espontâneas de Junho e alguns segmentos que a eles se associaram, na tentativa de capacitá-los em seu proveito, também se mobilizam. Aí estão grupos de militares saudosos, organizações políticas de inspiração radical de esquerda e direita, os Black blocs, responsáveis pelos confrontos com forças policiais e  outros. Do ponto de vista do Governo Federal, há uma certa apreensão com a data, mas ainda não alarme. Tanto que continua com sua programação de festejos tradicionais em Brasília , com um jogo amistoso no Mané Garrincha entre as Seleções do Brasil e Austrália. Todo o cuidado, porém, é pouco, diante de uma conjuntura, no mínimo, ainda tensa pela fragilidade da economia e perda substancial de popularidade da Presidente Dilma.   Independentemente das manifestações, porém,  a ocasião é própria para uma reflexão sobre alguns problemas do país. Um deles, desde sempre, a corrupção, a qual não estará, certamente, na pauta das manifestações de grupos simpáticos ao Governo.

O último escândalo de uso da máquina pública foi denunciado por uma grande empresa – SIEMENS – , já condenada na Alemanha por crime de corrupção de agentes públicos em vários países, dentre eles o Brasil, entre os anos 2006/2008, afetando governantes de São Paulo (PSDB), Brasília (DEM) e o RS . Esta multinacional fez um conluio com outras empresas fornecedores de equipamentos para o metrô e sistemas elétricos, de forma a impedir a entrada de concorrentes, com a bênção remunerada de membros dos Governos envolvidos. Os números das propinas são escandalosos:milhões de euros. Como sempre, os supostos responsáveis dizem que “ nada sabiam…”

Três das empresas, até agora, citadas no novo escândalo que aos poucos vai ganhando destaque na imprensa, estão envolvidas na maior fraude contra o patrimonio público no Rio Grande do Sul.

Siemens, Alstom e ABB estão arroladas entre os réus no processo da CEEE, que corre em segredo de Justiça há 17 anos e ainda não saiu da primeira instância.

O processo, originado de uma ação civil pública, tem 11 empresas e 13 pessoas físicas arroladas como réus.  O principal acusado é Lindomar Rigotto, que foi assassinado em 1999. O valor do desvio, pela fraude no edital e nos contratos para construção de 11 subestações de energia, chegaria em valores atualizados a R$ 8OO milhões

Mega escândalo tem ramificações no RS

http://www.jornalja.com.br/2013/07/21/esquema-para-fraudar-licitacoes-tem-ramificacoes-no-rs/

As raízes desta ramificação estão na década de 90, tendo, inclusive gerado uma CPI na Assembléia Legislativa do RS sobre malfeitos na CEEE, envolvendo mais de R$ 800 milhões. Meu amigo Eduardo Dutra Aydos, renomado Cientista Político, suscita em seu blog a instigante pergunta:

Existe ligação entre as empresas envolvidas no propinoduto paulista que está sendo investigado pelo CADE sob acôrdo de leniência e as denúncias da CPI DA CEEE de 1995, e a correspondente Ação Civil Pública que tramita há 17 anos sob segredo de (in)justiça no Fôro da Comarca de Porto Alegre?
A resposta pode estar tramitando, também “sigilosamente” e sob desconhecidas condições de “leniência” nas investigações do CADE, e talvez possa ser encontrada na fonte confiavel do Poder Judiciário… da Alemanha, onde a Siemens já foi condenada pela corrupção de funcionários públicos em vários países do mundo, e tanto quanto se especula também do Brasil.
Tanto quanto alcança o conhecimento deste cidadão, no entanto, nenhuma autoridade pública do Rio Grande do Sul foi capaz de se coçar para investigar essa possível e notoriamente provável conexão criminosa.

Falta um mês para o 7 de setembro. Até, como diz nosso Anonymous Gourmet: VOLTAREMOS! Poesia, como diz sempre Adriana Calcanhoto, não tem assunto, mas abunda na conjuntura nacional…

 

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COMPREENDAMOS A REALIDADE. OU NÃO.

Paulo Timm – Torres, agosto 02 – copyleft

“As 300 maiores fortunas do planeta acumulam mais riqueza que os mais de 3 bilhões de pobres que existem no mundo e representam 99% da população.”

( Jason Hickel, da  London School,  assessor do movimento The Rules, que luta contra a desigualdade)

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Compreendamos a realidade. Afinal, trata-se da vida como ela é. Duas grandes observações. A primeira de Maquiavel, uma máxima ; a segunda, de Nelson Rodrigues, mera alegoria. Juntas, uma verdadeira estratégia de sobrevivência, em qualquer lugar, em qualquer tempo.  “ A guerra de todos contra todos”… Os séculos XVI e XVII, aliás, são pródigos em máximas que acabariam moldando os tempos vindouros. Tudo dissecado pelo bisturi da modernidade, quando tudo se volvió positivo: A Ciência Positiva, desde Newton; a Economia Positiva, desde Marshall; o Direito Positivo, desde Kelsen; a Sociologia Positiva, desde Comte e Durkheim; até a Filosofia, desde sempre especulativa, agora tem uma vertente Positiva, cevada no profícuo leito do Círculo de Viena . A soberania absolutista do fato ,  sob o imperativo iluminista do binômio razão + liberdade.  Esta, supostamente isenta de qualquer poder alheio que lhe tolha os movimentos, aquela, a serviço da verdade.

Tudo a serviço da destruição do planeta, da humanidade…Pouco importa. O que importa são os resultados parciais: O PIB, o desejo saciado, as próximas eleições. Nisso o Mundo Moderno é ótimo. Já chegamos ao Novo Continente e estamos tocando as estrelas…Em breve a Aldeia Global será celestial. E mesmo que não cheguemos lá, nossos artefatos lá chegarão.

Tendo me adaptar à esta realidade da vida mas jamais consegui. Nem consigo. Serei pré-moderno ou pós…? Não sei. Só sei que a despeito de tudo, tal como o Poeta, tenho em mim os maiores sonhos do mundo. Sou um sonhador. Até meu socialismo, longe de ser criterioso ou científico, como pretendem os modernos, é utópico. Sonho com um Estado sem crimes a serviço do bem comum; com um sistema econômico perfeitamente produtivo e redistributivo sobre as pessoas e a natureza; com uma sociedade socialmente equilibrada, na qual todos tenham acesso não só aos bens essenciais ao corpo, mas, sobretudo essenciais ao espírito;  sonho com a beleza, com o amor e com a Poesia, embalados em suaves acordes bachianos; sonho, enfim, com a possibilidade de que a razão e a liberdade se combinem para a salvação do Homem.

♫ ♪♫ Sonho meu…! Sonho Meu…! ♫ ♪♫.

A dura realidade é maior do que meus sonhos. Ou do que a canção. Governos praticam hediondos crimes, a economia do mundo caminha para a concentração da riqueza nas mãos de meia dúzia, que consomem todas as riquezas do planeta, a sociedade está cada vez mais desequilibrada, o mundo está em visível desencanto. Daí, talvez, a euforia com um Papa tão conservador e ao mesmo tempo tão simpático, cuja principal característica é falar o óbvio. Mas é precisamente do óbvio que estamos precisando.

O *Le-Monde* desta quarta (8/ago-2012) aborda a mais escandalosa das desigualdades.

– 4/5 do consumo global (76,6%) é realizado pelos dois décimos mais ricos;

– o décimo mais rico é responsável por quase 3/5 do consumo (59%).

– as taxas de crescimento dos mercados de luxo sempre superam as demais,
tanto em fases de expansão, quanto nas de retração global.

Assim é, pois… Em plena crise as fortunas aumentam (correiodobrasil.com.br/) , o mercado de luxo dispara (Worldwide Luxury Markets Monitor –
Fondazione Altagamma: http://www.altagamma.it ), os bancos, cuja principal mercadoria é informação, apresentam lucros fabulosos (www.cartamaior.com.br | 01/08/2013 ), os brasileiros mais aquinhoados vão às compras no exterior e torram em alguns dias os dólares  que a natureza levou milhões de anos para produzir.

Compreendamos a realidade. Afinal, trata-se da vida como ela é. Guerra de todos contra todos

Será mesmo…?

Acho que é mais a do 1% contra os 99%.

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FORA CABRAL!

Paulo Timm – copyleft, julho 26 -Torres

Por dever de consciência, devo dizer que jamais gostei do PMDB. Aliás, nem do MDB, que lhe antecedeu, antes da Reforma Partidária de 1979 que extinguiu os dois Partidos existentes no regime militar e abriu as comportas para a reorganização ideológica e política no país. O MDB nasceu maculado pela unção do regime, depois de fazer a limpa no universo político anterior ao Golpe de 64 com cassações, prisões e exílio de grandes líderes. Aqui no Rio Grande do Sul, onde vivo, chamavam-se os ingressos no MDB  de  “ bigorrilhos”. Sinal de desprezo. O que de melhor havia naquela década posterior ao Golpe entregou-se de corpo e alma à resistência extra parlamentar. O Congresso era apenas uma fachada atrás da qual se escondia o autoritarismo desenfreado. É de se registrar, entretanto, o imenso papel que o MDB, sob a batuta de Ulysses Guimarães, viria a ter depois do fracasso da resistência armada e da tentativa, sustentada por Brizola do VOTO NULO nas eleições de 1970. E mesmo depois, quando o MDB se converteu em PMDB, em 1980, no encaminhamento da redemocratização. Mas é sempre bom que se diga, contrariando o discurso deste Partido, que não foi o MDB-PMDB que lideraram a luta contra a ditadura. A verdadeira luta contra a ditadura foi travada, depois do ocaso da luta armada, por uma ampla e generalizada resistência de caráter eminentemente cultural. Como desprezar o papel do PASQUIM, do Teatro, da Musica Popular na manutenção de um clima de isolamento do regime militar? Como desconhecer o papel da cátedra nas Universidades e Escolas, bem como do púlpito de religiosos como Leonardo Boff, ao longo de todo o território nacional? Como esquecer o papel de instituições como OAB, CNBB e SPBC neste processo? Rigorosamente, aí estava a resistência, que desembocava nos momentos eleitorais como vitórias de candidatos do Partido da Oposição. O MDB-PMDB , nas urnas, era uma espécie de Alice no País das Maravilhas na colheita  primaveril de flores. Consagraram-se com isto, ocupando importantes funções no sistema político. A imagem que passavam à sociedade, distante das lutas, era de que aí estavam “os heróis”. O MDB-PMDB teve, portanto, inequívocos méritos na redemocratização. Mas além do pecado da bênção do regime, na sua criação, grande parte de seus maiores líderes, padeciam de uma espécie  de pecado original. Eles, começando pelo próprio Ulysses , haviam participado do Golpe contra o Presidente Jango, apressando-se em votar no Chefe do Movimento Militar, General Castelo Branco, para lhe completar o mandato, desde que declarado “ vago “ o cargo de Presidente da República. Falo isto, a título de aviso leitores, para que me leiam com o cuidado de saberem que, ao não simpatizar com o MDB-PMDB, carrego nas tintas ao criticá-lo e seus líderes. Aliás, na reorganização partidária de 1979, escrevi várias análises críticas sobre a insistência deste líderes se eternizarem como falsos brilhantes. Estão no meu livro “BRASILIA – O DIREITO À ESPERANÇA”  – BsB – 1990. Fui fundador do PDT, com Brizola e torci de longe, para que o PT desse certo.

Volto ao tema dos Partidos, hoje, porque critico veementemente a tolerância com que forças políticas pós-redemocratização vêem tratando o PMDB. Mercê do monopólio que deteve durante décadas no mecanismo representativo e fortalecido por um discurso que lhe fazia- e , de certa maneira, ainda faz –  merecedor da confiança dos eleitores, este Partido é o maior Partido em termos de Prefeituras no país e detém vários Governos, dentre eles o do Rio de Janeiro. Mas nem este Partido é “ puro “ , no sentido de expressar uma verdadeira liderança na luta contra o regime militar, nem se procurou se purificar na redemocratização. Pelo contrário, pela sua “ amplitude”, foi invadido por defensores do antigo regime, acabando por se converter num valhacouto de oportunistas. Gente sem princípios, nem ideais republicanos sólidos. Interessados, apenas, em aproveitar o potencial eleitoral do Partido para realizar projetos pessoais. Hoje, ao longo do país, com raras exceções, dentre as quais o RS, o PMDB é controlado por caciques que, inclusive, ocupam siglas menores com seus apaniguados, para evitar que cresçam, apareçam e lhe contestem. O caciquismo, no rastro da Lei de Ferro que se conhece no funcionamento dos Partidos, se completa com um novo tipo de clientelismo, agora de face urbana, reeditando, nesse binômio do velho coronelismotão bem analisado por VITOR NUNES LEAL, em “ Coronelismo, Enxada e Voto” . Não se trata, sequer, de grupos economicamente dominantes que , deste jeito, manipulam a Política. Ao contrário, são senhores decadentes ou ambiciosos emergentes que se usam da Política e do Estado para construir impérios econômicos. E se eternizam. Nada mais parecido com isto do que Renan Calheiros. Mas o modelo se repete. E são eles que controlam as instituições e a dinâmica política do país. Os “Felicianos” são seus aprendizes.   E é principalmente contra eles e seus métodos que se ergue o clamor das ruas. Mas, como diz o velho ditado: “ Dize-me com quem andas…” – o PT vai pagar o preço. Porque a ele se consorciou e acabou se envolvendo com os mesmos métodos. Não tem como não pagar a conta. Prova-o a queda na popularidade de Dilma, em menos de dois meses, de 77% para 31%. E vai piorar. Até porque, aparentemente, não tem ela os meios – ou a têmpera – para mudar a situação deslocando o eixo do Governo de uma suposta Governabilidade para a Credibilidade. É refém, na verdade, da ilusão – a meu juízo, já perdida – da vitória eleitoral em 2014.

Tudo isto, a propósito do Governador S.Cabral no Rio de Janeiro. Voltamos, com ele, ao conhecido chaguismo, expressão política que caracterizava o estilo de fazer política do velho e já falecido Governador Chagas Freitas, supostamente de Oposição ao regime, mas eivado de vícios. Brizola derrotou o chaguismo em 1982, mas o estilo desta praga  se perpetua no Rio e hoje emerge exuberante com o atual Governador: Manipulação coronelística – clientelismo + caciquismo , conluio com poderosos grupos econômicos, incompetência, trapalhadas policialescas  e, agora, o  fiasco do Congresso Mundial da Juventude Católica. Que outra palavra para explicar a exposição internacional do Brasil diante dos fatos que acompanham a presença do Papa na cidade? Como diz minha amiga Jornalista Beatriz Bissio:

Beatriz Bissio -FB
As atividades da JMJ que seriam realizadas em Guaratiba foram transferidas pela Prefeitura para a Paria de Copacabana. As chuvas, que não foram levadas em conta ao fazer a opção pelo local, apesar dos dados disponíveis de anos anteriores, teriam provocado a decisão. A infraestrura em Guaratiba estava quase pronta…Muitos perdem com a transferência, sobretudo os pequenos comerciantes locais, que se preparavam para um “extra” com os peregrinos, mas não perde nada o grande empresário de ónibus Jacob Barata, dono de um dos dois terrenos (fazendas, na verdade) que foram terraplanados, dragados e preparados para as atividades do Papa em Guaratiba: ele vai aproveitar a terraplanagem e demais investimentos feitos para a JMJ – sem ele investir um real – para construir um condomínio! Aló Ministério Público!! Aló povo carioca!!! Não seria essa o gota que colmou o copo para iniciar uma campanha de assinaturas exigindo a abertura de um inquérito?

 

Tem ela razão: Não dá mais! Essa foi a gota d´água. Agora é ganhar as ruas, não arrefecer e levar, pelas manifestações, à renúncia de Cabral. E com ele, à desmoralização de seu Partido, o PMDB, retirando-o da vida pública do país para que possamos arejá-la com novos atores e novos procedimentos.

O Rio de Janeiro é a caixa de ressonância do país. É onde seu coração pulsa mais forte, desde as manifestações liberais de meados do século XIX,  passando pela campanha abolicionista que desembocou na Proclamação da República e na defesa dos valores republicanos do florianismo e do tenentismo. Foi o Rio que consagrou Vargas. Foi o Rio que elegeu Prestes Senador Constituinte comunista em 1945, foi o Rio que elegeu Brizola o deputado mais votado, até então, em 1962. Foi o Rio que compareceu ao Comício da Central do Brasil em 1964 na defesa das Reformas de Base e foi seu povo que colocou cem mil jovens em 1968 dando um ultimato ao regime militar. Foi o Rio que impressionou o mundo com 300 mil pessoas, pacificamente, pelas grandes avenidas da cidade, abrindo passagem para um imperiosa Reforma Política no país. E será o Rio agora que, em uníssono, grita: FORA CABRAL!!!

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Dia 25 de julho 189 anos da imigração alemã.

Paulo Timm – Economista, Prof. Universidade de Brasilia – www.paulotimm.com.br – Especial para A FOLHA, Torres – copyleft com exceção de Torres-RS.

Há 188 anos, no dia 25 de julho de 1824, 39  alemães chegavam  à Feitoria do Linho Cânhamo, Rio Grande do Sul,  trazidos pelo veleiro “Anne Louise” , que zarpou de Hamburgo,  dando início à aventura da imigração teuta no Rio Grande do Sul. Logo mais, novas levas de imigrantes foram chegando: Em 1824 chegaram em São Leopoldo 126 imigrantes; em 1825 mais 909; em 1826 ,828; em 1827 , 1.088; em 1828 , 99; em 1829, 1.689 e em 1830 chegaram 117, num total de 4.830 colonos. Parte deles veio para a região que daria origem ao município de Torres, ainda pertencente a Santo Antonio da Patrulha, dividindo-se os evangélicos para Três Forquilhas e os católicos para São Pedro de Alcântara. Aqui chegaram no dia 17 de novembro de 1826 .Depois houve uma breve interrupção, devido à Revolução Farroupilha (1835-1845) registrando-se, porém, entre 1849 e 1853  entrada de mais 164 migrantes. Em meados do século  sobreveio um novo ciclo na chegada dos alemães: os brummers.

Os brummer vieram recompor o ritmo imigratório interrompido, e compensá-lo culturalmente pela alta qualidade dos mesmos.
Não só mais braços, como sobretudo cérebros e técnicos, até então em pequeno número. Os últimos lançaram os fundamentos da industrialização gaúcha.

No final do século XIX o número de alemães no Rio Grande e Santa Catarina já somavam cerca de 20.000.

O veleiro  Anna Louise foi o  3º embarque realizado sob às ordens do Cel. Schaefer, oficial austríaco  a serviço da Princesa Leopoldina, esposa de D.Pedro I e encarregado de recrutar soldados e colonos para o novo Império, recém independente.  Com efeito, além de 200 soldados, que ficaram no Rio de Janeiro,  vieram também 126 colonos. Seus nomes ficaram registrados  e divulgados na obra de Telmo Lauro  Muller : “UM MARCO NA HISTÓRIA GAÚCHA” . Tenho eu a honra de descender de um deles,  Heinrich Timm e Margarida Ana Timm, cujos parentes ainda se encontram no mesmo lugar, em São Leopoldo, segundo estudo genealógico feito por Maria de Lourdes Timm – http://anossafamilia.com/source.php?sid=S23&ged=anossafamilia.ged .

A viagem em veleiro, naquela época,   era  demorada – de 90 a 120 dias – e penosa, com muitas mortes pelo caminho:

Fala-se em imigração alemã, mas, na verdade,  não havia uma Alemanha unificada. Naquela região pululavam diversos reinos e ducados. Toda a Europa, desde as guerras napoleônicas até as revoluções de 1848, vinham sendo   varridas por grandes mobilizações e tensões.. A proletarização de cidades, inchadas  pela era industrial, inflamava o discurso iluminista transbordando-o para o apelo crescentemente social.

Era nestas cidades, Hamburgo dentre elas, coalhadas de soldados desmobilizados, de camponeses arrancados de suas terras e de desempregados famintos que os panfletos brasileiros  oferecendo um paraíso nos trópicos ecoava. Oferecia-se-lhes passagem, terras e algum apoio financeiro.

Da miragem do paraíso nos trópicos à dura realidade enfrentada pelos migrantes foi um pulo. Ela escondia as dificuldades da longa viagem, na qual muitos morriam, e do assentamento numa região desprovida de qualquer vestígio de civilização.  Os imigrantes que chegaram em 1829 e 1830 nada receberam, pois as verbas haviam sido suspensas no orçamento do governo imperial.

Não obstante, este pequeno grupo  venceu os obstáculos e se impôs como uma nova realidade no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Tanto que se pode dizer que a história destes Estados  se divide em dois períodos, antes e depois de 1824… Aleluia!!!

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COM DOMINGUINHOS VAI-SE MAIS UM TORRÃO DO FÉRTIL SOLO DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

Paulo Timm    – Torres julho 24          – copyleft

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 No anúncio da morte de Dominguinhos, ontem, grande músico e poeta, uma pausa para reflexão sobre a Filosofia Tupiniquim.

A Harmonia, para os antigos gregos, encontrava na música sua maior expressão  e se convertia numa deusa, filha de Ares e Afrodite. Evocava o amor.     E como o amor é a virtude  – por excelência – do homem,  não é por acaso que a música lhe seja companheira. A música flui como uma linguagem comum da espécie humana e para muitos será ela a via derradeira do entendimento humano.  Sabe-se, hoje, que cânticos coletivos celebravam as inscrições rupestres nas cavernas conferindo-lhes, neste ato,  sublimação e transcendência. O humano…

Nietzche intuiu isto ao condenar o racionalismo socrático. Ele  conferia um papel extraordinário às paixões e  via na  música a percepção simbólica dionisíaca,  capaz de conferir à imagem alegórica o seu alcance mais alto:  a força criadora do Homem.

Para Kant, antes dele, a importância desta criatividade era vital  à conquista  de uma noção apropriada do bem.

Música, amor e ética são, pois, todos, ingredientes fundamentais da condição humana, na construção  de um mundo melhor,  numa era de tanto desencanto e destruição.

O Brasil não tem uma mitologia tão inspiradora quanto à antiga Grécia. Nem filósofos universalmente reconhecidos que tratem da Harmonia e da Música. Mas vem cunhando na música sua mensagem existencial, aí plasmando  sua própria alma. Nela constrói sua devoção, sua denúncia ética, suas emoções diante do mundo. É na música que o brasileiro dá conta  e razão do seu tempo. E o faz com engenho,  encanto e arte. A música é  a nossa filosofia…Como em “Feitio de Oração” , de Noel Rosa (http://www.youtube.com/watch?v=N22KjmXhKag) :

“♫ ♪♫ Quem acha/ Vive se perdendo.. ♫ ♪♫.”

 Somos, na canção, a saudade, a perdição e a esperança, o reencontro. Sentimentos à mostra, chaga exposta, grito de dor e esperança, como na memorável “ Lata d´água na cabeça” interpretada por Marlene, em 1952: http://www.youtube.com/watch?v=0DVO78vsuiA

                               “♫ ♪♫ Lata d ´ água na cabeça – Lá vai Maria ! Lá vai Maira…! ♫ ♪♫”

Grito de dor, sem ressentimentos. Lamento, sim , entrelaçado com  a doçura do andar, o prazer de viver: pomar, amor, cantar.

Hoje, essa música-filosofia-encanto tem um momento de perda irreparável com a morte de Dominguinhos. Ele, com Gonzagão, romperam os punhos de renda da corte elitista e se fizeram andar.

Tudo começou no período colonial, com a internalização de modinhas e trovas portuguesas, ainda cantadas no interior de Minas, Goiás e Nordeste. Os jesuítas trariam a sofisticação dos instrumentos, que tanto encantavam, com escalas e acordes desconhecidos, os indígenas, principalmente os aldeados das Missões. Mas não tínhamos, nesta  época, nem no Império, que se seguiu à Independência,  uma canção brasileira genuína. Nem uma filosofia…

Foi só há um século, lá pelos anos 20, que viria, do  norte um sopro inspirador, com lances de inusitado nativismo. Foi quando apareceram  os TURUNAS DA MAURICÉIA, baluartes da música brasileira, que naquela década  se inaugura , no ritmo da Semana de Arte Moderna de 22.  Diz o Luiz Nassif, mix de jornalista e músico,  em antológica crônica:

“É dos idos de 1927 o clássico “SUSSUARANA”, de  HEKEL TAVARES e  LUIZ PEIXOTO. E dele , também, a mais conhecida GUACIRA   SUSSUARANA (“faz três semanas/ numa festa de Santana/ Que Zezé Sussuarana me chamou pra conversar’’). HEKEL é também autor de “GUACIRA”, com letra de JORACI CAMARGO ( GUACIRA(“Adeus Guacira/ meu pedacinho de terra’’).

Sua  música mais conhecida era o “Certa vez de montaria/ eu desci o Paraná / o caboclo que remava/ não parava de falar…”. Mas tinha uma ufanista, que meu tio LÉO cantava com paixão: ‘’ó meu Brasil tão grande e amado/ é meu país idolatrado…’’.

Do grupo fazia parte também  HENRIQUE VOGELER autor de um dos clássicos definitivos do século, “Ai ioiô’’, letras de LUIZ PEIXOTO (“ ai ioiô, eu nasci pra sofrer/ fui olhar pra você/ meus oinhos fecho.u’’) .

Do sul veio  um  paraense, VALDEMAR HENRIQUE , que lá pelos 58 , destacar-se-ia com a composição de  “Morte e Vida Severina”.

 Ma,s ainda no final dos anos loucos – década de 1920 – ,  quando emergia o cambalache século XX – , nos embalávamos em  terno, embora matreiro,   romantismo. Começava a germinar  o samba, que seria nossa matrix filosofal. Enquanto nos Estados Unidos o Charleston dominava os salões  e se projetava freneticamenbte pela Europa como inspiração liberadora de corpos e espíritos, mostrando mulheres   com  cabelos curtos e vestidos escorridos em  franjas sobre os joelhos, nós subíamos o morro carioca.  DONGA e SINHÔ e, ainda, NOEL, olham pra lá, com admiração e espanto . Sem medo , sem preconceitos, até com certa de provocação .  “Palpite Infeliz” , de Noel,  desafia Wilson Martins :

                                   ♫ ♪♫  Quem é Você/ que não sabe o que diz? ♫ ♪♫ 

CARTOLA cria, então,  a mais s bela entre todas as canções do século  ,  “Meu coração” :–

♫ ♪♫ Bate outra vez/Com esperanças o meu coração/Pois já vai terminando o verão, enfim. Desço ao jardim/ Na certeza que devo chorar/ Pois bem sei que não queres voltar/Para mim/Queixo-me às rosas/ Mas que bobagem as rosas não falam/Simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti… ♫ ♪♫

E o choro, de PIXINGUINHA,  emana do clássico para se derramar popularmente em escala nacional,   impressionando pela vitalidade musical, ainda contagiante,  no seu  renascimento a partir dos anos 1980  em várias cidades do país,  principal  e paradoxalmente em Brasília, que viria a se notabilizar, a partir desta data além da artes plásticas, pela música e poesia.

Luiz Nassif destaca, na crônica citada:

Entre o erudito e o popular,  nos bons tempos, chama atenção um  carioca-mineiro:  JOUBERT DE CARVALHO (1900- 1977), autor de uma das mais conhecidas músicas em todos o Brasil:“MARINGÁ” (“foi numa leva/ que a cabocla Maringá…’’), de uma marchinha inesquecível (“Taí, eu fiz tudo Pra você gostar de mim”), de um cateretê maravilhoso (‘’de papo pro ar’’).

Todos eles foram pioneiros de gêneros que nos distinguiriam como cultura musical, coincidindo com a publicação das três obras clássicas  que assinalam o redescobrimento do Brasil, logo depois da Revolução de 1930. Nascia o Brasil Moderno. GILBERTO FREIRE,  em “Casa Grande e  Senzala” , 1933),  redime o mulato e os trópicos; CAIO PRADO JR , em “ História Econômica do Brasil” , assinala a persistência histórica da matriz colonial ; SERGIO BURQUE DE HOLANDA, em “ Raízes do Brasil”, 1936 ,  traz à tona os aspectos centrais da história da  cultura brasileira.

Nesta fase inaugura-se a indústria fonográfica e  são gravados os primeiros discos de música “caipira”, com Zé Barreirinho e Tião Mulato, Tonico e Tinoco,  aos quais se somaria outros plasmadores da alma rural  e ribeirinha do país , como, por exemplo  F.Zani, autor de “A Chalana”:

♫ ♪♫ La vai a chalana/Bem longe se vai Seguindo o remando  do Rio Paraguay/A chalana sem querer,/ tu aumentas minha dor/Nestas  águas tão serenas /promessa de minha dor/Vai levar o meu amor/ E assim ela  se foi magoada/Nem de mim se despediu /A chalana vai sumindo/La na curva do Rio/E ela vai magoada/Eu pensei que tem razão/Fui  ingrato, Eu feri /o seu pobre coração ♫ ♪♫

 É um período áureo dos primórdios da música popular brasileira e que encontrarão eco nos programas de radio, recém inaugurado.

Rádio Nacional do Rio de Janeiro é uma emissora de rádio brasileira gerida pela Empresa Brasil de Comunicação.

A emissora foi a primeira a ter alcance em praticamente todo o território do Brasil. Tinha, então, o prefixo PRE-8, com o qual também era identificada pelos ouvintes.

Quando foi criada, em 12 de setembro de 1936, a transmissão teve início às 21 horas, com a voz de Celso Guimarães, que anunciou: “Alô, alô Brasil! Aqui fala a Rádio Nacional do Rio de Janeiro!”. Depois, vieram os acordes de “Luar do Sertão” e uma bênção do Cardeal da cidade.1

Tornou-se um marco na história do rádio brasileiro.

(…)

Dos anos 1930 até o final dos anos 1950, o rádio possuía um enorme “glamour” no Brasil. Ser artista ou cantor de rádio era um desejo acalentado por milhares de pessoas, especialmente os jovens. Pertencer aos “cast” de uma grande emissora como a Rádio Nacional era suficiente para que o artista conseguisse fazer sucesso em todo o país e obtivesse grande destaque e prestígio.

(Wikipédia)

A música popular tinha , então, um centro, onde imperava o samba  – e logo depois o samba-canção- , no Rio de Janeiro, um epicentro sertanejo em Piracicaba, São Paulo, ambos com projeções nacionais, e diversas contribuições regionais ainda  balcanizadas.

Foi aí que despontou, em 1940,  no centro do país,  LUIZ GONZAGA, com o baião nordestino , onde se encontrou com outro grupo regional extremamente talentoso, os IRMÃOS BERTUSSI, do Rio Grande do Sul. Ambos deram imensa contribuição ao enriquecimento das raízes da nossa música, deles germinando várias gerações de talentos regionais de sucesso. Gozagão e os Bertussi tinham , curiosamente, no Acordeón, seu instrumento musical de excelência, no qual eram verdadeiros virtuoses.  E deram à complexidade social do país, que se acentuava na urbanização ,  o tempero musical  indispensável à cimentação cultural do país.  Estávamos prontos para adentrar  os Anos Dourados da década de 50, que nos traria outro e soberano  gênero, a Bossa Nova. Mas nada se eclipsou ao longo das décadas seguintes.

Luiz Gonzaga foi mais feliz do que os Irmãos Bertussi na confirmação do gênero nordestino no amplexo musical em formação.

A música gaúcha refluiu para o pampa, onde viria a florescer nos mananciais folclóricos das Califórnias nativas, muito embora tenha oferecido intérpretes excepcionais como o Borghetti e Yamandu Costa. Diversifica-se, tal como a música nordestina e caipira, em muitos gêneros, dentre os quais o vaneirão, de alguma repercussão nacional. Em outros casos, alia-se  à fértil tradição musical da Grande Pampa, sobre terras paraguaias, argentinas e uruguaias, na qual se destaca, o cancioneiro Payador, cujo dia, celebrou-se, curiosamente, ontem:

Dia 23 de julho -DIA DEL PAYADOR.
Se lo define academicamente como cantor repentista. Algunos historiadores creen que su nombre deriva del “payo”, la denominación con la que se conoce a los campesinos españoles de donde se cree proviene esta particular expresión artistica. Se considera también que su origen puntual pudo surgir a partir de ls Trovadores de Provenza, quienes gustaban entablar polémicas en versos . En España, los juglares, fueron los primeros cronistas de la historia, a veces magnificando hechos reales originados, generalmente gestas heróicas de esos tiempos. De alli se cree que proviene y que mas tarde llegó a America donde adquirió la formas propias de nuestra música
Este género es muy popular en toda la America de habla hispana , especialmente en Uruguay, Argentina, Chile y Cuba, pero tambíen se conocen payadores de Brasil que adiheren a las formas artísticas de sus pares de los paises mencionados
El payador posee una virtud instranferible e innata y suele ser dueño de reflexiones casi filosóficas en el breve instante en que su pensamiento se las dicta.
Se conoce como Payada el dialogo repentista -sin nada previamente escrito-, de dos o más personas. Estas tambíen pueden ser de contrapunto: realizandose preguntas sobre temas diversos entre los contrincantes de los cuales uno resulta ganador.
En Argentina y Uruguay se celebra el 23 de julio como Dia del Payador por haberse realizado en esa fecha,en Montevideo la payada entre Juan Nava y Gabino Ezeiza en el año 1884.
Aquí, Santos Vega, fue el mas legendario de todos los payadores. Hijo de padres andaluces que llegaron de Cádiz en 1770. Transitó la llanura pampeana improvisando y midiendose con los créditos de cada lugar. Con el tiempo se convirtió en el prototipo del payador, luego la fantasia literaria le dio a su existencia un tinte mitológico. Se cuenta que perdió su ultima payada con Gualberto Godoy, a quien por ser autor de tal proéza, se indicó como una personificación de El Diablo. Hilario Ascasubi, Rafael Obligado y Bartolomé Mitre realizaron obras literarias con este personaje. Lo cierto fue que Godoy tuvo exiastencia real, había nacido en Mendoza,fue polí tico y periodista de tendencia unitaria y se desempeño como enviado diplomatico a Chile.
Varios ritmos son empleados para realizar las payadas: La sextina o sextilla apareada, cuarteta, valsesitos criollos, alejandrino, cifra, estilo, cielito, vidalita, habanera, pero la forma más usada es la décima octosilábica
.

(Betty Zapata ♫ ♪♫ Aquí me pongo a cantar ♫ Sentada frente a mi ventana ♫ con el fresquete que hace ♫ no tengo ganas de hacer nadaaaa ♫ ♪ ♫)

Luiz Gonzaga, entretanto, fez-se nacional, radicalizando o próprio estilo. Trouxe o Nordeste para o Centro-Sul e impôs-se como gênero, deixando vasta descendência.

Dominguinhos foi o melhor  fruto do êxito de Luiz Gonzaga, de quem recebeu, muito jovem a primeira sanfona. Eles celebraram e consagraram a sanfona na cultura brasileira, hoje respeitada pelos críticos mais exigentes , como Ricardo Cravo Albin neste depoimento :http://institutocravoalbin.com.br/artigos/a-sanfona-e-o-brasil/

Ontem ele deixou este mundo e foi celebrar com seu velho parceiro o forró celestial. Conquistou o povão, a crítica e ainda um Prêmio Internacional : O Grammy Latino, dedicado ao álbum ‘Chegando de mansinho’ em 2002.

O músico, cantor e compositor Dominguinhos, nome artístico de José Domingos de Morais, nasceu em Garanhuns, Pernambuco, em 12 de fevereiro de 1941. Exímio sanfoneiro, teve como mestres nomes como Luiz Gonzaga e Orlando Silveira. Tem em sua formação musical influências de baião, bossa nova, choro, forró, xote, jazz. Com maestria, ele seguiu os ensinamentos de Luiz Gonzaga e inovou também com a sanfona, mas sem abandonar o baião de seu padrinho. O trabalho de Dominguinhos é mais uma prova de que pouco importa os sotaques ou origens quando trata de fazer música. Seu primeiro disco gravado foi Fim de Festa (1964). E ao longo desses anos, Dominguinhos tem uma extensa discografia (ver abaixo). Entre seus trabalhos, já gravou com a cantora Elba Ramalho. Em 2012 lança pela primeira vez em 50 anos de carreira um disco todo gravado ao vivo. A gravação aconteceu em dois espetáculos que lotaram o concorrido teatro Sesc Pompéia, na capital paulista. O CD Dominguinhos ao Vivo traz a excelência do forró nacional em 25 músicas armazenadas em 16 faixas, contando inclusive com orquestra, trompete, trombone e violino. Em 2002, Dominguinhos foi vencedor do Grammy Latino com o CD Chegando de Mansinho. Após cinco anos sem lançar um trabalho solo, ele voltou em 2006 a gravar pela Eldorado na qual Conterrâneos 2006, agraciado no Prêmio TIM (2007) na categoria Melhor Cantor Regional. Em 2008, foi o grande homenageado do Prêmio Tim de Música Brasileira. Em 2010, foi o vencedor do Prêmio Shell de Música 2010. Em 2012 foi o vencedor do Grammy Latino na categoria Raízes Brasileiras com o disco Iluminado.
Site Oficial: 
http://www.dominguinhos.art.br/v2/
Foto: Agência Brasil

Adeus, Dominguinhos! Já com saudade no coração e uma lágrima contida no canto do olho…Contigo se vai mais um capítulo de nossa fértil filosofia tupiniquim, que não erra em falsa premissa, porque direta ao enredo; nem pelo excesso de razões, que substitui pela só emoção; nem muito menos pela falta de jeito, já que exímia dançarina.

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DEMOCRATIZAÇÃO DA MÍDIA

Paulo Timm – Torres julho,22 – copyleft

“Além do problema do medo, que eu chamo de Síndrome de Jango, há também uma relação de amor e ódio entre nossos políticos – incluindo aí sindicalistas também – e a mídia tradicional. Odeia (os grandes veículos), mas quer aparecer (neles). E há também uma relação de subalternidade. Acham que esses comentaristas da Rede Globo, por exemplo, são pessoas importantes que, apesar de tudo o que falam, merecem grande respeito do governante. Odeiam quando são atacados, mas bajulam porque acham que é importante ter o respaldo desses meios.”

Laurindo Leal Filho in “Na prática, democratização da mídia já está ocorrendo no Brasil”- www.sul21.com.br

                                                                                   ***

 

Comecei a manhã brigando com meu conterrâneo, Dr. Franklin Cunha, quem ontem tomou posse na Academia Rio Grandense de Letras com um vigoroso discurso em defesa do livro e reticência sobre a informação digital. Fui inoportuno. Num momento de grande regozijo de todos os seus amigos, não lhe deveria contrariar. Vá o feito! Fi-lo. Agora é tocar pra diante. Principalmente porque minha atenção, hoje, é a respeito da democratização da mídia no Brasil. Como qualquer inovação tecnológica, desde o fogo até a manipulação genética sobre o próprio Homem, a telemática encerra e reconcentra Poder. O primeiro pithecantropus que segurou a tocha flamante, não obrou ao acaso. Ele, certamente, já era um forte na horda errante e deve ter consolidado seu Poder com o artefato. Desde então, são estruturas dominantes que se apoderam das inovações em benefício próprio. Mas por  quê, então, não retrocedemos às cavernas¿ Porque, o progresso técnico eleva a produtividade do trabalho, gera estruturas sociais e institucionais cada vez mais complexas, cria e desenvolve a cultura e aí  surge o que denominamos civilização. Esta não elimina as cadeias de Poder, seja no nível interno às sociedades, ou na escala global. Mas, é o que ensina a socióloga  Saschia Sachen: cria mecanismos de defesa dos dominados. Um exemplo: Hoje, é possível a qualquer cidadão do mundo fazer uma denúncia ao Tribunal dos Direitos Humanos da ONU, caso venha a ser objeto de algum crime capitulado neste campo. As superestruturas ideológicas que cimentam a ordem social contemporânea tampouco são impermeáveis, sendo a Educação uma de suas mais importantes brechas. A proclamada Indústria Cultural, tão analisada pelos teóricos críticos da Escola de Frankfurt, também se articulam aos aparatos ideológicos, mas o fazem mediante a abertura de imensas e arborizadas avenidas, sob cuja sombra se aninham as artes, o jornalismo honesto e divulgação científica. Sintoma disto é a emergência de um marxista como Slavoj Zizeck na mídia do mundo inteiro. Recentemente no Brasil, disse ele, respondendo à indagação se não se preocupava de ser usado pela mídia capitalista como uma espécie de showman: “ – Não me preocupo de ser tomado como palhaço por muita gente. Preocupo-me, sim, em poder chegar às pessoas para que elas pensem”. Não poderia haver melhor exemplo…

No Brasil, entretanto, como em quase toda a América Latina, o lento processo de democratização de nossas sociedades cristalizou poderosos veículos de mídia que operam como formadores de opinião conservadora. Detêm,  tanto pela tradição, como pelo poder econômico , grande audiência, que lhes garante sólida posição no mercado, graças a uma legislação de 1962 que sequer é cumprida à risca:

E, para piorar e não menos importante, há também no Brasil uma grande concentração dos meios de comunicação. Umas poucas famílias – é possível contá-las nos dedos das duas mãos – e a Igreja Universal controlam a chamada “grande mídia”: as principais emissoras de tevê com rede nacional, as rádios de maior alcance e audiência e os principais jornais.. E o pior: recentes pesquisas mostram que a concentração tem aumentado em vez de diminuir.

A legislação que rege o setor tem mais de cinqüenta anos, é desatualizada e insuficiente, data de 1962. E ainda por cima não é cumprida. Dois breves exemplos. Primeiro: a lei proíbe que detentor de cargo público, eletivo ou não, seja sócio ou proprietário de empresa concessionária de serviço público. Um terço dos senadores, mais de uma centena de deputados federais e estaduais e centenas de prefeitos são proprietários ou sócios de emissoras de tevê, rádio ou jornais. Segundo: um exemplo local. A lei proíbe que uma mesma empresa concessionária tenha mais de duas emissoras de tevê num estado. A RBS de Santa Catarina tem seis. O Ministério Público Federal há vários anos encaminhou denúncia ao poder judiciário e a coisa deu em nada.

Seis famílias – Marinho, Abranavel, Saad, Civita, Frias e Mesquita – e uma igreja, a Universal, formam um oligopólio que controla mais de 90% da audiência de tevê no Brasil. A Globo é a segunda maior rede de TV comercial do mundo e atinge 98,5% do território brasileiro. Já a Record é a oitava maior rede de televisão do planeta. As seis famílias e a Igreja Universal são proprietárias dos dez maiores jornais, das revistas de circulação nacional com maior tiragem e, também, das principais emissoras de rádio do país

(Paulo Muzell – A democratização da mídia)

http://www.sul21.com.br/jornal/2013/07/a-democratizacao-da-midia/

A tal ponto é o poder da Grande Mídia que, um Governo supostamente de esquerda, vê-se na contingência de aplicar neles  vultosos recursos de publicidade, num paradoxo que um analista bem definiu: Governo gastas milhões com seus detratores:

Governo Dilma aplica 70% da verba publicitária na imprensa conservadora e veta jornal independente

Por Paulo Roberto de Souza – do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília

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Lógico que não cabe à Imprensa elogiar o Governo. Elogio na Imprensa, só como publicidade mesmo. O papel de Imprensa é investigar, denunciar, mostrar as diversas opiniões sobre um mesmo fato. Mas não é isso que acontece no Brasil. Aqui abunda o jornalismo de opinião na grande mídia, em que além dos âncoras, só comentaristas conservadores são convidados como “ especialistas” que confirmam com argumentos de autoridade as opiniões correntes. Ora, isso é um absurdo. Não temos, rigorosamente, um jornalismo autônomo, independente, diversificado. Trata-se, sempre, do mesmo ou, o que pior, do nada. Colho, aleatoriamente , este depoimento no Facebook:

ALGO DE ERRADO NA MÍDIA¿

Vinicius Souza


Outra hora defenderei esta tese: democratizar o direito à informação está ao nosso alcance. Podemos parar de deblaterar contra a mídia de massa. Todos sabem que é parcial.

Ontem resolvi ver o Jornal Nacional, que há tempos não assistia. Com a capa da IstoÉ dessa semana mostrando um escândalo de bilhões de reais passando por três governadores do mais rico estado da nação, por mais de 20 anos, alguma coisa tinha de sair. Mas o que vi foi uma matéria sobre um suposto desvio de 1,5 milhão na Paraiba, ha anos. Requentado pra dizer que o Duda Mendonca (marketeiro do Lula) teria recebido alguma coisa desse valor. Tentei a Band, a Cultura, perdi a maior parte do jornal da Record, mas tb nao vi nada. Ontem e hoje, assisti a vários trechos dos noticiarios da Band News, da Globo News, da Record News, e nada. Processos em vários países, dezenas de executivos indicados pelos governadores denunciados, participantes do esquema fazendo acordos de delacao, e nada nos jornais. Carteis internacionais, paraisos fiscais, lavagem de dinheiro, e nada nas TVs. Ouvi bastante a CBN e a Band FM na sexta, e nada. Matéria interna da Veja sobre o AfroReggae valeu varios minutos no JN, mas a capa da IstoÉ falando de corrupção no setor de transportes na mais importante cidade do Brasil (tema do inicio da manifestações de Junho), nada. Nas paginas iniciais e tb nas de política da Folha e do Estado de hoje, nada. Sou eu ou tem alguma coisa errada aí???

http://www.istoe.com.br/reportagens/315089_O+ESQUEMA+QUE+SAIU+DOS+TRILHOS?pathImagens&path&actualArea=internalPage

É precisamente esta situação, de virtual monopólio de Grande Mídia em vários de nossos países que tem levado à confrontos de governos de esquerda com os proprietários destes veículos. No Brasil, só  a Globo controla 470 retransmissoras, fato que escandalizaria qualquer especialista ocidental caso isso viesse a ocorrer nos seus próprios países.

O assunto esteve na ordem do dia, no início do Governo do PT, em 2003 e chegou a desembocar na realização de uma Conferência Nacional que apontou para a necessidade da democratização da mídia no Brasil. Lamentavelmente, o assunto morreu, particularmente no Governo Dilma Roussef, tendo o Ministro Bernardo à frente do Ministério das Comunicações. Ontem, em encontro nacional dos movimentos sociais, em avaliação da conjuntura, levanta-se , mais uma vez o clamor:

A coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e secretária nacional da Central Única dos Trabalhadores, Rosane Bertotti, também condenou os leilões: “como é que podem não ver a gravidade do que está acontecendo?”

PARA EXPRESSAR A LIBERDADE

Diante da magnitude da batalha pela hegemonia e a disputa sobre os rumos do país, Rosane defendeu a campanha “Para expressar a liberdade”. “O eixo que permeia nossa campanha é o fim do monopólio e o fim da propriedade cruzada”, explicou, denunciando o fato da Rede Globo dispor de 340 canais e retransmissoras de televisão, além de rádios, jornais, revistas e portais de internet para defender o ponto de vista das transnacionais, do sistema financeiro e do agronegócio.

Rosane, que também integra a direção operativa da CMS, condenou o Ministério das Comunicações por retroceder na agenda deixada pelo governo Lula, em particular no que diz respeito ao Plano Nacional de Banda Larga, que “com Paulo Bernardo virou o plano das teles, que o elegeram homem do ano”. O mesmo ocorreu em relação ao conjunto de diretrizes democratizantes apontadas pela Conferência Nacional da Comunicação (Confecom), que foram engavetadas. “Infelizmente, esta não é uma prioridade do governo Dilma. Mas nós estamos aqui para dizer que se a lei não vier pela mão de quem deveria garantir esse direito humano, virá pelas mãos do povo brasileiro”, frisou.

Por sorte, porém, como disse acima, é a tecnologia digital que está rompendo este cerco da informação no Brasil, graças à proliferação de Blogs e Sites de Jornalismo Cidadão, que nos brindam com o que Laurindo Leal Filho, em entrevista hoje no Sul 21 (epígrafe) como o Pós-Tv.  É tão significativo o aparecimento desta mídia alternativa que nada menos do que 74 blogueiros foram assassinados nos últimos anos no Brasil, em razão de suas denúncias. É um fenômeno novo, pouco captado ainda pelo Sistema Político, inevitavelmente povoado por pessoas de mais idade, com pouca afinidade com as mídias eletrônicas. Esta Pós-TV, pós jornalismo, hiper informação, entretanto, oferece, hoje as melhores análises da realidade brasileira e se tornam imprescindíveis a quem queira compreender o que realmente acontece no país. Elas não substituem os canais de TV, principais veículos de informação, que nos Estados Unidos, com alto nível de acesso à INTERNET, ainda representa 75% do acesso à notícias pela cidadania. Mas é alentador que aí ela desenvolva a própria luta pela democratização da mídia. Quem viver, verá…

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SINAIS DE INQUIETAÇÃO DE SETORES DO PT E DA PRÓPRIA ESQUERDA

                          I

CMS convoca combate aos leilões do petróleo, ao superávit primário e aos monopólios de mídia

Encontro da Coordenação dos Movimentos Sociais destaca papel das ruas para fazer o país avançar e impedir retrocesso neoliberal

Por Leonardo Severo, do Informa CUT, dia 21 de julho de 2013.

A Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) encerrou sua plenária nacional realizada neste sábado, na capital paulista, conclamando as entidades populares a que ampliem ainda mais a unidade e a mobilização para o combate aos leilões do petróleo, ao superávit primário e aos monopólios de mídia. Estas, segundo a CMS, são medidas essenciais para o processo de desenvolvimento nacional num momento de intensa disputa de agenda com as viúvas do neoliberalismo.

Com a presença de lideranças sindicais, estudantis, feministas, comunitárias e dos sem terra de dez estados do país, o evento realizado no Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo alertou para a necessidade do governo e do parlamento ouvirem a voz das ruas, que “clamam por mais Estado, por mais investimentos na saúde, na educação e no transporte público, na reforma agrária e urbana”.

Para que o Estado brasileiro possa cumprir com seu papel, a CMS entende que é preciso romper com a lógica do superávit primário, que sangra o país em benefício do capital especulativo. A posição dos movimentos sociais dialoga com o alerta de Frei Beto, citado durante a reunião, de que “juros e amortizações consumiram R$ 708 bilhões em 2011”, o equivalente a 45,05% do Orçamento da União ou 28 Copas do Mundo de 2014, orçada em R$ 25 bilhões.

Conforme as cifras oficiais, de janeiro a maio de 2013, o governo federal desembolsou R$ 92,3 bilhões só em juros – 40 vezes o investimento orçamentário do período, 3,6 vezes o que aplicou na Saúde e 6,3 vezes o que despendeu com Educação.

O PETRÓLEO É NOSSO!

Diante de números tão esclarecedores, apontou o coordenador da Federação Única dos Petroleiros, João Moraes, “podemos ver que o que move essas rodadas de leilão do petróleo é o pragmatismo de quem se rendeu a uma lógica que está na contramão do interesse nacional”. “O que estamos vendo em todo o mundo é o avanço do controle do Estado sobre esse patrimônio estratégico para o desenvolvimento soberano de qualquer nação. A nível mundial o capital privado detém apenas 6% das reservas. Quem descobre não faz leilão, pois à medida que o petróleo for escasseando, quanto mais raro, mais caro”, assinalou.

Na avaliação de Moraes, não há qualquer justificativa plausível para “rifar o futuro” com o leilão de um bem finito, “que não tem segunda safra e que é fonte de matéria-prima para mais de três mil produtos”. Na última rodada, baseada na lei 9478/1997, de FHC, o petróleo ficou para a empresa que ganhou o bloco no leilão, que poderá fazer o que quiser. Assim, as empresas estrangeiras não precisam construir refinarias no país, seja para abastecer o mercado interno ou exportar derivados – o que agregaria valor e geraria emprego e renda -, como também não precisam vender o petróleo à Petrobras, podendo exportá-lo in natura.

Dos 142 blocos leiloados na 11ª rodada, denunciou o líder petroleiro, apenas 12 serão operados pela Petrobrás, que arrecadou R$ 2,8 bilhões. “Para nós o mais importante é a empresa ser operadora, uma vez que é a operadora quem decide quanto, quando e onde produzir”, destacou o dirigente da FUP, alertando como a manutenção dos leilões, “fragiliza a soberania nacional”. Conforme Moraes, a rodada foi um grande desserviço ao país, pois, num cálculo simples, com o preço do barril a mais de cem dólares, essas empresas vão embolsar mais de um trilhão de dólares. “Qual a lógica disso”, questionou?

RASGANDO O BILHETE PREMIADO

E a situação em relação ao pré-sal fica ainda mais delicada, sentenciou o dirigente da FUP. “Como disse Lula, é um bilhete premiado”, assinalou Moraes, lembrando que, por decisão governamental, a Petrobrás passou a encomendar os navios petroleiros da indústria nacional. Com isso, o número de empregos na indústria naval saltou de cerca de dois mil para 60 mil. “Esta é apenas uma das demonstrações de que o pré-sal deve responder ao interesse do Brasil e não pode ficar à mercê dos interesses privados – quanto mais do cartel transnacional que, em busca de petróleo vai à guerra e ocupa países, como foi feito no Iraque”, frisou.

A coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e secretária nacional da Central Única dos Trabalhadores, Rosane Bertotti, também condenou os leilões: “como é que podem não ver a gravidade do que está acontecendo?”

PARA EXPRESSAR A LIBERDADE

Diante da magnitude da batalha pela hegemonia e a disputa sobre os rumos do país, Rosane defendeu a campanha “Para expressar a liberdade”. “O eixo que permeia nossa campanha é o fim do monopólio e o fim da propriedade cruzada”, explicou, denunciando o fato da Rede Globo dispor de 340 canais e retransmissoras de televisão, além de rádios, jornais, revistas e portais de internet para defender o ponto de vista das transnacionais, do sistema financeiro e do agronegócio.

Rosane, que também integra a direção operativa da CMS, condenou o Ministério das Comunicações por retroceder na agenda deixada pelo governo Lula, em particular no que diz respeito ao Plano Nacional de Banda Larga, que “com Paulo Bernardo virou o plano das teles, que o elegeram homem do ano”. O mesmo ocorreu em relação ao conjunto de diretrizes democratizantes apontadas pela Conferência Nacional da Comunicação (Confecom), que foram engavetadas. “Infelizmente, esta não é uma prioridade do governo Dilma. Mas nós estamos aqui para dizer que se a lei não vier pela mão de quem deveria garantir esse direito humano, virá pelas mãos do povo brasileiro”, frisou.

Em nome da direção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, João Paulo Rodrigues enfatizou a necessidade dos movimentos sociais “superarem seu déficit organizativo e mobilizativo” e entrarem firmes na queda de braço com o retrocesso neoliberal, defendido pelas elites e replicado pelos grandes conglomerados de comunicação. “É impossível avançar sem fazer rupturas. Não tivemos uma só família assentada por este governo”, declarou, condenando o desproporcional estímulo dado pelo mesmo governo ao agronegócio, que embolsou R$ 136 bilhões, enquanto a agricultura familiar – responsável por mais de 70% dos alimentos colocados na mesa do brasileiro – ficou com apenas R$ 22 bilhões. “Como se diz, o momento é de cuidar da nossa horta, porque a lagarta tá vindo”, disse.

VALORIZAÇÃO DO TRABALHO

Para o secretário de Políticas Sociais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Carlos Rogério Nunes,  “o momento é de avançar nas mudanças com valorização do trabalho, com a pauta das centrais sindicais e movimentos sociais que foram às ruas unitariamente no dia 11 de julho pelo desenvolvimento”. “Bandeiras, como a redução da jornada de trabalho, o combate à precarização e os 10% do PIB para a educação dialogam com o conjunto da sociedade, mas que são ignoradas pela chamada grande mídia, alinhada com o retrocesso”, destacou o dirigente da CTB.

Secretária-geral adjunta da CUT Nacional, Maria Godói de Faria, lembrou que no próximo dia 6 de agosto serão realizados atos contra a terceirização nas portas das federações patronais em todas as capitais do Brasil e também nas confederações de empresários (CNI, CNC, CNC), em Brasília. “Estaremos juntos pressionando os empresários para que seja retirado da pauta da Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 4330, que amplia a terceirização da mão de obra, precarizando ainda mais as relações e as condições de trabalho”, asseverou. Maria também apontou a luta pelos 10% do orçamento para a saúde o fim do fator previdenciário como imprescindíveis para garantir a justiça social com melhoria da qualidade de vida,

NÃO À DESNACIONALIZAÇÃO!

A desnacionalização da educação foi outra questão relevante denunciada pelos participantes, que citaram oexemplo do Grupo Anhanguera – controlado pelo Blackstone Fund. A multinacional, após comprar a Uniban, que tinha 50 mil alunos, iniciou um processo de demissão de 1.500 professores, em sua maioria mestres e doutores, reduzindo o valor médio  das horas pagas a estes em mais de 70%. “A entrada de capital estrangeiro é preocupante, e não há regulação sobre padrões mínimos de qualidade nas faculdades privadas”, acrescentou a presidenta da União Nacional dos Estudantes, Virgínia Barros (Vic). Para a líder estudantil, a construção de uma agenda unificada de lutas dos estudantes e trabalhadores do campo e da cidade é essencial para pressionar o governo a avançar. “Não vamos arredar o pé da rua, este é nosso lema!”.

II

A minirreforma eleitoral de Vaccarezza: uma anti-Reforma Política? –www.sul21.com.br

Depois de tudo o que aconteceu, e segue acontecendo, nas ruas do país, Vaccarezza propõe minirreforma eleitoralDepois de tudo o que aconteceu, e segue acontecendo, nas ruas do país, Vaccarezza propõe minirreforma eleitoral

A manobra que afastou, até aqui com êxito, o deputado federal Henrique Fontana (PT-RS) da coordenação do grupo de trabalhocriado pela Câmara dos Deputados para apresentar uma proposta de Reforma Política a ser votada ainda este ano, é mais um indicador que uma parte significativa dos parlamentares brasileiros é imune à realidade, vivendo numa terra paralela que tenta impor suas regras ao país. Em entrevista ao Sul21, Henrique Fontana conta como foi substituído por seu colega de partido, Cândido Vacarezza (PT-SP), em uma manobra articulada diretamente pelo mesmo (e por uma ala importante do PT ligada ao grupo que dirige hoje nacionalmente o partido) com o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN).

E as coisas sempre podem piorar um pouco. Nesta segunda-feira, vieram a público algumas ideias do deputado Vaccarezza para a proposta de Reforma Política. Uma delas é dispensar a apresentação de recibos, por parte das candidaturas, para comprovar doações eleitorais. Além de acabar com os recibos para as doações eleitorais, Vaccarezza apoia a ideia de permitir que políticos com contas de campanha rejeitadas pela Justiça Eleitoral voltem a se candidatar nas eleições de 2014. Sobre o tema dos recibos, Vaccarezza disse à Folha de S.Paulo que, sem eles, “a fiscalização poderá ser feita com registros da movimentação bancária das campanhas, onde os doadores seriam identificados”. O objetivo dessa medida, segundo ele, “é tornar a fiscalização mais eficiente”. “Com o número de candidatos quem temos atualmente, não há controle”, assinalou o deputado.

Outra ideia do deputado Vaccarezza para melhorar a política brasileira é permitir que as verbas do Fundo Partidário sejam utilizadas para pagar multas impostas pela Justiça Eleitoral a partidos políticos acusados de cometer irregularidades. A legislação atual veta essa possibilidade. O Fundo Partidário é constituído por recursos públicos, do Orçamento Geral da União. Neste ano, ele deverá repassar R$ 294 milhões aos 30 partidos políticos do país. O parlamentar anunciou que pretende concluir ainda nesta segunda-feira seu relatório e garantiu que só vai manter em seu parecer “mudanças que forem apoiadas por todos os partidos”.

As propostas antecipadas podem representar, na verdade, uma anti-Reforma Política, frustrando completamente as expectativas erguidas em torno da ideia, a partir dos massivos protestos de rua das últimas semanas. Elas não chegam a surpreender, na verdade. O modo como Henrique Fontana foi substituído por Vaccarezza já é um indicador do estado das coisas no Congresso.

Em sua página na internet, o próprio deputado define a sua proposta como uma “minirreforma eleitoral”. Ele resume assim o conteúdo de sua proposta:

Cassação de prefeito por processo eleitoral

Atualmente: O segundo colocado da eleição assume a prefeitura

Proposta: Deverá haver uma nova eleição para que a população decida quem deve assumir o cargo

Troca de candidatos para eleição

Atualmente: O candidato ficha suja se candidata e pode, no sábado anterior à votação, colocar outra pessoa para ser votada. A foto do ex-candidato continua na urna

Proposta: O prazo para o candidato deixar de concorrer a uma eleição será o suficiente para que o Tribunal Superior Eleitoral mude a imagem na urna

Pré-campanha

Atualmente: Não há uma regulamentação específica. Muitas atitudes são consideradas pré-campanhas, como o fato do candidato dizer que vai tentar se eleger nas próximas eleições

Proposta: Vai haver a legalização e regulamentação das pré-campanhas. Apesar disso, os candidatos não poderão pedir votos abertamente, arrecadar fundos, nem fazer atos públicos – como comícios

Redes Sociais e Internet

Atualmente: Não existe uma regulamentação sobre o assunto

Proposta: A internet e as redes sociais devem ser liberadas e o candidato não tem restrição sobre o que falar. Porém, é fica proibido campanhas pagas em sites de conteúdo

É isso. Depois de tudo o que aconteceu no país nas últimas semanas, e segue acontecendo, essas são as ideias do deputado Vaccarezza para enfrentar as críticas ao atual modo de funcionamento do sistema político-partidário brasileiro. Tudo pode acabar, não em pizza, mas em uma anti-Reforma Política.

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VIOLENCIA E DESORDEM

Paulo Timm – Torres julho 19 – copyleft

“Não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos.”
Anaïs Nin

“Toda as manifestações do Brasil podem ser resumidas no repúdio ao pornográfico vestido de noiva (da Dona Baratinha) de R$ 3 milhões. Chocante e imoral”
Juremir Machado da Silva

Meu primeiro professor de Teoria Sociológica foi o notável  João Guilherme, no Curso de Ciências Sociais da UFRGS, em meados do século passado. Sou um sobrevivente daquele tempo. Quando conto aos alunos que conheci pessoalmente Getúlio Vargas e que isso marcou minha adesão ao Trabalhismo a vida inteira, ficam perplexos.  Como…¿  Pois bem, João Guilherme tem um incrível senso de humor. Começou a aula com umaboutade:

“ La sociologia é uns zienza con laquale,  per laquale e senza laquale , Il mondo va tal-e-quale…”

( o mau italiano é por minha conta…)

Belo começo. Todos os cursos nas áreas de Humanas deviam começar assim, mesmo com a exasperação dos positivistas e neo-positivistas.  A razão, as teorias e as ciências sociais podem ajudar muito a humanidade, mas não resolvem os conflitos. São instrumentais.

Mais tarde, estudamos, lá com o João Guilherme, ao lado da Mercedes Canepa, André Foster, Benicio Schmidt e Enio Silveira,  Durkheim. Com o Enio, fraterno e saudoso amigo,  quando ele fazia o Mestrado na USP (1968-69), que lá , sob a batuta do Mestre Florestan Fernandes, confirmei  que tudo começava por Durkheim e pela diferenciação dele com Weber e Marx. O professor Luiz Pereira, aliás, também saudoso – faleceu muito cedo- , me ajudou muito, mandando-me ler mais Raymond Aron e menos Manuais, caso eu quisesse entrar lá.  Pois bem, Emile Durdkeim, é o fundador da Sociologia, que definiu como o estudo do fato social, e mostrou em Les Formes Elementaires de la Vie Religieuse que a sociedade não é a soma dos indivíduos que a compões, mas a representação que ela faz de si mesma. Este, o seu cimento, como, aliás, o cimento das suas instituições (Marx) e até das próprias pessoas individualmente (Freud):

“É o que permite a postulação de uma sociologia ou de uma antropologia das representações e parece ser o melhor ponto de partida para o estudo e a compreensão do Brasil contemporâneo.”

( Juremir Machado da Silvam – Os Anjos da Perdição – pg 11 – Ed. Sulina – POA,1996)

Estas representações, aliás, acabam se cristalizando como paradigmas de ordem e do bem. E tratamos até de reforçá-las, para que nos tornemos, individual, institucional e socialmente melhores.

Tudo começa muito simplesmente, como um mero hábito, uma herança do nosso ancestral mundo animal, que não é senão um sintoma. Criamo-los e os aperfeiçoamos com esmero, como defesa contra o meio, contra os outros, contra nós mesmos. Como diria, porém,  Otto Lara Rezende: O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Um homem prefere a cruz a mudar de hábitos: “ Eu sou assim! ” Vemo-nos e nos vemos através deste olhar turvo e ai de quem tente nos convencer do contrário.

Consagrados os hábitos, os convertemos em convenções sociais, obedecendo, claro, à hierarquia da autoridade, do poder e do sistema social ao qual pertencemos. Quem pode mais, obriga os outros – e principalmente as outras – a engolir o “hábito” , desenvolvido como estratégia de conforto e segurança para a reprodução da espécie.  Então, aí, estamos prontos para construir a regra e erigi-la em Lei, a que todos se curvarão. Compulsoriamente, seja pelo poder da autoridade ou pela autoridade do poder, dependendo da complexidade do grupo social.  Ambas, contudo, com a capacidade de produzir resultados, pela fiel obediência e disciplina aos cânones estabelecidos. Começa, então, e imagem de eternidade de toda e qualquer sociedade. Ai de quem ouse…! Aí se instaura a violência, que tanto pode ser a palmada do pai na criança desobediente, em ambiente doméstico,  até o terror institucionalizado do Estado contemporâneo, passando pelas mais diversas categorias de dominação social tão bem descritas por Max Weber: tradicional, racional ou carismática. As ideologias externas, entretanto, são apenas, segundo Hana Arendt, no seu célebre estudo sobre o julgamento de um dos principais responsáveis pelo holocausto, em Israel, a razão externa. Internamente, observou ela, tudo se passa pelo inexplicável comodismo diante da “ordem”.

O coletivo (a nação, o partido, o sindicato, a torcida, a gangue, o grupo adolescente de amigos, a própria família) não oferece apenas ideologias e desculpas: ele fornece uma função para cada um de seus membros. Com isso, não preciso pensar para decidir minha vida –preciso apenas preencher minha função. É bom o que é funcional ao grupo -ruim, o que não é.

Qualquer crepúsculo do indivíduo é um crepúsculo da moral. Pensemos nisso, por favor, quando torcemos, agitamos bandeiras ou falamos, misteriosamente, na primeira do plural.

(Contardo Caligaris in Meu Vizinho Genocida – http://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/2013/07/1312400-meu-vizinho-genocida.shtml)

Retomo a questão da violência em decorrência das recorrentes manifestações de rua no último mês, no Brasil, e que não raro, descambam para o que se vem se chamando de violência de baderneiros, as mais recentes, em formas distintas, mas igualmente “chocantes” , as de quarta à noite na Zona Sul do Rio de Janeiro, e as da ocupação da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, principalmente depois da divulgação dos nus dos manifestantes no Plenário da Casa.

Condenar a violência destes “ baderneiros” é fácil. Tanto que as imagens se repetem amiúde. Pensá-la, entretanto, é, necessariamente, trazê-las à borda dos acontecimentos quando ocorrem, submetendo-as à sua problematização, de forma a não categorizá-las pelo senso comum do Poder que acaba violentando ainda mais o fenômeno investigado.

La Strega said…

Mas, como diriam os políticos sociais e historiadores: existem os factos e esses são inegáveis… Creio que a essência desta discussão,  então, não é tanto se a violência existe ou não, mas como ela e usada, recriada, extrapolada (ou minimizada), e assim por diante.
Assim como a historia e sempre a versão dos vencedores… As noticias também são a versão dos interesses políticos.
Por cada violência que vemos, creio que existem mil ou mais invisíveis e que passam despercebidas. Depende das agendas e dos poderes.
Por isso e sempre interessante não só aquilo que se vê e diz, mas precisamente e essencialmente tudo o que não se vê e não se ouve.

Read more: http://oficinadesociologia.blogspot.com.br/2007/03/violncia-social-realidade-e-categorizao.html#ixzz2ZUzEldlG

 

 Ou seja, temos que dar conta e razão, como quem faz Filosofia, que não é senão uma (outra) razão que se expressa, tantos das manifestações de rua no Brasil, em todos os seus aspectos, como desdobramentos. Para tanto, é claro, se faz mister abandonar a torcida do Corintians, “ afastar os ídolos da razão” e outros tantos, e se por a pensar.

Por outras palavras, a violência é, muitas vezes, senão sempre, um produto da forma como a concebemos

Vejamos, primeiro, qual o significo de “ violência” e como ela se distingue da “força” , ambos com a mesma origem (vis) . A violência é uma atitude, além da força,  que causa intencionalmente, a outrem,  dano ou intimidação física,sexual ou moral .

Enquanto que força designa, em sua acepção filosófica, a energia ou “firmeza” de algo, a violência caracteriza-se pela ação corrupta, impaciente e baseada na ira, que convence ou busca convencer o outro, simplesmente o agride.

Existe violência explícita quando há ruptura de normas ou moral sociais estabelecidas a esse respeito: não é um conceito absoluto, variando entre sociedades

No pensamento político o uso da violência tem uma dupla face. De um lado, ele corresponde ao consagrado  Direito Natural de Resistência à opressão e que está inscrito na tradição desde a Velha China, quando os súditos destronavam um Rei pela sua incapacidade de prover-lhes a sobrevivência.Modernamente, desde a Revolução Francesa, ele está registrado em quase todas as Constituições. De outro lado, desde Hobbes, este direito individual  à violência é transferido pelo Contrato ao soberano, que o monopoliza no Estado para o cumprimento da Lei. Daí se origina a máxima de que a Sociedade necessita de Lei para fazer Justiça a Justiça, através de Estado necessita da força – e mesmo violência – para impor a Lei. Há, entretanto, sempre uma tensão entre Conservadores e Não Conservadores, sobre a linha divisória deste limite. E não há ciência capaz de eliminar esta tensão que corresponde não só a interesses concretos aí em jogo, mas às representações correspondentes. Devemos a N.Bobbio a compreensão de que esta pugna, subsistente ainda hoje, nos divida em torno da liberdade e da igualdade, dela sobrevivendo o corte ideológico entre direita e esquerda.

Hirschman deixou-nos uma profunda reflexão sobre esta divisão, evidenciando como os conservadores, fiéis à uma concepção hierárquica da ordem, criam uma ordem de terrores contra a mudança, aos quais a esquerda procura contrapor mostrando a necessidade histórica das transformações e a importância de levá-las a cabo gradualmente para que as tensões não desemboquem em conflito aberto. O fundamento destas tensões e suas projeções no espaço público dependerão, sempre do grau maior ou menor das diferenças sociais e dos níveis de não sublimação dessas diferenças.

Aí, então, chegamos ao Brasil, um dos países com as maiores diferenças sociais no mundo, com péssimos indicadores de Desenvolvimento Humano, e com metade dos trabalhadores ganhando até meio salário mínimo por mês (Censo 2010), aglomerado em subúrbios metropolitanos  em condições sub-humanas de vida.

Ora, tais condições sociais, herdadas de uma estrutura colonial escravista que jamais se confrontou com os dilemas de uma verdadeira mudança estão na origem do mal estar na sociedade brasileira. Os últimos 30 anos de redemocratização, associados aos ganhos de rendimentos familiares nos últimos 20, associados às Políticas Sociais de inclusão social do Governo petista deram um novo alento de informação e consciência ao povo brasileiro. Metade de seus mais de cem milhões de eleitores já têm nível secundário ou superior e 70% dos domicílios já contam com INTERNET. Ora, isto é nitroglicerina pura no caldeirão de iniqüidades que caracterizam a sociedade brasileira. De tempos em tempos, ela explode e o sistema político e suas instituições não dá conta de canalizá-los para alternativas consensuais. Então, há irrupções espontâneas , as quais, assentes numa era de instantâneos e espetáculos, se convertem em suposta desordem. São elas, entretanto, que demarcam o momento de ruptura. Como diz Juremir: “ Se não houver o recurso ao simbólico, as manifestações passam despercebidas.”  Coisa aliás, que a empregada de meu filho confirma: _ “ Doutor, se não queimar uns dois ou três ônibus ninguém olha pro nosso lado. Somos invisíveis.”

Portanto, o que devemos ver nos “ desordeiros” da Câmara dos Vereadores de Porto Alegre e da Zona Sul do Rio, não são desvios de uma personalidade doentia, mas de uma sociedade que grita, através, deles, seu desejo de parição de algo novo.  Não se trata, é claro, nem de estimular, nem de participar destas supostas desordens. Apenas de compreendê-las mais além das imagens  de cordialidade fabricada do homem brasileiro ou do discurso conservador da ordem.

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LULA NO NY TIMES

Paulo Timm – Torres, julho 17 -copyleft

Cópia com imagens no Drops –

Lula estreou no NY Times em grande estilo. Consta que não é propriamente estréia, mas é o primeiro artigo contratual. Doravante, nosso ex-Presidente, estará regularmente nas páginas de um dos maiores jornais do mundo. Uma grande conquista pessoal e um orgulho para os brasileiros. Temos uma voz no coração da América. Uma explicação óbvia: Lula não escreve muito bem em português, muito menos em inglês. Isto não constitui problema, nem novidade. Poucos líderes políticos, no Brasil, escrevem seus discursos, seus projetos, seus livros. Para isso servem os assessores. Fazem tudo, inclusive interpretar o pensamento do chefe, traduzindo-o para o papel. Não é desmerecimento. O exercício da cidadania e a liderança política não dependem de iluminação, mas de discernimento do justo e do injusto.  Isso ele tem.

No artigo, Lula explica a origem das manifestações recentes no Brasil. Não diz propriamente inverdades. Aliás, diz uma só:  os manifestantes seriam os beneficiários da Política Social do PT nos últimos dez anos. Não parece, pelo que se depreende da Pesquisa IBOPE, publicada na Veja, sobre esses manifestantes, os quais, aliás, os petistas sempre classificam como “ Mauricinhos e Patricinhas” do Facebook:

Basta verificar. São mesmo, majoritariamente de classes de renda e educação bastante acima do povão, principalmente dos 23 milhões que recebem o Bolsa Família e outro tanto, ou quase tanto, que se beneficiou da Política de Elevação do Salário Mínimo e da Política de Pleno Emprego.

Mas, enfim, Lula procura mostrar que o origem do  mal-estar das ruas é uma crise de crescimento: O regime de amplas liberdades democráticas, desde a redemocratização,  associado às melhorias de renda e emprego nos governos petistas, nos últimos dez, teria suscitado uma revolução de expectativas que ora explode em livres manifestações. Tudo muito bem…Tudo muito normal…Democrático. Como na canção:

Você não soube me amar

Blitz

http://letras.mus.br/blitz/44621/

Você diz prá ela
Tá tudo muito bom
{Bom)
Tá tudo muito bem
(Bem)
Mas realmente
Mas realmente
Eu preferia
Que você estivesse
Nuaaaa…

Você não soube me amar…(4x)

 

Ou seja, Lula preferiria que tais manifestações não tivessem ocorrido. Mas já que ocorreram, há que digeri-las com naturalidade.  Ou seja, o Presidente explica e se justifica. Nisto ele sintoniza com a Presidente Dilma, a quem elogia: Não há nada demais nas manifestações. Mas se ambos pensam assim, por que o PT está tão perdido, com teorias sobre os movimentos que vão da iminência de golpe, à lá 1964, instigado pela grande imprensa, até a identificação dos manifestantes como literalmente fascistas. Se é algo natural à democracia não há risco. A alegação de risco sempre foi usada como antevéspera de instrumentos autoritários que asfixiaram a democracia, como em 1937 e 1968. Mas não creio que este seja o caso. Parece, mesmo, desatenção.  Não seria, então,  a hora do Presidente deste Partido- PT –  reunir o Diretório Nacional e fixar uma linha de interpretação da conjuntura¿ Por que não faz¿ Noto, por exemplo, a exasperação da Prefeita de minha pequena cidade, Torres-RS , Nílvia Pereira, do PT,  raiando o delírio ao acusar meia dúzia que meninos que foram às ruas reverberar o movimento nacional, advertindo-os com a severidade de uma Mestre Escola.Tudo isto se resolveria se o PT se posicionasse em uníssono diante da suposta crise (de crescimento…). Aliás, o próprio Presidente destaca a necessidade do Partido se reencontrar com os movimentos sociais. Uma Conferência Nacional e uma alentada Resolução bem que poderiam ajudar. Não se pode ir ao encontro das ruas com paus e pedras, como muitos petistas estão fazendo. Ou o que é igualmente ruim: com preceitos e preconceitos.

O maior problema, porém, da fala de Lula, não é o que ele diz, depois, aliás, de um silêncio sepulcral de semanas, mas o que revela nas entrelinhas e o principal: o que não fala mesmo.

Entredentes, fica a emoção do incompreendido.- Afinal, se tanto fizemos – “ Nunca antes neste país…!” –  será que não poderiam ir mais devagar com o andor…¿  As entrelinhas, entretanto, traem a palavra cortada: Lula  – e o PT, sua criatura – jamais creditam nada ao passado. E quem não reconhece o passado, acaba perdido na própria identidade.

Claro que há uma crise de crescimento na sociedade brasileira, pela qual o PT foi – e continuará sendo – importante protagonista. Mas o processo de modernização no Brasil começou lá atrás, na década de 20, com uma inquietação muito parecida com a atual, embora mais restrita aos quartéis: Classe média. Moralizadora e vagamente republicana, no sentido da valorização das instituições. Desembocou em 1930 e desenrolou-se na Era Vargas, quem empreendeu um importante projeto de modernização industrial , regulação das relações capital-trabalho e construção da cidadania. Foi de tal envergadura a incorporação de massas à vida brasileira que houve o “ 1964 “, como reação às mudanças. Mas Lula insiste e seus seguidores ecoam: “- Nunca antes neste país…!” Tal processo foi tão importante que os militares não conseguiram, mesmo sob o autoritarismo, revertê-lo, muito embora ao preço de elevar a contribuição das classes populares no empreendimento. Mas o crescimento do Brasil entre 1930 e 1980, com o concomitante aumento da população e sua transferência para as cidades é um espetáculo histórico, inúmeras vezes reverberado  por  grandes economistas que seguiram as pegadas de Celso Furtado: Maria da Conceição Tavares, Carlos Lessa e Antonio Castro, este recentemente falecido. Eu fui professor de Desenvolvimento Econômico ao longo da década de 70 em várias Universidades, no Brasil e no Chile, e me cansei de mostrar nosso MODELO BRASILEIRO de modernização como exemplar ao resto do mundo subdesenvolvido. Hoje, seria até mais crítico. Afinal, passaram-se 30-40 anos e temos mais consciência de muitos pontos fracos da nossa experiência.  Mas Lula insiste: “ Nunca antes desta país…!” Ora, ´tá na hora de parar com essa ladainha. O Brasil tem um passado de glórias, do qual não participou Lula, nem o PT e que se expressou na capacidade de elevar uma população miserável, analfabeta, ancorada no campo, de pouco mais de 30 milhões de habitantes para quase duzentos milhões em menos de um século, 85% vivendo em grandes cidades. Isso se fez porque a sociedade se organizou, atuou, o Estado, bem ou mal , cumpriu suas funções, o sistema político e as instituições, com golpes e contragolpes, respondeu dinamicamente a este processo, trilhamos a longa  redemocratização graças à tenacidade, fibra e espírito público  de homens como Ulysses Guimarães e chegamos aos anos 90. Foi neste momento que irrompeu triunfante o novo trabalhismo do ABC, com forte apoio da Igreja, outrora reacionária e cúmplice do retrocesso de 1964,  bem como da juventude, distante daquele ano, de seus processos e até intoxicada por falsas idéias disseminadas pelo regime militar. Fiz parte da reorganização do trabalhismo sob a liderança de Brizola, naquela época. E a resposta deste novo trabalhismo ao seu apelo foi: Partido Trabalhista, não. Queremos o Partido dos Trabalhadores. Sem intermediários…! Tudo bem. Era um direito deste Movimento inaugurar uma nova era na vida política do país. O problema é que a cultura do PT disseminou a idéia da inexistência do passado e aí caiu na armadilha do regime militar, que desejava exatamente o corte na história. Fê-lo o discurso : “ Nunca antes neste país!” , que não está no Governo de Lula, mas na origem do próprio PT e que se revela no equívoco de Lula quando debita as tensões conjunturais à  Crise de Crescimento, que diagnostica corretamente, com o olhar oblíquo de sua própria história. Curioso é que, mesmo tendo desdenhado sempre da contribuição trabalhista para o avanço político do Brasil, na esteira, aliás, de uma ortodoxia marxista que jamais engoliu Vargas e Brizola, agora se diga que estamos às portas de 64. Ora… Aí não dá! É importante lembrar que um dos principais teóricos na origem do PT tenha sido Francisco Weffort, Professor da USP – geração FHC- e que ele tenha sido, também, um dos principais críticos  da Era Vargas-Jango (1930-1964) sob a ótica do “ populismo” . Qual o suposto de sua – e de outros analistas – aguda condenação à direção trabalhista daquele período¿ Ela “ manipulava” as classes trabalhadores e não lhes ofereceria uma perspectiva autônoma (revolucionária). Que pobreza de catecismo! Nenhuma palavra sobre o povo brasileiro, sobre a nação, sobre os conflitos com o imperialismo! Daí para o enaltecimento de um líder operário à frente de um “ Novo Sindicalismo”, foi um pulo.

Outro lapso da já curta memória do ex presidente se refere à sua incapacidade de fazer auto-crítica, que fica restrita, no artigo, à perda de contato com as massas e praças. Nenhuma palavra sobre a crise econômica, que é, até, anterior às manifestações e resultado de erros na condução governamental. Poderia, inclusive, ter debitado parte do élan das manifestações à perda de dinamismo da economia, sempre parteira de crises políticas, ou como diria meu amigo jorn. ACQ – Brasilia: “É a economia, estúpido!”

Mas não se trata, apenas, da crise econômica. Hoje se sabe que a insatisfação com os serviços públicos vinha crescendo já há algum tempo, embora não se refletindo diretamente sobre o Governo Dilma. Veja_se:

Queda nas expectativas para o futuro é anterior às manifestações de rua

Maria Inês Nassif – ter, 16/07/2013 – (…)

http://jornalggn.com.br/blog/queda-nas-expectativas-para-o-futuro-e-anterior-as-manifestacoes-de-rua#.UealcTIGRc0.facebook

se forem considerados os indicadores de expectativas dos entrevistados para os próximos seis meses da 113ª Pesquisa (de junho de 2012) e da atual, é possível chegar à conclusão de que a corrosão das expectativas era parte de um processo que antecedeu as manifestações, e podem ajudar a entender a razão de manifestações com reivindicações tão difusas e variadas terem adquirido uma força de contágio tão rápida e tão grande.

As últimas três pesquisas CNT/DMA trazem duas questões conjunturais para medir as expectativas dos entrevistados em relação ao país – o que as pessoas acham que vai acontecer, nos próximos seis meses, com seus empregos e renda – e três questões relativas à gestão de serviços públicos. Em julho de 2012, 54,1% dos entrevistados achavam que a situação do emprego do país iria melhorar nos seis meses seguintes e 49% achavam que sua renda mensal iria aumentar no mesmo período. Em junho, a 113ª pesquisa registrou uma queda significativa nessas duas expectativas: 39,6%, ou seja, 14,5 pontos percentuais a menos, acreditavam que o emprego iria melhorar, e 35,8% (13,2 pontos percentuais a menos) passaram a acreditar numa melhora de renda nos seis meses seguintes. Quase todos os pontos percentuais perdidos entre os que achavam que os empregos iam melhorar foram ganhos para a resposta dos que consideravam que tudo ficaria a mesma coisa.

No caso dos serviços públicos, em julho do ano passado 43,7% consideraram que a Saúde melhoraria nos seis meses seguintes. No mês passado, esse índice havia caído para 26,2%. Os 39,7% que consideravam que o serviço público continuaria a mesma coisa no ano passado subiram para 45,5% em junho deste ano; e os 14,3% que consideraram que, no ano passado, a Saúde pioraria nos seis meses seguintes, já eram 25,7% no mês passado.

Na pesquisa do ano passado, 47,2% tinham a expectativa de que a Educação melhoraria nos seis meses seguintes; no mês passado, apenas 33,1% manifestaram essa esperança. Na Segurança Pública, os 39,1% que tinham expectativa de melhora, em 2012, caíram para 29,1%.

Na pesquisa de julho, divulgada hoje (16), e realizada já sob o impacto das  manifestações de rua, há uma acentuação da tendência de deterioração das expectativas referentes à conjuntura (emprego e renda) já registrada na pesquisa do mês passado, mas curiosamente melhoraram as expectativas em relação à melhora de qualidade dos serviços de Saúde e educação.

Dos entrevistados, 32% consideraram que a questão do emprego iria melhorar nos próximos seis meses – 7,6 pontos percentuais a menos que a pesquisa realizada em junho; 29,6% passaram a acreditar que a sua renda iria aumentar no mesmo período (contra 35,8% registrados na pesquisa do mês anterior). O índice dos que consideram que a Saúde vai melhorar, todavia, aumentou de 26,2% da pesquisa anterior, para 31,5% da pesquisa atual; e os que consideram que a educação vai melhorar correspondem a 34,7% dos entrevistados, 1,6 ponto percentual a mais do que o registrado no mês passado. (…)

Em resumo, Lula cai naquele erro que já derrubou um Ministro da Fazenda, no Governo Itamar Franco. Sem perceber que estava no ar, num Bom Dia Brasil, na “Rede Globo”, Rubens Ricúpero deixou escapar, à inadvertida indagação sobre como iam as coisas: – O bom a gente mostra…O problema é que há muita coisa no ar, além dos aviões de carreira e dos velhinhos abandonados à própria sorte no enterro da Varig…Estamos às vésperas, não de um golpe reacionário, como quer, equivocadamente, o PT, mas de uma verdadeira revolução democrática. E ironia da História: Ela coincide com a vinda do Papa ao Brasil: Francisco. O seu Manifesto Espiritual coincide com as manifestações de rua no Brasil: Aponta para a liberdade, não como um direito frente ao Estado, mas como um imperativo de consciência de cada um, começando pelos poderosos.

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        MALALA

Paulo Timm , Torres julho ,16 – copyleft

Foi Dégas, se não me engano, que disse, certa vez, que a velhice é muito estranha: ela nos torna distantes de tudo. Meio indiferentes. Enquanto os jovens vivem das visões sobre o futuro, os velhos vivem das lembranças do passado. Para os primeiros, o passado, anterior ao seu nascimento, é sempre passado remoto. Para os velho, o futuro, é o presente atualizado a cada alvorada. Não o digo como lamento. O que lamento,mesmo, são os amigos que não verei nunca mais, parte da família que se desintegrou, algumas fotos que não bati e poucas, muito poucas coisas mais. Às vezes penso, até, que sou conformado demais. O conformista…!  Tento reagir. Outro dia troquei de carro. Cheguei na loja e indaguei: Qual é o mais barato¿ Comprei. E até que fiquei feliz. Não precise mais colocar água no radiador todo o dia… Roupas, utensílios de casa, consumo…Não me comovem. Prefiro um bom charuto, depois de um vinho bom e caro, na casa do meu filho, bom burguês…Ou da visita esporádica da minha filha rebelde. Fiquei extremamente feliz, também, ao ver minha jovem companheira, depois de dura jornada, defendendo, ontem seu Mestrado em Portugal. Talvez, até, por um certo orgulho pessoal por ter colaborado no seu projeto de vida. No mais, sou quase indiferente. Mas , confesso, fui às lágrimas vendo, no último dia 12, o discurso da jovem paquistanesa, Malala, na ONU. Malala é aquela adolescente de meros 16 anos que foi baleada pelo Taliban porque insistiu em estudar. Ela sobreviveu. Hoje é um ícone da resistência contra o fundamentalismo religioso no mundo inteiro. Não apenas contra o fundalismo islâmico, que tem no Taliban uma de suas mais cruéis vertentes, mas todos os fundamentalismos, sejam religiosos ou ideológicos, e mesmo contra todas as formas de intolerância existentes no mundo. Malala foi acolhida pela ONU que consagrou o dia 12 de julho como o DIA DE MALALA.

Malala Yousufzai faz emocionante discurso na ONU

“Vamos pegar nos nossos livros e nas nossas canetas. Eles são as nossas mais poderosas armas. Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo. A Educação é a única solução. A educação em primeiro lugar”

In: http://www.tvi24.iol.pt/videos/video/13916984/1

Biografia- wiki

Nasceu em Mingora, Swat, Jaiber Pastunjuá, Paquistão. Seu pai é Ziauddin Yousafzai e tem dois irmãos. Fala pachto e inglês e é conhecida por seu ativismo em favor dos direitos civis, especialmente os direitos das mulheres do vale do rio Swat, onde o Taliban proibiu a frequência escolar de meninas. Aos 13 anos, Yousafzai alcançou notoriedade ao escrever um blog para a BBC sob o nome de Gul Makai, explicando sua vida sob o regime do Tehrik-i-Taliban Pakistan (TTP) e as tentativas de recuperar o controle do vale após a ocupação militar que obrigou-os a ir para as áreas rurais. O Taliban forçou o fechamento de escolas particulares e proibiu a educação de meninas entre 2003 e 2009.2 3

Em 9 de outubro de 2012 foi atacada por um miliciano do TTP em Mingora: foi baleada no crânio e foi operada. O porta-voz do TTP, Ehsanullah Ehsan disse que tentariam um novo ataque.4

Duas estudantes ficaram feridas juntamente com Malala enquanto se dirigiam para casa em um ônibus escolar. Ela foi levada de helicóptero para um hospital militar. Ao redor da escola onde as meninas agredidas estudam, centenas de pessoas foram às ruas para protestar contra o fato. A mídia paquistanesa deu ampla cobertura.5

Em 10 de outubro de 2012, o ministro do Interior do Paquistão, Rehman Malik, afirmou que o atirador havia sido identificado.6

O ataque foi condenado pela comunidade internacional e Malala Yusufzai foi apoiada por Asif Ali ZardariPervez Raja AshrafSusan RiceDesmond TutuBan Ki-moonBarack ObamaHillary ClintonLaura Welch BushSelena Gomez e Madonna.

Em 15 de outubro 2012 foi transferida para o hospital Queen Elizabeth, em BirminghamReino Unido para continuar a recuperação. Após quase 3 meses de internação, Malala deixou o hospital em 4 de janeiro de 2013.7

Em 12 de Julho de 2013, Malala comemorou seu aniversário de 16 anos discursando na Assembleia da Juventude na Organização das Nações Unidas em Nova Iorque, Estados Unidos. (…)

Esta foi a sua primeira aparição pública após se recuperar do ataque que sofreu pelas mãos do grupo talibã.9

Em seu discurso, Malala dedica o seu dia a todos os jovens – maninas e meninos – que lutam contra preconceitos e por educação. Seu discurso é uma oração à educação.  Disse ela que enquanto houver um jovem, uma professora, uma caneta e um livro será possível mudar o mundo. Malala é um exemplo de coragem e um modelo para o mundo. Ela reafirma que não tem medo e desafia o Taliban. Comovente! Uma bela maneira de homenageá-la seria a conceder-lhe o Prêmio Nobel da Paz. Ela merece!

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 Sexo e Amor: Os signos das manifestações

Paulo Timm – Torres julho,12 – copyleft

Fechado o Dia de Lutas, que caracterizou um outro tipo de manifestação, no cardápio das recentes mobilizações de massa que agitam o país, urge a comparação com o que ocorreu no mês passado. A melhor avaliação que li foi do Cientista Político Marco Aurelio Nogueira , publicado no seu blog e que assim sintetiza

Os protestos de junho pediram reconhecimento e políticas públicas; os de julho falaram pelo trabalho. Em junho, escutaram-se os gemidos de um mundo que desponta; em julho, o grito rouco e cansado de um mundo que resiste para não acabar.

Marco Aurelio Nogueira – http://marcoanogueira.blogspot.com.br/2013/07/protestos-para-o-resto-de-nossas-vidas.html

Com efeito, as duas manifestações foram massivas e exitosas, mas expressam e se expressam como fenômenos diferentes.

O grande mérito de junho foi  a espontaneidade do movimento, deflagrado em decorrência de uma luta localizada contra o aumento de tarifas de ônibus e da forma como foi reprimida pelas autoridades. Não houve planejamento, não havia infra-estrutura, não se viam líderes nem carros de som nas passeatas. O povo, esta categoria analítica invertebrada e difusa – polissêmico e horizontal, no dizer do Marco A.Nogueira – , simplesmente desabou  sobre às ruas dos principais centros metropolitanos do país, numa atitude de  desabafo: Chega!  As redes sociais impulsionaram a mobilização e coroaram sua importância nos dias que correm. A ninguém ocorre, hoje ler O QUE FAZER¿, do Lênin, para comunicar dissabores com a vida pública. Melhor correr para o Face ou fazer um Blog. Se for um contratempo exclusivamente pessoal, talvez morra no próprio post. Mas se milhares de pessoas se identificam com o mesmo problema, isto cria uma reação em cadeia que inflama a comunicação social e acaba produzindo o que vimos em junho: mobilização. Não foram, pois, as redes que fizeram as manifestações de junho. Foi a pré-existência de uma mal estar na sociedade, sobretudo na classe média tradicional, insatisfeita com a forma como as questões de Estado se sentem tratadas por autoridades federais , estaduais e municipais. Registre-se que são esses segmentos que acabaram pagando a fatura do saco de bondades dos governos petistas no últimos dez anos, tanto pelo lado das perdas salariais, como das perdas de vagas universitárias no regime de cotas, como por perdas na cobrança de Taxa Previdenciária sobre pensões e aposentadorias, e custos elevados dos Planos de Saúde a que se vê constrangida.   A ela devem ter se associado amplas camadas de segmentos emergentes, os quais, saciados em seu afã de sobrevivência, enfrentam novos desafios decorrentes da própria condição social que passam a desfrutar: as prestações elevadas da Casa Própria e dos carros recém adquiridos, os custos de gestão destes novos bens, as dificuldades para enfrentar os altos preços dos estudos técnicos e superiores, os altos juros dos cartões de crédito.  Mesmo com a sobrevivência de imensas camadas de pobreza no pais, as classes de renda  entre 2 e 10 salários mínimos ultrapassam 25% dos assalariados (Censo 2010-http://veja.abril.com.br/infograficos/censo2012/censo2012.swf), chegando, certamente a 50% quando somadas em família,  residem em grandes cidades, assistem diariamente televisão, um meio dominado por visões unilaterais das questões nacionais, altamente intoxicantes. Não temos pesquisas, no Brasil,  que demonstrem como estes grupos se informam, mas sabe-se que nos Estados Unidos 75% de seus habitantes ainda sabem das coisas através da televisão. Não seria de estranhar se descobríssemos que o processo do Mensalão, associado à ampla repercussão de outros escândalos na Televisão, foi o principal fermento do estado de espírito que desembocou poeticamente  nas ruas no mês de junho. Independentemente disto, ele foi, rigorosamente, uma explosão de sentimentos a favor de uma mudança radical na vida política do país. Foi isto que a própria Presidente Dilma percebeu e que procurou responder, embora obliquamente, como destacou outro analista da conjuntura,  com sua proposta de Reforma Política. Faltam-lha forças políticas para um grande entendimento nacional rumo à esta Reforma. Mas este foi, na verdade, o grande clamor de junho, embora  pouco explícito , e que corresponde à uma crise de crescimento e maturidade da sociedade brasileira, depois de 30 anos de um regime de inéditas liberdades publicas e privadas. Um grito, por certo, reverberado pela classe média, sempre ciosa tanto de direitos adquiridos, como de um conjunto de valores tradicionais.

Já a manifestação de julho, foi mais do mesmo de sempre: As razões do mundo do trabalho.  Resultou numa ampla paralisação, distante porém, de uma greve geral, salvo em poucas cidades, como Porto Alegre, já inflamadas por processos anteriores . Foi um movimento “ vertical” (MAN)- a que poderíamos agregar “sistêmico”,  centralmente organizado  pelas centrais sindicais, aos quais se associaram alguns movimentos , como o MST, em alguns Estados, centrado em demandas trabalhistas: O fim do fator  previdenciário, a redução da jornada de trabalho e reforma agrária e pisos mínimos de 10% do Orçamento da União para Educação e Saúde. Todas elas já defendidas pelos trabalhadores há longa data e em histórica negociação com patrões e Governo Federal. Faltou-lhe, entretanto, uma justificativa além do registro da presença nas ruas. Diferentemente do maio de 68, em Paris, quando a incorporação dos trabalhadores engrossou e radicalizou o movimento estudantil, o paro das Centrais,  ontem, pairou no ar, segmentou-se e se fechou em si mesmo. Aconteceu, mas não empolgou. Faltou-lhe a emoção que marcou as manifestações de junho. Curiosamente, apesar de ser uma presença vertebrada, não mostrou nem musculatura, nem sistema nervoso. No fundo, mais conservadora e menos ameaçadora do que os idos de junho, a justificar as últimas entrevistas do historiador Eric Hobsbawn que creditava às classes médias, nos tempos atuais, um papel mais revolucionário do que o do proletariado. Aqui no Brasil, mais evidente pelo fato de que as centrais de trabalhadores e movimentos sociais organizados se encontram profundamente articulados ao Governo do PT e, portanto, tanto quanto na época de Jango, em 1964, inibidos para uma ação de confronto com o status quo.

Um e outro movimento, porém, carregam sua natureza, trajetória e destinos. Cumprem funções diferentes. Salvo os torcedores, que tratam a Política com a mesmo paixão que devotam ao seu time de futebol, são mais complementares do que propriamente concorrentes. O risco, aliás, de torná-los competitivos pode significar uma redução da Política ao fundamentalismo, contrapondo ambos movimentos de forma irredutível, tal como estamos vendo no Egito. Melhor, pois, observar tudo com atenção, sem cair nesta tentação. O país, independentemente de quem esteja no Governo, exige mudanças na sua cultura e instituições políticas, as quais são, hoje como ontem, proclamadas por vozes das classes médias, mas elas só se realizarão se todas as forças sociais  interessadas na Reforma Política se unirem neste processo.

Há algum tempo Rita Lee, em controverso canto, falou-nos do “ Sexo e Amor”, o primeiro como Poesia, o segundo como Prosa.  Inspirador, como tudo o que deseja e faz. Eu diria: Junho é sexo; julho é amor. Falta-nos, ainda, o enredo do romance…Por oportuno, ocorre-me,  trazer-lhes à lembrança:

Amor E Sexo

http://letras.mus.br/rita-lee/74440/

                     Rita Lee

Amor é um livro
Sexo é esporte
Sexo é escolha
Amor é sorte…

Amor é pensamento
Teorema
Amor é novela
Sexo é cinema..

Sexo é imaginação
Fantasia
Amor é prosa
Sexo é poesia…

O amor nos torna
Patéticos
Sexo é uma selva
De epiléticos…

Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão
Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval
Oh! Oh! Uh!

Amor é para sempre
Sexo também
Sexo é do bom
Amor é do bem…

Amor sem sexo
É amizade
Sexo sem amor
É vontade…

Amor é um
Sexo é dois
Sexo antes
Amor depois…

Sexo vem dos outros
E vai embora
Amor vem de nós
E demora…

Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão
Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval
Oh! Oh! Oh!

Amor é isso
Sexo é aquilo
E coisa e tal!
E tal e coisa!
Uh! Uh! Uh!
Ai o amor!
Hum! O sexo!

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Senado, para quê…

     Paulo Timm – Economista, Prof. Univ.Brasília

www.paulotimm.com.br

 Torres RS – Autorizada a publicação 

11 de julho de 2013

 

Uma das coisas positivas deflagrada pelos recentes movimentos de rua no Brasil foi a restauração do debate político no país. É curioso, pois, aparentemente, o principal móvel das mobilizações   é o descrédito da cidadania nas instituições públicas. Porém,  ao contrário do que se poderia imaginar, o clamor das praças não sepulta a política: A purifica e restaura em novas bases. Não por acaso a Presidente Dilma pressentiu esse processo e procurou empolgá-lo através do reverberação da consigna de Reforma Política.

Com efeito, nossa cultura política e as instituições que a regulam exigem profundas mudanças. O que temos é uma herança dos tempos coloniais, quando cidadania era graça da Coroa portuguesa, que se pagava com a lealdade e promessa de jamais trabalhar – isso mesmo! – e os cargos, que se estendiam aos direitos de exploração de alguma atividade econômica, como sal ou couros, um mar de sinecuras. Veio a Independência, seguiu-se a República Velha e fomos cristalizando esta noção da Política como privilégio colonial de seus protagonistas. Lentamente, porém, a sociedade brasileira ia se formando e exigindo mudanças. O período Regencial, de 1831 a 1840 foi o primeiro grito desse despertar de uma cidadania ainda nascente. Não por acaso o país foi abalado por sucessivas revoltas que quase esfacelam a unidade territorial herdada dos portugueses. Aí se insere a Revolução Farroupilha, no RS, entre 1835 a 1945. Pacificado o país, sem grandes modificações estruturais, dentre elas a escravidão, que estigmatizava qualquer pretensão democrática, teríamos que esperar um século para que uma nova onde de protestos agitasse o panorama nacional. Foi o que assistimos na terceira década do século passado e que culminou na Revolução de 30. Vargas, vitorioso, selou a ferro e fogo o ideal republicano positivista: ORDEM E PROGRESSO, sob forte centralização do Poder. Mudou o país. Enterrou a velha prática das eleições do “ bico de pena” e deixou no seu rastro um novo quadro partidário, com claras e modernas clivagens ideológicas e um novo conceito de cidadania, embora excessivamente regulada. Com erros e acertos conseguiu transformar uma economia do café numa economia urbano-industrial, com o salto de uma população eminentemente rural de menos de 30 milhões de pessoas para o dobro deste número, grande parte em grandes centros, com presença marcante nos processos eleitorais. Foi essa emergência de massas na vida pública que sacudiu a sonolência colonial e trouxe, nos anos 50 e 60 grandes tensões políticas que desembocaram no golpe restaurador de 64.  Quando irrompeu a redemocratização plena, com a Constituição de 88, o país era outro. A economia havia se  musculado na via moderna, a população saltara para o impressionante número superior a 100 milhões, concentrada nas grandes metrópoles,  em pleno exercício de liberdades privadas e públicas,  estas incluídas no capitulo dos Direitos Sociais da Constituição, dentre as quais o direito do voto secreto, direto e universal, sob absoluta tolerância ideológica. O resultado não poderia ser outro: emergência de novos atores no cenário político, novas clivagens ideológicas, ampliação de direitos de segmentos até então marginalizados. O crescimento do PT e a eleição de um dirigente sindical são apenas partes deste processo. Mas a eclosão dos movimentos de rua em junho deste ano (2013) demonstra que uma nova era de novas mudanças se impõe. Trata-se, na verdade, de aprofundar a democratização do país, com vistas à intervenção do povo , pelo povo e para o povo em sua história e destino. Trata-se de pensar as instituições políticas existentes e adequá-las aos novos tempos. Fizemos, nas últimas três décadas, um belo bolo, mas com ingredientes deterioradas. Ficou embatumado. Sabe mal. Dá indigestão. Há que se procurar não só produtos melhores como novas receitas.

Nestas horas, tudo deve ser discutido e problematizado: Instituições, Partidos, Voto. Tudo. Por isso mesmo não cabe num Decreto ou num Plebiscito. É um processo, que exige longa e madura reflexão na Sociedade. Com aquele senso de que, nem seja tão lenta que pareça um acinte às mobilizações de massa, nem tão depressa que pareça que lhe teme…

Isso posto, sou radical. Não por ser truculento  ou contra o modelo federalista, mas para ir à raiz senhorial da nossa cultura política. Por que acabar só com o segundo suplente de senador. Sou favorável a extinção do próprio Senado, uma instituição sonolenta, cara – R$ 3 bi por ano – e que se revela como depósito de velhos oligarcas regionais. Com o fim do Senado refrescaríamos as funções de representatividade de um Congresso Unicameral – rigorosamente proporcional –  e agilizaríamos sobremaneira sua função legislativa. Começaríamos, enfim, a mudar instituições que já não correspondem às exigências de velocidade e transparência da moderna sociedade brasileira.

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ZIZEK  – RUMOS DO PENSAMENTO CRITICO

Paulo Timm – Torres, julho 09 – copyleft

Assisti, atento, ontem, dia 08 de julho (2013) a excitante entrevista do Filósofo  esloveno, S.Zizek, supostamente marxista , no Canal Livre, TV Cultura SP. Vinha meio precavido, em virtude de haver lido, dias antes, um artigo de Noam Chomski francamente depreciativo sobre ele, a quem denuncia como pavoneador de teoria e expressões vazias. Literalmente:

 Usted se refiere a la “Teoría” y cuando dije que no me interesa la teoría, lo que quería decir es que no me interesa esta adopción de posturas mediante el uso de términos extravagantes compuestos de archisílabos, ni, menos, la fantaseada ficción de disponer de una “teoría”,  cuando no hay ninguna teoría en absoluto. No hay nada de teoría en todo este rollo, no, desde luego, en el sentido de “teoría” de quien esté mínimamente familiarizado con las ciencias, o con cualquier otro campo serio. Intente usted buscar en todo el trabajo que ha mencionado algunos principios desde los cuales sería posible deducir conclusiones o proposiciones empíricamente verificables y a un nivel algo más alto de lo que se pueda explicar a un niño de doce años en cinco minutos. A ver si usted puede encontrar algo así, una vez decodificados todos los palabros extravagantes. Yo, no puedo. Carece, pues, de interés para mí este tipo de pavoneo presuntuoso. Žižek representa un ejemplo extremo del mismo. No veo el menor contenido en lo que dice. Respecto a Jacques Lacan, lo cierto es que llegué a tratarlo personalmente. Y en ese plano, me gustaba bastante. Nos reuníamos de vez en cuando en París. Pero, a decir verdad, siempre pensé que era un charlatán integral. No hacía sino coqueteos ante las cámaras de televisión, a la manera típica de tantos intelectuales de París. No tengo la menor idea de por qué todo esto le parece a usted tan influyente. Yo no veo nada que merezca tener esa influencia. Quizá usted me puede explicar por qué piensa que es influyente; si hay algo importante, yo, soy incapaz de verlo. No me interesan los falsarios intelectuales horros de todo contenido.

                                                             ( Noam Chomski – SP Madrid )

Não obstante, confesso que me surpreendi com o Zizek, quem, ao final se declarou surpreso pelo alto e aberto nível do debate na TV Cultura, dizendo ser isto inédito em sua vida de peregrino do pensamento crítico.(!)  Gostei de muitas passagens de suas declarações que devem fazer tremer o Velho Marx no seu visitado túmulo londrino, como grande parte de seus adeptos tupiniquins. Honestamente,  é tão expressamente hegeliano seu discurso  , que duvido que se lhe possa carimbar como marxista. Parece-me mais uma estratégia política dele, ao situar-se num  mundo em que ser marxista ainda é uma sólida referência para editoria e audiência. Digo-o sem qualquer preconceito. Eu próprio me autodenomino marxista, aliás meta marxista, no rastro de alguns pensadores franceses, mas sem grande sucesso na área. Zizek, contudo, é um show man e não vê no seu uso como produto de consumo nenhum problema. Aliás, se pergunta várias vezes: – O que significa ser ético¿ , que traduziríamos, entre nós como “ politicamente correto”. Ele fala sobre tudo, mistura tudo, conta muitos casos, relata viagens e se pronuncia politicamente tanto sobre a India, como Bolívia ou Europa do Leste, de onde provém. Nunca ouvi o Chomski, mas imagino o contraste das duas figuras. Chomski um acadêmico formal, educado, culto, de uma origem certamente seleta, nascido e criado em grande cidade. Zizek, um sobrevivente do socialismo real, do qual deve ter sugado os meios para sair de uma província eslovena para os bancos da Universidade de Paris, sem ter perdido os modos  e aparência ainda meio selvagens, cheios de toques e  cacoetes. Duvido que tenha tido boas notas na juventude. Mas aí está e é considerado um dos maiores filósofos contemporâneos, com uma obra , grande parte traduzida ao português, já vasta.

Seu ponto de partida reflexivo é a superioridade intelectual de Hegel sobre todos os filósofos, desde os clássicos. O grande desafio da esquerda, hoje, reitera enfaticamente, é voltar a Hegel. O único, para ele, que não se deixou seduzir pela “ cozinha do futuro” , desconfiando, mesmo, da possilidade de descortinar o futuro a partir da meada da História. Por isso, Zizek, contrariando o velho mecanicismo otimista dos marxistas, revela que não acredita que o socialismo seja a “ etapa superior do capitalismo” . Pelo menos, revela sensibilidade crítica ao evolucionismo mecanicista que ainda anima grande parte dos marxistas.  Ele se define como comunista, mas nem diz com precisão o que isto significa, além de um certo culto ao Estado como Agencia Reguladora da Sociedade, nem diz onde o comunismo estará. O que ele enxerga, sim, na sociedade moderna, é o esgotamento de uma economia que produz, cada vez mais, antagonismos sociais, não no sentido de que os senhores do capital explorem cada vez mais seus operários, mas porque o sistema do capital contemporâneo tornou-se parasitário. É rentista. Nisto, até, tem razão, esquecendo-se porém de dizer que isto é uma regressão do capital à formas originárias de acumulação fundadas no roubo e na violência.  O mundo , seundo Zizek, está irremediavelmente dividido entre muito ricos e muito pobres e ficará, dentro de pouco tempo estigmatizado. Os mais ricos, com assento nas melhores clínicas de engenharia genética da China, estão se diferenciando, tornando-se uma nova espécie. Os pobres, uma sub-espécie. Esta é , aliás, a idéia dos autores que tratam da Era dos Artefatos, para os quais o homem, mercê do avanço tecnológico , tornou-se uma máquina de si mesmo. Daí, entretanto, não retira Zizek nenhum condenação  anti-imperialista, vez que não consegue ver o mundo que relata como um mundo geopoliticamente divido sob a supremacia americana. Evita o tema. E desdenha das experiência do socialismo naïve, à la Evo Morales com seu culto à mãe natureza. Aliás ele odeia o multiculturalismo, as lutas ecológicas e outras quejandas pós-modernas. Decididamente, Zizek está na velha tradição marxista de creditar ao capitalismo uma revolução sem precedentes e horizontes invisíveis das forças produtivas. Chega a creditar ao colonialismo inglês na India uma tarefa, senão civilizadora, progressista. Ou seja, ruim com o colonialismo, pior sem ele. O mesmo que Roberto Campos, no Brasil, sempre afirmava: “ Pior do que a exploração capitalista, é sua ausência…” .Isso faz de Zizek um produto  palatável aos iluministas, sempre avalistas da função redentora do capital. Não aponta ele, também, nenhum caminho além do ativismo intelectual e da valorização dos movimentos espontâneos no mundo inteiro. Para ele, as dificuldades apontarão, oportunamente , um caminho. E cita Hölderin, poeta alemão,  para justificá-lo: São as dificuldades que apontam a solução. Nem no Socialismo Real, do qual é filho, nem na China, nem em Cuba, qualquer indício de salvação para o futuro do socialismo. Para ele , são experiências liquidadas, “ fiéis à castração” do consumo, da liberdade e da consciência crítica, como entre-dentes, se referiu à Ilha. Prefere a agitação dos acontecimentos que trazem as pessoas ao acontecimento, problematizando-o. Tipo fascinante, Zizek impressiona. Não tanto pelo encadeamento lógico e sereno do raciocínio, mas pela explosão libertária que o mostra como um velho anarquista provocador. Como assinala o release hoje da TV Cultura sobre sua passagem no Canal Livre:

Condensando filosofia com bases da psicanálise, enfileirando referências eruditas, populares e anedotas, Žižek – famoso pela expressividade de suas falas em palestras ao redor do mundo – comentou que não se importa “se pessoas aqui ou ali pensem que sou um palhaço. O que importa é que, em algum momento, eu as faça pensar”.

Encerrada a entrevista, releio o Chomski e me pergunto se , realmente, S.Zizek, apesar da grande simpatia, da tentativa piccodelamirandolina  de dar conta e razão de seu tempo, juntando Hegel, Marx, Freud e Lacan, de seu gesto contestador, faz jus à fama de grande pensador. Prefiro-o como ativista.

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VIGIAR A PUNIR É COLONIALISMO, ESTUPIDO!

Paulo Timm – Torres_08 julho – copyleft

No fim de semana o Brasil ficou estarrecido ao saber que todas as suas comunicações são monitoradas pelo Governo norteamericano, graças ao vazamento de informações do colaborador da CIA, Edgard Snowden, foragido da Justiça daquele país no Aeroporto de Moscou. Autoridades do Governo Federal reagiram, convenientemente, de imediato, mostrando-se surpresa com a audácia da espionagem externa. A temível antevisão do escritor George Orwel  com o título “1984”, levada ao cinema nos anos 60, revela-se, assim,  em toda a sua crueza. Somos todos controlados pelo Big Brother, paradoxalmente transformado em nome de programa televisivo em vários países do mundo, sempre com elevada audiência. Todos querem bisbilhotar. Mas os mais poderosos bisbilhotam para melhor controlar e manter o poder. A diferença, entre a ficção de Orwell e a realidade, é que aquele autor supunha a vigilância ampla, impessoal e suavemente imposta aos cidadãos seria a conseqüência de um Governo totalitário e a que assistimos, hoje, é praticada pela Pátria das Liberdades civis.  Inacreditável! A resposta dada pelo Presidente Obama raia o cinismo e já foi dada antes da divulgação da espionagem sobre o Brasil: – Não podemos ter 100% de segurança e 100% de privacidade”.

O assunto da divulgação de informações e documentos secretos que evidenciam o abuso de poder dos Estados Unidos pelos seus próprios cidadãos não é novo. Vem se sucedendo com rapidez inimaginável e sacudindo a opinião pública no mundo inteiro. As fontes são sempre jovens americanos escandalizados com o grau de intervenção ilegal do Governo de seu país sobre os destinos de vários países do mundo. Esses jovens, com suas ações colocam suas vidas a prêmio. Edgar Snowden, Manning e Julian Assange, este australiano,  são os novos baluartes na  defesa da liberdade de expressão. Eles acreditam nos valores mais puros do regime de respeito aos direitos e interesses da cidadania em escala mundial  e lutam em favor da democracia. Não são marxistas, nem fundamentalistas religiosos, nem revolucionários nacionalistas. São apenas jovens idealistas criados ao amparo de valores positivos e que, por isto, acabam  perseguidos e condenados implacavelmente pelo Governo Americano. São os heróis de um tempo obscuro, que confunde os mais esclarecidos e estarrece os ingênuos. Eles simplesmente divulgam o chegam a saber na esperança de que a humanidade desperte para esta nova forma de obscurantismo e Inquisição, que, sob a alegação da prevenção ao terrorismo se converte em si mesmo em força terrorista de Estado.

O que revelou Snowden? Este antigo assistente técnico da CIA, de 29 anos, que trabalhava para uma empresa privada – a Booz Allen Hamilton [3] – subcontratada pela Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, sua sigla em inglês), revelou aos jornais The Guardian e Washington Post a existência de programas secretos que tornam o governo dos Estados Unidos capaz de vigiar a comunicação de milhões de cidadãos.

Um primeiro programa entrou em operação em 2006. Consiste em espiar todas as chamadas telefônicas feitas pela companhia Verizon, dentro dos Estados Unidos, e as que se fazem de lá para o exterior.

Outro programa, chamado PRISM, foi posto em marcha em 2008. Coleta todos os dados enviados pela internet (e-mails, fotos, vídeos, chats, redes sociais, cartões de crédito), por (em princípio…) estrangeiros que moram fora do território norte-americano.

Ambos os programas foram aprovados em segredo pelo Congresso norte-americano, que teria sido, segundo Barack Obama, “constantemente informado” sobre o seu desenvolvimento.

Sobre a dimensão da incrível violação dos nossos direitos civis e das nossas comunicações, a imprensa deu detalhes escabrosos. Em 5 de junho, por exemplo, o Guardian publicou a ordem emitida pela Tribunal de Supervisão de Inteligência Externa que exigia à companhia telefônica Verizon entregar à NSA os registos de milhões de chamada dos seus clientes.

O mandado não autoriza, aparentemente, saber o conteúdo das comunicações, nem os titulares dos números de telefone, mas permite o controle da duração e o destino dessas chamadas.

No dia seguinte, o Guardian e o Washington Post revelaram a realidade do programa secreto de vigilância PRISM, que autoriza a NSA e o FBI acesso aos servidores das nove principais empresas da internet (com a notável exceção do Twitter): Microsoft, Yahoo, Google, Facebook [4], PalTalk, AOL, Skype, YouTube e Apple.

Por meio dessa violação, o governo dos EUA pode aceder a arquivos, áudios, vídeos, e-mails e fotografias de usuários dessas plataformas.

O PRISM converteu-se, desse modo, na ferramenta mais útil da NSA para fornecer relatórios diários ao presidente Obama.

Em 7 de junho, os mesmo jornais publicaram uma diretiva da Casa Branca que ordenava às suas agências (NSA, CIA, FBI) estabelecer uma lista de possíveis países suscetíveis de serem “ciberatacados” por Washington.

E em 8 de junho, o Guardian revelou a existência de outro programa, que permite à NSA classificar os dados recolhidos na rede. Esta prática, orientada à ciberespionagem no exterior, permitiu compilar – só em março – cerca de 3 bilhões de dados de computador nos Estados Unidos…

Nas últimas semanas, ambos os jornais conseguiram revelar, sempre graças a Edward Snowden, novos programas de ciberespionagem e vigilância da comunicação em países no resto do mundo. Edward Snowden explica que “a NSA construiu uma infraestrutura que lhe permite interceptar praticamente qualquer tipo de comunicação. Com esta técnica, a maioria das comunicações humanas são armazenadas para servir em algum momento a um objetivo determinado”.

A NSA, cujo quartel-general fica em Fort Meade (Maryland), é a mais importante e mais desconhecida agência de informações norte-americana. É tão secreta que a maioria dos norte-americanos ignora a sua existência. Controla a maior parte do orçamento destinado aos serviços de informações e produz mais de cinquenta toneladas de material por dia.

(Ignacio Ramonet: ‘Somos todos vigiados’)

A espionagem, entretanto, não é novidade. Ela sempre existiu como um mecanismo de um país conhecer outros países. Já ao tempo de Sun Tzu, o famoso autor de “A Arte da Guerra” , muitos séculos Antes de Cristo, na China, recomendava ele: Para vencer a guerra, a primeira regra é conhecer a si mesmo; a segunda conhecer o adversário. E para reconhecer o adversário ele já

 

 

advogava o uso de espiões, recomendando a valorização dos soldados que conhecessem o idioma do inimigo. Mas, sábio, registrou: A maior vitória é sempre aquela resultante da batalha que não se realizou. Certo ou errado, a espionagem dos Estados Modernos converteu-se à diplomacia  e se esmerou-se  desenvolver sutis mecanismos de acompanhamento do que vai pelo mundo, especialmente das partes do mundo consideradas estratégicas, segundo seus interesses. Não raras vezes foi ela o véu de cobertura de verdadeiras sagas na busca de informações, transformando-se em Best Sellers famosos, como os de John Le Carré.  A diferença, porém, do atual controle eletrônico, é que ela perdeu , em primeiro lugar, o vínculo com a sutileza diplomática. É exercida diretamente por órgãos de segurança interna, que contratam empresas privadas para o ofício. Escapa, pois, a própria espionagem às regras oficiais que regulam as relações internacionais entre Estados. Vai para os porões da civilidade. Ou para os andares inferiores do neo-colonialismo que dá a um país o controle sobre outros, vez que a informação é a mercadoria por excelência do mundo contemporâneo.  Em segundo lugar, ela não atua sobre negócios de Estado, mas sobre cidadãos, os quais, ficam, desde então, sob vigilância e controle de Estados estrangeiros.  Ora, isto é inadmissível! Até porque no ato de vigiar já está subentendido o de controlar e  punir. Vigia-se pan-opticamente o indivíduo na expectativa de enquadrá-lo a um certo modelo esperado de conduta. Aqui, pois, o mais abominável ponto do controle generalizado de informações: Disciplinar.  Curiosamente, Michel Foucault , no seu clássico “ Vigiar e Punir”, ao analisar a moderna instituição penal,  esclareceu a relação entre vigilância e o enquadramento disciplinar:

A nova “linguagem” do punir

Entre as páginas 90 e a 99, o autor enuncia uma espécie de “decálogo” (“Semiotécnica”, com o qual reformadores tentam influenciar com eficácia universal os comportamentos sociais)4 da política criminal, interessante pela sua evidente atualidade, mesmo no contexto contemporâneo5 :

·        Regra da quantidade mínima: visto que a pena deve ter um efeito preventivo, é oportuno que esta porte ao culpado um dano apenas um pouco maior da vantagem que o réu tenta conseguir com o delito.

·        Regra da idealidade suficiente: Segundo as novas idéias, não é mais o caso de sustentar o suplício, porque é melhor mostrar a idéia (imagem mental) da pena, ao invés que sua escarnação sobre o corpo do condenado.

·        Regra dos efeitos (co)laterais: a pena deve produzir o próprio efeito de “prevenção geral” sobretudo em confronto de quem não cometeu o delito (se chega ao paradoxo de afirmar que – se fosse seguro que o culpado não recaísse mais na própria conduta – seria suficiente convencer aos outros que ele tenha sido realmente punido, e a pena efetiva não seria nem mesmo necessária).

·        Regra da certeza perfeita: É aquilo que os juristas chamam “certeza da pena”: quem erra, deve saber preventivamente que será quase que certamente punido, e oportunamente seria, por outro lado, abolido o poder de graça, tradicionalmente reivindicado pelos soberanos.

·        Regra da verdade comum: abandono das provas legais, a repulsa à tortura, necessidade de uma demonstração lógica da existência do delito, estruturalmente análoga à metodologia da demonstração matemática.

·        Regra da especificação ideal: “É então necessário um código, e que seja suficientemente preciso para que cada tipo de infração possa estar claramente presente nele.”6

Disciplinar

Segundo Foucault, o afirmar-se da prisão como forma generalizada de sanção para todo tipo de crime é resultado do desenvolvimento da disciplina registrado nos séculos XVIII e XIX. As analises do autor se voltam a criação de formas particularmente refinadas de disciplina, tendo como objeto os mais pequenos e detalhados aspectos do corpo de cada pessoa. Sugere também a idéia que a disciplina tenha gerado uma nova economia e uma nova política dos corpos. As instituições modernas pediam que os corpos fossem individualizados segundo os seus escopos, e também para o adestramento, a observação e o controle. Portanto, sustenta, a disciplina criou uma forma de individualidade totalmente nova para os corpos, que lhes permitiu adimplir o dever nas formas das organizações econômicas, políticas e militares que emergiam na idade moderna e ainda continuam.

Esta disciplina das individualidades constrói para os corpos que controla quatro características, e constrói por reflexo uma individualidade que é:

·      Celular – determina a distribuição espacial dos corpos;

·      Orgânica – assegura que as atividades requeridas para os corpos sejam “naturais” para os mesmos;

·      Genética – controla a evolução no tempo da atividade dos corpos;

·      Combinatória – faz com que a força combinada de mais corpos se fundam em uma força de massa.

Foucault sugere que esta individualidade possa ser integrada em sistemas oficialmente igualitários, mas que utilizam a disciplina pra construir relações de poder desiguais.

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Pan-óptico, metáfora e pesadelo da escuta-vigilância .

Segundo o autor, a disciplina cria “corpos dóceis”, ideais para as exigências modernas em questões de economia, política, guerra – corpos funcionaisem fábrica, nos ordenamentos regimentais, nas classes escolásticas. Mas, para construir corpos dóceis, as instituições que promovem a disciplina devem conseguir:

1.    Observar e registrar os corpos que controlam;

2.    Garantir a interiorização da individualidade disciplinar nos corpos que são controlados.

Ou seja: a disciplina deve impor-se sem uma força excessiva, através de uma atenta observação, e graças a tais observações os corpos se forjam na forma correta. Disto deriva a necessidade de uma peculiar forma de instituição que – segundo – Foucault é bem exemplificada pelo Pan-óptico deJeremy Bentham.

O Pan-óptico era a suma encarnação de uma moderna instituição disciplinar. Consentia uma constante observação caracteriza pela “vista desigual”. Efetivamente, talvez a mais importante característica do Pan-óptico resida em seu design8 , graças à qual o recluso não poderia nunca saber quando (e se) efetivamente era observado. De tal forma a “vista desigual” determinava a interiorização da individualidade disciplinar, e o corpo dócil requerido pelos internados. Isto quer dizer que se é menos induzido a transgredir leis ou regras se se acredita observado, mesmo quando na realidade a vigilância não é (momentaneamente) praticada. Portanto, a prisão, especialmente se veste o paradigma do pan-óptico, oferece a forma ideal de punição moderna. Segundo Foucault, este é o motivo pelo qual a punição generalizada, “gentil”, das correntes e trabalhos forçados teve que ceder lugar ao cárcere. Este último era a modernização ideal da punição, e era, portanto, natural que com o passar do tempo prevalecesse.

Fornecida a demonstração lógica do triunfo da prisão sobre outras formas punitivas, Foucault dedica o resto do seu livro ao exame preciso da sua forma e função na nossa sociedade, para por às claras as razões do seu uso continuo, e para analisar os supostos efeitos de tal emprego.

Daí porque tenhamos que agradecer os gestos de Snowden, Assange e Manning, os três pagando caro pela coragem de revelar ao mundo as manobras insidiosas de um Estado outrora liberal e que hoje capitula ao obscurantismo na defesa do chamado 1%, ou seja , uma pequena elite mundial que insiste em manter um modelo econômico que exclui da mesa 1 bilhão de famintos;  do emprego mais de 200 milhões de trabalhadores; da dignidade metade da população do globo e em processo de empobrecimento uma das grandes conquistas dos dois últimos séculos: a classe média.  Hora de re-valorizar o PREMIO NOBEL DA PAZ, conferindo-o aos três heróis contemporâneos.

Daí porque tenhamos, também, que condenar todas as atitudes semelhantes de controle e vigilância,  que operam não no atacado das Grandes Potências, mas no varejo de pequenos e grandes países e até mesmo municípios. Causa muita estranheza quando um Prefeito, uma Prefeita de cidade do interior advirta  jovens manifestantes que expressam nas ruas seu protesto que é , antes que tudo, de liberdade de expressão, antes de ser contra o que for. Em boa hora a Presidente Dilma e o Governador Tarso, aqui no meu Estado, RS,  evitaram este tipo de ameaça, engolindo, mesmo a contragosto, muitas das consignas bradadas pelas praças. É este tipo de atitude que permite aos observadores de várias partes do mundo avaliar o caso das Manifestações recentes no Brasil, como um alento para o aprofundamento da democracia e não o contrário.

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MORDOMIA: HERANÇA ODIOSA DO COLONIALISMO

Paulo Timm – Torres, julho 05 – Copyleft

Os últimos dias o país, já cansado de guerra, como a velha Tereza, soube-se do verdadeiro descalabro de autoridades no uso de jatinhos da FAB para passeios, rodeios e outros floreios de caráter eminentemente pessoal. Um horror! Descobre-se que  as ditas autoridades, de todos os Poderes, de todos os afazeres, para todos os prazeres, há tempos fazem uso deste recurso e até o acham natural. Chega a ser de pasmar ouvir do experiente – talvez experiente até demais, ou até mesmo esperto, como diria a Presidente! – que ele realmente use os aviões da FAB em seus traslados porque os mesmos “ são de representação do Presidente do Senado” . Ora, Senador, em primeiro lugar, o Senhor, se tivesse vergonha na cara, não estaria à frente do Congresso Nacional. Seu nome nesta função – ou cargo, ou encargo – já foi rejeitado por um milhão de brasileiros, em abaixo assinado que lhe foi entregue e , mais recentemente repudiado  em manifestações de rua por todo o país: FORA RENAN!!! Em segundo lugar, deveria saber, como uma autoridade importante, as regras de uso dos jatinhos da FAB. Dentre elas não está contemplado o uso dos mesmo para ir à casamentos, batizados ou estréias de amigos e pares da Grande Casa Celestial – (Senadores, na intimidade se referem ao Senado como “ o céu” tão cheio de regalias ali dispõem) . Digo-o por ouvi-lo pessoalmente, nos anos em que lá trabalhei como Assessor Técnico de um Senador durante a Constituinte.  Finalmente, Renan: Se manque. Fique quieto. Preserve seu mandato …

A questão, no entanto, do uso dos jatinhos traz à tona o tema da Reforma Política que Governo, Partidos e Políticos de todos os matizes tentam reduzir à uma mera questão de ordem : Plebiscito ou Referendo, agora ou depois…¿ A Reforma Política, no Brasil, se impõe como uma medida revolucionária, em obediência ao clamor popular, nos moldes da Revolução de 30, embora por caminhos legais, para romper com um estilo do fazer político entre nós. Vargas, a ferro e fogo, acabou com a eleição a bico de pena, que seus correligionários aqui no Rio Grande usaram e abusaram. A tal ponto que levou ao banho de sangue de 1923, já prenunciado duas décadas antes , por inspiração de Silveira Martins. Mas enfim, parece ter sido nossa versão napoleônica da modernização. O país, bem ou mal, mudou. O século XX se divide inevitavelmente entre AV e DV, ou seja, Antes de Vargas e Depois de Vargas. Agora, o momento aponta para a necessidade de uma nova ruptura. Trata-se de mudar os atores, os mecanismos, as instituições, a cultura política. A que aí temos é ainda o retrato do Império, o qual  se nutriu ,  por um  Bragança, como a Igreja que sucedeu ao Império Romano pelas mãos de Constantino, aos ritos e mitos da Coroa Portuguesa. Não obstante, o país mudou, bem ou mal educou-se e 70% dos eleitores, que são mais da metade da população, têm acesso à INTERNET e redes sociais, considerando-se que 47% deles são pessoas politizadas

No Brasil,  as redes reúnem  67 milhões de  internautas, mais de 1/3 da população,  perto de 70% dos eleitores,  conforme a Hello Research, (FSP,14.12.2012).

Todo mundo sabe e acompanha tudo o que vai pelo mundo: A crise na Europa, a Primavera Árabe, o Outono Turco, a cotação do dólar, a indicação do Papa etc. Veja-se a realidade dos eleitores, sendo que cerca da metade deles já têm nível médio e superior completo:

Este é o novo cenário político do Brasil: Ampliação considerável da cidadania com pleno direito à informação e ao voto. Este o milagre da redemocratização, consagrada pela Constituição de 1988 e que desemboca suas aspirações no espaço público. Tenta as urnas, espera o melhor delas, como nas eleições à Presidente desde 1989, saltando, inclusive de uma à outra opção ideológica. E , depois de 30 anos da inauguração da Nova Republica, demonstra um certo cansaço com a reprodução constante da  cultura política em círculos concêntricos. Claro que  povo brasileiro é inteligente e esperto e, por isso mesmo, começa a se fartar do caráter imperial da vida pública no Brasil. Um dia a Presidente Dilma vai à Roma e se sabe, sem que ela tenha desmentido, que foi acompanhada de um séquito invejável de piedosos cristãos sedentos de ver a posse do novo Papa do alto de aposentos  caríssimos num Hotel de Luxo. Agora sabemos que jatinhos da FAB são usados indiscriminadamente em viagens pessoais do Presidente do Senado , do Presidente da Câmara dos Deputados, do Presidente do STF. Estes jatinhos ficam à disposição de nada menos do que 30 Ministros, a seu bel prazer. Sabe-se, também, que o Parlamento brasileiro é dos mais caros do mundo, sendo o IDH do Brasil, que mede as condições de vida de seu povo, um dos mais baixos. Verdadeira vergonha nacional! Tem-se , também, como certo que funcionários comissionados crescem como erva daninha em todas as instâncias da Federação, com salários de causar espanto à metade da população que, segundo o Censo de 2010, não ganha nem meio salário mínimo. Só na esfera federal somam mais de 20 mil. Todos apaniguados de algum político da Base Aliada, esta verdadeira excrescência que em nome da governabilidade se exaure em regalias. Mordomia, que segundo o dicionário é ofício ou cargo de mordomo, já ganhou um sentido popular como aquisição de bem-estar material e conforto, a partir destas regalias, já identificadas como privilégios de agentes públicos. (Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-07-05].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/mordomia;jsessionid=75vifBs1qnmT9iJpM-EA2Q__>.)

O povo brasileiro, Presidente Dilma, anseia realmente por uma Reforma Política. De certa maneira, embora esta consigna não estivesse inscrita em todas as bandeiras era ela que informava as grandes manifestações de rua pelo país inteiro. Está correto sintetizar, pois,  pelo imperativo de mudança na cultura política do país, o clamor das praças e ruas. Mas ela não se reduz à perfunctória mudança de procedimentos quanto ao voto ou financiamento de campanha. O grito é de guerra. Guerra á uma cultura política que faz do espaço público um lugar privilegiado a quem nele ascende. O cargo público é um fardo não um farto. De seu postulante ou ocupante se exige uma adequação aos princípios que desde Cícero, passando por Santo Agostinho e Santo Tomaz são cultivados como requisitos da vida pública. Mas isto não ocorre no Brasil. Parece que copiamos a era colonial na qual os cargos eram ocupados por fidalgos leais à Coroa com o só compromisso de jamais trabalhar e na expectativa de “ fazer o Brasil”.

Até quando…¿

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A democracia digital em marcha

Paulo Timm – Torres, julho 04 – Copyleft

“É preciso agregar a internet, as redes sociais e as mensagens pelo celular como instrumentos de participaçãono processo de construção da reforma política, seja ela realizada por uma Constituinte Exclusiva, por um Plebiscito ou por um Referendo ou, ainda, por todos estes instrumentos conjugados.”

      Benedito Tadeu César – in “Uma proposta para (re)legitimar as instituições políticas brasileiras”

“O parlamento digital, global, instantâneo, é uma revolução midiática extraordinária que atende, perfeitamente, as demandas das massas que estão nas ruas, ávidas por participarem das decisões, tirando essa prerrogativa das mãos e mentes dos que perderam, no Congresso, credibilidade e utilidade para execução dessa tarefa cidadã.”

Aylê Salassié  in “Parlamento Digital” – www.independenciasulamericana.com.

 ***

A Praça, segundo o Poeta, é do Povo. A Rua, republicana, democrática, universal. Se não quereis ouvir as praças e as ruas, demitam-se da vocação pública.

A democracia, governo do povo, que Lincoln completou dizendo que, além de seu governo, o era também por ele e para ele: o povo. Na antiga Grécia os cidadãos se reuniam na Praça , que chamavam   Ágora, e decidiam sobre a administração e destinos das suas cidades. Ali se deu o começo deste sistema,  aberto, de tomada de decisão sobre a coisa pública e que fez o orgulho do povo helênico. Por onde passaram, deixaram seu rastro, mesmo quando o faziam sob o tropel de cavalos e hoplitas armados, como no tempo de Alexandre, o Grande,  sobre a Pérsia. Ou quando, conquistados, como foram pelos romanos, transferindo este ideal como um legado civilizatório universal. Na época dos gregos suas cidades eram pequenas, jamais chegaram a unificá-las num grande Império. A cidadania, menor ainda, pois dela eram excluídos os escravos, as mulheres e estrangeiros. Assim, era possível reunir todo mundo na Praça e votar diretamente as questões da cidade. A vontade popular era imperativa. À época de Roma, que chegou a um milhão de habitantes, num Império que juntava quase 50 milhões, essa democracia direta tornou-se mais difícil e complexa e novas instituições foram sendo implantadas para atender o a vontade popular. De lá para cá, o processo exigiu novas modificações, ao tempo em que a própria cidadania foi se expandindo até alcançar praticamente toda a população  adulta dos países democráticos. Adotou-se o sistema tripartite de Poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário, consagrou-se o modelo de organização em Partidos Políticos para o acesso ao Poder, implantou-se o sistema do voto direto, secreto e universal e, sobretudo, recorreu-se o conceito de mandato representativo para o exercício de funções públicas, á exceção do Judiciário, ainda profissionalizado. Ainda assim, em alguns países os Juízes locais são também eleitos e, em outros, não necessariamente advogados.

Contudo, mesmo sendo a democracia um salto civilizatório, nem sempre se lhe pode creditar as melhores ou mais sábias decisões. Daí porque, ao longo da história, tenha enfrentado severas restrições. A principal crítica vem dos intelectuais-  ou mais intelectualizados – que não se conformam que assuntos públicos de grande envergadura, como sistema financeiro, energia ou tecnologia, sejam não só decididos por gente sem qualquer noção do que tratam, como até conduzidos por líderes pouco instruídos. Muitos estudiosos criticam a insuficiência do regime republicano de formação de lideranças para o exercício da Política, justamente pelo fato de que não  exige qualquer nível de  escolaridade aos candidatos a cargos públicos. Sócrates, Pai de Filosofia, não confiava muito na democracia, a qual, afinal, lhe condenou à cicuta. Platão preferia um sistema aperfeiçoado de Política em que os Governantes seriam os Filósofos. Cristo não escreveu sobre Política, mas sofreu na carne a condenação em praça pública de seus concidadãos judeus. Mas assim é a democracia: um sistema imperfeito, sujeito, sempre ao aperfeiçoamento através da problematização do espaço público pelo próprio público. Não se exige de quem participe das decisões políticas, senão sua opinião expressa na urna, na convicção de que qualquer pessoa tem condições de decidir sobre o certo e o errado, o justo e o injusto, e o melhor e o pior para suas vidas.

O grande problema atual das democracias não é nem a liberdade  dos atores em seu concurso, nem, eventualmente, sua relativa desqualificação para decidir sobre temas cada vez mais complexos. Seu maior problema reside no processo de representação, através do qual os eleitores transferem a sua soberania a um delegado que tomará as decisões sobre a coisa pública por um período de tempo. O parlamentarismo conseguiu o feito de combinar o mandato temporário do Poder Executivo pela obrigatoriedade do mesmo em manter a confiança do Poder Legislativo, que o elege. Perdeu, caiu… Tem a grande vantagem, sobre o Presidencialismo, de demitir sem hiatos institucionais  um Primeiro-Ministro, diante de uma crise ou insatisfação manifesta dos eleitores. Ainda assim, resta sempre o mandato parlamentar por um período de tempo. Um sistema mais recente, denominada recall, permite a avaliação periódica do parlamentar pelos seus eleitores, forçando-o à demissão e substituição, mas este mecanismo só funciona em pequenos círculos eleitorais, como os Distritos, dificilmente em pleitos gerais. Outro problema da representação diz respeito aos ritmos em que operam os vários sistemas – Político, Juríco, Econômico – numa sociedade moderna. Autores italianos como Di Giorgio têm meditado sobre isto.  Estes ritmos nem são plenamente concertados entre si, como ficam cada vez mais desconcertados com a cidadania. As pessoas, simplesmente, deixam de se reconhecer nos próprios líderes que escolheram e ficam cada vez mais arredias ao processo eleitoral e à vida pública. A revolução eletrônica multiplicou este descompasso, levando ao total isolamento da Sociedade dos Espaços Públicos. Rigorosamente, nem a Praça, nem a Rua são hoje freqüentados como antigamente. Os laços comunitários se refazem , nas grandes cidades, em organizações de tipo religioso, daí a importância de Igrejas Pentecostais, ou Clubes de Serviços como Lions, Rotary, ONGs e trabalho voluntário. Mas carecem de articulação entre si e com o Estado. Funcionam como Novos Agentes Sociais, mas sem “ capacidade política “ . Caso, por exemplo, um dirigente do poderoso Greenpeace queira se candidatar na sua cidade ou no seu país, terá que pedir ingresso ao “dono “ de algum Partido na sua Zona ou Distrito Eleitoral. Não obstante, as redes sociais se entrelaçam num ritmo frenético de intercâmbio de informações e reclamos de novos serviços públicos. Este fato, porém, acentua ainda mais a crise de representatividade nas democracias modernas e, curiosamente, expõe o sistema justamente nos seus elos mais fracos, como na Primavera Árabe, no Outono Turco ou mesmo no tormentoso Inverno Brasileiro.

Lamentavelmente, o sistema político tradicional ainda não percebeu adequadamente a Crise de Representatividade que se traduz na perda de credibilidade popular , independentemente do Governo, nas instituições públicos. Ouve-se, repetidamente, até mesmo da Presidente da República, que o sistema é bom, que o Governo é bom, e que o máximo que podemos fazer são pequenos consertos. Atenção: A questão não de conserto, é de concerto. O sistema político, principalmente no Brasil, que herdou do colonialismo intragáveis privilégios aos detentores de funções públicas,  obscuridade nas funções do Estado e recorrente vícios, tem que ser revisto radicalmente. Não só para absorver avanços já praticados por sistema democráticos consolidados como para revolucionar completamente o critério de representatividade delegada. Urge voltar à Praça, agora convertida em Aldeia Digitalpara recuperar o que é fundamental na democracia, que não é nem o voto, nem o Parlamento, nem os Partidos, mas a vontade popular.  Não será fácil, por certo, este salto. Nem imediatamente possível, mas sua reflexão, hoje, está muito mais nos blogs independentes e em artigos livres de intelectuais voltados ao assunto como Aylé Selassié , em Brasília, e Benedito Cesar , em Porto Alegre, do que nos analfabetos digitais carregados de votos, tal como certos doutores, que parecem burros carregados de livros. O grande desafio não consiste, pois,  em se saber se haverá  ou não Plebiscito , mas se seremos capazes de recuperar a credibilidade do povo brasileiro em suas instituições públicas ouvindo as demandas digitais. O resto, sabia outro grande Poeta, é silêncio. Ou reedição de uma das versões contemporâneas do fundamentalismo.

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Enfim, a Reforma Política de Dilma

Paulo Timm – Torres julho 02 – Copyleft

Todos os analistas são unânimes em afirmar o cansaço da sociedade brasileira com o modelo político do país,  a partir da  perda de credibilidade popular nas instituições da democracia representativa. Todos apontam, também os riscos de amplas manifestações populares sem um pauta clara de reivindicações no sentido do que se convencionou chamar de Reforma Política, indispensável à este modelo. Ora clamam contra a PEC 37, já rejeitada; ora contra a presença do indigitado Feliciano na Comissão de Direitos Humanos da Câmara; ora reclamam a saída de Renan Calheiros da Presidência do Senado; ora, genericamente, contra os privilégios dos senhores parlamentares em todas as instâncias da federação. Sintetizar os altos índices de rejeição  ao Congresso Nacional, aos Partidos , aos Políticos em geral com esta miríade de clamores, eis uma tarefa realmente difícil, da qual demitiu-se a Presidente, ao entregar as indagações do almejado Plebiscito aos dos outros Poderes. Não será nada fácil equacionar o enigma.

A Reforma Política é assunto antigo. Vem se arrastando desde os anos 90. Vejam esta notícia, resgatada em boa hora por Rejane Xavier- FB:

Câmara recolhe sugestões para projeto da reforma política
Por: Agência Câmara

A Câmara promove hoje comissão geral para discutir a reforma política. As propostas que forem apresentadas no debate serão encaminhadas pela Frente Parlamentar pela Reforma Política com Participação Popular à Comissão de Legislação Participativa. Essa comissão analisa sugestões da sociedade e as transforma em projetos de lei. A comissão geral será realizada às 10 horas, no Plenário Ulysses Guimarães.”

Pensaram que foi hoje? Ledo engano: a notícia é de 2009

 

Vários Partidos , ONGs e Sites  vêm se debruçando sobre o tema e tentam sensibilizar eleitores e opinião pública. A questão central, porém, dificilmente é tratado, preferindo-se o elenco de providências que, supostamente poderiam arejar o sistema político. Mas será que há uma questão central deste sistema a ser trazida à borda do tempo com o propósito de submeter-se à problematização¿ Penso que sim . Vejamos:

A vida pública, no Brasil, foi herdada do Período Colonial e sem sutilezas transferida para um sistema oligárquico de dominação. Durante a Colônia, o exercício da função pública era uma prebenda de El Rei de Portugal a súditos leais que vinham fazer a vida no Brasil. Em contrapartida à graça recebida, candidatavam-se , inclusive às Câmaras Municipais, única instância permitida de exercício de Poder Político assegurada pelo voto. E quem votava¿ Votavam os reinóis e os nativos proprietários, numa sociedade marcada pela escravidão e pela pequena presença do trabalho independente. Num modelo como esse, a idéia de cidadania era sempre a da obtenção de vantagens na função pública, a qual se estendia, no regime mercantilista da colônia aos direitos de exploração de alguma atividade econômica, tal como o monopólio do sal  ou de arremate de couros. Há sempre, no modelo uma íntima associação de interesses privados com a função pública, ambas asseguradas pelo vínculo com o Estado. Vicotr Nunes Leal, no clássico Coronelismo, Enxada e Voto insistiria neste fato: O acesso ao Estado como mecanismo de consagração social.

A República Velha pouco alterou este modelo. Vargas o abalou substintuindo-o, porém, por outra oligarquia de base diretamente estatal. Em todo o Brasil, nas Interventorias Estaduais, criaram-se novos líderes ligados ao Centro de Poder, criando, com isso, tensões em suas regiões de origem. Abundam pelo país os Barata, os Magalhães, e vários outros, sendo o caso de Pedro Ludovico, um jovem médico goiano,  varguista de primeira hora, que chegou à necessidade de transferir a capital do Estado para um novo sítio – Goiânia – pela incapacidade de Governar na antiga Capital da Província , a cidade de Goiás (Velho). Deste embate derivaram as tensões entre UDN e PSD até que, depois da Guerra, o PTB, de origem urbana acenasse para um novo tempo.

Todos sabemos no que deu o modelo varguista: a catástrofe de 1964. Depois a ditadura. Enfim a Redemocratização, em 1985, cujo vértica é a Constituição de 1988.

A grande novidade da redemocratização foi a inclusão de milhões de brasileiros no processo eleitoral, com não menor importância da criação de um novo Partido, de caráter popular, o PT, de alcance nacional. O Brasil, antes da redemocratização, praticamente, não ia às urnas. E quando ia, limitava-se muito pelos óbices à liberação ideológica plena. Este fato , porém, se choca com um estilo de vida pública incompatível com as aspirações democráticas do país. Não tem mais cabimento o acúmulo de privilégios que os políticos acumulam pelo só fato de terem sido eleitos ou exercerem cargos públicos. Tampouco é intolerável o conluio entre interesses privados e exercício de funções públicas. A sociedade não aceita mais este modelo e contra ele que se insurgem, hoje, milhões de jovens no país inteiro, os quais, inclusive, já pouco conhecem das origens do PT e outros partidos ditos populares. A redemocratização já tem 30 anos e muitos dos que estão nas ruas já a tomam como um “ passado remoto “ . Desejam , simplesmente, um modelo de representação política mais atualizado aos novos tempos, mas também à nova realidade da sociedade brasileira, mais informada, com acesso  multitudinário aos cursos superiores e de olho cada vez maior no que vai pelo mundo e pelo país, graças à INTERNET. O que talvez eles não saibam é que, mudando o caráter do sistema político no Brasil, um novo conceito de cidadania lhe corresponderá, cada vez mais afirmativo de uma substância de direitos e obrigações. Poderá o Estado, certamente, prosseguir com suas Políticas Sociais, mas, certamente, menos atribuídas a este ou aquele Partido e mais à própria essência do Estado contratual.

Isto, naturalmente, não está nos cálculos do que hoje, a Presidente Dilma, pensa e propõe como Reforma do Estado. Incorporado às tradições da política clientelista, o PT não consegue ver nas manifestações um momento de crise de instituições. Prefere  preferir o reparto de responsabilidades com as origens do próprio mal: o coronelismo, agora urbano, com retoques de fundamentalismo religioso.

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A COPA DAS FEDERAÇÕES É NOSSA!

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Trio Irakitan canta “Touradas em Madrid” (1959)

www.youtube.com

O famoso trio canta um grande sucesso carnavalesco, “Touradas em Madrid”, composta por Braguinha (João de Barro). Uma cena do filme “Garota Enxuta” de JB Tan…

Quem pensou que eu  iria escrever sobre futebol, enganou-se… Não entendo nada da matéria. Pouco vejo. Mas jamais perco os jogos da seleção nas Copas, seja a do Mundo , seja a das Confederaçôes. Ontem, como sempre, vi o jogo, preocupei-me ao verificar a precisão do tic-tac espanhol mas , afinal, ali vi, no campo do Maracnã, a essência do Brasil: Energia, Criatividade, Incrível capacidade de sobrevivência e …um pouco de sorte.

Assim é o Brasil: um grande enigma ‘a espera de decifração. Como pudemos sair da virada do século XIX para o XX de pouco mais de dez milhões de habitantes para quase 200 milhões um século depois¿ A resposta não é fácil, mas aponta para o que Darci Ribeiro chamava de “ gentidade em fazimento” , um povo que come farinha de pau, ama loucamente e extravasa sua energia no carnaval, no futebol, nas manifestações religiosas e, de tempos em tempos, em manifestações de caráter político. Neste ano, passado o carnaval, estamos vendo a coincidência deste fenômeno: juntou-se a Copa das Confederações, a vinda do Papa e a explosão das ruas. Ninguém sabe, ainda em tudo isto resultará. Uma coisa é certa: O Brasil existe! E começa a apresentar uma fisionomia de crescente participação popular em todos os níveis da sociedade: gays desinibidos pelas ruas, mulheres na Política, ídolos do futebol com consciência, negros nas Universidades e altos cargos da República, trabalhadores em ação, sendo de ressaltar o fato simbólico de que um operário se tornou Presidente da República e um dos principais líderes do país, jovens estudantes mobilizados a ponto de forçar a UNE à visibilidade, blogs em número crescente inovando no campo do jornalismo cidadão, redes sociais em expansão, como lembra o jornalista Aylé Selassiê :

No Brasil,  as redes reúnem  67 milhões de  internautas, mais de 1/3 da população,  perto de 70% dos eleitores,  conforme a Hello Research, (FSP,14.12.2012).

Cerca de 47% dos internautas são pessoas politizadas.

Alvíssaras!

Contudo, para não frustrar os torcedores, transcrevo o comentário de meu amigo brasileiro, Alessandre Galvão, residente em Covilhã, Portugal, onde nos encontramos, todos os anos, nesta época, renovando laços de  amizade e impressões:

Algumas impressões sobre a CofenCup 2013

Alessandre Galvão – Covilhã, Portugal


O Brasil passou a ter um time titular, um modelo de jogo e uma dinâmica de ataque. Pode-se concordar em maior o menor grau, mas pelo menos há alguma coisa. O Brasil 2013 parece mais com o de 1994 de Parreira que com o de 2002 do próprio Felipão. Uma defesa sólida, com um goleiro que já pouca gente acreditava, dois zagueiros no auge e laterais que sobem menos na seleção que nos seus clubes. Dois volantes, um “cão de guarda” (Mauro Silva/Luís Gustavo) e um “chefe” (Dunga/Paulinho). Temos também o meia de transição que faz o trabalho pesado (Mazinho/Oscar) e o atacante reconvertido em marcador, apoio do lateral ou até ponta (Zinho/Hulk). Tudo isso para os da frente poderem brilhar. Isso funcionou em 94 e falhou em 98. Poderá funcionar novamente em 2014? Dependerá de muitos fatores, mas creio que em termos de entrosamento tudo irá melhorar, então prevejo um Brasil mais forte no ano que vem. E será preciso, pois se vimos que a Itália, França, Inglaterra e Espanha (especialmente essa) não são esse bicho papão todo em Terras de Vera Cruz, os perigos maiores são a eterna rival Argentina e a excelente seleção alemã.

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O DIREITO DE RESISTENCIA

Paulo Timm – Economista, Prof. UnB, Editor Torres Revista Digital –www.paulotimm.com.br

“Quando um governo, ainda que bem intencionado e eficiente, faz com que sua vontade se coloque acima de qualquer outra, não existe democracia. Democracia implica autogoverno, e exige que os próprios governados decidam sobre as diretrizes políticas fundamentais do Estado.”

 (DALLARI, Dalmo de Abre – 2009, p. 311).

O Brasil vive um momento ímpar de sua vida política. Sem aviso prévio, nem sintomas visíveis de grandes descontentamentos sociais , eis que a economia está a pleno emprego, consumo e renda das classe populares estão em alta e há um clima de liberdades públicas jamais visto, o povo explode nas ruas exigindo mudanças. A perplexidade, embora já atenuada,  ainda é muito grande. As análises,  divergentes.  As manifestações tomaram corpo no dia 13.06.13 na cidade de  São Paulo. Do dia 17.06.13 ao dia 26.06.13. (10 dias)  já foram  registradas 587 manifestações pelo Brasil, mobilizando 2.685.830 manifestantes nas ruas. E não param. Há notícias de que o país se move cada vez mais, pressionando o sistema Político a reagir.

O Executivo , através de fala da Presidente Dilma em cadeia nacional no dia 24, marcou uma posição democrática protocolar, dando início à uma série de conversações no intuito de acalmar a crise. Aponta, primordialmente, para a necessidade de uma Reforma Política, cujos contornos e processos ainda são sombrios. O Legislativo, cujo Presidente é o Senador Renan Calheiros, um dos alvos das manifestações,  teme um “ Incêndio do Reichstag” e se apressa em salvar os dedos – e alguns aneizinhos…! – : Aprovou em menos de dois dias projetos que deitariam no sono esplêndido por anos: Passe Livre para estudantes, Destinação do Pré Sal para educação (75%) e saúde (25%), fim da PEC 37 que inibia o Ministério Pública em investigações criminais contra políticos. Mas ainda falta muita coisa… O Judiciário que tem sido o mais poupado nas ruas, até porque segundo Pesquisa Data Folha, é, dentre os Poderes da República, o que está com maior credibilidade, tendo no seu titular , Ministro Joaquim Barbosa , um nome prestigiado, nada diz. Mas todo mundo sabe: Está em conflito com o Governo e com o Legislativo e se inclina `as manifestações .

A sociedade civil – organizada – também começa a se manifestar. A OAB mobilizou-se imediatamente para descartar o Plebiscito da Reforma Política. Não está muito claro se conseguiu porque o Governo já acionou a Justiça Eleitoral para implementá-lo com urgência. Como…¿ Sobre o quê…¿ Ninguém sabe ainda. As Centrais Sindicais começam também a se mobilizar. Seu propósito, como sempre, é o que denominam PAUTA DE REIVINDICAÇÕES, mais voltada à demandas trabalhistas do que mudanças de rumo na Política. Mas acabarão engrossando o caldo das manifestações ao chamar á Greve Geral no próximo dia 07 de julho. O MST, o maior e mais representativo movimento social, ainda está quieto. Mas, a julgar pela entrevista do seu líder J.Pedro Stedile, estão mais propensos à crítica ao Governo do que à sua defesa, como quer, aliás o ex- Presidente Lula. Depois de muitos dias de silencia e reflexão ele evita a defensiva e vai à luta: “ Se a direita quer a luta de massas, vamos colocar nossos movimentos sociais nas ruas”. Com essa atitude Lula marca não apenas uma divergência com Dilma, que  evita classificar as manifestações como conservadores , como uma nova etapa nos conflitos de rua. Podem eles, doravante, a se realizar a ameaça de Lula, se transformarem em palco de antagonismos ideológicos. O resultado, além das tensões, será, inevitavelmente, o de jogar as manifestações para os braços – mesmo! – da direita. Como diz o povo: “ Quem leva, traz de volta…”.

Nesse cenário de preocupações e incertezas é sempre bom voltar aos clássicos e às experiências históricas como inspiração `a análise.

Começo pelas experiências: 2013, no Brasil, não tem nada a ver nem com maio de 68 na França, nem com as Primaveras do Oriente Médio, Occupy Wall Street ou Indignados. Muito menos com 1964 no Brasil ou 1973 no Chile. Nosso caso é único. Trata-se de um esgotamento do modelo político do país, num quadro de modernização tardia e de demorados reflexos sobre as condições de vida de grande parte da população. Aqui ninguém quer derrubar nem o regime, nem o Governo, nem a democracia. Se fizesse alguma comparação, o situaria mais com o ocaso da República de Weimar, em 1933, do que com os casos citados.

Quanto às manifestações, elas, desde os primórdios da Ciência Política moderna, são justificadas pelo princípio do Direito de Resistência. Hobbes, Locke, Rousseau e , principalmente o grande filósofo do iluminismo, E. Kant, para não falar em Marx, o justificaram.

“O Direito de resistência é o direito, afirmado de diferentes formas ao longo da história, que qualquer pessoa tem de resistir ou insurgir contra qualquer fator que ameace sua sobrevivência ou que represente uma violência a valores éticos ou morais humanistas. O direito de resistência é registrado desde a China Antiga1 e foi usado para justificar várias rebeliões, como a Revolução Francesa e a Revolução Americana (guerra de Independência dos Estados Unidos).” – wikipedia

É bobagem, senão pura leviandade, pois, condenar sumariamente as manifestações de rua no Brasil, à luz da defesa de um Governo, que longe de ser “da” esquerda, é um Governo, sim , democrático e popular, mas que já não consegue manter sua hegemonia em seu próprio campo, tão longe foi com sua política de compromissos com a atrasada “ Base Aliada “. E daí aquela velha máxima: “ Se eu não consigo convencer a turma lá de casa, como vou convencer os da Rua…¿”

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ÉTICA E MORALISMO

Paulo Timm – Escrito e publicado em 2012 http://www.paulotimm.com.br/site/pags/noticias3.php?id=118&layout=

A Política não é apenas uma dentre várias opções éticas das sociedades organizadas, ela a única.

O alastramento da corrupção exalta o denuncismo e acaba gerando uma histeria moralista nociva à democracia.

Vivemos, no Brasil, o desafio mítico do eterno retorno. Tão logo a nação ultrapassa, não sem traumas, uma fase de turbulência  política gerada pelo afloramento de denúncias graves de corrupção na vida pública, logo depois eclode outra ainda maior. É do Senador Pedro Simon a advertência feita recentemente: “Diante do que estamos assistindo hoje, o caso Collor seria encaminhado às Pequenas Causas…” Isto, tendo em vista o volume muito maior de escândalos, hoje, do que à época do Ex-Presidente Collor.

Na minha provecta idade vi passarem vários Governos, desde Vargas, que conheci quando estudava no Colégio Estadual Cícero Barreto e fomos levados à Avenida Rio Branco, de Santa Maria , para saudá-lo, como Presidente, em visita àquela cidade. Vargas já sofria diante das acusações de que seu Governo mergulhara num  “mar de lama”. Não resistiu. Suicidou-se no fatídico 24 de agosto de 1954, tentando, com o gesto, reverter a histeria moralista que dominara a imprensa e parte da opinião pública, na defesa da linha política de seu Governo. Conseguiu. Juscelino, no outro ano, elegeu-se Presidente, com o apoio das mesmas forças que sustentavam historicamente Vargas: as massas urbanas. Mas logo JK se veria envolvido pelas mesmas acusações que haviam sangrado Vargas. Ele  ter-se-ia convertido na sétima maior fortuna do mundo, angariada por desvios de recursos públicos. Tudo invenção, embora, naturalmente, em seu Governo, como no de Vargas, como nos que se seguiram, a moralidade nunca tenha sido um grande predicado na Administração Pública do país. Prova-o o fato de que ocupamos um nada invejável lugar 69ª  no Mapa da Corrupção Mundial elaborada pela Transparência Internacional, em 2010.

País ainda permanece ao lado de nações com alta percepção de irregularidades.

BBC- 30/11/2011 – Acesso 11 abril 2012

 

A nota do Brasil no Índice de Percepção de Corrupção, divulgado nesta quarta-feira pela ONG Transparência Internacional, evoluiu ligeiramente, de 3,7 para 3,8, na comparação com o ano passado.

A nota, no entanto, ainda é baixa na escala que vai de 0 (muito corrupto) a 10 (muito limpo). Apesar da leve melhora, o Brasil caiu na listagem, de 69º lugar em 2010 para 73º lugar neste ano, entre os 182 países pesquisados.

A queda no índice se explica pela melhora mais acentuada de outros países no último ano e pela entrada de outros na medição, como as Bahamas e Santa Lúcia, cuja colocação é melhor que a brasileira.

Na escala de 0 a 10, o Brasil obteve nota 3,8, ficando em 73º lugar entre os 182 países pesquisados pela organização Trasparência internacional. A situação é praticamente estável em relação à lista do ano passado, quando o país obteve nota 3,7, ficando em 69º lugar.

O país mais bem colocado no ranking geral é a Nova Zelândia (9,5), seguida pela Dinamarca (9,4). Nos últimos lugares estão Somália e Coreia do Norte (ambos com 1,0).

Para o mexicano Alejandro Salas, diretor da Transparência Internacional para as Américas, a situação do Brasil é ‘estável’ e deve servir como alerta para o país avançar no ranking, já que a nota brasileira ainda reflete uma grande percepção de corrupção.

Segundo ele, países como o Brasil e a Colômbia têm avançado muito no índice nos últimos dez anos, mas ainda é preciso melhorar.

‘No Brasil, fala-se que há uma tolerância sobre corrupção. Eu vejo que às vezes o tema é colocado em segundo plano, dentro de um contexto de muito otimismo dos brasileiros em relação ao crescimento econômico e do novo papel que o país ocupa no mundo. Por outro lado, há iniciativas muito importantes da sociedade, como a lei da Ficha Lima’, diz.

Metodologia

O índice é construído com base em dados de 13 instituições, como o Banco Mundial e o Fórum Econômico Mundial, que medem a percepção entre empresários, investidores e a população.

Salas explica que não é possível mensurar o nível de corrupção em si, uma vez que apenas parte das irregularidades veem à tona por meio de escândalos na imprensa, por exemplo.

São consideradas na medição propina a autoridades, desvio de dinheiro público e a efetividade das lei anticorrupção no país.

No levantamento, dois terços de todos os países tiveram pontuação abaixo de cinco, o que indica alta percepção de corrupção nestes lugares.

Apesar das denúncias de corrupção no governo Dilma Rousseff e da saída de cinco ministros sob suspeitas de irregularidades, o índice praticamente não reflete variações na percepção de corrupção.

Segundo Salas, ‘o índice é feito principalmente a partir de pesquisa com empresários e investidores, sobre a relação do setor priviado com o setor público’, que não necessariamente reflete mudanças na cúpula governamental.

‘Se fizéssemos uma pesquisa diretamente junto à população, a percepção seria maior’, disse.

América Latina

Apesar de estar no mesmo patamar da maioria dos países latino-americanos, a percepção da corrupção do Brasil é bem maior do que em vizinhos como o Chile (7,2, em 22º lugar) ou o Uruguai (7,0, em 25º lugar).

Segundo Salas, a boa performance do Chile se dá por um histórico de instituições fortes e respeitadas. ‘Eles têm uma Justiça profissional, com juízes de alta qualidade, e a polícia é respeitada pela população’, diz.

‘Em países como o México e o Brasil, temos instituições modernas e muita inovação. Há um setor privado que joga sob as regras interacionais. Ao mesmo tempo, temos outras instituições muito frágeis e práticas de décadas atrás, como a compra de votos e a distribuição de cargos públicos para parentes’, diz.

No relatório, a Transparência Internacional ressalta que os protestos que vêm ocorrendo ao redor do mundo, em boa parte impulsionados pelo alto nível de corrupção, mostram a necessidade de os governos serem mais transparentes.

Na região, os países piores colocados são o Haiti (1,8, em 175º) e a Venezuela (1,9, em 173º).

O Brasil também é o país com a menor percepção de corrupção entres as quatro potências emergentes que formam originalmente o Bric (com Rússia, Índia e China).

O acrônimo pensando em 2001 pelo economista britânico Jim O’Neill, do banco Goldman Sachs, acabou virando um fórum institucionalizado, com a adesão da África do Sul no último ano (chamado então de Brics).

A situação do Brasil é melhor que a da China (3,6, em 75º lugar), Índia (3,1, em 95º) e Rússia, (2,4, em 173º).

‘Mas o Brasil não deve se orgulhar por isso. Deve ver que há muito a avançar para alcançar o nível dos países desenvolvidos’, alerta Salas.

 Nem precisei ler – o que fiz –  o largo depoimento do eminente Jornalista Sebastião Nery sobre JK, no seu livro “Grandes pecados da imprense” – Ed. …Ano 2000 -, para me convencer de que Juscelino fora sempre homem de classe média, sem qualquer patrimônio ou empresa. Antes, conheci sua filha Márcia, com quem privei em Brasília, depois de seu retorno à cidade e vi, com meus próprios olhos, o estilo de vida relativamente simples de toda a família Kubitscheck. Não vou falar sobre Jânio Quadros, que se elegeu como paladino da moralidade contra JK. Nem vale a pena. E sobre Jango, que lhe sucedeu, seus adversários nocauteados pela renúncia de J.Quadros, que esgotara o denuncismo, preferiram o discurso do confronto ideológico que desembocou no Golpe de 1964: A direita no Poder.

E assim foi durante 21 longos anos. Aparentemente ninguém roubava, ninguém praticava o clientelismo e o nepotismo, ninguém tirava proveito das funções públicas. Mas poucos sabem das turvas águas que percorriam os corredores obscuros do regime. A imprensa era censurada. Os políticos mais combativos, cassados. Os contestadores, calados. E tudo sob o lema: “AME-O OU DEIXE-O” . O horror da intolerância, por todos os poros do Estado. Vou dar apenas um exemplo de um enriquecimento pouco explicado até os dias de hoje: Eliezer Batista, justamente o pai do homem mais rico do Brasil, hoje, Eike Batista, relatado por Hélio Fernandes, no alto de seus 93 anos,  em artigo na Tribuna de Imprensa On line –www.tribunadaimprensa.com.br :

“Quem nasce Batista se reproduz na riqueza de outro Batista.

Eike Batista: “Paguei meu imposto de renda com um cheque de 670 MILHÕESDE REAIS. Deve ser verdade. Mas deonde vem essa fortuna, que segundo ele,é a maior do Brasil? Do pai, o melhor do Brasil?

 

Ninguém duvida, as dúvidas estão todas na sua vida, ou melhor, na vida do pai, que montou sua herança, antesmesmo dele nascer. Ninguém tem uma trilha(que gerou o trilhão) de irregularidades tão grande quando Eliezer Batista. E em toda a minha vidaprofissional, nunca escrevi tantoe tão vastamente sobre irregularidades, prejuízo ao Brasil, ENRIQUECIMENTO COLOSSAL, quanto sobre Eliezer. E logicamente nem uma vez deforma POSITIVA, sempre naturalmente NEGATIVA.

A partir do “Diário de Notícias” (1956/1962) e depois já na”Tribuna da Imprensa”, Eliezer era personagem quase diário.

O roubo das jazidas de manganês do Amapá, assunto exclusivo deste repórter, ninguém participava, Elieze rera tão GENEROSO com os jornalões, como foi depois com o filho. O Brasil era o maior produtor de manganês do mundo. Como era de outros minérios, todos controlados por ele, presidente eterno da Vale. (Cia. Vale do Rio Doce)

Eliezer devastou o Amapá, entregou todo o manganês aos americanos, a “preços de banana” (royaltiespara o presidente dos EUA, Theodore Roosevelt,que inventou essa expressão para identificar os países debaixo do Rio Grande. Isso em 1902).

No Porto de Nova Iorque, os navios que vinham do Brasil com manganês, atracavam lá longe para não provocar comentários. E este repórter dava o númerodos navios, os nomes, o total da carga, o miserável preço da venda, EMPOBRECENDO o Brasil,ENRIQUECENDO os “compradores” e o grande VENDEDOR (sem aspas) Eliezer.

Está tudo no arquivo da “Tribuna”, fechada por necessidade desilenciar o jornal quecontava tudo. Os jornalões, servos, submissos e subservientes, exaltavam as vendas destruidoras, elogiavam oPROGRESSO DO AMAPÁ, porordem deELIEZER e da VALE. Diziam: “O Amapá abre estradas, constrói escolas e hospitais, os pobresestão muito mais atendidos e alimentados”.

Mistificavam a opinião pública, queriam convencer a todos, que EXPLORAR AS RIQUEZAS do então Território, deixando os milhares de pobres habitantes sem comer, sem morar, sem hospital e escola. Tudo transitório, enquanto ESBURACAVAM todasas terras, EXTRAÍAM o manganês e DOAVAM tudo aos trustes. (Como se chamavam, na época).

Gostaria de reproduzir tudo isso, a corrupção praticada pelo pai, beneficiando e enriquecendo ele mesmo e acumulando para o filho bem-aventurado.(Mas como o jornal está fechado, tenho que ESQUECER essas matérias de 40 e 50 anos, masa-t-u-a-l-i-z-a-d-í-s-s-i-m-a-s. Quem nasce Batista se reproduz na riqueza de outro Batista. Só o manganês não se reproduz, dá apenas umasafra).

Mas como Eliezer foi sempre muito PREVIDENTE, controlou todos os minérios, que deixou para o filho, de”papel passado”, ou então em indicações DEBAIXODA TERRA. Mas com os mapas atualizados e do conhecimento APENAS DO FILHO, A MAIOR FORTUNA DO BRASIL, ANTES MESMO DE NASCER.

(O Brasil tem quase a totalidade da produção desses minérios, como tinhado manganês, raríssimos. E como temdo NIOBIO, ainda mais raro eIMPRESCINDÍVEL, 98 por cento de tudo o que existe no mundo).

Alternando de pai para filho, afinal onde termina Eliezer e começa o Eike? O pai já completamente identificado, mesmo com presidente, “DONO” da Vale, embora já carregasse como propriedade pessoal, a ICOMI, fundada para concorrer com a própria Vale. Utilizando a ESTATAL para produzir lucros PARTICULARES.

 

Com a ansiada redemocratização, as   práticas  na Administração Pública não se alteraram significativamente. Ganhou-se, por certo, em liberdades públicas e algumas, individuais, avançaram significativamente.

Mas vejamos : Os cinco anos da Nova República estenderam  a “abertura” à corrupção, liberalizando-a e transformando órgãos federais, como a COBAL, num tal covil  de malfeitos, que teve que ser extinta. Sobreveio Collor, “o das Pequenas Causas”.  Defenestrado, coube à Itamar Franco carregar o andor com o mineiro cuidado, tamanha a exposição da corrupção  aos olhos da nação. Fernando Henrique, que lhe sucedeu, foi um homem austero, cuja aliança conservadora lhe permitiu evitar a sangria aberta, quase pública,  da corrupção dos anos anteriores. Ele, pessoalmente, manteve-se, sempre à ilharga dos escândalos, preservando a imagens de um homem público respeitável. A larga disseminação, no ano passado, das denúncias conhecidas como  “Privataria Tucana”, porém, recoloca seu Governo sob suspeita de graves distorções éticas, às quais se somam as denúncias de compra de votos parlamentares que lhe asseguraram a Emenda da Reeleição. Paradoxalmente, durante seu Governo, nenhuma campanha de denúncia foi capaz de abalar .

A verdade, entretanto,  duela a quién duela, é que nem conseguimos nos livrar da corrupção, como também não conseguimos nos livrar do denuncismo, com instrumento de luta política.

Até o advento do PT na vida política do país, depois da Revolução de 30, era, o denuncismo,  regularmente, um instrumento dos conservadores, articulados aos poderosos veículos de comunicação, com o objetivo de promover a desestabilização de governos progressistas. Tanto que era, comumente, denominada comoudenismo, numa referência  à Uniáo Democratica Nacional, que os aglutinava. O PT fez sua entrada triunfal no cenário nacional tomando dos conservadores esta bandeira, por muito tempo considerada suspeita pelas esquerdas tradicionais. Fê-lo em nome da Ética na Política, legitimando esta bandeira com uma permanente e aguerrida mobilização, alimentada por uma infinidade de Sindicatos e Associações de Base ao longo de todo o país. Legitimou-se. Não só pelo caráter renovador da proposta, mas porque estas mesmas bases ocupavam o terreno da recuperação das perdas salariais numa conjuntura altamente inflacionária, dando-lhe uma base material concreta. E chegou ao Poder, em 2003, com Lula empunhando a bandeira da moralidade pública. Parecia que tínhamos chegado a uma nova fase em que tanto as velhas práticas do uso das máquinas públicas em benefício pessoal e do denuncismo estariam soterradas.

Ledo engano.

Um ano e meio depois, o Governo já balançava sob o acicate do escândalo do “Mensalão”, com o agravante de que, com a imprensa sem censura, os fatos entravam na casa de todos os brasileiros, via televisão.

Descoberta a fraude da compra do apoio do Poder Legislativo pelo  Governo do PT, não lhe restou outra alternativa senão redefinir este apoio através do conceito de “Base Aliada”. Não mais mesadas individuais, pagas com recursos escusos obtidos por meios nefandos com a mediação de empresarios inescrupulosos, mas o rateio dos Ministérios. E para atender a vasta gama de Partidos no Congresso a fórmula: aumento do número de Pastas na Esplanada de Brasília. Com porteiras fechadas, com mais de 20.000 cargos em comissão a serem ocupados pelos correligionários agraciados. Verdadeiro terreno minado ao aperfeiçoamento de práticas administrativas mais modernas e transparentes.

Com isso, retrocedemos ao estilo  mais tradicional e nocivo à vida política nacional e ao recrudescimento do moralismo como instrumento de luta política.

Voltamos, assim, aos anos 50, de verdadeira histeria moralista: Um Governo Federal  de esquerda, bombardeado por denúncias ininterruptas de corrupção. Pouco mais de um ano e já caíram sete Ministros por envolvimento suspeito em ilícitos. Dois outros resistem heroicamente… Curiosamente, porém, o espectro da corrupção hoje, mercê de uma cultura mais exigente sobre a Ética na Administração Pública, mas também com recursos de comunicação redobrados pelas Redes Sociais de largo uso social, não se restringe a este ou aquele Partido. Todos estao envolvidos. Eis o quadro sobre o largo espectro partidario  da corrupção no pais, recentemente divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral e amplamente divulgado na INTERNET, ao lado.

O alastramento da corrupção gerou um sentimento generalizado de repulsa da cidadania e que desborda, agora, para um deboche acintoso contra todas as instituições políticas do país, com alvo central nas Casas Legislativas de todos os níveis. Note-se que a Presidente Dilma tem se colocado a salvo deste estado de espírito sendo considerada, pela opinião pública, que lhe devota altos índices de aprovação, como uma vestal no vespeiro.  O último escândalo, aliás, expôs a nu o cinismo de um dos paladinos da moralidade, o Senador Demóstenes, do DEM, um dos poucos partidos na Oposição à Dilma Roussef. Não sendo do Governo, o Senador não roubou, não desviou verbas, não fez uso de uma função para beneficiar alguma empresa. Mas ficou evidente que tem ligações com a contravenção. E que, repetindo outras figuras históricas que se notabilizaram pelas prescrições de moralidade pública, como Sêneca (04 AC – 65 DC), na antiga Roma e um dos pais da modernidade,  o Filósofo Francis Bacon (1561 – 1626), dizia uma coisa, como certa, e fazia outra – errada -, vindo este último a penar no exílio  pelos seus erros:

Sêneca:

“Ainda em vida, no entanto, Sêneca viu um tribuno do Senado acusá-lo de ter acumulado grande fortuna praticando a usura e falsificando testamentos. Deixou, ao morrer, uma fortuna de 300 milhões de sestércios, coisa de 6 milhões de marcos, uma das maiores fortunas da época. Não foi fiel à própria doutrina, como se vê.”

(José Emiliano in “Sêneca, Demóstenes e ética na Política” , publicado emwww.cartamaior.com.br , acesso em 11 de abril 2012)

2 . Lord Frances Bacon

Bacon’s public career ended in disgrace in 1621. After he fell into debt, a Parliamentary Committee on the administration of the law charged him with twenty-three separate counts of corruption. To the lords, who sent a committee to enquire whether a confession was really his, he replied, “My lords, it is my act, my hand, and my heart; I beseech your lordships to be merciful to a broken reed.”

(http://en.wikipedia.org/wiki/Francis_Bacon)

A situação atual  (2012) é, portanto, muito peculiar. O denuncismo não se dirige à Chefe do Governo, como o foi na época de Vargas, JK e Collor, nem ao seu Governo. Trata-se de um sentimento talvez até mais perigoso, porque se traduz como uma condenação à Política, em qualquer de suas manifestações.  Este sentimento tem Raízes culturais profundas no Brasil, que sempre associou o exercício da função pública  à obtenção de prebendas do Poder. Cidadania, no Período Colonial, era um privilégio de reinóis leais `a Portugal, que os credenciava a ocupação de funções públicas e `a candidatura a uma cadeira nos Senados das Câmaras Municipais. A melhor compreensão do fenômeno como endêmico no Brasil, porém, nos dias atuais,  além das personalidades, partidos e Governos envolvidos em trapaças, ajudou a criar mecanismos de transparência e garantias da boa administração pública, hoje, em franca atuação no plano nacional como a “Transparência Brasil”. Uma ampla campanha de assinaturas conseguiu, também, aprovar o Projeto de iniciativa popular conhecido como “Ficha Suja”, hoje em vigor, através do qual políticos que estão condenados em primeira instância já não poderão mais se candidatar a cargos políticos. Tal iniciativa procura, agora, estender tal alcance também aos ocupantes de Cargos em Comissão. Nada mais justo e apropriado. Outra iniciativa elogiável , partiu do Ministério Público, com esta campanha :

O que você tem a ver com a corrupção?

A campanha “O que você tem a ver com a corrupção”, realizada em Santa Catarina e ganhadora do Prêmio Innovare terá uma nova etapa estadual e será lançada nacionalmente. A campanha tem caráter educativo e busca conscientizar a sociedade, especialmente crianças e adolescentes, a partir de um diferencial, que é o incentivo à honestidade e transparência das atitudes do cidadão comum, destacando atos rotineiros que contribuem para a formação do caráter.

Agora, é chegada a hora da nacionalização da campanha. O projeto visa atacar dois pontos fundamentais:

1º) buscar reduzir a impunidade nacional, ou seja, cobrar a efetiva punição dos corruptos e dos corruptores, abrindo um canal real para oferecimento e encaminhamento de denúncias;

2º) educar e estimular as gerações novas, através da construção, em longo prazo, de um Brasil mais justo e sério, destacando-se o papel fundamental de nossas próprias condutas diárias.

Fonte – site da ACMP: http://www.acmp.org.br/

http://vozdasgerais.blogspot.com/2008/03/o-que-voc-tem-ver-com-corrupo.html

Enfim, se é verdade que a questão da corrupção persiste na vida pública do país, ganhando proporções alarmantes, a ponto de transformar a luta pela Ética numa perversão moralista, também é verdade que a Sociedade se movimenta intensamente para coibi-la institucionalmente. Com efeito, não se pode cair na tentação de jogar a criança com a água do banho. A democracia ainda é o melhor remédio para todos os males da nação, inclusive a corrupção. Acabar com os políticos, com a Política e suas instituições supõe que existiria uma maneira de administrar a coisa pública com o metro da razão científica. Vã ilusão! A sociedade é um múltiplo de interesses conflitivos, sempre à espera de um mecanismo de acomodação capaz de produzir as condições para a realização objetivos comuns. O Estado é esta força que imprime a trégua instável e que só se legitima através do Direito. É o que se chama “Estado de Direito” que jamais se realiza senão através da Política e não contra ela, ainda que nos ofereça apenas um esboço de democracia fugidia. A Política, enfim, não é apenas uma  dentre várias  opções éticas das  sociedades organizadas, ela a única. O resto é o silêncio das ditaduras em cujas antecâmaras comete-se o maior roubo que se pode imaginar: O sonho de liberdade de um povo.

O PRONUNCIAMENTO DE DILMA

A Presidente Dilma, enfim, depois de uma semana de gigantescas manifestações populares por todo o Brasil, falou. Foi cuidadosa,  democraticamente protocolar e elegante. Mas evasiva. Ligeiramente insegura. Salvo o anúncio da importação de médicos, nada de novo. Reiteirou  o já anunciado : Royalties federais do Pré-sal para a educação. Elogiável. Tangenciou o tema da Reforma Política, mas não adiantou nada concreto.

Sabe-se que a sexta feira, dia 21 foi um dia tenso no Palácio do Planalto. Temia-se um deslize no pronunciamento que pudesse  piorar a situação nacional. Tinha que ser uma fala cirúrgica. Precisa. Mas ninguém conseguiu saber ao certo quem foram  os reais conselheiros da Presidente. Não foram, certamente, seus Ministros mais próximos e responsáveis por ajudá-la. Ninguém sabe onde está o Ministro da Justiça, notável omisso na crise.  Gilberto Carvalho ainda estaria no Mato Grosso, longe dos acontecimentos e do entendimento, como ele próprio insiste em afirmar, dos fatos. A Ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, atolada nos processos da Comissão da Verdade, também não consegue ver a nova Verdade da truculência policial em vários pontos do país. Os responsáveis pela Inteligência,  talvez por serem militares, não são chamados. Será a isto que se referem todos os que tanto falam em “solidão do poder…?

A jornalista Eliane Cantanhede , FSP, diz que um primeiro pronunciamento estava gravado às três da tarde. Foi para  o lixo. Estava ruim. Aí a equipe de João Santana, o marqueteiro oficial do sistema entrou em cena e fez o script que, afinal, foi ao ar.   Uma peça mais de marketing do que  digna de um grande líder num momento de crise. Lembram do
 “Après moi, le diluge” ? Mas bem, todos sabemos dos limites da Presidente, o que não lhe faz nenhum defeito, nem desonra, apenas  registra sua falta de estofo para ocupar o cargo que ocupa, pela graça de seu mentor, o Ex Presidente Lula.  Ela até vinha surpreendendo, à vista, primeiro de sua eleição , depois da persistente aprovação pela opinião pública, ainda superior a 50%.  Este poderia ter sido o grande momentum de Dilma, em que ela surpreendesse novamente com uma aparição fulminante e convincente.  Daí para o salto à Reeleição. Não conseguiu. Assimilou o clamor das ruas, mas sem  abrir mão das servidões do Poder. Além do salto alto, em nenhum momento foi capaz de fazer qualquer autocrítica demonstrando  determinação em redefinir rumos de suas estratégias de Governo, cujo epicentro se encontra no famigerado conceito de Base Aliada.  Curiosa e paradoxalmente, foi elogiada, no Congresso por vários parlamentares da Oposição. E nas redes pelos fervorosos adeptos do PT, mas sem nenhum registro de notáveis.

Enquanto isso, começam a vir à tona as primeiras pesquisas de opinião sobre os manifestantes. São principalmente jovens , entre 18 a 30 anos, ou seja, aqueles sobre os quais o grande historiador  Hobsbawn dizia que todo o passado é passado remoto. Não o viveram. Náo gostam de Partidos Políticos nem das instituições políticas que lhe correspondem, o que é um grande risco. Como fazer Política sem instituições políticas tais como Partidos, Mandatos Representativos, Parlamentos e Doutrinas? Outra Pesquisa atreveu-se a indagar sobre as preferências para a Presidência da República. Eis os mais cotados: Dilma fica em terceiro lugar, com 10%, Marina Silva, com 22% e o Ministro Presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, com 33%.  Dá o que pensar ..

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NUVENS NEGRAS NO HORIZONTE

Paulo Timm – Torres 21 junho – copyleft

Chegamos, enfim, ao final da semana. Oxalá as notícias do fim da sexta feira não sejam de mau agouro. Os vários dias de Manifestações nas ruas do país inteiro fizeram História, mas correm o risco de não darem em nada. Pior, podem ser empolgados pelos conservadores que se sentem plenamente à vontade para rodar a baiana. Afinal, não têm qualquer responsabilidade pelo que vai pelo país. Estão soltos. De minha parte, eliminei do meu FACEBOOK vários posts indecorosos que simplesmente clamavam por DITADURA MILITAR JÁ!  Que horror!!!

Muito rapidamente, o legítimo Movimento das Ruas vai caminhando para seu destino, embora incerto. Eis o pior dos cenários, num comentário de Manoel Rodrigues:

 a) emergem dos infernos, prometendo o paraíso, novos líderes de extrema esquerda ou extrema direita;

b) autoridades, em todos os níveis e poderes, conseguem convencer o povo com pseudossoluções;

c) diante dos atos de vandalismo, a repressão se exacerba, o povo se revolta ainda mais e se instaura o caos;

 d) ganha força a ideia de que vandalismo não é nenhuma barbaridade;

e) Tiririca é eleito presidente do Brasil.

Claro que temos que compreender bem essa história de vandalismo. Meu amigo Ronaldo Conde Aguia, Sociólogo respeitado, tenta explicar melhor para evitar preconceitos:

 

Enviei à jornalista Eliane Catanhede, da Folha de S. Paulo e GloboNews, o seguinte e-mail:

“Os chamados “vândalos”, palavra tão enfatizada pela TV Globo e pela GloboNews quando reportam as manifestações estudantis, são, em linhas gerais: 1) estudantes que explodiram. Isto sempre aconteceu, no Brasil e no mundo: estudantes que não se limitam a gritar e a protestar; 2) moradores de rua e marginais (jovens), que são (como os estudantes que têm que conviver com uma educação de péssima qualidade, como os doentes que têm que comparecer a hospitais imundos, sem médicos, sem remédios, como os trabalhadores que têm que se expremer em ônibus imundos, que fazem um barulho ensurdecedor) grandes vítimas de um sistema que que apenas atende a classe média alta e as elites. Aos pobres, dão esmolas como a “Bolsa Família” em nome de uma impensável “distribuição de renda”. Os “marginais” jovens estão protestando à maneira deles – ou seja, pondo fogo e quebrando o que jamais lhes pertenceu. Que significado tem para um jovem marginalizado e levado à criminalidade expressões como “bem público”, “direito de ir e vir”, “patrimônio de todos”? O pobre sequer têm condição (e coragem) de ir, por exemplo, ao CCBB assistir um festival de filme tcheco… Aliás, os moradores de rua, das favelas de Brasília, do Entorno sequer sabem o que é CCBB.

Enviei à “tia” Dilma um e-mail pedindo a ela que mandasse identificar o meganha que, na capa das revista ISTOÉ, agride, pelas costas, uma estudante. Isto não seria difícil, pois um estudante de arquitetura que quebrou os vidros da Prefeitura de São Paulo foi identificado menos de duas horas após o que fez. Você mesmo noticiou isto. Por que não identificam o agressor de uma menina? Aliás é bastante sintomático que na Globo News e na TV Globo ninguém comente isso – e, sim, o vidro quebrado de uma agência bancária…

As elites estão assustadas e sem saber o que está acontecendo. O governo federal não sabe o que fazer. Prefeitos e governadores estão calados. Os partidos políticos estão omissos.
Não tenha dúvida, prezada jornalista, de uma coisa: o jovem descobriu o poder que tem. As coisas estão difusas? Mas vão se clarear, aos poucos, mas inevitavelmente. Não há lideranças? Mas elas surgirão.

Por fim: tenho 70 anos de idade – e tenho participado, aqui em Brasília, com minha neta e o namorado dela, das manifestações. Tomei a mesma decisão que o meu saudoso Otto Maria Carpeaux tomou em 1966: o que me resta, de capacidade de trabalho e de energia, pertence aos estudantes brasileiros, que lutam por tudo aquilo que gente da minha geração não pôde ou não teve coragem de lutar.

Cordiais saudações e os meus respeitos”

 

 

Tem-se, também,  comparado muito nosso Movimento com outros que ocorrem na atualidade em outras partes do mundo e, particularmente, com o Maio de 68 , na França, como fez recentemente o ex Presidente Fernando Henrique. Mas vejamos:

Comparado com Maio de 68 na França, há  uma diferença fundamental, embora ambos tenham nascido da juventude. Lá, com o Governo conservador de De Gaulle,  ele foi engrossado pela esquerda, através de Partidos e Sindicatos de Trabalhadores. Aqui, como o Governo é – ou se diz, pouco importa – de esquerda e controla grande parte do Movimento Social Organizado – Centrais Sindicais, Sindicatos e ONGs – , além do próprio PT, há uma coisa inédita: A própria esquerda – ou parte dela, mesma a que se supõe revolucionária como o PCB e PSTU – é rechaçada em nome da “pureza” do Movimento, como relata P.H. Amorim :

“Membros do PT, do PC do B, do MST, do movimento pela moradia foram empurrados, levaram garrafa na cabeça e foram xingados. Manifestantes rasgaram faixas e bandeiras do partidos de esquerda. Atrás do grupo dos partidos de esquerda e dos representantes da CUT vinham pessoas mascaradas aos gritos de “ditadura já !”.”

Bom, aí complica, porque os jovens não conseguem segurar os provocadores.  Não dispõem de esquemas de organização, propaganda e segurança compatíveis com a massificação do Movimento. Vejam o que relata o  O jornalista Paulo Henrique Amorim em sua análise da cobertura da Globo:

GLOBO DERRUBA A GRADE. 
É O GOLPE !

Cobertura da Globo, na tevê aberta, é um incitamento à derrubada da Dilma, à força

A Rede Globo, em tevê aberta, nesta quinta-feira, um dia depois de os prefeitos do Rio e de São Paulo reduzirem as tarifas, derrubou a grade de programação e se dedicou, sem comerciais !,  a abrasileirar o Golpe pela tevê que a Direita conseguiu, por 48 horas, contra o Chavéz, na Venezuela.

Clique aqui para ler “tem um monte de Cabo Anselmo nas ruas”.

A Globo, tão boazinha, fala em democracia, não violência, paz, luta contra a corrupção e entra no Brasil inteiro com imagens ao vivo do quebra-quebra, do desmando, da falta de Governo !.

É a pseudo  – informação.

Porque a Globo não desce lá embaixo.

É do alto, do helicóptero.

O repórter fala do que vê na tevê.

Não vê o que se diz lá embaixo.

A “cobertura” não tem contexto.

Não tem outro lado.

Outra versão.

Não tem uma autoridade.

Por duas horas seguidas, a Globo não põe no ar uma única palavra de alguém, com o manto da autoridade, para jogar agua na fervura.

É pau, ao vivo.

Pau !

O desmando, a desorganização.

A saturação do caos.

Os repórteres, coitados, vítimas do gás lacrimogênio.

É o “jornalismo catástrofe”!

Invadam o Itamaraty ! Subam no Congresso. Fechem a ponte Rio-Nietroi. Esculhambem o Governo !

Porque o William Bonner esta aqui, desde cedo, para dar visibilidade !

Ponham fogo que fica mais “televisivo”.

Lamentável, diz a repórter !

E tome fogo!

Lamentável.

E tome pau !

O Palácio do Planalto cercado !!!

É um Golpe.

Manjado.

Na Venezuela, deu certo, por 48 horas.

Lá não tinha Copa do Mundo que a Globo não pode permitir que dê certo – clique aqui para ler “Globo boicota e fatura com a Copa”.

Aqui tem.

De repente, o brasileiro passou a odiar futebol.

A próxima cobertura da Globo, depois de derrubar a grade de programação, é o impeachment da Dilma.

Palavra de ordem que já se viu na Avenida Paulista, ao lado de “ditadura, já !”

Viva a Democracia !

Como disse o Conversa Afiada, a Globo embolsou o Movimento do Passe Livre.

Não existe passeata de 50 mil pessoas apartidária.

Ou não dá em nada, ou derruba o Governo.

A Globo vai derrubar !

Paulo Henrique Amorim

COMENTÁRIOS

A verdade, porém, com todo o quadro adverso ao Movimento, é que o Governo se mostra omisso diante dele. É como se não tivesse nada com o ocorrido.  Sabe-se que a Presidente, neste momento está reunida com seus Ministros e que talvez faça, logo mais, um pronunciamento à nação. Antes, deveria mandar seus Ministros trabalharem, aparecerem , pronunciarem-se. O Ministro da Justiça, diretamente ligado aos eventos, sumiu. O Ministro Gilberto Carvalho, está tentando entender melhor o que vai pelo mundo. A propósito, aí vai , a título de colaboração a ele a vintena de razões para as Manifes do Jo Soares:

Jô Explica….

Pra quem não entendeu ainda: os vinte centavos, um por um:

00,01 – a corrupção
00,02 – a impunidade
00,03 – a violência urbana
00,04 – a ameaça da volta da inflação
00,05 – a quantidade de impostos que pagamos sem ter nada em troca
00,06 – o baixo salário dos professores e médicos do estado
00,07 – o alto salário dos políticos
00,08 – a falta de uma oposição ao governo
00,09 – a falta de vergonha na cara dos governantes
00,10 – as nossas escolas e a falta de educação
00,11 – os nossos hospitais e a falta de um sistema de saúde digno
00,12 – as nossas estradas e a ineficiência do transporte público
00,13 – a prática da troca de votos por cargos públicos nos centros de poder que causa distorções
00,14 – a troca de votos da população menos esclarecida por pequenas melhorias públicas (pagas com dinheiro público) que coloca sempre os mesmos nomes no poder
00,15 – políticos condenados pela justiça ainda na ativa
00,16 – os mensaleiros terem sido julgados, condenados e ainda estarem livres
00,17 – partidos que parecem quadrilhas
00,18 – o preço dos estádios para a copa do mundo, o superfaturamento e a má qualidade das obras públicas
00,19 – a mídia tendenciosa e vendida
00,20 – a percepção que não somos representados pelos nossos governantes

Se precisarem tenho outros vinte centavos aqui, é só pedir.

E a Ministra Maria do Rosário, que deveria estar ao lado de advogados da OAB e Defensores Públicos no teatro de operações onde caem vítimas dos excessos policiais a cada momento? Onde anda? Sua única “Verdade”parece ser a do passado. Mal sabe que pode ser responsabilizada, no futuro, pelas vítimas de hoje. Perdoai-a, Senhor!!! Escute Ministra, de um velho militante, que já foi militar , antes de 64:

Nossa Polícia, como nossas Forças Armadas, são as mesmas do período da ditadura militar. Não foram REFORMADAS…Concepção e métodos são fascistas. Trinta anos de democracia e não conseguimos mudar o perfil de nossas forças de segurança. Nem mesmo a tentativa de FHC no I PLANO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS, de obrigar a inclusão da cadeira de DIREITOS HUMANOS nos currículos deles funcionou. Morrem de rir… Eu próprio fui professor, a pedido da Unb num desses cursos na PM do DF. É difícil! Na Europa percebo que a formação é técnicas sáo completamente diferentes. A INTELIGENCIA cumpre papel muito maior, INCLUSIVE NAS FORÇAS POLICIAIS em manifestações. Antes de combater os militares, devíamos tratar de participar mais ativamente na sua formação de forma a torná-la compatível com o regime democrático que desejamos.

Dilma, da sua solidão no Palácio do Planalto, depois de brigar com índios, gays, petistas, empresários, assessores, com a bancada do PT no Congresso, com os líderes nas suas duas Casas, com velhos amigos e  até com os velhos, depois da malfadada história do Velho do Restelo,  falará, pois, à Nação. E só se espera que não repita , de novo o que todo mundo já sabe, omitindo que existe uma real crise de credibilidade do país e uma sensação de abandono da classe média por parte do Governo.

Esta crise de credibilidade , ontem confirmada por Pesquisa DATAFOLHA, é a que transforma o Movimento num grito de  Reclamação  Ampla, Geral e Irrestrita, para a qual só há uma saída: a Reforma Política urgente.

Nos regimes parlamentaristas, haveria, antes,  a solução de queda do Governo, formando-se nova coalizão. É a grande vantagem do Parlamentarismo que opera como fuzível contra as crises. Forma de Governo mais fácil de combinar MANDATO IMPERATIVO com MANDATO REPRESENTATIVO, embora  ninguém entenda muito  isso.

No Regime Presidencialista, como o nosso,  fica tudo enrijecido. Há que esperar o fim dos MANDATOS, ou, se a Crise piorar, enfrentar duras  alternativas: Impeachment do Presidente (Collor 92), Renúncia (Janio 61)ou “Vacância do Cargo (JANGO 64), isto é , GOLPE!

Diante disso, uma alternativa ousada da Dilma seria uma REDEFINIÇAO DE BASE ALIADA, com Reorganização dos Ministérios, reduzindo para menos de 20, e envio de Projeto de REFORMA POLÍTICA RADICAL ao Congresso , com um conjunto de medidas que atendam ao clamor das ruas, tal como, aliás, já corre na INTERNET

Plano de Investimentos nas Areas desejadas pela populaçÃo nos protestos …

 Educaçào  – confirmar a agilização da votação urgente no Congresso p/os 100 ou 90% da Receita do Pre-Sal p/ Educaçao);


Ciencia e Tecnologia – novas e maiores bolsas de pesquisa e novas e maiores verbas p/ Incubadoras e Aceleradoras de Empresas)
… Programa de Saude
 PREVENTIVA em Larga Escala (executavel por jovens universitários – instrução para a melhoria de alimentação, capacitação física, treinamento de hábitos

http://www.youtube.com/watch?annotation_id=annotation_820987&feature=iv&src_vid=T4L8WlBFlGQ&v=Csn7GnNjeNk

Lamentavelmente, não deverá ser essa a tônica da Presidente. Talvez o projeto de Convocação de uma Constituinte específica para a Reforma Política, articulada pelo Senador Cristovam Buarque, abra uma janela para evitar a Crise. Esperemos…!

Nada acontecendo de realmente impactante, a tendência é o Movimento esvair-se , caindo , gradativamente , nas mãos do conservadorismo fascista. Não por acaso o MOVIMENTO PASSE LIVRE já caiu fora e denunciou essa tendência. Vamos ver…

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LUZ OU ROMBO NO FIM DO TÚNEL?

Paulo Timm – Torres junho 20 – copyleft

Não, prezados leitores. Hoje vou adiante das Manifestações. Detenho-me em temas correlatos que correm à solta, carentes de maior atenção dos brasileiros. Aliás, eles não são poucos. Por sorte, são temas complexos que tardarão a chegar à opinião pública e mais ainda ao clamor das ruas.  Por enquanto ficam à consideração de especialistas. São os casos da dívida de PETROBRÁS,  anunciada semana passada mas encoberta pelos acontecimentos e da situação do setor elétrico. Vejamos este último:

Há algum tempo a Presidente Dilma decretou redução nas tarifas, justamente quando as preocupações com os reservatórios determinavam a entrada em funcionamento das termoelétricas, cujo custo é bem mais elevado do que a energia de fonte hídrica. Teme-se, no Governo, o repeteco do apagão que acabou com o Governo FHC.  Desde então o Sistema se vê na contingência de abrir e fechar as termos, dependendo do risco previsto de déficit. Aliás, é bom lembrar que todo e qualquer sistema elétrico opera sempre com algum risco de déficit. Rigorosamente, do ponto de vista da engenharia não existe  “risco zero”, como proclamou a Presidente certa ocasião.  Esta operação, entretanto, do abre-fecha das termos, aliado  ao recurso de mantê-las de sobreaviso ou como é o caso de quatro delas que se encontram suspensas,  sempre gera problemas  no custo final da energia. Em algum momento, o “rombo” virá à tona e exigirá novas medidas do Governo. A propósito, a ELETROBRÁS já acumula um rombo milionário e, paradoxalmente,  se apressa a pagar “jabuticabas”suculentas a funcionários que decidam abandonar a empresa. Mas, indaga o engenheiro Roberto Pereira de Araujo da ONG ILUMINA :  <- Ao mesmo tempo em que a empresa definha, distribui “resultados”. Como se pode adequar o quadro de pessoal a novas funções se elas não são conhecidas e se a escolha dos desligamentos só considera os elegíveis por apenas um fator, o tempo de vínculo com a empresa maior que 20 anos?>


:

O governo federal vai premiar os dirigentes das estatais do grupo Eletrobras que conseguirem maior número de demissões de funcionários, por meio do Plano de Incentivo ao Desligamento (PID). Em ofício do Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Dest), órgão do Ministério do Planejamento, encaminhado ao secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, o item cinco diz que “a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) dos dirigentes está condicionada ao alcance de redução de metas do PMSO” (Plano de Redução de Pessoal, Material, Serviços e Outras Despesas). O objetivo é “alinhar os instrumentos de gestão aos objetivos do Plano de Incentivo ao Desligamento”. Em 2012, o valor médio pago a cada um dos diretores da empresa, a título de PLR, foi de R$ 72,5 mil.

                                              (Correio Braziliense – 08/06/2013)


Curiosamente, aqui se aplica à máxima do então Ministro Malan: “No Brasil não se pode planejar o futuro porque o passado sempre se interpõe entre o hoje e o amanhã”.

Atualmente existem 1.492MW de capacidade instalada térmica suspensa pela agência

 

Por Wagner Freire – Jornal da Energia – 18/06

 

A indisponibilidade das térmicas foi assunto em duas das últimas três reuniões do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). Sabe-se que na 128ª reunião houve um amplo debate sobre a potência disponível das usinas no Sistema Interligado Nacional (SIN) em relação às suas potências instaladas. Isso desencadeou que na reunião seguinte, em maio, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) apresentasse um histórico detalhado do despacho térmico no período de outubro de 2012 a até abril de 2013. A partir do levantamento apresentado, o Comitê solicitou que a agência complementasse o trabalho “contemplando o regramento existente, bem como avaliando a eventual necessidade de revisão do valor da capacidade instalada de alguma(s) planta(s)”.

 

 

Eis o que afirma o ILUMINA, entidade de acompanhamento crítico do sistema elétrico no Brasil:

ONS e Aneel “de olho” nas indisponibilidades térmicas


O ILUMINA já tratou dessa grave característica do sistema brasileiro: Usinas que não geram a energia programada. O problema é preocupante para a operação do sistema, e, diariamente o IPDO (Informativo diário do ONS) mostra os números divergentes entre programação e geração real. Cada MWh programado para as térmicas e frustrado por falhas ou por ineficiências, tem que ser gerado pelas hidráulicas, o que leva a uso da reserva. Se as expectativas não são corrigidas, acumula-se um erro que será “cobrado” mais tarde. Mas, o pior não é a operação!

http://www.ilumina.org.br/zpublisher/materias/Noticias_Comentadas.asp?id=20164

Enquanto isso, muitas das unidades do Sistema Elétrico se envolvem em denúncias de irregularidades que acabarão, igualmente, se somando às contas de energia do consumidor. É o caso de Furnas, que terminou o ano de 2012 no vermelho gritante:

Com as contas no vermelho, a direção de Furnas prometeu cortar despesas, mas gasta milhões em regalias e festas para a cúpula da estatal

Josie Jeronimo – Isto é 07/06/13


Depois de terminar o ano de 2012 com um prejuízo de R$ 1,3 bilhão, o presidente de Furnas, Flávio Decat, anunciou que a estatal entraria em uma era de austeridade. Para colocar em ordem as contas da empresa de economia mista, contratou a consultoria internacional Roland Berger. A primeira orientação foi demitir um terço dos funcionários, reduzindo em 22% a folha de R$ 1,4 bilhão. O corte de pessoal foi feito, mas, contrariando as recomendações da empresa de consultoria e o discurso do próprio presidente da estatal, Furnas aumentou em R$ 395 milhões as despesas com a administração, que incluem contratações de terceiros, prestadores de serviços, gastos com viagens e eventos. No histórico de gastos da estatal obtido por ISTOÉ, constam extravagâncias para uma empresa que precisa equilibrar seu orçamento e não fechar mais um ano no vermelho.

http://1.bp.blogspot.com/-_XRCjgR0xfI/UbW3H_uaUnI/AAAAAAAAAFI/Fmh82SESmeQ/s320/ipods+de+furnas.jpg

 

 


No mês passado, a estatal fechou contrato de R$ 2,3 milhões com empresa de telefonia e distribuiu 700 iPhones 5 e 300 minimodens aos chefes do escritório central do Rio de Janeiro. Como havia mais celulares do que chefes, ex-diretores e servidores aposentados também receberam o aparelho. O preço de mercado do iPhone 5 gira em torno de R$ 2,5 mil. Se o plano fosse contratado sem a doação de aparelhos de última geração, a despesa poderia ter ficado R$ 1,5 milhão menor, avaliaram técnicos do mercado de telecomunicações ouvidos por ISTOÉ.

Na contramão da retórica de austeridade, a estatal também não poupou recursos para contratação de artistas e patrocínio de ações culturais. Só em abril, foram gastos R$ 375 mil em cachês. No mês passado, contratou por R$ 142 mil os shows de João Bosco e Moraes Moreira. O cantor Diogo Nogueira também embalou o festival musical de Furnas, que custou R$ 128 mil em setembro. Em coquetéis para funcionários, a empresa gastou R$ 600 mil ao mês. Um dos atores preferidos pela companhia é Tony Correia. Contratado pela estatal, ele roda as regionais fazendo apresentações.

Na gestão atual da empresa, os diretores de Furnas também não precisam comprar ingressos para torcer por seus times do coração. No estádio Engenhão, a estatal dispõe de um espaço exclusivo e, durante os clássicos, fornece transporte e alimentação para a cúpula acompanhar os jogos de camarote com a família.

Preocupados com o plano de demissão voluntária, estabelecido pela atual gestão, muitos empregados de Furnas se mostram contrariados com as gastanças da sede, afirma o diretor do Sindefurnas Miguel Ângelo de Melo. “Estão fazendo os cortes de baixo para cima. Gastam com banquetes e economizam com palitos.Há exageros nos escritórios. Existe em Furnas a tradição de muita mordomia.” A assessoria de Furnas foi procurada, mas não respondeu até a publicação desta edição. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Empresas de Energia do Rio (Sintergia), Jorge Luiz Vieira da Silva, afirma que os gastos com funcionários concursados estão sendo equilibrados, mas ainda há discrepância nas remunerações pagas a especialistas. “Eles só querem cortar no pessoal, mas os custos da diretoria continuam muito altos”, constata.

Enfim, enquanto os jovens ganham as ruas, muita coisa estranha acontece nos bastidores . A questão elétrica está a merecer maior atenção da cidadania, se ela não quiser ser surpreendida amanhá ou depois com “surpresas”.

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A CRISE DE CREDIBILIDADE

Paulo Timm – Torres, jun 19 – copyleft

Tento fugir do assunto das manifestações que sacodem o país. Impossível. O assunto tomou conta da mídia, dos cafés, da INTERNET, dos salões de beleza, de tudo.  Todo mundo só fala nisso. Portanto, meus caros leitores, tenham paciência. Volto ao tema. O interessante, porém, é que sempre há algo de novo a comentar. Hoje, a questão da credibilidade nas Instituições, trazida à baila pela divulgação da uma pesquisa DATAFOLHA. Antes, porém duas palavras gerais sobre o tema.

A esquerda, o PT e aliados, o Governo, começam a se dar conta de  que o Movimento, chamemo-lo assim, ficou maior do que qualquer previsão. Espalhou-se pelo país inteiro. Hoje à tarde, na minha pequena cidade do litoral gaúcho, haverá Manifestação na Praça 15… E tudo o que cresce salta aos olhos. Isso quando não os arranca da cara… Entenderam que já não interessam as razões “últimas” do Movimento: O lugar da esquerda não é nos gabinetes , é nas ruas, ao lado da massa. Melhor errar com ela, do que isolar-se,  ensinam os velhos e ainda vivos  conselheiros comunistas.    Até porque tem-se que senti-la de perto em suas aspirações e , eventualmente, evitar que descambe nas mãos de aventureiros ou fanáticos. PT e Governo entenderam isso. Todo o movimentos de massas tem seus riscos, principalmente quando abre janelas à manifestação de ressentimentos sociais , no caso , justos, embora condenáveis.  E isso é o que não falta no Brasil, uma sociedade em que metade de sua população vive na carência de empregos e renda digna, de serviços públicos, de moradia, concentrada em pouco mais de dez grandes metrópoles. É pouco…? Mas o Governo vem estimulando a inserção social e até elevou o Salário Mínimo e a flexibilizou as transferências (!), dizem alguns, ainda perplexos, como o débil Ministro Gilberto Carvalho. (Só por isso deveria ser demitido)  . Ora, todos sabemos que isto é uma gota no oceano das carências populares. Daqui a pouco, se engrossar o Movimento, garanto que a ele se incorporarão os beneficiários do Bolsa Família, alegando que aquilo que recebem não paga o transporte ao Hospital quando as crianças adoecem…Remember Veridiana, de Buñuel…

Já não se trata , portanto, de entender o Movimento, mas de saber onde ele vai parar. Se bobear vira uma roleta russa, com riscos institucionais. Que fazer? Reorganizar as Alianças Políticas em torno de um Programa de Emergência. Rápido. A Base Aliada ruiu. Ela não garante além da aprovação apertada de medidas legislativas. Mas não REPRESENTA consistentemente uma fração significativa do povo brasileiro. Isto porque o sistema partidário e político estão falidos, para não falar do institucional – representação parlamentar – , em crise no mundo inteiro. É o que os jovens estão clamando nas ruas: VOCÊS NÁO NOS REPRESENTAM! Então, está na hora de reorganizar tudo: Partidos e Governo. O PT vem perdendo sistematicamente a hegemonia sobre a esquerda, repetindo para si mesmo, confiante,  como a bruxa que se olha no espelho e pergunta: -“Espelho , espelho meu! Existe alguém neste país mais  esquerda do Eu?”. Ora, todo mundo sabe que o PT já não tem a seu lado nem a esquerda histórica do país – brizolistas, socialistas e comunistas – , nem a inteligência crítica. Até os artistas parece que descambaram. Hoje, o PT é um Partido de burocratas sindicais e de máquinas Governamentais. Preço da glória e da acomodação. Aconteceu em vários outros países nos quais a esquerda chegou ao Poder. Em alguns casos acabou tragicamente, como a República Social-Democrata de Weimar. Mas com um novo Programa de Governo  , com estratégias claramente definidas, o PT ainda tem jeito. Mas terá que fazer uma Reforma Ministerial de profundidade, com novos aliados. Ir para o embate. Melhor morrer – isto é , perder a eleição em 2014 – peleando, do que fugir do compromisso histórico. (Se é que este ainda subsiste…).

Finalmente, coroando: Em Política, todo mundo sabe, definem-se os inimigos e aguenta-se os amigos. O problema é que o PT restringiu esta máxima à Governabilidade e acabou se debilitando ideologicamente. Do ponto de vista estratégico já não tem inimigos, a não  ser “os tucanos”,  uma vaga estrela da Ursa Maior, e o FHC, seu Sol. Ora, isso é disputa eleitoral. Do ponto de vista estratégico há que enfrentar, como Vargas e Goulart o fizeram, o latifúndio e o agrobusiness em benefício da Reforma Agrária; há que combater , sim, o monopólio das Comunicações como fazia o Brizola; há que defender a soberania nacional contra a rapina do Império, fortalecendo a PETROBRÁS e outros setores estratégicos da Industria Nacional; há que lutar para nacionalizar a Banca, como recentemente fizeram os islandeses e também o Estado de Andaluzia, na Espanha. Ah!! Mas vamos tomar porrada! Uai! Quem sobe no ringue da Política, dá e toma porrada. E não adianta, depois de vencido, reclamar do juiz ladrão, dizer que o adversário jogou contra (ia colaborar…?) , que o treinador errou. Isso é choramingação. Lenga-lenga de derrotados. No Poder, se luta para chegar e se luta mais ainda para lá permanecer, mas, permanecer para realizar um programa.

Agora a Pesquisa de Credibilidade do DataFolha: Nem preciso falar . Os dados falam por si mesmos, como uma imagem dialética do mal estar com as instituições políticas no país.. Há uma descrença generalizada nos Três Poderes da República e ela  é a maior em dez anos entre os paulistanos, foco do Movimento. Apenas 19% confiam no Executivo, 42% não atribuem nenhum prestígio ao Congresso e só 34% o conferem em algum grau ao Judiciário. Vejam :

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1297484-descrenca-nos-tres-poderes-e-a-maior-em-dez-anos-em-sp.shtml

A falta de prestígio dos Três Poderes da República é a maior em dez anos entre os moradores de São Paulo, segundo pesquisa Datafolha realizada ontem com 805 paulistanos. Ao mesmo tempo, as redes sociais na internet e a imprensa aparecem empatadas com mais prestígio do que todas as outras instituições pesquisadas.

Há dez anos, 51% dos habitantes da capital paulista achavam que o Executivo (Presidência e ministérios) tinha muito prestígio. Em 2007, o percentual caiu para 31%. Hoje, são apenas 19%. Essa década analisada pelo Datafolha coincide com a administração do PT no Planalto –com Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (de 2011 até hoje). A margem de erro da pesquisa é de quatro pontos percentuais, para mais ou para menos.

No caso do Congresso, a avaliação tem sido ruim: os que achavam que o Poder Legislativo não tem nenhum prestígio eram 17% em 2003. Agora, a taxa subiu para 42%.
Os partidos também nunca estiveram em alta. Mas em 2003 havia apenas 22% dos habitantes da cidade de São Paulo que consideravam que essas agremiações não tinham nenhum prestígio. Agora, são 44% –trata-se do maior percentual de desprestígio entre todas as instituições pesquisadas.

No caso do Judiciário, 38% dos paulistanos achavam que esse Poder tinha prestígio em 2003. A taxa recuou em 2007 para 34%. Ontem o Datafolha registrou só 20%.

 Por essas razões é que as ruas do país estão cheias de manifestantes. Eles estão cansados. Querem mudanças. E nem é propriamente um problema com a Copa. As próprias pesquisas demonstram que este é o menor indicador da mobilização. O maior é a luta pela qualidade de vida nas cidades, mesmo!

VIVA AS RUAS! Onde mora o acontecimento…!

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O RECADO DAS RUAS: ‘SAÍMOS DO FACEBOOK!”

Paulo Timm – Torres junho 19 – copyleft

Ontem, dia 18 de junho do ano da graça de 2013, sem lenço nem documento, muito menos aviso prévio e com absoluta ausência de Políticos e seus  Partidos, a juventude brasileira ocupou as ruas de várias cidades do país. Fato inédito que vai para a História.  Protestam CONTRA: Contra o aumento das passagens de ônibus, contra o caduco sistema de representação política ,  contra a corrupção, contra a tentativa do Congresso Nacional calar o Ministério Público, contra os péssimos serviços públicos. “Pela vida”, como disse uma manifestante a uma rádio. – “Desculpem o incômodo, estamos mudando o país”, dizia um cartaz pendurado num menino de cerca de 15 anos.  É a vitória da democracia direta, que vem das ruas , ecoa junto às famílias e reverbera nas paredes dos Poderes constituídos. E dá seu recado num outro cartaz : “Quando seu filho adoecer, leve-o ao Estádio”.

A maior reação da sociedade é de perplexidade. Como pode isto estar acontecendo? Afinal, o país vive um momento de estabilidade institucional, equilíbrio político entre várias forças , pleno emprego e inserção inédita de milhões de miseráveis no mercado. Esquece, quem assim pensa, que esta é apenas a superfície da sociedade brasileira, uma – senão a mais – injusta do mundo, com uma pequena vitrine de bilionários senhores, nada mais do 10 mil enfortunados rentistas, senhores , da totalidade dos ativos patrimoniais e  financeiros contra uma nação de 100 milhões  miseráveis que não ganham maio salário mínimo por mês, mal contidos por outro tanto de uma miscelânea social inaudita a que dão o nome de classe média. O país não tem infra-estrutura, não tem uma indústria competitiva , não tem educação e saúde, a ponto de querer importar médicos do exterior. Somos, na verdade um grande fazendão que não consegue gerar os recursos fiscais indispensáveis à modernização do país.

A Imprensa Internacional é a mais surpresa. Talvez porque jamais tenha entendido direito o Brasil.

O Governo Federal, ainda narcisicamente ferido pela vaia à Presidente Dilma na abertura dos jogos da Copa das Federações, vacila. Pior, revela profunda divisão que aponta para inevitáveis rachaduras no PT. Primeiro, tentou ver nas manifestações a contrariedade da classe média alta contra as Políticas Sociais. Depois, através de um  Ministro  Palaciano, Gilberto Carvalho,  revelou a incompreensão sobre os fatos, preferindo jogar as demandas à responsabilidade dos Prefeitos. Pobre moço!!!  Aí Lula e Dilma resolveram falar a favor dos manifestantes.  – “Estamos aí! Juntos!”, dizem em uníssono. E admitem que há uma nova forma de fazer política que se revela nas ruas. Nesse sentido, lembram o Presidente Figueiredo, no ocaso do regime militar, quando indagado o que achava do grande comício das Diretas Já, no Rio de Janeiro (1983), quando reuniu um milhão de pessoas: “Se eu estivesse lá, seria o um milhão e um…”, disse . Frases de efeito mas reveladoras do mal estar de quem está no comando.

Os políticos , nesta hora, sumiram. Nada dizem. Mas pensam. Alguns sibilam em off o óbvio: “O vento mudou. É uma onde de reprovação à Política, que não poupa ninguém. Nada será como antes”. O mais experiente no Congresso Nacional, José Sarney sempre fala nessas horas que tudo muda quando as manifestações cercam o Congresso. Portanto, do silêncio que grita, uma observação inevitável: Começou o declínio do PT levando à conseqüente erosão de sua Base Aliada e riscos crescentes à reeleição de Dilma em 2014.

E as tendências ideológicas, como reagem ?

Na esquerda estabelecida no poder – PT, PCdo B  e PDT , nenhuma nota oficial. As Direções acusam, entretanto, a presença de muitos de seus jovens nas manifestações em franco desafio ao marasmo reinante nas cúpulas. Algo muito parecido ocorreu nas históricas manifestações de 1968, quando o velho Partidão, inerte, viu sua “Dissidência”, eminentemente jovem,  acorrer maciçamente ao espasmo ant-autoritário que fluía pelas avenidas e praças do país. Nunca mais se recuperou … Hoje o PPS, que lhe sucedeu, é uma pálida e desfigurada caricatura do foi o Glorioso Pessegueiro…Com a lacuna da esquerda dita oficial, de grande porte, crescem os nanicos : PSOL, PSTU e algum outro de menor expressão.

A direita foi tomada de surpresa. Prova-o a crônica desavisada do Arnaldo Jabor na primeira hora, condenando o movimento como irresponsável e inútil. Teve que apelar à autocrítica e mudar de tom. É o que está acontecendo com o conjunto das forças mais conservadores. Sabendo que não pode tirar partido direto da situação, sobre a qual mal disfarça um sorriso amarelo, procura apoiar de longe o movimento como técnica diversionista. Pelo menos, dizem, algo se mexe e cria uma esperança de mudança em 2014. Talvez reeditem, com isto, em 2014, o que o PFL fez em 1994: Concentrar suas forças num candidato que, mesmo sem ser plenamente confiável,  como (ainda) era FHC naquela época com seu pequeno PSDB, consiga desestabilizar o PT. A ultra-direita, cheia de viúvas saudosas da ditadura ficam açodadas e multiplicam seus manifestos delirantes na INTERNET. Náo é impossível que se infiltrem no Movimento como agents provocateurs…Mas, ainda assim, não há que fazer qualquer comparação do momento atual com o que aconteceu em 1964, falácia a que o os petistas , defensivamente, sempre cometem. Hoje , a direita está literalmente desarvorada, sem conexões externas. Está, enfim, por sua conta e risco, o que lhe limita enormemente os movimentos.

Daqui em diante, portanto, o PT , como Governo e  como força até aqui hegemônica na esquerda deverá abrir seus olhos e predispor-se à mudanças, não só de estilo de Governo, responsabilidade de Dilma, como de avaliação da conjuntura.  Estamos na iminência de uma nova era na política nacional. Esgotou-se o modelo construído nos anos 70 e que deu oito anos ao PSDB e 10 ao PT. A democracia se consolidou, a tecnologia de informação mudou radicalmente, a sociedade amadureceu. Pior , tudo isso num mundo em alta rotação de mudanças estruturais na sua economia e na sua geopolítica. Nesta última o Brasil se enlaça, em seu INVERNO DE PERPLEXIDADES ao que foi a PRIMAVERA ÁRABE e o OUTONO TURCO. Há , neste novo cenário, um forte movimento da contestação à política tradicional e suas instituições, sobretudo o sistema representativo sob monopólio de Partidos.  O mundo não sabe o que quer, mas sabe o que não quer mais: não quer ser tutelado por concepções fundamentalistas de inspiração religiosa ou ideológica, ambas autoritárias. Até no Irã está havendo mudanças.

Aqui, pois, a primeira lição a ser aprendida pelo PT: Ele não tem o monopólio da esquerda brasileira pelo simples fato de ter nascido no meio operário e ter conseguido eleger um metalúrgico Presidente. Tem que lutar por isto, num projeto de refundação da esquerda atualmente esfacelada.  E compreender que não será jamais o centro de uma articulação política para a mudança no Brasil se não fizer, antes da aliança com Partidos obsoletos, com a inteligência, hoje desprezada. Um discurso como fez Dilma recentemente, que estigmatiza a crítica às Políticas Governamentais, associando a inteligência ao Velho do Restelo é simplesmente execrável, além do mau gosto e lamentável ignorância do personagem.

Quanto à Dilma,  enfim, é tempo de compreender que não basta viver das glórias do passado, inequívocas no tocante à incorporação, embora muito por baixo, de 20 ou 30 milhões de brasileiros ao mercado. Ela tem que Governar. Governar com definições ideológicas claras, vez que, se é para administrar uma Política Neoliberal, com ênfase em privatizações, prioridade ao agrobusiness e abandono de áreas sociais, melhor deixá-la à gestão dos tucanos… Além disso,  Governar é definir estratégias e persegui-las com habilidade política, eis que no seu prepotente centralismo está um dos principais problemas atuais. Eis o que um jornalista (L.Nassif) , apoiador  do Governo, alinha como passos, embora mais administrativos do que políticos,  indispensáveis:

Passo 1 – reconstruir canais institucionais de participação externa. Assim como no CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) e no Minha Casa, Minha Vida, há que se reabrir o espaço para que a sociedade civil. Há três canais obstruídos de participação: a Casa Civil, da Ministra Gleize Hoffmann, a articulação política, da senadora Ideli Salvatti, e o Ministério da Justiça, de José Eduardo Cardozo.

Passo 2 – uma mudança ministerial graúda, eliminando os apáticos e os que, há tempos, colocaram o governo em segundo plano para cuidar de suas pretensões políticas.

Passo 3 – Reestruturação organizacional no Ministério, colocando ministérios menores sob a coordenação de Ministérios maiores -, conferindo poder e autonomia aos coordenadores, além de sistemas para definir as prioridades, o acompanhamento dos trabalhos e a cobrança de resultados a posterior. Ao presidente cabe libertar-se das amarras do dia a dia para a correta avaliação política e estratégica. O lema desse segundo tempo deveria ser: “Definir, delegar e cobrar”.

Passo 4 – ampliar as interlocuções informais para fora da macroeconomia. De Getúlio a Lula, todos os presidentes tinham olheiros, radares, pessoas de confiança junto ao meio empresarial e político para alimentá-los de informações de cocheira. Getúlio tinha Valentim Bouças,  Lula tinha (e ainda tem) Antonio Pallocci. Sem canais informais confiáveis, Dilma continuará desarmada.

De tudo o que estamos vivendo, portanto, há mais dúvidas do que certezas. Sequer a certeza de que este movimento se converta em instrumento táctil para as mudanças pretendidas. Movimentos equivalentes em outras partes do mundo, como Occupy Wall Street nos USA e Indignados, na Espanha, estão em franca fragmentação. Mas, de qualquer forma, deixam seu registro. Até pode não acontecer nada, mas se isto acontecer, desafiando a realidade que exige uma grande REFORMA POLÍTICA no país,  o movimento ficará represado e , mais dia menos dia, voltará à cena.

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CUIDADO! MUITO CUIDADO!

Paulo Timm – Torres junho,14 – copyleft

Uma das principais características da História é a de que,  apesar de todos os instrumentos contemporâneos para elucidá-las sobre algum fio condutor, seja ela, como queria Marx,  ela o produto da  luta de classes, seja, como preferia Baudelaire, a conseqüência sublime dos belos olhos de alguma mulher, de espetaculares conspirações ou  seja o que for, ninguém sabe o que vai acontecer amanhã de manhã. De repente, a História irrompe na invasão da Polônia por Hitler, em 1939, seguida dois anos depois, mesmo com o odioso Pacto Ribentrof- Molotov entre Alemanha e União Soviética, jogando o mundo numa mortandade ímpar. Outras vezes, menos fatídica, transforma uma mera luta por maior flexibilidade na administração dos regulamentos da Universidade de Paris numa onde revolucionária mundial. Outras, soterrando na obscuridade um diligente e corajoso coronel russo responsável por responder automaticamente à invasão do espaço aéreo do seu país apertando os botões da Guerra Nuclear, mas que não fez, diante do que posteriormente se revelou como um erro do computador.  Quem sabe o que nos reserva essa caprichosa Senhora nos tempos vindouros…? Por enquanto, aqui no Brasil, presenciamos um raro momento de tensão entre Movimentos Sociais e Governo. Poderá ela deflagrar algo mais sério? As autoridades, irmanadas em torno da ordem, se preocupam. PT e PSDB se reaproximam. Todos estão meio perplexos , pela extensão do movimento e uma criança, em São Paulo, pega no meio da confusão, entre tiros de balas de borracha, cacetetadas e correrias, enxuga as lágrimas e lamenta: “Pior é que eu não sei quem está com a razão.”  Sábio menino. Sinal dos tempos…

Nos últimos anos temos visto um certo arrefecimento da Sociedade Civil , sempre inquieta diante do Estado. A presença do PT no Governo , com uma Política Econômica mais flexível de gastos sociais e estímulo ao Consumo agradou os movimentos sociais. Até mesmo o MST , ainda que acusando sempre a inércia do Governo quanto à Reforma Agrária, entrou numa processo meio letárgico de existência. Evita conflitos frontais que poderiam trazer conseqüências desastrosas para a governabilidade. Engole sapos, lagartos e jacarés. A UNE, outrora pedra no sapato dos Governos, também está quieta, sob o controle de Partidos Políticos que participam da Base Aliada.  Neste contexto, sobram como eventuais atores de resistência, índios, minorias sexuais e membros de Partidos radicais com presença limitada às Universidades. Mas é exatamente aí que mora o perigo, apesar de que os ideólogos do Governo sempre se pautem por uma idéia de que a Classe Média não oferece qualquer perigo. Para o Governo, o grande arco de alianças no CONGRESSO NACIONAL é o maior amortecedor do que poderia ser  o nariz torto da  grande  classe média às suas políticas de maior alcance social, como  o Bolsa Família, Cotas e Minha Casa.  Mas, curiosamente, é daí que surge a faísca que ameaça se transformar num grande incêndio às vésperas dos grandes eventos esportivos que colocam o Brasil no centro da mídia mundial. E já fica claro que , se são os preços das passagens que dão início aos movimentos em todo o país,  começam a aparecer outras demandas de caráter mais geral. Diante disso, o menos que se pode dizer é CUIDADO! Apesar os eternos apelos dos SÓLIDOS FUNDAMENTOS da economia brasileira como suporte do Governo do PT, nem eles são tão sólidos diante da Crise Internacional que não dá trégua, como são incapazes para mover no curto prazo a inércia de uma das sociedades mais injustas do mundo. Portanto,  há combustível, de sobra, no Brasil, para insatisfações sociais e até  rebeliões de rua.  Elas não destituirão nenhum Governo. Mas podem abalá-lo. E numa rapidez inusitada.

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 “Ouçam o que temos a dizer”

                                 Paulo Timm – copyleft – Torres RS – 13 junho 2013

A PRAÇA

                                            Castro Alves

A praça

A praça é do povo

Como o céu é do condor

É o antro onde a liberdade

Cria águias em seu calor

Senhor!

Pois quereis a praça

Desgraçada a populaça

Só a tem a rua de seu

 

 

 

 

Ainda chocado pelo mau gosto da Presidente Dilma em citar a passagem do Velho do Restelo, do  “Lusíadas”, para estigmatizar os que criticam o Governo como eternos pessimistas, volto-me às manifestações de rua que têm infestado o país no último mês, de Porto Alegre ao Nordeste. Antes, registro meu lamento que não tenha a Presidente, na terra do Pai do Língua no último dia 10, data máxima da lusofonia, que lembra a morte de Camões, sequer tocado na importância de sua obra. Ou que tenha aproveitado a ocasião para lançar um vasto programa de estímulo à leitura…

Começo lembrando o finado Roberto Freire, psicanalista, autor de “Sem Tesão não há Revolução”, para quem , numa sociedade injusta não há como ser radical sem cair na marginalidade. Isto para dizer que não são as manifestações urbanas esporádicas que me espantam, no Brasil. O que me espanta mesmo é que elas não ocorram diariamente convertendo-se em irredentismo. Por quê? Porque é na Rua que Mora o Acontecimento, trazido à borda do tempo como  sala de espera da problematização:

SALA DE ESPERA

                                         Cassiano Ricardo

Mas eu prefiro é a rua

A rua em seu sentido usual

Em seu oceano que é ter bocas e pés

Para exigir e para caminhar

A rua onde todos se reúnem num só ninguém coletivo

Rua do Homem como deve ser

Transeunte, republicano, universal

Onde cada um de nós é um

Pouco mais dos outros

Rua da reinvindicação , onde mora o acontecimento

E por outra razão muito simples: O Brasil é uma das sociedades mais injustas do mundo, apesar de ter sido sempre, uma das economias mais prósperas. Há 500 anos estamos no top-10 e todo mundo finge que isso só aconteceu recentemente. Só nos dez maiores PIBs do mundo estamos há 50 anos. Mas foi sempre um progresso  de benefícios religiosamente concentrados na vértice de uma pirâmide social que evoluiu (?) de genocida dos nativos na fase “exploratória”,  mais tarde, escravocrata, até 1888, depois oligárquica, até Vargas, e finalmente, cínica, isto é “liberal”. Nesta última fase passou de 60 para 200 milhões de habitantes, atravessando diversos regimes políticos e tonalidades de Governo. Os mais pobres deram conta do recado divino: cresceram e se multiplicaram, não sem uma mãozinha dos Governos na forma de parcos programas sociais, desde o “Taça com Pão e Manteiga”, tabelado, obrigatório, passando pelos “Institutos”, último deles o INSS, até os atuais programas de Bolsa Família. Podemos até arriscar que nosso povo é filho das campanhas de vacinação e  dos antibióticos, que reduziram sensivelmente a taxa de natalidade no século XX, e da “farinha de pau”. Ou , como diria Bautista Vidal, desta bênção dos trópicos em  forma de biomassa que transforma a energia solar em energia humana. Há , no Brasil, a despeito da incorporação nos últimos tempos de 20 a 30 milhões de gentes na dita classe média ( diga-se de passagem, por baixo dela…), metade da população que não ganha sequer meio salário mínimo por mês. (Este é o verdadeiro fantasma que ronda e amedronta autoridades, elites e intelectuais neo-fascistas que clamam pela “Ordem”).  Ainda assim, mesmo sem renda, pagam impostos, pois, entre-nós, como gostava de referir Florestan Fernandes, cerca de 75% dos impostos arrecadados são de origem indireta. Outros 25%, paga-o a classe média com o Imposto de Renda não menos odioso, porque penaliza enormemente quem ganha até dez salários mínimos, como se isso fosse um ganho fantástico. Rico mesmo, que ganham mais de 30 mínimo até bilhões, no Brasil, não paga imposto nenhum e ainda reclama, inventando essa fraude do IMPOSTÔMETRO em São Paulo, que a papagaiada repete sem maiores indagações. Ao final, depois de raspar o suor do povo mais pobre com tributos o Governo Federal se compraz em gastar quase metade do que arrecada com o pagamento de juros de dívida pública, numa taxa de juros exorbitante. Quem duvidar consulte a página da DIVIDA CIDADÃ : www.auditoriacidada.org.br / Veja-se que não estou criticando ESTE Governo. Estou falando sobre o caráter injusto da sociedade brasileira que tem suas raízes na Matriz Colonial e que a muito custo consegue se modernizar, mas sem bolir com o controle dos ativos patrimoniais que se refletem na apropriação por cerca de 5 mil famílias de metade da renda gerada no país. É a Máquina do Mundo, do Drummond :

a máquina do mundo se entreabriu

para quem de a romper já se esquivava

e só de o ter pensado se carpia.

Ora, num cenário social destes a Guerra Civil desloca-se das barricadas para a violência urbana desenfreada nas grandes metrópoles, que é onde se concentra a população e a pobreza. Mas a violência não é apenas dos marginais. Ela está inscrita na vulnerabilidade social das famílias que habitam as periferias: insuficiência de emprego e renda, desagregação doméstica com espancamentos de crianças, mulheres e velhos diariamente, violações sistemática de moças que atravessam amedrontadas ruas sem iluminação nem calçadas, transportes públicos sofríveis, convivência com o tráfico e suas vítimas. Na verdade está por todos os lados…

Exploradores do medo

 

Eles  ficam  nas suas torres

Lívidas,  lívidas,

Eles ficam nas suas torres,

Que são  de aço, não de marfim.

Eles ficam nas suas torres,

Que são de aço, não de marfim.

Eles ficam nas suas torres

E, lá dentro, são cordiais,

São corados, gesticulam

E ensaiam diante do espelho.

 

Dorme, operário,

Que o bicho- papão

Te espera lá fora

 

Com a bomba na mão.

 

Dorme, estudante,

Dorme, senão

Vem a moura- torta

Com a foice na mão.

 

Dorme, povo,

Dorme, nação

Dorme e os teus cuidados

Deixa em nossa mão.

 

Eles ficam nas suas torres

Irradiando o ritornelo.

Eles comem do vermelho

E nos servem do amarelo.

As explosões urbanas que assistimos nos últimos dias não é nada frente aos pequenos assassinatos que ocorrem diuturnamente nas cidades brasileiras. Lógico que isto apavora a classe média mais assentada e tradicional que preferiria ver o Brasil num sendeiro de ORDEM E PROGRESSO, como frisa a bandeira . Mas ela fala do camarote de seus privilégios, com medo da “cruz do momento”, sem se dar conta de que sãos as ruas e praças que anunciam mudanças, não o Jornal Nacional:

 

Preferimos a ruina à mudança,

Preferimos morrer em nosso medo

Do que subir a cruz do momento

E deixar nossas ilusões morrerem

                                                  W.B.Yeats – Poeta – in The Age of Anxiety Premio Pulitzer, 1948)

E nem se pode imaginar que os distúrbios consistem na melhor forma de obter resultados. Mas não se trata disso. Trata-se de entender o Brasil no que ele verdadeiramente é, sem retoques. Contrariamente ao Poeta Maior que se indagava incrédulo se “O Brasil Existe?” , ele existe sim, e é esse que aí está e que ruge esporadicamente avisando que ainda é o Rei da Floresta. Claro que nosso caso não tem nada a ver com a Primavera Árabe, com o Outono Turco ou qualquer coisa que o valha. Há tempos nos cansamos de perguntar o que é exatamente o que identifica o Homem e as Sociedades. Rigorosamente, nada. O que nos identifica é exatamente a pluralidade. E dessa pluralidade emergem inevitáveis conflitos, apesar das sociedades sempre quererem vender sua imagem de eternidade. Que nada! Elas mudam. Mas não mudam no ritmo tão desejado pela Ordem, mesmo em tempos atuais. Às vezes, pelo obliterado imperativo do Amor ( velha consigna positivista : O Amor por princípio, a Ordem como meio e o Progresso como fim) fala mais alto. Ora, dirão alguns os conservadores: “Isto é amor?”. Pois sim! Não o amor entrevado das fábulas senis, mas o Amor como expressão de vitalidade da juventude, sempre inquieta, sempre desejosa de ampliar fronteiras e atravessar o mundo como um trunfo. Não o amor idealizado do encanto milenarista, mas o Amor como toque de uma modernidade secularizada que não aceita a eternização das diferenças como herança da natureza. Não o amor como artefato ornamental de grandes espetáculos e objetos de desejo inacessíveis,   mas o Amor ao alcance dos lábios que saciam a sede na fonte cristalina.

“Ouçam o que temos a dizer”

O que precisamos, enfim, no Brasil, não é sufocar as manifestações dos jovens.  Nem incentivá-las, até porque elas jamais o aceitariam, vez que genuínas. Mas compreendê-las pelo exercício da palavra. Escutá-los. E como tudo que começa em Poesia, em Poesia se encerra:

“Infinito é o sonho

Que, irrealizado,

Dorme em apoese”

Anderson Braga Horta, poeta brasiliense ,  in APOESE

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TRIBUTO A GORENDER

Paulo Timm, copyleft – Torres 11 junho 2013

A morte, ontem, de Jacob Gorender, aos 90 anos, leva consigo, uma parte considerável da história do marxismo e do movimento comunista no Brasil, confundida até final dos anos 60 com a história do próprio Partido Comunista do Brasil /Brasileiro , do qual ele foi um dos principais dirigentes. A importância de Gorender se revela pelo teor da Nota emitida pela Presidente Dilma Roussef:

Nota de pesar da presidenta Dilma Rousseff pelo falecimento de Jacob Gorender

Foi com tristeza que recebi a notícia da morte do amigo e companheiro Jacob Gorender. Autor de duas obras clássicas da historiografia brasileira, O Escravismo Colonial e Combate nas Trevas, Gorender foi um pensador do Brasil. Não teve medo das polêmicas intelectuais, assim como não teve medo de defender suas ideias, mesmo pagando o pior dos preços.

Nós nos conhecemos presos no Dops, em São Paulo. Ele estava convalescente de torturas e foi conselheiro importante em um momento crucial na minha vida.

Aos familiares, amigos e admiradores, deixo as minhas condolências e homenagens a este grande brasileiro.

Dilma Rousseff
Presidenta da República  Federativa do Brasil

Gorender foi um grande brasileiro em vários sentidos: combatente  de guerra contra o nazi-fascismo, revolucionário interno infatigável, meticuloso intelectual, editor de várias gerações de periódicos comunistas e de  livros já clássicos. Homem extremamente simples, atento aos princípios do marxismo, desde jovem se dedicou à militância integral, num tempo em que ser comunista significava uma vida de privações e perigos inadvertidos. Ultrapassou tudo isso sempre granjeando respeitabilidade, mesmo quando discordava da Direção do PcB e do grande líderes Luiz Carlos Prestes, por quem não tinha a menor simpatia. Desde sua criação o Partidão , como era conhecida esta agremiação,   praticamente concentrava uma visão monolítica do que era o marxismo como doutrina e o que era o comunismo como militância, refletindo-se este monopólio na própria visão de Gorender sobre a Política: Defesa do Princípio do Internacionalismo Proletário, como defesa intransigente da antiga União Soviética e Política de Alianças com vistas ao fortalecimento da Democracia e do Capitalismo Nacional. O episódio de 1935, como assalto ao Poder,  é mais uma exceção do que uma regra na historio do comunismo brasileiro.  Nos anos 60 , porém,  com o conflito sino-soviético, este monolitismo cindiu-se, dando origem ao atual PcdoB, vindo a se abrir, com isto, novas fronteiras de interpretação dos caminhos da Revolução no Brasil. Depois do Golpe, final dos anos 60, assistimos ao “Grande Racha”, que levaria ao esfacelamento do Partidão e à abertura do marxismo brasileiro à formas de luta mais combativas contra a Ditadura. Gorender sai do Partido e com Mário Alves e Apolônio funda o PCBR.  Um pouco antes, passa um longo tempo no Rio Grande do Sul, onde teve um importante papel na formação de uma geração de comunistas que também romperiam com o Partidão, fundando o Partido Operário Comunista – POC. Com o extermínio dos combatentes da luta armada e do fracasso dos intentos de derrubada da ditadura, Gorender passa longos anos na obscuridade, como , de resto, toda a esquerda revolucionária. Seu retorno à cena política revelou um escritor atento ao seu tempo, disposto à algumas revisões tanto da doutrina , como das formas de luta. Filiou-se ao PT, ao lado de Florestan Fernandes, amigo e confidente, e , optou, devido à idade, pelo distanciamento da luta polítiva. Sempre foi, entretanto, como diz Dilma, um Conselheiro infatigável de grande sabedoria.

Na morte de Gorender, rendo-lhe meu tributo pessoal. Conheci-o , vagamente, nos idos de 64/66, em Porto Alegre, recém ingresso no Partidão, quando lhe ouvi algumas inteligentes preleções. Vez por outro recebi a incumbência de transportá-lo no meu pequeno e insuspeito carro INTERLAGOS, no qual ele entrava meio risonho e com alguma dificuldade. Nestas ocasiões, sempre tensas, ele falava pouco. Eu tremia. Aliás, foi uma boa experiência para afastar-me da opção revolucionária. Via que me faltavam muitas virtudes, que em homens como ele, abundavam: Coragem, desprendimento da vida pequeno-burguesa, compromisso absoluto com a Revolução.

Gorender, entretanto, não gostaria muito que, neste momento, falássemos dele ou de sua obra. Preferiria que se fizesse de sua morte uma reflexão sobre as causas que o moveram em toda a sua longa vida: o Marxismo e a Revolução

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A MORADA DO SER

Paulo Timm – junho,10-Torres RS – Copyleft

 

 

Palavras sempre sabem o que querem” . (Adriana Falcão , Pequeno Dicionário de Palavras ao Vento)

Hoje , dia 10 de junho celebra-se o Dia da Língua Portuguesa, data da morte de Luiz de Camões, “Pai da Língua”, autor de “Os Lusíadas”, em 1589. É com a língua que resistimos e existimos como espécie. E que nos diferenciamos na Babel de povos distintos. O próprio português do Brasil, distanciando-se do lusitano,  é um amálgama do poder colonial com  a malemolência tropical, obrigada, por duas vezes, a discriminar o tupi, amplamente falado no território até o final do século XVIII: Pelo Marquês do Pombal, em  17 de agosto de 1758,  e por Dom João VI, em 1808.  A língua é, de resto,  nossa primeira prisão, nas malhas da  razão que a própria razão desconhece; mas é também, nossa única possibilidade de alforria, pelo exercício da liberdade.

Em 1968, por exemplo,  às vésperas do AI-5, uma canção, de Geraldo Vandré, sintetizou este poder da língua, ao ser interpretada nas eliminatórias por ele próprio no III Festival Internacional da Canção, transformando-se no maior hino de repúdio à ditadura militar: “Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores” ou “Caminhando“. Até hoje, para quem viveu, mesmo de longe, aqueles momentos, não há como sufocar  à forte emoção que evoca e que bem demonstra o importante papel da cultura, em seu vasto espectro, na redemocratização do país, independentemente do grande enigma que Vandré ainda representa em sua poética solidão.(É patética sua fala, mas digna de respeito, tanto pelo personagem humano, como pelo gênio artístico ineludível,  na recente entrevista concedida a Geneton de Moraes Neto, na GloboNews):

“Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção…

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer…(2x)

Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão…

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer…(2x)

Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão…

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora”

Lamentavelmente,  os comentaristas da grande mídia obnubilaram a data da língua, preferindo as estatísticas da economia, no melhor estilo da velha tradição,   tão condenada pelos verdes: a maldição do PIB. Mas se a moeda forte nos mercados globais não é o real; se a tecnologia, até mesmo do provecto automóvel  “nacional” , vem de fora; e  se a economia está se desindustrializando, sob o fascínio da exportação de commodities que nos aferra à matriz colonial, tão condenada por Caio Prado Jr., desde seus primeiros escritos econômicos da década de 30 do século passado, o vernáculo é nosso.  Fernando Pessoa, Poeta Maior da língua, ia mais longe. A língua, para ele se confundia com a própria pátria, no melhor estilo heideggeriano, para quem a palavra é a morada do ser:

“As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie – nem sequer mental ou de sonho – , transmudou-se o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand, fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria perfeição de engenharia sintática, me faz tremer como um ramos ao vento , num delírio passivo de coisa movida.         (…)

Não tenho sentimento político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a ortografia sem ípsilon, como o escarro direto que me enjoa independentemente de quem o cuspisse.

 

Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da trasliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.

 

(Fernando Pessoa –  Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, Lisboa, Ática, 1982)

Mauro Santayana, decano do jornalismo brasileiro, não vai tão longe. Mas defende a língua escrita como  fundamento da soberania e tem uma posição de defesa intransigente da pureza do idioma:

“Demolir a linguagem é demolir o homem. Quando se trata de política de Estado, é crime contra o povo.”

(Mauro Santayana, Linguagem e Soberania – www.maurosantayana.com)

Mais do que         morada, pátria e essência da soberania de um povo:  A linguagem escrita é um momento do processo civilizatório que potencia a comunicação humana elevando-a culturalmente. A importância da Grécia Antiga consistiu precisamente no fato de que foi a simplificação da sua escrita , de base fonética, mais avançada do que as paralelas,   que proporcionou uma  inédita sinergia  da inteligência da época naquela região, culminando no requinte do helenismo.   E, mesmo sucumbindo ao poder de Roma, foi esta cultura que forjou os valores fundamentais da cultura ocidental, demonstrando o poder da palavra trasliterada na “última flor do Lácio”:

Língua portuguesa

Olavo Bilac


Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

em que da voz materna ouvi: “meu filho!”,
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

            ( “Poesias”, Livraria Francisco Alves – Rio de Janeiro, 1964, pág. 262)

 

É pelas palavras escritas e pela língua falada que nos identificamos como um povo no seu cotidiano. Por elas  nos eternizaremos como cultura, sendo, portanto nossa maior riqueza, aquela que se projeta como mito. Podemos não comer palavras, no sentido literal, nem chegar com elas, literalmente, às estrelas. Para tanto, farse-ão indispensáveis a boa matemática, a física e a tecnologia. Mas pela palavra dizemos do nosso espanto e descobrimos o logon da  fina teia de Ariadne. E pela palavra cantamos nossos sentimentos, suportando a dor e revalorizando a existência. E quando a palavra corta, abre-se o silêncio que grita:

“A última palavra é a palavra do poeta; a última palavra é a que fica.
A última palavra de Hamlet:
O resto é silêncio.
A última palavra de Júlio César:
Até tu, Brutus?
A última palavra de Jesus Cristo:
Meu pai, meu pai, por que me abandonaste?
A última palavra de Goethe:
Mais luz!
A última palavra de Booth, assassino de Lincoln:
Inútil, inútil…
E a última palavra de Prometeu:
Resisto!”

(José Antonio Küller  – Liberdade, Liberdade – http://josekuller.wordpress.com/3-liberdade-liberdade/)

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MUNDO SEM INFORMAÇÃO, MUNDO ÀS ESCURAS

Paulo Timm – Copyleft – Autorizada a reprodução por todos os meios – Torres junho,07

“Mundo sem informação, mundo às escuras”

Balthasar Gracián – Sec. XVII

A “liberdade para transmitir informações e ideias por quaisquer meios independentemente de fronteiras”

 (artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948).

“A América Latina está em ebulição em matéria de regulação dos meios de comunicação. É uma tentativa de superar a histórica letargia do Estado diante da avassaladora concentração das indústrias de informação e entretenimento nas mãos de um reduzido número de corporações, quase sempre pertencentes a dinastias familiares. Cabe ao Estado um papel regulador, harmonizando anseios e zelando pelos direitos à informação e à diversidade cultural.”

Denis de Moraes , jornalista.Entrevista

No último dia 03 de maio a UNESCO, órgão das Nações Unidas para Educação e Cultura , fez uma Proclamação pela liberdade de expressão, ao tempo em que divulgou relatório sobre a morte de jornalistas em várias partes do mundo. A liberdade de expressão está consagrada na Declaração dos Direitos Humanos da ONU e na Constituição do Brasil de 1988.

Constituição brasileira de 1988

·         Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

·         V – o pluralismo político

·         Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vidaliberdade,igualdadesegurança e a propriedade, nos termos seguintes:

·         IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

·         VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

·         IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença

·         Art. 220º A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.

·         § 2º – É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.

 

Já nos idos do século XVII um célebre monge espanhol, Balthasar Gracián dizia que um mundo sem informação é um mundo às escuras. Com efeito, quando a palavra corta, fecha-se a comunicação e instaura-se, em qualquer tempo, em qualquer regime político,  a verdade despótica dos donos do poder. A liberdade de expressão é a manifestação específica da espécie que comunica e se comunica fazendo deste processo a própria escalada civilizatória rumo ao projeto de emancipação humana.

A liberdade de expressão, sobretudo sobre política e questões públicas é o suporte vital de qualquer democracia. Os governos democráticos não controlam o conteúdo da maior parte dos discursos escritos ou verbais. Assim, geralmente as democracias têm muitas vozes exprimindo ideias e opiniões diferentes e até contrárias.

Segundo os teóricos da democracia, um debate livre e aberto resulta geralmente que seja considerada a melhor opção e tem mais probabilidades de evitar erros graves.

A democracia depende de uma sociedade civil educada e bem informada cujo acesso à informação lhe permite participar tão plenamente quanto possível na vida pública da sua sociedade e criticar funcionários do governo ou políticas insensatas e tirânicas. Os cidadãos e os seus representantes eleitos reconhecem que a democracia depende de acesso mais amplo possível a ideias, dados e opiniões não sujeitos a censura.

                                                                                  wiki

A liberdade de expressão, entretanto, não se confunde, com o direito de qualquer um dizer o que bem entende sobre outros, mesmo sobre o Governo . Seus limites são os limites da própria liberdade individual, que cessa sempre e quando invade a liberdade alheia e , eventualmente, agride a honra de alguém. Esses limites estão codificados e sujeitos à Lei Penas e Civil. Ela trata, portante, de um princípio geral, pelo qual todos têm o direito a expressar suas ideias. Não raro este direito esbarra em conflitos. A Imprensa, por exemplo, acabou tendo um grande peso na formação da opinião pública, mas ela não necessariamente atende ao interesse público, nem à liberdade de expressão. Graças à isto, transformaram-se no que se chama de “Quarto Poder”, peça fundamental da Indústria Cultural contemporânea.  Os grandes impérios da comunicação no mundo inteiro são privatizados e vivem da publicidade de anunciantes. Têm ideias próprias sobre questões religiosas, políticas e de costumes e dirigem seus veículos em defesa destes valores. Acabam afastando-se da fidelidade aos fatos e disseminando opiniões, com base na suposta “competência”do Mestre que fala e escreve a supostos ignorantes, numa perspectiva positivista de uma verdade objetiva ancorada no saber:

“Gradualmente desaparece uma figura essencial do jornalismo: o jornalismo investigativo, que cede lugar ao jornalismo assertivo ou opinativo. Os jornalista passam, assim, o ocupar o lugar que, tradicionalmente, cabia a grupos e classes sociais e a partidos políticos e, além disso, sua opinião não fica restrita ao meio impresso, mas passa a servir como material para os noticiários de rádio e televisão, ou seja, nesses noticiários, a notícia é interpretada e avaliada graças à referência às colunas dos jornais”

Marilena Chauy. – Conferência Sind. Jornalista S.Paulo -2012

 

Na América Latina, por exemplo, com o continente vivendo uma grande virada polítca à esquerda, são frequentes os conflitos entre Governos e Imprensa.:

A legislação mais abrangente e detalhada para o setor de comunicações dos anos recentes foi promulgada na Argentina, em 2009. A própria presidente Cristina Kirschner presidiu reuniões na Casa Rosada com líderes sindicais e estudantis, proprietários de empresas de comunicação, produtores independentes, reitores de universidades, diretores e professores das faculdades de comunicação, líderes de igrejas e associações de rádios e televisões comunitárias para apresentar ideias e sugestões.

A Ley de Medios, promulgada em outubro de 2009, é longa – 166 artigos – e cheia de remissões a outras normas. Ela representa uma resposta ousada à supremacia dos meios de comunicação no jogo político, social e cultural da atualidade. A Ley propõe mecanismos destinados à promoção, descentralização, desconcentração e incentivo à competição, com objetivo de barateamento, democratização e universalização de novas tecnologias de informação e comunicação.

Alguns pontos da lei argentina merecem destaque:

– Democratização e universalização dos serviços;

– Criação da Autoridade Federal dos Serviços de Comunicação Audiovisual, órgão autárquico e descentralizado, que tem a função de aplicar, interpretar e fiscalizar o cumprimento da lei;

– Criação do Conselho Federal de Comunicação Audiovisual da defensoria pública de serviços de comunicação audiovisual, para atender reclamações e demandas populares diante dos meios de comunicação;

– Combate à monopolização – nenhum operador prestará serviços a mais de 35% da população do país. Quem possuir um canal de televisão aberta não poderá ser dono de uma empresa de TV a cabo na mesma localidade;

– Concessões de dez anos, prorrogáveis por mais dez;

– Reserva de 33% dos sinais radioelétricos, em todas as faixas de radiodifusão e de televisão terrestres em todas as áreas de cobertura para as organizações sem fins lucrativos;

– Os povos originários terão direito a dispor de faixas de AM, FM e de televisão aberta, assim como as universidades públicas.

                                       ( A Regulação da Mídia na A.Latina – CEPAL/)

No Brasil este conflito tem se expressado no confronto entre a Grande Imprensa  e setores do Governo, jornalistas e Sociedade Civil, os quais pretendem questionar o monopólio das Grandes Redes sobre a Comunicação. Um autor Washington Araújohttp://www.cidadaodomundo.org – Email – wlaraujo9@gmail.com  sintetizou as críticas no site www.cartamaior.com.br de 5/03/2010, dirigidas ao Instituto Millenium que, no Brasil, reverbera os interesses liberais da Mídia::

1. Liberdade de expressão é interditar todo e qualquer debate democrático sobre os meios de comunicação.

2. Liberdade de expressão só pode ser invocada pelos que controlam o monopólio das comunicações no país.

3. Liberdade de expressão é bem supremo estando abaixo apenas do Deus-Mercado.

4. Liberdade de expressão é moeda de troca nas eternas rusgas entre situação e oposição.

5. Liberdade de expressão é denunciar qualquer debate sobre mecanismos para termos uma imprensa minimamente responsável.

6. Liberdade de expressão é gerar factóides, divulgar informações sabidamente falsas apenas para aproveitar o calor da luta.

7. Liberdade de expressão é deitar falação contra avanços sociais, contra mobilidade social, contra cotas para negros e índios em universidades públicas.

8. Liberdade de expressão é cartelizar a informação e divulgá-la como capítulos de uma mesma novela em variados veículos de comunicação.

9. Liberdade de expressão é não conceder o direito de resposta sem que antes o interessado passe por toda a via crucis de conseguir na justiça valer seu direito.

10. Liberdade de expressão é explorar a boa fé do povo com programas de televisão que manipulam suas emoções e suas carências oferecendo uma casa aqui outro carro ali e assim por diante.

11. Liberdade de expressão é somente aprovar comentários aptos à publicação em sítio/blog da internet se estes referendarem o pensamento do autor e proprietário do sítio/blog.

12. Liberdade de expressão é ser leviano a ponto de chamar a ditadura brasileira de ditabranda e ficar por isso mesmo.

13. Liberdade de expressão é imputar ao presidente da República comportamento imoral tendo como fundamento depoimento fragmentado da memória de um indivíduo acerca de fato relatado quase duas décadas depois.

14. Liberdade de expressão é apresentar imparcialidade jornalística do meio de comunicação mesmo quando os principais jornalistas fazem de sua coluna tribuna eminentemente partidária.

15. Liberdade de expressão é fazer estardalhaço em torno de um sequestro que não ocorreu há quase 40 anos com a clara intenção de tumultuar o processo político atual.

16. Liberdade de expressão é assacar contra a honra de pessoa pública utilizando documentos de autenticidade altamente duvidosa e depois fazer mea culpa na seção “Erramos”.

17. Liberdade de expressão é submeter decisões editoriais a decisões comerciais de empresas e emissoras de comunicação.

18. Liberdade de expressão é somente dar ampla divulgação a pesquisas de opinião em que os resultados sejam palatáveis ao veículo de comunicação.

19. Liberdade de expressão é não ter visto “Lula, o filho do Brasil” e considerá-lo péssimo produto cinematográfico sem ao menos tê-lo assistido.

20. Liberdade de expressão é minimizar o descaso do poder público ante as enchentes de São Paulo e reduzir candidato à presidência a mero poste.

21. Liberdade de expressão é ter dois pesos em política externa: Cuba é o inferno e China é o paraíso.

22. Liberdade de expressão é demonizar movimentos sociais e defender a todo custo latifúndios vastos e improdutivos.

 

23. Liberdade de expressão é usar uma concessão pública para aumentar os níveis de audiência com o uso perverso de crianças no papel de vilões.

24. Liberdade de expressão é desqualificar quem não aprecia a programação servida pelo Instituto Millenium.

25. Liberdade de expressão é rejeitar in totum toda e qualquer proposição da Conferência Nacional de Comunicação.

26. Liberdade de expressão é apostar em quem ofereça garantias robustas visando manter o monopólio dos atuais donos da mídia brasileira.

27. Liberdade de expressão é obstruir qualquer caminho que conduza mecanismos de democracia participativa.

28. Liberdade de expressão é fazer coro contra qualquer governo de esquerda e se omitir contra malfeitorias de qualquer governo de direita. Ou vice-versa.

29. Liberdade de expressão é fugir como o diabo foge da cruz de expressões como liberdade, democracia, cidadania, justiça social, controle social da mídia.

30. Liberdade de expressão é lutar para manter o status quo: o direito de informar é meu e ninguém tasca.

 

Enfrentando essas questões Argentina e Venezuela confrontaram-se com os grandes monopólios da Mídia e aprovaram novas regulamentações , conhecidas como Leyes de Medios. No Brasil, estamos longe de um processo semelhante. Os Governos são virtuais reféns de redes que detém elevados índices de audiência e que dificultam a abertura de um processo de discussões sobre o assunto. Todos os Encontros com tal fim são bombardeados com o slogan de que pretendem censurar a imprensa e coartar a liberdade de opinião. As redes de INTERNET com sua infinidade de sites e blogs alternativos têm procurado furar esse bloqueio de circulação de ideias novas sobre a realidade nacional e internacional. Mas estão, ainda , longe de poderem se transformar em veículos de formação de opinião. Até, pois, que consigamos instaurar um debate franco e definitivo sobre a Mídia no país, continuaremos na dependência dos grandes veículos. Eles põem e dispõem dos fatos como querem seus editores e senhores, os quais confundem sistematicamente a opinião pública sobre o verdadeiro sentido da liberdade de expressão..

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COISAS DA PEQUENA POLÍTICA

Paulo Timm, 68 – Copyleft – Autorizada publicação todos meios

Torres/RS – 06 de junho de 2013

“Durante algum tempo, o Brasil passou por uma fase de grande política. Se a gente lembrar, por exemplo, a campanha presidencial de 89, sobretudo o segundo turno, tinha duas alternativas claras de sociedade. Não sei se, caso o PT ganhasse, ia cumpri-la, mas, do ponto de vista do discurso, tinha uma alternativa democrático-popular e uma alternativa claramente neoliberal. Até certo momento, no Brasil, nós tivemos uma disputa que Gramsci chamaria de grande política. A partir, porém, sobretudo, da vitória eleitoral de Lula, eu acho que a redução da arena política acaba na pequena política, ou seja, que no fundo não põe em discussão nada estrutural. Eu diria que é a política tipo americana.”
Carlos Nelson Coutinho – Entrevista : Caros Amigos de dezembro de 2009 – http://ousarlutar.blogspot.com/2010/02/democracia.html?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+blogspot%2FvhpL+%28Ousar+Lutar%21%21%21+Ousar+Vencer%21%21%21%29

 

A morte do físico Bautista Vidal, há alguns dias, que foi meu colega no IPEA e com quem partilhei belas discussões ao tempo em que Cristovam Buarque era Reitor da Universidade de Brasília, me leva a pensar nos grandes temas que ele sempre levantava: Soberania, Defesa da Nação, Energia, Próximas Gerações, Espoliação Financeira Internacional, Monopólios , Política e políticos… Meu Deus, como ficamos pequenos nestes últimos tempos! A que está reduzida a Política no Brasil? Intrigas de corredor ou alcova (Rose-bud); parlamentares (de mentirinha) brigando (de mentirinha)  com o Supremo Tribunal Federal (de mentirinha…); acusações recíprocas de “petralhato” contra “tucanato elevadas à categoria de essência do fundamento, todas com livre curso nas redes,  como se a nação ou seu coalho político a isso se resumissem. Enquanto isso, quase metade dos Impostos arrecadados pela União destinam-se ao pagamento de juros da monstruosa dívida pública e ninguém sabe. Pior, inescrupulosos empresários paulistas ocupam a mídia e as redes com a diária informação do IMPOSTÔMETRO postado em Praça Pública, no qual se tenta convencer a opinião pública que o BRASIL É O PAÍS DOS IMPOSTOS. Pois não é bem assim. Tanto o tal Impostômetro como o discurso são fraudulentos. O Brasil é sim, o país em que uma minoria insignificante da população, não superior a dez mil pessoas, se apodera, via sistema financeiro,  dos pesados Impostos recolhidos pela União sobre os salários de todos os brasileiros para aumentar ainda mais sua riqueza e poder. Ontem mesmo, um amigo médico, velho e lúcido comunista, homem informado , em torno de seus 80 anos, me confessa que há apenas alguns dias disso tomou conhecimento. Mas Hitler foi à II Guerra, não porque fosse um louco, mas porque o Tratado de Versalhes, após a I Guerra Mundial,  impôs à Alemanha uma sangria impagável. Fala-se muito, também, em Classe Média, agora acrescida com mais de 20 milhões de consumidores, graças à elevação do salário mínimo, das transferências de renda e da conjuntura favorável de pleno emprego. Mas ninguém fala quantos milhões ainda permanecem na mais absoluta pobreza. É metade da população, quase cem milhões. Onde uma Revolução Cultural como a que acompanhou e impulsionou os Anos Dourados da década de 50? Onde os grandes debates do “Casa Grande” ou uma imprensa mundialmente inovadora como “O Pasquim”? Onde o florescimento do marxismo como filosofia crítica, tal como a que nos brindou Carlos Nelson Coutinho ao internalizar entre nós o debate sobre a Democracia como Valor Universal? Aí me dou conta de como o Bautista, sem ser político, nem de esquerda, nem marxista, era realmente grande nas suas reflexões, que ficam registradas nas conferências que pronunciou por todo o país, nas entrevistas que concedeu, nos 13 livros que estão publicados. Ele tratava da Grande Política, tal como Gramsci assim a entendia, ao pensar prospectivamente a nação entregando-se à ela com coragem. Coragem? Só se for como a própria inteligência, no dizer de Sérgio B.H., como ornamento e prenda, jamais pra valer… Foi Brizola, aliás, quem me chamou a atenção, certa vez, logo de seu retorno ao Brasil sobre isto, numa crítica velada ao escorregadio Pedro Simon: “Agora todo muito é < hábil> na Política Nacional. Não tem ninguém corajoso…?” Na verdade, a coragem saiu do dicionário dos nossos políticos, reservando-se, aqui e acolá, um ou outro momento histriônico, obra mais de destempero do que de civismo. Civismo…? Também sumiu. Acho que se perguntarmos a um menino do primário o que é isto, ele terá dificuldade em responder. Até mesmo as reuniões políticas atuais, antes fechadas a sete chaves nos recônditos das Ibiúnas da vida, hoje são escancaradas, regadas e bem servidas. Como já advertida Oswald de Andrade: “Eles ainda comerão destes biscoitos finos que fabrico”. Ou Alvaro Alvim: “Ah afogados!” Ou Mário de Andrade: “ Aliás muito difícil nesta prosa saber onde termina a blague onde principia a seriedade. Nem eu sei.” Ou Roberto Gomes, autor de A Filosofia Tupiniquim –http://www.iphi.org.br/sites/filosofia_brasil/Roberto_Gomes_-_Critica_da_Razao_Tupiniquim.pdf, um dos mais instigantes textos que li nos últimos tempos : “ Entre-nós perdeu-se o contato com a realidade em torno.”  Enfim, como mostrou Sérgio Buarque de Holanda , citando Holanda Cavalcânti – “Nada há mais parecido com um saquarema do que um luzia no poder”.

Tinhas , pois, razão Bautista, quando, aos berros e pancadas fortes nas mesas onde sentavas como conferencista, denunciavas:

– “São uns canaaaaaaaaaaalhaaaaaaaass!!!!”

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A QUESTÃO DA DEMOCRACIA

As últimas semana, com os arrufos entre Judiciário e Legislativo,  têm trazido à tona a questão da independência dos Poderes da República. Como se não bastasse o Presidente do Supremo, numa conferência dentro de uma Universidade disse que, no Brasil, os Partidos são “de mentirinha”. Perplexa, a cidadania clama por uma Reforma Política subscrevendo inúmeros posts na Internet, que não resultarão em absolutamente nada.  Afinal, há realmente uma tensão grave na conjuntura entre os Poderes ou tudo isso é também “de mentirinha”.

De uma forma geral, no Brasil, a esquerda, hegemonizada pelo PT e no Governo há dez anos, e a suposta direita, polarizada pelo PSDB, que lhe antecedeu por oito anos, não têm uma plataforma muito clara sobre o que é a democracia e como aprofundá-la entre nós. Parece que para o PT, a democracia consiste fundamentalmente no processo de construção da cidadania, com base num Executivo forte. O PSDB parece mais republicano, no sentido de valorizar as instituições do Estado de forma a que possam servir indistintamente o cidadão. Devo muito estas idéias a Renato Janine Ribeiro que as alinhavou  num artigo já clássico- http://www.torres-rs.tv/site/pags/nacional_filosofia2.php?id=2323”  .  Em conseqüência deste aproach pode-se entender melhor porque a esquerda é tradicionalmente Presidencialista, eis que daí consegue comandar com mais desenvoltura um programa de concessões materiais à população mais carente, enquanto o PSDB inclina-se preferencialmente para o parlamentarismo. Mas isto é apenas conjectura, não creio que esteja escrito em seus respectivos programas. Quanto à independência dos Poderes da República, ambos navegam de acordo com a conjuntura. O PT, ultimamente, tem se voltado contra o Poder Judiciário – razões óbvias! – , defendendo, paradoxalmente o mesmo Congresso que outrora Lula acusava de cheio de picaretas, enquanto o PSDB tem saído em defesa do Judiciário como instituição.

Nesta hora um nome como Carlos Nelson Coutinho faz uma falta imensa. Foi ele que, internalizou, na esquerda brasileira, final dos 60 início dos 70, o debate sobre a democracia como  valor universal e não apenas tático. Para tanto nos brindou com a obra de Gramsci, até então desconhecida, de onde emergia o valioso conceito de hegemonia. Depois disso não houve nenhum aporte significativo que viesse a contribuir para o debate da construção da democracia no seio da esquerda brasileira. Uma honrosa exceção é este artigo:

FILOSOFIA POLITICA – QUAL O VALOR DA DEMOCRACIA ?

 

 

 

Escrito por: Augusto Buonicore Historiador, mestre em ciência política pela UNICAMP, Secretário-Geral do Instituto Maurício Grabois (IMG), membro do conselho editorial das revistas Princípios, Debate Sindical e Crítica Marxista.

http://www.torres-rs.tv/site/pags/nacional_filosofia2.php?id=2216

A democracia, para a esquerda,  foi apenas o corolário tático da luta contra a ditadura e da acirrada disputa eleitoral que se lhe seguiu. De uma hora para outra, inclusive, velhos e empedernidos estalinistas aboletaram-se em funções públicas, pelas quais, aliás, não nutrem – conceitual e historicamente- grande respeito, e daí “acumulam forças”. Para quê? Ninguém sabe. Ninguém viu. Lembra até aquele famoso poema satírico de Ascenso Ferreira sobre o gaúcho”

Saí em louca disparada

A tilintar esporas etc etc

Para quê?

Para nada

Ter-se-ão tornados neo-democratas, como Roberto Freire, velho líder do Partido Comunista Brasileio, hoje Presidente do PPS, tal como aliás muitos outros velhos comunistas do mundo? Neste caso, tudo bem. Sem problema. Ainda que lhes conviesse uma auto-crítica…E os outros? A sociedade brasileira tem o direito de saber o que realmente pensam sobre a democracia. Um dos depoimentos mais pungentes que assisti dos velhos quadros da esquerda revolucionária que pegou em armas contra a ditadura foi o Vera Silva Magalhães, já falecida, e que fala com naturalidade sobre as motivações não propriamente democráticas mas socialistas do grupo de que participava :

TV Câmara dos Deputados – DF – Videotecas – Armazém Memória 

www.videotecas.armazemmemoria.com.br/Secoes.aspx?videoteca…

Urge, enfim, para melhor abordar as tensões conjunturais entre os Poderes que se instaure um debate mais sério na esquerda brasileira sobre a questão democrática. O que entende ela como democracia? O que pensa da “judicialização de política” – ver dossiê http://www.paulotimm.com.br/site/downloads/lib/pastaup/Obras%20do%20Timm/130428054723JUDICIALIZACAO_-_Coletanea.pdf.?  Qual o papel que ela reserva nos dias de hoje aos Partidos, às organizações não governamentais, aos movimentos de afirmação identitária e à própria luta ambiental? E as comunidades indígenas? Até que ponto está disposta a defendê-los, mesmo com risco de isto desemboque numa ferida na tão estimada unidade do vasto território brasileiro, conquista, aliás, eminente ariana e colonialista? Como ela vê a questão do parlamentarismo, vez que tanto defende, agora o Poder Legislativo? Estaria disposta a encará-lo como uma forma mais avançada da construção democrática? E a questão da “representatividade” , que esteve no centro dos debates políticos no início da República, opondo Ruy Barbosa a Julio de Castilhos, este magistralmente defendido por R. Monte Arraes no seu instigante “O Rio Grande do Sul e as suas Instituições Governamentais” , de 1925 e recentemente reeditado pela Editora Universidade de Brasilia.   Como percebe ela a divisão tripartite dos Poderes da República, esta?  Como vê a velha questão do verdadeiro monopólio dos bacharéis nos tribunais? Defenderia a desprofissionalização da Justiça, com fez Vargas com a Justiça do Trabalho? E as Forças Armadas? Toparia enfrentar o dilema de desmilitarizar a formação dos militares, tão nociva à diversificação de pensamentos das suas corporações? Ou alguém tem dúvida que eles, hoje, na sua grande maioria, à despeito de 30 anos da redemocratização ainda são eminentemente fascistas?  E  a Imprensa? E as novas Mídias? Como a esquerda contemporâneo pensa, enfim, a própria Polítca: Como um campo de afirmação de opiniões, como os clássicos, ou como de axiomas científicos , como pretenderam os positivistas, hoje reencarnados como neo-liberais? Caso contrário, fica parecendo que o debate sobre a democracia se esgota na Comissão da Verdade, o que é necessário, mas não suficiente. Ou que se reduz à defesa intransigente  dos Governos Lula e Dilma?  Curioso é que o mundo inteiro se jacta do “Modelo Brasileiro” de tolerância interna, mas, internamente nem nós sabemos exatamente o que é isto. E jamais poderemos levar adiante a Reforma Política tão pretendida pelos mais lúcidos interlocutores da atualidade, sem ter, antes esmiuçado  e respondido “militantemente” cada uma destas indagações.

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Foi-se um grande brasileiro: Bautista Vidal

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Morreu no sábado passado,  aos 78 anos , o físico baiano José Walter Bautista Vidal , ex-professor da Universidade de Brasília (UnB) e enaltecido como o grande incentivador do uso dos biocombustíveis no Brasil e, particularmente do PROALCOOL. Foi ele, na verdade, durante o Governo Geisel (1974-79) , à testa da área de pesquisa tecnológica, o  idealizador do Programa Nacional do Álcool, vindo a ter, em outro professor da UnB ,Urbano Ernesto Stumpf (1916-1998), que desenvolveu o motor à álcool, importante colaborador. Bautista deixa inúmeros livros publicados em defesa da economia nacional , sempre enfatizando a necessidade da afirmação  da soberania do país , os quais continuarão ecoando sua voz altaneira na identificação dos   problemas brasileiros, sempre apontando  alternativas e  soluções. Dono de temperamento forte Bautista não poupava os políticos, nem menos Fernando Henrique Cardoso e Lula, os quais acusava de não enfrentar com coragem o cerne do desenvolvimento brasileiro que é a questão energética. Crítico da Era do Petróleo, viveu na carne, como Secretário de Tenologia Industrial , a primeira crise do petróleo, nos anos 70, quando o preço do barril saltou de $US 2,50 o barril para mais de $US 10. Desde então deu início à sua pregação a favor do salto energético para os biocombustíveis, mas sempre ressaltando tratar-se não só de uma opção tecnológica mas um passo em direção à redefinição do modelo econômico fortemente concentrador de renda na pirâmide social e no sul industrializado. Via no álcool a possibilidade de redimir regiões depauparedas do país que poderiam encontrar no cultivo de matérias primas para a produção de energia um verdadeiro alento, eis que detentora de água em abundância, muito sol e áreas cultiváveis. Para ele o Brasil  era o único país do mundo capaz de dar este salto energético enterrando, de vez, a Era do Petróleo,  com uma energia limpa, renovável e fortemente redistributiva. Mas não acreditava que a PETROBRÁS pudesse liderar tal processo, em virtude de seu viés fortemente petroleiro. Sugeria, sempre, uma outra empresa que não concentrasse o processo produtivo, mas o estímulo para que cada Estado, cada Município deste imenso país, cada comunidade, se conscientizasse da necessidade da auto-suficiência energética e se voltasse à produção de biocombustíveis. Bautista não foi feliz em sua peroração. Vários Governos se sucederam sem lhe dar a devida atenção. Lula o escutou e chegou, até a se entusiasmar com a idéia. Foi quando saiu pelo mundo falando em biocombustíveis. Mas o anúncio da descobertas das jazidas do pré-sal, o levaram a mudar o discurso, certo de que ali estava um filão de rendimentos rápidos não só financeiros para o Estado, mas para a causa política que lidera. Mais uma frustração para Bautista. Contudo continuou, incansável, pelo país inteiro distribuindo sua eloqüente convicção na defesa do álcool e dos biocombustíveis. Até na minha modesta cidade de Torres, na fronteira do Rio Grande do Sul com Santa Catarina, esteve duas vezes, e deixou inúmeros adeptos que hoje lamentam sua morte.

Eu também lamento. Duplamente: como um simpatizante de seu discurso inovador, pouco enquadrado nas fórmulas das opções políticas em curso, no que repete outros grandes brasileiros de quem temos tanta saudade – Inácio Rangel e Darci Ribeiro – e como amigo, embora  distante. Fomos colegas de sala no IPEA, instituição de Planejamento e Pesquisa do Ministério do Planejamento, no início do Governo Figueiredo (1980-85). Ele havia saído do Ministério da Indústria e Comércio e voltara ao IPEA, preocupado com a ascensão de Delfim Neto ao poder, justamente à testa do Planejamento. Delfim, dizia sempre, é um canalha. A meu juízo, continua sendo, à despeito de ser um profundo conhecedor da economia brasileira e dono de respeitável formação acadêmica. Mas caráter nada tem a ver com ciência. Nem com ser bom condutor ao volante de um carro. É matéria de foro íntimo. Pois lá ficávamos, “de molho”, à espera dos acontecimentos que viriam a ser piores do que imaginávamos, naquela sala do décimo primeiro andar do Edificio BNDES em Brasília: Bautista Vidal, Marco Antonio Campos Martins, economista brilhante, PhD por Chigado, Marco Antonio Dias Pontes, jornalista e eu.  Posso dizer que foram os meses mais produtivos da minha vida profissional no IPEA pelo que aprendi com Bautista e Marco Antonio. Eu, menos acadêmico e mais militante, fui o primeiro a ser defenestrado sumariamente. Me expusera demais ao lado de Brizola no ato de fundação do PTB, depois PDT.  Fui demitido em março de 1980. Bautista e Marco Antonio Campos Martins pouco tempo depois. Depois disso, encontramo-nos muitas vezes nos Seminários da Universidade de Brasília durante a gestão de Cristovam Buarque na Reitoria, quando estimulava encontros de debates sobre Política e Economia no Brasil.

Guardarei, portanto, na minha lembrança a imagem de um homem forte, convicto de suas ideias, capaz não só de morrer pela causa da soberania nacional, mas, sobretudo, de viver intensamente por ela, mesmo à custa de ficar, muitas vezes, marginalizado pelas correntes dominantes de opinião.

O Brasil lamenta tua passagem Bautista. Mas tua voz continuará por muito tempo através de teus inúmeros livros. O país perde um de seus melhores e mais dignos concidadãos. Mas podemos dizer que o Brasil, doravante, não só dispõe de  água, sol e terras cultiváveis para dar o salto tecnológico do século, como o catalisador destes recursos na tua memória.

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CORPUS CRISTI   – HOMILIA LAICA

 Hoje, muito simples:  Feriado de Corpus Christi.

“Este é o meu corpo… isto é o meu sangue… fazei isto em memória de mim”.

(Cristo, Ultima Ceia)

Duvido que alguém saiba exatamente o que isto significa. Dizem que é um feriado religioso, da Igreja Católica. Vou conferir. Também não sei do que se trata. Mas antes de achar o significado da data descubro duas barbaridades cometidas pela mesma Igreja: A morte na fogueira de Jerônimo de Praga e Joana D ‘Arc.  Pura coincidência, pois a celebração do Corpus Christi é uma data móvel , enquanto os assassinatos são datados. Azar da Igreja, que melhor faria enfrentar a coincidência falando sobre o assunto, de resto já consertado ao reconhecer a falha dos processos contra os dois mártires. O silêncio, no caso, é mais um pecado… Ou seria outra? Afinal , não sou muito versado em assuntos religiosos, embora não me faça disso motivo de orgulho. Grandes intelectuais contemporâneos como Max Weber e Karl Yung, além de meu preferido, …, dedicaram longos anos à obras sobre o gênero. Conclusão: O homem não vive sem uma dimensão mística, religiosa, capaz de explicar o que ninguém explica. Daí a fé.

Eis, rapidamente,  os pecados  cristãos desta data há alguns séculos, antes da proclamação da virtude:

1416 – Jerônimo de Praga é condenado à morte na fogueira por heresia, pelo Concílio de Constança, realizado na cidade de Constança, na Alemanha.

Jerônimo de Praga (1379 — 30 de maio de 1416) foi o principal discípulo e o mais devotado amigo de Jan Huss, o célebre reformador religioso  tcheco.

Formação acadêmica

Nasceu em Praga, filho de família de posses. Após tornar-se bacharel na Universidade de Praga em 1398, no ano seguinte iniciou viagens por boa parte da Europa. Em 1402 visitou a Inglaterra e esteve na Universidade de Oxford, onde estudou e copiou as obras Dialogus e Trialogus de John Wycliffe e interessou-se pelo movimento lolardo, inspirado pelo mesmo Wyclif no século anterior. Em 1403 ele foi a Jerusalem e em 1405 estudou naUniversidade de Paris, onde obteve o grau de Mestre. Em 1406 Jerônimo de Praga obteve o mesmo grau na Universidade de Colônia e, um pouco depois, na Universidade de Heidelberg, ambas na atual Alemanha.

Defendendo a Reforma Religiosa

Em 1407 esteve por pouco tempo em Oxford novamente, para voltar novamente a Praga nos anos seguintes, onde suas posições nacionalistas começavam a provocar perseguições por parte da Igreja. Em janeiro de 1410, fez pronunciamentos em favor das filosofias de Wyclif, o que foi citado contra si no Concílio de Constança, quatro anos mais tarde. Em março de 1410, foi editada uma bula papal contra os escritos de Wyclif, o que causou a prisão de Jerônimo em Viena e sua excomunhão da Igreja pelo Bispo de Cracóvia. Conseguindo escapar, voltou a Praga, passando a defender publicamente as teses de reforma da Igreja pregadas por Jan Huss, que por sua vez reforçavam muitas das teses de John Wyclif. Em 1413 Jerônimo de Praga visitou as cortes da Polônia e da Lituânia, causando profunda impressão por seu diferenciado saber e eloqüência.

No Concílio de Constança

Martírio de Jerônimo de Praga, do Livro de Mártires de John Foxe (1563)

Quando Jan Huss viaja para o Concílio de Constança, em outubro de 1414, Jerônimo lhe assegura que o seguiria para ajudá-lo, caso fosse necessário, promessa que logo lhe faria chegar a Constança, em 4 de abril de 1415. Ao contrário de Huss, que obtivera um salvo-conduto para proteger-se, Jerônimo nada possuía para defender-se, razão pela qual os amigos insistiam para que voltasse a Praga. Em 20 de abril foi preso e enviado a Sulzbach, retornando a Constança em 23 de maio para ser imediatamente processado pelo Concílio.

Sua condenação, como a de Huss, já estava pré-determinada, tanto em conseqüência de seu apoio a muitas das idéias de Wyclif (embora discordasse de algumas) quanto por sua aberta admiração por Huss. Assim, não teve a oportunidade de defender-se em um julgamento justo. As condições de sua prisão eram tão severas que ele ficou seriamente doente, tendo sido induzido a retratar-se em duas reuniões públicas do Concílio (11 e 23 de setembro de 1415). As palavras colocadas em sua boca nessas ocasiões fizeram-no renunciar aos ensinos de Wyclif e Huss. A mesma saúde abalada o fez escrever cartas ao rei da Boêmia e à Universidade de Praga em que declarava estar convencido de que era justa a condenação de Huss à morte na fogueira por heresia, o que havia ocorrido em 6 de julho daquele ano. Nem mesmo essa conduta rendeu sua libertação, nem mesmo qualquer diminuição da sua pena. Em maio de 1416 Jerônimo de Praga foi posto novamente em julgamento pelo Concílio. Em 28 de maio, ele veementemente retratou-se de sua retratação, sendo finalmente condenado por heresia em 30 de maio e queimado na fogueira ainda no mesmo dia.

Legado ]

Suas extensas viagens, sua ampla erudição, sua eloquência, sua inteligência e sabedoria fizeram dele um formidável crítico da degenerada Igreja daqueles tempos, que chegou a possuir três papas ao mesmo tempo (ver Cisma Papal). Foram essas qualidades que fizeram repercutir suas profundas críticas à Igreja, contribuindo, mais que qualquer heresia, para sua condenação à morte. Sua morte ocorreu menos de um ano após a morte de Huss, contribuindo para inflamar o movimento nacionalista da Boêmia, que resultou em uma série de movimentos armados conhecidos como guerras hussitas. Jerônimo de Praga, assim como Jan Huss e John Wyclif, é considerado precursor da Reforma Protestante que ocorreria no século XVI. Jerônimo morreu cantando salmos na fogueira.

1431 – Em Ruão, na França, Joana d’Arc é queimada na fogueira aos 19 anos por bruxaria.

Joana foi presa em uma cela escura e vigiada por cinco homens. Em contraste ao bom tratamento que recebera em sua primeira prisão, Joana agora vivia seus piores tempos.

O processo contra Joana teve início no dia 9 de janeiro de 1431, sendo chefiado pelo bispo de Beauvais, Pierre Cauchon. Foi um processo que passaria à posteridade e que converteria Joana em heroína nacional, pelo modo como se desenvolveu e trouxe o final da jovem, e da lenda que ainda nos dias de hoje mescla realidade com fantasia.

Dez sessões foram feitas sem a presença da acusada, apenas com a apresentação de provas, que resultaram na acusação de heresia e assassinato.

No dia 21 de fevereiro Joana foi ouvida pela primeira vez. A princípio ela se negou a fazer o juramento da verdade, mas logo o fez. Joana foi interrogada sobre as vozes que ouvia, sobre a igreja militante, sobre seus trajes masculinos. No dia 27 e 28 de março, Thomas de Courcelles fez a leitura dos 70 artigos da acusação de Joana, e que depois foram resumidos a 12, mais precisamente no dia 5 de abril. Estes artigos sustentavam a acusação formal para a Donzela buscando sua condenação.

No mesmo dia 5, Joana começou a perder saúde por causa de ingestão de alimentos venenosos que a fez vomitar. Isto alertou Cauchon e os ingleses, que lhe trouxeram um médico. Queriam mantê-la viva, principalmente os ingleses, porque planejavam executá-la.

Durante a visita do médico, Jean d’Estivet acusou Joana de ter ingerido os alimentos envenenados conscientemente para cometersuicídio. No dia 18 de abril, quando finalmente ela se viu em perigo de morte, pediu para se confessar.

Os ingleses impacientaram-se com a demora do julgamento. O Conde de Warwick disse a Cauchon que o processo estava demorando muito. Até o primeiro proprietário de Joana, Jean de Luxemburgo, apresentou-se a Joana fazendo-lhe a proposta de pagar por sua liberdade se ela prometesse não atacar mais os ingleses. A partir do dia 23 de maio, as coisas se aceleraram, e no dia 29 de maio ela foi condenada por heresia.

A morte [editar]

 

 

Joana d’Arc sendo queimada viva.

Joana foi queimada viva em 30 de maio de 1431, com apenas dezenove anos. A cerimónia de execução aconteceu na Praça do Velho Mercado (Place du Vieux Marché), às 9 horas, em Ruão.

Antes da execução ela se confessou com Jean Totmouille e Martin Ladvenu, que lhe administraram os sacramentos da Comunhão. Entrou, vestida de branco, na praça cheia de gente, e foi colocada na plataforma montada para sua execução. Após lerem o seu veredito, Joana foi queimada viva. Suas cinzas foram jogadas no rio Sena, para que não se tornassem objeto de veneração pública. Era o fim da heroína francesa.

Após a morte de Joana d’Arc [editar]

A revisão do seu processo começou a partir de 1456, quando foi considerada inocente pelo Papa Calisto III, e o processo que a condenou foi considerado inválido, e em 1909 a Igreja Católica autoriza sua beatificação. Em 1920, Joana d’Arc é canonizada pelo Papa Bento XV.

Agora, o  “Corpus Christi”:

A data pretende celebrar o Corpo e Sangue de Cristo na Eucaristia, um momento importante da ligurgia cristã referido à última ceia de Jesus com os apóstolos, na quinta-feira anterior à Paixão,  quando lhes distribuiu o pão e o vinho.  Foi instituída pelo Papa Urbano IV com a bula Transiturus de hoc mundo, em 11 de agosto de 1264 – embora decretada cinco anos depois – ,  devendo cair na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade que ocorre no domingo depois de Pentecostes ou 60 dias após a Páscoa. Aos leigos, tudo isto soa  entre o desconhecido e o misterioso. Mas a verdade é que a tradição foi se consagrando em toda a Europa Cristã, especialmente na Diocese de Colônia, hoje Alemanha. Em Roma já se tem dela notícia desde 1350

“O papa Urbano IV, na época o cônego Tiago Pantaleão de Troyes, arcediago do Cabido Diocesano de Liège, na Bélgica, recebeu o segredo das visões da freira agostiniana Juliana de Mont Cornillon, que teve visões de Cristo demonstrando desejo de que o mistério da Eucaristia fosse celebrado com destaque.

Por solicitação do papa Urbano IV, que, na época, governava a Igreja, os objetos milagrosos foram para Orviedo em grande procissão, sendo recebidos solenemente por sua santidade e levados para a Catedral de Santa Prisca. Esta foi a primeira procissão do Corporal Eucarístico. A 11 de agosto de 1264, o papa lançou de Orviedo para o mundo católico através da bula Transiturus de hoc mundo o preceito de uma festa com extraordinária solenidade em honra do Corpo do Senhor.”

As procissões de Corpus Christi , no Brasil, iniciaram-se no Período Colonial em Ouro Preto. Hoje disseminam-se por várias cidades nas quais são feitos desenhos litúrgicos com flores, folhas e serragem. nas ruas por onde passam.

No Brasil, a tradição manda enfeitar as ruas com flores e serragem de cores vivas, que formam desenhos simbólicos. Isso acontece principamente nas cidades históricas e nas capitais, como Pirenópolis, em Goiás, São Paulo capital, Jacobina, na Bahia, e Castelo, no Espírito Santo. Mas o costume também se estende por todo o país.

http://dreamguides.edreams.pt/brasil/corpus-christi

A celebração religiosa do Corpo de Cristo merece, porém, uma homilia laica, vez que remete à comunhão de toda a humanidade em torno do pão e do vinho. A homilia é sempre a preleção de um religioso – homiliasta – no decorrer de uma celebração, normalmente após a leitura de alguma parte da Bíblia. Consta que era muito usado do período inicial do cristianismo, seguindo o exemplo do Mestre, tendo sempre um caráter  coloquial no tratamento das questões de fé, Deus e a religião, embora assumindo várias intenções: explicativa, exegética, quando isso é feito através das Escrituras e exortativo, caso em que procura exaltas as verdades aí contidas. Nada impede, porém, que se tome de empréstimo da liturgia esta boa prática que fez com a Igreja Católica tivesse o êxito que teve ao longo dos séculos.

Há na celebração três importantes considerações:

Primeiro, a idéia mesma da comunhão como um ato simbólico da confraternização, em que o sagrado se liga misticamente ao profano – o pão e o vinho – entregando-lhes um significado imaterial. Esta comunhão não se restringe ao Profeta ou seus clérigos mas pretende disseminar-se a todos os fiéis.

E aqui, a segunda observação: Estes fiéis não se restringem ao povo eleito de Deus, como na tradição judaica, de onde nasceu o Cristianismo, mas se estende urbi e orbi, a todos os lugares e a todos, tal como na bênção dominical até hoje feita pelo Papa no Vaticano.

Sendo destinada a toda a humanidade, a fé cristã, ao contrário da judaica, aqui também, devia ser divulgada através do proselitismo – pregação – , instituído, aliás, por Paulo e levado a cabo depois da Reforma Religiosa com grande afinco por diversas Ordens, principalmente jesuítas.

Muitas das considerações acima foram assumidas, também, por Luthero e os reformadores da Igreja de Roma e se converteram em verdadeiros ideias de reorganização da sociedade O caso mais clássico, curiosamente, foi o das 13  Colônias Americanas que mais tarde dariam origem aos Estados Unidos. Desde sua origem, a sociedade americana foi constituída com base em valores cristãos os quais lhe davam um sentido de conversão da humanidade inteira ao seu modelo de organização e vida. Daí à arrogância do “Consenso de Washington” que consagra pela força a Pax Americana  foi um pulo…

A celebração de Corpus Christi não se esgota, portanto, apenas na valorização da figura de Jesus no campo da doutrina e fé cristãs. Ele remete para a Comunhão da Humanidade como um corpo que deve ser reunido em torno de valores fundamentais, começando pela fraternidade em torno da mesa. Só os mamíferos superiores compartem o produto da caça, muitas vezes obtido pela cooperação coletiva, com sua espécie ou clã. E tivemos que chegar ao Império Romano para aprendermos a comer à mesa. Falta-nos, entretanto, alguns passos para que façamos sentar ao cardápio da civilização, hoje,  a humanidade inteira, com emprego para todos e alimento à mesa sem discriminações e exclusões. Este o verdadeiro sentido do cristianismo, cujo significado é exatamente universalização da condição humana.

Em boa hora, Sua Santidade o Papa, talvez interpretando desta forma a celebração de Corpus Christi, desferiu nos últimos dias 21 de maio, na cozinha ( ! ) do Vaticano e  22, na Casa Dom de Maria (!!), também no Vaticano,  explícita crítica ao capitalismo sem face, selvagem,  que mantém 26 milhões de desempregados na União Europeia enquanto trilhões de dólares, cada vez mais concentrados, não ultrapassando se controle a 0,35% da população mundial são entesourados em Paraísos Fiscais, à salvo de impostos, e de qualquer sentido social. Para não falar no bilhão de pessoas que passam fome no mundo, enquanto os celeiros das tradigns estão repletos de commodities na forma de  alimentos convertidos em fontes de lucro.

Cidade do Vaticano, 22 mai 2013 (Ecclesia) – O Papa deixou críticas ao “capitalismo selvagem” durante uma visita à casa ‘Dom de Maria’, dirigida pelas religiosas de Madre Teresa de Calcutá, que acolhe pessoas necessitadas, no Vaticano.

“O capitalismo selvagem ensinou a lógica do lucro a qualquer custo”, disse Francisco, numa intervenção divulgada hoje pelo portal de notícias ‘news.va’.

A visita, que decorreu na tarde de terça-feira, visou assinalar o 25.º aniversário da entrega da gestão desta casa de acolhimento a Madre Teresa por João Paulo II.

O Papa Francisco elogiou a hospitalidade “sem distinção de nacionalidade ou religião” que se vive na instituição, pedindo que se recupere o “sentido do dom”, da gratuidade e da solidariedade.

A intervenção sublinhou a importância de travar a “exploração que não olha às pessoas”.

“Vemos os resultados nesta crise que estamos a viver”, acrescentou.

                       (http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=95618)

A data, portanto, é um bom momento de reflexão sobre a fé mas, também, sobre a esperança de que o cristianismo, com sua força massiva e inequívoca capacidade de persuasão, ultrapasse os limites da liturgia para ajudar a encontrar uma saída para o difícil momento por que passa a Humanidade.

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OS REVOLTOSOS DE ONTEM E DE HOJE

Remexo nos arquivos, procuro em vão um motivo para animar a alma , nada encontro neste dia cinzento para o “cair da pena”, expressão que tomo de empréstimo a um velho amigo bageense, Jorge Saes. Salva-me a memória rossa de outro amigo, Henrique Castro, sociólogo de muitas paragens: Neste glorioso dia, no ano de 1871, tombaram os últimos resistentes da Comuna da Paris, os communards, epílogo tardio da “Era das Revoluções”,  magistralmente analisada por E.Hobsbawn (1789-1848) e ante-sala de outra Revolução que, ao contrário, seria vitoriosa, a dos Bolcheviques, na Rússia em 1917. O clima, aliás, nos dois casos, em 1871, na França, e em 1917, na Rússia, era muito parecido, embora estruturalmente diferentes, como bem destacou Leon Trotsky, no brihante ensaio “1789 -1848-1905” :  Dois países liquidados ao cabo de uma guerra sangrenta que enfraqueceu não apenas as respectivas economias, como o próprio Estado criando situações de grande convulsão interna, precursoras de situações revolucionárias  diligente e inteligentemente aproveitadas por líderes revoltosos. A França  de Napoleão III , derrotada  e humilhada pela nascente Alemanha de Bismark, que viria lhe socorrer, abrindo o ciclo das “Internacionais Brancas”, reproduzida em 1964 pela CIA/USA no Brasil; a Rússia czarista, arrasada no final da  I Guerra Mundial.     Karl Marx  viu a Comuna de longe, desde Londres, onde viria a morrer em 1883, o que não o impediu de trazer o tema às suas reflexões. Mas ela já contemplava grande parte de suas idéias que viriam a influenciar o pensamento revolucionário a serviço das classes populares até os dias de hoje, mesmo com a derrocada da União Soviética em 1991 e da notória perda de fôlego ideológico do marxismo. Em Londres, Marx dedicava-se à consolidação da Primeira Associação Internacional dos Trabalhadores, criada em 1864 .

Passados tantos anos da Comuna de Paris, ela ainda suscita muitos debates. Afinal, ela foi um elo entre o mundo abandonado das Revoluções no mundo ocidental e a construção do Socialismo pelo Leste, no qual desponta a China como baluarte. A Alemanha, onde foi forte o impulso revolucionário, o pós I Guerra viria a criar, também, uma nova oportunidade para o assalto ao poder, que foi tentado, sem êxito, pelo grupo de Karl Liebcneck e Rosa de Luxemburgo. Na França e Inglaterra a revolução  refluiu, abrindo espaço, assim como na Alemanha,  para experiências reformistas que viriam a desembocar, junto com os países escandinavos no Pacto
Social Democrata do Pós II Guerra, ora sob o fogo cerrado do neo-liberalismo.

No Brasil, há pouco foi lançado  sobre o tema um livro “140 anos da Comuna de Paris”, de autoria e organização do professor Milton Pinheiro:

Os ensaios contidos no livro repercutem uma diversidade de análises que só qualifica o debate e a pesquisa em torno do tema. O trabalho do professor Osvaldo Coggiola, discute os antecedentes e as consequências desse fenômeno histórico. O contexto histórico e o processo de luta direta são analisados pelo autor e organizador do livro, Milton Pinheiro. O pioneiro dos estudos sobre a Comuna no Brasil, Sílvio Costa, aprofunda o debate sobre os ensinamentos da Comuna. O cientista político português, João Bernardo, de forma polêmica debate o que ele considera os mitos disseminados sobre a Comuna. Mauro Iasi debate a questão do Estado, como enfim a forma encontrada por Marx, nos seus textos sobre a guerra civil em França, particularmente na questão sobre a ditadura do proletariado. David Maciel aprofunda a questão da emancipação dos trabalhadores, como um elemento real na experiência da Comuna. Luciano Martorano entra no debate sobre a Comuna sempre analisando a questão da socialização, e fazendo uma leitura sobre esse debate em Karl Korsch. No texto de Valério Arcary encontramos uma análise sobre a derrota da Comuna, as versões sobre o pensamento de Engels e as polêmicas sobre o comportamento da II Internacional. Por fim, o texto do Professor Zacarias, entra no mérito da Comuna como uma possibilidade de transição, tratando esse acontecimento como o primeiro ensaio da revolução permanente, na interpretação do autor.

 (Sofia Manzano- in Comuna de Paris , uma Reflexão Contemporânea ) http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=173735&id_secao=11#.TxqRVdCD68g.twitter

A partir da Comuna de Paris, o mundo ocidental viria  a se modificar profundamente, começando pela fisionomia das grandes  cidades, abertas à grandes avenidas pouco propensas às lutas de rua, tal como Haussman fez em Paris.  O capitalismo viria a demonstrar incrível capacidade de reorganização diante de suas crises cíclicas, ora recorrendo às guerras como mecanismo de compensação aos hiatos de mercado, ora aproveitando as próprias crises com sucessivas revoluções tecnológicas que reorganizam a industria e grupos dominantes, ora estimulando o desperdício, como bem o demonstra a obra de Kozlic , “ O Capitalismo do Desperdício”, ora através da crescente regulação com mecanismos sugeridos por Maynard Keynes, tal como fez F.D.Roosevelt no New Deal .  Viria a demonstrar, também, uma inadvertida capacidade para absorver as demandas populares por melhores condições de vida, com um tipo de Estado Providencial,  desembocando, como afirma Norberto Bobbio, no “Século dos Direitos”, paralelo ao deslocamento da luta de classes das barricadas para os tribunais, no que se denomina, crescentemente, de judicialização da Política. Com isto, expandiu-se consideravelmente  a classe média nas sociedades ocidentais do centro do sistema capitalista, desdobrando-se em processos de industrialização dependente a alguns países periféricos com escala de mercado, capacidade de articulação institucional e formulação de pactos políticos internos compatíveis, como        Brasil, México, Índia e poucos outros.

Desta forma, a Revolução foi se deslocando para o Leste, onde esta plasticidade, mercê de formas de dominação mais arcaicas, associadas à forte domínio colonial, não conseguia deslanchar. Começou pela Revolução Bolchevique, em 1917, na Rússia e daí seguiu seu “destino manifesto” em direção ao Levante, tendo na Grande Marcha de Mao Tse Tung um de seus maiores momentos e que hoje se expressa pela presença de China  como segunda grande potência mundial. Cuba, em 1959, declarando-se socialista em 1961, é apenas um contraponto deste processo. Em cada uma delas, porém, mesmo sob a mesma inspiração do marxismo, este ganhava novos contornos. Ao final dos anos 70 Issac Deutscher já chamava a atenção para vários “marxismos”, processo que só acentuou nos anos posteriores. Hoje se pode dizer que há marxismos para cada gosto, desde proto-marxistas à meta-marxistas, sendo os ex-marxistas os mais abundantes. A pureza dos clássicos, mesmo cultivada na Era do Marxismo Soviético em Partidos Comunistas- mas até hoje em Partidos com este e outros nomes afins – com ênfase na Revolução como advento de uma nova Era da Humanidade, foi se tornando, cada vez mais numa retórica biblicamente conservada mas pouco praticada. Já nos idos de 1935, logo da tentativa frustrada de tomada do Poder no Brasil pelo Partido Comunista, o próprio Stalin, instado a se manifestar sobre o evento, pela sua visível vinculação com a III Internacional sob seu comando, apressou-se em dizer que a União Soviética nada tinha a ver com o intento, classificando-o de “cômico, tragicômico”…  E mesmo um marxista reverenciado como o esloveno S.Zizek admite que já não podemos afirmar com serenidade que o socialismo é uma “etapa”posterior ao capitalismo…

Paradoxalmente, enquanto assinalamos o remoto aniversário da Comuna de Paris e assistimos nela um momento de máxime no impulso revolucionário das grandes massas no mundo moderno, verificamos, também, o desânimo revolucionário dos tempos atuais. Apesar de tudo, lá ocorreu uma poderosa inflexão, pelo menos no Ocidente. A idéia mesmo de Revolução, tão cara, ou apropriada,  a um Filósofo conservador como E. Kant no Sec. XVIII  saiu de moda. Nem sequer se fala na sua necessidade, muito menos na sua oportunidade. Terá sido este um passo civilizatório, inevitável, que deixa nos seus rastros apenas a loucura de terroristas fanáticos, imantados pelo fundamentalismo, ou uma docilização inaceitável, como propõe Domenico Losurdo, marxista italiano. A verdade é que diante da grave crise que abala o sistema capitalista ocidental desde 2008, guardando na sua bagagem de destruições um incrível desmoronamento da imagem de prosperidade da sociedade americana, hoje com quase 40 milhões de pobres, além de 26 milhões de desempregados na Europa, com a virtual desagregação de países inteiros como  Islândia, Grécia, Portugal e virtualmente Espanha e Itália, ninguém mais fala em Revolução, nem mesmo Insurgência. Na verdade, a grande demanda social cedeu lugar, desde 1968 , no meio francês, às demandas por liberdade. Liberdade de costumes, liberdade de movimentos, liberdade de pensamento, “Liberdade, Liberdade, abre as asas sobre nós”. Nem mesmo os intelectuais críticos apontam um caminho Político para a reorganização sócio-econômica de um capitalismo selvagem de natureza predatória e parasitária.. Salvo os governantes, imantados pelos interesses financeiros articulados à falsa Ideologia de Mercados, há unanimidade na crítica e absoluto silêncio quanto às saídas. Por quê…? Ou os fundamentos que impulsionaram a Comuna de Paris já não operam  ou devem ser substituídos por alguma outra Visão do Paraíso que nos ilumine…Como diria E. Hobsbawn vivo fosse  e que destacou a grande diferença entre o final dos séculos XIX e XX: – “Há cem anos, éramos todos otimistas…”

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A VERTICALIZAÇÃO DAS CIDADES

Por Paulo Timm

Divulgada nessa semana – Jornal O Globo, – pesquisa que mostra onde moramos nas cidades brasileiras. O objetivo é mostrar quantos de nós moramos em apartamento. Este indicador demonstra o dinamismo do mercado imobiliário nas cidades e aponta para novas políticas públicas municipais voltadas à verticalização.

O resultado é surpreendente: Porto Alegre, tem 37,7% de sua população morando em apartamentos, o segundo maior dos maiores coeficientes do país, pouco inferior ao de Vitória, com 38%.

Comparativamente ao interior do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre também desponta na verticalização. A que lhe chega mais perto, paradoxalmente, é Veranópolis, na Serra, uma cidade conhecida pela longevidade de seus moradores, com 20,1%. Aparentemente, não se comprova, pois, aquela idéia de que a geração dos nossos avós prefere a tranquilidade de boas casas com hortas e quintais. Nós, velhinhos, queremos mesmo  é facilidades, principalmente as donas de casa, cansadas das limpezas caras e extenuantes, as cozinhas sem hora, a sujeira dos pátios…

Comparando o Litoral e a Serra, vê-se, no quadro abaixo, que a Serra é mais verticalizada que o Litoral, o que se explica pelos veraneios. Os apartamentos em cidades como Torres, com índice até alto de verticalização – 11,6% – , só inferior ao de Capão, estaria, talvez, mais relacionado às oportunidades de investimentos do que propriamente veraneio. Deu para ver, no último verão, à noite, muitos apartamentos com luz apagada. Enquanto isto, a farta oferta de terrenos baratos em toda a orla oferece à nova classe média, que não dispõe, ainda de poupança para aplicações, a chance de veraneios confortáveis e relativamente baratos.

A questão da verticalização das cidades é sempre polêmica. A consciência ingênua, saudosista, como eu,  a critica. Não vivo sem mexer na terra todo o dia… Os engenheiros a defendem por ser uma forma mais econômica,em termos de infra-estrutura e serviços urbanos. Prognósticos futuristas, inclusive, já mostram plantas de edifícios-cidades, com a capacidade de abrigar 100 mil habitantes, a custo baixíssimo.

Quem viver, enfim, verá.

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O CAFÉ NOSSO DE CADA DIA 

 “Programe a sua homenagem ao café. O dia 24 de Maio precisa ser lembrado em todo o País. O magnífico aroma do café deve envolver as pessoas em todos os lugares e o gostoso sabor do café, encher nossos corações de alegria” (ABIC)

Esta é a mensagem da ABIC – Associação Brasileira da Indústria de Café, que estabeleceu esta data, em 2009,  para celebrar um dos mais característicos produtos brasileiros, historicamente responsável pela transição ao trabalho assalariado, pela imigração italiana , pela urbanização requintada do Rio e São Paulo, pela sociedade aristocrática que iria governar os anos de consolidação da Republica brasileira, numa trama tão excitante quanto complexa e contraditória.  Ainda hoje, o Brasil é  o maior produtor mundial de café  (32,9 milhões de sacas na safra 2005/2006) e maior exportador (26,6 milhões sacas em 2005), sendo o produto consumido por 93% de sua população que constitui o  segundo maior mercado consumidor, com 15,5 milhões de sacas industrializadas em 2005 , graças à ingestão média de 8,1 litros por cada um de nós (2010), número duas vezes maior do que há 40 anos.

Entre nessa comemoração você também!!!

O café, porém, nunca foi bem aceito pela boa sociedade. A primeira cafeteria que se tem notícia foi montada, em Constantinopla, no distante 1475, época em que os turcos ameaçavam invadir a Europa com seu temível exército de janízaros.  Episódio marcante deste contexto foi retratado no filme “A força do Amor”, que reconstitui o drama da entrega da bela e talentosa Verônica Franco , na corte de Veneza, ao fogoso Rei de França, a fim de salvar a cidade dos turcos. Na verdade, séculos se passariam, até o fim da I Guerra Mundial, para que a “ameaça” turca ao Ocidente fosse definitivamente contida. O café turco, porém,  forte, insinuante e convincente se infiltraria, a partir daí sobre a Europa. E mesmo tendo sido proibido na Península Arábica (Meca) em 1511 e em todo o Império Otomano em 1656, seu gosto já se havia imposto entre os ocidentais sendo cada vez mais apreciado, mesmo sob severas restrições. Assim, pois, o café é uma metáfora da própria modernidade. Concebida no mundo muçulmano de onde migra para o Ocidente, aí encontrará seu espaço de consagração.    Na Itália, no início do século XVII, alguns padres pediram ao Papa Clemente VIII, que condenasse o consumo do café. Não tiveram êxito. O próprio papa já o tinha como hábito…

Os britânicos,  foram os primeiros a comercializar o café na Europa. Registra a crônica que seu sabor e aroma fortes exerciam grande fascínio sobre a população, principalmente mais pobre. Estes se obrigavam, pela própria pobreza, ao uso do das folhas de chá por várias vezes durante o dia,  acarretando numa bebida quente, porém sem atrativos, de cor e sabor.   O chá , de cor forte, maior consistência e sabor acentuado  era uma prerrogativa dos  ricos. Com a entrada do café, ele se impôs, com nobreza, ao alcance das classes populares, por aparentar maior superioridade que o próprio chá. Era um símbolo.

Seu consumo, porém,  na Inglaterra,  logo encontrou dificuldades. Havia a crença de que o café era um “licor debilitante” da virilidade dos homens e fator de inúmeras doenças.

Já no ano de 1674, mulheres em Londres promoveram um abaixo assinado contra as cafeterias, lançando um panfleto: “A Petição Feminina Contra o Café”, onde se queixavam que os homens abandonavam suas casas “durante as crises domésticas”, para se divertirem nas “coffee houses”, e apregoavam os malefícios da “água suja, nauseante, amarga e escura”. Para as inglesas do século XVII o café não passava de um “licor debilitante” que tornava seus maridos “uns inúteis”. A crença de que a bebida trazida do Oriente causava a esterilidade e reduzia o desejo sexual fortaleceu-se na Inglaterra neste período a ponto de o rei Charles II tentar suspender as atividades das cafeterias, um ano após a petição feminina, alegando serem elas focos de revolucionários. Mas, o descontentamento geral provocado por seu decreto foi tão intenso que a suspensão durou apenas 11 dias.

Da Itália e Inglaterra, no século XVII o  consumo do café se alastrou por toda a Europa. Na França,  diz-se que o embaixador da Turquia (Império Otomano) na corte de Luiz XIV ,  disseminou de tal forma o  café em Paris que, por volta de 1669, cafeterias, , dentre elas o Café de la Regence, ficaram bastante conhecidas como  pontos de encontro de personalidades revolucionárias como Voltaire e Rousseau, e até de conservadores como o Cardeal Richelieu.  Voltaire (1694-1778) deixou até o registro de sua devoção à bebida em várias de suas: “Cândido”, “O Dicionário Filosófico”, “A Escocesa”

Nos territórios germânicos, o café arraigou-se aos hábitos do povo alemão (que passou a ingeri-lo também misturado ao leite), a partir de 1670 e afirmou-se graças ao monopólio estatal que durou até a Guerra dos Sete Anos (1756-63), mas somente entre as classes mais abastadas. Em 1680, instalava-se em Hamburgo a primeira cafeteria alemã e em 1697, o Conselho da cidade de Leipzig, cidade natal de Bach, proibiu o “uso não autorizado de chá e café”.

Em 1725, época de grande proliferação de composições barrocas alemãs, havia em Leipzig nada menos do que oito Kafeehäuser. Nelas, pequenas orquestras apresentavam-se, unindo a música ao consumo da bebida . J.S. Bach ,, o maior músico de todos os tempos, é um consumidor contumaz do produto e até escreve obra – “Kaffekantate”-  Cantata do Café:http://www.youtube.com/watch?v=UudHMK0Tbuk
Legalize já: http://www.youtube.com/watch?v=NkKt4emIZh4 -que faz sua  apologia,  numa época que seu uso era ainda visto com reservas.  E veja-se que Bach  é luterano, tido como austero, mas seduzido pelo café.

Na “Kaffeekantate” ou Cantata do Café, de 1732, Johann Sebastian Bach descreve o conflito entre um pai de costumes rígidos e sua filha entregue a nova mania de ingerir café três vezes ao dia! A obra, que tem hoje a catalogação BWV 211, foi encomendada a Bach por um homem conhecido como Zimmermann, dono de uma Kaffeehaus (cafeteria), em Leipzig, freqüentada pelo compositor e certamente por muitos músicos. O café, na ocasião, era praticamente uma novidade nos reinos alemães e seu consumo combatido por setores da sociedade que acreditavam que o “veneno negro” tivesse a capacidade de causar histeria e esterilidade se ingerido pelas mulheres.

BRANCO, Celso. Cantata do Café – apologia do consumo de um produto proibido Revista Eletrônica Boletim do TEMPO, Ano 6, Nº1, Rio, 2011 [ISSN 1981-3384] –http://www.tempo.tempopresente.org/index.php?option=com_content&view=article&id=5530%3Acantata-do-cafe-apologia-do-consumo-de-um-produto-proibido&catid=210&Itemid=100076&lang=PT

Hoje, o café é consumido livremente no mundo inteiro e suas virtudes são cada vez mais apregoadas. Cafés selecionados, de melhor qualidade e sabor refinado, sem qualquer amargor, são cada vez mais apreciados. São preferidos por consumidores mais exigentes que apreciam o prazer da bebida de qualidade mesmo com preços superiores. Isto estimula os produtores a se orientarem para cultivos controlados, desde o plantio, tratos culturais, colheira, secagem, beneficiamento e torrefação do grão, Aí obtêm grãos especiais que resultam numa bebida mais delicada, embora encorpada, com notas levemente  adocicadas, Trata-se de um café s00% Arábica. O mais valorizado de todos eles é o ‘Café Sumatra,o mais caro do mundo,  retratado no filme  “Antes de Partir” que  mostra um excêntrico  milionário  que aprecia um café muito especial e se admira quando descobre a sua origem: “Kopi Luwak “, de Sumatra.

“Lá, onde os grãos são cultivados, existem os gatos de algalha. Esses gatos comem os grãos, ingerem e depois defecam. Os aldeões coletam e processam as fezes. É a combinação de grãos e sucos gástricos destes gatos que dá ao Kopi Luwak o sabor e aroma que são únicos”.

No Brasil, nosso equivalente é o “Café Jacu”, produzido no  Espírito Santo. Ele é comido por uma ave da região, o jacu, que defeca a semente, que seca junto ao estrume  acaba nos brindando  com uma  verdadeira relíquia gastronômica. Lamentavelmente, a maior parte do café jacu é exportada. Poucos lugares no país a oferecem. Em Porto Alegre, a cada visita que faço, vou ao Mercado Público, que me cobra dez reais pelo prazer de sorvê-lo. Em Brasília, o único lugar onde o encontro é no “Kitinete”, na 209 Sul. Hoje, distante desses dois lugares, contentar-me-ei com o velho e bom cafezinho da DOCEARTE, aqui de Torres.

A um tal prazer, somou-se recentemente, a convicção de que o café faz bem à saúde. Há alguns anos pesquisas demonstraram que ele continha uma substância que prevenia a cirrose.

CAFÉ: HERÓI OU VILÃO?
07/08/06

Recente pesquisa realizada pelo instituto norte-americano Kaiser Permanente, na Califórnia, apontou mais um benefício do café à saúde: a bebida ajuda a prevenir a cirrose alcoólica, doença crônica do fígado que destrói seu tecido e é causada pelo alcoolismo. Além da óbvia boa notícia, o estudo contribui com mais informações para o antigo debate sobre os possíveis benefícios e prejuízos à saúde do consumo do café.

A pesquisa, que reuniu informações de 125.580 pacientes sobre o consumo de café, álcool e chá, entre 1978 e 1985, e as comparou com registros seguintes de casos de cirrose nos mesmos pacientes, mostrou que quanto maior a quantidade de café ingerida, menores as probabilidades de desenvolvimento da doença. O consumo excessivo de álcool por longo período é a causa mais comum de cirrose nas sociedades ocidentais (na China e em outras partes da Ásia, o vírus de hepatite é a mais comum).

Darcy Lima, professor do Instituto de Neurologia da UFRJ, vai além: “O remédio usado para tratar alcoolismo é um antagonista opióde de nome genérico naltrexona. Ele bloqueia a vontade de beber. E o café possui antagonistas opióides naturais – as quino-lactonas formadas durante a torra”, diz. “Quem toma mais café, bebe menos e tem menos depressão”, afirma ele, que possui a patente mundial de um fitoterápico de café com um Laboratório nacional, que está prestes a ser lançado.

Mais recentemente, 2010 e 2011, outros estudos demonstram que o café faz bem também ao diabetes e que tem forte poder anti-oxidante, retardando o envelhecimento celular.

Milhares de pessoas no mundo todo tomam ao menos uma xícara de café todo dia. E para a felicidade dessas pessoas, um novo estudo mostra que o café contém uma série de nutrientes (como o cálcio) assim como diversas substâncias ativas, como os polifenóis, que contribuem para a saúde. Determinar se essas associações são causais, entretanto, requer mais pesquisas.

http://oqueeutenho.uol.com.br/portal/2010/04/27/estudo-mostra-novas-evidencias-dos-beneficios-do-cafe/

Gostoso, relativamente barato, bom  para a saúde,  simbolicamente expressivo da modernidade, o café, pois, merece nosso aplauso e merece ser celebrado no seu dia nacional.

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ASSIM SEJA!

Minha coluna de hoje poderia parecer apenas uma homenagem a um velho amigo, Vicente Britto Pereira, pelo lançamento, ontem, na Livraria Cultura de Porto Alegre, onde ele reside há dez anos, do seu livro  Ensaios sobre a Embriaguez – Ed. Record, cujos primeiros capítulos devorei (bebi?) imediatamente. Na verdade, foi esta leitura que me levou a falar sobre o assunto. Traz ele , aí , não um depoimento pessoal, que , como ele me disse, seria mais uma história de bêbado… ( E quantas…?) Vicente prefere deixar isso subentendido. E se volta a pensar a embriaguez numa abordagem mais complexa, na qual se misturam reflexões sobre a economia do segmento bebidas alcoólicas; a irresponsabilidade social frente ao crescente consumo de álcool, sempre tomada como uma droga menor, permitida, até estimulada na celebração de grandes ocasiões;  e motivações profundas do embriagado. Tudo com refinada ilustração, como se fosse uma boa tese de doutorado: Abundam citações e referências bibliográficas, as quais aproveitarei em futuros artigos. Aos interessados, deixo , pois a recomendação de leitura. Mais: Aconselhável… Alguém já disse que a porta do inferno está bem ao lado da porta do céu e nenhuma tem tabuleta. Por isso é sempre bom conhecer os detalhes da entrada…

Vou comentar, apenas, alguns elementos que acompanham o vício – ou os vícios – na vida contemporânea.

Primeiro deles, perdemos a noção dos ritos que acompanharam a humanidade desde sempre. Hoje, os ritos são remetidos às datas de celebração da Formatura, do Natal, do Aniversário. Mas já não damos a essas celebrações o caráter de sacralidade – pagã ou religiosa – que nossos antepassados davam. Mesmo o carnaval, tinha seu momento próprio, provavelmente ligado às festividades da colheita. Hoje em dia emendamos tudo no dia-a-dia transformando-o , crescentemente em celebração  sem cerimônia de alguma coisa. A grande virada dos anos 70, quando “o sonho acabou”, no dizer de John Lennon, àquela época, trouxe ao mundo ocidental um inusitado valor ao indivíduo e seus atributos, aos quais as academias, as cirurgias plásticas e a moda, valorizariam ao extremo. Com ele o direito ao corpo, transformado em máquina libertadora capaz de dar um novo sentido à existência humana. E com este direito a busca desenfreada do prazer. Não por acaso, Vicente Britto inicia seu livro com uma referência à esta busca.

A segunda, questão, ligada à busca do prazer fácil é o desejo. O que é o desejo, senão o olho do prazer? A sociedade de consumo fez da sedução pelos objetos uma de suas molas de projeção. Um velho amigo meu, assumindo certa vez a Diretoria da ANFAVEA – o lobby das montadoras de automóvel, quase perde a vez porque em sua brilhante explanação à Diretoria do órgão, esquecera-se de dizer que o automóvel é, sobretudo, um objeto de desejo… Estamos e vivemos, todos , seduzidos pelas belas imagens que envolvem a divulgação dos produtos despejados no mercado. Antes, mulher pelada, só em “Folhinhas” (calendários),  nas borracharias. Hoje, lá estão elas por todos os lados… Juntos com elas, o acesso às grandes obras plásticas de todos os tempos, músicas pra todo o gosto, “letras”, nem tanto… E qual o resultado? Estamos enfarados. Queremos cada vez mais. Mais…Mais…E viramos súditos genuflexos do bio-prazer  imediato: a droga, em suas distintas expressões, a mais barata, a mais aceita e legal, a mais acessível, o álcool. Já não o álcool nativo da caverna, celebrante do rito de passagem, mas o lenitivo diário do stress e das frustrações de um mundo fácil, mas difícil. Tal como na definição de Brasil e Estados Unidos do Tom Jobim: “Lá é bom mas é ruim; aqui é ruim mas é bom…?

Vi outro dia um belo programa de recuperação de drogados em uma Universidade americana. Sabem qual o processo? Redescoberta dos prazeres infantis soterrados no “crescimento”. Quem sabe, antes que se percam definitivamente, abrindo caminho ao monopólio da droga sobre o prazer, devessem sem mais estimulados pelos Pais, pela Escola , pelo Estado.

Finalmente, o Ser. Quem somos, o que queremos da vida, como manejamos com nossos atributos físicos, espirituais e psíquicos? Os antigos se voltavam muito à essas indagações, procurando, aí , um sentido para a vida. E acabaram cunhando um conceito de virtude associados à prática do bem como caminho do bom e do belo. Hoje dificilmente um jovem distingue com precisão o que é “bom”  do que é  o “bem”, como , quase sempre confunde o “mal”com o “mau”. Estes ,aliás, são grafados  da mesma forma, como se significassem a mesma coisa. Andamos muito no caminho do conhecimento e fizemos do nosso sistema educacional uma máquina de calcular a distância entre as estrelas. Mas não nos ensinam mais sobre o brilho mágico do firmamento e sua capacidade de despertar inusitados desejos, paixões e até delírios. E quando alguém acerta a distância entre a estrela XPT2314E e a outra denominada YJX 4457S, lhe damos um NOBEL de Física, chamando INVENTOR. Ora, ele apenas descobriu o que sempre lá esteve à espera de um contador. Perdeu-se um espírito criativo na ilusão da matemática. O mundo da droga, enfim, é o mundo dos desencantados, que encontram no bio-poder o que já não conseguem com as secreções férteis da própria alma.

Como vencer tudo isso?

Náo sei. Nem sei se no mundo ocidental nos estamos dando conta da gravidade do problema. Meu amigo Jesualdo, orientalista, entretanto, acha que tudo depende da Força de Vontade e que esta é filha da Paciência: Ei-lo:

“A  força de vontade nasce da mãe paciência pois esta é quem contém o ser em sua dispersividade mental e sensorial. Ela é o elemento yin que vai gerando e nutrindo o yang ativo que é a vontade. Mas eles se fortalecem mutuamente

 O Principium Individuationis é a regra de ouro na administração da fenomenologia do Ente no microcosmo que é a Morada do Ser. Mas toda esta dinâmica é regida por uma espécie de Feng Shui ôntico, que é a plena circulação do QI ( também transcrito como Chi e Ki ), a energia vital. Para que a Morada do Ser funcione harmonicamente ( na melhor da hipóteses, já que em geral esse é um ideal impossível, como a plena impecabilidade ) é necessário que os elementos constitutivos do Ente sejam eles mesmos, DEPURADAMENTE, e que se esvazie o papel charmoso e sedutor do ego e das representações do mental. Para que tal ocorra é necessário que exista uma espécie de Mordomo, chefe de cerimonial, que vai colocando as coisas em ordem, fazendo com que o ser humano se instale de volta em si mesmo e a partir daí comece a efetivamente crescer, rumo a sua mais nobre função para si mesmo, e para o outro, na Pólis, e mais adiante rumo ao Soleil Absolut!!

Portanto, seja pelos caminhos do Ocidente, seja pelos do Oriente: Assim Seja!

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 OS SENHORES DOS ANÉIS

Falar mal de ricos ou até mesmo milionários, amaldiçoá-los e desejar-lhes o pior,  não faz meu gênero. Costumo até explicar aos mais radicais aqui onde moro – Torres/RS , indignados com o fato de que a grande maioria das mansões e apartamentos permanecem fechados durante o ano inteiro, à espera do veraneio, quando os gaúchos desabam sobre o litoral, que pior seria não tê-los por aqui. Ruim com eles , pior sem eles… Ou como ironizava um velho liberal, Roberto Campos:

 – “Pior do que a exploração capitalista, só a falta de exploração capitalista”.

 E apontava a África…

Mal sabia ele que este continente está sendo loteado, hoje, inclusive pela China comunista, como reserva de solos férteis e minerais estratégicos para um futuro muito próximo.

 Digo isto – da minha tolerância frente à riqueza e até frente ao luxo – não por impulso. Emocionalmente eu gostaria de pendurar os ricos nos postes da indignação.  Pessoalmente, sou um homem da minha idade, com hábitos morigerados.Mas porque aprendi a lidar com eles como protagonistas sociais. Isso me aconteceu ainda muito jovem, quando tive a honra de entrar para os quadros do velho Partidão. Fabinho, com quem partilhava o “aparelho”, na velha Demetrio Ribeiro- POA -, idos de 64/68 , um comunista visceral, como já disse várias vezes, tinha uma paciência enorme comigo. Me ensinou as primeiras letras da verdadeira Condição Humana, não faltando a exigência de que eu lesse o romance com este título de Malraux. Eu era um católico preocupado com a pobreza e com a injustiça social no mundo. Ele,pacientemente,  insistia:

“-Não adiante ter raiva de  ‘quem tem’. Ou querer vingar-se socialmente neles. Nós, comunistas, temos que entender a injustiça à luz da razão. Eles cumprem papéis, que sequer entendem. Nasceram e morrerão ricos, milionários. Temos que entender a diferença entre ódio de classe, que é um sentimento pequeno burguês, e consciência de classe, que é o entendimento marxista.

Fabinho morreu, supostamente pelos algozes da ditadura. Deixou-me a lição. Evito ódios de classe…Mas ontem, vendo na TV Cultura o documentário americano  QUEM ROUBOU O SONHO AMERICANO – www.yourfilmtrailers.com/pt/…/heist+who+stole+the+american+dream.ht…

, tive uma recaída. Morri de ódio. Ódio de classe…

O Diretor mostra como os Governos Reagan e Clinton (!!!), apoiados pelos técnicos do Federal Reserve e outras instituições , todos enfeitiçados pela mística do mercado, arquitetaram o desmantelamento do Estado de forma a permitir o grande saque que  viria a ocorrer na virada do século-milênio, sob os auspícios do “Consenso de Washington”.  Os procedimentos, os números do roubo que enriqueceu alguns poucos em detrimento da miséria de milhões de pessoas nos Estados Unidos e no mundo, os depoimentos, são indescritíveis. O pior resultado de tudo isso não foi apenas a Crise de 2008 que ainda avassala a Europa. Foi o fato de que os ricos ficaram ainda mais ricos na crise. Os cem mais ricos do mundo ampliaram consideravelmente suas fortunas em 2012 -: http://www.esquerda.net/artigo/cem-mais-ricos-do-mundo-ampliaram-fortunas-em-2012/26141 . Estão tão ricos que até iniciaram um movimento de doação de partes de seus impérios financeiros para a saída da crise…  E o processo ainda não se esgotou. Já preocupa até a Presidente do FMI que ontem declarou que 0,5% da população do mundo controla 35% de sua riqueza.

 dedicado a la lucha contra la pobreza. Movimientos sociales, sindicatos y partidos de izquierda catalogaron como paradójico que la directora de este organismo internacional ofrezca una charla sobre este tema ya que las políticas neoliberales que impone el FMI en distintos países del mundo generan altos índices de desempleo, miseria y desigualdad social.

Durante los años 80, las medidas del FMI en América Latina desencadenaron una de las etapas más oscuras de la historia del continente: Los ingresos se desplomaron; el crecimiento económico se estancó, el desempleo aumentó a niveles alarmantes y la inflación redujo el poder adquisitivo de la población. Esta época fue conocida como “la década perdida” o la “larga noche neoliberal”.

Hoy los pueblos del sur de Europa están sufriendo drásticos recortes sociales impuestos por la llamada “Troika”, conformada por el Banco Central Europeo (BCE), la Comisión Europea (CE) y el propio FMI.

Las políticas fijadas por estos organismos han llevado a que la Eurozona bata récord de desempleo (12,1 por ciento) y que el paro juvenil en países como España o Grecia supere el 50 por ciento.

(http://www.librered.net/?p=26848)

Quando até a autoridade maior do FMI se diz preocupada com a concentração de renda no planeta, é de arrepiar. Já os sentimentos não cabem na moldura da consciência de classe , tal como me ensinava o Fabinho, e transbordam para os baixos sentimentos.

Pior, os ricos não apenas concentram a riqueza. Concentram os recursos do planeta. Ano passado o LE MONDE (ago/08) apresentou os seguintes dados:


– 4/5 do consumo global (76,6%) é realizado pelos dois décimos mais ricos;

– o décimo mais rico é responsável por quase 3/5 do consumo (59%).

– as taxas de crescimento dos mercados de luxo sempre superam as demais,
tanto em fases de expansão, quanto nas de retração global.

Ver também o *Worldwide Luxury Markets Monitor*

mantido pela Fondazione Altagamma: http://www.altagamma.it

Mas além de concentrar a renda e os recursos, os mais ricos acabam, também controlando t os recursos públicos, em decorrência do grande endividamente dos Estados no mundo inteiro. Não pagam impostos e ainda embolsam os impostos que as classes médias e trabalhandoras pagam. Os detentores de recursos líquidos, são compradores dos títulos e, consequentemente dos juros destes títulos. O caso brasileiro é exemplar. Grande parte do Orçamento da União se destina ao pagamento de títulos e rolagem da dívida. E quem aplica em títulos? Investidores privados, através dos Bancos e Fundos de Investimento:

(Ver quadro em DROPS, clicar acima)

Fonte : Os Detentores da Dívida Pública – Valor 10 out. 2011- Angela Bittencourt

http://www.advivo.com.br/blog/fluente-fluencio/os-detentores-da-divida-publica

As grandes fortunas se multiplicam numa velocidade assombrosa, como se fosse um game, ao apertar de botões que movimentam contas hiperbólicas nos quatro cantos do mundo , 24 horas por dia, graças à eliminação de controles nas fronteiras eletrônicas. Todo esse capital vai se acumular nos Paraísos Fiscais, escondendo-se do Fisco e outros controles. O cassino não para nunca, enquanto a Crise se agrava, o desemprego e, principalmente o desespero se acentuam, e a fome alcança um bilhão de almas. O buraco negro da voracidade financeira devora tudo, todas as energias do Planeta, em nome da Livre Iniciativa e do Mercado Livre:

A revelação foi feita neste domingo por um estudo inédito, que pela primeira vez chegou a valores depositados nas chamadas contas offshore, sobre as quais as autoridades tributárias dos países não têm como cobrar impostos.

O documento The Price of Offshore Revisited, escrito por James Henry, ex-economista-chefe da consultoria McKinsey, e encomendado pela Tax Justice Network, mostra que os brasileiros muito ricos somaram até 2010 cerca de US$ 520 bilhões (ou mais de US$ 1 trilhão) em paraísos fiscais.

O estudo cruzou dados do Banco de Compensações Internacionais, do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e de governos nacionais para chegar a valores considerados pelo autor conservadores. Em 2010, o Produto Interno Bruto Brasileiro somou cerca de R$ 3,6 trilhões.

Enorme buraco negro

O relatório destaca o impacto sobre as economias dos 139 países mais desenvolvidos da movimentação de dinheiro enviado a paraísos fiscais. Henry estima que desde os anos 1970 até 2010, os cidadãos mais ricos desses 139 países aumentaram de US$ $ 7.3 trilhões para US$ 9.3 trilhões a “riqueza offshore não registrada” para fins de tributação. A riqueza privada offshore representa “um enorme buraco negro na economia mundial”, disse o autor do estudo.

Na América Latina, chama a atenção o fato de, além do Brasil, países como México, Argentina e Venezuela aparecerem entre os 20 que mais enviaram recusos a paraísos fiscais.

John Christensen, diretor da Tax Justice Network, organização que combate os paraísos fiscais e que encomendou o estudo, afirmou à BBC Brasil que países exportadores de riquezas minerais seguem um padrão. Segundo ele, elites locais vêm sendo abordadas há décadas por bancos, principalmente norte-americanos, pára enviarem seus recursos ao exterior.

“Instituições como Bank of America, Goldman Sachs, JP Morgan e Citibank vêm ofrecendo este serviço. Como o governo americano não compartilha informações tributárias, fica muito difícil para estes países chegar aos donos destas contas e taxar os recuros”, afirma. “Isso aumentou muito nos anos 70, durante as ditaduras”, observa.

Ora, isto não tem nada a ver com Lei dos Mercados, Livre Iniciativa ou Capitalismo. E , aqui, o espectro do Fabinho, de novo: – O capitalismo é um modo de produção que se baseia não no roubo, pura e simples, mas na produção de mercadorias por meio de mercadorias, através de conversão da força de trabalho  também em mercadoria, que se troca pelo seu custo de subsistência. Daí a acumulação.Os lucros. Os investimentos. E o caráter dinâmico da burguesia.”

Ora, Fabinho, não viveste para ver. Morreste para viver. Mas se visses hoje o que aí está, certamente dirias que capitalismo não é. Trata-se de um retrocesso histórico às fases mais primitivas da formação da sociedade econômica. E sob o império do Direito…

Lembro-me , pois, em plena recaída de consciência e tomado pela pura e simples indignação, daquela velha indagação:

                     “Qual o crime maior: Fundar um Banco ou roubá-lo?

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MÉDICOS CUBANOS 

“…a gente morre é para provar que viveu.”
Guimarães Rosa

 

Meu amigo Jesualdo Correia, filólogo, orientalista, um pouco poeta,  ensina-me  sobre neologismos:

Petrichor… ou pluvisoloichor… ambos neologismos ( o primeiro inglês, o segundo português, recentissimos ) que significam o aroma que exala da terra com a chuva que advém após longo período de secura. Ichor (ἰχώρ ) em grego antigo significava o aroma-nectar contido nas veias dos deuses e já em Homero encontra-se numa passagem do Ilíada. Mas o que realmente importa é a coisa em si ( Kant que me desculpe a apropriação ôntica ), o extasiante e revigorante incenso-aroma que exala fortemente das pedras, folhagens e da terra, imediatamente após o impacto da chuva sobre o solo, após a estiagem. Inebriante, revigorante, pratyakshico.

Ah! Que bom se pudéssemos atravessar os dias sempre embriagados com o néctar das ideias novas, palavras novas, situações inusitadas.  O espanto.O encanto. Até a morte, como prova de como vivemos.  E nós, em corpo, alma e espírito, reagindo à tudo isso. .  Mas o quê…? Não somos apenas corpo e alma? Bem…Há controvérsias. Em algumas culturas o homem tem até sete partes constituintes. Em outras apenas uma, onde se funde inexoravelmente com a natureza. Na tradição judaico-cristã, apenas corpo e alma embora com sinais trocados. Para os judeus a alma é imoral, o corpo conservador. Nós, cristãos, herdeiros do medievalismo, tememos mais a tentação do corpo do que da alma. E mesmo acreditando-nos feitos “a imagem e semelhança de Deus”, “em si” constituído como Pai, Filho e Espírito Santo, deixamos a terceira dimensão ôntica pelo caminho…

Uma pena! Pois é  precisamente na dimensão do espírito que reside a esperança da redenção humana. Mas ainda guardamos do percurso uma expressão interessante: espírito crítico. E é com ele e não com os corpos e almas encharcados de interesses, preconceitos e ilusões que podemos apreciar o caso da vinda de médicos cubanos para exercerem suas funções em áreas carentes destes profissionais.

O primeiro erro foi do Governo, que colocou uma proposta de solução para a falta de médicos no interior do Brasil,  antes de uma prévia discussão do problema. Alguém já disse que uma das principais lacunas da razão é, simplesmente, a falta de jeito. Sabendo do peso da corporação dos médicos na sociedade brasileira o Governo deveria ter tido mais habilidade na proposição da “solução cubana”. Agora procura contornar a controvérsia criada com a vinda dos cubanos com o encaminhamento, junto à OMS, da possível vinda de médicos espanhóis e portugueses, os quais ficariam, por dois anos dispensados da revalidação de seus diplomas. Claro que, o que vale para Dom Pepe e o Senhor Manuel, valerá também para os cubanos.

A alma passionária da esquerda nacional, entretanto, não quer nem saber de tecnalidades. Se são cubanos, que venham A esquerda, sempre que lhe convém, tem um desprezo cabal às menudências legais. Ultimamente, então, generalizou-se um sentimentos de que a Justiça está a serviço do conservadorismo e até mesmo a judicialização da Política, que tem sido um instrumento importante à conquista de direitos sociais e de minorias, está na berlinda.

Eis aí o conflito do Corpo (corporativo) Médico com a Paixão, à espera de que o assunto da carência de médicos no interior, problematizado, seja capaz de ser politicamente encaminhado.

Não é o que estamos vendo. Pelo contrário. As posições estão se exaltando e , do jeito que vão se desenrolando, dificilmente o Governo conseguirá impor sua solução.

E aqui o segundo erro do governo: timing. Também decisivo à falência da “sua” razão. Como de qualquer outro, filósofo ou não, que pretende detê-la, não o tendo.  Se a questão, trazida à borda do tempo como problema, deve ter uma solução, ela também, tem seus prazos. O tempo da sociedade, apesar do famoso slogan de JK –“ Vamos fazer 50 anos em 5” – é diferente do tempo dos mandatos políticos.  A se ter de trazer médicos do exterior para regiões carentes, isto deve ser feito prevendo-se um período de aclimatação. Ao país, à língua, aos costumes, à Lei. Neste período de adaptação, uma espécie de residência, a ser feita em Hospitais, obedecendo as regras hoje existentes para os demais residentes, os médicos do exterior poderiam receber um Alvará Provisório, até a aprovação em Exames de Revalidação de seus diplomas. Este Alvará, regulamentado por Lei Federal, com Prazo definido, deverá ser expedido pelos Conselhos de Medicina, afim de se evitar o confronto com a corporação. Este procedimento poderia, inclusive, levar à uma revisão da questão das Residências Médicas no Brasil, visivelmente mal pagas, insuficientes para uma verdadeira especialização médica, inconsistentes com o estatuto vigente dos estudos de  Pós-graduação.

Quanto à paixão pela Revolução Cubana, pelas suas realizações no campo da medicina, pela vinda de médicos cubanos: Cuidado! Ela nem sempre é boa conselheira para ações que ultrapassam o campo da Política e invadem o da Administração Pública, toda cheia de regras, regulamentos e exigências. Não basta o ardor da causa para enfrentá-las. Melhor a prudência, que é o olho das virtudes. Nem adianta cantar em verso triste as mazelas da insuficiência da medicina no interior do país. Ela não se coaduna com as imagens de estádios luminosos recém inaugurados. É muito provável que as exigências de melhores serviços médicos em áreas carentes do Brasil dependam muito mais de prioridades governamentais do que da falta de recursos públicos. Ou de médicos.

Junto com tudo isso, o aplauso à vinda de mais estrangeiros à Terra da Promissão. Somos um povo que se orgulha de bem receber – e digerir – a todos que aqui chegam.

Bem Vindos ! Na forma da Lei, não como paliativo, sujeito a deixar, na sua saída o mesmo e eterno problema, mas dentro de um Programa de Consolidação do SUS no interior do país.

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A SEMANA EM REVISTA

Hoje, uma sexta feira verdadeiramente exausta. Pela primeira vez, depois de décadas os senhores deputados federais trabalharam incansavelmente. Feliz ( ou infelizmente!) não houve nenhuma baixa. Todos, vencedores e vencidos chegaram a bom termo. A estas alturas, devem estar confortavelmente instalados em suas bases. Tomara que nenhum eleitor ou um filho adolescente mais curioso   lhes dirija a pergunta que cala no fundo do coração de muitos brasileiros: – Mas afinal, quais o benefícios reais da Medida Provisória dos Portos para o Brasil? E quem disse que o modelo de abertura dos portos ao setor privado aí estabelecido é realmente o melhor para nós? E, a propósito, a semana consumou, também, sem a necessidade de Medida Provisória, os leilões da Agência Nacional do Petróleo,  para pesquisa e exploração de novas  reservas. Aqui, também, vale fazer as mesmas indagações: – “O quê”; -“quem…”.  E , por falar em perguntas, o ex-Presidente Lula, em Seminário do PT em Porto Alegre, nestes dias, sugere aos reticentes, em dúvida quanto ao voto no ano que vem, que se façam esta pergunta:

-‘Quando você ficar em dúvida, feche os olhos, imagine o que seria o Brasil de hoje sem os dez anos de governo do PT’.

Tantas perguntas, meu Deus!, diria o Drummond. Às quais meu coração recusa respostas fáceis, mas minha curiosidade ousa perscrutar.

Como seria, mesmo o Brasil, sem a “Década da Inclusão”?

E aqui já, de certa maneira, pois é na pergunta que reside o fio da meada do enredo, respondo: O Brasil estaria , do ponto de vista econômico, não muito diferente, mas, certamente, tão ou mais injusto do que tem sido desde do Descobrimento. A grande marca dos Governos PT, a propósito, será esta: Diminuição da Pobreza. Sem o PT no Governo, teríamos, como resultado da rigidez do sistema político em melhorias nos rendimentos do salário, inclusive pela manutenção do mínimo abaixo de cem dólares uma grande  fermentação social. Esta  se alastraria por todo o país, com o próprio PT à frente. Se este cenário se prolongasse até a Crise de 2008, um Governo conservador se veria em grande dificuldade para avaliar a situação e abrir horizontes novos. Talvez vendesse a PETROBRÁS para fazer Caixa e com isso formular alternativas. Aí haveria, certamente, uma divisão interna no seio do Governo, como a que ocorreu em pleno regime militar, por volta de 1966. Naquele ano, Roberto Campos, ortodoxo, cedeu lugar a Delfim Neto, que fez o que o Brasil sempre tem feito (repetiria na Crise do Petróleo, entre 1974 e 1979 ) : tocar o barco, com boa dose de “bom senso” econômico diante das adversidades.  Não é impossível que um gênio emergente, em 2008 tivesse lembrado ao Presidente conservador, a solução da década de 30, talvez, até , com uma renegociação da dívida externa como fez Vargas: Manutenção da Renda Interna, via Fiscal. Como a agitação social chegaria ao seu limite, com o Lula crescendo nas pesquisas de opinião, é bem provável que a Política Social ganhasse nova dimensão, o que ajudaria na manutenção do poder de compra do mercado interno. Um recente documento do Instituto FHC , aliás, demonstra a gênese e desenvolvimento no interior do Estado destas Políticas. Elas foram gestadas  com Vargas, no tempo de “Média com Pão e Manteiga”, obrigatória e tabelada, e avançou com a criação da FUNRURAL e BNH na ditadura, culminando com a criação do Instituto de Alimentação e Nutrição – INAM – . Sarney inventaria o Programa do Leite!  Passada a crise e se não houvesse uma convulsão social, ou séria instabilidade política, como ocorreu na Argentina, quando abriu espaço para “Los Kirchners) , teríamos chegado aos dias de hoje quase do mesmo jeito que estamos: Uma pequena elite da sociedade, menor do que 1% com o controle dos ativos fixos e financeiros dos país; uma classe média tradicional, menor do que 10%, detentora de um patrimônio cultural e de valores ; e 89% do povo mergulhado num baixo nível de vida, ganhando até 3 salários mínimos. Com a PETROBRÁS já liquidada, o Governo conservador teria encaminhado, desde 2008, vale dizer, há 5 anos, um amplo programa de privatizações da infra-estrutura, fazendo com que portos, ferrovias e vias terrestres, a estas alturas já estivessem mais adequadas a um novo ciclo de exportações. Exportações de quê? Commodities, por certo. Mas, com menor escrúpulo à globalização, o Governo talvez tivesse também conseguido definir alguns segmentos líderes industriais com algum dinamismo externo. Enfim, o Brasil seria menos soberano do que tem sido , seria mais injusto, teria maior instabilidade social e política, mas teria sobrevivido. Lula, certamente, já tivesse vencido as eleições de 2010, fortalecido por um grande arco de esquerda em seu apoio. E, já então não necessitasse empenhar sua palavra com uma Carta aos Brasileiros, como a que subscreveu em 2002. Também, diante das privatizações feitas por um Governo conservador, não precisasse fazer o que foi feito nesta semana: entregar portos e petróleo ao capital privado internacional.

Em todo o caso, é errada a ameaça de tipo gaullista: – Depois de mim o Dilúvio. Ou : Se não fosse eu, teríamos naufragado.

O Brasil é grande. Seu povo vigoroso e trabalhador. Aguentou 4 séculos de escravidão. Uma República Oligárquica rancorosa, na qual a questão social era questão de polícia. Suportou 21 anos de regime militar, depois do qual arrastou-se uma Nova Republica  impotente que, à despeito da Constituição Cidadã, desembocou no desastre de Collor, ante-sala de FHC, com o interregno da República do Pão de Queijo. Ora… não seria a ausência dos Governos do PT que nos teriam levado ao caos. O PT foi bom. Lula, um reconhecimento internacional, cuja biografia só merece elogios. Costumo dizer que mesmo se não tivesse feito nada – e pouco fez, em termos de desenvolvimento – ainda assim, teria sido importante. Porque foi politicamente importante para despertar séculos de marginalização dos trabalhadores da vida pública.

Volto , pois, ao começo desta coluna: Semana cansada. A República, que sangrara no episódio das tensões entre Judiciário e Congresso, agora sangrou na sua alma, tanto pelo caráter das medidas que assistimos, mas principalmente porque assistimos a imolação de uma imagem: Um Partido que se construiu na crítica às privatizações, se dobra, sem qualquer autocrítica a elas; um Partido que acusou permanentemente a mídia por golpismo conservador, a ela se associa no silêncio dos críticos à sua política; um Partido que teria tudo para permanecer no poder 20 anos, afim de fazer as transformações que o Brasil tanto necessita, mas que, doravante, abre uma fenda imensa na sua imagem. Um Partido que tinha tudo para renovar a esquerda brasileira, unindo-a em um Programa alternativo ao Consenso de Washington, hoje contestado em reunião do próprio FMI na capital americana, dá um pequeno passo para a reeleição de Dilma em 2014, mas um salto mortal à sua própria ruína como opção hegemônica da esquerda brasileira.

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CLASSE MÉDIA E CONSUMO CONSPÍCUO

Torres 16 de maio 2013

A mídia está concentrada na Medida Provisória que redefine a regulação dos portos no Brasil.

Curioso: Ninguém sabe direito do que  trata a dita Medida Provisória. Provavelmente, sequer os dignos parlamentares, os quais votam, em sua maioria, influenciados por interesses menores ou influência de seus respectivos líderes. A mídia, até para poder manter altos índices de audiência, evita entrar em detalhes. E a inteligência do país, perplexa, já bastante ressabiada com a “Década da Inserção”, não pelos seus belos feitos, mas pelo discurso que se lhe segue, restringe-se aos blogs. Aí podemos perceber que a MP é, na verdade, uma nova “Abertura dos Portos”, que fere a consciência nacional; que o recurso à Medida Provisória, para tal fim, é uma excrescência do centralismo de Poder no Executivos; que o assunto, pela gravidade das lacunas na infra-estrutura,  deveria ter sido tratado há mais tempo; que o conceito de Base Aliada, tal como vem se sustentando, é altamente pernicioso e certamente excessivo para os fins a que se pretende o Governo; que medidas privatizantes encontrariam muito mais respaldo na Oposição do que na própria Base Aliada. Enfim, como diz um dos maiores especialistas no tema dos Portos- Samuel Gomes  e que se debruçou na análise da MP em pauta: “Que bom que a dita MP está por um fio…” e explica em artigo publicado no www.cartamaior.com.br:

A quem serve a MP dos Portos? Por José Augusto Valente e Samuel Gomes*

A principal consequência da MP 595 – e a mais nociva – é a possibilidade de prestação de serviço público de exploração de portos por empresas privadas sem licitação. Ele põe fim ao modelo vigente, conhecido como ‘Land Lord Port’, que tem apenas 20 anos de implantação e é praticado em todo o mundo.

Escancarados ou não nossos portos, a verdade é que as pessoas saem com mais facilidade para o exterior do que as mercadorias. Ainda não são commodities.Mas provocam, com suas idas e  vindas , atos de comércio, com reflexos no câmbio e Balança de Pagamentos. .E o movimento de brasileiros para o exterior irá, certamente, se acentuar nos próximos anos. Nossos gastos por lá excedem em muito, apesar de nossa riqueza turística interna, os  “deles”por aqui e vem alcançando recordes mês a mês:

Gastos de brasileiros em viagens ao exterior são recorde para março

Brasília – Os gastos de brasileiros em viagem ao exterior chegaram a US$ 1,870 bilhão em março deste ano, segundo dados do Banco Central (BC), divulgados hoje (24). É o maior resultado para o período na série histórica do BC, iniciada em 1969. Em março de 2012, as despesas ficaram em US$ 1,627 bilhão.

No primeiro trimestre deste ano, os gastos de brasileiros em viagem ao exterior somaram US$ 6,022 bilhões, contra US$ 5,381 bilhões de igual período de 2012. As despesas do primeiro trimestre de 2013 também são recorde para o período.

De acordo com avaliação do chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, o aumento da renda dos brasileiros tem “favorecido” as viagens ao exterior. Segundo ele, os dados parciais de abril, até o dia 22, indicam continuidade do crescimento dessas viagens.

Em abril, até o dia 22, os gastos de brasileiros no exterior ficaram em US$ 1,513 bilhão, enquanto as receitas de estrangeiros que visitaram o Brasil chegaram a US$ 454 milhões.

 (http://www.ebc.com.br/noticias/economia/2013/04/gastos-de-brasileiros-em-viagens-ao-exterior-sao-recorde-para-marco)

Não me ocorre sugerir restrições à livre movimentação dos brasileiros para o exterior. Afinal, é nossa liberdade de “ir e vir”… Mas de trazer este fato à borda dos acontecimentos, problematizando-o. Para isto servem os intelectuais. Eles existem, como diria o Chacrinha, para “confundir”…

Esta seria- o déficit –  uma conseqüência, como afirma o  chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, da elevação do nível de renda dos brasileiros, ligado – isso ele não aventura dizer -, à incorporação de 30 milhões de pobres à classe média?

Digo que não. Por duas razões:

Primeiro, nossa sociedade continua, como afirma Jessé Souza, o único acadêmico que estuda a questão da classe média no Brasil, a mesma de sempre. Divida em quatro grandes “classes”: A elite, que não chega a 1% da população portadora de um patrimônio econômico considerável, na forma do controle da propriedade e de grande parte das receitas públicas, através de direitos aos rendimentos no Mercado Financeiro; a classe média tradicional, pouco maior do que 5% , detentora de um patrimônio cultural; as classes populares emergentes,  em torno de 40%, beneficiadas pela estabilização da moeda, da elevação dos salários médio e mínimo, na Era PT, e das transferências do Estado; e a grande massa restante. Estas duas últimas não estão fazendo viagens nem à Disneylandia , nem ao Louvre…

Quais são as classes sociais do Brasil?

Basicamente, quatro. A alta, que tem capital econômico. Tem a classe média, que não é tão privilegiada quanto a alta, mas se apropria de um capital cultural valorizado, saber científico, pós-graduação, línguas estrangeiras, um conhecimento que tem valor econômico. Essas duas são as classes do privilégio. Para a classe alta, o mais importante é o capital econômico, embora o capital cultural tenha uma função. E, para a classe média, o que prevalece é o capital cultural, embora algum capital econômico também seja necessário.

Os dois segmentos sociais “superiores”,  nos quais  “a segunda”  mimetiza o “mais superior” em estilos de vida, ambições e comportamentos sociais são os que viajam para  o exterior. A classe média alta  recolheu do berço das monarquias européias, o fino trato nos modos do culto da nobreza de gestos e o bovarismo . Daí porque se constitui como detentora de um patrimônio cultural, num processo de diferenciação crescente da cultura popular. “Quando pessoas sem origem precisam tomar posição em meio a outras percebidas como donas do lugar, a cultura torna-se signo de ascensão social e terreno real da luta por reconhecimento”. Seus filhos, aliás, indo para a Europa ou Estados Unidos , depois de algum tempo, livres do efeito subserviente de seus ancestrais à imagem da Casa Grande, dão-se conta do caráter perdulário de suas famílias no Brasil e se ajustam a um estilo de vida mais simples lá vigente. Tenho comigo uma infinidade de depoimentos no FACEBOOK a respeito, mas recomenda a leitura desta reportagem :

Como a classe média alta brasileira é escrava do “alto padrão” dos supérfluos

30/10/2010 || MULHERES PELO MUNDO

HTTP://COLUNAS.REVISTAEPOCA.GLOBO.COM/MULHER7POR7/2010/10/30/COMO-A-CLASSE-MEDIA-ALTA-BRASILEIRA-E-ESCRAVA-DO-ALTO-PADRAO-DOS-SUPERFLUOS/

Nossa convidada de hoje da seção Mulheres no Mundo: Adriana Setti

Outro fator exclui as classes pobres, seja a classe média precarizada, recém ingressa no mercado e os que dela ainda estão longe: uma herança de privações e estilos de vida que a torna menos propensa ao servilismo. Pesquisa do próprio Jessé Souza o demonstram.

As viagens ao exterior, portanto, se inserem naquilo que Veblen, ao final do século XIX já advertia como consumo conspícuo em sua análise sobre a classe média americana. Um exagero, acentuado pelo caráter da produção capitalista para uma sociedade de objetos,  a que as classes emergentes se entregavam como necessidade de afirmação social, dando origem à “querela do luxo”, que está, segundo Lacan, na origem dos três ideais modernos: autonomia, independência e amor concluído (autenticidade). “. O processo de escolha soa vulgar, a decisão de compra figura imprópria, a performance de uso é inautêntica, e o conjunto cai como ‘mostração’.” Isto porque o  consumo se fundamenta em três exigências que assim se expressam: autenticidade, autonomia e não dependência. Elas impõem correspondentes  soluções à forma como nos desligamos de um lugar de origem (não dependência), subjetivamos um complexo de desejos (autonomia) e destinamos o resíduo que acompanha a operação de consumo (autenticidade):

(Christian Dunker – A querela psicanalítica do consumo

http://revistacult.uol.com.br/home/2010/12/a-querela-psicanalitica-do-consumo/

Nos últimos anos, com a revolução eletrônica, a sociedade de objetos entremeou-se com a sociedade de serviços e o consumo conspícuo, antes restrito à bens, estendeu-se, do conforto às sensações, entre os quais o divertimento e o lazer. Na verdade, o consumo durante os momentos de lazer são mais direcionados ao “consumo de sensações”do que ao consumo de bens tangíveis. Uma autora bem descreve esta mudança que  reforça o desejo da classe média alta às viagens internacionais:

1. Os laços entre lazer e consumo tendem a manter-se e a estreitar-se em algumasAs lojas de departamento promoveram uma revolução na estrutura do comércio varejista e associaram um novo elemento às características do consumo: o prazer. Seu casamento tende a ser duradouro desde que se ajuste a algumas tendências da sociedade e do mercado.

2. O advento da Internet muda a estrutura do lazer na área relacionada ao consumo de produtos culturais.

3. A cultura do consumo tem um espectro mais amplo que o acesso efetivo a itens de consumo ou de lazer pela população – Há muita gente excluída do lazer e de muitas formas de consumo, apesar de participar da cultura do consumo . Em outros segmentos, que são e – ao que tudo indica – tendem a permanecer particularmente abundantes em países do Terceiro Mundo, estaremos propensos a encontrar camadas de baixa renda ou sem emprego que não têm acesso significativo ao mercado real de consumo – especialmente ao consumo de lazer – apesar de participarem da cultura doconsumo (por exemplo, o office-boy que usa um tênis Nike comprado a prestação e o pivete que o obtém por meio do roubo).

(Iúri Novaes Luna – SERES HUMANOS,TRABALHO E UTOPIAS- Universidade do Sul de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil)

. http://www.scielo.br/pdf/psoc/v19nspe/v19nspea03.pdf

Diante disso, é evidente que a abertura do país ao exterior, se bem fundamental à construção de uma sociedade livre, tem evidenciado, no caso brasileiro, herdeiro de profundas diferenças sociais, um privilégio da elite e da classe média tradicional, comprovando-se isto pelo números de turistas brasileiros no exterior. Os gastos destes turistas é elevado, mais elevado do que a média européia e países asiáticos, mas em números relativos ao tamanho da nossa população, ínfimo. Número, aliás, próximo dos grupos sociais mais privilegiados.

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PETROLEO, C&T e o Grafeno 

 

O noticiário de hoje se volta para dois assuntos: MP dos Portos e Leilões de Petróleo pela ANP. Não sei qual dos assuntos me causa mais espanto. Tudo em nome da “resolubilidade”, nova palavrinha mágica que se incorpora à nossa sopa fria – de pedra…Fico imaginando se procedimentos como os que estão sendo levados a cabo por um Governo “Popular e Democrático”, sob a égide do PT, fossem feitos pelo Governo FHC ou até, remotamente, pelos militares. Aliás, a abertura da prospecção do petróleo brasileiro às multinacionais começou com o Governo Geisel. E eu fui um dos que chiou, esperneou, denunciou. Eu acreditava, leal às consignas da década de 50 que O PETRÓLEO É NOSSO! . Era…Foi…Com os leilões de ontem, babaus! Jogamos fora um pedaço do futuro,  que nem nos pertence, mas às gerações vindouras. Quando derrubam uma árvore numa grande cidade brasileira, todo mundo chia. É a CONSCIÊNCIA VERDE em marcha forçada. Nada mau. Mas ontem fizemos – eu não ! – muito pior: entregamos parte do nosso patrimônio fóssil não renovável e com ele se vai uma das vantagens que temos – ou teríamos – sobre a China, em termos patrimoniais de recursos naturais:

Patrimônio China(US$Trilhões) Brasil(US$ Trilhões)

Total

7 7

Construído

1,1 1,4
Humano 5,2 2,5
Natural 0,7 3,1

Fonte Humberto Dalsasso – www.confecon.org.br

Os leitões, digo, leilões, de ontem  engordarão interesses alheios aos nossos. Lula e Dilma, apesar de todos os seus méritos quanto à diminuição da pobreza no Brasil, já foram acusados por um certo Bispo Krautler, de passarem para a História como predadores da Amazônia. Ela , com os ditos “leitões”servidos de bandeja ao capital internacional, pode vir, agora,  a acumular o título com o de Predadora do Petróleo…Vão nos deixar uma migalha de recursos que se perderão nos meandros da gastança pública com juros. Como diz o Eng. ILDO SAUER, Ex-Diretor da Petrobrás:

É esse o quadro. Ou a população brasileira se dá conta do que está em jogo, ou o processo vai

ser o mesmo de sempre. Do jeito que foi-se a prata, foi-se o ouro, foram-se as terras, irão

também os potenciais hidráulicos e o petróleo, para essas negociatas entre a elite. O modelo

aprovado não é adequado. Mantém-se uma aura de risco sem necessidade, para justificar que o

cara está “correndo risco”, mas um risco que ele já sabe que não existe.

(http://www.paulotimm.com.br/site/downloads/down.php?id=235)

Mas, enquanto liquidamos o patrimônio público para gastar não se sabe onde – O Governo Federal tem 39 Ministros da “Base Aliada”, mais de 20 mil cargos em Comissão e queima 40% dos impostos arrecadados com pagamento de juros da dívida pública, agora novamente sujeita à exposição internacional com a idéia de um dos queridinhos do MINIFAZ em lançar Títulos no exterior – nossas UNIVERSIDADES mourejam no bacharelismo e a C & T no país engatinham. Retiro do meu amigo Pedro, no Facebook, hoje cedo:

TOMADAS PELO PROSELITISMO IDEOLÓGICO, AS UNIVERSIDADES NA AMÉRICA LATINA SÃO CADA VEZ MAIS MEDÍOCRES EM TERMOS DE PRODUÇÃO CIENTÍFICA. A prestigiada revista Nature Scientific Reports acaba de publicar um mapa das cidades mais importantes na investigação científica, que mostra que “não há nenhuma cidade latino-americana entre as 100 primeiras cidades produtoras de conhecimento científico do mundo, de acordo com a publicação. Uma tabela que aparece junto ao mapa, mostra que 56% das 100 maiores cidades produtoras de artigos científicos no mundo, estão nos EUA, 33% na Europa e 11% na Ásia. Uma possível explicação é que as universidades latino-americanas são muito boas na área de humanas, mas não estão entre as melhores do mundo em ciência.”

Respondo-lhe que nada tenho contra as Ciências Humanas, sendo, eu próprio um de seus devotos. Nem contra o desenvolvimento do espírito crítico em nossas Universidades. Sem ele não se vai a lugar nenhum. Mas estarmos fora do circuito do conhecimento científico, todo o continente, isso “ ‘’é de lamentar, meu caro Otis”, como diz meu jardineiro ilustre. Meu Deus! E essa é a grande diferença nossa para com outros países do BRIC. Vamos consolidando o Fazendão, no melhor estilo primário exportador, enquanto a China, com o dobro do gastamos em C&T , sobre o PIB,  se prepara para ser um dos três protagonistas mundiais, ao lado dos Estados Unidos e Alemanha.

Aí até o imortal de um livro só , como diria o saudoso  M.Scliar Merval Pereira, chia:

“Os países desenvolvidos aplicam cerca de 7% do PIB em pesquisa e desenvolvimento. O Brasil não passa de 1%, sendo largamente suplantado por Coréia do Sul e China países que estavam atrás do Brasil em 1980.”

 (Merval Pereira – (http://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_492_uma_comparacao_entre_a_agenda_de_inovacao_da_china_e_do_brasil.html ):)

Tudo muito simples: Como dois e dois são trinta e cinco…

Então  a China consagra-se, como a GRANDE FÁBRICA do mundo, elevando com isto o peso de sua INDUSTRIA no PIB e elevando, em conseqüência, a produtividade média da economia ; o Brasil, consagra-se como o FAZENDÃO, ornado com grandes  Rodeios de Peões Boiadeiros que ganham concursos internacionais e pela devastação de suas florestas. No fim, trocamos produtos agrícolas e minérios para a China e importamos produtos de mais alta densidade tecnológica. As exportações de produtos primários que já haviam caído para 30% do total das exportações, em 2004, voltaram a crescer  para 44% em 2010, enquanto  as de manufaturas caíram de 57% para 43%. Isto por pura sorte, graças à uma conjuntura favorável aos preços dos produtos primários, não sucumbimos neste processo. Dados do Ex-Prefeito Cesar Maia (NL 14 nov 2011), afirmam que “a participação brasileira na produção mundial caiu de 3,1% em 1995, para 2,9% em 2009. No mesmo período, a China saltou de 5,7% para 12,5% e a Índia foi de 3,2% para 5,1% .” Sintomaticamente, “O peso do Brasil na indústria de países emergentes recuou de 8% em 2000 para 5,4% em 2009, de acordo com a Onudi (Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial)”.

 “A política industrial sempre privilegiou a produção do País sem enfatizar o controle sobre a

tecnologia utilizada, ou mesmo o controle sobre o capital – que é necessário ao controle dessa

tecnologia.10 O que se observa no Brasil é, primeiro, uma indústria que por formação e situação

objetiva é estruturalmente dependente da tecnologia importada e, segundo, uma política de ciência

e tecnologia que produziu um sistema público de C&T, mas encontrou grandes dificuldades para

superar sua distância em relação ao setor produtivo.”                             (http://www.defesabr.com/MD/Planobrasil/Programasaturno/md_projetoatom.htm)

Precisamos, pois, urgentemente, repensar a economia brasileira para os próximos decênios, dando especial destaque à reorganização industrial e à C&T. Se ao menos houvesse uma determinação de investir os recursos dos leilões do petróleo neste Projeto, pelo menos poderíamos nos justificar historicamente.

Edmar Bacha, conservador, ligado aos tucanos, um dos mentores do Real à época em que FHC ainda era Ministro da Fazenda e J.M.Belluzzo, progressista, histórico do PMDB e um dos autores do Plano Cruzado e do célebre ESPERANÇA E MUDANÇA, que norteou o Partido na Nova República, apontam vários e concorrentes caminhos.

Detenho-me, aquim, na importância dos novos materiais e do grafeno, em especial, um produto que deverá mudar radicalmente a vida cotidiana num futuro próximo. As pesquisas com este produto renderam Nobel da Física de 2010 ao cientista russo-britânico Konstantin Novoselov e ao cientista holandês nascido na Rússia Andre Geim[6] (wiki)

Acima, em NOTÍCIA EM DESTAQUE, fiz uma seleção de leituras sobre o que o significado do grafeno. O material, trabalhado há mais de 20 anos, me chamou a atenção num  CIENCIA E TECNOLOGIA da Globonews, há algum tempo e desde então venho escrevendo sobre ele: A NOVA TECNOLOGIA DO CARBONO – Globonews – Globo Ciencia – 21 jan 2012

http://g1.globo.com/videos/globo-news/espaco-aberto-ciencia-e-tecnologia/t/todos-os-videos/v/carbono-promete-revolucionar-a-ciencia/1442103/

Mais informações podem ser obtidas em TORRES REVISTA DIGITAL, que edito, desde a mais bela praia do Rio Grando do Sul, onde resido: http://www.torres-rs.tv/site/pags/almanaque_vocesabia2.php?id=1548%22.  Em todo o caso, o grafeno é o material do futuro.

Nesta quadra da nossa História, quando se prepara o cenário para as eleições presidenciais no ano que vem, nada melhor, para estimular o debate que verdadeiramente interessa à Nação, do que se pensar na Política de Ciência e Tecnologia para o Brasil do presente, de forma a que, no futuro tenhamos não só maior consistência e produtividade na nossa Indústria, tornando-a internacionalmente competitiva, como possamos ter o orgulho de ter mais cientistas citados em periódicos internacional e até, eventualmente, agraciados com um NOBEL. Não custa sonhar. Mas para sonhar, contrariamente ao que pensa o senso comum, há que abrir os olhos. Não tanto que se os tenha arrancado da cara, mas o suficiente para que vejam o que deve ser visto.

Tudo muito simples: Como dois e dois são trinta e cinco…

Então  a China consagra-se, como a GRANDE FÁBRICA do mundo, elevando com isto o peso de sua INDUSTRIA no PIB e elevando, em conseqüência, a produtividade média da economia ; o Brasil, consagra-se como o FAZENDÃO, ornado com grandes  Rodeios de Peões Boiadeiros que ganham concursos internacionais e pela devastação de suas florestas. No fim, trocamos produtos agrícolas e minérios para a China e importamos produtos de mais alta densidade tecnológica. As exportações de produtos primários que já haviam caído para 30% do total das exportações, em 2004, voltaram a crescer  para 44% em 2010, enquanto  as de manufaturas caíram de 57% para 43%. Isto por pura sorte, graças à uma conjuntura favorável aos preços dos produtos primários, não sucumbimos neste processo. Dados do Ex-Prefeito Cesar Maia (NL 14 nov 2011), afirmam que “a participação brasileira na produção mundial caiu de 3,1% em 1995, para 2,9% em 2009. No mesmo período, a China saltou de 5,7% para 12,5% e a Índia foi de 3,2% para 5,1% .” Sintomaticamente, “O peso do Brasil na indústria de países emergentes recuou de 8% em 2000 para 5,4% em 2009, de acordo com a Onudi (Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial)”.

 “A política industrial sempre privilegiou a produção do País sem enfatizar o controle sobre a

tecnologia utilizada, ou mesmo o controle sobre o capital – que é necessário ao controle dessa

tecnologia.10 O que se observa no Brasil é, primeiro, uma indústria que por formação e situação

objetiva é estruturalmente dependente da tecnologia importada e, segundo, uma política de ciência

e tecnologia que produziu um sistema público de C&T, mas encontrou grandes dificuldades para

superar sua distância em relação ao setor produtivo.”                             (http://www.defesabr.com/MD/Planobrasil/Programasaturno/md_projetoatom.htm)

Precisamos, pois, urgentemente, repensar a economia brasileira para os próximos decênios, dando especial destaque à reorganização industrial e à C&T. Se ao menos houvesse uma determinação de investir os recursos dos leilões do petróleo neste Projeto, pelo menos poderíamos nos justificar historicamente.

Edmar Bacha, conservador, ligado aos tucanos, um dos mentores do Real à época em que FHC ainda era Ministro da Fazenda e J.M.Belluzzo, progressista, histórico do PMDB e um dos autores do Plano Cruzado e do célebre ESPERANÇA E MUDANÇA, que norteou o Partido na Nova República, apontam vários e concorrentes caminhos.

Detenho-me, aquim, na importância dos novos materiais e do grafeno, em especial, um produto que deverá mudar radicalmente a vida cotidiana num futuro próximo. As pesquisas com este produto renderam Nobel da Física de 2010 ao cientista russo-britânico Konstantin Novoselov e ao cientista holandês nascido na Rússia Andre Geim[6] (wiki)

Acima, em NOTÍCIA EM DESTAQUE, fiz uma seleção de leituras sobre o que o significado do grafeno. O material, trabalhado há mais de 20 anos, me chamou a atenção num  CIENCIA E TECNOLOGIA da Globonews, há algum tempo e desde então venho escrevendo sobre ele: A NOVA TECNOLOGIA DO CARBONO – Globonews – Globo Ciencia – 21 jan 2012

http://g1.globo.com/videos/globo-news/espaco-aberto-ciencia-e-tecnologia/t/todos-os-videos/v/carbono-promete-revolucionar-a-ciencia/1442103/

Mais informações podem ser obtidas em TORRES REVISTA DIGITAL, que edito, desde a mais bela praia do Rio Grando do Sul, onde resido: http://www.torres-rs.tv/site/pags/almanaque_vocesabia2.php?id=1548%22.  Em todo o caso, o grafeno é o material do futuro.

Nesta quadra da nossa História, quando se prepara o cenário para as eleições presidenciais no ano que vem, nada melhor, para estimular o debate que verdadeiramente interessa à Nação, do que se pensar na Política de Ciência e Tecnologia para o Brasil do presente, de forma a que, no futuro tenhamos não só maior consistência e produtividade na nossa Indústria, tornando-a internacionalmente competitiva, como possamos ter o orgulho de ter mais cientistas citados em periódicos internacional e até, eventualmente, agraciados com um NOBEL. Não custa sonhar. Mas para sonhar, contrariamente ao que pensa o senso comum, há que abrir os olhos. Não tanto que se os tenha arrancado da cara, mas o suficiente para que vejam o que deve ser visto.

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O ano Alemanha-Brasil. Cuidados…

O encontro ontem, em São Paulo,  dos Presidentes do Brasil e da Alemanha, selou a abertura do Ano Brasil Alemanha 2013/14 . Nada de novo. A cada ano autoridades brasileiras concertam-se com algum país estrangeiro para uma intensificação das relações culturais, políticas e comerciais entre seus países.

De acordo com o Itamaraty, os dois presidentes devem discutir a ampliação do fluxo bilateral de comércio e investimentos, o fortalecimento dos laços entre pequenas e médias empresas brasileiras e alemãs, as iniciativas de cooperação em ciência, tecnologia e informação e o apoio alemão ao Programa Ciência sem Fronteiras. Gauck e Dilma ainda devem discutir as negociações comerciais entre o Mercosul e a União Europeia e a crise financeira internacional.

Grandes parceiros

Na pauta das conversas também estão parcerias na área de energias renováveis e a participação do Brasil como país homenageado da Feira do Livro de Frankfurt de 2013.

http://www.dw.de/presidente-alem%C3%A3o-chega-ao-brasil-com-extensa-pauta-econ%C3%B4mica/a-16807975

Falando no evento, a Presidente Dilma Roussef destacou os fortes laços entre os dois países, mencionando a presença de mais de 2 mil estudantes brasileiros na Alemanha e de mais de 50 empresas brasileiras naquele país. A presença do Presidente J.Glauck inaugura, aliás,  o 31º Encontro Econômico Brasil-Alemanha, organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Confederação da Indústria Alemã (BDI). O Brasil é o maior parceiro comercial da Alemanha na América Latina.

Só em São Paulo existem mais de 800 empresas alemãs. O intercâmbio comercial bilateral triplicou na última década, chegando a 21,5 bilhões de reais em 2012. O montante representa 22% do fluxo comercial do Brasil com a União Europeia.

(idem)

As relações entre Brasil e Alemanha, apesar da presença brasileira junto aos Aliados, tanto na I como na II Guerra , são antigas e estreitas, desde que o Governo Prussiano cedo reconheceu a nossa Independência (1825) , abrindo-se , no ano seguinte, um consulado brasileiro em Hamburgo. Recorde-se que Dom Pedro I era casado com uma Princesa austríaca e que foi um de seus homens de confiança, o Cel . Schaeffer, que naquela cidade, em 1824 recrutou os primeiros imigrantes alemães que foram , primeiro para Friburgo, no Rio de Janeiro e depois, para S.Leopoldo , no Rio Grande do Sul. Na primeira leva,  que chegou a esta cidade no dia 25 de julho de 1824, estavam meus ancestrais , os irmãos Heinrich e August:

O fluxo migratório que irmanaria as duas comunidades continuou até 1859,  quando a Prússia promulgou o chamado “Rescrito de Heydt”, proibindo a propaganda em favor da imigração para o Brasil, devido aos maus tratos sofridos pelos colonos alemães na província de São Paulo. Foi revogado em 1896.

Mas  pouco tempo depois as relações seriam novamente turvadas pela declaração de Guerra do Governo de Venceslau Brás, em 27 de outubro de1917, contra o já Império Alemão, fundado em 1871, com a incorporação da Prússia. Depois de um período de paz e boas relações entre os dois países, seguiu-se, em 1942 a declaração do Estado de beligerância contra a Alemanha de Hitler (III Reich) , supostamente responsável por vários torpedeamentos de nossos navios na costa atlântica . Com a divisão da Alemanha nos pós-Guerra, as relações foram retomadas em dois momentos: Em 1951, com a Republica Federal Alemã, com capital em Bonn  e  mais tarde com a República Democrática Alemã (Zona Soviética) . Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e a reunificação do país, nossas relações se incrementaram ainda mais.

A adequada compreensão das relações do Brasil com a Alemanha tropeça, muitas vezes, no entendimento do que é a Alemanha  – e como ela se constituui. O território do que é hoje este país esteve, durante séculos fragmentado em pequenos reinos, ducados e cidades. Só se constitui como um Estado centralizado em 1871. Muitos dos imigrantes que aqui chegaram, até esta data, náo eram de nacionalidade alemã, então inexistente. Muitos, vindos do Schleswig eram dinamarqueses. Outros, austríacos. Outros, em grande maioria, de regiões autônomas. Mesmo o famoso Sacro Império Romano Germânico, fundado por Carlos Magno Carlos Magno  em 25 de dezembro de 800,  data de sua coroação jamais gozou de grande centralidade. Durou cerca de mil anos, sempre fragmentado e sem nenhuma capacidade de afrontar os países emergentes da Era das Navegações.

Várias razões são apontadas para a incapacidade histórica dos territórios alemães se unificarem em um só Estado.

Primeiro, pela maneira como se integrou à cultura ocidental . Depois, pela divisão entre o sul católico e o norte, protestante, que acabou fortalecendo uma divisão anterior entre o sul/sudoeste da região e o norte, conhecido como Liga Hanseática, na região Báltica . E finalmente, numa divisão interna insuperável  – a famosa dualidade alemã, a partir do sec. XVIII -entre o Reino da Áustria, fortemente centralizado e que teve em Viena, entre os anos 1815 e 1930 um dos principais centros culturais do mundo, e os territórios dispersos do que é hoje a Alemanha. Muito contribui, para tanto, o fato de que as tribos germânicas jamais ficaram atadas ao Império Romano. É célebre a afirmação de César, às margens do Reno,  depois de havê-lo atravessado numa manobra assombrosa da engenharia militar da época, mas  precavidamente retornado: “Aqui termina o Império Romano. A resistência dos germanos à dominação romana foi exaustiva. E permanceram, depois de liquidação do Império Romano, com seus próprios reinos, mesmo depois da criação do Sacro Império Romano Germânico, o qual, apesar do nome jamais inclui Roma. Ali pululavagrande número de territórios diferentes,diferentes línguas (alemãofrancêsitalianotchecoesloveno, etc.), distintas referências religiosas e diferentes formas de governo  , com uma grande variedade de culturas e  dialetos regionais. .

Tais fatos debilitaram enormemente os povos germânicos diante do processo da Revolução Industrial em curso na França e Inglaterra. A Alemanha sempre se viu limitada em seu “espaço vital” para o fornecimento de matérias primas e expansão de mercados para sua indústria nascente. Daí porque tenha se voltado, no final do século XIX para os países escandinavos, Rússia especialmente, da qual foi um decisivo suporte tecnológico até a Revolução Bolchevique, em 1917. Frustrada em suas ambições imperiais, desenvolve um forte sentimento nacionalista interior, o qual a moverá para as duas grandes guerras mundiais do século XX. Desta última sai literalmente destroçada, dividida , mas jamais prostrada. A reunificação, no final do século deu-lhe novo alento e inspira veleidades de supremacia mundial. Muitos analistas admitem, inclusive, que até o final do século teremos num mundo globalizado, três centros tecnológico-industriais hegemônicos: Estados Unidos, Alemanha e China.  Este impulso recente da economia alemã, já chamado de Milagre Alemão, tem, naturalmente, raízes históricas.

Mas por que a Alemanha está “tão bem”, economicamente? Isto é importante para refletirmos sobre as relações Brasil-Alemanha, neste ano que se inaugura em suas relações.

A reserva de pessoas disponíveis para trabalhar, na Alemanha está diminuindo. Atualmente, o número das pessoas que entra no mercado do trabalho é menor do que o número das pessoas que vão para a reforma. Ainda por cima, a população do país é madura e está diminuindo. Nos próximos 30 anos a Alemanha terá sete milhões de habitantes a menos O ex-ministro da Economia da Alemanha, Wolfgang Clement, defendeu que os alemães se aposentem aos 80 anos, “se quiserem”, conforme destacou o jornal espanhol El Mundo. “Temos que aceitar o fato de que os alemães têm que trabalhar por mais tempo. É a consequência lógica da mudança demográfica. Quem quiser e puder deve seguir trabalhando até os 75 ou mesmo 80”, disse. O forte senso de humor negro dos alemães já admite que, assim sendo,  não faltarão empregos para os velhinhos.

Este pano de fundo demográfico cria um ambiente de tensão e medo na população trabalhadora do país. Como poucos outros povos, eles se dispões à medidas de extrema austeridade que se traduzem por acordos para diminuição dos salários e precarização dos regimes de emprego, com a quebra de antigas conquistas laborais. Ou seja, o mesmo mecanismo chinês de compressão salarial imposto na China e que lhe dá grande competitividade industrial, é copiado , livremente na Alemanha, gerando os piores salários da Europa, profunda segmentação do mercado de trabalho, onde só alguns ganham muito, e generalização dos chamados minijobs, que são trabalhos por semana, ou por hora, sem garantias, de baixíssima remuneração. Um estudo francês evidencia  que estes “mini-trabalhos” com “mini-salários”cresceram vertiginosamente nos últimos anos (+47% entre 2006 e 2009), superada apenas pelo trabalho temporário (+134%, alcançando em maio de 2011 5 milhões de subempregados, aos quais se juntam os cerca de 3 milhões de desempregados oficiais.(  Institut Français des Relations Internationales, e pode ser descarregado neste link -Fonte: Rischio CalcolatoIFRI ).   Em Agosto de 2010,  outro relatório do Instituto do Trabalho da Universidade de Duisberg-Essen estimava que mais de 6,55 milhões de Alemães recebiam menos de 10 Euros brutos por hora, um total que tinha aumentado de 2,3 milhões quando comparado aos 10 anos anteriores. Dois milhões de trabalhadoresna zona do Reno vivem (ou melhor, sobrevivem) com menos de 6 Euros por hora, e muitos na antiga Alemanha Oriental ficam com 4 Euros por hora, ou seja 720 Euros por um mês de trabalho a tempo inteiro.
São precisamente estes fatos que levam a que os países membros da União Europeia se sintam ameaçados pela Alemanha, vez que, mercê da cultura de defesa do trabalho,  não teriam a mesma disposição de reprimir a força de trabalho como fez a Alemanha. Um artigo recente, de J. Torres López,  foi retirado, à instâncias do Governo Alemão, do Jornal El País, de Madrir, por afirmar que La Merckel estaria fazendo o mesmo que Hitler.

O economista respondeu no seu blog:

Diante da retirada do meu artigo “a Alemanha contra a Europa” do site do El País, quero manifestar o seguinte: (…)

– É verdade que no artigo afirmo que, na minha opinião, a Alemanha declarou guerra económica contra o resto de Europa e que comparo isso com a busca do espaço vital que levou Hitler a desencadear a guerra, mas acho que isto deve ser entendido como a comparação de dois factos históricos lamentáveis ainda que de fatura desigual, e não como a equiparação de dois líderes políticos.

Assim, pois, cuidado com os exemplos do Milagre Alemão, como também, do Milagre Chinês. A continuarem pelo caminho que trilham vão acabar liquidando um século de conquistas de garantias do trabalho e instaurando no mundo globalizado uma guerra social sinistra. O Brasil pode estar, hoje, diante de grandes desafios em seu processo de desenvolvimento, eis que necessita urgentemente reorganizar seu setor industrial, de forma a que venha gannhar maior densidade tecnológica nas suas relações com o exterior. Mas, seja pela via Bacha, de inclinação neoliberal, seja pela via Belluzzo, menos propensa à abertura total, o que dependerá do resultado eleitoral de 2014, tenhamos presente a defesa das conquistas laborais.

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BIKES : Uma nova era na vida das cidades

Semana passada registrou um dos maiores passeios ciclísticos do mundo: O  TD Five Boro Bike Tour. Mais de 30 mil ciclistas percorreram todas as pontes de Manhattan, visitando diversos bairros. Tudo dentro de estritas normas de segurança.Um acontecimento que marca uma nova era no trânsito congestionado em muitas metrópoles. A Era das Bicicletas.

Até pouco tempo atrás, o uso da bicicleta era um caso raro, muito próximo de pessoas com estilos alternativos de vida, desportistas e , sobretudo, jovens. Hoje, porém , isto está mudando. Os deslocamentos nas cidades está ficando cada vez mais insuportável, o custo da locomoção elevado, a vida mais difícil Com isto, as velhas bicicletas são chamadas de volta e vemos sisudos executivos, provectas senhoras, muita gente pedalando pelas ruas.

No Brasil os passeios ciclísticos proliferam. São Paulo, Rio, Cuiabá e Porto Alegre são muito afeitas a essas mobilizações. No caso de Porto Alegre ela vem se convertendo, até, em processo político, recolocando o MASSA CRÍTICA, movimento dos ciclistas, no centro de processo de recolocação de gente nas ruas. Em Torres, um pequeno grupo já está se consolidando.

O uso da bicicleta, porém exige cuidados. Cuidados dos pais que entregam um veículo, assim consignado no Código Nacional de Trânsito aos filhos menores. Cuidados dos próprios ciclistas, que devem estar atento ao fato de que se incorporam numa cadeia de ” interesses” que fluem pelas vias urbanas. Cuidados das autoridades, que devem fazer o que nunca fizeram no Brasil: Pensar nas pessoas e não apenas nos automóveis.

Dou um exemplo aqui em Torres: A Ponte sobre o Mampituba. Quem são as autoridades (ir) responsáveis que não vigiam o tráfego sobre a ponte? É comum ver-se ali pedestres, ciclistas, motociclistas, automóveis e carroças trafegando sem nenhum controle. Até que um dia vai acontecer um acidente. As cabeceiras da Ponte também são precárias, principalmente do lado de Torres, quando a ponte cai, abruptamente sobre solo gaúcho e ainda se abre em ângulo de 90 graus para reversâo. Tampouco há calçadas no acesso ‘a Ponte, podendo ver-se, diariamente, o trânsito de pedestres no meio da rua. Tudo isto porque as autoridades só pensam no Senhor Automóvel.

Quando o mundo inteiro se volta para o renascimento da bicicleta, é mister estar atento a isto. Torres, a propósito, é uma cidade plana, apropriada ao uso da bicicleta que, aliás é fartamente usada por jovens e por trabalhadores. Mas ainda não temos uma consciência de segurança para o ciclista na cidade. Ciclovias improvisadas foram criadas e abandonadas ‘a própria sorte. As bicicletas dificilmente são equipadas para uso noturno, sendo visível, a cada dia o risco que elas significam nas principais vias de acesso ao centro. Ninguém sabe, nem autoridades municipais, nem ciclistas, nem condutores de carros, que a bicicleta é um veículo e o ciclista tem direitos e obrigações neste processo, cujo principal ator é sempre o pedestre. Ciclistas continuam andando em disparada pelas praças e passeios públicos. Ou na contramão nas ruas. Risco, enfim,  para todo mundo. E não adiantam pequenas ou pontuais advertências. É hora de se levar a sério a bicicleta, como importante fator de locomoção na cidade e sobre a qual devemos ter um programa sistemático de educação e prevenção de acidentes. Um bom ponto de partida para a formação dessa consciência são os passeios e olimpíadas ciclísticas. Vamos nessa!!!!

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SITUAÇÃO ECONÔMICA DA CHINA HOJE!   -13 de maio de 2013

(The Wall Street Journal, 11) 1. Uma queda acentuada nos preços de fábrica — o 14o declínio mensal consecutivo — indica que o excesso de capacidade das indústrias tradicionais virou mais um problema na economia chinesa, já às voltas com o endividamento crescente e a desaceleração do crescimento.  Os preços ao produtor — um indicador dos preços de bens antes de eles chegarem aos consumidores — caíram 2,4% em abril, o maior recuo desde outubro, causado principalmente por grandes recuos nos setores de metais e químicos.

2. A China continua sendo uma das economias que mais crescem no mundo, embora bem abaixo do nível de dois dígitos registrado nos últimos 30 anos. No primeiro trimestre, o PIB cresceu a um ritmo de 7,7% ante o mesmo período do ano anterior. O banco central da China informou, num relatório trimestral sobre as condições monetárias, que ainda não há bases sólidas para um crescimento econômico estável.

3. A deflação no setor manufatureiro reflete o excesso de capacidade em várias das principais indústrias, inclusive a do aço, carvão, vidro, alumínio, painéis solares e cimento.  O declínio na China tem um efeito positivo para os consumidores porque ajuda a manter baixos os preços para os produtos que compram. A inflação medida pelo índice de preço ao consumidor atingiu um pico de 6,5% em julho de 2011 e vem caindo desde então, chegando a 2,4% no acumulado de doze meses em abril.

4. Para as indústrias, no entanto, o efeito da queda dos preços pode ser grave. A Aluminum Corp. of China, que divulgou um prejuízo de US$ 158 milhões no primeiro trimestre e um aumento de 1,9% na receita, afirmou que mais de 90% do alumínio na China é produzido com prejuízo. “A urbanização da China vai impulsionar o consumo de alumínio no longo prazo”, disse um porta-voz, “mas pode levar algum tempo para digerir os estoques”.

5. A indústria de cimento também parece inchada. Li Yequing, presidente da Huaxin Cement Co.,disse na semana passada que os fabricantes de cimento precisam fechar fábricas antigas para evitar uma “catástrofe” em todo o setor. Analistas dizem, porém, que firmas que têm contatos no governo vão provavelmente receber apoio financeiro.

6. E as exportações recuaram devido aos problemas financeiros na Europa e Japão e à branda recuperação dos EUA. A demanda doméstica já não é tão forte como alguns analistas haviam previsto porque o governo está tentando limitar os gastos com infraestrutura que levaram a altos níveis de endividamento. Inflação baixa e uma dívida pública limitada significam que o governo ainda tem recursos para estimular o crescimento. Alguns economistas esperam que a nova grande onda de empréstimos dê impulso ao investimento, o que por sua vez aumentaria a demanda por produtos industriais.

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EMBRAPA, 40 ANOS                                       

 Torres 10 maio 2013

“A soberania é o direito dos povos a alimentos nutritivos e culturalmente adequados, acessíveis, produzidos de forma sustentável e ecológica, e seu direito de decidir seu próprio sistema alimentar e produtivo. Isso coloca aqueles que produzem, distribuem e consumem alimentos no coração dos sistemas e políticas alimentares, acima das exigências dos mercados e das empresas A soberania alimentar supõe novas relações sociais livres da opressão e desigualdades entre os homens e mulheres, povos, grupos raciais, classes sociais e gerações.”

(Mali (2007)- Declaração de Nyéléni- Citado em Stedia & Horacio)

 “(…) a enorme distorção existente no sistema agrícola e alimentar mundial está na base das desigualdades de renda e de desenvolvimento entre os países. Este quadro agrícola, por sua vez, é uma herança histórica, e é uma ilusão pensar que somente o excedente produtivo poderá resolver o problema de falta de alimentos para grande parte da população mundial… A grande maioria destes pobres, mal nutridos, subalimentados e que acabam também morrendo, são pobres que vivem no meio rural e contraditoriamente poderiam produzir seus próprios alimentos. Desde que iniciaram as campanhas de combate à fome, o número de famintos só tem aumentado e o único fator de redução neste número de famintos é a alta da mortalidade por fome. Isto é uma tragédia”.

                                                                                         Mazoyer( Citado em Stedile e Horacio )

Mês passado, uma rara unanimidade nacional no aplauso  pelos quarenta anos da EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária -criada pelo regime militar em 1973. Trata-se, com efeito , de um patrimônio nacional, com a maior parte de seus pesquisadores com títulos invejáveis. Até o controvertido líder J. Rainha é pródigo na defesa da EMBRAPA,  reverberando o que pensam o MST e VIA CAMPESINA , embora assinalando que ela poderia ter se orientado melhor:

Temos o maior centro de pesquisa do mundo que é a Embrapa. Ela deveria estar a serviço da produção agropecuária como defesa e soberania da nação. Lamentavelmente a atuação da Embrapa no Brasil serve mais às grandes elites rurais e aos grandes proprietários e faz um desserviço ao prestar conhecimento apenas para à elite agropecuária ou às corporações multinacionais. A pesquisa deveria estar na mão do governo a serviço da população em todos os sentidos: do pequeno, médio e grande agricultor. O que vemos é que o pequeno agricultor não tem acesso à Embrapa. A pesquisa é voltada para o grande capital financeiro, ao agronegócio. Por outro lado, temos um grande conhecimento que é repassado para os outros países. Lamento      essa atitude da Embrapa.”

http://www.sinpaf.org.br/09/04/jose-rainha-junior-fala-sobre-capitalismo-e-agronegocio-ainda-somos-casa-grande-e-senzala/

A EMBRAPA foi responsável  principal pela recuperação de vastas áreas de cerrado para a agricultura, graças as quais o país vem navegando na Crise Mundial com folga no setor externo. Enquanto a industria nacional declina perigosamente em sua participação no PIB, o agro-business, com epicentro no Planalto Central, demonstra ao mundo inteiro a inequívoca superioridade da  produção agro pecuária brasileira. A tal ponto que se tornou um jargão nos mercados tratar o Brasil como o Grande Fazendão e a China como a Grande Fábrica do mundo. Na verdade, economias complementares. Também denominada de CARACU, pois enquanto os chineses internalizam produtividade e tecnologia em segmentos estratégicos, nós o fazemos, como nos velhos tempos da Plantation, no setor primário. Até aqui, tudo bem, pois os preços agrícolas, contrariamente à época em que se formulou a crítica CEPALINA  ao modelo “hacia-afuera”, nos Pós-Guerra, vêem correspondendo às expectativas de incorporação da produtividade mundial via exportações agrícolas. Como fez o petróleo, quando saltou de $US 2,50 o barril para os preços atuais de até $US60. Uma espécie viral de retroalimentação do sistema econômico, extremamente perigosa, e que é denominada como Doença Holandesa. Porque ela geralmente desloca  investimentos e atenções para seu próprio umbigo em detrimentos de setores com maior densidade tecnológica. Não por acaso, todo o debate econômico atual, ao qual o único interlocutor governamental com alguma credibilidade é o  Presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que se apequena diante de Edmar Bacha e J.M.Beluzzo,  se centra sobre o dilema da reorganização industrial. Mas esse é um outro assunto.

Voltemos à EMBRAPA.

A empresa fez uma opção pelo agro-business. Logicamente, pela sua dimensão ultrapassou os limites desse caminho e se transformou numa instituição com papéis diversificados. Hoje cumpre funções em alguns países da América Latina e até da África.

Eu, pessoalmente, fui testemunho desta opção da EMBRAPA. Fui um de seus primeiros técnicos, tendo vindo do Chile, a convite de um de seus Diretores, já falecido,  o Edmundo Gastal, de Pelotas /RS para organizar o Setor de Planejamento. Durei seis meses na Empresa. Ela foi literalmente  ocupada pelos economistas da Escola de Viçosa, MG, que tinham uma visão totalmente empresarial quanto ao papel da Agricultura no Desenvolvimento Brasileiro. Não lhes faltou apoio superior. Enquanto eu defendia prioridade da pesquisa para a mandioca, como principal produto da alimentação do povo brasileiro, eles viam, já o promissor mercado de commodities. Do ponto de vista do Mercado, estavam certos. Optei pela Universidade…

Mas ao privilegiar a pesquisa para o agro-business, a EMBRAPA alongou na história do Brasil a matriz colonial, tão bem traçada, desde os anos 30 do século passado, por Caio Prado Jr: GRANDE PROPRIEDADE – TRABALHO FORÇADO – PRODUTO DE EXPORTAÇÃO.

É claro que já estamos longe da Era da Escravidão. Mas, vez por outra, algum grande fazendeiro ainda é pilhado em flagrante de exploração de trabalho escravo. Contudo, a grande propriedade é gritante. Os índices de concentração atual  da terra no Brasil  (Gini=0,857) são piores do que há um século e o modelo do agrobusiness  é reconcentrador:

O MST utiliza um dado econômico revelador: o agronegócio conta com 300 mil fazendas com mais de 200 hectares e com 15 mil latifundiários que detém fazendas acima de 2,5 mil hectares e possuem 98 milhões de hectares. Esse é o conjunto do agronegócio que produz R$ 90 bi do PIB agrícola no país. Se você olhar para quem eles vendem, descobrirá que 20 empresas, hoje, controlam todo o comércio agrícola brasileiro, tanto o de insumos (para financiar a produção), quanto o de commodities. Dessas 20 empresas, 70% são transnacionais e o PIB delas – segundo dados do Valor Econômico – atinge R$ 112 bi a R$ 115 bi.

((Stédile e Horacio M.Carvalho-cit)

O fato não é, entretanto, propriamente nacional. Toda a produção de alimentos no mundo, cuja produtividade hoje é elevadíssima e poderia alimentar as 7 bilhões de almas do Planeta, vem se homogeneizando na forma de commodities, submetidas a exploração intensiva das terras e submetidas a regimes de comercialização extremamente cruéis. É o vértice da Revolução Verde, que nem é Revolução , nem é verde, porque não reorganiza a propriedades  com vistas à interesses sociais , nem se preocupa com a sobrevivência ambiental dos recursos envolvidos. Não deixa espaços para culturas regionais, nem familiar. Não elimina a fome no mundo, que ainda alcança uma em cada seis pessoas, totalizando algo em torno de um bilhão de bocas. A alimentação do mundo inteiro está , enfim, artificialmente concentrada em meia dúzia de produtos de rentabilidade garantida aos investidores, mas inacessíveis à grande parcela da população mundial.

A artificialização da agricultura pelo crescente uso de insumos de origem industrial, a agroindustrialização dos alimentos, a padronização mundial dos hábitos alimentares da população e a manipulação industrial para a oferta de alimentos com sabores, odores e aparências similares aos naturais, aliados ao aumento da oligopolização dos controles corporativos das cadeias produtivas alimentares, nos indica, entre outros fatores, que inversamente à construção de uma soberania alimentar, se caminha uma tirania da dieta alimentar, homogeneizada e manipulada, em busca apenas de altos lucros para as grandes corporações agroindustriais. Sendo provável que até 2050 a população mundial aumente de dos atuais 6,3 bilhões para mais de 9 bilhões, tudo leva a crer que a produção agrícola precisará crescer em 70% na oferta de alimentos para sobrevivência da humanidade, segundo o Fundo Internacional para Desenvolvimento da Agricultura

(Stédile e Horacio M.Carvalho-cit)

 Agora, o grande capital se prepara, com o concurso da China, que teme pela sua segurança alimentar,  está a ocupar a hinterlândia africana e já detém áreas gigantescas em alguns países daquele continente para reproduzir, lá, o modelo do cerrado brasileiro. A savana africana cobre 25 países e teria capacidade de ser um novo centro de produção de grãos e alimentos no mundo mais produtivo que o Cerrado brasileiro. Hoje, apenas 10% da área de cerca de 400 milhões de hectares que vai do Senegal à África do Sul é utilizada. Tudo isto com apoio dos organismos financeiros internacionais, como FMI e Banco Mundial, e até da FAO/Nações Unidas , hoje dirigida por um brasileiro. Tudo, não pela segurança alimentar dos povos mas para realimentar as cadeias da voracidade capitalista.

“Uma das principais causas da fome e da desnutrição de milhões de seres humanos é a especulação, que sobrevêm, sobretudo, da Chicago Commodity Stock Exchange (Bolsa das matérias primas agrícolas de Chicago), onde são estabelecidos os preços de quase todos os produtos alimentícios do mundo (…). Para resolver a crise alguns sugerem as seguintes soluções: regulação da especulação… em vetar de modo absoluto a transformação dos produtos agrícolas em biocarburantes… uma outra poderia ser que as instituições como Bretton Woods e a OMC poderiam mudar os parâmetros de sua política na agricultura e dar prioridade absoluta aos investimentos nos produtos de primeira necessidade e na produção local, incluindo sistemas de irrigação, infra-estrutura, sementes, pesticidas, etc. Trata-se, pois, de um problema de coerência. Muitos países que fazem parte da Internacional Covenant on Economic, Social and Cultural Rights (Convenção Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais) são também membros das instituições Bretton Woods e OMC (…).”

(Jean Ziegler)

Poucos lembram, aliás,  de Josué de Castro, autor  “Geografia da fome” traduzida para mais de 40 idiomas.Ele foi um pioneiro dos estudos sobre Agricultura e Fome e acabou concluindo que está “ era um problema social, resultante da forma de organização social da produção e distribuição dos alimentos.”Tal foi sua importância e reconhecimentos na década de 50 que foi agraciado com um dos primeiros dirigentes da FAO.

CONCLUSÁO

Com todo o respeito e em defesa da EMBRAPA, não podemos, pois,  nos limitar às suas realizações . É mister começar a repensar a natureza desta patrimônio para que ele se reoriente em benefício da Agricultura Familiar e seus produtos, em consonância com o aprofundamento da democracia em curso no país.  Duas questões emergem nesta revisão:

I Agricultura Familiar e Soberania Alimentar

II Defesa Ambiental e Soberania Alimentar Sustentável

I

.A década de 90 consagrou o conceito  de segurança alimentar , uma maneira de garantir a oferta , a preços baixos, de produtos agrícola. Em 1996  este conceito cedeu lugar ao soberania alimentar. Deve-se muito ao MST e à VIA CAMPESINA esta mudança conceitual, levada a efeito  na Cúpula Mundial sobre a Alimentação (CMA) realizada em Roma pela FAO.  Trata-se da defesa da   alimentação  como “o direito de toda pessoa a ter acesso a alimentos sadios e nutritivos, em consonância com o direito a uma alimentação apropriada e com o direito fundamental de não passar fome” . O produto agrícola é, antes de mais nada, um direito, como educação e saúde, eis que vinculado à uma necessidade básica da pessoa humana. Logo,a “ soberania alimentar significa que cada comunidade, cada município, cada região, cada povo, tem o direito e o dever de produzir seus próprios alimentos”.  Este nova conceituação impõe, logicamente, novas relações sociais  em toda a cadeia de produção e comercialização de bens agrícolas, longe do modelo atual de forte dependência dos mercados e empresas globais.

Em 2005 Chonchol14, num estudo sobre a soberania alimentar na América Latina, ponderava que “(…) no âmbito das relações entre agricultores e grandes empresas ligadas ao setor ( agroquímicos, sementes, agroindústrias alimentares ou de cadeia de supermercados), também se observa no período (1980-2000 – HMC) que se seguiu às reformas e no contexto da globalização, um aumento do poder de pressão dessas empresas – a maioria transnacionais – sobre os agricultores.

(Stedile e Carvalho, citados)

A EMBRAPA não pode , portanto, simplesmente manter e se regozijar com o que fez. Pelo contrário, espera-se que ela seja capaz de ser um suporte decisivo para uma verdadeira Politica de Soberania Alimentar, cujos pontos fundamentais têm sido assinlados :

Políticas estruturantes para alcançar a soberania alimentar

As hipóteses para a construção de uma soberania alimentar no Brasil, no âmbito mais geral de afirmação da soberania popular, necessitariam de reformas estruturais no meio rural e no atual modelo de produção agrícola do país. Entre elas se destacariam, como essenciais:

1.       Uma reforma agrária ampla e massiva que a democratize a posse e uso da terra, tendo como conseqüências a garantia de acesso a 4 milhões de famílias de trabalhadores que querem produzir na agricultura. Para isso é preciso desapropriar os maiores latifúndios, sobretudo os de propriedade do capital estrangeiro e de empresas não agrícolas, bancos etc.

2.       Mudar o atual modelo de produção e de tecnologia agrícola dominante para uma outra concepção de produção de alimentos saudáveis, baseados na agroecologia, agricultura ecológica, orgânica e outros caminhos que garantam produção e oferta abundante em todos os locais, regional e a nível nacional.

3.       Limitar o tamanho máximo da propriedade e posse da terra; e garantir o princípio do interesse de toda sociedade sobre os bens da natureza, água, e biodiversidade.

4.       Reformular o papel do Estado para que ele ordene o processo de soberania alimentar, garantindo a sua produção e distribuição em todas as regiões do país.

5.       Controle direto do governo sobre o comércio exterior (importação/exportação) de alimentos e sobre as taxas de juros e de câmbio.

6.       Implementar um amplo programa de pequenas e medias agroindústrias instaladas em todos os municípios do país, na forma cooperativa.

7.       Garantir estoques reguladores de alimentos saudáveis, por parte do governo, para garantia de acesso a toda população.

8.       Desenvolvimento de um novo modelo econômico, baseado na ampla distribuição de renda, na garantia de emprego e renda para toda população; na universalização da educação e na implementação de uma indústria nacional voltada para o mercado interno.

9.       O conhecimento e plena liberdade para intercambiar e melhorar sementes é um componente fundamental da Soberania Alimentar, porque sua existência em diversidade permite assegurar a abundância alimentar, servir de base a uma nutrição adequada e variada, e desenvolver formas culinárias culturalmente próprias e desejadas. As sementes são o início e o fim dos ciclos de produção camponesa, são criação coletiva que reflete a história dos povos e de suas mulheres, as quais foram suas criadoras e principais guardiãs e aperfeiçoadoras. Seu desaparecimento leva ao desaparecimento das culturas dos povos do campo e de comunidades. Como não são apropriáveis, devem manter seu caráter de patrimônio coletivo26.

10.   Impedir o uso e fomento de sementes transgênicas. Elas representam a propriedade privada da vida, da possibilidade da livre reprodução, e acima de tudo representam a destruição de toda biodiversidade, pois elas não conseguem se reproduzir sem contaminação de todas as demais sementes. Alem de pesar dúvidas e a falta de pesquisa sobre suas conseqüências para a saúde animal e humana.

(SOBERANIA ALIMENTAR, UM DIREITO DOS POVOS – João P.Stedile e Horacio Martins de Carvalho)

                                                        II

Além da Soberania Alimentar , um novo modelo agrícola deverá atentar para a sustentabilidade da produção. Já não se trata de produzir a preços que desconsideram o custo ambiental a ser pago pelas futuras gerações. Ainda há muitas dúvidas sobre a viabilidade econômica de processos orgânicos para a produção em escala. Mas é justamente aí que a Pesquisa poderá contribuir decisivamente. Informes dão conta de que já há uma base da qual se pode salta para a Soberania Alimentar Sustentável.

INFORME DA ONU AFIRMA QUE AGROECOLOGIA PODE DOBRAR A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS EM 10 ANOS

Baseado em uma extensa revisão das publicações científicas especializadas divulgadas nos últimos cinco anos, o Relator Especial concluiu que a agroecologia é uma forma de desenvolvimento agrícola que não só apresenta fortes conexões conceituais com o direito a alimentação, mas também tem demonstrado que dá resultados para avançar rapidamente na concretização deste direito humano para muitos grupos vulneráveis em vários países e ambientes. Por outro lado, a agroecologia oferece vantagens que complementam as abordagens convencionais mais conhecidas, como a seleção genética de variedades de alto rendimento e contribuem enormemente para desenvolvimento econômico mais amplo.

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ECONOMIA BRASILEIRA : PARA ONDE VAMOS?

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A economia brasileira esteve, durante os últimos anos, na berlinda. Dois sucessivos Governos, o de FHC ( 2005/2002)  e  Lula ( 2003/2010) , não só retiraram o país do índex , pouco recomendado a investidores internacionais, como o transformaram no fruto cobiçado destes investidores. Mais do que isto: O Brasil virou moda. A tal ponto que brasileiros e brasileiras começaram a ser crescentemente escolhidos para “par perfeito”. Um romance, levado às telas, coroou o sucesso: “Comer, Rezar, Amar”. Um brasileiro madurão confirma as recomendações, fazendo a felicidade conjugal da bela peregrina….Uma propaganda do Governo não deixava por menos, mostrando um montanhoso gigante levantando-se com determinação e peso: “O presente chegou!”

Mas a vida vem  em ondas como o mar. E há tempo para tudo. Para a economia brasileira os tempos, agora, são outros: O PIB está muito baixo, a Inflação preocupa, os déficits de comércio exterior e do setor público disparam. Pior: o país se prostra, novamente, ao modelo primário-exportador, no qual somos inequivocamente mais produtivos do que os outros, malgré a precariedade da infraestrutura de escoamento da produção.   O alento fica por conta dos baixos níveis de desemprego. E o alívio, por conta dos altos índices – jamais vistos – de aceitação do Governo Dilma. Os petistas, seu principal suporte político, exultam, jogando as tensões para debaixo do tapete: “Todo mundo apóia Dilma!”

A inteligência do país, porém, que não se confunde nem com o Povão, nem com a Situação, se inquieta.  Não falo dos tradicionais e pouco recomendáveis comentaristas da Grande Mídia, escrita e televisiva,  convertidos, há muito, a militantes conservadores. Falo da “inteligência” que não outro compromisso senão com as próprias dúvidas.

As duas ou três últimas semanas estão assistindo a um intenso debate entre economistas ortoxos, conservadores, favoráveis à maior abertura do país como condição indispensável à sua sobrevivência num mundo crescentemente competitivo e economistas mais progressistas, ainda partidários de um modelo desenvolvimentista com forte presença nacional e apoio no mercado interno.

Edmar Bacha é um dos mais conceituados economistas neo-liberais do país. Sólida formação acadêmica nos Estados Unidos, carreira acadêmica irretocável, honesto.  Devo a ele o convite para ingressar na Universidade de Brasília, em 1973.  Quando estranhei que convidasse alguém com formação marxista, ele foi incisivo: – “Uma boa Universidade tem que gente com todo o tipo de formação. Os alunos que se decidam. Mas tem que ser bommm! “ Ele foi um dos Pais do Real( só não pode ser chamado de Pai porque se esqueceram de fazer exame de DNA…) e  defensor de uma integração competitiva do Brasil no processo de globalização. Acaba de divulgar um livro , seguido de inúmeras entrevistas na televisão. Para ele a globalização é inelutável. É um marco da organização econômica ao qual os países devem procurar um espaço. Se não o fizerem, anquilosar-se-ão em perfis industriais cada vez menos competitivos e inviáveis.   Bacha defende, então, um Novo Plano Real, agora para a reorganização industrial do país: Definir setores com potencialidade competitiva internacional, reorganizar as finanças públicas e abrir definitivamente a economia brasileira, tradicionalmente fechada em si mesmo, com baixíssimos coeficientes de abertura externa. Para tanto, diz ele, o câmbio tem que voltar a flutuar com mais desenvoltura, o que exigirá, claro! , gente confiável ao mercado. Bacha sintetiza o que deveria ser um Programa de Oposição à Política Econômica do PT.

Do ponto de vista do Governo, tem faltado fôlego não só para rebater as críticas de Bacha e outros economista liberais, como para reanimar uma econo mia virtualmente desfalida. Diz os provérbio que TODOS OS CRIMES TÊM CRIMES, ASSIM COMO OS HOMENS TÊM PECADOS, mas parece ser uma regra mundial também, que TODOS OS GOVERNOS EMBURRECEM, AFASTAM A INTELIGÊNCIA. O próprio PT era um Partido que tinha na sua formação um segmento expressivo da vida acadêmica do país. Mas,  lentamente, esses quadros foram se retirando. Primeiro do Governo, depois até mesmo do Partido. Hoje estão voltados `a reprodução de suas  idéias dentro das Universidades. Na área econômica Governamental, tirando a Dilma, grassa uma verdadeira mediocridade, começando pelo Ministro da Fazenda. Não há argumentos e contra-argumentos, apenas a repetição incansável de slogans e publicidade. O cavalo de batalha é o que o PT fez: incorporação ao mercado de cerca de 30 milhões de pessoas, num resultado combinado  – elogiável -de elevação do salário mínimo, transferências de renda e acesso ao crédito ao consumidor. Neste último item, o papagaio dos consignados já se transformou até em ave de rapina, tal a desenvoltura dos bancos no abuso deste instrumento. Eu mesmo tive que recorrer à Justiça que cancelar uma fraude que acarretou, sem meu consentimento na “renovação automática”de empréstimos anteriores. Indescritível…! Mas, à falta de grandes nomes na defesa do Governo, entram em campo, J.M. Belluzzo , do PMDB, mais sombriamente, Delfim Neto, dois dos melhores economistas do País. Ambos rebatem o argumento da   imperiosidade da integração competitiva no mercado global , mas insistem na necessidade de uma Política Industrial mais sólida. Todo os governistas estão de acordo que a tentativa de criar  “empresas campeãs”, via BNDES, foi insuficiente. Luciano Coutinho, Presidente do BNDES também concorda.

Assim, pois, arma-se o cenário que deverá ilustrar as próximas eleições presidenciais. De um lado, ao qual Aécio  tenderá a se incorporar,  associado ou não à Marina, apesar de nem entender o que está em jogo, haverá um claro discurso de retorno à Era FHC, com maior rigor fiscal, privatizações e abertura industrial. De outro, pontualizará Dilma, em defesa do que o PT já fez , num recurso ao que se denomina argumento de autoridade. Vai insistir: – Podemos fazer mais!”, mas não dirá exatamente como. Eduardo Campos, ainda vacilante, com pouca assessoria na área econômica, vai ziguezaguear, tentando conseguir apoio com descontentes de uma e outra corrente. Contará, entretanto, mais com seu carisma pessoal e juventude, do que com um sólido programa. Nisso Marina, hoje centrada em S.Paulo, com Pedro depois da crucificação, lhe é superior: Tentará erigir sua Igreja com gente de mais peso.

Deus , enfim, não joga dados. Nem os candidatos à Presidência em 2014. Todos estão de olho na economia. Com exceção da Dilma, torcem para que a economia piore um pouco até o fim do ano, de forma a erodir a popularidade da Presidenta e com isso, abrir uma janela de oportunidades para novos tempos.

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TORRES E SEU DESTINO –  01 MAIO 2013

Santo Agostinho deixou-nos, em suas reflexões, a distinção entre a Cidade de Deus e a Cidade dos Homens, entre a morada, por excelência do Espírito e a morada da Carne, onde se cria a carne, sempre sujeita às virtudes e vícios humanos. Nela habitamos. Sonhamos. Pecamos. Por fim,  morremos. Principalmente, a cidade, “onde mora o acontecimento” Nem tanto o Planeta, nem o continente, nem o país. Mas a nossa casa, para onde voltamos sempre.  Das multidões contemporâneas. O nosso lugar. O lugar da “ Rua do Homem como deve ser/ Transeunte, republicano, universal  ; das calçadas, em que se inscrevem os poemas da   “Máquina do Tempo” e da “Terra Devastada” ; e  das   Praças” , nas quais  “a liberdade cria asas em seu calor” É justo, pois,  que pensemos o  destino da nossa cidade, porque é nela que vamos pervagar os olhos e os passos, até o titubeio final.

Uma das inteligências mais brilhantes do século passado, Lewis Mumford, passou toda a sua vida estudando as cidades. Gilberto Freire, sociólogo brasileiro, seu amigo, também homem de grandes luzes, autor do clássico Casa Grande & Senzala ,  reclamava a presença dele na idealização de Nova Capital no interior do país. Dizia que era imprescindível. Não o escutaram.  De qualquer forma, Mumford, se não nos deixou sua marca em Brasília,  deixou-nos livros maravilhosos. Hoje, a temática urbana passou dos filósofos para os urbanistas. Eles procuram soluções: Soluções para o transporte coletivo, soluções para o lixo, soluções para o problema da moradia, soluções…soluções…soluções…Nossa casa está cheia de problemas e eles são chamados a resolvê-los. Mas não pensamos mais na alma das cidades e em como, feitos demiurgos,  à semelhança de Deus,  conseguimos moldá-las. Alguém já disse que a natureza é arte de Deus e a arte a natureza do Homem, porque nós, com nosso engenho e arte, mudamos a natureza das coisas. Depois do Homem, tudo tem seu toque.  As cidades, por exemplo,  há tempos já não são obras do acaso, mesmo do acaso humano que se reunia em feiras nas confluências de rios. Elas são o produto da inteligência de seus concidadãos que lhe imprimem novos destinos. Principalmente quando se trata de cidades pequenas e médias, ainda sujeitas aos seus cinzéis . Hoje se fala crescentemente em Cidades Criativas e Inovadoras, Cidades Inteligentes, Cidades Atacadistas, Cidades Polo, Cidades Desportivas, Cidades Religiosas, Cidades Civitas, que operam apenas como centros de interesse político, como Genebra, na Suiça, e Bruxelas, capital da Bélgica. E há as Cidades de Recreação e Lazer, como Orlando,na Florida e Cancum, no México. Em todas elas, há um rigoroso planejamento visando à sua qualificação para o destino traçado.

E Torres, qual seria sua alma e seu  destino?

Todos concordam que a cidade tem uma vocação natural para o turismo. Sempre foi cantada em prosa, verso e, sobretudo imagens, pela sua paisagem verdadeiramente fantástica. Já nos início da década de 50 o cinema nacional descobria seu forte apelo cenográfico, no qual formações basálticas derramam-se em fjords sobre o imenso oceano deixando lá atrás os contrafortes da Serra Geral. “Paixão por Torres”:Os primeiros veranistas em calhambeques, a corrida dos anos seguintes da emergente burguesia porto-alegrina  rumo à mais bela Praia do Litoral Sul, o boom imobiliário contemporâneo trazido pela Rota do Sol . Momentos importantes de sua história.

Mas faz a alma, sem o devido preparo e esforços  o destino de um talento? E se não o faz nas pessoas, por que o faria com as cidades, que são obras suas? Será que Torres não deveria pensar mais nessas questões…?

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GUIMARÃES ROSA

“Quando escrevo, repito o que já vivi antes.
E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.
Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo
vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser
um crocodilo porque amo os grandes rios,
pois são profundos como a alma de um homem.
Na superfície são muito vivazes e claros,
mas nas profundezas são tranquilos e escuros
como o sofrimento dos homens.”

Então, Guimarães é notícia em destaque?

Por quê…?

Aconteceu alguma coisa? Ganhou o Nobel de Literatura Post Mortem? A patrulha descobriu que ele era racista, homofóbico, ou vice-versa?

Nada disso, apenas Guimarães — eterno — e uma resenha ao léu no Blog do Milton Ribeiro, que não resisti a comentar. Daí a cobrança dele por esta aventura que se segue: falar sobre o maior autor moderno do país. Aquele que ultrapassou o modernismo e o regionalismo para entronizá-los na literatura mundial, com a mesma envergadura de “Cem Anos de Solidão”. Talvez mais original, mais ousada. Advirto o editor: – Não sei nada de literatura, a não ser como leitor. Penso comigo: – Devorei a “Biblioteca Lar Feliz” que minha mãe, professora primária em Santa Maria, guardou com tanto zelo, até morrer. E havia outra coleção: “Terremarear”… Como esquecer esses nomes todos? Mas, curiosamente, lá não havia muitos clássicos. Até hoje não li sequer um livro de Shakespeare. Conheço-o, como diria Machado, de vista e de chapéu. Ainda assim, pra mó de me compreenderem saibam que “ Soletrei, anos e meio, meante cartilha, memória e palmatória.”  No Cícero Barreto e Colégio São Luiz, em Santa Maria, anos 1950/53. E o fiz até cansar, porque era muito fraquinho, não dava pra esportes coletivos, mal brincava na rua. Sempre escutando minha mãe: ” Acho que esse menino não dura, já está no blimbilim”.

Mas Milton me anima: — Trata-se de depoimentos, fã clube!

Levo medo. “Abriu em mim um susto. Mal haja-me!”  Afinal respondo:  :“Do demo? Não gloso. Senhor pergunte aos moradores. Em falso receio, desfalam no nome dele – dizem só : o Que-Diga.”

“Parece até que ficou o feliz, que antes não era…”

Pois assim funciona o Guimarães, pra mim:  Como um desencontro de palavras  que escorre em melodia, como a fala de todo mineiro. Outra lógica.

Decididamente, me retombo como água caindo em cachoeira. E me vou, retórico, vaidoso e despido de vergonhas a caminho da crônica, embebido de diadorices .

Grande Sertáo, Veredas foi o melhor romance que li:  Lhe digo, à puridade.- Pois não sim…?”

A primeira vez na juventude e não consegui entender nada. Nem o título. Sertão, pra mim, ficava no Nordeste do país: “Vidas Secas”, “O Cangaceiro”, “O Pagador de Promessa”. Glauber, “Os Retirantes”. Guimarães não é minero?, perguntei ao Fabinho, um de meus gurus, comunista visceral, com quem repartia o verdadeiro “aparelho” na Demétrio Ribeiro, 1094. Meados da década de 60. Aliás, outro cadáver da ditadura. Homenagem. Ele me disse que sim, mas não explicou mais. Tudo é e não é…” Passei décadas sem voltar ao livro. Mas, perto dos 60 anos, fui morar num ermo de Goiás: Olhos d‘Água. Afinal, um homem nessa idade “ carece de aragem de descanso. Solito e Deus. Cuidando de plantar mandioca, cuidar das galinhas e fazer poesia. Cansado de guerra!

“Sofro pena de contar não….Melhor se arrepare: pois, num chão, e com igual formato de ramos e folhas, não dá a mandioca mansa, que se come comum, e a mandio-brava, que mata?

Lá convivi com muitas gentes oriundas das Gerais, pessoas simples, rudes e sábias. E também com um mineiro, meu senhorio, Betão, de Cordisburgo, cidade de Guimarães, cujo pai havia sido dele colega. Eu lhe ensinei a tomar chimarrão nas madrugadas, ele me devolvia com mineirices.  E susseguinte… sem remediável, ”percebendo a maneira curiosa de toda aquela gente pensar e falar, ocorreu-me voltar ao “Grande Sertáo”. Pois “ponho primazia é na leitura — eu gosto muito de moral — ajudo com meu querer acreditar. De sorte que carece de se escolher. Que no causo, é reler com o jeito, agora, de poder entender. Porque aprendi com aquela gente do Planalto Central, que o excesso de argumentos e a falta de jeito falecem a razão. Que redescoberta! Comecei a entender tudo. Há sertão nas Gerais, um sertão misterioso e encharcado durante as águas, que são abundantes; há uma filosofia popular profunda entre mineiros e goianos (estes, dizem, mineiros fugidos depois de matar alguém…) Hoje, Grande Sertão, é um dos meus livros de cabeceira. Vez por outra roubo-lhe uma expressão. Ou um parágrafo inteiro – aí cito…-. E coisa incrível: Oferecendo-me para ler em grupo com algumas pessoas o livro, aqui em Torres, descobri duas mulheres devotas da obra, uma psicóloga, Angela, a outra professora, Vera. Nem precisou reler o livro com elas. Elas o sabiam melhor do que eu… Coisas deste mundo que ninguém, nem o mais o desinquieto, desentende… “Só um e outro, um em si juntos. O viver em ponto sem parar (consegue). Coração-mente. Pensamento. Avançam parados dentro da luz.

Parece que aqui, mesmo com o mar a tiracolo, com a Serra Geral subindo ao longe, também tem sertão…Pois ele está é dentro da alma de cada um de nós.

Publicado em EscritoresLiteraturaOs 50 maiores livros (uma antologia pessoal)Resenhas | Marcado com Comentar

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A REPÚBLICA SANGRA

“Queremos livros que nos afetem como um desastre. Um livro deve ser como um machado diante de um mar congelado em nós.”

Franz Kafka

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Tomo o título de um comentário de M.Aurélio Nogueira, num comentário sobre a atual conjuntura , feito no FaceBook.
A tensão entre os Poderes Judiciário e Legislativo não chegou ontem, com a aprovação, pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, de Emenda – PEC – introduzindo restrições do Legislativo sobre o Supremo Tribunal Federal. Ela percorreu todo o processo dito “Mensalão”, chegou à gravidade no final do ano passado, quando o então Presidente da Câmara ofereceu apoio e “refúgio” a deputados eventualmente condenados naquele processo e, agora, chega ao paroxismo com exaltações de todos os lados. Tomara que não chegue às vias de fato, com sopapos e bofetões visíveis no ar, nos noticiários da noite. Isto seria fatal para nossa ainda jovem democracia. Afinal, ela nasceu mesmo com a Constituição de 88. Não chegou sequer `a beleza dos 35, hoje cantada pelo escritor gaúcho F. Carpinejar em bela crônica inspirada na bela Carla Bruni DEPOIS DOS 35 ANOS Fabrício Carpinejar “A cantora e ex-primeira dama da França, Carla Bruni, falou em entrevista para a revista Veja algo que acredito muito. Que depois dos 35 anos, a beleza é resultado da simpatia, da elegância, do pensamento, não mais do corpo e dos traços físicos. A beleza se torna um estado de espírito, um brilho nos olhos, o temperamento. A sensualidade vai decorrer mais da sensibilidade do que da aparência. Uma mulher chata pode ser bonita antes dos 35 anos. Uma mulher burra pode ser bonita antes dos 35 anos. Uma mulher egoísta pode ser bonita antes dos 35 anos.
Uma mulher deprimida pode ser bonita antes dos 35 anos. Uma mulher desagradável pode ser bonita antes dos 35 anos. Uma mulher oportunista pode ser bonita antes dos 35 anos. Uma mulher covarde pode ser bonita antes dos 35. Depois, não mais, depois acabou a facilidade. Depois o que ilumina a pele é se ela é amada ou não, se ela ama ou não, se ela é educada ou não, se ela sabe falar ou não. Depois dos 35 anos, a beleza vem do caráter. Do jeito como os problemas são enfrentados, da alegria de acordar e da leveza ao dormir. Depois dos 35 anos, o sexo é o botox que funciona, a amizade é o creme que tira as rugas, o afeto é o protetor solar que protege o rosto. A beleza passa a ser linguagem, bom humor. A beleza passa a ser inteligência, gentileza. Depois dos 35 anos, só a felicidade rejuvenesce.”
Nossa democracia, enfim, é pouco mais do que uma adolescente e já enfrentou desafios dignos de mulher madura: O impeachment de Collor, em 92, a República de Juiz de Fora, sob o comando de Itamar Franco, a vaidade de FHC, que contrariando muitos entendidos, não chegou a salvar seu Governo, apesar do grande feito do Plano Real, que na verdade, lhe foi anterior, a eleição, posse e governo (como dizia Carlos Lacerda, duvidando de JK, nos idos de 55) de um operário do PT, e a eleição, posse e …difícil governo de uma mulher guerrilheira, e uma problematica Comissão da Verdade. Êta mulher…!!! É verdade que todo o processo de construção da democracia no Brasil foi “devidamente” calculado. Jamais saiu dos eixos. Começou com a “ Lenta, Segura e Gradual distensão do Presidente General Ernesto Geisel , sob o crivo do bruxo Golbery do Couto e Silva. Culminou aquela fase, depois de cinco longos anos, nos quais não faltaram mortos sob tortura, com a Anistia controlada de 1979 e uma rigorosa reorganização partidária que acabou ferindo mortalmente Leonel Brizola. Tiraram-lhe o PTB e obrigaram-nos a começar quase do zero. Pagou caro. Talvez com a Presidência, cargo para o qual, até o final de 80 era o mais viável, dentre os quadros da esquerda. Depois de Geisel, para consolidar a obra, sobreveio um velho e cansado General de Informações, mais afeito às estrebarias do que às praças públicas. Ficou longos seis anos. Nem ele agüentava mais: “Me esqueçam”, foram suas palavras ao sair do Palácio do Planalto. Como isso durou tanto? Onze anos…? Nem eu sei. Só sei que ele – Figueiredo, entrou em 79 , arrastou-se em meio à segunda Crise do Petróleo durante aquele ano e mais os anos 80, 81 e 82 e acabou enfrentando galhardamente a posse de Governadores de Oposição pelo país inteiro. Aí “encarou” os comícios das Diretas Já e, com certo enfado, tratou de sepultar a Emenda Dante de Oliveira que as consagrariam ao final de seu mandato, no dia 25 de abril de 1984. Com direito a colocar o General Newton Cruz, do SNI nas ruas de Brasília dando porrada a torto e a direito nos manifestantes. Então sobreveio, o fator alfa: Maluf que viria complicar um pouco os cálculos do “ancien regime”. Ele comprou o colégio eleitoral da ARENA (Partido do Sim, Senhor General) que deveria manter o esquema por mais vinte anos e abortou a eleição indireta pelo PMDB de Tancredo Neves , cuja posse deveria ocorrer em 1985.
Aí o fatídico : Morre Tancredo e assume Sarney, dissidente do regime militar, sob cujo comando terá continuidade a transição, que deveria culminar na eleição direta para Presidente imediatamente, mas que acabou se arrastando até 1989. Cinco anos de Sarney ( 85-86-87 – 88 -89 ) graças à bondade da Constituinte em lhe dar um ano a mais do que o inicialmente previsto. Bom… Nem vou continuar recontando datas. O que desejo, apenas, é mostrar que nosso processo de transição não foi apenas longo. Foi penoso. E extremamente excludente. Ele conseguiu liquidar ao longo desse tempo as grandes lideranças do passado, consolidando um dos objetivos do Golpe de 64: Romper com o passado. Só não conseguiu romper, logicamente, com as conquistas daquele passado, que se incorporaram como feitos civilizatórios na Sociedade e no Estado brasileiros: a regulação do trabalho e do capital, as grandes estatais que operaram como suporte da industrialização, a vontade do Brasil em se modernizar.
Digo isto para reiterar uma coisa óbvia: Não houve uma ruptura no processo de redemocratização do Brasil. Saímos de uma institucionalidade precária, da Constituição militar de 1967 e ingressa no regime Constituinte de 88 sem muitos traumas. Até a Constituinte de 46 havia sido conseqüência de uma ruptura, com a derrubada de Vargas em 1945, além do grande impacto da vitória aliada na II Guerra. A Constituinte de 87/88 teve imensa participação de movimentos sociais, muitos debates internos e grande efervescência política, mas não foi fruto de uma grande vitória popular anterior. Essa, aliás, a nossa diferença com outros processos de abertura no Continente. E nossa crucial diferença, por exemplo, com a Revolução dos Cravos, em Portugal, que soterrou a ditadura salazarista. Aqui, vivenciamos um processo peculiar quase insólito, tipo das Coréias, em 1953: Chegou-se a um armistício de paz não formal, em que os antigos dirigentes recuaram do Poder, sem admitir qualquer culpa, e os “novos” foram ocupando o terreno, meio sem-cerimônia, açodados até pela perspectiva de ocupada da “máquina governamental”. Rigorosamente, até hoje não existe uma análise clara sobre como acabou a ditadura no Brasil. Ela sumiu, enquanto proscênio. Mas seus gerentes continuaram onde sempre estiveram: No Poder…Eles estão no Estado. Na Grande Imprensa. Nos órgãos de classe patronal. Nas Forças Armadas. E sempre que existe uma possibilidade de ruptura maior, a esquerda, seja ela qual for, recua, porque sabe que não tem como enfrentar as adversidades. A esquerda, no Brasil, ficou “hábil”. Hábil em contornar o “Mercado”, como fez Lula na famosa Proclamação que resultaria na manutenção de Henrique Meirelles no Banco Central. Hábil em recuar diante da questão da democratização da Mídia. Hábil em lidar com Chavez e Cristina Kirchner. Hábil até em promover o Brasil como um oásis de prosperidade num mundo em crise. A esquerda brasileira, entretanto, só não foi hábil em manter sua unidade interna. Preferiu, no Poder, ceder à tentação da governabilidade através do “caro”, aqui no seu pior sentido, conceito de Base Aliada. Com isso, vem despedaçando-se aos poucos, não sem proclamar, sempre, o seu direito à verdade como representante de uma Política Econômica e Social avançada em benefício dos mais pobres. Brizola nunca embarcou de bom grado nesta canoa. Engoliu, indigestamente, o “Sapo Barbudo” no segundo turno de 89 e em 94. Desconfiado, afastou-se, até vir a falecer em 2004. O que sobrou do PDT, nas mãos dos dirigentes atuais, nada tem a ver com Brizola, como o PTB de Jefferson nada tem a ver com Vargas e Goulart. Roberto Freire, herdeiro do PCB, perdeu-se no meio do caminho. Heloísa Helena e Marina caíram fora, junto
com outros grandes nomes do PT. Agora chegou a vez da turma do Arraes, com a defecção do seu neto, Governador de Pernambuco, virtual candidato do PSB à Presidência. Só falta, mesmo, agora, uma grande ruptura, de maior vulto , dentro do próprio PT, tal como já se cogita entre dentes, no sul do país… Todo este processo político de consolidação da democracia no Brasil está em jogo na crise atual entre Legislativo e Judiciário. Tanto um como outro destes Poderes são estruturantes do Estado brasileiro. E reforçam sua natureza. O Judiciário, certamente, é mais conservador e republicano, no sentido da valorização da coisa pública. O Legislativo, mais progressistas e democrático, no sentido de atender à demandas populares. O Judiciário, porém, é mais estável e, consequentemente, mais estabilizador do que o Legislativo. A irritação entre esses dois Poderes, aos quais o Executivo olha de camarote, é , portanto, extremamente perigosa à democracia e deve ser cuidadosamente analisada, pois pode acarretar uma grave crise institucional. Lembro, aqui, a propósito , o famoso discurso de Márcio Moreira Alves, na Câmara, em 1968, preâmbulo do AI-5. Mais além de interesses Partidários em jogo na atual crise – e muito menos pessoais -, creio que se deve sopesar melhor as forças reais que atual sobre a conjuntura de forma a evitar atropelos. O medo não deve jamais ser conselheiro nestas horas, mas a prudência, se sabe, é o olho das virtudes e que, se não garante o melhor, evita também o pior. A quem interessa na verdade, colocar lenha na fogueira da crise entre o Judiciário e o Legislativo? Será à democracia brasileira, mesmo!? Leio, por acaso esta passagem, que me parece singular, de Josias Teófico, sobre arte, Publicado na Revista Continente e noSul21 em 20 de outubro de 2012, para ilustrar o que é o Judiciário , como ícone, e o Legislativo como ídolo: No livro O ícone – Uma escola do olhar, Jean-Yves Leloup faz uma distinção entre ídolo e ícone. O primeiro seria qualquer forma de representação religiosa que prende o olhar em si mesmo, pelas formas, cores ou movimentos que chamam a atenção, provocando emoções. O ícone, ao contrário, não tem movimento nem profundidade, as cores e formas obedecem a padrões tradicionais. Nele, a transcendência é o fator essencial, a intenção é mostrar o “Invisível no visível, Presença na aparência”
Recorro à anotação sobre Arte porque a Política tem mais a ver com ela como praxis do que com as ditas Ciências, embora guiada remotamente pelo logos. A esquerda, entretanto, não raramente inverte esta equação. Para os velhos comunistas, a razão histórica da proclamação do socialismo como etapa superior do capitalismo estará , sempre, na vanguarda de sua práxis. O imperativo democrático, no sentido das aspirações populares, é sempre mais importante do que as instituições. Daí seu desprezo, embora sempre oportunamente aproveitados, pelas instituições republicanas, dentre as quais o Judiciário é das mais sólidas.
Todo cuidado, nesta hora, é, portanto pouco… As simplificações abundam na ordem do senso comum com ares de senso crítico, atropelando o bom senso…
BOLETINS DE NOTICIAS
Efeitos colaterais

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 O TREM DE MINAS

O dia 21 de abril é da Inconfidência Mineira. Mas é Minas que me vem à cabeça.

Minas, dizia Fernando Sabino, é  um estado de espírito. Um espi’ito, como eles dizem, contrito, sábio, que emerge de qualquer conversinha de pé de ouvido na cozinha, o lugar mais importante da casa, ou em voz baixa na saída de igreja, ou mesmo em tom severo na mesa de botequim , ganha os contornos das montanhas e pervaga altaneiro por sobre todas as regiões do Estado: no ferro, no barro, no Triângulo e em Juiz de Fora. Sim, porque esta é uma espécie de cidade-Estado, destacando-se da paisagem  na direção do Rio de Janeiro:

“Em Minas, o juiz é de fora, os montes são claros, o horizonte é belo, o pouso é alegre, a flor é viçosa, o repouso é bom, a cachoeira é dourada, o córrego é novo, as lagoas são sete, o rio é manso, o mar é de espanha, a espera é feliz, os corações são três, os poços são de caldas, a ponte é nova, as dores são de indaia, e o ouro é preto ou branco, o… E o corac~ao das montanhesas pinga mel…”

( Amanda Pompeu e Stenio Ribeiro de Souza)

Um tal estado de espírito que uma frase simples como “Quem transporta,  leva”, ganha “Importância” , como na numa crônica despretensiosa  de Elza Beatriz de Araujo, com este título . Ou a definição inteligente de saudade, de uma anônima prostituta do Bel’ Zonte: “Quem inventou a distância não conhecia a saudade”… Ou na simples conversinha mineira:

– É bom mesmo o cafezinho daqui, meu amigo?

-Sei dizer não senhor: Não tomo café, responde o dono da LEITERIA.

-Você é dono do café , não sabe dizer?

-Ninguém tem reclamado dele não senhor.

-Então me dá café com leite, pão e manteiga.

-Café com leite, só se for sem leite…

(Fernando Sabino -Conversinha mineira)

Um espírito sutil, guardado em cristaleiras do tempo antigo ao lado de vidros bem fechados cheios doces de todo o tipo, cujos nomes e receitas Pedro Nava, um dos seus maiores memorialistas, que bem sabia, no gênero, combinar a objetividade dos registros históricos com a  ficção,  imortalizou em “Baú de Ossos”:

E que doces… Os de coco e todas as variedades, como a cocada preta e a cocada branca, a cocada ralada ou em fita, a açucarada no tacho, a seca ao sol. Baba-de-moça, quindim, pudim de coco. Compota de goiaba branca ou vermelha, como orelhas em calda. De pêssego maduro ou verde cujo caroço era como um espadarte no céu-da-boca. De abacaxi, cor de ouro; de figo, cor de musgo; de banana, cor de granada; de laranja, de cidra, de jaca, de ameixa, de marmelo, de manga, de cajá-mirim, jenipapo, turanja. De carambola, derramando estrelas nos pratos. De mamão maduro, de mamão verde – cortado em tiras ou passado na raspa. Tudo isto podia apresentar-se cristalizado – seco por fora, macio por dentro e tendo um núcleo de açúcar quase líquido.

Mais. Abóbora, batata roxa, batata doce em pasta vidrada ou pasta seca. Calda grossa de jamelão, amora, framboesa, araçá, abricó, pequiá, jaboticaba. Canjica de milho-verde tremendo como seio de moça e geléia de mocotó rebolando como bunda de negra. Mocotó batido, em espuma que se solidifica – para comer frio. Pamonha na palha – para comer quente, queimando os dedos. Melado. Tudo isto variando de casa para casa, segundo os segredos de suas donas e as invenções de suas negras – se desdobrando em outros pratos, se multiplicando em novos. Dos aristocráticos, com receitas pedindo logo de saída trinta e seis gemas, aos populares, como o cuscuz (só fubá, só açúcar, só vapor d’água e tempo certo) e como a “plasta” de São João del Rei (só fubá, só rapadura, só amendoim e ponto exato) – que tem esse nome pelo seu aspecto de bosta de boi, do emplastro que forma no tabuleiro quando cai da colher de pau

 

Milton Nascimento, porém, preferiria dizer: – Minas é  pura emoção, pôxa! E desfiaria em canto andrógeno esta rede de sentimentos, imagens, sons:

Os Tambores De Minas

Milton Nascimento

Era um, era dois, era cem
Mil tambores e as vozes do além
Morro velho, senzala, casa cheia
Repinica, rebate, revolteia
E trovão no céu é candeia
Era bumbo, era surdo e era caixa
Meia-volta e mais volta e meia
Pocotó, trem de ferro e uma luz
Procissão, chão de flores e Jesus
Bate forte até sangrar a mão
E batendo pelos que se foram
Ou batendo pelos que voltaram
Os tambores de Minas soarão
Seus tambores nunca se calaram
Era couro batendo e era lata
Era um sino com a nota exata
Pé no chão e as cadeiras da mulata
E o futuro nas mãos do menino
Batucando por fé e destino
Bate roupa em riacho a lavadeira
Ritmando de qualquer maneira
E por fim o tambor da musculatura
O tum-tum ancestral do coração
Quando chega a febre ninguém segura
Bate forte até sangrar a mão
Os tambores de Minas soarão
Seus tambores nunca se calaram
Os tambores de Minas soarão
Seus tambores nunca se calaram
Seus tambores..

Já Guimarães Rosa, pela boca de Riobaldo acrescentaria: É aquele lugar em que , de repente, a alegria acontece, distraída, com o poder de um relâmpago,  numa roda de amigos. Alegria lá é assim mesmo, só entre amigos, nunca na vitrine como mercadoria para turista. E amizade , também não é mercadoria que se compra e se vende. É um tecido  cujo fio foi plantado em roça de gente conhecida, fiado e tecido em teares artesanais fartos  na região, mas invisíveis ao passante , tudo levado à medida certa pro terno de domingo. Pois que amizade  é como ouro em pó, como o próprio segredo da terra, como o silêncio das entrelinhas. Mesmo assim a a alegria é sempre  discreta, regada pela prudência , envolta pelos riscos da delação. Sim, porque tudo em Minas é silêncio que grita. Clamor que sufoca, resquício da Grande Conspiração.

Difícil será entreter esse homem discreto e confiante, tirá-lo dos trilhos ou comprá-lo com meia dúzia de sorrisos e promessas.(…) Coisa terrível isso de um homem que transporta o seu segredo e sabe que se o colocasse em qualquer mão, ela arderia como a carne em brasa.Nada mais compacto e escorregadio que um homem e seu segredo.

(Affonso Romano de Sant’Anna – Um homem e seu segredo, Contos Mineiros, Atica, 1984)

Para mim,   Minas é a Esquina mítica  em que todo o brasileiro se sente em casa. Talvez porque foi lá que o Brasil começou, no século XVIII,  a ser realmente o que o país viria-a-ser. E em o sendo, desceu a Estrada Real, atravessou o Atlântico  e se globalizou precocemente. Deveria ter sido capital do país, porque foi sempre seu norte. Assim o quiseram,desde cedo, os que defenderam a transferência da capital para o interior e por essa tese pugnou Juscelino Kubitscheck na liderança da bancada do seu Estado na Constituinte de 46. O Relatório Lucas Lopes pretendia fincar a Nova Capital no Triângulo sob a tese de que, lá, já havia uma região à espera de uma cidade. Era mais sensato. E original, pois foi em Minas que  começamos a germinar brasilidade com determinação, quando “brasileiro” era ainda denominação pejorativa. Naquela época, poucas cidades do mundo  tinham o esplendor de Ouro Preto, a riqueza de sua arte sacra, a rima de sua lira que ecoaria por quilômetros de serenatas. Isso deu ao mineiro um toque cosmopolita, que jamais se confundiria com o  revestimento mundano do bovarismo. O mineiro vai a passos roucos de bico fino rumo à Máquina do Mundo:

E como eu palmilhasse vagamente uma estrada de Minas, pedregosa, e no fecho da tarde um sino rouco

se misturasse ao som de meus sapatos que era pausado e seco; e aves pairassem no céu de chumbo, e suas formas pretas

lentamente se fossem diluindo na escuridão maior, vinda dos montes e de meu próprio ser desenganado,

a máquina do mundo se entreabriu para quem de a romper já se esquivava e só de o ter pensado se carpia.

( Carlos Drummond de Andrade – A máquina do mundo)

Foi assim com a geração de Drummond , Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino , Pedro Nava, o próprio Guimarães e vários outros , na terceira década do século passado, quando seguiram os rastros de Gustavo Capanema na direção do Rio de Janeiro de Getúlio Vargas. Eles carregavam  consigo os fantasmas das Gerais, que remodelariam a linguagem nacional , seu verso e seu verbo:

Gonésio e Mariazita a meios olhos perante o refulgir por todo o branco. Acontecia o não fato, o não tempo. Silêncio e sua imaginação. Só um e outro, uma em si juntos. O viver em ponto sem parar. Coração-mente. Pensamento. Avançam parados dentro da luz. Com se fosse no dia de todos os pássaros…

 Este viver-em-ponto de que fala Guimarães é a essência de Minas.  Ponto  do doce, ponto de dizer a coisa guardada no peito, ponto  de entrar em cena e dizer, mesmo sem dizer, que quer comprar aquela curraleira; ponto de dizer “nunca mais” à inconveniência.

O silêncio,

                                                   Língua que melhor falo.

((Anderson Braga Horta, poeta – Fragmentos da Paixão)

 Lá, ninguém vive em ilusão, como na Bahia, que celebra a cada dia a cerimônia pânica de sua confusão em acordes de Axé. Nada disso! A menos, claro, que a ilusão seja a própria vivença… O que é possível. Mas só vendo. Mineiro tem que ver para crer. E mesmo vendo, gosta de comprovar pelo testemunho de alguém da sua confiança. Aí é diferente. Diz ele, ainda que desconfiado: “Nesse mundão de Deus, tudo pode acontecer”. Está aí Chica de Silva, para comprová-lo. Bela negra escrava convertida em dama da corte pelo destemor de seu amante.  E houve vários casos de escravos auto-alforriados pelo ouro que escondiam nas carapinhas e que os tornava ricos.  Estas sombras miraculosas e inacreditáveis encarnam na gente e nos acompanham, como o passado, pelo resto da vida. Porque em Minas, o tempo parou no  instante  em que uma ave negra riscou os céus e pousou agourenta num telhado de Ouro Preto marcando a decadência da mineração.  Tudo é memorialismo no qual fatos se  misturam com a ficção:  As velhas cidades com seus casarões escorados, suas sacro-santas igrejas ,  os doze apóstolos atestando a presença de Aleijadinho ,  os passos do Padre Toledo em Tiradentes, a Inconfidência, JK,  a agonia de Tancredo Neves.

Ao regressar ao Rio, sentimos que alguma coisa nos acompanha: alguma coisa feita de ar e imaginação, que não é propriamente um fantasma, mas o espírito de Minas a impregnar-nos de passado e de eternidade.

( Fernando Sabino – Fantasmas de Minas )

Mas se o mineiro finca pé em casa, como os grandes músicos da atual geração, desde Milton Nascimento, passando pelas Bandas Skank, J.Quest, Renegado e também outros,  surpreende pela capacidade de se projetar a partir de si mesmos, livre dos artifícios do Eixo Rio-S.Paulo.  Serão sempre identificados como “mineiros”, diferentemente do  que acontece em outras regiões do Brasil, nas quais artistas e intelectuais são obrigados a migrar  para o centro do país em busca da realização profissional, dissolvendo-se neste processo.   Quando exitosos, tantos foram anos  fora das raízes que já pouco se identificam com suas origens.  Gonzagão é uma exceção. Foi para o Sul e voltou mais nordestino do que quando saiu.  Incorporou o baião sincopado na  farta musicalidade nacional. Mesmo assim, fixou-se no eixo Rio-S.Paulo, como fizeram Fafá de Belém, os Novos Baianos durante décadas e tantos outros.  Quem diria, por exemplo, que  Elis Regina era gaúcha…? Duvido que sua filha saiba o que significa “Alto da Bronze”, onde a  Pimentinha – et pour cause! –  nasceu e morava, em Porto Alegre, ao  lado da minha casa, título de uma de suas primeiras músicas.

Minas, enfim, é sempre grandeza, mas uma grandeza misteriosa,  escondida entre sacristias  e desvãos de montanhas vastas. Donos de Bancos lá, dizia-se,  guardavam dinheiro debaixo do colchão.   Coisa  difícil de compreender para quem nunca a visitou…Aliás, Você já foi à Minas? Então vá…!

        

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De novo, sobem os juros

O anúncio, ontem, da elevação da taxa básica de juros, a SELIC, pelo COPOM não tomou ninguém de surpresa eis que  já vinha sendo propalada com o vigor de um “imperativo categórico” kantiano. Os jornais divulgam a decisão do Comitê de Política Monetária (COPOM) com sorriso nos lábios enquanto os comentaristas de TV , todos analfabetos em Economia e que deveriam ser proibidos pelo Conselho de Economia de dar verdadeira consultorias sobre a matéria, apesar de  sábios  em informações de cocheira e fórmulas salvadoras,   em uníssino,  se deliciam:“O Governo, enfim, reconheceu que a inflação está fora de controle e que estava mais do que na hora de elevar os juros” …

Ora…ora…!

Deveriam estudar, além de Economia,  um pouco mais de Epistemologia das Ciências e conhecer as profundas mudanças de paradigmas que vêem ocorrendo nas últimas décadas. Se na virada do século XIX para o XX havia um consenso sobre ter-se chegado à verdadeira natureza das coisas e suas leis, com a ingênua esperança de que a razão imperaria triunfante como senhora do Paz e do Progresso, o século XX  revelou-se um coveiro das certezas absolutas. Elas se transformariam, no Brasil, no apanágio de mulheres sem instrução nos programas de rádio e televisão, como “Ofélia” e “Magda”, com o devido respeito a todas as que porventura também assim se chamem, que diante de barbaridades proclamavam soberanas:

– “Eu tenho cerrrrtezzzzza que é assim….

Aqui no Brasil, entretanto, todo mundo que é chamado a fazer comentários sobre a conjuntura econômica fala com absoluta convicção na correlação entre juros e inflação. Santa Ignorância…Oxalá assim fosse! Pior, a opinião pública, inevitavelmente influenciada pelos meios de comunicação acaba influenciada.

Antes de mais nada, só não tem dúvida quem não lê. “Mundo sem informação, mundo às escuras”, já proclamava Baltazar Gracián no radiante século XVII , na cintilante Espanha, o Reino onde o Sol nunca se punha.

Segundo, não só porque o conhecimento se expandiu consideravelmente no século passado, mas também porque a Ciência, no campo das exatas ou das humanas, saiu do laboratório para a realização em processo, evidenciando falhas e lacunas.

A emergência da dúvida ao longo do século não foi fácil. Custou vidas, recursos, muita inteligência e experiências frustradas.

Hoje os cientistas navegam com mais cuidados sobre suas verdades, tomando-as sempre como provisórias, sujeitas às dimensões conhecidas e certas condições de temperatura e pressão.

Na Economia não foi diferente. Até porque  é função, além da alma humana,  de organizações institucionais e culturais distintas. Vale dizer, precisamente, as condições de temperatura e pressão acima citadas e tão ao gosto dos engenheiros, que influenciam os agentes em sociedades extremamente complexas. Juros, por exemplo, constituem a remuneração, numa sociedade de classes, com passado colonial , como Brasil, de segmentos sociais detentores de vastas  propriedades, grandes negócios  e de somas consideráveis na forma de capital dinheiro. Dir-se-á – e é verdade – que hoje existem também no mercado financeiro vultosos fundos de pensão que resultam de poupança dos trabalhadores mais organizados com vistas à complementação de suas aposentadorias no futuro, inclusive o FGTS. Mas tais fundos, além de estrita supervisão governamental – e que deveria, até ser mais rigorosa – são apenas uma fração pequena do bolo total de recursos envolvidos neste mercado. Além de que são eles engordados por capitais externos especulativos que só entram no baile se a ciranda lhes proporcionar frutos bons e rápidos. No fundo, são sempre os fundos sociais que acabam perdendo porque ou quebram ao longo do tempo precisamente pela incapacidade  moral e legal de concorrer num mercado facínora com os canibais privados, ou qubarracasebram suas respectivas empresas. Pergunte-se ao pessoal da VARIG o que aconteceu com o seu Fundo. Nos Estados Unidos, então, a Crise de 2008 acabou com muitos deles e deixou os velhinhos vivendo em barracas doadas pelo Governo vivendo de doações públicas. Volto aos juros se referem a uma mercadoria muito especial, o dinheiro, do qual são destilados. É natural, portanto, que os detentores de fundos de aplicação pugnem por uma remuneração melhor para suas “poupanças”, mas o que não é correto é transformar essa dimensão da  “luta de classes” em mandamento da verdade. Veja-se como um analista independente hoje situa a questão:

A terceira reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central (BC) realizada esse ano acabou por cumprir o ritual que dele esperavam os mais ativos representantes da banca privada. As semanas que antecederam esse peculiar encontro dos integrantes da diretoria do BC foram marcadas por uma sucessão de lances visando a quebrar a resistência do núcleo central do governo. E, no final das contas, esses grupos formadores de opinião do mercado financeiro acabaram sendo vitoriosos. Ao que tudo indica, o “lobby” articulado – principalmente com o apoio dos grandes órgãos de comunicação – conseguiu emplacar mais uma vez a tese do catastrofismo. “Ou o governo endurece com firmeza a política monetária imediatamente, ou abre-se o caminho para o retorno do fantasma incontrolável da inflação elevada”. Bingo! A taxa oficial de juros, a SELIC, acabou sendo aumentada em 0,25%, passando ao patamar de 7,5% ao ano.

Mas o problema não é que os poucos brasileiros  detentores de capitais, regiamente articulados à grandes instituições financeiras, tentem ganhar mais e que o façam em nome da Ciência, usando e abusando dos meios de comunicação conservadores, que também controlam. Digo poucos, porque não são nem 1% dos brasileiros, calculando-se que , em verdade, não passem de 100 mil pessoas, num universo de 200 milhões.  O pior é que este aumento da taxa de juros nem só irá derrubar a suposta avalanche inflacionária, de resto sazonal e concentrada em produtos agrícolas, senão em preços administrados de serviços públicos indexados, como agravará sobremaneira a dívida pública. O que é a dívida publica? Uma colocação de papeis impressos com o timbre da Republica como emissor, como se fosse um pré-datado, vendido no mercado financeiro a uma certa taxa de juros, quase sempre, aliás, mais alta do que a SELIC , taxa básica. Então, quando os juros aumentam, eleva-se a dívida e os gastos futuros com o pagamento de juros. Com eles, a União gasta quase metade do que arrecada em Impostos. O Brasil, pois, não é o PAIS DOS IMPOSTOS, como querem fazer crer os empresários de Sáo Paulo que nos fustigam com o IMPOSTÔMETRO todos os dias. O Brasil é o pais dos juros da dívida pública, agora aumentados. Viva o Brasil! Com isso vai voltar às manchetes do mundo como um país admirável…

…é importante ressaltar que, apesar da Taxa Selic estar em 7,5% ao ano, o custo médio da dívida interna federal está em um patamar bem maior, de 11,87% ao ano, conforme o último dado divulgado pelo Tesouro Nacional (Quadro 4.1). Isto porque a maior parte dos títulos da dívida não está mais indexada à Selic, mas a outras taxas bem maiores.

Uma pena, enfim, e que deve tirar o sono da Presidente Dilma nos próximos dias. Ela até tentou…Mas o recuo do COPOM de ontem evidencia que ela está enfraquecendo…Perde não só ela, o Governo do PT. Perde o Brasil, perdem os brasileiros…

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A VOZ 

A voz humana, mesmo um sussuro,emerge de qualquer ruído, quando diz a verdade.

Anonimo

Hoje, 16 de abril:  Dia Mundial da Voz. Não  sei eu  porque …  o saiba… É que tenho um hábito de verificar, todos os dias o que aconteceu, na data, no passado e a que se refere no presente. Coisa boba. Como quase tudo que a gente faz na vida. Principalmente depois de aposentado quando a vida se desenrola mais como reminiscências do que com projetos para o futuro. Aliás, só hoje entendo o epitáfio do meu avô, Afonso Pereira, com quem convivi em Santa Maria/RS,  até sua morte, no ano trágico de 1954:

“A insônia dos velhos é um manancial inesgotável de recordações…”

Diria, pois o poeta: Assim me vou, coalhado de memórias, retórico e despido, Nec temu, Nec spe ( sem esperanca nem termor) a caminho de mim…Rumo à crônica do dia. E amanhã? Ora, amanhã … “há de ser outro dia”. Irei novamente ao Dr. Google, o consultarei e, religiosamente, voltarei às minhas letras…

Nunca pensei muito sobre “a voz”. Bastou-me, por muito tempo,  com apreciá-la nas canções de Franck Sinatra  – “The Voice” ou Elis Regina, ambos inigualáveis. Duas outras lembranças  vocais me vem à tona, como ondas  prazerosas: A voz de um grande amigo, recentemente falecido, companheiro dos idos de 60 na política estudantil na Filosofia da UFRGS  , quando pontificava com seu tamanho gigantesco e vozeirão tonitruante nas reuniões do Centro Acadêmico F. Delano Roosevelt: Carlos Augusto de Campos Velho, o “Pingo”, como seria mais conhecido ao longo de sua trajetória no teatro e na promoção cultural. E aquela voz insinuante de mulher, cujo nome esqueci, mas evocativamente  irresistível, no Aeroporto do Rio Janeiro:

“- Senhores Passageiro, dentro de poucos minutos será feito o embarque do Voo 138 da Varig com destino à Brasília. Queiram se dirigir ao balcão de embarque com seus documentos e passagem em mãos…”

Ah…Que saudade do século XX, como diria Ruy Castro.

Além destas evocações da voz como algo concreto, a única lembrança mais metafísica que ela me sugeria era a velha máxima de que “Vox populi, Vox dei”. Meu pai a vivia repetindo e sentenciava, solene: Deus fala pela voz do povo. Parece que gostava da expressão. Aprendi com ele e, não raro, a assacava, sempre a meu favor, contra algo que me contrariava. No fundo, acreditava que a voz do povo era realmente um denominador comum do bom senso. Cedo ou tarde se imporia contra as arbitrariedades de Governos – daqui e d’alhures. Do mesmo tipo que aquela outra preciosidade: A justiça tarde mas sempre vence.

O tempo, porém, implacável demolidor das verdades, me aconselharia outras interpretações.

Aprendi, em primeiro lugar, que o bom senso nem sempre é o melhor “senso” das coisas. Acho que foi com Gramsci. Ele é quando muito, uma ponte suspensa entre o senso comum e  senso crítico, dois lugares tão distantes quanto o céu e o inferno, embora com portas de entrada muito próximas. Sobre o senso comum repousa a estabilidade do mundo, como uma espécie de corpo sólido e resistente. Ele é apanágio das multidões, que o cultivam, a partir de hábitos consagrados e convenções sociais e se expressa pela infinidade de provérbios que povoam todas as línguas: “O olhar do dono é que engorda o porco”. O senso crítico é o oposto, uma reflexo da alma imoral e poética eternamente insatisfeita. Ele é o tesouro das elites, desde sempre, que têm a capacidade de se espantar com realidade palpável e ousando sabê-la por outros caminhos. Pelo avesso do avesso do avesso… Claro que, isso posto, têm a responsabilidade de reconstruir idealmente o mundo para que ele não soçobre em frangalhos. É a tal da responsabilidade intelectual que está sempre a reclamar a possibilidade de um mundo novo. Estão sempre ironizando a sabedoria popular: – Cachorro que ladra não morde.Às vezes…Millor Fernandes, no Brasil foi o grande mestre da arte.

Do meu aprendizado sobre a voz como consciência, acabei , então concluindo pelo seguinte esquema:

Senso comum:

Povão – Conservador –  Ninho de Ortodoxos e crentes (em Deus ou na Ideologia de turno)

Bom senso:

Profissionais – Técnicos – Empresarios –  Morada  de Heterodoxos, agnósticos

Senso crítico

Poetas, Loucos, Crianças e Filósofos e Artistas – Reino Encantado dos Paradoxos – Reduto de holistas, budistas, ateus e rebeldes de todos os tempos etc–

Quando achava que já sabia tudo sobre as implicações da voz com a consciência, ocorreu-me um fato inusitado.

Morava eu isolado no interior de Goiás, preocupado com os gambás que se haviam instalado no forro da minha casa, quando numa tarde quente e ensolarada recebo a visita de um amigo, Newton Rossi, poeta de  alma e trova, mineiro de Ouro Fino, figura célebre em Brasília por ter sido durante muitas décadas Presidente da Federação do Comércio. Trazia-me ele, para conhecimento, um oriental de magreza preocupante, mas de olhos vivos e gestos precisos: Dr. Jonk Suk Yum, criador de um movimento denominado Unibiótica.

Dr. Jonk Suk Yum, médico coreano radicado no Brasil, desde 1976, fundou a Unibiótica que teve sua origem no estudo de cerca de 8.000 volumes de medicina, tanto oriental como ocidental compreendendo 18 grandes métodos de tratamento e 362 técnicas de cura.

Neste blog você encontrará uma grande parte da teoria escrita pelo Dr.Yum, bem como a descrição de tratamentos, exercícios, entre outras coisas que se vinculam diretamente com a Unibiótica.

Essa ciência trás resultados surpreendentes para quem a pratica, e não tem contra indicação, todos podem praticar! Viva com mais saúde se tornando um adepto da Unibiótica! O seu corpo e mente só tem benefícios a ganhar! Pratique e depois critique! Você se surpreenderá com os resultados da prática dessa ciência!

Abaixo coloquei um link com um depoimento pessoal do próprio Dr. Yum onde ele conta um pouco sobre a sua vida e como nasceu a Unibiótica. Vale a pena ler!

Depoimento – Dr. Yum – Vida e missão

http://unibiotica.wordpress.com/dr-yum/

Depois de tomarmos o cafezinho regulamentar, conversamos sobre o dia e a noite no cerrado na época da seca, Newton disse-me a que vinha:

– Timm, o Dr. Yum tem um livro – pronto , sublinhou – e precisa de um brasileiro como co-autor, pois assim terá mais aceitação do público.

Era a primeira vez na vida que recebia algo escrito “de presente”. Escrevinhador inveterado, eu geralmente, era o solicitado para fazer requerimentos, cartas, ações nos Tribunais de Pequenas Causas, ou simplesmente trabalhos de classe. Estranhei, mas quis ver o que era.

– Dr. Timm, falou o Yum, eis aqui – e me passou um calhamaço xerocado que ainda guardo – minhas reflexões sobre a “Voz de Deus” e a “Voz do Homem”. Falou sem parar durante quase meia hora, explicando o que era uma coisa e o que era outra. Retive apenas que a primeira se referia aos ensinamentos sagrados, imutáveis , enquanto a segunda, seria a do aprendizado humano. Eu ia encaixando tudo no meu modelito como um caso de  Vox Populi , Vox Dei até que me dei conta que ele falava outra coisa: A voz do homem não era a Voz maiúscula de Deus. Era mais forte!

Ôpa, pensei comigo! Mais um para o Pavilhão…da  consciencia critca.

Acabou-se a conversa, que muito me impressionou e ele queria saber se eu subscreveria como co-autor. Disse-lhe que precisava ler os manuscritos e que dentro de alguns dias daria uma resposta. Confesso que não me agradava o procedimento. Ma va la! Ia ver. Ai’ o pacifico Dr. Yum reagiu com determinação e disse que eu deveria decidir imediatamente, mesmo sem ler. Reagi, isto não faria nunca. De-ci-di-da-men-te! A conversa se encerrou abruptamente, meu amigo Newton o arrastou e eu fiquei com os manuscritos, que li naquele mesmo dia. Interessantíssimo, com uma ou outra ressalva teria passado para a Historia com seu co-autor. A essência das ideias procuram demonstrar que a Voz de Deus ‘e a voz milenar dos livros religiosos, e a do Homem, o resultado da sua consciência, a’i identificando a China como sua pátria de excelência.

Por via das dúvidas, conto o caso e encerro  , assim, esta crônica que foi marcada por um AVC – acidente vascular computacional – no meu computador. Ele subverteu o teclado e se recusa a obedecer minhas ordens sobre cedilha e acentos. Concluo, pois que al’em da Voz de Deus que habita a sua cidade, e a Voz do homem que habita o planeta, existe a Voz do computador…

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Coreia do Norte

 

“Se o marxismo criou pela primeira vez a concepção revolucionaria de mundo da classe trabalhadora, a idéia Juche a aperfeiçoou, desenvolvendo-a à uma etapa superior.”

 Kim Il Sung

“Claro que não se pode culpar Marx por Stalin ou coisas do tipo. Contudo, o fato é que a experiência comunista marxista global, a experiência de projetos políticos que foram inspirados pelo marxismo no século 20, é, basicamente, uma experiência catastrófica.”

Zizek – Filósofo marxista esloveno – http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cultura/literatura/noticia/2013/03/15/slavoj-zizek-estou-cansado-das-analises-culturais-e-politicas-76499.php

“Nós precisamos quebrar essa visão marxista de que a história se move do capitalismo para uma ordem superior, o socialismo ou algo do tipo. A história é aberta, na minha opinião. De forma espontânea, ela provavelmente se move em direção a alguma catástrofe.”
Zizik  – Idem

Tenho um amigo, residente em Brasilia, hoje o maior orientalista brasileiro e lingüista emérito, que é radical: -“ Para falar sobre qualquer país ou povo do Oriente, há que conhecer, além da história,  a língua”.  Pois eu vou falar sobre a Coreia do Norte. Portanto, invoco-lhe , desde já, minhas escusas, pois não domino nenhuma língua oriental. Depois de dois anos de estudo de mandarim na Universidade de Brasília, desisti. Já estava muito velho para assimilá-lo. Foi um alívio para o Professor, um chinês de magreza profunda, que viera para o Brasil, no anos 90, como resultado de um Programa de Cooperação Técnica entre nossos países. Certo dia, aliás, o convidei à casa e foi um desastre. Disse-lhe como nós, estudantes, em meados dos 60, vibráramos com a Revolução Cultural. Ele cortou o assunto, não sem dizer, secamente: “Fui uma vítima “daqulilo”…  Mas eu , velho  comunista,  já aposentado (…) ,  não me dou por vencido. E como conhecedor das variantes do marxismo e do próprio socialismo, atrevo-me a  falar algo sobre a Coreia do Norte. Afinal, ela se proclama socialista, ou  é tida como tal.

Para início de conversa, lembro que o Oriente sempre foi um grande desafio para o marxismo. Ele nunca se encaixou muito bem na teoria dos MODOS DE PRODUÇÃO e em outras categorias de sua Filosofia da História. Tanto que  se inventou o conceito de MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO, algo muito vago e impróprio para dar conta da vasta complexidade do mundo oriental. Ele suporia que também desenvolvêssemos nossas reflexões sobre os MODOS DE PRODUÇÃO NA ÁFRICA, NO ORIENTE MÉDIO E NA AMÉRICA LATINA…       Conta-se , também uma das ironias da História (Isaac Deutscher ia gostar disto…) . Marx , um ocidental puro sangue, que olhava com desconfiança até para Bolívar na América Latina, sobre quem escreveu algum verbete, dando margem, hoje, a grandes controvérsias sobre o assunto, sempre viu a Rússia como parte do Oriente. Diz-se que detestava a Rússia. E foi lá que ele, Marx,  acabou saindo do Manifesto para entrar na História…

Pois bem, nós, ocidentais, temos grande dificuldade para compreender o Oriente. Os conceitos são diferentes. O que  aqui é Filosofia, em alguns de seus países, seria Religião. O que  aqui é virtude, lá é vício. Lembro-me, até , neste sentido de uma experiência vivida por uma chinesa em Paris. Seu pai, professor de Literatura Ocidental na Universidade de Pequim, saíra do país na crise de 1989 .Foi para a França, com a família, filhos muito jovens. Pois bem, uma de suas filhas tornou-se , culturalmente , uma ocidental, tal como retrata o personagem central de um filme recente – “Armênia” – , filha de um Armênio residente em Paris. Bem, a dita chinesa. fornou-se doutora em Filosofia pela Universidade de Paris e tem vários livros publicados. E eu vi uma entrevista dela no TV 5 , francês,  que me impressionou. Contou ela que, certa vez, instada a fazer um trabalho sobre Grécia e arte helênica visitou o  Museu do Louvre durante alguns dias. – “Ao final do trabalho, afirmou, eu já não era uma chinesa. Só aí, ao ‘passar pela Grécia antiga’ me dei conta do hiato entre nossas culturas – oriental e ocidental. Nós nunca tivemos nada parecido”.  Cito a passagem para dar a dimensão de se avaliar corretamente qualquer povo oriental. Não é nada fácil. Como, de resto, não é fácil falar sobre o Homem…

Mas vamos lá: O que é – ou melhor, o que eu acho –  ser a Coreia e mais especificamente a Coreia do Norte?

Acredita-se que a ocupação humana da  Peninsula Coreana tenha se dado há cerca de 200 mil anos, nos primórdios da espécie.  Como outros povos da Asia, por volta de 2.000 AC já havia uma civilização ali plantada , com um povo definido. Mas , região de passagem entre reinos poderosos, China e Japão, como a Polônia na Europa, a Península foi sucessivamente ocupada por forças estrangeiras. Uma longa história que não carece de ser pontualizada. Vejamos os tempos mais recentes e que desembocam no conflito atual entre Coreia do Norte e Coreia do Sul:

No século XVII, a Coreia foi finalmente derrotada pelos manchus e se uniu ao Império Chinês da Dinastia Qing. Durante o século XIX, graças à sua política isolacionista, a Coreia ganhou o nome de “Reino Eremita”.[22] A dinastia Joseon tratou de proteger-se contra o imperialismo ocidental, mas foram obrigados a abrir suas portas para o comércio ocidental. Depois da Segunda Guerra Sino-Japonesa e da Guerra Russo-Japonesa, a Coreia passou a ser parte do domínio japonês (19101945).[28] No final da Segunda Guerra Mundial, as forças japonesas se renderam às forças da União Soviética, que ocuparam o norte da Coreia (atual Coreia do Norte), e dos Estados Unidos, que ocuparam a parte sul (atual Coreia do Sul).[29][30][31]

                                                                        (wiki)

Honestamente, desconheço  o que ocorreu na parte norte da Península coreana desde a ocupação soviética,  sob o comando de Stalin, ao final da Guerra e o dia 15 de abril do ano de 1948, hoje festejado pelo Governo da Coréia do Norte como o “Dia do Sol”, data em que Kim Il Sung o teria fundado. A “Revolução Coreana” nunca foi um tema presente nos antigos cursos de formação ideológica patrocinados pelos comunistas.Um dos poucos textos disponíveis é “A Revolução Coreana”, de Gabriel Martinez , que assim o descreve:

Após duras batalhas, em 1945, finalmente, o povo coreano vence o imperialismo japonês; o povo coreano, através de suas organizações clandestinas, o Exército Popular Revolucionário e o Exército Vermelho (URSS) foram os principais atores da revolução coreana. Comitês Populares se espalharam por todo território coreano, constituindo assim um órgão de poder popular constituído pelo próprio povo coreano. A União Soviética permaneceu estacionada na parte norte da península. Os Estados Unidos só entrariam na parte sul da península coreana, três semanas depois da libertação do país, e logo trataram de reprimir violentamente os Comitês Populares, devolvendo o poder aos antigos oligarcas representantes do regime colonial. A União Soviética retirou suas tropas da Coréia em 1948, ao passo que os Estados Unidos mantêm as suas até os dias de hoje.

http://pensarnetuno.blogspot.com.br/2013/04/texto-sobre-revolucao-coreana.html

A partir daí , Kim Il Sung, que supunha sua doutrina “juche” superior ao marxismo, , versão ortodoxa do socialismo baseada  nos princípios do Partido único, da união com o povo como centro de tudo,   militarização da sociedade e na autosuficiência e isolamento da economia,  até sua morte em 1994, governou o novo país  manu militar .

O que é Idéia Juche?

A ideologia oficial do partido governante da RPDC, o Partido do Trabalho da Coréia (PTC), é a Idéia Juche. A Idéia Juche foi desenvolvida por Kim Il Sung, líder da revolução coreana e fundador do Partido do Trabalho da Coréia. De acordo com os comunistas coreanos a superioridade da Idéia Juche consiste no fato de que, indicando a posição e o papel do homem no mundo, esclarece-se de maneira mais científica a forma como o homem forja o seu destino. O problema fundamental da filosofia deixa de ser a relação entre o pensar e a existência e passa a ser entre o mundo e o homem. Segundo os atuais dirigentes comunistas coreanos, a Idéia Juche não é apenas o marxismo-leninismo adaptado à realidade coreana, mas sim uma nova ideologia, superior ao próprio marxismo. É o socialismo científico alçado a outro patamar. Nas palavras de Kim Jong Il, principal líder da RPDC:

“Se o marxismo criou pela primeira vez a concepção revolucionaria de mundo da classe trabalhadora, a idéia Juche a aperfeiçuou, desenvolvendo-a à uma etapa superior.”

Em suas memórias Kim Il Sung nos revela que durante a luta revolucionária “sua doutrina”, “seu credo” foi o chamado “iminwichon”, que significa considerar o povo como o centro de tudo. O principio básico da Idéia Juche é de que as massas populares são donas do mundo e de seu próprio destino.

http://pensarnetuno.blogspot.com.br/2013/04/texto-sobre-revolucao-coreana.html

 

Em seu Governo eclodiu a famosa Guerra da Coreia,  travada entre 26 de Junho de 1950 a 27 de Julho de 1953, opondo a Coreia do Sul e seus aliados, que incluíam os Estados Unidos. Esta guerra nunca chegou a termo. Congelou-se com um Armistício que só contribuiria a divisão da Península Coreano em dois países e  para o isolamento da Coreia do Norte.

Com a morte de Kim Il Sung   seu filho, Kim Jong-il, tomou o  comando até morrer em dezembro de 2011, abrindo caminho para a consolidação de uma peculiar  dinastia comunista quando o poder , então, passa para , seu filho mais novo Kim Jong-um.

Mas mesmo sem grande informação sobre a “libertação”do território da Coreia do Norte, então ocupado pelo Japão, antes da rendição deste país que fazia parte do Ëixo (Alemanha+Itália+Japão) que daria origem ao regime que lá ainda persiste, é bem possível supor que tem todas as características da ocupação do Leste Europeu pelo Exército Soviético na Segunda Guerra. Por onde passava, a URSS , sempre teve a colaboração de partisans comunistas, como também os aliados. Mas atento ao futuro, que se instauraria como Guerra Fria,   o regime estalinista impunha não só o socialismo, como seu estilo autoritário e centralizador satélite União Soviética . Se este foi o caso da Coreia do Norte , é muito difícil se falar, hoje,  em “libertação”, muito menos “Revolução” naquele país.. Nenhum dos povos sob controle soviético na Europa do Leste, no bloco comunista criados ao final da guerra, manteve, quer o socialismo como forma de organização da sociedade e da economia, quer, muito menos o estilo autoritário fiel à Russia. Aliás, a própria URSS romperia na década de 50 com o estalinismo, como romperia com o modelo socialista em 1991. Pode-se, pois, dizer que a Coreia é um último bastião do socialismo estalinista no mundo, vez que a China e outros regimes socialista asiáticos, muito embora tenham se alinhado com o estalinismo e rejeitado a desestalinização soviética,  não foram regimes decorrentes da ocupação territorial e militar pela URSS. Todos, aos quais se associaria Cuba nos anos 60, foram resultados de grandes lutas populares que resultaram, sim, em autênticos processos revolucionários.

Visto deste prisma, a Coreia do Norte perde muito da sua credibilidade revolucionária. Trata-se muito mais de um remanescente da II Guerra do que uma Revolução em processo, digna de alvíssaras pela esquerda contemporânea. Até se explicariam no passado sob o princípio do Internacionalismo Proletário que consistia na defesa intransigente da URSS como baluarte da Revolução. Hoje não!  Assim o digo porque praticamente toda a esquerda mundial do Ocidente, já havia rompido com o estalinismo antes mesmo do fim do regime soviético. Depois do fim da URSS, então, a reciclagem dos Partidos Comunistas europeus e da América Latina foi total, ainda que os ortodoxos remanescentes insistam em manter não só as velhas siglas, como os velhos dogmas.  Mas é uma espécie em extinção. Com todo o direito a sê-lo… Mas não há razões, portanto, pelo menos por parte da esquerda “reciclada” – e aí incluo o PT –  para aplaudir e justificar o regime coreano do Norte.

Independentemente de sua origem, características e desenvolvimento por décadas, restaria compreender por que esse regime vem se revelando crescentemente provocador, a ponto de ameaçar Coreia do Sul, Japão e Estados Unidos com um bombardeio nuclear.

Uma das hipóteses aponta para a Tese do Inimigo Externo, normalmente usada por Governos de vários matizes, para se reforçar internamente. Temos um caso no continente: a Declaração de Guerra contra a Inglaterra pelos generais argentinos, em 1981. Este, porém, não parece ser o caso da Coreia do Norte. Seu regime está, internamente consolidado e não apresenta fraturas.

A segunda hipótese seria a da necessidade de seu atual Líder, neto do “Filho do Sol”, se fortalecer internamente, não sobre a população que já idolatra a dinastia toda, mas os militares, sempre mais práticos nestas questões. A guerra é um assunto que não comporta cultos à personalidade de quem quer que seja. Ela exija o culto a ela própria, sem rodeios. Nada de intermediários. Lembre-se da forte rejeição dos militares latinoamericanos aos que eles sempre denominaram  “populistas”, em vários de nossos países. Nem mesmo a Venezuela é uma exceção, pois tentou um golpe, abortado em menos de 48 h, contra o Presidente eleito Chavez.

Resta, portanto, a tese mais em voga entre os analistas atuais: auto-defesa do regime em vigor.

A idéia é de que mais cedo ou mais tarde os Estados Unidos – e aliados ocidentais – darão um golpe de morte na Coreia do Norte. Tratam, então , de se precaver.  Dão como exemplo o caso da Yugoslávia, do Iraque, da Líbia e da Síria, que não se prepararam para o enfrentamento e estão caindo em dominó. A única salvação seria, pois,  o fortalecimento militar do regime, com o recurso à bomba atômica porque, ipso facto, não haverá surpresas. E a ameaça evita o golpe.

Esta mesma tese, a propósito, é a de setores nacionalistas em vários países do mundo , inclusive no Brasil. Crê-se que o país só conseguirá defender seus interesses se tiver a bomba atômica e se modernizar e  armar crescentemente suas forças armadas.

Tudo indica, portanto, que , passada a temporada de manobras militares conjuntas do Japão , Coreia do Sul e Estados Unidos na região, tudo volte ao normal. Ou seja, menos retórica. A histeria atual, tem, portanto, nome e endereço: o regime coreano do norte, uma caricatura do ideal comunista pelo qual morreram tantos idealistas nos últimos 150 anos, tem medo. E tem razões para tê-lo. É um regime condenado, não pela direita, nem pelos Estados Unidos, mas pela consciência civilizada do mundo inteiro. A mesma consciência que condena as Matrassas muçulmanos fundamentalistas, que condena o uso de crianças em guerras na África, que condena todas as formas de autoritarismo e terror de Estado, pela consciência que luta pela preservação da Paz, da Tolerância e do Multiculturalismo no mundo e que condena a redução do marxismo ao catecismo primário de  meia dúzia de fórumulas. O marxismo é um filho dileto do iluminismo, que só se justifica pela sistemática consciência crítica sobre seus próprios fundamentos. O que não cabe, naturalmente, nem em Partidos, nem em Igrejas, nem em Estados, sempre dominados pelo alto clero e pela disciplina a postulados dogmáticos. Rigorosamente, como afirmou recentemente S.Zizeck, recentemente, em Porto Alegre, sequer sabemos, do ponto de vista marxista, para onde vamos depois da crise assola o capitalismo e a humanidade. A idéia de socialismo se refere, cada vez mais, a uma técnica civlizatória, e não a uma etapa superior do que quer que seja. 

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1964 – “O ano que nunca acaba…”

O título não é meu. É do meu amigo escritor A. Brandão  Brandão, que diz que não agüenta mais tanta falação sobre o fatídico 1964. Mas não resisto. Volto ao assunto. Sorry Brandão…

A verdade é que o 1964 não vai acabar nunca. Sempre haverá o que dizer. Contra ou favor, estes em número cada vez menor. Já foram os mais, outrora. Hoje se resumem a alguns  saudosistas da caserna e um ou outro radical de direita. E por que volto ao tema? Porque há uma tendência em se concentrar a crítica  ao Golpe apenas nos militares e, com isso, safam-se todos as suas “vivandeiras” e defensores oblíquos.

Nesta data, 11 de abril, por exemplo, em meio à prisões, ameaças, algumas mortes e pressões de todo tipo, no ano de 1964, o Congresso Nacional referendava, através do voto, o nome do General Castelo Branco , chefe do golpe, como   Presidente da República,  cargo declarado vago com o exílio de João Goulart. Insólito. Inacreditável. Ele deveria “completar”o mandato da Presidência, declara vaga. O golpe se institucionalizava, já naquela época, de forma semelhante ao que aconteceu no ano passado com o Presidente Lugo, no Paraguai.  Mas como…?

Muito simples: Primeiro, porque o país estava dividido, não entre comunistas, aliados de Jango, como pretendiam os golpistas, e não comunistas, eles próprios, mas entre uma parte significativa  da sociedade brasileira, que apoiava o Programa de Reformas de Base, em curso no país, sob o comando do Presidente da República, e uma parte que reagia às mudanças democraticamente encaminhadas, os “reacionários”.  O Congresso Nacional refletia esta divisão. Uma parte, liderada pelo antigo PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO – PTB – , ao qual pertencia o Presidente, o apoiava;  outra, com epicentro na UNIÁO DEMOCRÁTICA NACIONAL o combatia ferozmente. Era um tempo de grandes mudanças na sociedade brasileira e de intensos debates e mobilizações populares, envolvendo sindicatos de trabalhadores, camponeses, estudantes, intelectuais e até militares. O país se urbanizava rapidamente, a população crescia, as demandas explodiam. No fundo, tratava-se do coroamento de um processo de incorporação de massas populares à economia e à política que vinha se intensificando desde o final da II Grande Guerra, em 1945, ao qual um Governo de esquerda moderada, de corto social-democrata, liderado por Jango, procurava responder positivamente, olhando para o futuro. No dia 13 de março, o Presidente, à frente da Central do Brasil, no Rio de Janeiro,  havia anunciado uma ampla  reforma agrária. Foi a gota d ‘água para os setores conservadores. Já articulados aos interesses estratégicos dos Estados Unidos, lançaram-se ao golpe, com amplo apoio da Igreja Católica, da grande mídia, dos líderes de direita, como Carlos Lacerda, Governador do Rio,  Magalhães Pinto,  Governador de Minas, ambos da UDN, de Ildo Meneghetti, no Rio Grande do Sul  e Ademar de Barros, do PSP, ideologicamente ambíguo , grandes empresários e setores expressivos da classe média. Não fora, aliás, o apoio nestes Governadores  de Estados grandes e fortes, o golpe dificilmente teria tido sucesso.  Quando o Governo caiu sob o Golpe, líderes do então PSD ,  um Partido que iria dar a base e os contornos do futuro MDB/PMDB , como Juscelino, Tancredo , Ulysses Guimarães e muitos outros, mesmo aninhados na “Base Aliada” do Governo, o abandonaram imediatamente. Aderiram ao golpe. E , com ampla base parlamentar no Congresso, deram seus valiosos votos em apoio à sufragação do General Presidente. Isto foi trágico, porque “legitimou”pelo Congresso a violência das armas. E permitiu aos militares , mediante artifícios legais,  permancerem no poder por 21 anos.

Têm razão, pois, os militares, quando dizem que não atuaram sozinho.

Realmente, eles foram a ponta de lança de um complô conservador que tinha seu epicentro nos interesses americanos no continente e que se armara no Brasil com o apoio financeiro e político a diversas entidades que operavam livremente no país angariando adeptos e apoios.

Tampouco foram todos os militares , os que se envolveram no golpe. Pelo contrário, havia no Exército Brasileiro uma ampla tradição de debates e de presença da instituição em torno de grande projetos como a siderurgia, petróleo e até mesmo a construção de Brasilia no Planalto Central. E foi precisamente por causa da divisão interna das forças armadas quanto à conjuntura nacional que a repressão  se deu primeiro dentro delas, levando ao afastamento , às vezes à liquidação, dos oficiais democratas. Dessa forma, seria possível engolfar o conjunto delas numa ideologia de segurança nacional que acabaria levando aos anos de chumbo, depois do 13 de dezembro de 1968, quando os órgãos da inteligência passaram a controlar a vida nacional. Lamentavelmente, esta lavagem cerebral , apesar de quase três décadas da redemocratização, ainda persiste nos  quartéis.  E o centro dos ataques da esquerda às forças armadas, como responsáveis exclusivas pelo Golpe, sem a explicitação dos grandes interesses que lhe sustentavam, só faz acirrar a animosidade. Tempo, pois, de pensar esta data de 11 de abril, como tão ou mais importante do que a do 31 de março, pois ela reflete , com mais nitidez, o que ocorreu realmente no país naquele ano de 1964.

 11 de abril 2013

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Dia Mundial da Saúde

O que os economistas da área da saúde, nossos jornalistas que cobrem a área e os clientes que compram seguro-saúde não estão percebendo como já foi dito, é que agora não estamos mais comprando seguro-saúde e sim longevidade humana. E longevidade não tem preço.  Ou pelo menos, o preço será sempre maior do que aquilo que nós poupamos ou estamos dispostos a pagar.

(S.Kannitz – “Alerta aos médicos e à população” – http://blog.kanitz.com.br/2009/09/alerta-aos-medicos/ )

Há, portanto, que pensar a eqüidade em saúde como um processo, permanente, em transformação, que vai mudando seu escopo e abrangência na medida em que certos resultados são alcançados.

Dicionário Profissional em Saúde– Fonte: http://jus.com.br/revista/texto/19205)

 

I

O dia 07 de abril é o Dia Mundial da Saúde, numa celebração à criação da Organização Mundial da Saúde, criada, nesta data, em 1948, como órgão das Nações Unidas com o objetivo de promover ao máximo possível o nível de saúde de todos os povos. Definir saúde, entretanto, não é tão fácil como parece.

As definições de saúde são muitas e até mesmo ambíguas. Variam com as diferentes culturas e regiões porque conceituar saúde depende muito das aspirações e necessidades de cada grupo ou sociedade. Os termos empregados com mais frequência para exprimir saúde são: a simples ausência de enfermidade, estado de vigor físico-mental e bem-estar.

A definição de saúde mais difundida é da Organização Mundial da Saúde (OMS): “estado de completo bem estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença”.

(Dr Allan Marciohttp://www.controlesocialdesarandi.com.br/2009/10/28/saude-depende-de-bem-estar-social-mental-e-fisico/)

Há, preliminarmente, a questão de saber qual definição de Homem  se deve ter como pano de fundo, de forma a promover seu bem-estar. Custou-se um pouco a incorporar ao conceito de vigor físico, a dimensão mental, de forma a incluir no conceito da saúde o perfeito domínio da consciência de um ser capaz de legislar sobre seus atos e seu destino.  Hoje aceita-se a divisão bi-partite  do Homem – de origem judaica – como um ser dotado de um estado físico e um estado mental. Graças a isto, as doenças mentais, em todas as suas manifestações foram incorporadas ao conceito de saúde, avançando para terapias mais humanizadoras do que os velhos manicômios Eis como, hoje esta dimensão se coloca :

Nós profissionais, gestores, usuários e familiares necessitamos da implantação das RAPS em todos os municípios do Brasil para continuidade da assistência em saúde mental!
Lutamos e continuaremos lutando:
Pelo reconhecimento dos CAPSi como dispositivos efetivos no cuidado aos Autistas!
Pelos CAPS ad III, Consultórios na Rua, UAA e UAi, como dispositivos efetivos de cuidado aos usuários de drogas!
Por uma sociedade laica e sem manicômios!
Por uma saúde pública!
Pelo SUS!

Art. 1o Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra.

Pareceria que o desafio estaria  equacionado.

Mas novas questões, porém, instrínsecas ao conceito moderno do que é propriamente humano,   apareceriam.

Ao longo do século XX,  foi ganhando peso a dimensão emocional do ser humano, graças aos estudos da Psicanálise e da Psicologia. Com isto, a divisão trinitária do Homem, de inspiração helênica, como dotado de um físico, limitado à matéria,  de um espírito, guiado pela razão, e de uma “alma” cativa de uma razão que sua própria razão desconhece –  e que não se confunde com a inspiração religiosa do termo – vai ganhando terreno. Seríamos, segundo este entendimento,  criados à semelhança de Deus, no “mistério de sua Santíssima Trindade”, associando-se esta “psiquê”, por onde peregrinaram, desde sempre, os poetas, alimentados pela inspiração das “Noúres” , à figura do Espírito Santo.  Mas isto só desatou a investigação de outras dimensões do humano, como cultura, identidade  e fé religiosa,  as quais complicam mais ainda os esforços no sentido de definir  saúde.

No Brasil, uma outro concepção tripartite ganhou corpo a partir de 2003, com a introdução da Política de Humanização.

Politica de Humanização

A Política de Humanização surgiu em 2003 para efetivar os princípios do SUS, no cotidiano das práticas de atenção e gestão, qualificando a saúde pública no Brasil e incentivando trocas solidárias entre gestores, trabalhadores e usuários. Esta política nasceu da necessidade de se reverter o quadro de “desumanização” e outras problemáticas encontradas na política de saúde realizada através do SUS.

(Serviço Social e Cidadania – – http://www.controlesocialdesarandi.com.br/2013/04/07/a-participacao-popular-na-gestao-publica-no-brasil/)

)

Sob esta visão, o paciente é atendido não apenas na sua doença, , mas, na sua totalidade como ser  humano,  sob a atenção de uma equipe multiprofissional, abrindo caminho para programas como  na saúde da mulher, na humanização do parto e na saúde da criança com o projeto Mãe-Canguru, para os recém-nascidos, e um novo campo de ação dos Assistentes Sociais.

Podemos dizer que a Rede de Humanização em Saúde é uma rede de construção permanente e solidária de laços de cidadania, ressaltando a valorização do ser humano, a integração da equipe, a comunicação, e a conexão com outras políticas sociais. Serviço Social na Saúde Pública

O Serviço Social surgiu na América Latina, voltado para o âmbito da saúde, com a criação da Escola de Serviço Social “Dr. Alejandro Delrio”,em Santiago do Chile

(Serviço Social e Cidadania – cit)

Esta concepção privilegia uma ideia de determinação social da saúde, determinação esta geradora de iniqüidades em saúde e que impõem pontos de partida para reduzi-las,  a saber

*estratificação social;

* exposição diferencial;

*vulnerabilidade (ou susceptibilidade) diferencial;

* e conseqüências sociais diferenciais das más condições de saúde.

“A formulação de uma resposta política forte e adequada às iniqüidades de saúde obriga a agir numa ampla variedade de campos: em primeiro lugar, devem ser estabelecidos os valores; a seguir, há que se descrever e analisar as causas; depois, devem ser erradicadas as causas profundas das iniqüidades; e, por último, devem-se reduzir as conseqüências negativas das más condições de saúde”

(Whitehead et al, 2002, citado em Dicionário Profissional em Saúde– Fonte: http://jus.com.br/revista/texto/19205)

).

A verdade é que tudo mudou – e  muito! – desde 1948, quando o conceito de saúde humana  era muito simplório, a esperança de vida não ultrapassava em média os 50 anos e inexistiam procedimentos e medicamentos de prolongamento da vida, capazes de  levar, em breve,  a que todos esperem viver mais de cem anos, alguns até 125, embora a custos  elevadíssimos, cuja socialização implicará o sacrifício de outras prioridades. E isto sem contar, ainda, com a incorporação nestes procedimentos da engenharia genética, extremamente caros. Todo mundo, há pouco, indignou-se com o pronunciamento do Primeiro Ministro do Japão, quando, inadvertidamente, clamou para que os idosos cuidassem de evitar o prolongamento da vida por meios artificiais, por razões econômicas. Ele, na verdade, apenas tocou num assunto sobre o qual, queiramos ou não, seremos obrigados a nos curvar dentro em pouco: o custo social da longevidade.

Quando a OMS foi criada, meados do século passado,  o marco da saúde era bem menos complexo, não incorporava o desafio da longevidade e do peso crescente dos velhos na população mundial, sabendo-se que o gasto destes em saúde é de até seis vezes a de um jovem, e o próprio tamanho da  população do planeta era um terço do que é hoje. Esta população  subiu assustadoramente nos últimos 60 anos, passando hoje dos 7 bilhões de pessoas. Todos com direito à saúde e expectativas de uma longa vida ativa,  com a certeza, todos, salvo incidentes, que sofrerão uma doença grave no fim da mesma, cujo custo ultrapassará a capacidade de  cobertura dos melhores Planos de Saúde. Isso já é evidente hoje, no Brasil. Basta verificar os pavilhões de doenças terminais do SUS e verificar-se-á que mais da metade aí internado são portadores de Planos, os quais não cobrem os altos preços dos medicamentos e longos e onerosos tratamentos.  A conseqüência disto é que o custo dos Governos com saúde vem se elevando à taxas entre 10% e 15% a.a. , caso dos Estados Unidos, que já compromete  15% do seu Orçamento com Saúde, numa conjuntura de  virtual estagnação econômica. Os países da União Europeia, também estagnados,  comprometem menos do que este percentual, mas tendem a ir no mesmo caminho, elevando cada vez mais o gasto por habitante com saúde:

Em 2011, em Portugal o gasto público com a saúde por habitante era apenas de 1.097€, quando a média nos países da União Europeia variava entre 1.843€ (…). E nos países desenvolvidos a despesa por habitante era muito superior à portuguesa (Bélgica:+142%; Dinamarca:+229%; Alemanha:+103%; Irlanda:+142%; França : +131%)

Quadro 3– Despesa do Estado com a saúde nos países da U. E. – 2011 

PAÍSES

Em % do PIB

Em euros/habitante.

% em relação a Portugal

UE27

7,3%

1.843 €

168%

UE17

7,4%

2.094 €

191%

Bélgica

7,9%

2.655 €

242%

Dinamarca

8,4%

3.607 €

329%

Alemanha

7,0%

2.232 €

203%

Irlanda

7,5%

2.660 €

242%

França

8,3%

2.530 €

231%

PORTUGAL

6,8%

1.097 €

100%

Fonte: Eurostat cit. por Eugenio Rosa in “Resistir” – info.com – 08 03 2013

Ao mesmo tempo, pressionadas, as Seguradoras tratam de maximizar seus lucros no curto prazo,  forçando os custos dos “sistema de caixa”  com pagamentos irrisórios aos profissionais de saúde, certas de que , como nós, “no longo prazo estaremos todos mortos” .Elas quebradas…Mas tendo garantido, nesta etapa, a seus donos e administradores polpudos patrimônios pessoais.

O Brasil, com uma porcentagem de gastos em saúde (4,1% do Orçamento da União 2012, que corresponde a 38% do PIB)  inferior aos da União Europeia, não tem, pois , muito o comemorar nesta data, embora possa ostentar um dos sistemas mais universalizados, portanto, justos do mundo.

Orçamento Geral da União de 2012, por Função

Executado até 31/12/2012 – Total: R$ 1,712 Trilhão

Elaboração: Auditoria Cidadã da Dívida. Fontes:

http://www8a.senado.gov.br/dwweb/abreDoc.html?docId=2620216 – Gastos por Função
http://www8a.senado.gov.br/dwweb/abreDoc.html?docId=1007801– Gastos com a Dívida http://www8a.senado.gov.br/dwweb/abreDoc.html?docId=1007782 – Transferências a Estados e Municípios (Programa “Operações Especiais – Transferências Constitucionais e as Decorrentes de Legislação Específica”)
Nota 1: As despesas com a dívida e as transferências a estados e municípios se incluem dentro da função “Encargos Especiais”.
Nota 2: O gráfico não considera os restos a pagar de 2012, executados em 2013.
Nota 3: Observado o princípio da unicidade orçamentária.

O atendimento pelo SUS foi uma das grandes conquistas da Constituição de 1988 , resultado de iniciativas pioneiras no campo da saúde pública de homens  e mulheres como o casal Dr. Mário Magalhães e Dra. Nise da Silveira que culminaram em sucessivas Conferências Nacionais de Saúde que respaldaram o preceito constitucional.

Em 1986 ocorreu a 8ª Conferência Nacional de Saúde, a qual representa um marco histórico para a saúde, pois foi a primeira conferência aberta à sociedade e por meio dela foi implantado a SUDS. A Reforma Sanitária ganhou evidência através da conferência e trouxe mudanças inovadoras em todos os setores da saúde, contribuiu para reanimar os princípios democráticos pautados na defesa da universalização das políticas sociais, na construção de um sistema único de saúde tendo como base a intersetorialidade, integralidade, descentralização, universalização e a participação social.

Com a Constituição de 1988, institui-se o Sistema Único de Saúde (SUS), sendo regulamentado em 1990 com a LOS, que definiu seu modelo operacional, sua forma de organização, seus princípios doutrinários, objetivos e atribuições. Esse novo modelo de saúde vigente é denominado Modelo Plural, tendo como característica mais importante a universalização do atendimento e a participação da sociedade

(Serviço Social Cidadania – http://www.controlesocialdesarandi.com.br/2013/04/07/a-participacao-popular-na-gestao-publica-no-brasil/)

 

Mas há uma generalizada reclamação da opinião pública contra a qualidade dos serviços prestados por este sistema e que agora atinge os segurados de Planos de Saúde. Todos estão na fila de espera para serem atendidos.

Não por acaso , o candidato da Oposição, Senador Aécio Neves, marca presença sobre o tema, nesta data, mostrando que o Governo Federal vem diminuindo seus recursos aplicados na saúde:

GOVERNO FEDERAL REDUZ PROPORÇÃO DE GASTOS COM SAÚDE EM 25%!

1. A concentração de poderes, recursos e de mando na esfera federal tem imposto a Estados e municípios graves dificuldades para executar políticas públicas nas áreas essenciais e prejuízos enormes à população. Para que se tenha uma dimensão da distorção, apesar de o governo central reter grande parte do que é arrecadado no país, a União responde por apenas 13% das despesas em segurança. Nos transportes, 63% são recursos estaduais e municipais. Em educação, os recursos federais representam 24%, contra 76% dos Estados e municípios.

2. Na saúde, a participação federal nos gastos públicos totais está em queda livre -Estados e municípios se responsabilizam por 64%, enquanto a União aloca 36%. Em 2000, respondia por 48%, (obs. redução de 25%). O retrato dessa área talvez seja o que mais evidencia o modelo que vivemos hoje no país: aumenta o desafio, diminui o compromisso do governo federal.

((Artigo de Aecio Neves- Folha de SP-08, citado por NL Cesar Maia 08 /04/2012)

O Dia Mundial da Saúde é , portanto, um bom momento para a reflexão sobre o tema. Uma reflexão responsável e capaz de, ao mesmo tempo que sustenta os princípios de equidade e justiça social, num marco conceitual compatível com as exigências morais do século XX , seja capaz de situar a questão da saúde como custo. Custo individual, concernente ao que cada um está disposto a pagar hoje pela longevidade esperada e custo social, relativo ao peso que o conjunto da sociedade pode sustentar neste processo.

II

“A saúde é direito de todo cidadão e, consequentemente, dever do Estado”.

(Constituição Federal – 1988)

No Dia Mundial da Saúde, 07 de abril, a cada ano a Organização Mundial da Saúde destaca um tema. Neste ano ela escolheu a hipertensão arterial, com o lema:

CONTROLE SUA PRESSÃO ARTERIAL – (HTA) –

A  hipertensão é um dos mais graves problemas de Saúde Publica no mundo inteiro causando a morte de  9 milhões de pessoas ao ano, sendo  que metade das mortes por AVC e enfarte têm nela a principal causa. E ela vem se alastrando e crescendo, seja em conseqüência do stress da vida e tensões urbanas, seja pela revolução nos hábitos alimentares que ela introduz conduzindo à obesidade precoce, ao diabete e aos problemas circulatórios.

“Em 1980 existiam 600 milhões de hipertensos, contrastando com o bilhão registrado em 2008”

(Maria José Pacheco in http://www.controlesocialdesarandi.com.br/2013/04/06/dia-mundial-da-saude-no-brasil-o-que-se-comemorar/ )

Mas tratando-se de um mal silencioso,  ele não apresenta sintomas ou dores, milhões de pessoas convivem com ele sem se tratar. Daí as funestas conseqüências pessoais e sociais.

Para o indivíduo,  o resultado será a incapacitação para o trabalho , a perda de produtividade, o aumento das despesas médicas, até o óbito.

Para a sociedade, primeiro  a desagregação familiar, depois o custo para as empresas, finalmente o aumento sem fim dos gastos governamentais em saúde.

O crescimento e envelhecimento da população mundial associado a comportamentos de saúde nefastos (dieta desequilibrada, sedentarismo, consumo de álcool e tabaco) e a estilos de vida stressantes, contribuem fortemente para aumentar as probabilidades de desenvolver HTA. Todas as regiões do mundo são afectadas.

(Maria José Pacheco , citada)

Contudo, a HTA é uma doença relativamente fácil de tratar. O ponto de partida é a detecção do problema, o que pode ser feito em uma visita informal a qualquer Centro de Saúde no país. Até mesmo as farmácias, normalmente, oferecem gratuitamente, este serviço. Um dos objetivos da Campanha da OMS nesta data, com o lema acima, é exatamente o  de conscientizar a população do mundo inteiro para a gravidade da doença, facilmente detectável, mesmo à falta de um médico. Independentemente, porém, do diagnóstico positivo, trata-se de difundir a necessidade de uma reeducação da população mundial  para estilos de vida  mais saudáveis, com alimentação menos calórica e mais diversificada , paralela à prática de atividades físicas simples, como caminhar. Como afirma uma  já velha canção :

   QUEM SABE FAZ, NÁO ESPERA ACONTECER!

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Remembranças da Frente Ampla

O cronista anda sempre à cata de acontecimentos do cotidiano que lhe evoquem a inspiração. Mas confesso que a conjuntura me parece muito enfadonha: No plano internacional além das intermináveis querelas no Oriente Médio, agora repercutindo sobre Síria e Irã, o heróico brado  do líder da Coréia do Norte, beira o ridículo. Analistas apostam que ele não é louco. Deseja apenas “negociar” algum apoio das potências ocidentais. Tomara! Mas diz a  sabedoria popular que o Diabo está nos detalhes. E eu temo que nessas análises algum detalhe não esteja sendo percebido… Entre nós, a história requentada do baixo crescimento da economia com o agravante da volta da ameaça inflacionária não me comove. Fico à espera de algo mais arrebatador: Os líderes do PT condenados no Mensalão resolvem fazer auto-crítica e se retiram da vida pública; produtos industrializados ultrapassam em valor as commodities na pauta de exportações, anunciada a Reforma Política: Partidos são dissolvidos em benefício do livre direito à candidaturas, fim dos Cargos em Comissão, ninguém pode ter dois mandatos sucessivos… Ahhhh! Se isso fosse verdade…

Recorro ao Dr. Google: Que dia é hoje? O que se celebra? Quem nasceu ou morreu nesta data? E tenho uma opção, já quase esquecida de todo mundo: Nesta data foi decretado, em 1968, através da Portaria n. 117 do Ministério da Justiça , o fim da Frente Ampla? Veja-se como no regime ditadorial se fazia política: Por Portaria…! Coincidentemente,  a Frente Ampla foi a última tentativa de enfrentamento democrático à ditadura. A partir daí desata-se o horror e a violência . No dia 13 de dezembro daquele ano seria decretado o AI-5 e o país mergulharia nas profundezas amargas dos “Anos de Chumbo”, que duraria até a posse do General Geisel, em 1974, quando  ele dá início à “Abertura Lenta , Segura e Gradual”, sob cujo caráter, de alguma forma, ainda vivemos…

 Jornal do Brasil, de 06/04/1968.

Frente Ampla…? O que é isto?

Foi um movimento de contestação à ditadura criado por um de seus maiores promotores e defensores,  Carlos Lacerda , então defenestrado pelos Generais, e que chegou a ter o apoio de João Goulart e Juscelino Kubitschek, jamais do Brizola.. Teve vida efêmera, menos de dois anos,  e ainda hoje é pouco estudado. Ficou sepultado com  a morte misteriosa destes líderes oito anos depois. E muitos altos e baixos. Em maio de 1967, por exemplo,  em discurso na Câmara dos Deputados, Renato Archer, um de seus articuladores,  informou que , em vista da posse de Costa e Silva, o Movimento entraria em recesso por 90 dias. Muitos apoios diluíram-se, neste espasmo.  No final de agosto, depois de várias advertências do regime a Lacerda para que suspendesse as articulações,  o ministro da Justiça, Gama e Silva, proibiu sua presença de Lacerda na televisão. Era a ante-sala de sua cassação. Archer, então, assumiu a  secretário-geral da Frente Ampla, comandando o apoio de JK e Goulart ao Movimento.

A frente ampla
Movimento político lançado em 28 de outubro de 1966 com o objetivo de lutar pela “restauração do regime democrático” no Brasil, a Frente Ampla tem como principal articulador Carlos Lacerda, e contou com a participação dos ex-presidentes (e inimigos) Juscelino Kubitschek e João Goulart.

Em setembro, a imprensa referia-se à formação de uma frente política — batizada de Frente Ampla — reunindo Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek e João Goulart, e seus correligionários. As negociações de Lacerda com Juscelino, cassado em junho de 1964 e exilado em Lisboa, encaminhadas pelo deputado do MDB Renato Archer, avançavam com relativa facilidade, mas com Goulart, desenvolvidas por intermédio do emedebista Armindo Doutel de Andrade, mostravam-se mais difíceis. Cassado pelos militares logo após o golpe, Goulart vivia em Montevidéu.

Lacerda – http://direitasja.com.br/)

O movimento teve início com a publicação, por Carlos Lacerda, de um Manifesto, que é uma análise da conjuntura política ,  lançado em 28 de outubro de 1966 com o objetivo de lutar pela “restauração do regime democrático” e teve como momentos importantes a “Declaração de Lisboa” firmada por Lacerda e JK  , de novembro de 1966 , e a Declaração de Montevidéu, firmada por Lacerda e Joáo Goulart em 26 de setembro de 1967.

Carlos Lacerda é uma das figuras mais marcantes da galeria dos políticos brasileiros. Oriundo de família de comunistas, foi simpatizante do PCB até o ano de 1939. Nesta data teria sido repreendido pelos comunistas e “virado a casaca”, vindo a se tornar no maior líder contra os comunistas e os Governos de Vargas (1951-54) , JK (1955-60) e João Goular (1961-64) . Daí ser conhecido como “O demolidor de Presidentes”, sempre voltado à mobilização conservadores como reação às tendências esquerdistas daqueles Governos. Neste sentido, veio a cumprir um papel decisivo ao êxito do Golpe Militar em 31 de março de 1964, contribuindo com inflamados discursos , veementes editoriais e artigos no seu Jornal “Tribuna da Imprensa” e inflamados discursos na Câmara dos Deputados, onde brilhava. Uma de suas frases mais famosas ficou registrada num destes editoriais, no dia 09 de novembro de 1955,  sobre a eleição de JK:

    “…esses homens não podem tomar posse; não devem tomar posse; não tomarão posse”.

Lacerda, era, pois,  além de reacionário, golpista inveterado. Virou-se contra o regime militar quando percebeu, com a suspensão das eleições presidenciais, previstas pela Constituição, para se realizar em 1965, foram suspensas, prorrogando-se o mandato do General Presidente Castelo Branco até 1967. Sucedendo-se o regime viria a dissolver os Partidos Polítcos em 1966, frustrando cada vez as ilusões de Lacerda em se candidatar à Presidência. Nas eleições deste último ano sofreria, ainda, um revés, ao ver seu candidato ao Governo da Guanabara (RJ) derrotado pelo ferrenho adversário Negrão de Lima.

Visto com desconfiança seu Manifesto,  em virtude do “vício de origem”- Lacerda, alcunha “O Corvo”, fora o maior  adversário de Vargas, JK e Jango – , o Movimento levou algum tempo para ganhar corpo e relevo político. Só depois da adesão de Kubtscheck e Goular ele se tornaria convincente.  Chegou a fazer comício mobilizadores nas cidades paulistas de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul, em dezembro de 1967, e em Londrina e Maringá, no Paraná, no início de abril de 1968. “Esses últimos eventos, reunindo mais de 15 mil pessoas, coincidiram com as manifestações estudantis realizadas em todo o país em repúdio à violência policial que, no Rio de Janeiro, causara a morte do estudante Edson Luís de Lima Souto no final de março”. (Lacerda, cit)

Manifesto da Frente Ampla. Íntegra (1966)

27.10.1966 – Carlos Lacerda

O MANIFESTO
“Em nome do povo brasileiro vimos apresentar o protesto e a reivindicação que ele merece e exige.

Representamos correntes de opinião que, juntas, reúnem a maioria do povo. Representamos, também, instituições que, perante a História, encarnamos pela mão do povo. Defendemos o voto e a lei, em função da ânsia de liberdade e do progresso social, cultural e econômico que caracteriza o Brasil moderno no mundo em mudança.

Dessa representação nenhuma violência nos pode privar. E o povo precisa que seus líderes falem – para que em seu lugar não sejam ouvidos apenas os que têm medo do seu voto.

Juntos, não somos a mera expressão de uma frente ocasional. Nosso encontro é mais importante do que as nossas pessoas. Temos o dever de dar voz ao povo silenciado. E definir, em seu favor, os rumos que, seja qual for o sacrifício pessoal a fazer, o povo tem o direito de exigir de todos os que tiveram ou aspiram a ter a honra de governá-lo.

Há momento em que se unir para lutar por todos é a única forma de ser coerente. Assim, diante da invasão. Assim, também, diante da usurpação. Assim, na guerra. Assim, nessa guerra que o Brasil tem de enfrentar, a guerra contra o atraso, o pessimismo, o desalento. Essas forças negativas apropriaram-se do poder. O POVO precisa, unido, mobilizar-se para fazer triunfar a esperança de dias melhores.

A nossa união, pessoalmente desinteressada, representando a superação de graves divergências e naturais ressentimentos, é respeitável precisamente porque não é manobra política e, sim, mandado de consciência.

Não foi fácil o nosso encontro. Mas vale o esforço pelo resultado e pelo exemplo. Nossa pessoa é o que menos interessa. As ditaduras vivem da desunião dos que prezam mais as suas divergências do que a liberdade do povo. Por isto, mais do nunca, esquecemos o amor-próprio e a vaidade para falarmos juntos o que a grande maioria do povo sente, pensa e quer.

O exílio e o ostracismo não bastam para exonerar-nos da condição de brasileiros e da obrigação de fixar rumos, ante a decepção e a angústia que se apoderaram do povo. Pode o arbítrio privar alguns ou muitos, segundo a maré do ódio ou as tortuosas conveniências do grupo dominante, do seu direito de influir nas decisões nacionais. Mas, não nos prova nem isenta dos nossos erros e capacidades; esses deveres têm de ser exercidos com lealdade e na hora oportuna, que é esta.

Houve uma “eleição para a qual o povo não deu poderes a ninguém.” Tem o povo o direito de saber o que pretendem fazer à sua custa os que se arvoram em tutores do Brasil.

Não nos encontramos para o conformismo nem muito menos para a adesão, como fazem alguns que serviram conosco ou se serviram de nós, mas se ajuntam à usurpação e colaboram com a impostura sem olhar coerência e, sim, apenas conveniência.

Numa hora de evasivas, trazemos uma afirmação. Numa hora de pretextos, trazemos motivação. Numa hora de violência, trazemos uma palavra de paz. Não uma paz imposta, mas uma paz consciente e livre.

Não fazemos a apologia do passado. Nem crítica, nem autocrítica. Apenas ressaltamos que havia um esforço constante de aperfeiçoamento do tempo. Esse esforço recebeu a contribuição menor ou maior, no governo ou na oposição, dos signatários e de milhões de brasileiros. Hoje, essa conquista, renegada por alguns, é negada a todos. Depende do capricho de um e do arbítrio de alguns que tal capricho guiam, ao sabor de suas conveniências e peculiares interesses. Preocupa-nos, nos erros do presente, o comprometimento do futuro do Brasil. Renegar o esforço, já incorporado ao patrimônio do povo, de tantos anos de exemplos e lutas, é deixar no país a ferida aberta às infecções totalitárias. Essa tristeza, essa desalentada postura em que ele se encontra, não é senão a véspera do desespero, que leva a tudo. Já o protesto da mocidade brutalmente sufocada é a evidência da inevitável reação do povo.

A eleição foi suprimida e, no entanto, era cada vez mais autêntica. Interrompê-la, agora, é um crime contra a eficácia do processo democrático em que erram os ditadores, os seus erros inevitáveis, mas os corrige pelo próprio uso dos instrumentos da democracia. Os ditadores raramente acertam onde o povo erra. E, quando erram os ditadores, o seu erro quem paga é o povo.

Havia, e urge reacendê-lo, um impulso de fé e confiança do povo em suas próprias forças. Governar deve ser animar. Hoje, é deprimir. Governar deve ser mobilizar entusiasmos e capacidade. Hoje, é desconfiar e improvisar. Havia um certo otimismo criador sem o qual as nações se confessam de antemão vencidas. Esse otimismo precisa ser restaurado. Para isto é preciso substituir no poder os que desprezam o povo porque, não conseguindo inspirar confiança, são pessimistas, sistemáticos.

A crise de confiança em nome da qual se derrubou um governo, suspeitado de pôr em perigo as eleições, tornou-se uma trágica realidade sob o atual governo, que acabou com as eleições. Como pode o povo confiar em quem nele não confia e, para não lhe dar vez, tomou-lhe o lugar?
Revolução autêntica teria sido aquela que desse, há de ser aquela que dê ao povo maior participação, e não menor, nas decisões que marcam o seu destino.

O povo não quer o que lhe dão, ou seja, um governo subserviente a decisões tomadas no exterior, hostil ao povo e temeroso do seu julgamento, usando abusivamente as armas da segurança nacional para coagi-lo e imobilizá-lo, implantando a insegurança, a descrença e a ansiedade em todas as classes e em todos os lares.

As desculpas para um regime antidemocrático estão esgotadas. O Brasil repele tutelas e curatelas.

Não há quem não estranhe que se pretenda converter o Brasil em arena para um prélio de oportunistas em busca de supremacia pessoal. Entre o messianismo teleguiado de uns e as evasivas táticas de outros, impõe-se o dever de falar e, com clareza, assumir compromissos e responsabilidades perante o único senhor deste país, que é o seu povo. As próprias decisões da política econômica, em cujo nome tantos crimes se cometem, exigem, para serem eficazes, essa garantia. Pois, como pode a opinião pública, nacional e internacional, confirmar o que desconhece, acreditar no que não se afirma, conhecer o que deliberadamente se pretende ocultar?

Por tudo isso é que nos decidimos a traduzir as exigências do povo brasileiro. A ele devemos gratidão e fidelidade. Aos trabalhadores esmagados pela reação, que os expulsou da comunidade como se fossem párias. Foi-lhes negado voz para protestar e voto para decidir. São oprimidos pelo desemprego, pela perda crescente do seu poder aquisitivo, pelo congelamento dos salários, pela instabilidade que agrava a injustiça. Aos trabalhadores declaramos a nossa disposição de realizar essa união para defender o seu direito de existir e de aspirar a melhores condições de vida.

Aos estudantes, para os quais a escola continua a ser escassa, nega-se até o direito de se manifestarem – nessa nação de jovens – com o entusiasmo e o altruísmo da juventude. Aos moços, declaramos o nosso propósito de, juntos, lutarmos para que eles tenham a oportunidade de influir e, participando, preparar-se para tomar conta do que é seu.

Às mulheres, lembramos que os sentimentos religiosos foram explora- dos pelos que se atiram hoje contra a Igreja, à qual os usurpadores pretendem negar o cumprimento do dever de exprimir o protesto dos injustiçados e dar voz aos que foram silenciados.

A elas e, em geral, à família brasileira, declaramos que a nossa aliança visa à garantia da paz dos povos livres, a paz dos povos confiantes, a grande paz generosa dos povos que deliberam e decidem, diferente da paz do medo, a paz das emboscadas e dos sofismas, a paz dos artifícios legais para destruir a legalidade, a falsa paz dos golpes retrógrados e das revoluções sem programa.

Às classes médias, que se ampliavam e precisam crescer, como elemento e sintoma de equilíbrio e prosperidade numa sociedade democrática, hoje esmagadas e marginalizadas, lançamos esta palavra de convocação e união.

Os empresários, os quadros. dirigentes da administração pública e privada, os que dispõem de recursos para investir e tentam formar a poupança para acelerar a formação do capital nacional são menosprezados, mantidos em suspeita, tratados como se alguns ocupantes do poder tivessem o monopólio da integridade e da competência. Aos que criam a riqueza negam tudo, a começar pelo crédito. Mas tudo se concede a quem, vindo de fora, compra o que os brasileiros já não podem manter ou já não se animam a fazer; e, a título de assessorar os instrumentos dessa ocupação branca, dirigem a nação.

Quanto mais se improvisa mais se mente ao país, que só pela verdade terá salvação.

É a longa experiência, contraditória e sofrida desses brasileiros todos, de todas as classes e setores, que nós reclamamos seja ouvida e respeitada. Incluímos, naturalmente, os militares, cuja tradição democrática não permite que apoiem a usurpação dos direitos do povo. O conceito moderno de segurança nacional inclui as Forças Armadas como participantes ativas do desenvolvimento econômico, pelo aproveitamento econômico, pelo aproveitamento de seus quadros em tempo de paz. Nem isso fez o governo, no entanto chefiado por um militar que promove o divórcio entre o povo civil e militar. O regime vigente que só se define pela negativa, dizendo-se “anti-subversivo” e “anticorrupto” é antidemocrático e antinacional. Pelo arbítrio, subverte e, pela coação, corrompe.

O espírito retrógrado, a política anacrônica, a subserviência a decisões estranhas ao interesse nacional, a mentalidade reacionária não são a defesa adequada contra o que a maioria repele. Muito menos num país cujo ímpeto é progredir sem prevenções nem subordinações espúrias.

Impor-se ao povo pela força é convencer o povo de que só pela força ele pode recuperar os direitos que lhe foram arrebatados. Não é possível que a força armada seja o único instrumento de constituição e funcionamento de um governo. Não se pode aceitar que oitenta milhões de criaturas sejam dirigidas pela coação e pela intimidação. Se o “vácuo político” é que deu ensejo à ocupação do poder pelas armas, é templo de unir o povo – todo o povo, civil e militar -, para acabar com essa anomalia e colocar o Brasil no caminho da democracia. Revolução não quer dizer “recuo” nem “deformação”, quer dizer transformação”.

A nossa voz é de protesto e advertência em favor de uma saída democrática para o Brasil – enquanto é tempo. Não queremos a volta ao passado. O que nos move não é a nostalgia nem a vendeta.

Queremos para o Brasil sempre o melhor. Por isto mesmo é que as vozes que lhe deram o exemplo de sua capacidade de luta e afirmação, até os extremos da desunião, unem-se agora para dizer aos brasileiros que é tempo de acabar com a impostura dos falsos salvadores da Pátria da Democracia.

Porque o nosso pronunciamento é de união do povo, por convicção e não pela ambição pessoal ou mero oportunismo, cada palavra que escrevemos é medida e visa a exprimir a realidade sentida e vivida pelo nosso povo.

Tudo o que nos separou e pode ainda distinguir aspectos peculiares de nossas convicções, modos de ser e agir, cede ao que é mais profundo e per- manente em cada brasileiro, o mesmo sentimento da pátria e o mesmo dever para com o povo que governamos e continuamos a representar.
Reclamamos para o Brasil a instalação de um regime democrático que considere as transformações do mundo atual e seja fiel às peculiaridades nacionais, de forma a permitir a real participação política de todos os setores do povo.

É necessário convocar, a curto prazo, eleições livres pelo voto secreto e direto.
Exigimos respeito às garantias jurídicas e aos direitos individuais. Sobretudo, proteção à pessoa humana, livre de toda coação senão a da lei livre mente elaborada e sancionada por representantes livremente eleitos pelo povo.

Consideramos indispensável uma reforma dos partidos e das instituições, para que representem, de fato e de direito, os interesses do povo e não sejam mecanismos frios, vazios de conteúdo, impostos por tutores e não propostos por líderes democráticos. Será o único meio de contar a nação com instituições e partidos autênticos, capazes de não serem empolgados por minorias sociais, grupos financeiros ou forças internacionais.

Afirmamos que a política econômica deve ser inequivocamente ditada só pelo interesse nacional. Nem política “de choques”, nem “gradualista”. Estas partem de uma noção falsa, a de que o maior, senão único problema é “salvar” a moeda. Depois do malogro dessa política continuam a insistir na tônica errada como se o erro fosse apenas de aplicação e não de concepção. O que está errado é confundir com inflação os investimentos e despesas indispensáveis à aceleração do desenvolvimento – sem a qual o país passa da pobreza à miséria, com todas as suas conseqüências. Perdendo a nação, não se salva nem a moeda. Não adianta, pois, tentar salvar a moeda condenando a nação à estagnação e o povo ao desespero.

O desenvolvimento econômico é o objetivo central da política que propomos. Não tem cabimento adotar fórmulas rígidas concebidas para países ricos e impostas a países que ainda não enriqueceram. A política econômica para o Brasil tem de visar à expansão do mercado interno, melhores salários para aumentar a capacidade de consumo e incorporação dos setores rurais marginalizados do processo econômico.

A ajuda estrangeira não pode continuar a ser a panacéia, com que nos acenam como pretexto para reduzir a capacidade de consumo e a expansão econômica brasileira dentro de suas próprias fronteiras.

Internamente, não se trata de apelar para os ricos nem se queixar porque não dão esmola bastante aos pobres, e sim dar apoio afetivo à criação da riqueza nacional. Isso se consegue pela defesa intransigente dos preços dos produtos que exportamos, pela prioridade nos investimentos e, sobretudo, pela necessidade de fazê-los a curto, médio e longo prazo, segundo prioridade e metas devidamente programadas.

Não advogamos a causa da inflação. Essa é crônica e não tem nem precisa ter dia marcado para acabar. Se não foi extinta com a política do desenvolvimento também não o foi nem será com a política da estagnação.

Nenhum país ainda pobre resolveu seus problemas com a política imposta pelo FMI. Ao contrário. Seus resultados, no Brasil, em dois anos e sete meses, são: desestímulo, desorientação, desemprego, decadência, desordem e desespero.

Aos ricos promete-se, agora, que ficarão mais ricos. Mas ao mesmo tempo são ameaçados de novas taxações. Pois o regime que prometeu estímulo à iniciativa privada declarou guerra ao lucro.

Enquanto isso, os pobres já não têm o que comer e os remediados se empobrecem. Só o Estado, pela arrecadação dos impostos, enriquece. E ainda assim apenas na aparência. O “equilíbrio” orçamentário não inclui o indispensável aumento dos vencimentos civis e militares, o que basta para mostrar a falsidade. O “saldo” de divisas é apenas o resultado da “falta” de importações por estagnação econômica.

A obsessão de “primeiro arrumar a casa” financeiramente leva a destruí la economicamente. Não é por meras evasivas que se pode contornar a necessidade de uma definição que exige audácia, confiança e o indispensável apoio popular.

A política econômica a seguir deve basear-se nos recursos nacionais. A contribuição estrangeira deve ser condicionada à sua utilidade real e não às margens da “ajuda” de fora.

O atual governo descapitaliza as forças da produção, contém salários enquanto os preços disparam, nega o crédito e aumenta o custo do dinheiro. É mais certo sacar sobre o futuro numa nação que tem futuro, do que entregá-lo ao domínio de interesses estranhos aos que trabalham e vivem no Brasil.

O tamanho, as dimensões, a diversidade do país impõem a descentralização das aplicações da política econômica. Urge promover autonomia de iniciativa, mantendo-se a ação federal num número estrito, mas indispensável, de atividades decisivas na promoção do desenvolvimento. Para eliminar os focos da inflação crônica é preciso retomar, com as lições da experiência, um esforço intenso de modernização do país e conquista de eficiência econômica.

A elaboração de um programa assim concebido, que está na consciência de todos, deve concluir pela formação e aplicação de um Projeto Brasileiro. Este deve ter um sentido de confiança, abandonando corajosamente os erros e com igual coragem aproveitando o que há de válido nas experiências anteriores.

A tarefa a realizar no programa econômico, do qual o financeiro é mero complemento, só será exeqüível se com ela se comprometerem governos, empresários, trabalhadores, militares, o povo inteiro, em verdadeiro movimento político de mobilização nacional. Todo esforço nacional externa e internamente deve concentrar-se nesse programa.

Urge repor o processo de desenvolvimento brasileiro em termos de confiança no esforço nacional, na expansão do mercado interno, na mobilização do povo brasileiro para aumentar a produção e melhorar a produtividade. Os investimentos reprodutivos,, quer financeiros quer sociais, não devem ser retardados. Ao contrário, acelerados, só assim se poderá reabsorver o excesso de moeda emitida com acréscimo de riqueza produzida.

É preciso, portanto, que a política econômica seja lastreada pelo apoio popular. Este não pode ser mobilizado pelos que desconfiam do povo e o temem a ponto de marginalizá-lo do processo político.

Afirmamos a necessidade de adotar uma política externa que exclua o Brasil, expressamente, de participação em qualquer bloco político-militar.

Acreditamos que o Brasil, nação emergente, mas que já começa a pesar na balança do poder mundial, não pode ser mero apêndice de quaisquer blocos políticos-militares.

O único compromisso do Brasil deve ser com a preservação da raça humana, sem discriminação racial sob pretexto nenhum e sem paternalismos de nações sobre nações, e com o desenvolvimento econômico, social e cultural de cada um e de todos os povos.

Afirmamos a necessidade de rever e atualizar o conceito de segurança nacional, de modo a que as Forças Armadas participem desse esforço. Insistimos na necessidade de formular uma doutrina militar própria do Brasil, atualizada em relação às suas tarefas em tempo de paz, visando ao bem-estar do povo e pleno exercício da soberania nacional.

Reivindicamos a discussão, a proposição de uma política de reformas nas estruturas sociais e econômicas que retardam a aceleração do progresso nacional e a ascensão das forças do trabalho. Esta deve ser a tônica de uma política de paz e reforma democrática para acelerar o desenvolvimento. O Brasil precisa recuperar-se do atraso que lhe vem sendo imposto por pretextos e manobras que não conseguem esconder seu fundo obscurantista.

Tais reformas devem atender a quatro imperativos. O da justiça, no plano social. O da produtividade, no plano econômico. O da consolidação da soberania, no plano nacional. O da unidade básica do povo, para assegurar o fortalecimento da regra democrática: o livre debate, a predominância da maioria, o respeito às minorias e ao seu direito de se transformar em maioria, a convivência dos contrários.
Essas reformas devem ser examinas com objetividade e franqueza, sem preconceitos nem sectarismos.

Queremos soluções práticas, ajustadas às tradições e às aspirações nacionais. Damos especial ênfase à reforma administrativa, na qual se impõe uma política de preparação de quadros capaz de garantir a execução harmônica e coerente das grandes etapas do crescimento nacional.

Reivindicamos o debate, proposição e aplicação de uma política de educação e ensino que atenda, também, a esses critérios; consagre a síntese entre a tradição cristã e a humanista e dê prioridade à revolução tecnológica, a fim de que o Brasil possa acelerar o passo. O atraso tecnológico de uma nação como o Brasil aumenta os riscos do desaparecimento da soberania nacional e põe em perigo, por isto mesmo, a paz mundial; pois uma nação não se submete sem luta; e a luta, nesse caso inevitável, seria o começo de uma conflagração continental.

Não pode o Brasil conformar-se com o papel de satélite tecnológico. É parte essencial da luta pelo desenvolvimento o esforço pela atualização da ciência no Brasil.

Queremos que a nação reúna a experiência dos conservadores, a prudência dos moderadores, a esperança dos inconformados, a audácia dos reformadores. Tudo isso unido pela aspiração comum de “democratização” e “afirmação nacional” do Brasil. Só assim se poderá recuperar o tempo perdido e dar agora, em poucos anos de esforço, paciência e fé, o grande salto sobre o atraso que atormenta os brasileiros.

Depois de tantas lutas malogradas, de tantos sacrifícios e tantos êxitos desperdiçados, só um gesto de grandeza, capaz de superar nossas fraquezas e deficiências, será capaz de guiar o povo para encontrar o seu caminho fora do labirinto de silêncio, intrigas e pretextos em que a nação se perdeu.

Se para a recomendação e adoção de tais diretrizes o simples amor ao Brasil é capaz de inspirar este entendimento entre adversários, de prodígios bem maiores será capaz o povo mobilizado e organizado, uma vez recuperada a esperança que perdeu.

Com esse entendimento procuramos dar exemplos de grandeza. Possa o sentimento de dever com a pátria inspirar todos os brasileiros para que juntos consigamos o que separados não poderíamos fazer.

Pela união popular para libertar, democratizar, modernizar e desenvolver o Brasil!”

Em 19 de novembro de 1966, Lacerda e Kubitschek emitiram a Declaração de Lisboa.

Deste encontro, registrou-se uma passagem que dá uma idéia da inteligência de Lacerda, ao mesmo tempo que do seu oportunismo político. Ele, que combatera os Governos democráticos na esperança de vir a ser o escolhido pelos militares para comandar o país, via-se, crescentemente discriminado. Não havia sido, ainda, cassado, mas estava na mira dos setores radicais em ascenção depois da posse de Costa e Silva. A Frente Ampla era um instrumento decisivo para que ele se credenciasse, novamente, à vida política do país. Juscelino aceitou encontrá-lo onde vivia, em Lisboa, virtualmente expulso do país. Mas, constrangido, não escondia dissabores com Lacerda. Vendo-o entrar na sala, JK mostrava-se reticente. Temia ser usado por Lacerda. Este, porém, astutamente, lhe desarma, arrancando-lhe um sorriso preliminar à declaração conjunta que emitem :

– “Presidente, um povo não tem porque viver sob a ditadura só porque , algum dia, dois de seus maiores líderes se desentenderam…”

Feito o entendimento com  JK , o que lhe granjeou o apoio de grande parte de parlamentares ligados ao antigo PSD, ora em vias de se transformar no embrião do MDB, Lacerda vai à conquista do apoio de Goulart, o que obtém no final de 68.

Os contatos com Goulart, mantidos através do deputado Osvaldo Lima Filho e de José Gomes Talarico, evoluíam. No final de setembro, mais de dez meses depois da Declaração de Lisboa, Lacerda firmou em Montevidéu uma nota conjunta com Goulart, na qual a Frente Ampla era caracterizada como um “instrumento capaz de atender… ao anseio popular pela restauração das liberdades públicas e individuais”.

(Lacerda, cit)

Mas teria pouco tempo de vida e pífios resultados. A Frente Ampla morreria no 05 de abril de 1968, mas inspiraria Carlos Heitor Cony, décadas depois , a escrever um livro: “O beijo da morte” , que conquistaria o o segundo lugar na categoria Reportagem e Biografia do Prêmio Jabuti 2004.

OS CRIMES DOS GENERAIS
O livro “O Beijo da Morte” dos autores Carlos Heitor Cony e Anna Lee, é um romance-reportagem que trata de mortes misteriosas de grandes políticos brasileiros e até mesmo latino-americanos, entre os quais entre as quais JK, Jango e Lacerda. Segundo os autores, historiadores, estes políticos teriam sido vítimas de conspiração política internacional. De qualquer modo tais fatos ainda estão obscurecidos por falta de dados concretos verificáveis juridicamente. Enfim, quais são as reais circunstâncias em que morreram estes três grandes nomes, Juscelino Kubitschek, João Goulart e Carlos Lacerda? O livro é uma excelente reportagem. Ambos os repórteres são muito respeitados como jornalistas e como historiadores o que ajuda a crer que tais circunstâncias podem muito bem ser dignas igualmente de credibilidade. Esta, portanto, pode superar em muito a ficção a que se lhe atribui. Como explica Cony, “Apesar das provas existentes, que dão como natural a morte dos três líderes, sempre duvidei das conclusões oficiais, e não apenas nesse assunto, mas na história em geral, que é uma sucessão de casos obscuros e mal resolvidos.” Cony e Anna entrevistaram dezenas de pessoas, no Rio, em São Paulo, Brasília, Porto Alegre e Montevidéu. Examinaram habbeas-data e prontuários médicos. Além de textos de Cony que foram resultados de sua investigação que se iniciaram em 1976. O livro possui anexos com valor documental onde é pedida a exumação do corpo de Jango para verificar a suspeita de envenenamento, suspeita dominante hoje, e um outro documento super revelador, mediante ao que se criou o grande movimento Frente Ampla, radicalmente contrário aos “desejos” norte-americanos para manter aqui a sua hegemonia, não só no Brasil, mas nos outros Uruguai, Argentina e Paraguai naqueles anos finais da década de 60.

(. Carlos Heitor Cony E Anna Lee. O Beijo Da Morte. Rio: Editora Objetiva, 2003, 288 os

2008 –  Fonte:http://pt.shvoong.com/books/1762809-beijo-da-morte/#ixzz2PbSH8xh6 )

A Frente Ampla, pois, foi um último e sospechoso suspiro para equacionar o retorno à democracia mutilada em 1964 por meios “diplomáticos”. Frustrada, ficou condenada ao esquecimento. Já não é notícia. Mas teve uma importância muito grande, na sua época, merecendo  maiores estudos . De qualquer forma, é interessante, como salienta Cony, que oito anos depois, seus principais protagonistas – Lacerda, JK e Jango – , justo quando se anunciava a reabertura no país,  estivessem mortos, dois deles, pelo menos, em circunstâncias estranhas. Talvez porque, naquela conjuntura, pudessem ter dado à dita redemocratização não só um outro ritmo, mas também, um outro caráter.

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O fim das mucamas não é o fim do servilismo

A recente extensão dos direitos trabalhistas aos trabalhadores domésticos tem se revelado

um momento importante para se pensar a natureza da modernização no Brasil. Ontem,a
Presidente Dilma sancionou a nova Lei, que, com atraso de 70 anos se incorpora aos benefício
da CLT, outorgada por Vargas em 1943. Doravante, todos, trabalhadores, teremos direitos
iguais, embora com remunerações diferentes segunda o gênero, a cor, a região e o setor .
Contudo, diante da medida, os últimos vestígios do escravismo na sociedade brasileira, vão
desaparecendo. A Casa Grande urbana terá que se despedir de um luxo que abundou na
Roma Antiga e que , na se prolongou, sobre as ruínas do Império , no mundo senhorial dos
castelos medievais. No advento da modernidade, Seculos XVIe XVII ainda podemos ver os
resquícios deste servilismo em obras memoráveis, como o quadro de Vermeer , levado ao
cinema num dos mais belos filmes de todos os tempos : “A Moça do Brinco de Pérolas “. Mas
o fenômeno nunca se generalizou, como aqui, na classe média. O quadro assinala, aliás, uma
reviravolta na arte, que ali antecipa as mudanças sociais vindouras. O pintor pousa sua arte na
imagem de uma empregada doméstica , algo impensável até ali, até porque os artistas viviam
às expensas das classes altas e mecenas que jamais admitiram tamanho acinte. Imortalizou-se
neste gesto.
A moça do brinco de pérolas – Vermeer – Holanda, XVI
No Brasil um pintor , de São Paulo, também pousou sua atenção nestas mulheres: André
Penteado. E advertiu:
“Nós, a elite deste país, temos de aprender a ver e respeitar os outros como iguais.”
Uma das vertentes de meu trabalho lida com questões sociopolíticas do Brasil como corrupção e relações entre
classes sociais. Interessam-me as tensões e contradições entre discurso e prática, geradas em momentos de
transformação de estruturas historicamente estabelecidas.
A instalação “Domésticas” pretende discutir questões como a posição social e a imagem das domésticas e a forma
com que as classes altas estão lidando com a possibilidade de perda deste “conforto”.
http://www.andrepenteado.com/index.php?/brazilianmaids/portraits/
Nos Estados Unidos, já no Pós- Guerra , o serviço doméstico começava a desaparecer. Uma
intensa revolução nos utensílios , com a proliferação de uma infinidade de eletrodomésticos
facilitou as difíceis tarefas do lar. E uma mudança nos padrões comportamentais da família
levou à maior cooperação de todos os seus membros nestas tarefas. Hoje, só o famoso 1%
mais rico persiste com esse luxo…Mas, no Brasil, os serviços domésticos, ainda que
estigmatizados, persistiram, mesmo com a metropolização acelerada, sendo este contingente
na sua imensa maioria mulheres e em mais de 50% negras. Pior: a idade média destas
prestadoras de sérvios domésticos está aumentando. Elas estão envelhecendo. Em 1970 a
maioria tinha até 24 anos (60,5% ), agora estão concentrados entre 25 a 44 anos (55,8%),
segundo dados do IBGE. “Isso mostra que as jovens podem estar se escolarizando para não
entrar nessa profissão”, afirma Natália Fontoura, do Ipea com o que está de acordo autor do
livro , o sociólogo Ruy Braga , professor da USP (A Política do Precariado) , para quem boa
parte das operadoras de telemarketing é filha de domésticas. Esse seria um dos traços mesmo
da modernização conservadora no Brasil.
O Brasil é o país com o maior número de empregados domésticos no mundo, segundo a
Organização Internacional do Trabalho (OIT). Eram ao menos 7,2 milhões em 2010, enquanto,
em 1995, havia 5,1 milhões, mais de 95% deles mulheres. No mundo, o número de empregadas
também cresceu, mas nada se compara ao boom de 41% no Brasil. Hoje, de cada seis mulheres
que trabalham no País, uma é doméstica. A expansão foi seguida pela alta de 47% nos salários,
impacto causado pelo aumento do mínimo nos anos Lula.
Mas no Brasil, a chiadeira da alta classe média está grande contra os novos direitos dos
empregados domésticos: jardineiros, caseiros, motoristas, babás e cozinheiras. Náo obstante,
como lembra Adriano Benayon em recente comentário – http://www.desenvolvimentistas.com.br – ,
o Governo pouco se importa com ela, pois há tempo já não conta com seus votos. Prefere os
votos das grandes massas que nunca tiveram empegada doméstica, aí incluídos os recém
chegados à classe C, graças à elevação do salário médio na útlima década. E nem se
preocuparam em esperar o Dia 27 de abril próximo, dia de Santa Zita, padroeira das
empregadas e de todas as que dedicam a cuidar do lar. A corrida presidencial urge…
Tudo começou com Zita. Nascida na Itália em 1218, começou a trabalhar como empregada
doméstica aos doze anos. Com uma história muito semelhante à de Cida, ela também sofria na
mão dos patrões ricos, que pagavam muito pouco pelo seu serviço. Tudo que ganhava, ela
doava aos necessitados. Depois de uma vida dedicada aos pobres, ela morreu em 27 de abril de
1278 e foi canonizada em 1696.
Mais tarde, santa Zita foi proclamada a padroeira das empregadas domésticas. É no dia
dedicado à santa que se comemora também o trabalho daquelas que cuidam da casa dos outros
como se fosse o próprio lar.
Esta “sinistra” classe média, como a definiu recentemente Marilena Chauy – A SINISTRA CLASSE MÉDIA NO
BRASIL http://davissenafilho.blogspot.com.br/2012/09/marilena-chaui-classe-media-paulistana.html -, que agora reclama o fim das suas
mordomias a baixo preço, sempre foi um apêndice das oligarquias proprietárias e dela copiou,
mimeticamente, a cultura da prepotência social, o bovarismo, e o apetite pelos altos padrões
de consumo, dentre os quais os prazeres internacionais. Muitas vezes, até aprendem ,lá fora,
o sabor de viver uma vida menos suntuosa, como salientou recentemente uma crônica de
Adriana Setti, na Época. –
http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7/2010/10/30/como-a-classe-media-altabrasileira-
e-escrava-do-alto-padrao-dos-superfluos/ E passam a conhecer o sentido mais
profundo da democracia como construção da igualdade. Aqui, porém, fechados nas suas
torres de privilégios, custam a se ajustar aos Tempos Modernos e , mesmo dizendo-se sem
preconceitos, abusam nos papos do Face na adjetivação de seus empregados domésticos,
sempre (dês)qualificados como safados e preguiçosos.
Sempre procurei compreender a origem deste elitismo da alta classe média.
Uma das hipóteses que desenvolvi, quando ainda era Professor de História do Brasil, na
Universidade de Brasilia, era da assimetria do processo de modernização entre os Estados
Unidos e Brasil.
Lá, a classe média é , desde sua origem, mais homogênea, bem maior do que a nossa e
laboriosa .Sua formação não vem apenas do tipo de Colonia de Povoamento, proprietária, que
viria a formar a sociedade americana, mas no fato de que , enquanto aqui, fechávamos o
acesso à fronteira agrícola com a Lei de Terras, em 1850, lá, com o Homestead Act , na mesma
época , o Governo a liberava, abrindo a corrida para o oeste. Aprendi muito sobre isso com os
livros do Otavio Guilherme Velho, a quem devo muito. Mas houve outro fator decisivo, na
diferenciação. Nos EU, os yanques – do norte – destruíram, com a Guerra Civil, as aspirações
hegemônicas do sul escravocrata. Com isso o modelo democratizante de acesso à terra corouse
de êxito no plano político. No Brasil, ao contrário, nunca conseguimos desorganizar o
regime de monopólio da terra, consagrado pelo que Caio Prado Jr. gostava de denominar
MATRIZ COLONIAL . Nenhuma de nossas Revoluções Regionais de meados do Sec. XIX
conseguiu abalar o regime escravista que acabou se perpetuando na República Oligarca e
teima em manter privilégios no regime do “Coronelismo, Enxada e Voto” até hoje.
Rigorosamente, costumo dizer que o Brasil de hoje, tirando o vertiginoso crescimento da
população no Sec. XX, de 13 para 180 milhões, agora concentrado nas grandes metrópoles,
não mudou social e politicamente muito. Continuamos sendo uma sociedade em que sequer
um por centro controla a propriedade e mais da metade da renda gerada no país, uma fração
de 30% de classe média superior e o resto, literalmente, mesmo que em processo de
diferenciação no período recente, é pobre. Metade desses pobres continuam miseráveis,
engrossando a degradação subhumana nas áreas marginais das capitais. Tal como sempre …
Contudo, é alvissareira a criação e extensáo de benefícios legais aos assalariados. Este é o
caminho que outrora Fernando Henrique Cardoso chamava de ruptura pactuada. Vamos levar
décadas até chegarmos a um patamar civilizatório aceitável. Mas consola verificar que
estamos caminhando. A passos lentos , mas estamos…
De 1979 a 2009, o emprego com carteira assinada entre trabalhadores domésticos cresceu, em
média, 0,8% ao ano. “Se seguir esse ritmo, o Brasil levará 120 anos para incluir todos na
proteção social e trabalhista”, afirma o economista Marcio Pochmann, ex-presidente do Ipea.
Além do ritmo “milenar” da incorporação das classes desfavorecidas, ainda há outro aspecto a
considerar. Com a regulamentação dos serviços domésticos, sem a ruptura com a cultura
conservadora do servilismo, ele acaba invadindo outros segmentos da vida social gerando novas
formas de trabalho subalterno e precário. É o caso da generalização dos serviços de consultoria
pessoal em distintas áreas, que vão do fitting ao footing , este último de serviços de
acompanhamentos à compras e outros tipos de servilismo, extendendo-se ao império dos valets
em vários campos, mas sobretudo de manobristas. Enfim, num mundo marcado pela extrema
pobreza e pela desigualdade, há empregados “externos” para satisfazer todos os gostos, senão
perversidades, muitas banalizadas: Um post que recebi na INTERNET falando das excelências
da cidade, não se peja, ao final, de exaltar o fato de que a cidade dispões de 300 mil “garotas de
programa”…
Na metrópole que sonha em se transformar em uma meca do luxo digna da alcunha, sua
elite se defronta com a banalização do servilismo Mas não são apenas os valets de carro que
colorem a paisagem do servilismo brasileiro. Há valets para cães (passeadores de cachorro) e
para bebês (babás universitárias), além do “valet shopping”, ou “personal shopper”, que dá dicas
de compra e bajula enquanto segura as sacolas do amo. O que está por trás dessa fixação por
servidão 24 horas é a desigualdade.
Em outros casos, porém, a “valetização” que substitui os serviços domésticos se sofistica
profissionalmente e assegura , pelo menos, remunerações mais razoáveis a seus profissionais,
muitos deles, hoje, com formação superior. Consola-os o fato de que a precarização não é um
fenômeno exclusivo deles. Está disseminada na sociedade contemporânea. Na Alemanha, está
na raiz do seu atual milagre econômico. Em setores nobres, como da Ciência, principalmente
no Brasil, todo mundo vive de bolsas e projetos. Foi-se o tempo do trabalho estável. Instaurouse
em todos os campos da vida social o império da precariedade. Ttudo que era sólido, foi-se
pelos ares…Até os empregos. Domésticos e Não Domésticos.
Porto Alegre, 03 de abril 2013

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Morre Mauro Borges, 93 , Ex Governador de Goiás,
um amigo de Brizola e do Rio Grande.

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Morreu na manhã desta sexta-feira , dia 29 de março (2013) em um hospital de Goiânia, o exgovernador
de Goiás, Mauro Borges Teixeira, aos 93 anos de idade, depois de longos anos com a
saúde abalada.
Mauro Borges -Rio Verde, 15 de fevereiro de 1920 — Goiânia, 29 de março de 2013) –
Mauro foi sempre um grande amigo e admirador do Rio Grande do Sul, para onde veio no início
dos anos 40 , como jovem oficial do Exército, vindo a se casar em Santa Maria com D. Lourdes
Estivallet , no ano de 1944. Tinha grandes afinidades políticas Vargas e Brizola, a quem
acompanhou na Campanha da Legalidade, como Governador de Goiás . À época transformou o
Palácio das Esmeraldas num centro de resistência democrática a favor da posse da Jango, sob as
ondas da Rádio Brasil Central , tal como Brizola fazia aqui no Rio Grande. Isto lhe custou caro em
1964, aos olhos dos militares golpistas do 31 de março de 1964 . Estes não descansaram
enquanto não o depuseram militarmente no dia 28 de novembro.
Campanha da Legalidade (1961)
Participou ativamente da Campanha da Legalidade, juntamente com o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola.
Pelo apoio prestado aos legalistas recebeu o título de cidadão gaúcho, após a posse de João Goulart.
O movimento tinha por fim defender a posse do vice-presidente João Goulart, tendo em vista a renúncia do então
presidente, Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961. Alguns militares de alta patente e parte da sociedade brasileira era
contra a posse de Jango por considerá-lo aliado dos comunistas. Na ocasião da renúncia de Jânio, o seu vice estava em
visita oficial à China, país comunista, fato que reforçou a tese dos favoráveis ao golpe.
O apoio de Mauro Boges chegou a transformar o Palácio das Esmeraldas, sede do governo estadual, em um quartelgeneral
dos legalistas, utilizando a Rádio Brasil Centralcomo difusora do movimento, na chamada rede da legalidade. Tal
posicionamento criou atritos com as Forças Armadas, que mandou aviões da FAB sobrevoarem a capital goiana como
forma de intimidação, a ameaça da invasão de Goiânia pelos militares chegou a causar pavor na população goianiense,
tendo o governador cogitado armar a mesma para resistir.
A deposição de Mauro Borges em 1964 evoca uma curiosidade política daquele Estado, no qual
vivi durante mais de uma década e no qual, inclusive vim a ser candidato ao Governo, pelo PDT, a
pedido de Brizola, em 1982.
Mauro e Brizola eram muito alinhados políticamente embora jamais no mesmo Partido. Vvinham de
uma linhagem ideológica similiar: o positivismo , como inspiração para a construção do progresso
com soberania. Brizola era um herdeiro e afilhado de Vargas, que bebera na sua juventude da
fonte castilhista – Julio de Castilhos – radical.
Mauro era filho de Pedro Ludovico, um médico austero e progressista que fez, praticamente
sozinho, nos ermos goianos, a campanha da Revolução de 30. Vitoriosa a Revolução, tornou-se o
Interventor no Estado, contra a forte oposição da oligarquia agrária dominante. A tal ponto que se
viu forçado a transferir a capital do Estado – Goiás (Velho) – para a nova Goiânia, por ele
construída. Governou com mão de ferro na tentativa de modernizar uma sociedade balcanizada do
processo civilizatório brasileiro desde a decadência da mineração no final do Século XVIII , não
obstante o imenso talento de alguns políticos e intelectuais no Seculo XX. Pouco conhecemos,
aqui no sul, deste longínquo processo de germinação da brasilidade no Planalto Central, do qual só
viemos a ter notícia pelos belos romances de Bernardo Ellis e poemas de Godoy Garcia, ambos
presentes na Revista Província de São Pedro, da Editora Globo de Porto Alegre. Pedro Ludovico
foi um gigante no seu tempo. Mas, cauteloso, jamais se filiou ao PTB. Guardava lealdade
camoniana a Vargas, tendo sido o único Governador a lamentar realmente sua morte, em 1954.
Foi uma espécie de Borges de Medeiros, com a vantagem de que não teve que enfrentar
maragatos, esta curiosa e precoce decantação liberal do pampa. Em Goiás a Oposição era mais
brutal, preferindo as armas da tocaia, ao campo aberto do enfrentamento. Mas Ludovico
sobreviveu o suficiente para Governar seu Estado várias vezes entre 1930 e 1954. E , depois de
ungir seu filho Mauro, como sucessor, ainda nos anos 50, viveria até meados de 80. Longevo,
tanto quanto Mauro.
Mauro Borges começou sua carreira política com deputado federal em 1958 e já em 1960 elegiase
Governador de Goiás, cargo que ocupou até o 28 de novembro de 1964. Em 1966 seria preso,
no RS e teve os direitos políticos cassados. Com a anistia retornou à vida pública pelo PMDB,
elegendo-se Senador em 1982. Rompendo com Iris Rezende, o grande cacique peemedebista até
hoje no Estado e que havia sido o líder do seu Governo antes do Golpe, foi para p Partido
Democrata Cristão pelo qual cumpriria mais um mandato como Deputado Federal.
No Governo de Goiás, Mauro teve um estilo muito parecido ao de Brizola no Rio Grande do Sul, na
mesma época. Tentava dar continuidade à obra modernizadora do pai, ao tempo em que se alinhava
com as novas técnicas de administração com o o Planejamento e o uso intenso da Radiodifusão.
Mauro Borges foi eleito governador de Goiás pelo Partido Social Democrático (PSD). Sendo
militar com curso de Estado Maior do Exército, que é o MBA dos militares, tinha formação
necessária para criar um plano de Governo, o Plano MB (Mauro Borges), para auxiliá-lo
contratou uma equipe formada pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro. No seu governo
foi criada a Secretaria do Planejamento e anos mais tarde o Governo Federal criou o Ministério
do Planejamento e Orçamento.
Em seu governo foi montada uma administração ágil e operante, criou os concursos públicos,
onde os funcionários públicos eram contratados pelos seus méritos, esse foi um de seus grandes
feitos pois tudo funcionava e bem. Criou o Consórcio Rodoviário, um fundo de reservas
financeiras para viabilizar as construções de estradas, com isso viabilizou a construção de
11000km de estradas.
Mauro Borges integrou Goiás no cenário econômico nacional, promovendo o crescimento das
fronteiras econômicas por meio da retomada da Marcha para o Oeste e a implantação de
uma reforma agrária que teve como o modelo os kibutz de Israel, organizados a partir da
produção cooperativa.
Além do Plano MB, como era chamado seu projeto para integrar o estado no cenário econômico
nacional, Mauro Borges realizou também a conclusão do Aeroporto Santa Genoveva, da Usina
Rochedo, da Usina de Cachoeira Dourada e a ampliação e reestruturação da CELG.
O estilo ousado de Mauro na administração, característica que não se coadunava muito com seu
temperamento extremamente cordial e sempre sorridente, levou-o, porém, a entrar em atrito com
o Presidente Jango, logo depois de sua posse, encerrado o episódio da Legalidade. Não
conheço nenhum trabalho acadêmico sobre as razões dos fatos que acabaram em ruptura de
Mauro com Goulart e eu próprio, hoje lamento não lhe ter indagado pessoalmente. Afinal, tive
com ele bastante intimidade, graças, aliás, a outro velho companheiro, o Dr. Percival Bandeira.
E, como depoimento, relato.
Bandeira havia sido um dos homens de maior confiança pessoal de Jango e que, após o
Golpe, refugiara-se em Goiás, de onde era sua gentil esposa. Ele e Mauro, coevos, com as
respectivas senhoras, eram muito chegados. E , pelos insondáveis caminhos do destino, quando
o Doutor Brizola me determinou , em 1979, ir à Goiás, tratar da organização do PDT naquele
Estado, resulta que me deparei com o Dr. Bandeira. Era uma noite chuvosa do princípio de 1980
em Goiânia. Eu mal andava na cidade, que pouco conhecia. Morava, desde 1973 em Brasília e
ia , vez por outra àquela cidade por razões de ofício. Sem saber por onde começar minha
peregrinação, fiz uma chamada pelo Jornal Diário da Manhã, para os interessados em participar
da fundação do novo Partido – PDT – para que comparecessem à uma reunião na Câmara de
Vereadores. . Apareceram pouquíssimas pessoas. Lembro-me de um jornalista, Hélio Nascente,
de um sociólogo , Baylon Taveira, de um ex-deputado, residente em Anápolis, todos eles, aliás,
já contactados há uns meses antes e com os quais compareci, “em nome de Goiás”, à
memorável chegada do Brizola ao Brasil, por São Borja, em 1979. Ao fundo da sala percebi que
havia um Senhor, calado e triste, rosto vincado pelos anos e meio entrecurvado. Ao final da
reunião, ia eu saindo, um pouco frustrado pelo fracasso na convocação, quando ele se
aproximou, cauteloso mas firme e me disse: “Foi o Brizola que te mandou?” Respondi
afirmativamente. “Então vamos conversar…”. Pegou-me por um braço, entrei no seu carro, um
flamante LANDAU e fomos para o Hotel onde eu estava hospedado. Aí passamos grande parte
da noite conversando. E ele me contando sua vida de dedicação ao Presidente Jango, de quem
fora Oficial de Gabinete no Rio de Janeiro e a quem devotava verdadeira devoção. Durante a
conversa lágrimas escorriam do seu rosto e ele comovido, ao final, tendo verificado que eu
representava realmente o Doutor Brizola, como ele dizia, sentenciou: “Eu estou muito velho.
Ademais náo sou político. E diga-se de passagem tenho minhas restrições do Doutor Brizola.
Meu débito é com o Presidente Jango. Mas vou te ajudar nessa história. É muito difícil. Goiás
tem uma tradição do Pedro Ludovico , mas nunca teve cultura trabalhista. Esse tal de Iris, que já
se insinua como um grande líder e deverá Governador um dia, foi do PTB, chegou a Lider da
bancada Governista do Mauro, mas não vale nada. Náo tem ideologia… Mas vou te ajudar de
qualquer jeito. Pega tuas coisas e daqui por diante, tu vais morar – ele tinha , dizia que por
descendência de um tal Pinto Bandeira, um jeito meio gauchesco de falar- , quando estiveres em
Goiânia, na minha casa. Avise, sempre, quando estiver pra chegar. Te busco. E fico contigo o
tempo todo. Devo isto ao Jango…” Simplesmente comovente. Nunca mais vou me esquecer
daquela noite, depois da qual eu e o Bandeiro ficamos amigos inseparáveis até sua morte.
E assim foi…
Ficava eu na casa do Bandeira e de lá organizei o PDT em Goiás entre 1979 em 1982, tendo
afinal, que ser candidato ao Governo por absoluta falta de alguém que o topasse. E ali
encontrava frequentemente Dona Lourdes, arrastando um joguinho de cartas com outras
amigas, dentre as quais a esposa do Bandeira, e o próprio Mauro. Graças a isto, ganhei uma
grande proximidade com o casal, mesmo que náo houvesse identidade partidária. Mas me
tratavam com carinho e me prestigiavam. Mais ainda pelo fato de que eu havia sido professor de
um dos filhos deles, o Pedro, jovem extremamente preparado, no Instituto Rio Branco, entre
19778/78, também meu amigo, desde Brasília e que viera a se suicidar justo naqueles anos.
Conto tudo isto, a propósito, para lamentar não ter indagado ao Mauro as razões de sua rusga
com o Jango.
À falta deste depoimento valho-me dos rumores. Dizia-se, então, nos idos de 70-80 que Mauro
havia rompido com o Presidente lá pelos idos de 1962 por causa de Política Mineral. Mauro era
um ferrenho defensor dos ricos e abundantes minérios do solo goiano, para Goiás. Jango tinha
uma visão nacional e acabou entregando grande parte da mineração em Goias para o Grupo
Ermírio de Morais, satisfazendo os apetites do Senador José Ermírio de Morais, aliado do
Governo. A velha história da Base Aliada… A verdade é que Mauro náo gostou nem um pouco,
rompeu com Jango e uma ampla campanha anti-janguista foi deflagrada, “à esquerda”,
denunciando o Presidente como “entreguista”. Ou seja, Mauro Borges, com sua férrea
determinação em defender os interesses goianos , isolava-se da coalizaçao nacional do PTB.
Quando irrompeu o Golpe, em 1964, criou-se uma insólita situação, pois caía , justamente, o
Governo a quem Mauro denunciava…
Coisas do Brasil…
Durante muito tempo fiquei sem entender isto nas incontáveis reuniões que tive em todo o
Estado. Os goianos sempre se referiam ao Golpe do 28 de novembro e eu me perguntava: – Que
diabos, o que é isto…” Aos poucos, porém, fui entendendo a complexidade desta imensa trama
cultural e política que é o Brasil e compreendi que eles se referiam ao dia em que o General
Meira Matos , à frente das tropas, ocupou Goiania, cercou o Palácio das Esmeraldas e forçou a
queda deste grande brasileiro , entáo Governador MAURO BORGES, hoje falecido.
Depois das eleições de 1982 Mauro foi eleito Senador, víamo-nos às vezes , eis que eu
trabalhava no Congresso Nacional. Não raro ia me visitar na minha casa, o que me enchia de
alegria e honra. E trocávamos alguns livros. O último, sua biografia, enviou-me ele por uma
sobrinho quando eu já morava em solo goiano que ele tanto amava, lá pelo ano 2005. Guardo-a
com carinho, embora misturado na bagunça da minha vida, de tantos lugares, tantas casas,
tantos amores, tantos amigos…Tentei, aliás, levá-lo à Olhos D ‘Água, onde eu morava, mas ele
já não se atrevia. Com a idade avançada, engordou muito, escutava pouco e tinha grande
dificuldade de locomoção. Há pouco mais de um ano lhe foi diagnósticado Alzheimer.
Já, pois, hávia uns 20 anos que náo via Mauro Borge. Mas lembrar-me, hoje, de sua figura, de
sua vida pública, de sua fineza sem frescuras, me remonta a uma das melhores, embora difícil ,
fases da minha vida: Em Goiás..A do aprendizado da História fora dos bancos escolares e dos
livros. Com os Homens que a fizeram…

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O TEATRO DA VIDA

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.
Já é um lugar comum: a vida é um palco e nós, todos, atores, estamos
desempenhando, sempre algum papel. O que não se sabe ao certo, ainda, é se é arte que imita
a vida, ou a vida que imita a arte. Na verdade, nem sabemos direito o que é a vida. Há um
célebre conto árabe que narra a história de um homem que, esgotado pelo calor do deserto,
após vários dias de caravana, depara-se com um oásis e se põe a adormecer. Dorme
profundamente. Sonha que é uma borboleta que sobrevoa, diáfana, a paisagen. Sente-se feliz.
E enrosca-se em angelicais sobrevôos, pousando, aqui e acolá, sobre alguma flor. Depois de
algum tempo o homem desperta e tem uma súbita mpressão, dizendo-se: – “Será que eu sou
mesmo um homem que sonhou que era uma borboleta ou sou aquela borboleta tendo o
pesadelo de que é um homem…?” Talvez por isto, um inglês (T.Bailey-Sec.XIX) tenha afirmado:
“A natureza é a arte de Deus, a arte a natureza do Homem”. Arte e natureza, de Deus ou do
Homem, ambos, grandes e comoventes mistérios.
Desde os primórdios da civilização o Homem grava suas impressões a respeito do
tempo em que vive. Primeiro na pele, depois nas paredes das cavernas, depois em superfícies
móveis. Hoje estas impressões estão nos grandes filmes que fazem do OSCAR um
acontecimento mundial ímpar. Não se trata, em todas elas, de meros registros de imagens, mas
de manifestações da alma que as viveu. Sabe-se, agora, que todas estas passagens eram
ritualizadas, em meio a cânticos e celebrações. Em todas elas, uma mistura do sagrado com o
profano. Do sensível com o insondável. E a busca de imortalidade neste eterno retorno.
Os gregos, na sua genialidade, transpuseram esses registros para a representação
corporal ao criar o teatro como ainda o conhecemos. E reuniam as pessoas em imensos
anfiteatros abertos nos quais contavam histórias que misturavam mitos e passagens da vida
cotidiana. Tudo se naturalizava nessas narrativas e os expectadores nelas mergulhavam
confundindo-se com os personagens. Ali realizava-se, então, uma catarse coletiva. Não por
acaso, Freud, ao criar a Psicanálise foi à Grécia Antiga em busca de inspiração para seus
estudos sobre a alma. E não se cansava de repetir : – Por onde andei, lá já havia passado um
poeta…
Nos tempos modernos, em que vivemos, acreditamos estar muito distantes dos
tempos míticos. Olhamos para trás e achamos que este tempo está soterrado. Acreditamos estar
vivendo num mundo estritamente racional. Mera illusão. Armadilha da própria razão erigida em
soberana de um homem supostamente senhor de seu destino. Trampa do Iluminismo. Nossas
ferramentas são diferentes daquelas da caverna, mas o Homem é o mesmo. Dominamos os
mares , os ares e cada vez mais elevados patamares da civilização , mas continuamos inseguros
da nossa própria condição. E nos afirmamos na recriação de mitos salvadores. Um filósofo
italiano contemporaneo, Giorgio Agamben afirma que vivemos hoje a religião do dinheiro, na
qual os Bancos são os grandes templos da nova crença.
No Teatro da Vida vamos desempenhando papéis, alimentando paixões,
cumprindo metas, até o inexorável: A morte. Ela está em qualquer lugar, como o acidente que
matou ontem o grande antropólogo e historiador John Monteiro, Professor da UNICAMPl, com a
mesma brutalidade das mãos de uma manicure inominável que asfixiou em Barra do Piraí, na
Região Sul Fluminense, um menino de seis anos: João Felipe Eiras Santana Bichara. “A
morte para todos. Mas, para cada um, a sua morte”(A.Camus) . Morre-se…E aí o limite superior
da tragédia da vida. O paroxismo que reverte, inerte, ao grito primal de cada um de nós.
Nascemos jovens de corpo e velhos em espírito, esta a comédia da vida, e morremos velhos de
corpo e jovens em espírito, essa a sua tragédia (O.Wilde).
Morre-se de tudo. Ou de qualquer coisa.
Morre-se de repente, de bala perdida, ou num acesso de riso incontido,
Morre-se até do nada:
“Ia o transeunte lépido e concentrado em si mesmo quando caiu duro”
Até hoje procuram a causa.
Morre-se da maldade alheia, quando nos colhe em suas malhas.
E se morre por excesso de compaixão:
“Então, por gentileza, eu morri”, sem que meu corpo pudesse vingar-se dos ferimentos
recebidos…”
Morre-se assim, morre-se assado.
Morre-se até envenenado pelo própria língua.
Manda ver!
Exsurge a morte quando se menos espera e a palavra corta.
Ou se extingue a vida lentamente quando pré-datada…
Pior do que a morte, porém , é o corredor da morte.
Principalmente no de SING SING
Onde todos se consideram inocentes e denunciam juízes corruptos e advogados preguiçosos.
Quê sei eu , pois, da minha própria morte?
Mas se tiver que vir
Por Deus, venha docemente, como os lábios das mulheres que amei,
Como a vida que contemplei.
Como os goles de bons vinhos que bebi,
Como as folhas dos livros que li,
Como as baforadas espiraladas dos charutos que curti com meu dileto filho…
O tempo não é. Dá-se…

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E DEUS CRIOU PORTO ALEGRE

                                         Paulo Timm – 2010 (Da Série Prévidi)

E assim foi: Longos anos, décadas, longe do sul e então o retorno.

ChegueI piá em Porto Alegre, em pleno inverno de 1955. Mas não reclamei do frio. Santa Maria era muito pior. E me aquerenciei no perímetro do bonde “Duque”, morando logo abaixo do Alto da Bronze. Ali me ambientei, numa rara ecologia humana que ia do cais do Porto à Pantaleão, numa orla carregada de álcool, prostituição e até uma Casa de Detenção, subindo gradativamente a Vasco Alves, para se recuperar social e moralmente, ao longo de toda a Duque de Caxias, até o Viaduto Borges de Medeiros. Um período maravilhoso, em meio aos “Anos Dourados”, em cujas férias eu me atirava na velha “Maria Fumaça”  para reviver  minha antiga morada. E assim passaram anos e anos,  nos quais me reencontrava com os primos e primas na casa grande de minha amada avó, Romilda, transformada em Clube da meninada. Quando me dei conta, tinha passado pelo Colégio das Dores, pelo “Julinho”, pela antiga Escola de Cadetes da Redenção. Era um porto-alegrense.  E já era homem. Ou, pelo menos, pensava que era..

Era 1966. Estava na Faculdade de Filosofia, em pé, junto ao umbral que separava o salão de entrada do Bar interno,  ao lado do Flavio Koutzii, do Clovis Paim Grivot, do André Foster, da Mercedes (então) Loguercio iniciando-me nas teias  da subversão, para horror de uma família conservadora estrelada  de militares de alta patente. Durou pouco: o tempo de me formar e , cagado de medo  pelos rumos que a velha dissidência estudantil comunista ia tomando, rumar para o Chile.  Paulo Renato Souza, colega de Faculdade, na Economia, me esperava e me daria, generosamente, o seu emprego como “ayudante” do José Serra (esse mesmo!!!) na Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais – FLACSO. Começava o ano mais terrível da ditadura:1970.

Muitos anos depois vim a saber-me, pela crônica de Sergius Gonzaga, hoje Secretário de Cultura, sobre a década de 60 ,em Porto Alegre, que eu fora um guru do marxismo-leninismo na cidade, já àquela época contaminado pelo vírus do “ Discreto Charme da Burguesia”, na inclinação  por carros esporte, roupas finas, vinho e charutos da melhor qualidade e queda irresistível por mulheres bonitas e amantes castelhanas…Mas esquerda, como toda a geração daquela época.

Esta Porto Alegre, por quatro décadas, ficou nos meus sonhos e devaneios.Do Chile fui para Brasília e lá fiquei 35 anos.  Certa feita, um amigo, Heitor Silveira, já falecido, de quem me aproximara na Planisul de todas as cores e malucos, também em Brasilia, retornara, em caráter definitivo, e me esnobava: “Aqui eu não ando, eu flutuo…”  Eu morria de inveja. Era o suficiente para eu conseguir umas férias matrimoniais, com ou sem permissão do empregador, e mergulhar dias sem fim naquela que  sempre foi a minha cidade. E sofregamente tomava alguma aventuras amorosas como quem  se agarra ,não ao passado,mas à própria cidade. Sentia-me, então , embriagado de estranha felicidade naqueles dias em Porto Alegre.

Agora estou aqui ao lado, em Torres. Já nada me impede de estar “em  casa”. Digo  ao filho e família que temo o excesso de frio e chuva. Outras vezes, digo que já não suporto a cidade grande, cujas vias  nem reconheço e novos bairros nem sei chegar. Vezes há , ainda, que a cidade não é segura. Tudo mentira. Guardo as vindas a Porto Alegre como uma primícia, de sabor sensual e convidativo. Como quem freqüenta furtivamente a  proibição. Quem inventou a saudade, me disse uma vez uma amiga, não conhecia a distância. Nunca saberei , ao certo, se a máxima era ou não dela. Mas valeu…Saboreio a pequena distância que me separa de Porto Alegre com  uma pitada de saudade.

Aí escolho o Hotel. Tem que ser no Centro, no meu velho perímetro do “Duque”, onde me sinto em casa. E, quase sempre, procuro as pegadas do Mário Quintana, em busca de inspiração poética. Já não há o Majestic, onde ele morava,  que me foi tão misterioso na juventude, pelos arcos, arcadas, sacadas que contemplava , lá de baixo. Hoje pego o elevador no Centro Cultural Mario Quintana , vou àquelas sacadonas  e  me sinto senhor  de um tempo que se foi. Não importa. Disseram-me que o Falcão levou meu ídolo para o Hotel Royal, na descida do Sevigné, então lá eu fico.

Chego em Porto Alegre , quase sempre, à noite. E aí redescubro o prazer de ouvir Lupicínio pelo seu filho, a gratidão de me sentir perto do Uruguai, através de uma parrillada, de andar pela boemia da Cidade Baixa como quem anda no Quartier Latin. Já não vejo os velhos amigos. Muito raro. Acho que nos evitamos  sem querer, querendo. Mas encontro novos e nos regozijamos com os mesmos profundos papos que nos anos 60 povoavam nossas tertúlias quando saíamos do Festival de Cinema Tcheco, na Praça da Alfândega, para discutir, sob inspiração do último artigo do Pilla Vares,  a diferença entre consciência e ódio de classe, como critério de discernimento da ação revolucionária.

Pela manhã uma longa caminhada ao longo dos  imaginários trilhos do “Duque”. Atavismo. Reapropriação do tempo e do espaço. Casas, casarões, a escadaria da Fernando Machado relembrando a ampla vista que se tinha do Guaíba, o cumprimento aos lugares vividos numa espécie de oração matinal , um velho, como eu, irreconhecível,  por trás de uma janela. Naquele tempo banhávamos no gasômetro. E entrávamos e saíamos do Porto como queríamos. Eu sempre com um SPICA debaixo do braço para vender no  Colégio e fazer uma graninha. Na primeira vez que subi no convés de um navio fiquei impressionado com a altura até a superfície da água. Desci correndo.

São oito e meia da manhã e já percorri minha juventude, com uma passagem pela Redenção para reviver os ideais soterrados pela barbárie stalinista.  Estou na frente do Mercado  com os sentimentos à flor da pele. Ali entrei , pela primeira vez, muito menino. Para provar o morango com chantili na Banca 40, que desconhecia. E mordiscar uns camarões ultra-salgados expostos na banca ao lado. Fascinado. Entro solenemente, como se fora numa feira  medieval.

Primeiro uma parada na Banca de Revistas e Livros usados. Salta aos olhos um exemplar de Cícero, sobre Obrigações Civis. Cícero a essa hora? Nada melhor. Procurar um lugar para sentir o momento mágico e folhear o opúsculo alentador. Aí o Café do Mercado, um balcão simples , com mesas altas e bancos suspensos defronte.  Mas, lá dentro, o segredo do café cremoso apojado de tetas sibilantes numa variedade rara no resto da cidade. –Tem café Jacu, pergunto hesitante?  – Sim , senhor! Um expresso?  – Pois sim!  E me sento num dos  bancos para folhear  o capítulo sobre o “Decoro”, ao sabor do melhor – e mais caro café – do mercado brasileiro. Cagado por uma ave, o jacu, e retirado depois de secas as fezes…(!) Degusto o café sem pressa. Nem olhares curiosos. No passal das gentes a única preocupação é o dia que vem pela frente. Fico eu, apenas, com o prazer. O prazer de estar no Mercado de Porto Alegre. E deixar escoar o tempo… Certo de que, na saída, levarei para Torres um belo pedaço de charque de ovelha para um carreteiro.

Deixo o Mercado, retorno à Rua da Praia e rumo para a Jerônimo Coelho. Fazer barba e cabelo num daqueles  machadianos salões que prometem funcionar dia e noite! Escutar o falar acalorado de adversários ferrenhos sobre as virtudes dos novos jogadores do Grêmio e do Internacional.  “ Sou do Força e Luz”, digo. Não entendem bem. “Depois torci pelo Cruzeiro, pelo qual joguei no time de basquete”. Eles me olham desconfiados, de cima pra baixo, e eu, do meu 1.60m completo: “ No infantil…”

Aí resolvo subir a ladeira, ver uns sebos, e me reconheço uma vez mais no céu. Acho dois livros que já havia perdido numa das inúmeras mudanças e lá me vou para o reencontro com “A Razão Cativa “ e “Razões do Iluminismo”, de um dos maiores filósofos brasileiros, marcado para morrer por ter sido Ministro da Cultura do Collor: Sergio Paulo Rouanet. E nem se dão conta que Collor , foi , depois de Jango, o único Presidente a ter Ministros irretorquíveis. Várias livrarias, o mesmo encanto. Então, carregado, me sento num pequeno restaurante da Riachuelo, à hora do almoço, para um copo de vinho. E me convenço de que “Deus criou Porto Alegre”, como diz o Prévidi.

E tenho um dia inteiro e um domingo,  ainda, pela  frente. Mas não vou contar mais nada  hoje. Fica para outro dia…

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Dilma continua surpreendendoO nome Dilma parece predestinado a surpreender. Quando foi indicada pelo ex- Presidente Lula à sua sucessão, todo mundo  prendeu a respiração : – Quem é essa Dilma…?  Aos poucos, sua biografia política e profissional foi emergindo. Dilma havia sido uma combatente da Resistência Armada, presa e torturada; participara do PDT de Brizola nos anos 80, daí saindo para assumir importantes funções no Governo gaúcho de Olívio Dutra, o que lhe valeu o impulso para virar Ministra do Presidente Lula;  tinha boa formação acadêmica ; e o que mais admirava: Era oriunda da tradicional família mineira, embora filha de um imigrante búlgaro. Mas jamais havia sido candidata a cargo eletivo. –Mas como…?  indagavam-se os políticos profissionais…? Vai quebrar a cara!!! Serra vai bater de longe… Em resumo: Dilma era ( tida e havia como) um poste:  Loucura do Lula…!! Veio a campanha presidencial e o nome Dilma, agora incorporado à imagem de mulher sólida, devidamente tratada pelos produtores de imagem, surpreendeu de novo: mesmo com segundo turno, ganhou a eleição. – Vitória do Lula, disseram todos.  Ele é mesmo “o cara”!Outros, céticos, começaram a associá-la ao ex-Presidente Dutra, indicado por Vargas e vencedor nas eleições de 1945. Um mandato tampão enquanto “setembro não vem”, um eufemismo para traduzir o tempo em que Lula ficaria fora da Presidência. Mas, paradoxalmente, Dilma toma posse, tropeça numa herança política nefasta de Ministros acusados de corrupção e nos percalços de uma economia instável , mas surpreende de novo. Seu Governo consegue administrar uma difícil Base Aliada, que supostamente respaldaria do ponto de vista social medidas avançadas de um Governo de Esquerda, longe do trauma do isolamento que levou Allende, no Chile, ao Golpe de 1973, e obtém larga margem de apoio popular.  Sua imagem pessoal, aliás, é maior do que a do próprio Governo e já começa a ultrapassar a do seu criador. Veja-se: Pela primeira vez , na última pesquisa CNI/IBOPE , o percentual que considera o atual governo melhor que o de Lula (20%) é maior do que o que considera o contrário (18%). Na pesquisa de dezembro, 21% considerava o governo Lula melhor, e 19% considerava o de Dilma melhor.Esta   pesquisa CNI-Ibope foi feita entre os dias 8 e 11 de março, a partir de 2.002 entrevistas em 143 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos e o grau de confiança do estudo é de 95%. A aprovação do governo Dilma Rousseff bateu novo recorde, com 63% dos brasileiros avaliando a gestão da presidente como boa ou ótima, segundo a pesquisa CNI-Ibope, divulgada nesta terça-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). (…)A aprovação do modo de governar e a confiança na presidente também bateram recordes: 79% dos brasileiros aprovam o governo Dilma, contra 17% de desaprovação; e 75% confiam na presidente, contra 22% que dizem não confiar. O otimismo com relação ao restante do governo cresceu três pontos percentuais e atingiu a marca de 65%.Nas duas últimas pesquisas, divulgadas em setembro e dezembro, o índice que avaliou a gestão da presidente como boa ou ótima se manteve estável em 62%. A estabilidade na avaliação havia se mantido também no que se refere ao percentual de pessoas que consideravam o governo regular (29%) e ruim/péssimo (7%); e na expectativa positiva das pessoas em relação ao restante do governo, com 62% manifestando ótima ou boa expectativa – mesmo índice da pesquisa anterior. Em dezembro, a pesquisa havia apontado que 78% dos brasileiros aprovavam o modo de governar da presidente, enquanto 17% desaprovava; e que 73% das pessoas confiavam nela.Diante destes surpreendentes  números de aprovação as indagações abundam:1 – Será a Presidente Dilma um novo fenômeno político , com peso político específico para comandar sua reeleição em 2014?2 – Os números refletem, ainda ( e apenas)  , a popularidade de seu mentor político, o Lula, alimentados, de resto, pelos efeitos positivos da renda e do emprego sobre os eleitores?A resposta a estas perguntam dividem os analistas.Particularmente,  acho que Dilma está fadada a continuar surpreendendo, para exasperação de gregos e troianos, isto é, petistas e anti-petistas.O exercício do cargo é sempre uma grande incógnita, em termos de popularidade. Se, de um lado, torna o ocupante conhecido, de outro, o submete ao acicate das circunstâncias, exigindo-lhe competência específica para desincumbir-se das funções. Tivemos, no Brasil, ultimamente, vários casos de ocupantes do Palácio do Planalto, que navegaram dos céus ao inferno em poucos meses. Sarney foi um deles. Sucumbiu vertiginosamente ao fracasso do Plano Cruzado, depois de vir a ser abençoado com ótimos índices de popularidade.  Itamar, curiosamente, lembra aquelas leis que não pegam. Parece que nem existiu. Será tão lembrado como Afonso Pena… Mas Dilma, “O Poste”, vai ganhando luz própria. E se afirmando. Até mesmo seu estilo sargentão, vociferante, antipático, vai ganhando novos contornos. Sua última aparição em  público,  no Vaticano ( março ,19) chega a surpreender pela suavidade e inteligência: “O Papa é argentino mas Deus é brasileiro”.  Um truísmo. Velho de cansar. Mas que, oportunamente, valeu à Presidente sua primeira grande frase. E um estilo mais soft.Outro ponto a favor de Dilma, pouco percebido, é que  ela faz o gênero do que Cesar Maia denomina “não política”. Com isso, num momento de extrema ojeriza aos políticos, aos Partidos e ao Congresso Nacional, ela pontifica como antítese, polarizando a seu favor o descontentamento da classe média com o que aí está: Um homofóbico na Comissão de Direitos Humanos da Cãmara, o Rei da Moto Serra na Comissão de Meio Ambiente no Senado, figurões do PT condenados pelo Mensalão. Dilma se mantém, surpreendentemente, longe de tudo isto. Indicações demonstram que ela não está bem apenas entre os muito pobres e desinformados, nordestinos e trabalhadores em geral, como ocorreu nas eleições de 2010. Começa a ganhar a simpatia dos eleitores de Serra no Sul/Sudeste. Começa a ganhar apoio no meio empresarial. Começa a se consolidar como liderança feminina, entre as mulheres. E, superando expectativas, vai ao novo Papa Francisco I e não só o justifica, como um mensageiro de um continente politicamente comprometidos com os pobres, como “se “justifica , assim, no seu”público interno”.Um conjunto novo, enfim, de novos eleitores, portanto,  vêem referendar a herança política popular de Lula e do PT, agora  nacarada pelos filamentos da classe média tradicional.  Nisto, ela surpreende porque inova em estilo de liderança trazendo à cena política um novo perfil: educada, direta, posicionada, sem vínculos com as práticas partidárias vigentes no país há décadas. Não por acaso , ela clama pela Reforma Política, ainda neste mandato, embora sem explicitar com clareza o que isto seria.Enfim,  Dilma ainda é um enigma. Mas já surpreendeu o suficiente para demonstrar que pode se tratar de algo novo, senão em termos ideológicos, mas de procedimentos.  E, como tudo o que é surpreendente, difícil de prognosticar. Mas como tudo o que é novo, um alento…  ________________________

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Esta página foi criada para postagens e sob a responsabilidade do Prof. PAULO TIMM. 08/03/2013 as 11:33

  PAULO CEZAR TIMM.

PAULO TIMM, aposentado, é economista, formado pela UFRGS. Pós Graduado na ESCOLATINA, da Universidade do Chile e CEPAL/BNDES. Foi professor da Universidade de Brasilia- UnB – e Técnico do IPEA, órgão do Ministério do Planejamento, em Brasília, onde residiu por 35 anos e onde fez sua vida profissional e pública. Foi Presidente do Sindicato dos Economistas e do Conselho de Economia do Distrito Federal. Foi Diretor Técnico da Companhia de Desenvolvimento do Planalto – CODEPLAN , Secretario de Estado de Meio Ambiente do Governo do Distrito Federal e Administrador do Lago Sul de Brasília , na década de 1990 Foi também candidato ao Governo de Goiás, em 1982 e ao Governo do Distrito Federal , em 1994, pelo PDT ,Partido que fundou, ao lado de Leonel Brizola, em 1979, subscrevendo a histórica CARTA DE LISBOA.Tem dois livros publicados que expressam sua experiência profissional como Coordenador do Programa da Região Geoeconômica de Brasília, entre 1974 e 1980:

BRASILIA, O DIREITO Á ESPERANÇA , 1990 – Ed. Brasília DF

BRASILIANAS – 1998 ,Ed. Paralelo 15 – Brasília – DF

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CURRICULUM  VITAE 

PERSONNAL DATA
TIMM, Paulo  Cezar
Brasilian, born in Rio de Janeiro, BR,  in 1944
Permanent Adress :  BRAZIL (Rio Grande do Sul)  and PORTUGAL   (Covilhã)
Email  :
Sites : www.paulotimm.com.br ;  www.torres-rs.tv

PROFESSIONAL SKILL
Graduated in Economics, Brazil, 1969.
Post-Graduated   by University of Chile (LatinAmerican Studies Program – ESCOLATINA – 1970 –1972
Post-Graduated in Planning and Research in Development Process – UN /CEPAL 1969

PROFESSIONAL ACTIVITIES
Public Official –  Central Agency for Economic Planning  and Research (IPEA) ,Brazil-1973-91 (Retired)
Special Functions : Secretary of State for Environment and Tecnology , Brasilia, FD, Brasil, 1993   –   Director  of the (public) Agency for Planning and Development (CODEPLAN) ,1992, Brasilia , Brazil  – Appointed  Mayor of South Lake Brasilia Administration ,1997/ 898, Brasilia, Federal District, Brazil  –  Special Adviser  of the National Congress, 1980 –1989.
Professor  and invited  lecturer in  several Universities and Colleges in Brazil  including Federal University of Brasilia (UnB/Brasilia), Instituto Rio Branco (Foreign Affairs), 1973-1990

IDIOMS
Fluent  in Portuguese, Spanish ,French  ,English  and Italian. Basic in German

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8 Respostas

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  8. Conspiração judaica tupiniquim contra os negros afrobrasileiros
    A GLOBO ditadura Vanda lista da comunicação, leviana ardilosa e racista inimiga do povo brasileiro. No Brasil os judeus monopolizam a TV discriminam e humilham as mulheres negras?A MeGaLOBO RACISMO? A violência do preconceito racial no Brasil personagem(Uma negra boçal degradada pedinte com imagem horrenda destorcida é a Adelaide http://globotv.zorra-total/v/adelaide-e-briti-pedem-dinheiro-no-metro/, do Programa Zorra Total, TV Globo do ator Rodrigo Sant’Anna? Ele para a Globo e aos judeus é engraçado, mas é desgraça para nós negros afros indígenas descendentes, se nossas crianças não tivessem sendo chamadas de Adelaidinha ou filha, neta e sobrinha da ADELAIDE no pior dos sentidos, é BULLIYING infeliz e cruel criado nos laboratórios racistas do PROJAC (abrev. de Projeto Jacarepaguá da Central Globo de Produção) da Rede Globo é dominado por judeus diretores,produtores e apresentadores ( OBS. alem destes judeus e judias citados existem centenas de outros e mais de 200 atores, atrizes, comediantes, artistas e apresentadores judeus e judias e milhares de empregados e colaboradores da ” Rede Globo Judaica Midiática Brasileira” )como Arnaldo Jabor,Carlos Sanderberg ,Luciano Huck, Jairo Bouer,Luis Erlanger,Marcos Losekann,Marcius Melhem e Leandro Hassum,Vladimir Brichta,Tiago Leifert,Pedro Bassan, Pedro Bial,William Waack,William Bonner & Fátima Bernardes,Ernesto Paglial & Sandra Annenberg, Pedro Doria & Leila Sterenberg, Mateus Solano& Paula Braun,Mônica Waldvogel,Renata Malkes,Sandra Passarinho,Amora Mautner, Lillian W. Fibe,Esther Jablonski,Glenda Kozlowski, Leila Neubarth,Beatriz Thielmann,Gilberto Braga,Wolf Maya, Mauro Halfeld ,Mário Cohen,Ricardo Waddington,Max Gehringer ,Maurício Kubrusly,Mauro Molchansky,Maurício Sirotsky,Marcelo Rosenbaum,Michel Bercovitch,Fábio Steinberg,Carlos de Lannoy,Roberto Kovalick,Guilherme Weber, Régis Rösing,Caio Blinder,Daniel Filho,Gilberto Braga, Gilberto Leifert, Gilberto Dimenstein ,Walcyr Carrasco,Carlos H. Schroder e o poderoso Ali Kamel diretor chefe responsável e autor do livro Best seller o manual segregador (A Bíblia do racismo,que irônico tem por titulo NÃO SOMOS RACISTA baseado e num monte de inverdades e teses racistas contra os negros afrodescendentes brasileiros) E por Maurício Sherman Nisenbaum (que Grande Otelo, Jamelão , Luis Carlos da Vila e Geraldo Filme chamavam o de racista porque este e o Judeu sionista racista Adolfo Block dono Manchete discriminavam os negros)responsável dirige o humorístico Zorra Total Foi dono da criação de programas e dos programas infantis apresentados por Xuxa(Luciano Szafir)e Angélica(Luciano Hulk) ambas tendo seus filhos com judeus,apresentadoras descobertas e lançadas por ele no seu pré-conceitos de padrão de beleza e qualidade da Manchete TV dominada por judeus sionistas,este BULLIYING NEGLIGENTE PERVERSO da Globo. Humilhante absurdo e desumano que nem ADOLF HITLER fez aos judeus mas os judeu sionistas da TV GLOBO faz para a população negra afro-descendente brasileira isto ocorre em todo lugar do Brasil para nós não tem graça, esta desgraça de Humor racista criminoso, que humilha crianças é desumano para qualquer sexo, cor, raça, religião, nacionalidade etc. o pior de tudo esta degradação racista constrangedora cruel é patrocinada e apoiada por o Sr Ali KAMEL fascista sionista (marido da judia Patrícia Kogut jornalista do GLOBO que liderou dezenas de judeus artistas intelectuais e empresários dos 113 nomes(Manifesto Contra as contra raciais) defendida pela radical advogada Procuradora judia Roberta Kaufmann do DEM e PSDB e o Senador Demóstenes Torres que foi cassado por corrupção)TV Globo esta mesma que fez anuncio constante do programa (27ª C.E. arrecada mais de R$ 10,milhões reais de CENTARROS para esmola da farsa e iludir enganando escondendo a divida ao BNDES de mais de 3 bilhões dólares dinheiro publico do Brasil ) que tem com o título ‘A Esperança é o que nos Move’, show do “Criança Esperança”de 2012 celebrará a formação da identidade brasileira a partir da mistura de diferentes etnias) e comete o Genocídio racista imoral contra a maior parte do povo brasileiro é lamentável que os judeus se divirtam com humor e debochem do verdadeiro holocausto afro-indigena brasileiro o Judeu Sergio Groisman em seu Programa Altas Horas e assim no Programa Encontro com a judia Fátima Bernardes riem e se divertem.(A atriz judia Samantha Schmütz em papel de criança um estereótipo desleal e cruel se amedronta diante aquela mulher extremamente feia) para nós negros afros brasileiros a Rede GLOBO promove incentiva preconceitos raciais que humilha e choca o povo brasileiro.Organização Negra Nacional Quilombo ONNQ 20/11/1970 – REQBRA Revolução Quilombolivariana do Brasil – quilombonnq@bol.com.br

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