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IGOR BONATTO: Brasileiro de 20 anos filma curta já com convite para estreia em Cannes

29/01/2012 10h31 – Atualizado em 29/01/2012 17h14

Curitibano Igor Bonatto dirige o curta-metragem DES., sétimo da carreira.
Filme tem Bruno Gagliasso, Laura Neiva e Alexandre Herchcovitch.

Igor Bonatto (Foto: Divulgação)
Igor Bonatto entrou no curso de cinema da Vancouver Film School, no Canadá, aos 16 anos
(Foto: Divulgação)

Aos 20 anos, o cineasta curitibano Igor Bonatto dirige o sétimo curta-metragem da carreira. Audacioso e um tanto precoce, o diretor e roteirista de DES. conta que a pouca idade geralmente causa “estranheza” no primeiro momento. “Mas à medida que quebra o receio, o paradigma de: ‘pô, o que esse cara de 20 anos vai fazer no set’, o resto vem com muito mais facilidade”, revela.

O filme, que começou a ser rodado há pouco mais de uma semana na capital paulista, tem previsão de estreia em maio no Festival de Cannes, com convite para concorrer à Palma de Ouro da categoria curta-metragem. Apesar de estar receoso com o prazo para finalizar o produto, Bonatto diz que esse é o prêmio a que sempre sonhou concorrer. E quando questionado se vislumbra uma futura indicação ao Oscar, ele responde com firmeza. “Também é possível sim. Por que não? A gente se dedicou bastante pra concorrer com os melhores”.

Ciente de que a maturidade pesa tanto para ganhar a confiança das pessoas, como para exercer a função de diretor com mais segurança, Bonatto contou ao G1 que trabalha no roteiro e na co-produção do curta há um ano e três meses. “Foi necessário tempo, não só para captar [dinheiro], mas também para amadurecer o roteiro, para eu amadurecer como diretor. (…) Como eu sou novo, tenho que provar maturidade, então fiz um filme bastante maduro.”

Como eu sou novo, tenho que provar maturidade, então fiz um filme bastante maduro”
Igor Bonatto, cineasta de 20 anos

DES. conta a história de duas jovens modelos e aborda as contradições do mundo da moda. Segundo o cineasta, a intenção real do filme é mostrar ao público que “esse universo não é tão bonitinho quanto parece”. No elenco, Bruno Gagliasso interpreta o fotógrafo Klaus, Camila Finn e Laura Neiva são as protagonistas e Rodrigo Capella é o empresário Ric.

Além destes, a equipe do projeto DES. reúne prestigiados nomes do cinema e da moda. Entre eles, Daniel Rezende, editor de “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite”, o produtor Hank Levine, também de “Cidade de Deus” e “Lixo Extraordinário”, e o estilista Alexandre Herchcovitch como figurinista. Figuras que foram se conectando através de e-mails, telefonemas e contatos de conhecidos. “Uma mistura de sorte e muito esforço, muita dedicação”, resume o jovem diretor que bateu de porta em porta para apresentar o projeto.

Alexandre Hercovitch e Igor Bonatto nos bastidores das gravações do curta DES. (Foto: Divulgação/ Henrique Araújo)Alexandre Herchcovitch, figurinista do filme, e Igor Bonatto nos bastidores das gravações do curta DES. (Foto: Divulgação/ Henrique Araújo)


Filmes nacionais versus filmes estrangeiros
Formado em cinema pela Vancouver Film School, no Canadá, e conhecedor da linguagem cinematográfica internacional, Bonatto diz ter percebido que “a grande diferença” do cinema brasileiro com o cinema internacional se dá já na concepção do roteiro. Para ele, a maioria dos cineastas brasileiros começam um projeto com “um pé atrás”, sabendo das limitações orçamentárias e das restrições que a indústria nacional impõe.

“No cinema internacional, principalmente o norte-americano e alguns países europeus, eles primeiro concebem a ideia que querem fazer e depois fazem o possível para tornar aquela ideia viável. Aqui, vão criar filmes que tenham poucas locações, que sejam pouco ambiciosos, que não tenham grandes efeitos visuais sabendo que é difícil sim a captação. Já começa perdendo”, explica.

Gravações do curta-metragem DES. (Foto: Divulgação/ Henrique Araújo)Gravações do curta-metragem DES. são realizadas em São Paulo (SP) (Foto: Divulgação/ Henrique Araújo)

Por acreditar no potencial em DES., Bonatto se desdobrou para captar os cerca de R$ 450 mil previstos no orçamento do curta. Inicialmente, investindo grana do próprio bolso, chegou a fazer uma campanha de financiamento coletivo do filme – em que qualquer pessoa podia contribuir com a quantia que desejasse (entre R$ 15 e R$ 15 mil) e, em um sistema de recompesa, concorria a produtos do filme, convite para o São Paulo Fashion Week e até um vestido assinado pelo parceiro Herchcovitch – em que arrecadou R$ 20 mil. Por último, foi atrás de patrocinadores. “Os investidores surgiram de conversa de bar, alguém que conhecia alguém que conhecia alguém. Outros foram através do Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC), mandei e-mails, fiz telefonemas… Foi uma busca por dinheiro que no final deu certo”.

Tão certo, que duas emissoras de televisão já mostraram interesse em transformar o curta em uma série. As negociações devem ser concluídas no próximo mês e Bonatto tem convites para dirigir comerciais e um longa-metragem no decorrer de 2012.

Raízes
Sem perder o foco, o curitibano que morou durante a maior parte da infância em Matinhos, no litoral do Paraná, recorda que a experiência da vida pacata na cidade pequena lhe rendeu a visão da vida simples que tem hoje. De Curitiba, tem a lembrança das tardes nas livrarias e a pontua como chave de acesso à cultura. Mas é a vivência em Paris, a partir dos 7 anos, que relaciona como linha divisória da trajetória pessoal.

“Um cineasta para se tornar completo tem que ter bastante experiência de vida e eu sempre tive o privilégio de viajar muito e conhecer um pouco de tudo. Tanto do mundo simples, quanto do mundo luxuoso. Do mundo seguro e do mundo perigoso. Me arrisquei bastante sabendo que isso ia contribuir para desenvolver bons personagens e boas histórias”, conta.

Ariane DucatiDo G1 PR

PRESTE ATENÇÃO!

JOÃO BELLO, uma imagem para você – de edu hoffmann / curitiba.pr

 

 

o saltimbanco
João Bello
bebeu muito da água
na nascente do sonho

sua cabeça nas nuvens de algodão
onde seu colorido chapéu alcança
faz a mão da memória bordar a lua
faz de cada pessoa uma criança

bela folia o João nos principia
espanta até banzo de Angola
ilumina em todas as caras um sorriso
quando canta cantorias na viola

eita João me faz perder a vergonha
me faz perder o siso, eu preciso…

SENADOR MARIO COUTO: tucano é denunciado por desvio de verbas no PARÁ

ESTE SENADOR, NO PLENÁRIO DO SENADO, POSA DE “SONINHA TODA PURA”, DIARIAMENTE. LOGO ELE VELHO CONHECIDO NO PARÁ COMO “MÁGICO” DO DINHEIRO PÚBLICO…FAZ DESAPARECER…

O senador Mário Couto (PSDB-PA) foi denunciado, em ação civil pública, sob acusação de envolvimento em um suposto esquema de desvio de recursos da Assembleia Legislativa do Pará entre 2003 e 2007, período em que foi presidente da Casa.

O Ministério Público do Pará, que ajuizou a ação nesta quinta-feira (26), pede o bloqueio dos bens do senador e que ele e outros 15 acusados devolvam R$ 2,3 milhões aos cofres públicos.

O suposto esquema consistia em fraude na folha de pagamento do Legislativo, com a contratação de servidores-fantasmas.

Além de Mário Couto, sua filha Cilene Couto também é denunciada na ação. Ela fazia parte do setor de controle interno da Assembleia durante a gestão do pai.

Como presidente da Casa, cabia a Couto nomear, contratar e demitir servidores, além de fiscalizar a folha de pagamento.

Lula Marques – 24.ago.2011/Folhapress
Senador Mário Couto no plenário do Senado
Senador Mário Couto no plenário do Senado

A ação cita o exemplo de onze funcionários-fantasmas que, em depoimentos, negaram que trabalhassem no órgão. O salário da maioria deles era superior a R$ 10 mil mensais. Os valores eram desviados.

A ação civil pública também acusa outros integrantes do setor de controle interno e servidores que, segundo a Promotoria, receberam os recursos desviados.

A Justiça do Pará ainda não decidiu se acolhe a ação.

O Ministério Público também investiga supostas fraudes em licitações de obras da Assembleia Legislativa, que envolve uso de empresas-fantasmas e até a contratação de uma fábrica de tapioca.

A assessoria do senador Mário Couto afirmou que ele ainda não tomou conhecimento do teor da ação.

De acordo com sua assessoria, Mário Couto diz que a ação é movida por uma desavença pessoal de um dos promotores contra ele.

Cilene Couto, que atualmente é deputada estadual pelo PSDB, não foi localizada para comentar o caso.

AGUIRRE TALENTO
DE BELÉM

O que as escolas não ensinam – por bill gates / eua

O reitor de uma Universidade do Sul da Califórnia enviou um e-mail para a Microsoft convidando Bill Gates a fazer um discurso no dia de formatura, incentivando os formandos no início de suas carreiras e, para sua surpresa, Bill Gates aceitou. Esperava-se que ele fizesse um discurso longo, de mais de uma hora, afinal ele é o dono da Microsoft e possuiu a maior fortuna pessoal do mundo! Mas Bill foi extremamente lacônico, falou apenas durante 5 minutos, subiu em seu helicóptero e foi embora.

A seguir, as 11 regras que ele compartilhou com os formandos naquela ocasião:

“- Vocês estão se formando e deixando os bancos escolares, para enfrentarem a vida lá fora.  Não a vida que você querem, não a vida que vocês sonharam ter, a vida como ela é.  Você estão saindo de um mundo educacional que está pervertendo o conceito da educação, adotando um esquema que visa proporcionar uma vida fácil para a nova geração.  Essa política educacional leva as pessoas a falharem em suas vidas pessoais e profissionais mais tarde.  Vou compartilhar com vocês onze regras que não se aprendem nas escolas:

Regra 1: A vida não é fácil.  Acostume-se com isso.

Regra 2: O mundo não está preocupado com a sua auto-estima.  O mundo espera que você faça alguma coisa de útil por ele (o mundo) antes de aceitá-lo.

Regra 3: Você não vai ganhar vinte mil dólares por mês assim que sair da faculdade.  Você não será vice-presidente de uma grande empresa, com um carrão e um telefone à sua disposição, antes que você tenha conseguido comprar seu próprio carro e ter seu próprio telefone.

Regra 4: Se você acha que seu pai ou seu professor são rudes, espere até ter um chefe. Ele não terá pena de você.

Regra 5: Vender jornal velho ou trabalhar durante as férias não está abaixo da sua posição social.  Seu avós tinham uma palavra diferente para isso.  Eles chamavam isso de “oportunidade”

Regra 6: Se você fracassar não ache que a culpa é de seus pais.  Não lamente seus erros, aprenda com eles.

Regra 7: Antes de você nascer seus pais não eram tão críticos como agora.  Eles só ficaram assim por terem de pagar suas contas, lavar suas roupas e ouvir você dizer que eles são “ridículos”.  Então, antes de tentar salvar o planeta para a próxima geração, querendo consertar os erros da geração dos seus pais, tente arrumar o seu próprio quarto.

Regra 8: Sua escola pode ter criado trabalhos em grupo, para melhorar suas notas e eliminar a distinção entre vencedores e perdedores, mas a vida não é assim.  Em algumas escolas você não repete mais de ano e tem quantas chances precisar para ficar de DP até acertar.  Isto não se parece com absolutamente NADA na vida real.  Se pisar na bola está despedido… RUA! Faça certo da primeira vez.

Regra 9: A vida não é dividida em semestres.  Você não terá sempre férias de verão e é pouco provável que outros empregados o ajudem a cumprir suas tarefas no fim de cada período.

Regra 10: Televisão não é vida real.  Na vida real, as pessoas têm que deixar o barzinho ou a boate e ir trabalhar.

Regra 11: Seja legal com os CDF´s – aqueles estudantes que os demais julgam que são uns babacas.  Existe uma grande probabilidade de você vir a trabalhar para um deles.”

 

MINISTRA ELIANE CALMON deu a sentença correta: MP denuncia juízes que venderam sala de associação para pagar suas dívidas

Magistrados colocaram à venda por R$ 115 mil, sem autorização, sala comercial da Associação de Juízes Federais em Brasília para pagar empréstimos deles próprios; procurador pede perda de cargo

26 de janeiro de 2012 | 22h 30

O Ministério Público Federal (MPF) em Brasília denunciou criminalmente, por apropriação indébita, os juízes federais Moacir Ferreira Ramos e Solange Salgado da Silva Ramos de Vasconcelos – ex-presidentes da Associação dos Juízes Federais da 1.ª Região (Ajufer), entidade que reúne magistrados do Distrito Federal e de 13 Estados.

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Fachada do Edifício Business Point, em Brasília, onde fica o imóvel da Ajufer - Beto Barata/AE
Beto Barata/AE
Fachada do Edifício Business Point, em Brasília, onde fica o imóvel da Ajufer

Ramos (presidente da associação entre 2008-2010) e Solange (presidente por dois mandatos, de 2002 a 2006) são acusados de terem vendido, em fevereiro de 2010, sem autorização de assembleia da Ajufer, a única sala comercial da entidade, no edifício Business Point, Setor de Autarquias Sul, em Brasília. O dinheiro da venda, R$ 115 mil, segundo o MPF, foi usado para abater dívidas de empréstimos que os dois magistrados tinham com a Fundação Habitacional do Exército (FHE/Poupex).

Ramos é autor de representação criminal no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a ministra Eliana Calmon, corregedora nacional da Justiça, que o afastou liminarmente da função em novembro de 2010.

O ministro Marco Aurélio Mello, do STF, cassou a decisão de Calmon, mas, por maioria de votos, os desembargadores do TRF-1 restabeleceram a ordem de afastamento do juiz Moacir Ramos. A juíza Solange continua exercendo suas funções.

Em outra acusação, o Ministério Público Federal atribui crime de receptação a um terceiro juiz federal, Charles Renaud Frazão de Moraes, que também presidiu a Ajufer.

Perda do cargo. A denúncia criminal, protocolada em dezembro, é subscrita pelo chefe da Procuradoria Regional da República-1, Juliano Villa-Verde de Carvalho. Em dez páginas, ele descreve a ação dos juízes Moacir Ramos e Solange e requer a condenação de ambos inclusive à perda do cargo de juiz federal.

O procurador pediu, preliminarmente, o deslocamento do processo ao STF, alegando impedimento da maioria dos desembargadores do TRF-1, já que 17 deles são associados à Ajufer “e, portanto, direta ou indiretamente interessados na causa”. O TRF-1 deve decidir no início de fevereiro se recebe a denúncia ou se remete os autos ao Supremo.

 

Fausto Macedo, de O Estado de S.Paulo

PINHEIRINHO/SP: “THE GUARDIAN, jornal inglês, informa que foram 7 mortes, 60 feridos e 9.000 despejados da área do ladrão milionário NAJI NAHAS. ALCKMIM, violento na defesa do ladrão, colocou a polícia truculenta para atender um mandado de “reintegração” duvidoso (honesto) da justiça paulista. A imprensa nacional, jornais e tvs, NÃO PUBLICA nada, são todos do mesmo grupo. TÁ NA HORA!

 

VEJAM, quem é o invasor?

 

TV GLOBO uma concessão do estado brasileiro a serviço da alienação do seu povo! TÁ NA HORA !!!

“ALKMIN bate e mata pelo dinheiro de NAJI NAHAS” – são paulo

‘Não deu tempo de pegar nada’, conta moradora

Por Felipe Milanez e Maíra Kubík Mano

 

“Não deu tempo de pegar nada. Eles disseram: deixa tudo aí, depois vai voltar para buscar. Peguei o que deu”, relata moradora

O dia começou cedo no último domingo, 22 de janeiro, em São José dos Campos, interior de São Paulo. Depois de chuva forte, havia muita lama por toda a área do Pinheirinho. Às 5 horas da manhã, todos estavam recolhidos em casa, relativamente mais calmos depois que a ordem de despejo, imaginavam, havia sido suspensa.

Janaína (que pede para não ter o sobrenome citado), seu marido e filhos dormiam. Então veio o estrondo, seguido por sons diversos, despertando as famílias que vivem na área para um pesadelo.

Ela conta, com um olhar distante e um semblante tranquilo, algumas horas mais tarde, o que aconteceu nessa madrugada: “A maioria estava dormindo quando eles entraram. Eu acordei com o barulho do helicóptero. Abri o portão e meu vizinho estava gritando. Eles já estavam quebrando. Não tinha como ficar. Eles entraram em casa atirando. É uma covardia o que eles estão fazendo”.

Um susto. Porta arrombada. Gás. Na rua, caos, correria. Barulhos de tiros. Gritos. Todos saindo de casa atordoados.

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Desalojados passaram a noite em claro

“A gente sabia ali que a qualquer hora podia vir a polícia pra cima”. Mas foram pegos de surpresa.

“Sai de casa, sai, sai”, gritou um policial para uma senhora. Ela ainda estava assustada no início da tarde. “Não deu tempo de pegar nada. Eles disseram: deixa tudo aí, depois vai voltar para buscar. Peguei o que deu”.

“Peguei o que deu”, diz morador. Foto: Maíra Kubík Mano

“Peguei o que deu” foi uma expressão corrente. Adrian pegou as galinhas e a mãe. Teve gente que pegou o filho, o bebê. Algum carrinho de mão com um amontoado de objetos. Outros conseguiram jogar uns poucos bens, como aparelho de som e televisão, no porta-malas de carros. Cães. Os bichos deveriam vir junto impreterivelmente. Alguns, saindo do susto, aparentemente mais calmos, acreditaram nas palavras dos policiais e que a senha de papel que receberam daria direito a ir e ver, logo em seguida, a casa intacta para retirar o que quiser.

Janaína ficou confusa quando percebeu que tinha medo da polícia. “Na realidade, a gente tem eles para proteger a gente. Mas nesse caso, eles estão protegendo ninguém.” Uma senhora disse, com ar meio irônico: “liguei para o 190 para chamar a polícia!”

A confusão em torno do papel da polícia (medo ou confiança?), para a moradora do Pinheirinho, tem origem na Justiça.

“A juíza mandou e aproveitaram hoje, domingo, porque a liminar federal vai para ela amanhã (segunda-feira). Agora a maioria do povo vai para alojamento. Ainda tem bastante gente lá dentro. Não querem deixar as pessoas saírem nem entrarem”, conta Janaína, nessa tarde longa de um dia de medo e tensão.

Troa de choque durante a desocupação. Foto: Felipe Milanez

Ela mora há 8 anos na ocupação, desde seu início. E segue: “À noite vai ser pior, vão quebrar tudo. Já tem trator lá, mas não sabemos se derrubaram as casas. Eu não tirei nada, só estou com a roupa do corpo. Eu tirei meus filhos de manhã cedo e meu marido ficou. Ele saiu depois e só pegou alguns documentos. O resto ficou para trás: móveis, eletrodomésticos tudo. Meus filhos estão todos sem roupa”, afirma, apontando para uma menina descalça.

A reintegração de posse foi autorizada pela juíza da 6ª Vara Cível de São José, Márcia Mathey Loureiro. “Se ela aparecer aqui vai ser linchada ou morta”, vocifera Ivonete, empregada doméstica e mãe de três filhos. “Eu tenho que batalhar para sobreviver. Meu marido está preso e eu nem tenho dinheiro para ir visitar ele. Tudo vai para as crianças”.

A entrevista é interrompida por três vezes. Ivonete se perde e é reencontrada em instantes em meio à correria das balas e bombas.

Cheiro de fumaça, cheiro de borracha queimada, marcas pretas no chão. “Parece Bagdá”, comenta um amigo. “Faixa de gaza”, diz um jovem. “Palestina!”, gritou outro, numa roda de papo falando sobre o que está acontecendo.

Carros incendiados nas ruas de acesso avisam, a quem possa interessar, qual é a real situação. Mais perto, tudo fica pior. Tensão era tão visível no ar que ele estava pesado – talvez pelo cheiro de tanta fumaça misturada.

Tumulto. Gente caminhando para todos os lados. Desnorteados, às vezes, como zumbis pobres carregando sacolas, botijões, coisas em carrinhos de bebês, bebês nos colos.

Um helicóptero na cabeça intimida qualquer um. Mais tarde, veio outro, mais amedrontador. Deles saiam bombas de gás químico, insuportáveis ao nariz e olhos. Pendurado para fora da aeronave, o atirador de elite aponta sua metralhadora indiscriminadamente. Isso cria um pânico no chão. O barulho das hélices voando baixo permanece durante todo o dia, ora mais forte, ora mais distante.

Moradores montam barricada perto de casa. Foto: Felipe Milanez

Estratégia de terror psicológico. Cerco. Estão na frente, estão atrás, estão do lado, estão por cima. Polícia por todos os lados. Cercados. Não há para onde fugir, e mesmo assim, agridem.

“Foi a maior guerra aqui de manhã. Os guardas municipais atiraram com bala de verdade. Foi feio”, comenta Maria, que mora próxima à entrada do Pinheirinho e tem amigos lá dentro. “Tinha muita gente machucada. A escola foi queimada, o povo está revoltado. A polícia entra atirando, como se a gente fosse cachorro. Ninguém é cachorro aqui”.

“E não temos notícia lá de dentro. A gente só vai saber mesmo o que aconteceu lá dentro depois que o Choque sair daqui. Aí a gente vai ver o prejuízo”, complementa uma vizinha.

“Lá dentro”, como chamam a área cercada pela PM, ninguém entra.

Capitão Antero, do setor de comunicação, responsável pelo atendimento da imprensa, tenta ser simpático e convincente. Chove um pouco, os jornalistas são minguados nessa tarde, circulando como os moradores, de lado pra lado, desnorteados. Como a polícia também.

“Preparamos a escola para receber vocês”, ele avisa, como um hostess de um clube. “Tem computador, lugar para descansar. Mas esta sala está sem energia. Podem circular à vontade por aqui”.

Helicóptero da PM foi usado na operação. Foto: Felipe Milanez

E passa a falar da organização da operação, do planejamento exato que diz ter sido feito, de como a PM não agiu com violência alguma, “o ferido foi em um confronto com a GCM (a Guarda Civil Municipal)”.

Ao que importa: o que está acontecendo “lá dentro”? É possível entrarmos?

A resposta: “nem acompanhado da polícia. Lá dentro ninguém entra. Onde está ocorrendo a ação não pode entrar. pois não podemos garantir a segurança.”

Quanto mais perto da entrada do Pinheirinho, mais gente se aglomera.

Uns eram curiosos do bairro, excitados com toda aquela movimentação. Outros, moradores da região que achavam a reintegração absurda, assim como a ocupação militar na porta de suas casa.

E havia, claro, centenas de pessoas recém-despejadas. A área tinha cerca de 1.600 famílias. Todo mundo deveria sair imediatamente, deixando tudo o que tem em casa, para ter então a sua situação reconhecida pelas autoridades num processo que a polícia militar estava chamando, quando perguntada, de “recadastramento”.

Janaína e Maria estão paradas em frente ao terreno onde a Prefeitura de São José dos Campos coloca os desabrigados. Observam tudo o que acontece. Maria está com o celular na mão, gravando vídeos e tirando fotos. Mostra imagens do carro da TV Vanguarda pegando fogo e de um policial empunhando uma arma contra ela e dizendo que não ela não podia filmar.

Policiais se armam contra moradores. Foto: Felipe Milanez

Começa uma correria dentro do alojamento. Depois de uma conversa rápida com um advogado do Pinheirinho, os moradores decidem derrubar parte da cerca dessa área onde estavam confinados pela Prefeitura. O lugar mais parece um campo de concentração do que de refugiados. Tudo vigiado pela Guarda Civil Metropolitana que manteve, ao longo de todo o dia, cenas de confronto quase ininterrupto com a população que era obrigada a entrar, pela PM, nesse reduto. Era algo como: se correr o bicho pega, se ficar, o bicho come. Bicho mau, no caso a GCM, que foi ainda mais truculenta com os moradores.

Funcionários do município que colocavam arames farpados nas grades do terreno são surpreendidos por um grupo de 20 pessoas. Com algum esforço, um pedaço da cerca verde vai ao chão. Bombas de gás estouram naquela direção e ouve-se o barulho de tiros. Dois carros da polícia cantam pneus na rua do lado para afastar os moradores do bairro. Um militante do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, é espancado pela polícia e levado preso. Horas depois, soube-se que ele recebeu cuidados médicos algemado.

Vem à mente a frase do capitão Antero: “ferido? só em um confronto com a GCM”. Bastava andar pelas ruas para ver pessoas mancando com faixas, como um senhor de setenta anos, todo machucado, ou jovens que mostravam as marcas de balas no corpo como tatuagens, ou Reinal Ferraz da Cunha, que levanta a calça para quem quiser ver a marca de bala de borracha em sua perna esquerda. “Foi à queima-roupa”.

O movimento diminui e a situação parece ficar novamente calma, mas tensa.

As tendas da praça são brancas, como aquelas utilizadas em raves e em shows de música, em festivais.

As placas eram simpáticas como se fossem para receber convidados. São parte do “planejamento minucioso da operação” mencionado pelo capitão Antenor – que fez questão de ressaltar que “a polícia Militar não faz atendimento social”.

Faixas brancas com escritos azuis na entrada. A primeira delas dizia, de forma convidativa: “recepção.” Nas cadeiras apenas alguns moradores, nenhum funcionário.

Depois, como no parque temático, seguiam os dizeres de diversos serviços do Estado, aos quais os moradores do Pinheirinho não tinham acesso onde viviam: “Conselho Tutelar”; “Atendimento Social” (que “não é serviço da PM”, fez questão de ressaltar o capitão); “Alimentação”; “Alojamento”.

Mais um espaço com muitos computadores desligados, estes que serviriam para fazer o cadastramento da população. Quem planejou a operação, aparentemente, sabia como receber convidados em um grande evento. Não contava, no entanto, com a dura realidade da situação.

Ronaldo está na fila para passar pelo processo de triagem. “Triagem? Que diabos é isso? Só ouvi falar em trilhos lá em Minas Gerais”, balbucia.

“Eu construí uma casa de cinco cômodos no Pinheirinho e agora querem me mandar para tendas. Eu não sou índio para morar em tendas!”

Josias, pedreiro, já foi registrado no cadastro da Prefeitura. “Eles deram essa numeração aqui”, aponta para uma etiqueta colada no peito. “Disseram para tirarmos só os pertences de roupas, documentos. Nem no Rio de Janeiro, que tem traficantes perigosos, foi esse confronto todo. Aqui só tem gente humilde, trabalhadora”, reclama.

Guarda Civil dá as boas vindas à população. Foto: Felipe Milanez

“Saímos do Pinheirinho às 4 horas da manhã. Já é de tarde e nem deram comida para a gente. Daqui a pouco a maioria de nós vai perder o emprego. Nem as nossas coisas querem que tirem. Amanhã, quando eu chegar na firma, eles não querem saber dos meus problemas. Se eu não aparecer, mandam embora. Todo mundo tá sem teto aqui”.

Em seguida, pães franceses – sem mortadela, manteiga ou algo do gênero – são distribuídos para mãos desesperadas.

Edvaldo, ao seu lado, está nervoso. “Aqui não é favela, é um bairro. Nós queremos que legalizem o terreno. Nós queremos construir as casas do nosso próprio bolso, não precisa dar nada”.

“Chegaram às 4 horas da manhã jogando bomba de gás. Já mataram gente, tem um aleijado. A Guarda Municipal deu três tiros num moleque. Eu vi”, diz Josias. Nenhuma morte foi confirmada até agora, mas muitos boatos e depoimentos correm soltos, inclusive de uma criança pequena que teria falecido intoxicada com o gás lacrimogênio – algo que seria plenamente factível pelas cenas que presenciamos.

“Já tem mortos lá dentro. Eu não vi, mas todo mundo está falando. Tem um que está no hospital, acordou agora. A mãe dele me disse que ele pode ficar paralítico. Não podia ter entrado com bala de verdade, mas todo mundo está usando elas”, afirma Janaína.

Pouco depois, quando a luz do fim do dia começa a se apagar, tem início um novo tumulto assim que um trator acelera em direção à ocupação.

Os moradores tiveram a certeza de que suas casas seriam derrubadas. Havia um cordão de policiais ao longo de uma corda azul de nylon. “Não pode passar da corda”, gritou uma policial quando passamos, quase sem perceber, em direção ao Pinheirinho.

O motor do trator é barulhento. Atravessando essa avenida com um canteiro no meio, estava a praça na qual os moradores estavam reclusos, nas tais tendas.

Trator é usado para ‘limpar’ o terreno após desocupação. Foto: Felipe Milanez

O trator avança e a PM mantêm-se burocraticamente calma. Mas a notícia começa a se espalhar dentro da praça. E os moradores, assustados, a correr. Gritos. Xingamentos da PM. Ao lado dos policias, dois jornalistas vestem coletes a prova de bala da cor azul-claro (ou, o popular azul-calcinha). São da afiliada da Globo e foram os únicos autorizados a entrar dentro da área do Pinheirinho (uma exceção à regra da “imprensa não entra” emitida pelo Capitão Antero).

Pedras. Mais xingamentos. Surpresa. Gritos agudos de mulheres em prantos: “minhas coisas”. “Filhas da puta”. “Filma isso” e “fala a verdade aí, o Globo”.

Desesperados, e atrás das grades altas, verdes, os moradores temiam ser passados para trás mais uma vez. Os papéis que haviam recebido para, depois do confronto, retornar às suas casas e retirar seus pertences, não serviriam para nada. Enfeitariam o chão das ruas, voando com o vento dos carros da polícia que passavam correndo a alta velocidade e cantando pneus para assustar aos moradores.

Os escudos foram armados. Passaram informação no rádio e um pelotão veio caminhando em passo firme pela rua que faz a divisa com o Pinherinho. Passo militar. Foi cômico quando o primeiro da fila parou e levantou a mão, e os últimos, sem prestar a atenção, olhando para as pedras e os xingamentos, juntaram-se a ponto de tropeçar nos parceiros da fila.

Alguns carregavam granadas de gás na mão. Foi dada a ordem para preparar. E avançaram em direção à grade e pela rua. Muitos tiros e bombas são lançados para a praça. Alguns policiais, mais atrevidos e nervosos, correram até a grade, aos gritos: “O Pinheirinho agora é nosso”, disse um, sem identificação, atirando. Apontava a arma reta, na altura do ombro.

Nas tendas agora enfestadas de fumaça tóxica também estavam mulheres, crianças, famílias. Todas deitadas, pensando ser ali o alojamento. A GCM se somou à PM e respondia com tiros e mais bombas em direção aos manifestantes, recuados numa ponta. Atacados dois lados, eles não sabiam mais para onde correr. Gritos, muitos gritos de desespero.

Na rua, todos entram na primeira casa que viam com o portão aberto. A polícia segue avançando em paralelo à grade. Muita fumaça. Tanta fumaça que o pelotão, em mais uma cena de comédia e tragédia, passava pelo meio da fumaça que haviam provocado para assustar os moradores e terminava com os próprios olhos ardendo. Dava para ver os policiais lacrimejando – como nós, ali do lado.

Mas mesmo com os olhos inflamados, sem máscara e com a visão prejudicada, eles não paravam de atirar. Claramente assustados, tentavam assustar ainda mais os moradores.

‘Não houve violência’, garante a polícia. Foto: Maíra Kubík Mano

Os boatos continuavam a circular. Duas moradoras mostram os números que haviam ganhado num papel. Outra, uma pulseira azul, utilizada por várias senhoras. A pulseira servira para marcar os moradores legítimos do Pinheirinho que teriam direito a um alojamento. E os números distribuídos seriam o direito ao retorno a suas casas para recolher os bens. Assim pensavam as entrevistadas. Nova decepção veio quando surgiu a possibilidade de que seus bens seriam enviados para a cidade de Osasco. Será que nunca mais ninguém ali veria a sua casa? O jardim, o colchão. A pia da cozinha. A horta. A rua. A janela. O quarto. Onde dormir naquele domingo? “Nesse alojamento onde eles jogaram bomba agora? Eu é que não vou dormir aí. Prefiro dormir na rua”, disse uma moradora. “Eu é que não fico aí com as crianças”, garante Janaína.

Um jovem magro, cabelo descolorido, camisa sem manga, chega junto para puxar conversa. Dar uma real. Olha a fumaça. “Tá ouvindo os grito das muié?”, pergunta. “Vou dizer uma coisa pro senhor: eu sou bandido. Sou mesmo, não nego. Mas esses daí”, aponta para a polícia, “esses daí são cruel. O que eles tão fazendo com as mulher e as crianças nóis num faz não.”

Nesse momento, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, em última instância o responsável pelas ações da Polícia Militar, posta em seu twitter um “feliz ano novo” chinês.

tv globo: UM DIA SEM ELA, pelo menos. podemos mostrar a eles que podem comandar o futebol, a putaria, mas NÃO as nossas mentes, a educação de nossos filhos e netos. diga NÃO a LAMA que invade o seu lar.

“AO MENINO QUE BRINCAVA DE AVIÃO” – por omar de la roca / são paulo

 

Kevin então pigarreou, ajeitou as jóias da coroa para reunir coragem. Queria contar uma história mais leve.Mas o que vinha a cabeça dele agora eram os antigos e sempre presentes relatos sobre a grande fome , sobre os gigantes , “ banshees” que passavam voando baixo aos gritos.Humilhação e sofrimento. Corpos abandonados,sexo atrás dos muros da igreja quando ninguém estava olhando,ou nas praias durante os curtos verões.Longas viagens de navio para a América,das quais muitos não sobreviviam. Levantou a mão para persignar-se mas parou a mão no meio do caminho . A boa e velha culpa católica,incutida pelos padres de sua cidadezinha num recanto perdido da Hibérnia. Para disfarçar, abanou o rosto com a mão dizendo que estava com calor e só iria conseguir falar alguma coisa depois de mais uma cerveja. Pediu para que Sergio tomasse sua vez.

Sergio pediu um minuto,já que a cerveja fazia efeito rápido. “ Cambiare l’acqua de l’olive “, ele disse e retornou em poucos minutos. Jogou o chiclete que mascava para tirar o amargor da cerveja,era o que ele dizia, mas era dependente de açúcar e por isso comprava chiclete diet para enganar. Tossiu um pouco para chamar a atenção e começou a história, jurando que não era autobiográfica.

Já há alguns anos ele  elegeu como sua primeira memória de infância,ele mesmo saindo correndo pelo portão de casa na antiga Rua da Consolação com os braços abertos querendo ganhar o ar. E se maravilhava ao ouvir histórias de quem já havia voado. Naquela época, fim dos anos 50 as coisas eram mais difíceis. Ia-se a biblioteca para pesquisar biografias e, pasmem, havia um campeonato de carrinhos de rolimã que desciam a Av. Rebouças aos domingos.A pegadinha era que só ganhava o menino que trouxesse o carrinho até o ponto de partida, subindo a avenida. Mas ele só foi uma ou duas vezes.Naquela época,havia uma sessão de cinema matinal aos domingos com o Pica Pau,que ele raramente ia.É, as coisas eram mais difíceis. E não só para ele.” Mas não quero transformar este conto em livro, disse Sergio,até poderia mas ia ser difícil de contar .Para que colocar no papel todas as agressões sofridas? Todos nós tivemos más experiências na infância.”  Mas aquele episódio de violência sexual o marcou tão fundo que lhe perseguia através dos anos. Anos e anos querendo ser “ normal” mas sempre com aquela sombra,estigma e a inevitável depressão. A primeira namorada,que durou um dia, a segunda, que lhe  deu o fora no dia de seu aniversário , deixando-o arrasado.O retraimento. A introspecção. A miopia a falta de recursos para o óculos,a repetência na segunda série ,aquela sombra pesando cada vez mais.Agressões,auto agressões.O quanto não fez para sobreviver ? Foi como uma árvore criada entre muros, que o protegiam mas não lhe deixavam ver nada. E  não lhe protegiam deles mesmos. E sempre o peso ,o medo , a falta de orientação.A falta de alguém para conversar. Amigos poucos, quase nenhum. Um primo,que tinha que ter sempre razão e ia bem na escola.Mas ele não . Fez amizade com um rapaz e começou a freqüentar a casa dele que morava com a irmã e os pais. E para ele, era como um refúgio estar lá. E para ele eram todos amigos. Viajavam juntos, tinham coisas em comum, foi uma época bem legal. Estava tão escaldado do peso de tantas coisas que vivia meio desligado, com a cabeça na lua . As namoradas que nunca davam certo. Os amores platônicos sem continuidade. Para ele,  era apenas uma sólida amizade. Mas  faltou percepção para ver que para a irmã dele, as coisas não eram bem assim. Jurou que não foi por maldade,que não fazia a menor idéia. Um dia, estava na casa deles quando receberam visitas.Uma amiga de anos com o namorado. E uma voz falou ao  ouvido dele, “ Olha ai a tua mulher. “ .Estas coisas as vezes  acontecem a ele. Achar uma pessoa que o estava  esperando em um lugar que ele  não esperava encontrá-la. E muitos outros acasos os quais agora não cabem aqui. Passou algum tempo, voltou a encontrar aquela amiga,que já estava sozinha. E foi como se dois pólos opostos se atraíssem com força. Foi ela que o fez pensar que  poderia ser “ normal”,após tantos anos de sofrimento. Dali a uns anos se casaram e foi só ali que ele  percebeu que seus problemas haviam apenas começado.  “ Sergio fechou os olhos e roçou o dedo de leve por debaixo dos óculos.E nestes breves segundos passearam pela sua memória anos de rejeição, repressão e auto agressão.De depressão e auto controle. De fogo e gelo. “ Tossiu de leve e voltou a narrativa :  E sempre aquela ânsia pela normalidade,pela tranqüilidade.” Resolveu deixar de lado o relato de muitos anos,mesmo que o psicoterapeuta dissesse que conversar era uma forma de terapia e de compreender que muitas vezes não somos os únicos com aquele problema.Não ia interessar aos seus amigos ouvir as dificuldades de um terceiro.” Passados tantos e tantos anos assistiu ao filme “ O menino do pijama listrado “,e adaptou a música de início, quando o menino “ voa “ pelas ruas de Berlin  ( que na verdade era Budapeste ou Praga na versão do filme , ele não se lembrava bem) a sua primeira memória elegida, e quando não está bem retorna a ela   “ ouvindo “ a música junto . Fica se pegando em mínimas alegrias para manter a sanidade .Apega-se a pessoas , uma pessoa no escritório ( uma loura que não aquela da contabilidade ) a um amigo inglês que pescou na Internet há muitos anos atrás e que por coincidência tinha o mesmo problema de relacionamento com a mulher ( coisas do inconsciente coletivo )que ele tem. Sergio achou que devia explicar e o fez  dizendo que  o amigo,na época, entrou em um site que relacionava pessoas interessadas em trocar correspondências e enviou quase 20 e mails pedindo por amigos para escrever. Alguns poucos retornaram inclusive Trawets , que continua até hoje e se tratavam como Bro ( irmãos ). Então voltou a história .Perto do fim do ano recebeu um texto que falava sobre  Fênix   e renascimento e percebeu que na verdade tudo dependia dele. “ Sergio parou por um segundo e lembrou-se de um trecho do  conto de Omar que dizia ‘ vivi muito tempo em minha própria sombra,agora quero um pouco de luz.’ “E continuando o conto ,não quero mais arrastar minhas correntes, ninguém quer ouvir o barulho delas. Quero que elas se partam e caiam ao chão . Lembrou-se dos  quadros inacabados no alto da prateleira da cozinha. Não era um bom pintor,mas gostava da arte,do cheiro da terebintina e da mística que envolvia os pintores.Pintar o que conseguia era sua maneira de se vingar pela falta de oportunidade de estudar arte.Tinha adorado “ Meia Noite em Paris “.Gostaria de ter suas esculturas em bronze,mas o preço era proibitivo. A menos que conseguisse um mecenas que o patrocinasse.Mas também não era bom nisso. Mas para se vingar fazia as esculturas em argila e revestia com epóxi para criar resistência,e as cobria com folha de ouro para melhorar a apresentação . Deu-se conta de que as quedas se sucederiam, mas que teria que resistir a elas e ,a cada uma, ele iria se levantar mais rápido e mais sábio. Não deixaria mais de aprender algo com cada situação que a ele se apresentasse.  ‘” Sergio viu que os outros dois esboçavam uma cara de sono, tirou os óculos, fingiu que os limpava na gravata meio solta e disse que por enquanto era só.”

DE POEMAS E DA POESIA – por zuleika dos reis / são paulo

            

Se meus poemas são poesia, não o sei com certeza, que nem todo poema é poesia, assim como muita prosa é poesia, tal qual a prosa de Guimarães Rosa, que já a tem desde o próprio nome. Gostaria de ter sobre minha escrita “poética” a mesma lucidez que me ocorre diante da escrita poética das outras pessoas.

Talvez eu seja apenas portadora de uma boa antena poética, que me garante a percepção de muita da poesia que flui das coisas e isto já é cota razoável de bem em um mundo de infinitas miserabilidades, criadas pela nossa Espécie.

Vejo a poesia como um bem de vocação comunitária, ao menos se avançarmos rastro atrás até a sua origem, vocação que se manteve, sob formas diversas, até ainda a Idade Moderna – falo de Ocidente – e que foi, a partir daí, se afastando cada vez mais celeremente dessa vocação e se tornando um exercício mais e mais solitário, para leitura de leitores apenas em seus espaços particulares. A Internet parece-me estar a trazer de volta, em novos moldes, a partilha da poesia, recuperando a sua dimensão social. Se ainda não é um bem para todos – nunca o foi, em verdade, em tempo histórico algum, este sonho é uma Utopia – é pão necessário para muitos, tão necessário para a vida como o são os pães feitos de trigo; água tão imprescindível como a água que permite a sobrevivência do corpo.

Se sou efetivamente poeta, não o sei; com certeza, nutro-me de poesia, da poesia que não se encontra só nos poemas, mas, em outras manifestações da arte. Sem a poesia, neste sentido mais amplo, eu seria um ser deveras miserável, digno de muitíssima pena. Sem a bênção da poesia eu seria, apenas, uma completa e irremediável mendiga, mendiga de mim mesma a me pedir esmolas ao real, ao que chamamos real imediato, com o qual temos os compromissos necessários e obrigatórios, no centro do qual, sem a poesia e o sentimento poético do mundo, segundo a expressão de Drummond, eu – só posso  dar meu testemunho pessoal – morreria por falta de oxigênio.

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SITE EM OBRAS

ELA – por olsen jr / ilha de santa catarina

Não lembro o dia exato em que comecei a pensar nela. Tampouco, o porquê. Francamente, nenhuma destas dúvidas tem importância. Mas o pensamento ficou, como uma advertência falsamente descompromissada de que “ela” existia, poderia se fazer presente ao seu bel prazer, sem aviso prévio, sem data marcada, sem dia, hora ou local. Semelhante a uma visita indesejável, simplesmente aparecia.

Não costumo dilapidar energia com aquilo que não entendo. Procuro assimilar o fenômeno, aceito o inevitável, mas insubordino-me com o previsível, o que é o princípio do pensamento científico, e pode ensejar outros caminhos.

Agora, é revoltante a maneira como “ela” se apropria, envolve, consome, afasta, isola, tantaliza e despreza todas as pessoas que amamos. Senhora de si, nunca questionada, mais um espectro que ronda a nossa pequenez, por isso parece tão soberana e ao mesmo tempo, tão desprezível.

Aliás, “ela” é a senhora do tempo, uma vez que o tem integralmente, ignorando por esta razão o que nós mortais chamamos de “momentos” (sempre associados à felicidade)… Quer dizer, costumamos conceituar a “felicidade” como uma sucessão de “bons momentos” num determinado tempo, a consciência disso é que faz com que externemos tal convicção. Mas para “ela”, esta (in)distinta senhora a quem me refiro, que é o “seu” oposto, não há convicção que lhe faça frente, a não ser, é claro, a convicção de que não há convicção, tautologia.

Outro dia, tive a sensação de que “ela” estava aqui. Senti em todo o meu corpo o incômodo de sua presença. Algo estranho, a existência de dois olhos invisíveis me observando de algum ponto do universo, digo para mim mesmo que ainda não é chegada a hora e afasto aquele peso sinistro dos meus ombros, com atitudes práticas, metapreferências, se quiserem, facilmente constatáveis.

Feita a escolha, me sinto leve, como o fundista que no sprinter derradeiro, vence seus oponentes, porque (já exausto) não se espera nada mais dele… Talvez, se for um vencedor, que seja alguém diferente, o que pode ser o caso.

Precisamos da crença de que “somos” diferentes, senão a vida seria insuportável.

Apresento agora a “vetusta senhora”. Desprovida dos cinco sentidos, portanto, entre outros, não enxerga, não fala e não ouve: a morte! Que, periodicamente, leva, de uma só vez, várias pessoas de uma mesma família, não fazendo nenhuma distinção particular: se homem ou mulher, se velho ou jovem. Diz-se que é o destino quando acontece com os outros e pouca importância se dá, embora os jovens sofram mais. Mas naquele ano foi a vez de nossas famílias… E éramos jovens.

Uma sucessão de imagens, um volume avassalador de quadros, lembranças, figuras, ações, sonhos, frustrações, conquistas, fracassos, pessoas indo e vindo, tudo se misturando e confundindo enquanto faço o café e aspiro aquele odor familiar, uma vida em segundos, inacabada e perversa, e no rádio, quase imperceptível, a voz do Gilberto Gil cantarolando “… Um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria”…

.

NOTAS:

A música é essa: “A Day in the Life”, dos Beatles…

Em muitos lugares a canção sofreu restrições porque se supunha era uma apologia as drogas…

Na verdade, foi a primeira vez que Lennon e McCartney fundiram duas composições inacabadas de cada um…

Lennon havia lido o jornal dentro do ônibus sobre a morte de um amigo dos Beatles (num acidente de carro)… E rabiscou alguma coisa aludindo a outras notícias do mesmo jornal…

Paul McCartney anexou uns versos em que lembrava o fato de acordar cedo, fumar um cigarro e sair correndo para pegar o ônibus para ir para à escola…

Well, a fusão das duas partes gerou “A Day in the Life”… Uma bela canção… E claro, tanto o Lennon como o McCartney devem ter ficado surpresos com as “razões” de cada um para escrever o que escreveram e mais ainda, pelo “casamento” perfeito com os versos deles fundidos  no resultado do trabalho…

Parece que até os equívocos favorecem os gênios, digo, aos homens de talento, ou será que é o contrário?

http://www.youtube.com/watch?v=P-Q9D4dcYng&feature=related

A ARTE NÔ DE MARGUERITE DURAS – por jorge lescano / são paulo.sp

Durante um encontro para discutir a obra de Marguerite Duras em Paris, a crítica Dominique de Gasquet apresentou um texto com o título L’Ombre du Nô en Durasie (A sombra do Nô em Durasie). Nele, a autora rasteia prováveis contatos, casuais, da obra de Marguerite Duras com aquela modalidade do teatro japonês e recolhe dados sobre a repercussão deste na França. Não é improvável que amplie por sua conta e risco alguma influência que a arte possa ter exercido naquele país. Afirma que A Tradição Secreta do Nô, de autoria de Zeami Motokiio, ator, encenador, dramaturgo e teórico codificador do Nô, impregnou a estética dramatúrgica ocidental do século XX. Cita Paul Claudel e Peter Brook, entre outros, que teriam sido influenciados por aquela estética. Dispensando esta questão discutível, seu texto desperta interesse pela propriedade de suas observações.

Gasquet opina que Duras teria realizado e apresenta exemplos pertinentes. Acredito ser possível levar avante esta interpretação. O número de vezes nas quais aparecem situações, signos, ou funções do teatro japonês, confirmaria tal opinião. Ignoro quais os contatos que a escritora pudesse ter com essa arte, no entanto, são muitas as “coincidências” para atribuí-las ao acaso, como faz a autora do artigo ao dizer que Duras teria feito Nô, sem o saber. Ao mesmo tempo, a importância dos nomes citados no cenário mundial, permite supor que Marguerite Duras conhecia, ainda que de forma indireta, esses meios de expressão e os romanceou e dramatizou conscientemente.

As fontes literárias do são em grande parte do Guenji Monogátari, romance do século XI, de autoria da senhora Murasaki Shikibu, dama de companhia da imperatriz. Também o Ise Monogátari — obra atribuída ao nobre Ariwara no Narihiri, que viveu no século IX — contribuiu para o repertório teatral em questão, assim como a História e a Mitologia. Fica claro assim que desde o início o será uma arte arcaica, metalingüística, intertextual.

Marguerite Duras recorrerá aos mesmos expedientes dos dramaturgos japoneses, com a diferença de utilizar material próprio. Sua obra é uma rede de situações, personagens, lugares, que justificam a denominação Durasie cunhada por Dominique de Gasquet.

Sem desejos de polemizar, chamo a atenção para o fato de críticos (Roland Barthes citado no romance Yan Andréa Steiner; R.J., Nova Fronteira, 1993; pp. 13, 14), tradutores (Fernando Py: O vice-cônsul, R.J., Francisco Alves, 1982) e leitores menos especializados, associarem Marguerite Duras ao noveau roman ou ao romance e teatro psicológicos do século XIX. Apesar das evidências que negam o realismo daquelas poéticas, essas leituras pendem para tal interpretação. Nosso enfoque aproximará seus personagens mais do desenho que da fotografia, o romance e o teatro mais da invenção que do documento. Trata-se mais da concepção da obra que de eventuais efeitos. O teatro de Marguerite Duras é tão artificial (artístico) que torna impossível qualquer julgamento baseado na realidade empírica, que nunca deve ser critério de avaliação da obra de arte, pois quando a obra ficcional se submete às regras da realidade objetiva, põe em questão o conceito Arte.  

Até agora apenas três peças foram publicadas em português, são elas: Índia Song, de 1973 (Lisboa, Quetzal, 1989); Agatha, 1981 (R.J., Record, s.d.) Savannah Bay, 1983 (R.J., Record, s.d.). Existe uma tradução do diretor Emílio Di Biasi, não disponível nas livrarias, de Cinema Éden, de 1977, encenada em 2005 pelo tradutor com Cleide Yaconis no papel principal. Esta deficiência editorial impede estudos mais profundos da obra desta autora que é, sem dúvidas, uma das renovadoras da dramaturgia contemporânea.

Marguerite Duras usa o palco para encenar o discurso. Mais de uma vez a autora enfatizou sua despreocupação com a “misse en scene”. Seus personagens permanecem por longos períodos imóveis, e as rubricas indicam que não devem falar durante os câmbios de postura ou deslocamentos. Como na arte , a fala é considerada uma ação física, que não deve ser perturbada por outra ação. Também seu texto se aproxima do ; ele é narrativo, não dramático à maneira de Strindberg, por exemplo. Mais que viver, os personagens contam situações dramáticas; teatralizam a literatura através do solilóquio, do diálogo, do dueto (em Índia Song será um quarteto). A lentidão dos movimentos, as longas pausas entre falas, as cenas “vazias”, são recursos amplamente utilizados pelo teatro japonês. Cada um deles poderá cumprir mais de uma função, simultânea ou não, dentro da narrativa cênica.

 

Índia Song é obra muito complexa, temática e tecnicamente. A cena é muda, os protagonistas vivem situações que são lembradas-narradas por quatro vozes em off. A distância entre ação e narração – as vozes contam a cena como pertencente ao passado — torna a experiência insólita, quase onírica. Paralelamente à história de amor representada no palco, fica-se sabendo da fome e da lepra que rondam o palco numa Calcutá explicitamente inventada pela autora, segundo ela mesma sublinha nas “Notas Gerais” que antecedem o texto.

Eis um exemplo de rubrica desta obra:

As vozes 1 e 2 são vozes de mulheres. São vozes jovens.

Estão ligadas entre si por uma história de amor.

“[…] as vozes destas mulheres estão atingidas pela loucura. A sua doçura é perniciosa.

(p.11)

Nenhuma conversa terá lugar em cena, nem será vista.

Nunca serão os actores em cena a falar.  (p.54)

A dicção, em geral, deverá ser de uma extrema precisão. Não deverá parecer COMPLETAMENTE NATURAL (sic). Um ligeiro defeito deverá ser aperfeiçoado durante os ensaios e será COMUM (sic) a todas as vozes.

Deveria ter-se a sensação de uma leitura, mas transposta, ou seja: Já representada. É o que chamamos “voz de leitura interior.

Lembramos que em cena, rigorosamente, nenhuma palavra será pronunciada. (pp. 55/56)

 

Aqui o seu equivalente na arte Nô:

“JI: coro. […] São seis a oito pessoas. […] O maestro do coro, chamado ji-gashirá, senta-se no meio da fila posterior. Os coristas sempre obedecem a ele. Se acaso o maestro erra uma nota, todos devem errar juntos. […] O canto do Ji apresenta, às vezes, o sentimento do(a) protagonista ou do coadjuvante.”

(Eico Suzuki; Nô Teatro Clássico Japonês; São Paulo, Editora do Escritor, 1977; pp. 48/49) 

A imobilidade inicial dos dois personagens de Agatha deve sugerir que eles chegaram de viagem separadamente e falaram intensamente antes de ter início o espetáculo. A luz do palco deve surpreender tanto o público como os personagens.

Esta rubrica é um desafio para qualquer ator:

A cena começa com um longo silêncio, durante o qual nenhum dos dois se move. (p.6)

A história de Agatha vai se desenrolando através do diálogo dos irmãos, o tema dramático (o incesto) é sugerido pela narrativa e alguns gestos que se tornam ambíguos em virtude das falas.

A sutileza da ação fica patente no tom das rubricas:

 

Sem resposta. Silêncio. Ela olha pela janela. (p. 8)

Silêncio. Ele fecha os olhos. Ela olha. (p. 9)

Silêncio. Eles se olham. (ib)

Silêncio. Não se olham mais. (p. 10)

Olham-se de novo. (p. 11)

A rubrica também suspende certa prática do teatro que pretende “dramatizar” a cena. Refiro-me a sobreposição de ações físicas, à simultaneidade de fala e movimento corporal.

Silêncio. Depois eles se deslocam, sempre entre as falas, e colocam-se contra as paredes, os móveis, e ficam onde se colocaram, e então , uma vez imóveis, falam. (p. 25)

 

Longo silêncio. Eles se movem sem falar e depois outra vez se imobilizam e falam. Nunca falam em movimento.  (p. 54)

Outra característica do é o uso de máscaras. Estas são esculpidas de tal modo que pode mudar de expressão segundo sua relação com a luz. As mais freqüentes são “nublar” e “iluminar” a máscara. Marguerite Duras encontra uma equivalência para nublar:

Ambos fecham os olhos. Tempo. (p. 13)

Silêncio. Eles se movimentam como que durante o sono e depois não se movem mais; ficam parados, olhos não visíveis fechados, olhando fixo para o chão.  (p. 19)

Silêncio. Ele a chama, de olhos fechados.

ELE — Agatha

Silêncio. Da mesma maneira ela responde, com os olhos fechados.  (p. 31)

Estes “trances” são interrompidos pelo equivalente a “iluminar” a máscara: a fala, ou o olhar:

Ficam muito tempo calados. E depois se movem. Retomada das forças visíveis, momentaneamente abandonadas. A palavra está outra vez presente. (p. 42)

Ele se levanta. Eles se olham. Não se falam. Depois desviam o olhar. E se falam. Então, apenas o texto se move, avança. (p. 70)

Silêncio. Mantêm os olhos fechados. Estão numa rigidez assustadora.  (p. 74)

Esta, a rubrica final. Parece desenhar um círculo em torno da peça ao se reencontrar com a primeira.

 

O palco está quase vazio. Há seis cadeiras e dois bancos cobertos com capas claras, e uma mesa. O chão está nu. Tudo isto deve ocupar um décimo do espaço do palco. É aí que será representado Savannah Bay. Atrás desse espaço da representação, separado dele, encontra-se o cenário. É um palco de teatro muito grande, feito para ser erigido numa paisagem vasta e deserta.   

(Savannah Bay, p. 77)

Este o cenário de Savanah Bay. A cenografia teatral é para uma peça que não será representada: ilustra o passado de Madeleine, ex-atriz. (Também pode ter a função do pinheiro pintado no fundo do palco . Esta árvore não é uma referência espacial, não faz parte do enredo, é um símbolo desta arte, presente em todas as peças. Aqui a cenografia poderá servir para nos lembrar que estamos no teatro — teatro teatral, como queria Meyerhold.) Próximas do público, Madeleine e a Mulher Jovem se reúnem para tomar chá e tentar lembrar — a referência a Proust é óbvia –: revivem a morte de uma criança. O drama é narrado de forma cíclica, com pequenas alterações de cada vez, como se as protagonistas representassem a situação da autora durante a criação. As falas sugerem as circunstâncias daquela morte, provocando imagens pessoais que são, em última instância, o verdadeiro espetáculo. Um espetáculo paralelo ao do palco, virtual, poderia dizer.   

a intensificação de uma única emoção, que constituirá a possível ‘unidade da peça’, visa à expressão de um plano de emoções que transcenda o individual e atinja o universal. O tempo e o espaço convencionais perdem as suas arestas, resultando na abolição das distinções entre sonho e realidade, mundo dos vivos e mundo dos mortos, restando apenas a sensação de um vívido intemporal e a – espacial.

(Darci Yasuco Kusano; O que é teatro Nô; São Paulo, Brasiliense, s.d; pp. 63/64)

Outras ligações com a Arte Nô poderiam ser acrescidas.

O teatro de Marguerite Duras é auto-referente no mais alto grau, como a música. Esta qualidade teatral, intransferível para outra linguagem ou situação, é o que faz da sua obra, e do , algo único. Ninguém poderá confundir uma cena de , ou de Marguerite Duras, com um recorte da vida cotidiana.

Esperamos que os senhores editores corrijam urgentemente a grave ausência destas dramaturgias.

Marguerite Duras, filha de pais franceses, nasceu em 04/04/1914 na Cochinchina, atual Vietnam. Chegou à França com 18 anos, estudou direito, participou da resistência durante a segunda guerra mundial. Sua obra se compõe de romances, contos, teatro (autora e diretora), roteiros para cinema (o mais famoso Hiroshima, mon amour), filmes próprios (realizou 18 filmes como diretora), entrevistas, reportagens, crônicas. Ganhou o Prêmio Goncourt, o mais prestigioso da literatura francesa, em 1984 — também se diz que foi o Goncourt quem ganhou Marguerite Duras. Faleceu em 1996, em Paris.

 

Desejo de tolo – de gilda kluppel / curitiba

Tolos ambicionam o poder

e aos inocentes restam as lágrimas

nem em seus piores pesadelos

podem imaginar

as competições repugnantes

em palavras equivocadas.

Clausuram sentimentos

encerram as amizades,

iniciam parcerias,

unem-se aos assemelhados

ocupam os espaços

demarcam territórios

e consolidam acordos

para abrigar os indesejáveis.

Enfileiram as pessoas

como cartas de um baralho sobre a mesa

para tecer julgamentos espúrios

descartam os inconvenientes

que podem ser recolhidos

numa próxima rodada.

Caem as máscaras

na face a madeira bruta

sem verniz para disfarçar.

Espectros se levantam

sombras predominam

desonram os honestos

e a virtude é humilhada.

Sepultam ideais,

revestem-se de autoridade

e mudam atitudes.

Invertem a moral

espalham sofrimentos

e se regozijam na desgraça.

Mentiras se transformam em verdades,

verdades se ocultam atrás das mentiras,

meias verdades bastam

onde impera a hipocrisia.

Travestem-se de mártires

manipulam pessoas

inventam feitos heroicos

para conseguirem seguidores.

Oportunistas de ocasião se prevalecem

e reacendem a chama da vaidade

para obterem privilégios.

Logram irmãos

apedrejam supostos inimigos

e dormem sem consciência

na certeza da impunidade.

Deliciam-se em fétidas fossas

ao repartirem as migalhas

conquistadas após sórdidas disputas.

Orgulhosos se julgam poderosos

e em todos veem súditos,

prontos para lhes servirem

doses diárias de simulada gentileza.

Vendem a alma por qualquer bagatela,

em mais uma falcatrua.

Jazem em túmulos esquecidos,

pela vergonha da lembrança

ruborizam descendentes

com a memória da sua insignificância.

No mundo dos espíritos, no reino das trevas,

cercado de seus semelhantes

distantes da tolerância dos inocentes

encontram a sua verdadeira morada.

EUA TÊM O MAIOR NÚMERO DE POBRES EM 52 ANOS – editoria

O próximo presidente dos Estados Unidos, seja novamente Barack Obama ou seu adversário republicano, ainda a ser definido, terá um desafio gigantesco nos próximos quatro anos. O país, ainda considerado o mais rico do mundo, tem atualmente o maior número de pobres dos últimos 52 anos.

O dado foi publicado em um estudo divulgado nesta quarta-feira, 11, pelo apresentador de televisão e comentarista político Tavis Smiley, que pediu o levantamento à Indiana University School of Public and Environmental Affairs, intitulado “At Risk: America’s Poor During and After the Great Recession” (Em Risco: Pobres dos EUA Durante e Depois da Grande Recessão), como base factual para a Poverty Tour (turnê da pobreza) nacional, conduzida no último verão por Smiley e o professor Cornel West da Princeton University.

O documento aponta que o número não é apenas alto, mas crescente. Além dos atuais pobres, outros americanos estão sob o risco de entrar para uma classe social menos favorecida, como resultado da grande recessão de 2007-09, e muitos continuarão a lutar durante a recuperação. Os números também identificaram 46,2% americanos vivendo abaixo do chamado nível de pobreza. Esse nível é definido com base no rendimento: oficialmente, um pobre americano vive com menos de 465 dólares por mês.

A pobreza nos Estados Unidos está mais concentrada no Sul, em estados como o Mississippi, Louisiana, Geórgia, Novo México e Arizona. O estado com menos pobreza é, com 6%, o New Hampshire, no Norte, onde se situam, em geral, os estados menos pobres.

O desemprego fez também aumentar, para 50 milhões, o número de americanos sem acesso a serviços de saúde. Os Estados Unidos não têm um serviço nacional de saúde, e quase todo o sistema de clínicas e hospitais é privado, pelo que as pessoas devem ter um seguro médico.

Com informações da Prnewswire e do portal Panorama Mercantil

ROBERTO BELLOCCHI ex presidente do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO liberou R$ 1,5 milhão para si próprio. São esses “purinhos” que não querem a fiscalização externa do CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. / são paulo.

DE SÃO PAULO

 

O desembargador Roberto Bellocchi, ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, aprovou para si próprio um pagamento milionário, aponta investigação conduzida pela corte paulista, informa reportagem de Uirá Machado, publicada na Folha desta quarta-feira.

Segundo a Folha apurou, Bellocchi recebeu cerca de R$ 1,5 milhão no biênio 2008-2009, quando presidiu o TJ.

De acordo com a investigação, o valor é o maior benefício pago pelo tribunal a um único desembargador.

Bellocchi afirmou ontem que a questão está superada e que não tem nada a falar sobre ela. Segundo ele, houve apenas “créditos legítimos, públicos e parcelados”.

O desembargador afirmou que o fato de ter sido presidente não altera em nada a legitimidade dos pagamentos. E lembrou que não foi o único a receber créditos do tipo. “Isso tem em outros tribunais também.”

 

Editoria de Arte/Folhapress

MINISTRA ELIANA CALMON: ‘Estou vendo a serpente nascer, não posso calar’ / são paulo

Após ataques de ministro do Supremo, corregedora nacional da Justiça afirma que não irá esmorecer na investigação do Judiciário

SÃO PAULO – Alvo de 9 entre 10 juízes, e também do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), que não aceitam seu estilo e determinação, a ministra Eliana Calmon, corregedora nacional da Justiça, manda um recado àqueles que querem barrar seu caminho. “Eles não vão conseguir me desmoralizar, isso não vão conseguir.”
Calmon avisa que não vai recuar. “Eu estou vendo a serpente nascer, não posso me calar.”

Na noite desta segunda feira, 9, o ministro do STF disparou a mais pesada artilharia contra a corregedora desde que ela deu início à sua escalada por uma toga transparente, sem regalias.
No programa Roda Viva, da TV Cultura, Marco Aurélio partiu para o tudo ou nada ao falar sobre os poderes dela no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). “Ela tem autonomia? Quem sabe ela venha a substituir até o Supremo.”

Ao Estado, a ministra disse que seus críticos querem ocultar mazelas do Judiciário.

Estado: A sra. vai esmorecer?

MINISTRA ELIANA CALMON: Absolutamente, pelo contrário. Eu me sinto renovada para dar continuidade a essa caminhada, não só como magistrada, inclusive como cidadã. Eu já fui tudo o que eu tinha de ser no Poder Judiciário, cheguei ao topo da minha carreira. Eu tenho 67 anos e restam 3 anos para me aposentar.

ESTADO: Os ataques a incomodam?

ELIANA CALMON: Perceba que eles atacam e depois fazem ressalvas. Eu preciso fazer alguma coisa porque estou vendo a serpente nascer e eu não posso me calar. É a última coisa que estou fazendo pela carreira, pelo Judiciário. Vou continuar.

ESTADO: O que seus críticos pretendem?

ELIANA CALMON: Eu já percebi que eles não vão conseguir me desmoralizar. É uma discussão salutar, uma discussão boa. Nunca vi uma mobilização nacional desse porte, nem quando se discutiu a reforma do Judiciário. É um momento muito significativo. Não desanimarei, podem ficar seguros disso.

ESTADO: O ministro Marco Aurélio deu liminar em mandado de segurança e travou suas investigações. Na TV ele foi duro com a sra.

ELIANA CALMON: Ele continua muito sem focar nas coisas, tudo sem equidistância. Na realidade é uma visão política e ele não tem motivos para fazer o que está fazendo. Então, vem com uma série de sofismas. Espero esclarecer bem nas informações ao mandado de segurança. Basta ler essas informações. A imprensa terá acesso a essas informações, a alguns documentos que vou juntar, e dessa forma as coisas ficarão bem esclarecidas.

ESTADO: O ministro afirma que a sra. violou preceitos constitucionais ao afastar o sigilo de 206 mil investigados de uma só vez e comparou-a a um xerife.

ELIANA CALMON: Ficou muito feio, é até descer um pouco o nível. Não é possível que uma pessoa diga que eu violei a Constituição. Então eu não posso fazer nada. Não adianta papel, não adianta ler, não adianta documentos. Não adianta nada, essa é a visão dele. Até pensei em procura-lo, eu me dou bem com ele, mas acho que é um problema ideológico. Ou seja, ele não aceita abrir o Judiciário.

ESTADO: O que há por trás da polêmica sobre sua atuação?

ELIANA CALMON: Todo mundo vê a serpente nascendo pela transparência do ovo, mas ninguém acredita que uma serpente está nascendo. Os tempos mudaram e eles não se aperceberam, não querem aceitar. Mas é um momento que eu tenho que ter cuidado para não causar certo apressamento do Supremo, deixar que ele (STF) decida sem dizer, ‘ah, mas ela fez isso e aquilo outro, ela é falastrona, é midiática’. Então eu estou quieta. As coisas estão muito claras.

ESTADO: A sra. quebrou o sigilo de 206 mil magistrados e servidores?

ELIANA CALMON: Nunca houve isso, nunca houve essa história. Absolutamente impossível eu pedir uma quebra de sigilo de 206 mil pessoas. Ninguém pode achar na sua sã consciência que isso fosse possível. É até uma insanidade dizer isso. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) age com absoluta discrição, como se fosse uma bússola. Aponta transações atípica. Nunca ninguém me informou nomes, nada. Jamais poderia fazer uma quebra atingindo universo tão grande. Mas eu tenho anotações de alguns nomes, algumas suspeitas. Então, quando você chega num tribunal, principalmente como o de São Paulo, naturalmente que a gente já tem algumas referências, mas é uma amostragem. Não houve nenhuma devassa, essa é a realidade.

ESTADO: A sra. não tinha que submeter ao colegiado o rastreamento de dados?

ELIANA CALMON: O regimento interno do CNJ é claro. Não precisa passar pelo colegiado, realmente. E ele (ministro Marco Aurélio) deu a liminar (ao mandado de segurança)e não passou pelo Pleno do STF. E depois que eu fornecer as informações ao mandado de segurança e depois que eu der resposta à representação criminal ficarei mais faladora. Estou muito calada porque acho que essas informações precisam ser feitas primeiro. Eu não vou deixar nada sem os esclarecimentos necessários.

ESTADO: Duas liminares, dos ministros Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski, ameaçam o CNJ. A sra. acredita que elas poderão ser derrubadas pelo Pleno do STF?

ELIANA CALMON: Esperança eu tenho. Agora, tradicionalmente o STF nunca deixou o seu presidente sem apoio, nunca. Todas as vezes eles correram e conseguiram dar sustentação ao presidente. Qual é a minha esperança: eu acho que o Supremo não é mais o mesmo e a sociedade e os meios de comunicação também não são mais os mesmos. Não posso pegar exemplos do passado para dizer que não acredito em uma decisão favorável. Estamos vivendo um outro momento. Não me enche de esperanças, mas dá esperanças para que veja um fato novo, não como algo que já está concretizado. Tudo pode acontecer.

ESTADO: O ministro Marco Aurélio diz que a competência das Corregedorias dos tribunais estaduais não pode ser sobrepujada pelo CNJ.

ELIANA CALMON: Tive vontade de ligar, mandar um torpedo (para o programa Roda Viva) para dizer que as corregedorias sequer investigam desembargador. Quem é que investiga desembargador? O próprio desembargador. Aí é que vem a grande dificuldade. O grande problema não são os juízes de primeiro grau, são os Tribunais de Justiça. Os membros dos TJs não são investigados pelas corregedorias. As corregedorias só tem competência para investigar juízes de primeiro grau. Nada nos proíbe de investigar. Como juíza de carreira eu sei das dificuldades, principalmente quando se trata de um desembargador que tem ascendência política, prestígio, um certo domínio sobre os outros.

ESTADO: A crise jogou luz sobre pagamentos milionários a magistrados.

 ELIANA CALMON: Essas informações já vinham vazando aqui e acolá. Servidores que estavam muito descontentes falavam disso, que isso existia. Os próprios juízes falavam que existia. Todo mundo falava que era uma desordem, que São Paulo é isso e aquilo. Quando eu fui investigar eu não fui fazer devassa. São Paulo é muito grande, nunca foi investigado. Não se pode, num Estado com a magnitude de São Paulo, admitir um tribunal onde não existe sequer controle interno. O controle interno foi inaugurado no TJ de São Paulo em fevereiro de 2010. São Paulo não tem informática decente. O tribunal tem uma gerência péssima, sob o ponto de vista de gestão. Como um tribunal do de São Paulo, que administra mais de R$ 20 bilhões por ano, não tinha controle interno?

ESTADO: Qual a sua estratégia?

ELIANA CALMON: Primeiro identificar a fonte pagadora em razão dessas denúncias e chegar a um norte. São Paulo não tem informática decente. Vamos ver pagamentos absurdos e se isso está no Imposto de renda. A declaração IR até o presidente da República faz, vai para os arquivos da Receita. Não quebrei sigilo bancário de ninguém. Não pedi devassa fiscal de ninguém. Fui olhar pagamentos realizados pelo tribunal e cotejar com as declarações de imposto de renda. Coisa que fiz no Tribunal Regional do Trabalho de Campinas e no tribunal militar de São Paulo, sem problema nenhum. Senti demais quando se aposentou o desembargador Maurício Vidigal, que era o corregedor do Tribunal de Justiça de São Paulo. Um magistrado parceiro, homem sério, que resolvia as coisas de forma tranquila.

Fausto Macedo, de O Estado de S.Paulo

Noam Chomsky: Um mundo cheio de ‘não-pessoas’ – tradução de heloisa villela / eua

Reconhecendo as “Não-pessoas”

 

No dia 15 de Junho, três meses depois do começo dos bombardeios da OTAN na Líbia, a União Africana apresentou ao Conselho de Segurança da ONU a posição Africana sobre o ataque – na realidade, bombardeio de seus tradicionais agressores imperiais: França e Grã-Bretanha, junto com os Estados Unidos, que inicialmente coordenaram o ataque, e outras nações, marginalmente.

É preciso relembrar que houve duas intervenções. A primeira, sob a Resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU, adotada em 17 de Março, estabeleceu uma zona de exclusão aérea, um cessar-fogo e medidas de proteção aos civis. Depois de poucos momentos, essa intervenção foi deixada de lado, pois o triunvirato se juntou ao exército rebelde, servindo de força aérea para ele.

No começo do bombardeio, a UA conclamou esforços diplomáticos e negociações para tentar evitar uma catástrofe humanitária na Líbia. Em um mês, à UA se juntaram os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e outros, inclusive a maior força regional da OTAN, a Turquia.

Na realidade, o triunvirato estava bastante isolado nos seus ataques – usados para eliminar o tirano imprevisível que eles apoiaram enquanto era vantajoso. A esperança era ter um regime que acatasse melhor as exigências do Ocidente com relação ao controle sobre os ricos recursos da Líbia e, talvez, oferecer uma base africana ao Comando militas dos Estados Unidos para a África – AFRICOM –, por enquanto confinado em Stuttgart.

Ninguém sabe dizer se o esforço relativamente pacífico proposto pela Resolução 1973 da ONU, que tinha o apoio de quase todo o mundo, teria sucesso em evitar a terrível perda de vidas e a destruição que se seguiu na Líbia.

No dia 15 de Junho, a UA informou ao Conselho de Segurança que “ignorar a UA por três meses e levar adiante os bombardeios da terra sagrada da África foi desrespeitoso, arrogante e provocador”. A UA foi adiante e apresentou um plano de negociação e policiamento dentro da Líbia, pelas forças da UA, além de outras medidas de reconciliação – para nada.

O informe da UA para o Conselho de Segurança também relatou o contexto das preocupações dela: “A soberania tem sido a ferramenta da emancipação dos povos da África, que estão começando a forjar novos caminhos depois de séculos predatórios com o tráfico de escravos, o colonialismo e o neocolonialismo. Assaltos descuidados à soberania dos países da África, portanto, significam abrir feridas recentes no destino dos povos africanos”.

O apelo africano pode ser encontrado no jornal indiano Frontline, mas praticamente não foi ouvido no Ocidente. Isso não é uma surpresa: os africanos são “não-pessoas”, para adaptar um termo de George Orwell para os que não estão qualificados para entrar na História.

No dia 12 de Março a Liga Árabe ganhou status de pessoa ao dar apoio à Resolução 1973 da ONU. Mas essa aprovação logo desapareceu, quando a liga se recusou a apoiar o subsequente bombardeio Ocidental à Líbia.

No dia 10 de Abril, a Liga Árabe voltou à categoria de “não-pessoa” ao pedir à ONU que impusesse uma zona de exclusão aérea sobre Gaza e levantasse o embargo israelense, o que foi virtualmente ignorado.

Isso também faz muito sentido. Os palestinos são os típicos “não-pessoas”, como vemos regularmente. Considere a edição Novembro/Dezembro da revista Foreign Affairs, que começa com dois artigos sobre o conflito Israel-Palestina.

Um, escrito pelos oficiais israelenses Yosef Kuperwasser e Shalom Lipner, culpa os palestinos pela continuação do conflito, por se recusarem a reconhecer Israel como um estado Judeu (para ficar em dia com a norma diplomática: Estados são reconhecidos, mas não setores privilegiados dentro deles).

O segundo, do estudioso americano Ronald R. Krebs, atribui o problema à ocupação israelense; o subtítulo do artigo é: “Como a Ocupação está Destruindo a Nação”. Que nação? Israel, claro, ferida por ter suas botas nos pescoços das “não-pessoas”.

E não ficamos sabendo de nada a respeito de centenas de detidos, mantidos em prisões israelenses, por longos períodos, sem que haja uma acusação contra eles.

Entre os presos não mencionados estão os irmãos Osama e Mustafa Abu Muamar, civis sequestrados por forças de Israel que assaltaram Gaza City no dia 24 de Junho de 2006 – um dia antes da captura de Shalit. Os irmãos foram “desaparecidos” dentro do sistema carcerário de Israel.

Não importa o que se pense sobre a captura de um soldado de um exército que ataca, sequestrar civis é simplesmente um crime mais sério –- a não ser, claro, que eles sejam “não-pessoas”.

Para se ter certeza, esses crimes não se comparam com outros, entre eles os constantes ataques aos cidadãos beduínos de Israel, que vivem no sul do deserto de Negev.

Eles estão, novamente, sendo expulsos sob um novo programa desenhado para destruir dúzias de vilas beduínas para as quais foram forçados anteriormente. Por razões benignas, claro. O gabinete israelense explicou que 10 assentamentos judeus seriam fundados ali “para atrair uma nova população para o Negev” – ou seja, para substituir as “não-pessoas” por pessoas legítimas. Quem se oporia a isso?

As estranhas crias dos “não-pessoas” podem ser encontradas por toda parte, inclusive nos Estados Unidos: nas penitenciárias que são um escândalo internacional, nas cozinhas públicas, nas favelas em decadência.

Mas os exemplos enganam. A população mundial como um todo balança na beira de um buraco negro.

Somos relembrados diariamente, até  mesmo por incidentes pequenos –- por exemplo, no mês passado, quando os republicanos da Câmara dos Deputados barraram uma reorganização praticamente sem custos que investigaria as causas das variações extremas de clima em 2011, oferecendo assim melhores previsões do tempo.

Os republicanos temiam que essa pudesse ser uma brecha para “propaganda” sobre o aquecimento global, um não-problema, de acordo com a catequese recitada pelos candidatos à indicação para concorrer à Casa Branca do que, no passado, foi um partido político autêntico.

Triste espécie.

 

.

Por Noam Chomsky, no Truthout

 

BBB 12 ENCOLHE: dois brasileiros se deram conta da patifaria cultural alienante que a GLOBO produz e SAÍRAM FORA DA LAMA!

…”o ambiente pré casa, ainda no hotel, já era insuportável tamanha a baixaria e as exigências”…

.

Empresária carioca desiste de participar do BBB 12 antes da estreia

Fernanda foi a segunda participante a desistir antes do início do programa.
Reality show começa na próxima terça-feira (10).

Fernanda (Foto: Divulgação/TV Globo)Fernanda (Foto: Divulgação/TV Globo)

O a produção do BBB 12 anunciou que a empresária Fernanda Girão, de 29 anos, desistiu de participar do programa antes mesmo de sua estreia. Segundo a produção, “ainda em confinamento no hotel, a empresária carioca pediu para sair antes do início do programa”. O nome do participante que vai substituída ainda será anunciado pela produção do ‘BBB 12’. A 12ª edição do reality show estreia na próxima terça-feira (10).

Fernanda é a segunda participante a desistir antes de o programa começar.

Netinho (Foto: Divulgação/TV Globo)
Netinho foi o primeiro a desistir (Foto: Divulgação/
TV Globo)

Na quinta-feira, o participante Netinho também desistiu de participar do programa um dia após o anúncio do elenco do BBB 12. Advogado de 28 anos, Netinho era um dos quatro mineiros do elenco de doze pessoas anunciado e em confinamento desde na quarta (4) .

g1.

REDE GLOBO e PEDRO BIAL ficaram indignados com o Cordel de ANTONIO BARRETO – salvador.ba

Antonio Barreto

BIG BROTHER BRASIL: UM PROGRAMA IMBECIL.


 

Curtir o Pedro Bial

E sentir tanta alegria

É sinal de que você

O mau-gosto aprecia

Dá valor ao que é banal

É preguiçoso mental

E adora baixaria.
.

 

Há muito tempo não vejo

Um programa tão ‘fuleiro’

Produzido pela Globo

Visando Ibope e dinheiro

Que além de alienar

Vai por certo atrofiar

A mente do brasileiro.
.

 

Me refiro ao brasileiro

Que está em formação

E precisa evoluir

Através da Educação

Mas se torna um refém

Iletrado, ‘zé-ninguém’

Um escravo da ilusão.
.

 

Em frente à televisão

Longe da realidade

Onde a bobagem fervilha

Não sabendo essa gente

Desprovida e inocente

Desta enorme ‘armadilha’.
.

 

Cuidado, Pedro Bial

Chega de esculhambação

Respeite o trabalhador

Dessa sofrida Nação

Deixe de chamar de heróis

Essas girls e esses boys

Que têm cara de bundão.
.

 

O seu pai e a sua mãe,

Querido Pedro Bial,

São verdadeiros heróis

E merecem nosso aval

Pois tiveram que lutar

Pra manter e te educar

Com esforço especial.
.

 

Muitos já se sentem mal

Com seu discurso vazio.

Pessoas inteligentes

Se enchem de calafrio

Porque quando você fala

A sua palavra é bala

A ferir o nosso brio.
.

 

Um país como Brasil

Carente de educação

Precisa de gente grande

Para dar boa lição

Mas você na rede Globo

Faz esse papel de bobo

Enganando a Nação.
.

 

Respeite, Pedro Bienal

Nosso povo brasileiro

Que acorda de madrugada

E trabalha o dia inteiro

Da muito duro, anda rouco

Paga impostos, ganha pouco:

Povo HERÓI, povo guerreiro.
.

 

Enquanto a sociedade

Neste momento atual

Se preocupa com a crise

Econômica e social

 

Você precisa entender

Que queremos aprender

Algo sério – não banal.
.

 

Esse programa da Globo

Vem nos mostrar sem engano

Que tudo que ali ocorre

Parece um zoológico humano

Onde impera a esperteza

A malandragem, a baixeza:

Um cenário sub-humano.
.

 

A moral e a inteligência

Não são mais valorizadas.

Os “heróis” protagonizam

Um mundo de palhaçadas

Sem critério e sem ética

Em que vaidade e estética

São muito mais que louvadas.
.

 

Não se vê força poética

Nem projeto educativo.

Um mar de vulgaridade

Já tornou-se imperativo.

O que se vê realmente

É um programa deprimente

Sem nenhum objetivo.
.

 

Talvez haja objetivo

“professor”, Pedro Bial

O que vocês tão querendo

É injetar o banal

Deseducando o Brasil

Nesse Big Brother vil

De lavagem cerebral.
.

 

Isso é um desserviço

Mal exemplo à juventude

Que precisa de esperança

Educação e atitude

Porém a mediocridade

Unida à banalidade

Faz com que ninguém estude.
.

 

É grande o constrangimento

De pessoas confinadas

Num espaço luxuoso

Curtindo todas baladas:

Corpos “belos” na piscina

A gastar adrenalina:

Nesse mar de palhaçadas.
.

 

Se a intenção da Globo

É de nos “emburrecer”

Deixando o povo demente

Refém do seu poder:

Pois saiba que a exceção

(Amantes da educação)

Vai contestar a valer.
.

 

A você, Pedro Bial

Um mercador da ilusão

Junto a poderosa Globo

Que conduz nossa Nação

Eu lhe peço esse favor:

Reflita no seu labor

E escute seu coração.
.

 

E vocês caros irmãos

Que estão nessa cegueira

Não façam mais ligações

Apoiando essa besteira.

Não deem sua grana à Globo

Isso é papel de bobo:

Fujam dessa baboseira.
.

 

E quando chegar ao fim

Desse Big Brother vil

Que em nada contribui

Para o povo varonil

Ninguém vai sentir saudade:

Quem lucra é a sociedade

Do nosso querido Brasil.
.

 

E saiba, caro leitor

Que nós somos os culpados

 

Porque sai do nosso bolso

Esses milhões desejados

Que são ligações diárias

Bastante desnecessárias

Pra esses desocupados.
.

 

A loja do BBB

Vendendo só porcaria

Enganando muita gente

Que logo se contagia

Com tanta futilidade

Um mar de vulgaridade

Que nunca terá valia.
.

 

Chega de vulgaridade

E apelo sexual.

Não somos só futebol,

baixaria e carnaval.

Queremos Educação

E também evolução

No mundo espiritual.
.

 

Cadê a cidadania

Dos nossos educadores

Dos alunos, dos políticos

Poetas, trabalhadores?

Seremos sempre enganados

e vamos ficar calados

diante de enganadores?
.

 

Barreto termina assim

Alertando ao Bial:

Reveja logo esse equívoco

Reaja à força do mal.

Eleve o seu coração

Tomando uma decisão

Ou então: siga, animal.

 

.

Autor: Antonio Barreto, Cordelista natural de Santa Bárbara-BA, residente em Salvador.

Professor, poeta e cordelista. Amante da cultura popular, dos livros, da natureza, da poesia e das pessoas que vieram ao Planeta Azul para evoluir espiritualmente.

Graduado em Letras Vernáculas e pós graduado em Psicopedagogia e Literatura Brasileira.

Seu terceiro livro de poemas, Flores de Umburana, foi publicado em dezembro de 2006 pelo Selo Letras da Bahia.

Estreia nesta sexta – 06/01/12 – “Cavalo de Guerra”, um dos melhores trabalhos de Steven Spielberg – por marcelo perrone / porto alegre.rs

Longa renova a fé em Spielberg como grande artesão do cinema

Estreia nesta sexta "Cavalo de Guerra", um dos melhores trabalhos de Steven Spielberg David Appleb/DreamWorks

“Cavalo de Guerra” traz elenco jovem e talentoso e muitas sequências magistraisFoto: David Appleb / DreamWorks

 

Falar que nesta sexta-feira estreia um filme candidato a empilhar estatuetas no próximo Oscar não diz muito sobre as qualidades de Cavalo de Guerra, visto o histórico de títulos esquecíveis premiados pela Academia.

Acrescentar que é um filme de Steven Spielberg, grande mestres do ofício cinematográfico, é, sem dúvida, um atrativo.

E acredite: indicado ao Globo de Ouro, Cavalo de Guerra é um dos melhores trabalhos de Spielberg. Nele o diretor, além de imprimir as marcas autorais de suas mais aclamadas realizações, renova a fé no cinema grandiosamente espetacular que poucos além dele ainda sabem fazer.

É um modelo de cinema clássico, que a cada fotograma parece evocar uma obra-prima de John Ford, um melodrama sob pano de fundo histórico como …E o Vento Levou, um trepidante filme de guerra como o próprio Spielberg fez em O Resgate do Soldado Ryan. A costurar essas referências, uma história bem ao gosto do diretor, que combina rito de passagem de jovens diante de uma provação, laços de amizade, o inabalável afeto familiar, a força extraordinária que rompe essa harmonia e a jornada épica dos protagonistas para se recomporem.

Adaptação do livro homônimo do inglês Michael Morpurgo, já levado com sucesso aos palcos, Cavalo de Guerra tem início na Inglaterra rural às vésperas da I Guerra (1914 – 1918). O protagonista é o cavalo Joey, domesticado pelo jovem Albert (Jeremy Irvine) para ajudar na lida da pequena fazenda da família. Quando estoura o conflito, o pai de Albert, endividado, vende Joey para o exército britânico.

Tem início então a odisseia do valente e tenaz cavalo pelos campos conflagrados da França, onde britânicos e alemães se massacram. Joey passa de montaria de um oficial inglês a animal de carga do inimigo, ganha abrigo de um fazendeiro francês e sua netinha, volta para os alemães e outra vez para os ingleses. Nessa ciranda que mantém o cavalo sempre no primeiro plano, Spielberg, com engenhosidade, apresenta diferentes núcleos de personagens que conduzem a história até Albert entrar outra vez em cena.

Enumerar as sequências magistrais de Cavalo de Guerra é um estimulante exercício cinéfilo, da delicadeza com que emoldura uma execução à complexa engenharia cenográfica que move a hora final do filme, ambientada na chamada “terra de ninguém”, o espaço devastado entre trincheiras inimigas.

Importante destacar a mão do diretor para garimpar jovens e excelentes atores, como, entre tantos, o estreante inglês Jeremy Irvine, seu compatriota Benedict Cumberbatch (o moderno Sherlock Holmes da série da BBC) e o alemão David Kross (de O Leitor), cada qual com seu momento de brilho.

A lamentar apenas a opção de Spielberg em padronizar no idioma inglês todas as falas. Com esmero, talento e autenticidade transbordando em Cavalo de Guerra, ele poderia ter seguido o exemplo de Quentin Tarantino, que fez dessa fidelidade linguística um dos charmes de Bastardos Inglórios.

Cavalo de Guerra (War Horse)
De Steven Spielbeg. Com Jeremy Irvine, Emily Watson e Peter Mullan.
Drama, EUA, 2012. Duração: 146 minutos. Classificação: 12 anos.
Em cartaz a partir desta sexta .
Cotação: 4 de 5

O Pensamento de Parmênides – editoria

 

Seu pensamento está exposto num poema filosófico intitulado Sobre a Natureza e sua permanência, dividido em duas partes distintas: uma que trata do caminho da verdade (alétheia) e outra que trata do caminho da opinião (dóxa), ou seja, daquilo onde não há nenhuma certeza. De modo simplificado, a doutrina de Parmênides sustenta o seguinte:

  • Unidade e a imobilidade do Ser;
  • O mundo sensível é uma ilusão;
  • O Ser é Uno, Eterno, Não-Gerado e Imutável.
  • Não se confia no que vê.

Devido a essas , alguns veem no poema de Parmênides o próprio surgimento da ontologia. Ao mesmo tempo, o pensamento de Parmênides é tradicionalmente visto como o oposto ao de Heráclito de Éfeso.

Para alguns estudiosos, Parmênides fundou a metafísica ocidental com sua distinção entre o Ser e o Não-Ser. Enquanto Heráclito ensinava que tudo está em perpétua mutação, Parmênides desenvolvia um pensamento completamente antagônico: “Toda a mutação é ilusória”.

Parmênides vai então afirmar toda a unidade e imobilidade do Ser. Fixando sua investigação na pergunta: “o que é”, ele tenta vislumbrar aquilo que está por detrás das aparências e das transformações.

Assim, ele dizia: “Vamos e dir-te-ei – e tu escutas e levas as minhas palavras. Os únicos caminhos da investigação em que se pode pensar: um, o caminho que é e não pode não ser, é a via da Persuasão, pois acompanha a Verdade; o outro, que não é e é forçoso que não seja, esse digo-te, é um caminho totalmente impensável. Pois não poderás conhecer o que não é, nem declará-lo.”

Numa interpretação mais aprofundada dos fragmentos de Heráclito e Parmênides, podemos achar um mesmo todo para os dois e esta oposição entre suas visões do todo passa a ser cada vez menor.

Parmênides comparava as qualidades umas com as outras e as ordenava em duas classes distintas. Por exemplo, comparou a luz e a escuridão, e para ele essa segunda qualidade nada mais era do que a negação da primeira.

Diferenciava qualidades positivas e negativas e, esforçava-se em encontrar essa oposição fundamental em toda a Natureza. Tomava outros opostos: leve-pesado, ativo-passivo, quente-frio, masculino-feminino, fogo-terra, vida-morte, e aplicava a mesma comparação do modelo luz-escuridão; o que corresponde à luz era a qualidade positiva e o que corresponde à escuridão, a qualidade negativa. O pesado era apenas uma negação do leve. O frio era uma negação do quente. O passivo uma negação ao ativo, o feminino uma negação do masculino e, cada um apenas como negação do outro.

Por fim, nosso mundo dividia-se em duas esferas: aquela das qualidades positivas (luz, quente, ativo, masculino, fogo, vida) e aquela das qualidade negativas (escuridão, frio, passivo, feminino, terra, morte). A esfera negativa era apenas uma negação da esfera positiva, isto é, a esfera negativa não continha as propriedades que existiam na esfera positiva.

Ao invés das expressões “positiva” e “negativa”, Parmênides usa os termos metafísicos de “ser” e “não-ser”. O não-ser era apenas uma negação do ser. Mas ser e não-ser são imutáveis e imóveis. No seu livro: Metafísica, Aristóteles expõe esse pensamento de Parmênides: “Julgando que fora do ser o não-ser é nada, forçosamente admite que só uma coisa é, a saber, o ser, e nenhuma outra… Mas, constrangido a seguir o real, admitindo ao mesmo tempo a unidade formal e a pluralidade sensível, estabelece duas causas e dois princípios: quente e frio, vale dizer, Fogo e Terra. Destes (dois princípios) ele ordena um (o quente) ao ser, o outro ao não-ser.”

O Vir-a-Ser

Quanto às mudanças e transformações físicas, o Vir-a-Ser, que a todo instante vemos ocorrer no mundo, Parmênides as explicava como sendo apenas uma mistura participativa de ser e não-ser. “Ao vir-a-ser é necessário tanto o ser quanto o não-ser. Se eles agem conjuntamente, então resulta um vir-a-ser”.

Um desejo era o fator que impelia os elementos de qualidades opostas a se unirem, e o resultado disso é um vir-a-ser. Quando o desejo está satisfeito, o ódio e o conflito interno impulsionam novamente o ser e o não-ser à separação.

Parmênides chega então à conclusão de que toda mudança é ilusória. Só o que existe realmente é o ser e o não-ser. O vir-a-ser é apenas uma ilusão sensível. Isto quer dizer que todas as percepções de nossos sentidos apenas criam ilusões, nas quais temos a tendência de pensar que o não-ser é, e que o vir-a-ser tem um ser.

O Ser-Absoluto

Toda nossa realidade é imutável, estática, e sua essência está incorporada na individualidade divina do Ser-Absoluto, o qual permeia todo o Universo. Esse Ser é onipresente, já que qualquer descontinuidade em sua presença seria equivalente à existência de seu oposto – o Não-Ser.

Esse Ser não pode ter sido criado por algo pois isso implicaria em admitir a existência de um outro Ser. Do mesmo modo, esse Ser não pode ter sido criado do nada, pois isso implicaria a existência do “Não-Ser”. Portanto, o Ser simplesmente é.

Simplício da Cilícia, em seu livro Física, assim nos explica sobre a natureza desse Ser-Absoluto de Parmênides: “Como poderia ser gerado? E como poderia perecer depois disso? Assim a geração se extingue e a destruição é impensável. Também não é divisível, pois que é homogêneo, nem é mais aqui e menos além, o que lhe impediria a coesão, mas tudo está cheio do que é. Por isso, é todo contínuo; pois o que é adere intimamente ao que é. Mas, imobilizado nos limites de cadeias potentes, é sem princípio ou fim, uma vez que a geração e a destruição foram afastadas, repelidas pela convicção verdadeira. É o mesmo, que permanece no mesmo e em si repousa, ficando assim firme no seu lugar. Pois a forte Necessidade o retém nos liames dos limites que de cada lado o encerra, porque não é lícito ao que é ser ilimitado; pois de nada necessita – se assim não fosse, de tudo careceria. Mas uma vez que tem um limite extremo, está completo de todos os lados; à maneira da massa de uma esfera bem rotunda, em equilíbrio a partir do centro, em todas as direções; pois não pode ser algo mais aqui e algo menos ali.”

Ser-Absoluto não pode vir-a-ser. E não podem existir vários “Seres-Absolutos”, pois para separá-los precisaria haver algo que não fosse um Ser. Consequentemente, existe apenas a Unidade eterna.

texto original da wikipédia.

 

O poeta HÉLIO DE FREITAS PUGLIELLI é entrevistado pelo poeta JAIRO PEREIRA / curitiba.pr

  1. “Fúria em silêncio/império do Nada/rua Augusto Stelfeld 824”. (Autoretrato). Este excerto de poema da coletânea inominada de 67, com outros poetas do Paraná, dá mostra da força de sua poesia. O Hélio, é um poeta que nunca quis se mostrar?

Me mostrei até demais.,,inclusive o endereço, que há 20 anos não é mais esse. Muito jovem, entre 1957/60. pintei e bordei na página literária de “O Estado do Paraná” (que infelizmente deixou de circular este ano). Quando dediquei a página inteira a alguém que não sabia ser “persona non grata” do diretor do jornal, ele acabou com minha festa.

2.Seu olhar crítico acompanhou gerações de criadores no Paraná, focando mais na área de literatura. Como você avalia, a atual literatura no Estado?

Antigamente as pessoas escreviam, mas dificilmente publicavam livros. Hoje não é tão difícil publicar e vários escritores que nasceram e/ou vivem aqui conseguiram projeção nacional.

  1. A internet, a seu ver, é matriz determinante na evolução ou involução das linguagens poético-literárias?

Às vezes os meios são neutros, mas muitas vezes afetam o conteúdo. Creio que a internet faz alguns escritores involuírem e outros evoluírem. Tudo depende dos propósitos e da habilidade no uso dos recursos proporcionados pela WEB.

  1. Ainda muito jovem você escreveu um ensaio interessante: “O SER DE PARMÊNIDES CHAMA-SE BRAHMA”. A filosofia te persegue e reflete sempre na sua produção intelectual?

“O Ser…” é um pequeno poema escrito na maturidade, com intenções filosóficas, sim. Até hoje sou grato aos raros amigos que entenderam o texto (três ou quatro escreveram a respeito) e confesso que me desgostou a incompreensão de alguns que não entenderam ou fizeram-se de desentendidos.

  1. O intelectual, ao contrário do criador livre e loucos de todo gênero é o ser que por seu próprio juízo e razão, expõe o bem e o mal do mundo?

Para o meu gosto sim. A maioria do que se faz agora é literatura que não cheira nem fede, feita por criadores que nada têm de loucos e, por isso mesmo, não são portadores da chama (nem sagrada nem profana). Na minha concepção, se não for criador, um pouco louco e não mexer com o bem e o mal, nenhum escritor pode ser considerado grande. Veja o Guimarães Rosa: criador, louco pela linguagem e se imiscuindo no bem e no mal. Só poderia fazer grande literatura.

  1. Sente-se no Paraná e no Brasil, a ausência de críticos… Em que sentido isso é ruim pra literatura e a poesia?

Com o atual domínio por parte do mercado editorial e da mídia, não surpreende a ausência de críticos. Quem pode ser independente nessa engrenagem? Agora só temos teses de mestres e doutores em literatura. Quando essa gente faz textos críticos, em geral é uma coisa chatíssima, mas há exceções, é claro.

  1. O Hélio intelectual de formação acadêmica e o Hélio de cultura mundana, poética, crítica… combinam até que ponto?

“Formação acadêmica” no sentido de ter estudado e lecionado na Universidade Federal do Paraná (onde também estudou meu pai, filho de imigrante italiano pobre). Sempre fui inconformista e nunca derrapei na “literatura sorriso da sociedade”.

  1. Nessa entrevista que puxa sempre mais para o literário, o crítico, e o poético, é importante saber: o Hélio de Freitas Puglielli tem um projeto presente/futuro em ação?

Meu projeto presente é viver o “aqui e agora”. O projeto futuro é editar alguns livros que estão dormindo na gaveta há muito tempo e outros nem tanto.

9.A literatura oficialesca, no sentido de editorial, (aos que conseguem chegar numa editora) estabelecida, a seu ver representa o que há de melhor na produção paranaense e brasileira?

Aí é difícil julgar, pois a literatura não-oficialesca tem baixa visibilidade  para que se possa realmente comparar.  Mas li muita coisa boa nas revistas, internet e livros editados pelos próprios autores. Cito um amigo falecido, Sérgio Rubens Sossella e outros vivos que você, Jairo, sabe bem quem são.

  1. Como você vê o futuro do livro, da poesia e da literatura, ante a força arrebatadora dos meios eletrônicos (facebook, blogues, links…)?

Não tenho nenhum fetichismo com relação ao livro de papel. Os e-books se multiplicam cada vez mais e acho muito cômodo fazer download, já que não me incomoda ler diretamente no monitor, ao contrário daqueles que têm de imprimir primeiro para depois ler. A revolução da informática/internet eclodiu numa escala maior do que a revolução gutemberguiana. Queiram ou não, os efeitos tendem a ser irreversíveis.

  1. O ser transmoderno (internético) pode tornar-se anti-reflexivo, ou a velocidade dos links, não altera a performance do pensar?

Sem dúvida a reflexão demanda tempo. Mas não tem que ser necessariamente lenta. A performance do pensar sem dúvida está se alterando. Bobagens e sandices foram ditas em todas as épocas. Se bobagens e sandices são ditas hoje, a culpa é da desqualificação cultural dos que nem sabem usar o Google adequadamente para ampliar seus horizontes.

Parabéns ao entrevistador!

O RETORNO E A DÚVIDA DA POESIA – por almandrade / salvador.ba

A poesia é um conhecimento à parte da razão tecnocrata que rege
a sociedade contemporânea. Hoje em dia, o homem se defronta com outras
oportunidades de linguagens, outros conhecimentos, que deixou de lado
o hábito da leitura, principalmente a leitura de poesias. Diante da
informática, da música popular, do discurso político, não há lugar
para a poesia. Mas de repente um surto de poesia tomou conta da
cidade, saraus, recitais, debates, publicações, vão se espalhando e
ocupando pequenos espaços nos centros urbanos, bares, cafés,
bibliotecas. Páginas na internet. Parece que a poesia voltou a fazer
parte da cidade. Mais uma ilustração da crise da linguagem, do pensar
e da cidadania? Afinal de contas, poesia passou a ser tudo que alguém
escreve movido por uma “inspiração”, uma revolta, uma paixão, um
discurso livre e aleatório, como: a frase da mesa do bar, o bilhete da
namorada, o discurso de protesto etc. O poeta que já foi expulso da
cidade, volta ao cenário urbano na condição de sintoma da cidade
grande.

A POESIA E A CIDADE

“Os poetas nos ajudarão a descobrir em nós uma alegria tão expressiva
ao contemplar as coisas que às vezes viveremos, diante de um objeto
próximo, o engrandecimento de nosso espaço íntimo.”
Bachelard

Desde quando a cidade é objeto de trabalho de especialista, ela
passou a ser um corpo fragmentado e perdeu sua geografia poética.
Primeiro foram os filósofos que expulsaram os poetas de sua república,
depois foram os técnicos que destronaram a filosofia. Custou caro ao
filósofo aceitar que o saber foi uma invenção do poeta, que a
eternidade da Grécia  se deve primeiramente a um Homero e depois a um
Platão. Nessa mudança de século, a filosofia acabou ressuscitando um
Sócrates arrependido, solicitando do poeta seu retorno à  polis .
Pudera, em épocas de crise sempre se apela para o poeta, ele que nada
sabe, foi adivinho do passado e é livre para falar de suas emoções.
Mas ele nada pode resolver com relação aos equívocos dos especialistas
do urbano, a não ser restaurar a poesia perdida.
A cidade de políticos e de técnicos tem problemas mais
urgentes, para se preocupar com a poesia. Acreditava-se que a
tecnologia era uma solução universal, mas se mantêm longe de dar
respostas às demandas de habitação, segurança, transporte e educação.
Não se canta mais a cidade, fala-se para lamentar seus problemas. A
cidade precisa da poética e do pensamento. Quem se ocupa de conceitos
sabe, sem negar a importância da tecnologia, que a cidade atualmente
precisa mais do exercício da cidadania e das idéias, do que
intervenções técnicas sem uma compreensão mais ampla dos seus
problemas. As cidades modernas se ressentem da carência de uma nova
idéia de planejamento urbano que não a veja exclusivamente como o
cenário do mercado de trabalho. Pois a imagem urbana não se restringe
àquilo que a percepção capta, é muito mais o que a imaginação inventa
com a liberdade poética. As musas sabem que o poeta não vai salvar a
cidade, mas ele é quem lida com a fantasia e o devaneio,
indispensáveis para o sonho de uma outra expectativa de vida urbana.

A PRIVATARIA TUCANA EM CORDEL de silvio prado / fortaleza.ceará


Caiu a casa tucana
Do jeito que deveria
E agora nem resta pó
Pois tudo na luz do dia
Está tão claro e exposto
E o que ninguém sabia
Surge revelado em livro
Sobre a tal privataria.

Amauri Ribeiro Junior
Um jornalista mineiro
Em mais de 300 páginas
Apresenta ao mundo inteiro
A nobre arte tucana
De assaltar o brasileiro
Pondo o Brasil à venda
Ao capital estrangeiro.

Expondo a crua verdade
Do Brasil privatizado
O livro do jornalista
Não deixa ninguém de lado
Acusa Fernando Henrique
Gregório Marin Preciado
Serra e suas mutretas
E o assalto ao Banestado.

Revelando em detalhes
Uma quadrilha em ação
O relato jornalístico
Destrói logo a ficção
De que político tucano
É homem de correção
Mostrando que entre eles
O que não falta é ladrão.

Doleiros e arapongas
Telefone grampeado
Maracutaias financeiras
Lavagem por todo lado
Dinheiro que entra e sai
Além de sigilo quebrado
Obra de gente tucana
Na privatização do Estado.

Parece mas não é
Ficção esse relato
Envolvendo tanta gente
E homens de fino trato
Que pra roubar precisaram
Montar um belo aparato
Tomando pra si o Estado
Mas hoje negam o fato.

Tudo isso e muito mais
Coisas de uma gente fina
Traficantes de influência
E senhores da propina
Mostrando como se rouba
Ao pivete da esquina
E a cada negócio escuso
Ganhando de novo na quina.

Se tudo isso não der
Pra tanta gente cadeia
Começando por Zé Serra
Cuja conta anda cheia
O Brasil fica inviável
A coisa fica mais feia
Pois não havendo justiça
O povo se desnorteia

Com CPI já pensada
Na câmara dos deputados
Não se fala outra coisa
No imponente senado
Onde senhores astutos
E tão bem engravatados
Sabem que o bicho pega
Se tudo for investigado.

Por isso, temos tucanos
Numa total caganeira
No vaso se contorcendo
Às vezes a tarde inteira
Mesmo com a velha mídia
Sua indiscreta parceira
Pelo silêncio encobrindo
Outra grande roubalheira.

São eles amigos da Veja
Da Folha e do Estadão,
Da Globo e da imprensa
Que distorce a informação
Blindando tantas figuras
Que tem perfil de ladrão
Mostrando-os respeitáveis
Como gente e cidadão.

Pois essa mídia vendida
Deles eterna parceira
E que se diz democrática
Mas adora bandalheira
Ainda não achou palavras
E silenciosa anda inteira
Como se fosse possível
Ignorar tanta sujeira.

Ela que tanto defende
A liberdade de imprensa
Mas somente liberdade
Pra dizer o que compensa
Não ferindo interesses
Tendo como recompensa
Um poder exacerbado
Que faz toda a diferença.

Mas neste livro a figura
Praticamente central
Sujeito rei das mutretas
Um defensor da moral
É o impoluto Zé Serra
Personagem que afinal
Agora aparece despido
Completamente venal.

É o próprio aparece
Sem retoque nem pintura
Tramando nos bastidores
Roubando na cara dura.
É o Zé Serra que a mídia
Esconde e bota censura
Para que o povo não veja
A sua trágica feiúra.

E ele sabe e faz tudo
No reino da malandragem
Organiza vazamentos
Monta esquema de lavagem
Ensina a filha e o cunhado
As artes da trambicagem
E como bandido completo
Tenta preservar a imagem.

Mas agora finalmente
Com a casa já no chão
E exposta em detalhes
Tão imensa podridão
Que nosso país invadiu
Com a privatização
Espera-se que Zé Serra
Vá direto pra prisão.

E pra não ficar sozinho
Que ele vá acompanhado
Do Fernando ex-presidente
Mais o genro dedicado
Marido da filha Mônica
E outro homem devotado
Ricardo Sergio Oliveira
E também o Preciado.

Completando o esquema
Deixando lotada a prisão
Ainda cabe o Aécio
Jereissati e algum irmão
Nunca esquecendo o Dantas
Que só rouba de bilhão
E traz guardado no bolso
O tal Gilmar canastrão.

Como estamos em época
De Comissão da Verdade
Que se investigue a fundo
E não se tenha piedade
Dos que usaram o Estado
Visando a finalidade
De praticar tanto crime
E ficar na impunidade.

Tanto roubo descarado
Provado em documento
Não pode ser esquecido
E ficar sem julgamento
Pois lesou essa nação
Provocando sofrimento
A quem sofre e trabalha
Por tão pouco vencimento.

Que o livro do Amauri
Maior presente do ano
Seja lido e comentado
Sem reservas nem engano
Arrebentando o esquema
Desse grupo tão insano
Abrindo cela e cadeia.
Pra todo bandido tucano.

Cientistas descobrem tipo de rocha com origem extraterrestre / moscou.ru

03/01/2012 06h00

Rochas usadas no estudo foram encontradas no leste da Rússia.
‘Quasicristais’ podem ser criados no espaço e se manterem estáveis aqui.

Do G1, em São Paulo

Quasicristal encontrado na Rússia (Foto: Divulgação)Quasicristal encontrado na Rússia (Foto: Divulgação)

Pesquisadores descobriram na Península de Kamchatka, extremo leste da Rússia, um tipo de rocha do qual não havia nenhum registro anterior na natureza — um tipo de “quasicristal” com origem de fora do planeta da Terra.

Os “quasicristais” se diferenciam dos cristais na forma com que seus átomos estão combinados. Em 2011, o físico israelense Daniel Schechtman ganhou o Nobel de química por tê-los descoberto.

Na maior parte das vezes, o quasicristal é um material artificial, criado pelo homem. É por isso que o material encontrado na Rússia chama a atenção. A análise dos fragmentos encontrou características normalmente encontradas em meteoritos.

O grupo de Luca Bindi, da Universidade dos Estudos de Florença, na Itália, concluiu que a rocha estava em um meteorito originado nos primórdios do Sistema Solar, 4,5 bilhões de anos atrás. Com isso, os cientistas afirmam que os quasicristais podem ser formados nas condições de temperatura e pressão do espaço sideral e podem se manter estáveis ao longo dos tempos.

O estudo foi publicado na edição desta segunda-feira (2) da revista científica “Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS)”.

Info Nobel Química 2011 quasicristais (Foto: Arte / G1)

O TEMPO (RE)VISITADO – por olsen jr / ilha de santa catarina

Já tentei livrar-me disso em outros tempos. Esta atitude de (re)visitar lugares, de repetir gestos e atitudes na expectativa de ( quem sabe) recapturar  uma emoção no antigo sítio  onde ela foi gerada… Só que muito tempo depois quando já está sublimada, quase esquecida. É algo involuntário, quando dou por mim já estou ali, fazendo de conta que é pela primeira vez esperando que tudo se repita.

Esta sensação vale para um restaurante, para uma cidade, uma rua, enfim, quando percebo que já estive no lugar em outros tempos e isso me traz recordações, pronto, já caí na armadilha. Palavra de escoteiro, muitas vezes não faço nada para provocar aquela catarse, mas por outro lado também não faço nada para evitá-la.

Assim, sem me dar conta, estou parando o carro em frente de um restaurante ao pé da serra “Dona Francisca”. Passa um pouco do meio-dia. Poderia ter almoçado antes, poderia ter seguido viagem, mas estaciono ali, precisamente.

Faz algum tempo que não apareço, entro e ouço a música “Yesterday”, dos Beatles, antes mesmo de cumprimentar a recepcionista e os outros atentendentes. Depois de lavar as mãos, quando saio do banheiro está tocando “Bridge Over Trouble Water”, com  Simon & Garfunkel. Mais tarde, já à mesa, percebo “I Can´t Stop Lovin´You” na voz do Ray Charles… Uma sensação agradável. Comento com a senhora no balcão, digo que pareço estar ouvindo os meus próprios discos. Ela faz uma cara entre alegre e triste e menciona o fato de que aquelas músicas eram de um tempo em que tudo parecia mais romântico, descompromissado e melhor. Finjo concordar porque quero continuar fazendo a “minha” própria viagem sozinho, ela se afasta e deixo os meus olhos vagarem nas paredes ornadas com fotografias antigas, em sépia, molduradas em preto com personagens de outros tempos. De onde estou não posso distinguir os rostos, assim, ponho os meus avós naquelas imagens, os meus pais em outros e eu também me vejo ali fixado na memória daquela parede sendo contemplado por outras pessoas que talvez estejam pensando o mesmo em algum dia do futuro…

Peço algo amargo para beber e não me atrevo a ir ao bufê me servir enquanto aquelas músicas entram em sucessão nostálgica, “Help” (Beatles) sorrio mentalmente pensando que quem precisa de ajuda naquele momento sou eu; “Satisfaction” (Rolling Stones) e sem quebrar o embalo “I´m Believer” (Monkees), quem se dispusesse a visitar os meus pensamentos naquele momento teria a certeza “o cara era um crente” pelo menos a música corroborava com a idéia, rio cinicamente, “The House of the Rising Sun” (Animals), “Whiter Shade of Pale” (Johnny Rivers)  e “Stand by me”  (John Lennon)… O que anoto mentalmente, acrescentando logo “era só o que me faltava pedir para alguém esperar por mim” afinal a minha vida andava tão amarga quando aquele bitter, mas a vida não era função hepática, desta vez tenho que rir pensandoem Ulysses Guimarãesquando usou a mesma expressão referindo-se a política. Falei de “discos” e a mulher lá no balcão concordou, não mencionamos CDs e nem DVDs, era “vinil” mesmo… A nossa geração estava impregnada de memória, estávamos sobrando onde esta “geração mais nova” estava faltando, semelhante aquele poema “Triunfo Supremo” do Cruz e Sousa e que está numa placa lá no Aeroporto Hercílio Luz, em seus últimos versos: “… Quem florestas e mares foi rasgando/ e entre raios, pedradas e metralhas,/ ficou gemendo, mas ficou sonhando!”.

O casal que entra no restaurante acompanhado dos dois filhos traz embalado pelo vento lá de fora, a fragrância do Dolce & Gabbana e todo o ar ali dentro vai desenhando as lembranças dela, na cadeira em frente, na mesa ao lado, nos fundos, mas tenho consciência de que já se passaram muitos anos e antes que sucumba àquele fascínio novamente, num último resquício de consciência, peço a conta. Ninguém entendeu quando saí sem tocar na comida. Lembrei do Kafka, não havia mérito em jejuar uma vez que não encontrara ainda a comida que me satisfizesse… Embora os sentimentos fossem os mesmos, o que mudou (neste tempo todo) foi a maneira de sentir, mas isso só descobri depois, quando este sentir já não pode mudar mais nada!

.

NOTAS:

A música é esta “If”, do Bread e diz tudo…

As paixões do poeta continuam as mesmas… Talvez um tanto mais cético, mas receptivo… Sempre acreditando…

A literatura, a música, os amores que nunca se realizam ou a frase celebrizada no livro “Memórias de um Fingidor” … “Os  sonhos irrealizados e os desejos insatisfeitos”…

A família, o trabalho bem feito, os amigos… O compartilhar da boa mesa e das boas bebidas… Uma boa prosa que não tem preço, o idealismo e o sonho que tudo justificam..

Tudo embalado pela ânsia de fazer melhor, de chegar em outro lugar, de vislumbrar novos horizontes em toda a iniciativa para sair do lugar comum… De continuar tentando sempre, embora tudo pareça conspirar contra…

Estamos vivos e isso conta muito… E se  houver aí algum sonho ainda, melhor…

O “Bread” foi um grupo formado em Los Angeles em 1968 e que foi até 1973 e depois fizeram mais um disco de despedida…

Formado pelo  David Gates, Robb Royer (os dois que ainda estão vivos da formação original), Jimmy Griffin e Michael Botts…

Estouraram em 1970 com o single “Make it with you”… Foi primeiro lugar na parada norte-americana da Revista Billboard…

E a banda que era de estúdio viu-se obrigada a cair na estrada fazendo shows pelos Estados Unidos…

Depois vieram outros sucessos, “If”, “Everything I own”, “Baby I want you”. “Guitar man” e “Aubrey”, entre outros…

Conflitos entre egos fez a banda terminar em 1973… Voltaram em 1976 e lançaram um último álbum “Lost without your Love”…

E isso tudo encerra com o velho truísmo: não há bem que dure para sempre e nem mal que nunca termine…

Vai com o carinho do poeta, sempre…

http://www.youtube.com/watch?v=WBcVebmt1Mk

Interação no Masp – de solivan brugnara / quedas do iguaçu.pr

 


 

farejei
o mais perto que pude
o um quadro de Van Gogh,
tem um rico cheiro de roupas velhas, de suor
e tabaco.
Tem ainda o cheiro quente de Arles
e do quarto fechado e quente
em que foi feito.
As telas de Picasso cheiram a touro.

É importante, é importante
farejar,
Todo o quadro ou foto
toda imagem se boa,
tem um odor rico.
Se o cheio é ruim, a imagem é ruim.

Se puder, olho para os lados
e se não tiver ninguém
lambo
gosto de sentir o gosto das tintas.
Sinto necessidade de engolir
um pedaço da Capela Sistina.

E escuto,
coloco meu ouvido bem pertinho
batuco com os dedos,
tamborilar é atávico no homem
ouço o pulsar,
é maravilhoso sentir o coração de tela reviver.

E sim, toco ,toco porque
é o toque que transmite a compreensão.
O toque é um carinho,
não é um vândalo quem sente a necessidade de tocar um quadro
mas sim aquele que está sublimado.