Arquivos Mensais: junho \30\-03:00 2012

“A indústria cultural nunca será inteligente” entrevista com o intelectual SILVIANO SANTIAGO – por joão pombo barile /belo horizonte.mg


Nascido em 1936, o mineiro Silviano Santiago é um dos mais refinados intelectuais brasileiros. Autor de diversos livros nos mais variados gêneros – poesia, romance, conto –, é na forma do ensaio que ele se tornou uma importante referência na vida cultural e acadêmica do país, ganhando ressonância até mesmo no exterior. Recebeu em 2010, pelo conjunto da obra, o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura. Sua capacidade crítica, presente em livros como Nas malhas da letra (1989) e O Cosmopolitismo do Pobre: Crítica Literária e Crítica Cultural(2004), também pode serconferida nesta entrevista.

Quais as causas da desimportância atual dos rodapés literários no Brasil? A ideia da cultura como entretenimento tem ganhado mais e mais adeptos nas redações de jornal? O que resulta do embate do escritor com o computador? Qual a relação entre narrador pós-moderno e jornalista celebridade? Qual a importância de Jacques Derrida? A cada pergunta, Silviano responde com uma reflexão iluminada e iluminadora, mostrando ao leitor faces por vezes ocultas dessas questões.

Quando é que os rodapés literários pararam de ter importância no Brasil? É possível precisar uma data? E por que isto aconteceu?

Silviano Santiago –Tudo indica que podemos datar a perda de prestígio do rodapé. A partir da década de 1950, uma geração de críticos poderosos, formada pelas ideias modernistas, e os textos produzidos por eles e publicados em suplemento literário ou em revista, perdem gradativamente a importância nacional. Álvaro Lins serve de exemplo. Seu Jornal de crítica tem a primeira série de rodapés publicada em livro pela José Olympio no ano de 1941 e a sexta no ano de 1951. Saltam-se dez anos. A última e sétima coleção de rodapés escritos por ele e reunidos também em livro, volume ainda intitulado Jornal de crítica, sai então pelas Edições O Cruzeiro, no ano de 1963. O primeiro conjunto de textos, 1941, é dedicado a Paulo Bettencourt e ao jornal que ele dirige, Correio da Manhã. Lins agradece ao diretor e ao jornal por o volume de crônicas ter-se formado, “com a categoria de sua crítica literária oficial, numa colaboração de todas as semanas”. Havia, portanto, relação estreita entre coluna e jornal, entre coluna e linha editorial, entre colaboração e periodicidade. O sistema do rodapé era prestigioso, influente e orgânico. A relação está óbvia no próprio título das coleções de rodapés: jornal de crítica.

Outro exemplo, Brito Broca. Em prefácio a reunião de rodapés (ou de crônicas) de Brito Broca, datada de 1981, Antonio Candido esclarece: “Talvez os escritos de Brito Broca não satisfaçam aos que limitam a crítica à análise sistemática e altamente técnica dos textos”. Em leitura dos diários críticos de Sérgio Milliet, o mesmo Candido recomenda a vasta obra porque ela “pode ajudar muito a restaurar o que se poderia chamar o ato crítico, meio sufocado pelo aparato teórico contemporâneo. O ato crítico é a disposição de empenhar a personalidade, por meio da inteligência e da sensibilidade, através da interpretação das obras, vistas sobretudo como mensagem de homem a homem”.

Não é, pois, difícil detectar a causa para a perda de prestígio do rodapé. A apreciação de Candido, formado por professores brasileiros e franceses na USP, aponta, de um lado, para a ausência na produção jornalística de fundamento propiciado por conhecimento técnico (teórico?) da arte literária e, do outro lado, para a limitação no ato de julgamento pelos que rechaçam o jornal e são geradores de valores teóricos no processo de análise da arte. A atitude de Candido pode ser reforçada pelos escritos raivosos dos anos 1960 de Afrânio Coutinho, logo depois de um período de estudos nos Estados Unidos, em que se entregou à leitura do new criticism. Os escritos de Afrânio, contundentes pelo tom de desprezo pelos jornalistas culturais, foram reunidos no volume No hospital das letras (1963), onde é espezinhada a figura de Álvaro Lins e o gênero de trabalho crítico a que se dedica. Não passava de um mero crítico impressionista.

No bate-boca entre os colunistas de jornal, formados pelo saber modernista sobre as artes, e seus dois (então jovens) leitores, formados pela pós-graduação universitária, está o conflito que marca a passagem de uma postura impressionista à outra, dita técnica. Uma se sobrepõe à outra no correr da década de 1960 e a leva de vencida na década de 1970. O centro da apreciação crítica é deslocado do papel-jornal semanário para o ensaio ou a tese universitária, de circulação restrita e bem modesta. As famosaspanelinhas literárias perdem o espaço buliçoso e alvissareiro dos bares e restaurantes do centro da cidade para ganhar a austeridade e a linguagem especializada do campus. Talvez haja ganho em qualidade crítica na tarefa; talvez o grande público perca o acesso às ideias abstratas expostas pelos rodapés. O crítico amador, cuja formação tinha sido feita no contato com os tratados sobre filosofia e estética e com os livros dos grandes autores de literatura, perde o prestígio e é substituído pelo especialista em literatura, que aprecia o romance e a poesia nos detalhes (close reading), a partir de rigorosos pressupostos metodológicos, tomados a uma das correntes críticas colocadas à disposição do estudioso nos bancos acadêmicos. O colunista “oficial” (a palavra é de Lins na dedicatória do livro ao Correio da Manhã e seu diretor) do suplemento literário é substituído pelo professor titular no Departamento de Letras, emérito autor de história da literatura brasileira e responsável pelos cursos de pós-graduação, onde os alunos, por sua vez, produzem trabalhos de estágio e teses de mestrado e de doutorado.

Da perspectiva da implantação do Modernismo no Brasil, outra maneira de ver o tema do rodapé seria o da análise do movimento por gêneros literários. Década de 20: dominância da poesia. Década de 30: dominância da prosa. Década de 40: dominância da crítica. O final do rodapé coincidiria com o final da forte e definitiva influência das ideias modernistas na formação do jovem escritor.

Nesse tipo de discussão, há uma terceira via que é sempre esquecida. Desde os anos 1920, na época da vanguarda modernista, os próprios artistas buscavam espaço no jornal e se faziam de críticos literários e de arautos da própria obra. É o caso de Mário de Andrade e de Manuel Bandeira, principalmente. Nos anos 1950, época em que o crítico de rodapé perde influência nacional e o crítico universitário não a alcança, é a nova vanguarda, hoje tida como “experimental”, que passa a ocupar os jornais e os suplementos. O caso mais notável é o do suplemento do Jornal do Brasil (SJDB, lançado em junho de 1956), tomado de assalto pelos neoconcretos, liderados por Mário Faustino. Os irmãos Campos e Décio Pignatari atuam de maneira semelhante em São Paulo (suplemento de O Estado de S. Paulo) e nos suplementos cariocas, tendo recebido destaque na famosa Revista do Livro, do INL, no momento em que Alexandre Eulálio era redator-chefe. Em Minas Gerais, há que citar o caso do pessoal da revista Tendência (Affonso Ávila, poeta, e Rui Mourão, romancista) e da revista Complemento. Lembre-se, ainda, que uma nova geração de escritores surgirá neste suplemento literário.

Três detalhes a serem explorados.

1.Há uma importante fusão das artes a partir da época do experimentalismo. Cinema, artes plásticas, teatro e balé cortejam a literatura. O livro Alguns, de Júlio Bressane, é revelador nessa matéria. Diz ele lá que as palavras do poema “Cidadezinha qualquer”, de Carlos Drummond, pintam um quadro de Tarsila: “Casas entre bananeiras / mulheres entre laranjeiras / pomar amor cantar”. Ao filmar Vertigo, Alfred Hitchcock escreve um poema de Mallarmé. Já Mário Reis, o Braguinha, desenha Betty Boop, criada por Max Fleischer, ao compor a marchinha “Moreninha da praia”. O filme Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos, escreve o romance de igual nome assinado por Graciliano Ramos.

2.Há também um jornalismo cultural que pode ser lido de maneira enviesada e que, por isso, beira o gosto pela anedota. Refiro-me à correspondência trocada entre grandes escritores. De maneira retrospectiva, ali se pode ler a história subterrânea e amistosa dos vários caminhos por que passa, por exemplo, o modernismo no processo de afirmação. De certa forma, ler as cartas trocadas por Mário com seus amigos equivale à leitura atual do jornal de crítica, de Álvaro Lins, ou do diário crítico, de Sérgio Milliet.

3.No novo milênio, o jornalismo cultural é feito por profissionais formados nas Escolas de Comunicação (e não mais nas Faculdades de Letras). Está para ser analisado o estilo que os comunicólogos devem imprimir aos textos e à crítica. Já é certo que a ideia de cultura como entretenimento ganha mais e mais adeptos nas redações de jornal.

A indústria cultural brasileira, pelo menos aparentemente, foi mais inteligente do que a atual (fiquemos apenas em dois nomes: Chico Buarque e Caetano Veloso). Passados 27 anos do fim da ditadura, como você vê a produção cultural do país? É possível comparar os dois períodos? [Aqui penso, sobretudo, no seu texto “Democratização no Brasil: 1979-1981 (Cultura versus Artes)” e, se possível, gostaria que você fizesse uma pequena reavaliação do texto. O que ainda vale? O que não?]

S.S. –A indústria cultural brasileira, ou a estrangeira, nunca foi e nunca será inteligente. Ela pode ser favorecida pelos fados da radicalidade dos governos, contrários à inteligência e à cultura, e ganhar, por interposto agente – por exemplo, regimes totalitários ou regimes ditatoriais −, importância e respeito, perdendo o caráter óbvio de mero entretenimento. É claro que, depois desse empurrão inicial e no caso de os artistas conseguirem se renovar, a indústria cultural, modificada nos seus alicerces, lhes proporcionará anos de bonança e de riqueza. O artista que lá põe o pé e consegue permanecer firme, de lá nunca se arredará. Tentará encontrar palavras e argumentos que justifiquem a sua permanência.

Esse é um paradoxo difícil de ser esboçado em poucas linhas. Ele surge no Brasil e na América Latina nos anos 1960 e nos anos seguintes. Valho-me dos nomes que você cita. Chico Buarque resumiu a ambivalência na canção “Apesar de você”. Apesar dos militares no poder, a MPB funciona às mil maravilhas e tem uma plateia privilegiada e imensa. A canção anuncia a felicidade geral do povo brasileiro no dia de amanhã: “Apesar de você / Amanhã há de ser outro dia / Eu pergunto a você onde vai se esconder / Da enorme euforia? / Como vai proibir / Quando o galo insistir em cantar”. Caetano, por sua vez, resumiu-a no hit “Soy loco por ti América”: “El nombre del hombre muerto / Ya no se puede decirlo quien sabe / Antes que o dia arrebente… / El nombre del hombre es pueblo”.

Dadas as circunstâncias da ditadura militar no país, o artista alimenta e é alimentado por vasto público. A ele se dirige em termos menos artísticos e mais conteudísticos. Trata-se da estética do “bom conselho”, como a apelidei em Uma literatura nos trópicos. Quando se avulta a insatisfação popular, o artista vai canalizá-la e emprestar-lhe sentido em mensagem de tom otimista, que acaba por ser apreciada por um número maior do que o dos happy few que amam a arte. Simplificadamente enuncio o paradoxo: quando o Estado nacional passa por crise aguda e insustentável, olhos e ouvidos do povo abrem-se para a mensagem artística, seja ela pessimista (crítica) seja ela otimista (utópica). A obra torna o artista figura carismática. É ele que, enquanto intelectual (e não como artista, capaz de refletir sobre as insuficiências e os limites do próprio trabalho artístico), sustenta o próprio nome e a obra. Aliás, a mensagem do intelectual (muitas vezes engajado) nega a reflexão do artista sobre o trabalho de arte. Ela minimiza a este para ser mais direta e convincente, mais sedutora. No caso dos anos de chumbo no Brasil, as chamadas artes da imagem e da oralidade (cinema, música popular, teatro, etc.) foram as privilegiadas. O analfabetismo, ou o pouco interesse do brasileiro pela letra impressa, sempre passa a perna na expressão propriamente literária. Passa a perna no livro.

No novo milênio e no contexto do saber e da cultura, a discussão sobre o fim da ditadura torna-se menos importante que a avaliação da importância crescente da fibra ótica. Os anos de chumbo já se tornaram objeto institucional, haja vista a importância de se criar uma comissão da verdade. No novo milênio, os vários avanços tecnológicos propiciados pelo uso inteligente da fibra ótica tomam de assalto o lugar privilegiado ocupado por Gutenberg para lançar o livro impresso. A forma de estocagem do saber objetivo e da produção de arte muda, assim como mudam os meios científicos e artísticos de sua transmissão. Fiquemos com a cultura. Ela nasce hoje para ser rotulada ou como reflexões minimalistas sobre o umbigo, independente do meio que a veicula (veja o caso da poesia), ou já se apresenta a priori como mercadoria no mercado industrial (o caso do entretenimento puro e simples). Por industrial entenda-se – com a ajuda de Walter Benjamin – a exigência de um grande público que sustente financeiramente a obra e abra para o artista a possibilidade de novas criações. Os happy few não pagam o custo de uma mercadoria cultural.

Passo por cima do óbvio em indústria cultural (o cinema, a televisão, o vídeo, o CD etc.) e entro no campo literário. O embate do escritor hoje é com o computador, seja para torná-lo meio de comunicação entre pares (as várias linguagens do umbigo, expressas nas redes sociais), seja para domá-lo – com o respaldo do editor de livros – como lugar popular e barato de recepção do seu texto (os vários sistemas de leitura do e-book). Mesmo o texto jornalístico de caráter artístico sai simultaneamente no papel e na internet, veja o caso do jornalismo cultural. A folha de papel impressa não dispensa a sua reprodução na telinha. O embate do escritor de literatura pode ser também com o cinema, a televisão e o vídeo (ele será autor de scripts), ou com o CD (será autor de canções). Neste caso, sua produção textual perde o caráter de expressão artística de uma subjetividade (voltamos ao tema do umbigo) para se adequar ao esforço de uma coletividade de artistas (ou seja, ele tem de buscar uma trama que seja compatível com o desejo da maioria da equipe a ser montada e devidamente remunerada). A indústria cultural exige o entrosamento. Bem que os franceses tentaram criar o cinema de autor.

A passagem do umbigo para a mercadoria pode ser atestada pela crescente importância da figura do agente literário no diálogo da obra (indiretamente do autor) com as editoras. O autor não recebe mais o tapinha nas costas do editor, que lhe era dispensado quando entrava na José Olympio. Tampouco o editor lhe sussurra: passe no caixa para receber um vale com o adiantamento dos direitos. As relações se estabelecem por contrato assinado pelas partes.

O legítimo criador literário pode dispensar tudo, menos a folha de papel, mas isso se dá e continua a se dar por decisão individual e íntima. Há artistas que apostam, não no dia seguinte ao da ditadura (Chico Buarque e Caetano, citados por você), não no último meio artístico em pauta (os poetas experimentais e seus suportes técnicos), mas no dia seguinte ao da realização de toda uma obra. Costumo chamá-los hoje de escritores póstumos, e o melhor exemplo de vitória póstuma na atualidade brasileira é Clarice Lispector, como no dia de ontem foi Machado de Assis e, de certa forma, Oswald de Andrade. Ela confiou sem desconfiança nos textos que escreveu, confiou na arte literária em que acreditava. Foi profissional, sendo amadora. Em vida, teve um público minguado e morreu à míngua. Apenas dois dos seus inúmeros títulos ganharam edição que não fosse a primeira. Trata-se de uma aposta e, como tal, pode levar o jogador ao buraco do silêncio eterno ou ao céu do sucesso póstumo. A obra literária se assemelha ao cavalo no jogo de xadrez, que se move pelas diagonais. No tabuleiro da arte, a graça do seu movimento nada tem a ver com a linearidade do peão. Além do mais, se estiver na casa preta pode mover-se para a branca, e vice-versa.

Gostaria que você comentasse, a partir do seu conceito de narrador pós-moderno que está presente em “Nas malhas da letra”, o estranho fenômeno que acabou acontecendo nos últimos anos no jornalismo: o jornalista celebridade. A lista seria infindável (e só da Globo preencheria várias laudas). Mas voltando a fraca fria: a partir deste tipo de jornalista e pensando no seu texto do narrador pós-moderno. Hoje o jornalista é, muitas vezes, apresentado como mais importante que a notícia. Concorda?

S.S. –Política e indústria cultural têm uma exigência prioritária. Têm menos a ver com o produto pelo qual são responsáveis e mais a ver com o nome próprio que o assina. O próprio do produto e o próprio do nome são raramente discutidos e debatidos. Nome próprio é nome próprio, e vende. Políticos e atores (no sentido amplo das categorias) são figuras carismáticas. A etimologia latina da palavra carisma diz tudo. São pessoas que recebem um dom da natureza, que são favorecidos pela graça divina, e se contentam em dar asas ao dom e à graça recebidos. Não se questiona quem são eles e o que fazem, a não ser pelo viés da maledicência, que, aliás, infesta a imprensa marrom. Os paparazzi fotografam os nomes próprios.

Se não me engano foi Edgar Morin quem, na segunda metade do século 20, pôs primeiro o dedo numa nova categoria de seres humanos que estava sendo criada pelos meios de comunicação de massa – a estrela (Les stars, 1957). Seu livro foi traduzido ao português com o título de As estrelas: mito e sedução no cinema. (Glosando sua constatação sobre o jornalista, sabemos de há muito que a estrela é mais importante que o filme.) Tomado ainda pela linguagem psicanalítica, Morin percebia na base do mito um processo de projeção/identificação do espectador/leitor, que se expressava pelo desejo não satisfeito, reprimido (as calcinhas que as moçoilas ainda recentemente jogavam no palco em que Wando se apresentava é uma espécie de link libidinoso. Por cima da diferença entre palco e plateia, entre ator e espectador, no meio da multidão, estabelece-se um diálogo íntimo e intransferível do sujeito com o objeto do desejo). Em romance, De cócoras, tentei cena semelhante, valendo-me de Rita Hayworth no filme Gilda.

No entanto, por ser grande conhecedor do cinema, haja vista o clássico Le cinéma, ou l’homme imaginaire, Morin saiu pela porta da psicanálise e entrou pela janela da teoria sobre as artes do espetáculo. O processo de projeção/identificação do espectador com a estrela é usado pela indústria cultural – ele constatou − que passa a transformá-la em mercadoria cada vez mais rentável. A estrela vende tudo o que leva o nome que lhe é o próprio, seja o produto propriamente artístico, seja ainda o produto industrialtout court (refrigerante, perfume, automóvel etc.). Tudo é mercadoria, tudo é consumo no universo da estrela. Haja Rodrigo Santoro e Ivete Sangalo! De vez em quando, surge uma voz indignada, que apenas acentua o peso da lei geral. Caetano não quis que o nome Tropicália fosse dado a um edifício em construção.

No entanto, há que se fazer um esclarecimento. Se a criação da estrela pela indústria cultural é passível de discussão e de crítica, não há dúvida de que os novos meios tecnológicos de comunicação são responsáveis por novas formas de linguagem, por novos tipos de narrativa que afetam a tradicional “retórica da ficção”, para retomar a expressão de Wayne Booth. A linguagem cinematográfica veio para se espraiar para as outras linguagens artísticas.

O pós-moderno, no texto a que você se refere, publicado em Nas malhas da letra, era definido pelo fato de que o jornalista, enquanto narrador, tinha sido desprezado por Walter Benjamin como superficial, mas estava sendo valorizado por alguns escritores na época em que a linguagem geral (a língua franca, por assim dizer) do drama era tomada de empréstimo a ele e ao meio. Quem atua (no real) é sempre observado por um espectador que, por sua vez, passa a atuar como narrador (no campo da arte).

Minha hipótese de trabalho era ampla: o autor pós-moderno narra a ação enquanto espetáculo a que assiste (literalmente ou não) da plateia, da arquibancada ou de uma poltrona na sala de estar ou na biblioteca; ele não narra enquanto atuante, embora acabe por o ser. Tentava, então, deslocar o fulcro da narrativa da figura da estrela (o ator, o atuante) para a figura do espectador (o leitor, caso ele fosse crítico do ator e da ação por ele praticada – no caso de Wando, interessava-me mais quem jogava a calcinha do que o artista que levava o espectador a jogá-la). Anunciava o fim da narrativa narcisista, feita pela estrela na primeira pessoa do singular, apanágio da grande literatura europeia, e mal sabia que estava dando trela a outro tipo de narcisismo, o do espectador/leitor enquanto narrador. Devo ter caído nas malhas do meu ídolo Jorge Luis Borges. Ou nas malhas da minha prosa libertária intitulada Em liberdade. A prisão vivenciada pelo meu personagem, Graciliano Ramos, era expressa através da forma-prisão, o pastiche, de que se valia o narrador para relatar a experiência real do outro. A estética recobria a ação para dar nascimento a uma escrita ética.

Em termos mais gerais, a linguagem – seja ela a artística, ou não – é uma ferramenta. Uma ferramenta semelhante ao fogo, que nos foi doado por Prometeu. A técnica é que encaminha, de uma maneira ou de outra, o funcionamento das mãos em contato com as possibilidades do fogo e da linguagem.

Caso o leitor (no caso o espectador da cena a ser a narrada, ou seja, o narrador não-atuante, a moça que joga a calcinha para Wando, o jornalista) deixe de ser crítico (de ser ético) na própria narrativa, o problema é menos dele do que da própria crítica atuante no nosso momento histórico. Se o jornalista é mais importante que a notícia, para te glosar, há algo de podre no reino das comunicações e algo de mais podre na crítica dos espetáculos.

O aumento do número de vagas no ensino superior, com critérios populistas e não técnicos, tem causado grave problema para muitas universidades espalhadas pelo país. À boca pequena (nos bastidores) já se fala até na possibilidade do curso de Letras “caminhar” de mãos dadas com o jornalismo (espécie assim de “fusão camuflada”). O que pensa disto? E do futuro dos nossos cursos de Letras?

S.S. –O aumento de vagas em qualquer dos níveis de ensino é sempre algo de positivo. Portanto, não há que se queixar do avião como meio de transporte se ele, por decisão do governo norte-americano, despejou bombas atômicas no Japão. Há sempre que se questionar o modo como as coisas são feitas, principalmente as que na verdade deveriam ser bem feitas. A importância das medidas tomadas por Jules Ferry, ministro da educação na França ao final do século 19, atestam até hoje a favor da escola pública, leiga e republicana para todos os cidadãos, indiscriminadamente.

Nos países do Novo Mundo, em virtude de o processo de colonização ter sido feito de fora para dentro, em virtude de o processo ter sido de responsabilidade de europeus e ter comportado o extermínio da raça indígena e a escravidão africana, há injustiças históricas em relação aos descendentes dessas duas etnias. Não há dúvida de que, no tocante à educação e a outras obrigações públicas, há no Brasil grupos de cidadãos privilegiados e grupos de cidadãos não privilegiados. Como estabelecer a justiça? Como trabalhar com vistas à igualdade? Como neutralizar os preconceitos inerentes ao status quo? Essas e muitas outras questões deveriam ter sido feitas pelos homens públicos que – corretamente – procuram um sistema de compensação para beneficiar na área da educação todos os que, no correr dos séculos, foram destituídos dos seus direitos.

Guardadas as diferenças, a decisão desses homens públicos é semelhante à decisão tomada pelo presidente Truman no fatídico dia 3 de agosto. O fim da guerra com as forças do Eixo e a educação pública para todos e em todos os níveis são uma necessidade. Se essa necessidade leva o governante a mandar jogar uma bomba atômica (metafórica ou não) no já pobre e desmantelado ensino público brasileiro, é um gasto horroroso de energia, uma tragédia calamitosa e uma perda irreparável de tempo. Já vê que o que seja “técnico” e o que seja “populista” nessas matérias em que o problema fundamental é o da justiça ou da ética, e não o da mera política, é discussão por demais delicada para poucas linhas.

Problema bem distinto é o segundo proposto pela pergunta. Os já tradicionais cursos de Letras se aproximam dos novos e expansíveis cursos de Comunicação – e provavelmente se fundirão. É inegável que o avanço da tecnologia em fibra ótica na área de produção, estocagem e transmissão do saber retira o livro do pedestal onde foi colocado por séculos (a biblioteca) e é, ao mesmo tempo, algo que veio para ficar. Acima disse algumas palavras sobre isso. A questão da aproximação e fusão dos cursos tem duas pontas que deveriam ser analisadas.

Numa ponta, está uma questão propriamente orçamentária e na outra uma questão relativa à melhor e mais completa formação do aluno. Não é interessante que os cursos se dupliquem (ou seja, tenham gastos inutilmente duplicados), oferecendo conteúdos praticamente similares, nem é interessante que o aluno interessado pela questão da linguagem (artística ou não) no século 21 tenha uma formação limitada por ter optado por Letras (linguagem fonética, livro) ou, caso paralelo, por Comunicação (linguagem dos meios de comunicação de massa, mídia eletrônica).

É inegável que os cursos de Letras terão o futuro que o livro tiver. Qualquer cálculo no dia de hoje é precipitado, como o foi nos anos 1960, após a publicação do livro A galáxia de Gutenberg. A partir das ideias desenvolvidas por McLuhan os poetas concretos chegaram a “dar por encerrado o ciclo do verso” (v. Plano piloto da poesia concreta). O verso continuou firme e forte na produção dos poetas marginais e até nas (notáveis) traduções feitas pelos próprios irmãos Campos. De novo, estamos diante de matéria delicada para algumas linhas.

Nos cadernos de cultura de hoje cultura é sinônimo de entretenimento. O que pensa disto?

S.S. –Sinal dos tempos seria boa resposta, comprometida com o atual estágio mercadológico por que passa a cultura nas nações do Primeiro Mundo, que influenciam, por sua vez, todo o planeta. Veja-se uma única figura, Michael Jackson, e perceba-se a quantidade enorme de coisas que giram em torno dele internacionalmente. Da reprodução ao pastiche e à paródia. Vivemos mundialmente num regime único de arte, impossível de ser recuperado ou de ser transformado, a não ser pelo trabalho de jovens que são logo assimilados pelo regime único.

Às vezes me assusto com o fato de que há obras de arte, muitas vezes secundárias, que têm o dom de horóscopo. Prognosticam o futuro com a graça e a desenvoltura de quem entendeu para que veio, para que viemos e para onde vamos. Refiro-me, por exemplo, ao filme musical Em busca de um sonho (“Gipsy”), de 1962. (As músicas para a peça em que o filme se baseia foram escritas pelo mago Sondheim, em 1959.) O personagem da filha (Nathalie Wood) em confronto com a mãe (Rosalind Russell), uma estrela decadente e controladora, diz o que se deve dizer (metaforicamente) sobre as figuras que dominam a arte do entretenimento: “Me with no education. Me with no talent. Maman, look at me now. I am a star. Look how I live. Look at my friends…” e assim por diante. A canção, que se tornou famosa na voz de Nina Hagen ou Chita Rivera, complementa: “Let me entertain you / Let me make you smile / Let me do a few tricks / Some old and some new tricks / I’m very versatile”.

Depois dessa lição de palco, de strip-tease, de sorriso, de truques e de versatilidade não há como duvidar que a cultura passe a segundo plano. Entretenimento na cabeça.

Gostaria de uma pequena palavra sua sobre a importância que teve o trabalho que você é o principal responsável de ter tornado a obra de Derrida conhecida no Brasil. Gosta da recepção que ela tem hoje entre nós?

S.S. –Sem dúvida, Jacques Derrida é um dos grandes filósofos do século 20, e não um mero professor de filosofia. Sua obra escapa, pois, aos parâmetros de uma entrevista. Sua presença, no entanto, pode ser delineada através de uma questão capital, a meu ver, para o bom entendimento da importância da literatura a que chamei de póstuma. Não há dúvida de que, nos dias de hoje e em relação à produção literária classificada como moderna, a filosofia é a melhor articuladora de problemas e propicia melhores leituras que as ciências sociais. Nessa matéria, e há que se tirar o chapéu para o filósofo, ele trabalhou todos os grandes pensadores que o antecederam. Pense em Heidegger leitor de Hölderlin, pense em Benjamin leitor da reprodutibilidade técnica da arte, pense em Nietzsche e os helenos, pense em Bataille, Blanchot e Foucault, eles lá estão bem estudados. E tantos outros. A desconstrução é uma chave que abre todas as portas do saber humano pelo viés da história (da história da filosofia) e pelo viés da atualidade (da leitura a contrapelo). O leitor de Derrida está e estará diante de um arquivo infindável.

Daí a dificuldade em tomar assento na plateia de Derrida e em abrir a boca. Aliás, o próprio ato de proferir palavras oralmente tem pouco valor para ele (quem o conheceu pessoalmente sabe que ele nunca falava “de improviso”; suas aulas, palestras e conferências eram sempre “lidas”). De uma perspectiva populista e/ou demagógica, esse é o primeiro grande obstáculo que o leitor de Derrida tem de enfrentar. Enfrentar a linguagem como letra morta, ou seja, como letra que para poder existir enquanto tal teve de assassinar o pai (o locutor). O texto é como um filho assassino e bastardo, que caminha pelo mundo, de um lado para o outro, de uma época para a outra, à procura de quem possa lhe dar significado − o leitor.

Platão nos fez acreditar que a verdade seria expressa pelo locutor presente, junto à sua fala. Responsável por ela, ele seria sensível aos comentários do outro, ou seja, seria capaz de corrigir, ou de rasurar a própria fala no próprio momento em que se expressava. No entanto, é a verdade das ideias de Platão que está hoje impressa sob a forma de diálogo. O diálogo é apenas uma forma, uma forma fonocêntrica (defende a expressão oral) e etnocêntrica (defende a tradição ocidental) de saber, e não traduz a complexidade do processo de busca da verdade. Há que desconstruir o fonocentrismo que está na base do pensamento socrático, há que desconstruir o etnocentrismo que é fundamento do pensamento europeu. Descontruídos, chegamos à conclusão de que a verdade está sendo dada pela leitura de ocidentais e não-ocidentais, pela leitura do diálogo socrático, pela leitura do texto. Um lado do mar Mediterrâneo é europeu, mas o outro é africano.

É o próprio texto platônico, mostrou-nos Derrida em A farmácia de Platão, que se articula pelas ambivalências de sentido. Estas são apreendidas numa leitura cuidadosa dos rigorosos e frágeis esquemas linguísticos de que se serve o filósofo – e qualquer escritor para montar o texto que deverá nos levar ao conhecimento da verdade. Estamos sempre diante de diferenças. A diferença organiza o pensar, daí que Derrida desclassifique o tradicional conceito, para nos propor o pensamento a partir de palavras escritas, cujo sentido é indecidível (indécidable). O leitor, como figura, é um decisor, mas no seu texto de decisor, haverá também indecidíveis, que só serão apreendidos por outro e futuro decisor.

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[João Pombo Barile é jornalista e diretor do SLMG]

Suplemento Literário de Minas Gerais, edição especial “Reflexões sobre o jornalismo cultural”, Belo Horizonte, 2012

Preocupações com o livro e a Literatura amanhã – por amilcar neves / ilha de santa catarina.sc


Este ano a Biblioteca Nacional da Espanha celebra o seu terceiro centenário.


Aqui, tivemos um governador que decidiu ser sua missão acabar com a Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina, que contava apenas a metade da idade da sua congênere madrilenha – completou 158 anos no dia 31 de maio. Ele desfraldava um argumento que considerava arrasador e definitivo: “Por que a biblioteca de Joinville é municipal e a de Florianópolis tem que ser estadual?” Como não conseguiu extingui-la, mudou o nome para Biblioteca Pública de Santa Catarina (ou seja: ela está pronta para deixar de ser do Estado desde que o novo proprietário se comprometa a mantê-la pública…) e sustou a liberação de verbas até para a manutenção do acervo. Hoje o homem é senador da República e relata o projeto do novo Código Florestal Brasileiro, ancorado em opiniões pouco próprias sobre essa mania nacional de se querer preservar meio ambiente às custas da produção de alimentos.


Claro que bibliotecas têm tudo a ver com a preservação do livro, da Literatura e do salutar hábito da leitura. Ainda outro dia, o peruano Mario Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura de 2010, declarando seu amor incondicional pelas bibliotecas, revelou que o fato mais importante da sua vida foi ter aprendido a ler. A paixão pela leitura desde criança, conforme afirmou, permitiu-lhe, a partir de então, viver “grandes experiências” graças aos livros.


O mesmo Vargas Llosa participou neste 9 de maio de um ciclo organizado por aquela biblioteca espanhola em comemoração aos seus 300 anos. Durante o debate com um jornalista, ele desabafou: “É um temor, tomara que não aconteça”. Referia-se ao advento dos mais diversos aparelhos eletrônicos que têm surgido nos últimos anos e se propõem a operar como suporte ao livro e à leitura. O mais recente deles constitui a família dos tablets, palavra que, em inglês, significa precisamente tabuleta, tabuinha, bloco de papel (assim como um notebook nada mais é, no vernáculo anglo-saxão, do que um mero caderno de notas, uma simples agenda, o velho e tradicional caderno escolar).


A preocupação do escritor latino-americano é que, segundo ele acredita, o suporte eletrônico acabará por influir decisivamente no conteúdo da escrita; neste caso, afetando comprometedoramente a qualidade do texto. Ele dá um exemplo: “a literatura criada diretamente para os tablets” pagará o mesmo preço que o texto escrito para a televisão, “pois se banalizará e cairá na frivolidade”. Seu argumento é claro: “A televisão banalizou tanto os conteúdos […] porque aponta ao mais baixo para chegar ao maior número de pessoas.”


Na verdade, não se pode considerar Literatura uma telenovela, tanto quanto nunca se deu essa condição à velha radionovela. Mesmo um texto teatral será ou não obra literária dependendo da perícia, do engenho e da autocrítica que o seu autor colocar no trabalho. De forma idêntica, um escritor jamais escreverá sua literatura de maneira apressada (e irresponsável) para “postar” o texto no segundo seguinte querendo que se trate de uma peça efetivamente literária. A obra literária exige tempo, maturação, revisões infindas e um enorme grau de exigência até chegar-se mais ou menos perto do resultado ideal.


Assim, jamais se escreverá um conto teclando-o diretamente num dispositivo eletrônico e publicando-o no ato. Literatura é outra coisa, e até poderá ser lida num tablet, mas nunca produzida nele para consumo imediato.

AMILCAR NEVES  é membro da ACADEMIA DE LETRAS DE SANTA CATARINA.

O poeta MANOEL DE ANDRADE comenta a condenação do coronel, torturador, ustra / curitiba.pr

Autor: Manoel de Andrade (IP: 177.132.23.197 , 177.132.23.197.dynamic.adsl.gvt.net.br)

Comentário:

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Diz o advogado do “Brilhante” Coronel Ustra que  “os atos que levaram à condenação foram “apagados” pela Lei da Anistia”.
Creio que é preciso lembrar que a Lei da Anistia, aprovada pelo Congresso Nacional em 1979 foi uma fraude jurídica imposta pela Ditadura para impossibilitar a punição de policiais e militares comprometidos com a tortura e a morte de militantes de esquerda. O Congresso de então era composto por um terço de senadores biônicos (parlamentares investidos pela Ditadura sem o sufrágio do voto) e por uma oposição consentida. O outro projeto de anistia, proposto pela sociedade civil e encampado pelo MDB, propunha uma anistia ampla, geral e irrestrita, mas, por isso mesmo não foi aceito pelo Congresso, monitorado pelos generais. O que se lutava, na época, era por uma Anistia de devolvesse os direitos a cidadania, pela liberdade de organização política e sindical, enfim uma anistia com liberdade e o que se aprovou foi um conceito de anistia para o esquecimento dos crimes cometidos e a impunidade para os torturadores. Não se considerou o direito a resistência e os presos políticos, conceituados pela Lei de Anistia como terroristas, não foram anistiados e continuaram cumprindo penas. A verdadeira caminhada para a anistia começou quando da descoberta das 1.049 ossadas de presos políticos encontrados numa vala clandestina do cemitério de Perus, em São Paulo, no dia 4 de setembro de 1990. Foi esse fato que deu origem a Comissão dos Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos e as leis posteriores que reconheceram a responsabilidades do Estado pelos mortos e desaparecidos durante o Regime Militar.
A ditadura terminou em 1985, mas somente agora, quase trinta anos depois, é que se começa, finalmente, a apurar seus crimes. Somente em novembro do ano passado o Brasil começou a redimir-se de sua vergonha nacional com a criação da Lei de Acesso à Informação e da criação da Comissão Nacional da Verdade as quais vieram mudar uma cultura de silêncio vigente até então no país.
A Comissão da Verdade e a Lei de Acesso à informação ampliaram os direitos civis da Constituição de 88, dando ao cidadão o poder de acessar informações que sempre lhe estiveram vedadas pela imposição do esquecimento e o claro propósito de impor o silêncio às vítimas da ditadura.

A Comissão da Verdade é uma conquista diante da impotência da Lei da Anistia, que veio para absolver os algozes e sepultar suas vítimas no passado. Foi somente com a valorização da Memória e a evidência pública da violência no Regime Militar, promovida por abnegados grupos de Direitos Humanos, em audiências públicas, livros e artigos publicados e palestras pelo país inteiro, que se começou a superar a cultura do esquecimento e se compreender o que significa o direito à resistência. Estas duas conquistas democráticas modificaram os paradigmas dessa transição. Nossos aplausos para Paulo Abrão, Presidente da Comissão de Anistia, que tem sido incansável na sua peregrinação pelo Brasil à frente da Caravana da Anistia. Diante dos países vizinhos, que se anteciparam na revelação das atrocidades cometidas por militares, o Brasil chegou atrasado, mas finalmente está chegando ao palco da justiça e da verdade,  para reparar e dignificar a memória daqueles que deram a vida por um sonho.

Quando ao julgamento dessa sinistra figura, que foi mestre da crueldade no DOI-CODI de São Paulo, e que certamente foi aluno de Dan Mitrione, sua condenação civil não é uma “pena”, mas um “prêmio” se comparada com a perpetuidade penal dos seus comparsas argentinos.  É consolador pensar que essa primeira condenação, ainda que civil, seja também o primeiro passo para criminalizar os verdugos da nossa Ditadura, já que os crimes de lesa-humanidade são imprescritíveis, seja pelo caráter de crime permanente (no caso dos desaparecidos), seja pela jurisprudência dos tribunais internacionais assim como da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

O Coronel Ustra abre o tribunal da nossa consciência histórica. Esperamos que outros réus sejam também trazidos ante o poder da Justiça. Vamos acreditar nessa agenda. Creio que isso é uma questão de tempo. Vamos começar a contá-lo porque “Nada há de oculto que não se torne manifesto, e nada em segredo que não seja conhecido e venha à luz do dia.” Evangelho de Lucas 8,17

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leia AQUI a matéria comentada.

Mapa astral e outras adivinhações – por luis fernando pereira / curitiba.pr

Era criança lá em Cascavel quando um primo um pouco mais velho me explicou que o futuro já estava definido. Todo o futuro. Falava meu primo das profecias de Nostradamus. Fiquei meio desconfiado, mas acreditei. Aquela imagem de um velho sisudo e com longa barba branca ajudava a impressionar uma criança. Como há um bom tempo deixei de ser criança (mais tempo do que eu gostaria), parei de acreditar em Nostradamus ou qualquer outra forma de futurologia. Impressiona-me como até hoje muitos amigos (já bem crescidos) insistem em acreditar na possibilidade de se predizer o futuro. Resolvi escrever sobre tema.

Há várias modalidades de adivinhação. Dizem que os caldeus (aquela turma do sul da Mesopotâmia) prediziam o futuro analisando as entranhas dos animais. Hoje isso já não seria mais possível, imagino. A Brigitte Bardot e outros protetores dos animais não permitiriam o sacrifício dos bichinhos apenas para revelar o futuro a humanos ansiosos. Em tempos atuais a adivinhação se dá por intermédio das cartas de tarô, búzios, astrologia, quiromancia (leitura das mãos, explico aos não iniciados) entre outros “métodos” menos votados. Em um conto de Rubem Fonseca (reunido no ótimo “Secreções, Excreções e Desatinos”), li a possibilidade de se adivinhar o futuro por meio da análise das fezes. Não pesquisei, mas acho que a adivinhação escatológica era pura ficção do nosso grande Rubem (melhor contista brasileiro vivo, aproveito para anotar).

Ainda sobre os “métodos”, tem um amigo meu que acredita que tudo pode ser revelado pela borra do café (cafeomancia, outro método moderno de adivinhação). É só eu terminar de tomar o meu café que ele fixa o olhar no fundo da minha xícara para fazer a leitura da borra. – Mês bom para fechar acordos, disse ele uma vez. Eu acho que no futuro ele vai confessar que está me gozando com este papo de borra de café, mas como eu não me arrisco em adivinhações, simulo certa atenção. Como há vários métodos, pesquisei para ver se havia alguma hierarquia. Por exemplo: os búzios prevaleceriam em relação ao tarô que, por sua vez, estaria acima da cafeomancia? Não achei nada neste sentido. Isso só aumenta minhas dúvidas. Fico pensando: se por acaso os búzios revelarem período bom para acordos e a cafeomancia (o negócio da borra de café) disser que devo apostar em conflitos, como devo proceder? Cheguei à conclusão que o ideal é que cada adepto da adivinhação se concentre em apenas um método, evitando que o maldito do tarô possa eventualmente desmentir a leitura das mãos, gerando certa desorientação.

Bem, como meu espaço aqui na Revista Ideias é pequeno, permitam-me agora um corte metodológico. Vou me concentrar um pouco na análise da astrologia. É o método mais popular entre meus amigos. Fazer um mapa astral é quase uma obrigação hoje em dia. Se entendi bem a explicação sobre o funcionamento deste método de adivinhação, na essência a pessoa é definida (personalidade, caráter etc.) a partir das posições do sol, da lua e dos planetas no instante do nascimento. Ao ouvir a explicação, me perguntei por que não levam em conta o momento da concepção; ou quem sabe da primeira mamada? Não compreendi bem o porquê, mas o fato é que vale mesmo a hora do nascimento. Dia desses, ao tentarem me convencer a fazer meu mapa astral, disseram-me que bastaria eu informar o horário e a data do nascimento que o astrólogo (não confundir com astrônomo) me entregaria o tal mapa pronto. Falaram na influência das constelações zodiacais, se me recordo. O mapa astral, com suas casas astrais e trânsitos astrológicos (nomes pomposos, devo reconhecer), seria um guia a revelar períodos futuros propícios para determinadas atividades. Para resumir, é um horóscopo mais sofisticado. Com todo o respeito que devo aos meus amigos adeptos da astrologia, não vejo nenhum sentido nisso.

Certa vez, fiz uma conta interessante para uma amiga que não saía de casa sem ler o horóscopo diário (parece que mais recentemente ela migrou para o i-ching). Como somos mais de sete bilhões de humanos andando pela terra e apenas doze signos, mais ou menos seiscentos milhões de pessoas acabam tendo o mesmo tipo de dia (bom para os negócios; ruim para o amor, por exemplo). Não por acaso as “previsões” do horóscopo são genéricas o suficiente para não frustrar a expectativa da turma. Mesmo genéricas, há casos de inevitáveis equívocos. Quando pergunto sobre os erros, meus amigos do mapa astral chamam a atenção para a influência do signo ascendente. Eu mesmo nem sabia que existia o tal do ascendente. Existe e tem gente que chega a cancelar viagem se o mapa astral, levando ou não em consideração o ascendente, indicar um período impróprio. Gente importante acredita nisso. Os mais velhos lembram bem da estranha relação do casal Reagan com a astrologia. O ex-presidente americano chegou a ficar um tempo sem sair da Casa Branca com medo de ser assassinado. Era um sinal do mapa astral.

Eu simplesmente não consigo acreditar em rigorosamente nada disso. Acho sinceramente que não se trata propriamente de métodos de adivinhação, mas métodos de ganhar dinheiro. Para cada método há um “sensitivo”. São os intérpretes dos métodos. São pessoas que se vestem diferente para compor o tipo esotérico. Não duvido que haja gente séria metida com isso. Muitos realmente acreditam, mas a grande maioria tem a adivinhação como ganha-pão e pronto. O número de adeptos é tal que se trata de um ofício que dá um futuro certo aos “intérpretes”.

Apesar de tudo, antes de enviar este texto, resolvi consultar meu horóscopo. Entre outros conselhos, dizia que era para eu aproveitar o ensejo do ingresso de Júpiter em Áries para ampliar horizontes. O astral favorece a flexibilidade e a abertura mental, dizia outro trecho. Foi confiando nestes conselhos que eu enviei o texto. Não gostou? A culpa não é minha; é do mapa astral ou, noutras palavras, da bendita posição das constelações zodiacais na hora exata do meu nascimento.

Artista de rua ‘levita’ durante apresentação na Espanha

Cena foi registrada em praça na capital Madri.
Imagem foi feito pelo fotógrafo Dominique Faget.

 

Um artista de rua parecia levitar durante um apresentação na terça-feira (26) em uma praça em Madri, na Espanha. (Foto: Dominique Faget/AFP)
Um artista de rua parecia levitar durante um apresentação na terça-feira (26) em uma praça em Madri, na Espanha. (Foto: Dominique Faget/AFP)
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Do G1, em São Paulo

Coronel Brilhante Ustra é condenado por morte de jornalista nos anos 70 – diógenes campanha / são paulo.sp

O coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra foi condenado em primeira instância a indenizar a família do jornalista Luiz Eduardo da Rocha Merlino, morto em 1971 em decorrência de torturas do regime militar (1964-1985).

Ele terá que pagar R$ 50 mil, por danos morais, para a ex-companheira de Merlino, Angela Mendes de Almeida, e o mesmo valor para a irmã dele, Regina Merlino Dias de Almeida. Cabe recurso.

É a primeira vez que a Justiça manda um agente da ditadura pagar reparação financeira a familiares de uma vítima de tortura. Em casos semelhantes, a responsabilidade recaiu sobre o Estado.

A decisão condenando o militar foi proferida anteontem pela juíza Claudia de Lima Menge, da 20ª Vara Cível de São Paulo.

Ustra comandava o DOI-Codi (centro de repressão do Exército) em julho de 1971, quando Merlino, integrante do Partido Operário Comunista, foi levado para o órgão. Ele morreu quatro dias depois de ser preso.

Na época, a versão apresentada pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social) foi a de que Merlino havia se jogado diante de um carro na BR-116, após fugir de uma escolta que o levava para o Rio Grande do Sul.

A versão foi contestada nos depoimentos de outros presos, que contaram que Merlino foi torturado no pau de arara e colocado desacordado em um veículo.

Em sua sentença, a juíza afirma serem “evidentes os excessos” cometidos por Ustra, que “participava das sessões de tortura e, inclusive, dirigia e calibrava intensidade e duração dos golpes”.

Testemunhas ouvidas no processo afirmaram que os maus-tratos a Merlino foram comandados por Ustra.

Um dos advogados do militar, Paulo Alves Esteves, informou que recorrerá da decisão. Ele afirmou que os atos que levaram à condenação foram “apagados” pela Lei da Anistia.

“A fonte do direito à indenização passa por um ilícito que já foi anistiado”, disse.

Durante o processo, a defesa protocolou reclamação no Supremo Tribunal Federal alegando que a ação da família de Merlino violava a decisão da corte que, em 2010, manteve a validade da Lei da Anistia.

O ministro Carlos Ayres Britto negou o pedido de Ustra em outubro de 2011.

O entendimento foi de que a anistia extinguiu a possibilidade de uma condenação penal, mas não a responsabilidade civil e o eventual pagamento de indenização.

A reportagem ligou para a casa de Ustra em Brasília, mas a mulher dele afirmou que ele não estava.

PARAGUAY: EUA já “previam” golpe em 2009

Edição/247

DOCUMENTO DA EMBAIXADA DOS EUA EM ASSUNÇÃO, VAZADO PELO WIKILEAKS, TRATAVA DE UM POSSÍVEL GOLPE PARLAMENTAR CONTRA FERNANDO LUGO; ATÉ AGORA, O GOVERNO DE OBAMA NÃO SE PRONUNCIOU SOBRE A MUDANÇA DE GOVERNO NO PAÍS VIZINHO.

247.

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ÚLTIMA INFORMAÇÃO:

EUA reconhecem golpistas do Paraguai

 

Por Altamiro Borges

Não causa nenhuma surpresa. Ocorreu o mesmo na tentativa frustrada de golpe na Venezuela, em abril de 2002, e no golpe direitista exitoso de Honduras, em junho de 2009. O Departamento de Estado dos EUA divulgou uma nota oficial na noite desta sexta-feira (22/06) reconhecendo “o voto do senado paraguaio pelo impeachment do presidente Lugo”, desejando êxitos ao “novo presidente” e rogando que “os paraguaios ajam pacificamente, com calma e responsabilidade, dentro do espírito dos princípios democráticos”.
Pouco antes da condenação sumária de Fernando Lugo, o porta-voz para a América Latina do governo dos EUA, William Ostick, já havia desejado um julgamento “escrupuloso” do presidente Lugo pelo Senado do Paraguai – composto na sua ampla maioria pela direita, por parlamentares ligados aos latifundiários e aos saudosos dos tempos da sanguinária ditadura de Alfredo Stroessner.
Segundo a mídia estadunidense, Washington acompanhava de perto a crise no Paraguai e sua embaixada em Assunção observava a situação muito atentamente. Barack Obama, o presidente que iludiu tanta gente na América Latina, deve estar satisfeito com o desfecho da crise. Agora ele imagina contar com mais um importante aliado no continente, juntamente com os servis mandatários do Chile e da Colômbia. O esforço do império para implodir a integração regional soberana ganhou mais um tento!

Golpe, dos corruptos, no Paraguai: O que os Estados Unidos podem ganhar – por luiz carlos azenha / brasilia.df

A reação de Washington ao golpe “democrático”  no Paraguai será, como sempre, ambígua. Descartada a hipótese de que os estadunidenses agiram para fomentar o golpe — o que, em se tratando de América Latina, nunca pode ser descartado –, o Departamento de Estado vai nadar com a corrente, esperando com isso obter favores do atual governo de fato.

Não é pouco o que Washington pode obter: um parceiro dentro do Mercosul, o bloco econômico que se fortaleceu com o enterro da ALCA — a Área de Livre Comércio das Américas, de inspiração neoliberal. O Paraguai é o responsável pelo congelamento do ingresso da Venezuela no Mercosul, ingresso que não interessa a Washington e que interessa ao Brasil, especialmente aos estados brasileiros que têm aprofundado o comércio com os venezuelanos, no Norte e no Nordeste.

Hugo Chávez controla as maiores reservas mundiais de petróleo, maiores inclusive que as da Arábia Saudita. O petróleo pesado da faixa do Orinoco, cuja exploração antes era economicamente inviável, passa a valer a pena com o desenvolvimento de novas tecnologias e a crescente escassez de outras fontes. É uma das maiores reservas remanescentes, capaz de dar sobrevida ao mundo tocado a combustíveis fósseis.

Washington também pode obter condições mais favoráveis para a expansão do agronegócio no Chaco, o grande vazio do Paraguai. Uma das preocupações das empresas que atuam no agronegócio — da Monsanto à Cargill, da Bunge à Basf — é a famosa “segurança jurídica”. Ou seja, elas querem a garantia de que seus investimentos não correm risco. É óbvio que Fernando Lugo, a esquerda e os sem terra do Paraguai oferecem risco a essa associação entre o agronegócio e o capital internacional, num momento em que ela se aprofunda.

Não é por acaso que os ruralistas brasileiros, atuando no Congresso, pretendem facilitar a compra de terra por estrangeiros no Brasil. Numa recente visita ao Pará, testemunhei a estreita relação entre uma ONG estadunidense e os latifundiários locais, com o objetivo de eliminar o passivo ambiental dos proprietários de terras e, presumo,  facilitar futura associação com o capital externo.

Finalmente — e não menos importante –, o Paraguai tem uma base militar “dormente”  em Mariscal Estigarribia, no Chaco. Estive lá fazendo uma reportagem para a CartaCapital, em 2008.  É um imenso aeroporto, construído pelo ditador Alfredo Stroessner, que à moda dos militares brasileiros queria ocupar o vazio geográfico do país. O Chaco paraguaio, para quem não sabe, foi conquistado em guerra contra a Bolívia. Há imensas porções de terra no Chaco prontas para serem incorporadas à produção de commodities.

O aeroporto tem uma gigantesca pista de pouso de concreto, bem no coração da América Latina. Com a desmobilização da base estadunidense em Manta, no Equador, o aeroporto cairia como uma luva como base dos Estados Unidos. Não mais no sentido tradicional de base, com a custosa — política e economicamente custosa — presença de soldados e aviões. Mas como ponto de apoio e reabastecimento para o deslocamento das forças especiais, o que faz parte da nova estratégia do Pentágono. O renascimento da Quarta Frota, responsável pelo Atlântico Sul, veio no mesmo pacote estratégico.

É o neocolonialismo, agora faminto pelo controle direto ou indireto das riquezas do século 21: petróleo, terras, água doce, biodiversidade.

Um Paraguai alinhado a Washington, portanto, traz grandes vantagens potenciais a interesses políticos, econômicos, diplomáticos e militares estadunidenses.

Mercosul suspende Paraguai da próxima cúpula do bloco / buenos aires.ar

BUENOS AIRES, 24 Jun (Reuters) – O bloco comercial Mercosul suspendeu neste domingo a participação do Paraguai na próxima cúpula regional que o grupo realizará na semana que vem, informou neste domingo a chancelaria argentina.

Em comunicado, a chancelaria argentina informou que os países-membros do Mercosul e os Estados associados expressaram “sua mais enérgica condenação à ruptura da ordem democrática na República do Paraguai, por não ter sido respeitado o devido processo”.

Por isso, decidiram “suspender o Paraguai de forma imediata e, por este ato, do direito de participar da Reunião do Conselho do Mercado Comum e da cúpula de presidentes do Mercosul”.

Os encontros serão realizados na cidade argentina de Mendoza, entre os dias 25 e 29 de junho.

Na sexta-feira o Congresso paraguaio aprovou o impeachment do então presidente do país, Fernando Lugo, e deu posse a seu vice, o liberal Federico Franco.

O processo foi aberto na quinta-feira e concluído no dia seguinte.

domingo, 24 de junho de 2012 18:05 BRT

(Reportagem de Magdalena Morales)

MERCOSUL SERÁ PRESIDIDO POR UM GOLPISTA? / editorial da carta maior / são apulo.sp


Começa na próxima quarta-feira, em Mendoza, Argentina, a Cúpula do Mercosul. No encontro dos chefes de Estado, no fim da semana, estava prevista a passagem da Presidência pro tempore do bloco à República do Paraguai, leia-se, ao presidente democraticamente eleito, Fernando Lugo. Que atitude tomarão agora Dilma Rousseff , Pepe Mujica e Cristina Kirchner diante do golpe da última sexta-feira? Recorde-se que o mesmo Congresso que derrubou Lugo bloqueia há mais de um ano o ingresso da Venezuela no Mercosul,  já aprovado pelos demais parceiros.O argumento soa agora irônico: ‘o governo Chavez não é democrático’, alegam os senadores paraguaios que apearam Lugo em menos de 30 hs. Em entrevista à TV Pública de seu país, sábado, Cristina Kirchner foi enfática quanto a posição de seu governo –‘Argentina no va a convalidar el golpe de Estado en Paraguay’.Veja aqui: http://www.telam.com.ar/nota/29325/  Com exemplar coerência, a Casa Rosada decidiu na tarde de sábado retirar seu embaixador em Assunção, assumindo a liderança no rechaço regional à derrubada de Lugo. Horas depois, já na noite de sábado, o Brasil adotaria atitude parecida, seguido pelo Uruguai: ambos convocaram seus representantes ‘para consultas’. Brasília está sendo cortejada pelo novos ocupantes do Palácio de los Lopez, que prometem resolver a cidadania de 400 mil brasiguaios. A destituição de Lugo representa um ponto fora da curva, ou o golpismo ainda lateja na América Latina ?

 

 

A nova classe média – do consumo à cidadania – por marcello vernet de beltrand* / são paulo.sp

A mídia anunciou aos quatro ventos. O Brasil tem nova conformação social. A esclerosada pirâmide deu lugar ao jovial losango. Trocando em miúdos, somos algo como 47 milhões de brasileiros nas classes D e E, 101 milhões no segmento C e outros 42 milhões nas faixas A e B.

A primeira constatação é de júbilo, pois o país resgata para a prosperidade emergente milhões de famílias que conquistaram a alforria econômica e caíram de mala e cuia no consumo de bens e serviços que antes não eram acessíveis.

Cumpre-se aqui uma dívida histórica — gerar emprego e renda. Débito que o país precisava saldar para tornar esse pedaço do planeta um lugar decente e seguro para afundar raízes e deitar tijolos. Existem ainda outras mazelas, como escolas e professores de qualidade, presídios limpos e regeneradores, hospitais, repressão ao crime, política decente e… bem, a lista avança. Mas há que reconhecer que a fila andou.

A situação de pleno emprego, assim, permitiu ao governo dar início à liquidação de uma de suas mais caras duplicatas: colocar no bom caminho milhões de brasileiros que tangenciavam a perigosa zona onde o Estado é mais ausente e o cidadão, mais carente. Mais riqueza, mais trabalhadores. Mais empregos, menos delinquentes.

Mas, voltemos à nova classe C, para onde acorreram milhões ávidos por consumo e novidades. Lambuzados no crédito fácil eles fazem girar a cadeia produtiva por trás do comércio. Porém, em meio ao festejo cívico – indicadores positivos tomam conta do país, sensibilizam jornalistas e provocam o otimismo nos economistas – existem algumas complexidades. Um delas refere-se ao processo educacional. Estas pessoas que tomaram o mercado chegam de um lugar onde há histórica escassez – de estudo, conhecimento e senso crítico. E menos estudo, é sabido, nos faz preza fácil do que é vulgar, brega, irracional, banal e comum.

A sociedade precisa acordar para a urgente tarefa de educar os brasileiros ingressantes no universo do consumo. E isso não será feito apenas pelo Poder Público, a quem falta pernas. Trata-se de missão para toda a sociedade — empresas, ONGs e, em especial, meios de comunicação.

A carteira profissional, que confere identidade ao dono, é o primeiro documento de ingresso no mercado. Outros comprovantes culturais e éticos serão exigíveis no médio prazo. Ou a nação educa seu povo – na arte, cultura e literatura – ou as pessoas vão continuar acreditando que a mulher melancia é a expressão de uma estética apurada, que ouvir música em som alto em público é um jeito moderno de ser e que o reality show é a evolução do teatro.

A economia que celebra o ingresso legítimo desses consumidores no ambiente de consumo deve cuidar para que eles se desenvolvam como cidadãos, sob pena de criar um mundo vil, mentalmente pobre, chulo no gosto e medíocre nas ambições. Este é um aprendizado que todas as classes devem observar: antes de ser consumidor, cada sujeito é cidadão. O processo civilizatório tem de avançar. Relegar o cidadão apenas ao papel de consumidor é barbárie econômica. Significa abrir mão da noção de urbanidade, afabilidade, sofisticação e erudição. É demasiado? Não, claro que não.

*Jornalista, consultor e mestre em Administração

Medicina em rota de colisão – por stephen doral stefani / new york.eua

Eu costumo visualizar os avanços em Medicina como um grande transatlântico, em velocidade de cruzeiro, em alto mar. Impressiona pela tecnologia. Já os custos em medicina são facilmente representados como um iceberg. Dá para ver a ponta, mas a maioria dos gastos são uma incógnita. Seja porque são custos indiretos (como, por exemplo, do absenteísmo) ou porque são resultados de desvios e desperdícios. Não precisa ser muito criativo para ver onde isso vai dar. Transatlântico e iceberg: inevitável lembrar do Titanic.

Em 1995, foi publicado interessante ensaio sobre os dados estatísticos do desastre marítimo no Journal of Statistics Education. A taxa de mortalidade em passageiros de classes econômicas menores foi quase o dobro comparados as classes mais abastadas. Outro paralelo fácil de traçar com saúde. Há alguns dias a Organização Mundial de Saúde publicou dados que mostram que, apesar de ter aumentado em uma década, o Brasil gasta pouco com o setor em comparação com a média mundial. Enquanto o mundo gasta em média 14,5% do produto interno bruto (PIB) em saúde, o Brasil não chega a 6%. Países ricos chegam a 17% e países africanos 9,6%.

Cabe mencionar que aproximadamente 50% gastos em saúde no país são concentrados nos 20% de brasileiros que tem planos de saúde. Os outros 80% que só tem acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS) utilizam a outra metade. A iniquidade impressiona. O número de leitos merece um capítulo. Enquanto os europeus tem 68 leitos para cada 10 mil habitantes, o Brasil tem 26. É certo que a população européia é mais velha e pode demandar mais utilização, mas a saúde no velho continente é praticamente socializada. No Brasil, a dificuldade de leitos é sistêmica mas muito mais grave no sistema público. Bom, feito o diagnóstico, o que pode ser feito? Definitivamente, não podemos nos dar ao luxo de usar energia e tempo arrumando as cadeiras no convés. A meta deve ser modificar curvas de aumento de custo e as diferenças entre o sistema público e privado, para que não tomem proporções oceânicas.

Análises de custo-efetividade e políticas de saúde devem refutar tecnologias que não agregam valor relevante. Reengenharia tributária a fim de desonerar a área médica deve ser considerada. Sofisticação e criatividade — feita por profissionais e não apadrinhados políticos — no controle de fluxos gerenciais são importante. E, principalmente — não só pelos recursos que se perdem, mas também pela indignação que gera — crimes e desvios devem ser punidos rigorosamente. Lutamos para evitar catástrofes e perdas de vidas mas, sem mudanças de rumo, a colisão é uma questão de tempo.

*Médico oncologista

VINHOS: “Deixa o ar entrar nos velhos châteaux” – por luiz horta / são paulo.sp

Um dia eles se perguntaram: se eram jovens, produziam e bebiam Bordeaux, por que a região tinha imagem de vinhos caros e difíceis, feitos para magnatas britânicos? Aí resolveram inovar, fazendo vinhos bons, mas pagáveis

É falar em Bordeaux e já consulto meu saldo bancário. Também olho no espelho para ver se estou vestido direito, endireito o nó da gravata e mando engraxar os sapatos, porque a região é imediatamente relacionada, na nossa cabeça, a preços altos e solenidade. Foi essa imagem negativa, de coisa inacessível, para banquetes e comemorações esporádicas e garrafas muito caras, que fez surgir o grupo Bordeaux Oxygène (BO2).

O vinho, como parte do mundo da cultura, é afetado pela moda. E a moda atual é gastar menos e beber mais largadamente, sem muito salamaleque. No caso do BO2, grupo surgido cerca de dez anos atrás, composto de jovens produtores, a moda é ser informal. Eles têm mansões, mas preferem morar despojadamente. O château ficou para turismo e visitas.

Fazem vinhos com notas altas da crítica, mas os preços são pagáveis e os vinhos são para serem bebidos e não só comprados e guardados. Não usam ternos ingleses nem parecem banqueiros – estão mais ligados ao street wear e podem aparecer em qualquer evento parisiense sem ares de camponês rústico, nem de financista esnobe.

Estão muito longe da imagem do aristocrático dono de château bordelês. São “oxygenados”, engraçados, animados e bebem vinho porque é bom. Fui visitá-los e voltei aliviado: Bordeaux pode ser para todo mundo e a qualquer hora.

A ideia de modernizar a cara de Bordeaux tem autoria. Todos os produtores do BO2 com quem conversei apontaram Alice Cathiard (agora Tourbier, depois de casada), do Smith Haut-Lafitte, e Benoit Trocard, do Clos Dubreuil, como criadores do conceito. Os pioneiros foram colegas no curso de enologia da Universidade de Bordeaux, alunos de Dennis Dubordieu. Foi ali que nasceu o movimento. Se todos os membros eram jovens, produziam e bebiam Bordeaux, por que a região tinha uma imagem de vinhos caros, difíceis e para magnatas britânicos? Trocard voltava de um estágio na Austrália; Alice chegava com a família vinda de outros negócios.

Fui visitá-los e provei seus vinhos. Estive com 14 dos 18 atuais membros do grupo. A constatação primeira é visível no mapa: eles não são vizinhos nem pertencem à mesma região. No seu meio há Grands Crus de Saint Estephe, de Graves, negotiants e amantes dos vinhos que aprenderam na unha a fazê-los. São, de certa maneira, ou, melhor dizendo, eram outsiders. Nenhum tinha três séculos de produção na região. Os mais enturmados com Bordeaux vendiam vinhos havia gerações, caso das famílias Audy e Mau. Mas a maioria chegou depois, apaixonada pelo vinho e sem tradição na sua produção. Como viam o vinho como prazer e não como obrigação ancestral, foi mais fácil dar uma chacoalhada na imagem da região.

Seus vinhos mantêm o estilo de cada região. Não há um estilo Oxygène de vinho, nem a turma trabalha em conjunto na produção de um vinho identificável como Oxygène. Se há um resumo para sua atividade, eles levaram para os châteaux austeros um estilo de vida, uma maneira de abordar a bebida mais próxima do mundo real.

O grupo original cresceu – Bordeaux atrai novos investidores, várias propriedades vão mudando de mãos e Oxygène só cresce. Ninguém tem a perder se Bordeaux sair dos preços estratosféricos, abandonar o aspecto superior e distante e pousar em todas as mesas.

Olhe bem para essa turma, suas roupas, seus modos e sua simpatia. Eis a nova Bordeaux. O estilo Oxygène vai dar o tom no futuro da bebida.

Lembranças de Loup de Mer – conto – de daisy carvalho / rio de janeiro.rj


Aproxime-se, mon ami. Estou muito velho.

Aqui é um porão – como vês -, onde vivi feliz com minha família por um bom tempo. Nunca foi muito arejado e nem farto de comida, contudo, o que mais importava era que nada pagávamos.

Possuo muitos livros. Revistas antigas, jornais velhos e amarelados. Não sou um colecionador. Adquiri tal hábito para ajudar nas noites de frio. Todavia, meus livros não! Estes eu guardei como pude, embora, ao longo do tempo, as crianças tenham danificado alguns. Assim, é com tristeza que observo a uns sem capa; e outros, até faltando preciosas páginas.

Este aqui eu guardo com carinho e dor. É um clássico da literatura mundial. Chama-se Fome. O dono é um americano chamado Knut Hamsun. Este eu li várias vezes – Oh! Pardonnez-moi! –  Perdoe-me!… Eu jamais soube ler, confesso. Minha sabedoria consistiu em observar e ouvir as pessoas falarem sobre literatura. Minha senhoria é a professora Cécile Legrand. E, graças à sua intelectualidade, muito aprendi.

Sempre gostei de Fome porque eu me comparava ao homem da estória. Sentia sua agonia; sua fome era maior do que a carne. Aliás, a verdadeira necessidade dele era de ser reconhecido como escritor. A parte em que ele come cascas de laranjas do lixo era onde eu sempre chorava.

Sei o que a fome pode causar. Antes de trazer minha família para cá, eu mendigava pelos portos desta América. Gosto deste lugar em que vivi até hoje. É um país pequeno, mas justo. Eu nunca mais voltei à minha Europe.

Eis meu livro preferido: a Bible Sacré. Dela, tirei inspiração para orientar meus filhos, minha esposa, e muitos membros da família. Eles me respeitavam como a um sábio. Não obstante, minha “sabedoria” não salvou suas vidas.

Apesar de nos acolher, a senhoria não era nossa amiga. Não obstante, em sua infinita generosidade, ela convivia bem com a nossa presença, ainda que nos ignorasse. Esta senhora possui a frieza de uma inglesa, apesar de ser francesa.

Todas às quartas-feiras, ao entardecer, e nos domingos pela manhã, algumas pessoas se reuniam lá em cima para estudar a Bible.  Armand, meu primogênito, dizia sempre que tal livro era racista, pois nem lá nosso povo fora mencionado. Eu tentava explicar que as lições que tirávamos dela eram espirituais, mas meu Armand tornou-se ateu, o que muito me entristecia. Touxsanglante! Maldita tosse…

Criei meus filhos dando-lhes liberdade, porém o primogênito era diferente de todos. Provavelmente – embora eu abominasse acusações – meus quatro filhos estariam vivos hoje, não fosse aquela infeliz ideia de meu rebento.

Éramos seis. Pardom, eu sou Loup de Mer, ou Lobo do Mar – epíteto adquirido por tantas viagens náuticas ao redor do mundo, antes de conhecer minha Celine. A doce e dedicada esposa era como poucas mulheres. Esbelta e feliz transitava pelos aposentos com graça e leveza, compensando nossa miséria com fartura de amor.

Armand era um rapaz de opinião forte e mordaz. Já Andrew, o segundo a nascer, sempre fora calado, e prestava atenção em tudo que se dizia. Provavelmente seria o próximo contador de estórias (era aficionado no Holocausto). E, finalmente, as gêmeas Nicole e Noelle, meninas meigas e educadas, contudo, eu sempre soube, pelo brilho de seus olhos, que queriam, assim como eu, viajar pelo mundo.

De tudo que perdi, sinto mais falta das conversas sobre as guerras. Há gerações, nossos patriarcas são contadores de estórias sobre grandes batalhas; desde os combates navais, milênios a.C., até aos dias atuais. As lutas que acabaram com a Idade Antiga, fazendo Roma cair, no ano de 476 d.C., era a que meu pai gostava de contar. Meu avô, mais informado, narrava a guerra liderada por um monarca chamado Suppiluliuma II, que era o rei do Império Hitita, povo indo-europeu, que hoje é a Turquie.

Meu tio e eu discutíamos sobre as cavalarias de Alexandre, o Grande; e de como ele abocanhara o Império Persa. Empolgávamo-nos com as armas. O arco e flecha, e as poliarmas como as lanças, foices e pilos – uma lança composta de uma parte de ferro mais pontiaguda, e outra ponta de madeira, maior e mais pesada. Porém eu preferia as armas de corpo a corpo, como espadas, lanças, porretes, machados e facas. Ah, as catapultas!… (Dieu! Tirai-me esta tosse!). Enfim, esta era a tradição da família.

Entretanto, eu resolvera falar de uma guerra que ainda não havia acontecido. Por um lado, eles ficavam encantados; não obstante, eu sabia ser um risco, podendo quebrar a tradição da família. Todavia, eu e a Senhorita Legrand acreditávamos que ela aconteceria.

Eu, Loup de Mer, só falava do Armagedom!

Lembro-me bem da última vez em que os reuni, a minha adorada famille, para, mais uma vez, contar-lhes a estória desta verdadeira Conspiração que eu chamava de Dieu de la Guerre! – A Guerra de Deus.

Os meninos ouviam fascinados. Ante a cética expressão de Armand, Celine argumentava que eu poderia ser um profeta. Ele, que ouvia de má vontade, relutava em seu íntimo. No entanto, esforçava-se em respeitar o antigo hábito de nossos antepassados. Guerra era guerra, ele dava de ombros.

O Armagedom, eu falava animado, seria a mais magnífica de todas as guerras. E tudo começara há muito, muito tempo atrás…

Lúcifer fora uma poderosa criatura do Grande Céu, um planeta de excelência onde Dieu, anciãos, maravilhosos animais falantes e seus anjos fiéis, viviam em perfeita harmonia.

Após discordar do Soberano Ser, e invejá-lo, achando mesmo que poderia ser tão poderoso quanto ele, Lúcifer foi expulso daquele habitat divinal. Dieu, onisciente, sabendo da conspiração contra seu Reino, criou um Arcanjo (anjo de guerra) chamado Miguel, especialmente para expulsar os anjos da conjuração.

Um terço de tais criaturas aliara-se ao terrível Démon. Um terço era um número incalculável, dizia a Senhorita Legrand. Chamava de miríade de anjos. Eles reuniam-se em um planeta um tanto afastado daquele de Dieu, lá pelas bandas no Norte, dizia a Bible.

Lúcifer era maestro. Fora criado com todo amor de Dieu para fazer música no Grande Céu. Quando andava, tilintavam notas e mais notas em seu ser. Afirmava a senhoria, que ele era capaz de humilhar qualquer Beethoven ou Charles Gounod; este último um artista que compunha óperas e músicas religiosas.

Então, o arcanjo Miguel chegou a tal planeta conspiratório, provocando grande alarido com suas asas. (Aqui eu parava para explicar que asas poderiam ser alegoria, pois eu penso que eles se locomovem em naves espaciais que são os chamados ovnis; até porque o velho profeta Ezequiel vira discos reluzentes no céu, há milhares de anos, referindo-se a anjos).

O traidor Lúcifer, alarmado e surpreso, perguntou a Miguel quem era ele, pois jamais o vira antes. Este novo arcanjo respondeu com a tradução de seu nome, numa intimidadora voz de trovão: “Meu nome é: “Quem Quer Ser Semelhante a Dieu?!

Armand apenas sorria, enquanto seus irmãos estremeciam. Eu continuava, escolhendo bem as palavras, reproduzindo-as com deferência e fidelidade.

Esta miríade de anjos caídos é assim denominada porque, de fato, fora habitar em um planeta inóspito e escuro, muito abaixo do Grande Céu. Ficaram submersos em águas amargas, e um grande Espírito pairava sobre eles como um divino carcereiro; enquanto o próprio Dieu realizava o seu sonho – a criação do ser humano! (eau potable, preciso de água).

Minha mulher se agitava porque, conhecendo o final da estória, sabia que corríamos risco de vida, afinal, esta não era nossa crença e jamais poderíamos ser aceitos como devotos deste Ser.

Pois bem – eu continuava – o Armagedom é uma grand conspiration politiqueenvolvendo todas as Nações. Este anjo rebelde passou a ser alcunhadoSatanás, que significa “Adversário”. A partir deste novo cognome, dado pessoalmente por Dieu, a guerra fora declarada intergalacticamente. Satanás vive aprisionado em um planeta tenebroso. Perdeu toda formosura depois de tamanha traição. Diz a Bible que sua aparência hoje é medonha, e que um dia os chefes das Nações o humilharão por sua desgraça, perguntando entre si: “Era este o anjo com timbales, formoso e belo de Dieu?”  – Habitando em uma espécie de caverna, ele comanda os ex-anjos, agora conhecidos por demônios, e estes são os tais que ainda conspiram contra a paz universal. Contra o poderoso Dieu! E enganam o mundo, convencendo-o de que Este não existe.

Neste ponto, Armand sempre perguntava por que tale Dieu simplesmente não destruiu este merd tão sórdido e nocivo à raça humana e à natureza. Eu, mais do que depressa, rebuscava as respostas da Senhorita Legrand:

‘’Porque este Ser Criador e Gerador de todas as energias não se contrapõe a nenhuma criatura Sua, pois Ele é único. E, sabedor de todas as coisas, declarou que Satanás poderia pintar e bordar, mas que no fim, a vitória seria d’Ele! Porquanto um de seus nomes era O Senhor dos Exércitos! E jamais perdeu uma batalha sequer! Graver Satan! Queime!’’

Pairando o Anjo Maligno na Terra nestes últimos tempos, uma nova era se avizinha. Dentre tantos sinais da vinda de seu Governo, o que mais me apavora é que os homens terão que usar um chip na testa ou na mão. Este acessório altamente tecnológico será a Marque de la Bête, ou, a Marca da Besta. Sem tal chip, não se comprará e nem se venderá coisa alguma. É um chip de identificação. E os que forem contra a nova ordem estabelecida, estarão perdidos e condenados à morte por este que será o Grande Chefe das Nações. Deves saber que tais chips já estão sendo experimentados no Japão e na América, pois não, mon cher?

Este maligno homem, de espantoso poder, fará pactos políticos e econômicos com o Estado de Israel por sete anos. Entretanto, na metade deste tempo, ele se mostrará um traidor e assentar-se-á no trono de Salomon.

Israel, obviamente, declarará guerra ao Anticristo. Todavia, ele estará com a maioria das Nações sob seu controle, fazendo com que o mundo se declare inimigo daquele Estado. E as Nações o obedecerão porque, de fato, falaz e patranheiro, o enganador trará prosperidade e riqueza a todos! (Aguarde… preciso respirar…).

Nicole e Noelle gostavam muito desta parte derradeira, pois, assim como sua mãe, ansiavam pelos finais das guerras. E todas, sempre, tinham que ter fim.

A Senhorita Legrand parecia entrar em êxtase nesta hora – e até pronunciava línguas desconhecidas por mim – quando afirmava que o povo judeu clamaria! Finalmente chamaria por seu Dieu, um Ser tão desprezado e desacreditado por tanto tempo!

Eu ficava a imaginar esta guerra que reunirá tantas Nações… contra um único Estado. Só um poder sobrenatural para livrá-los.

Armagedom, que significa Montanha de Megido, é o nome de um campo de batalha, onde as Nações do Anticristo serão confrontadas por este Ser Guerreiro que virá em socorro de inexequível guerra. Jamais se terá notícia de confronto tão espetacular! Segundo a Bible, o próprio Dieu derrotará e julgará todas as Nações. As condenadas não serão dizimadas, mas lançadas fora, em lugar de desterro. (F-frio…)

Não cheguei a terminar a estória, pois ainda teríamos mais umas quartas-feiras para os estudos do Apocalypse; mas creio que entendera o suficiente.

E este foi o último dia em que vi meus filhos, já que Armand, verdadeiramente iracundo, entrou em um navio com seus irmãos, em busca das terras de Israel. Ele precisava conhecer esta estória de perto, disse à mãe, na minha ausência.  Entretanto, desconfio que meu filho queria mesmo era sair pelo mundo. E que sempre seria athée, meu adorável ateu.

Duas semanas depois, soubemos que foram massacrados por marinheiros como eu, dos quais me envergonho. Eu, Loup de Mer, traído por navais! Foi uma punhalada cruel nas minhas costas. Todos os meus filhos mortos de uma só vez era difícil de suportar. Minha esposa morreu de desgosto dias após a funesta notícia.

E eu me pergunto por que o racismo do homem alcançava proporções tão monstruosas. Por que, tendo um Dieu tão grandioso, eles ainda guerreavam entre si? Estaria Armand tão errado em não acreditar em nada?!… (pardom, a tosse).

Hoje, percebo que sempre falamos das guerras para buscar entender este explícito ódio do homem para com seus semelhantes.

Pensei em me despedir da Senhorita Legrand. Mas, decerto, ela nem perceberá a minha ausência. Eu estou de partida. Não para o mar, uma nova viagem. Pas, não!

Apenas encontro-me velho demais. Cansado ao extremo. Cego, já não enxergo meus livros. Eu morrerei, talvez, ainda esta noite. Como vês, tremo de frio sobre os jornais amarelados. Nada tenho para comer. Ainda assim, agradeço vossa atenção, mon ami.

Minha raça está em extinção. Hoje em dia, quase não se tem notícias de nós, Ratos, viajando em navios, ou vivendo decentemente, sem termos que passar fome e humilhação.

Só lamento não ter tido tempo para entender um pouco mais o vosso Dieu

Tráfico proíbe a venda de crack em favelas do Rio

Boca de fumo na favela Mandela põe aviso de que vai proibir a venda de crack: é como uma farmácia anunciando que não vai vender mais remédios de tarja preta

O tráfico de drogas vai proibir a venda de crack nas favelas do Jacarezinho, Mandela e de Manguinhos. A informação foi publicada na coluna de Ancelmo Gois de hoje com a foto acima. A medida, decidida pela maior facção do tráfico no Rio, ocorre dois meses depois de lançado no Rio o programa “Crack, é possível vencer” — do governo federal.

A ordem de proibir a venda de crack partiu de chefes do tráfico, que estão presos. A informação vinha circulando pelas comunidades, mas ontem pela primeira vez apareceu o cartaz anunciando a proibição, “em breve”, ao lado da cracolândia da favela Mandela, na Rua Leopoldo Bulhões, na chamada Faixa de Gaza. Os traficantes ainda têm ali cerca de dez quilos de crack. Cada pedra custa R$ 10,00. Há informações de que os criminosos temem que a Força Nacional de Segurança ocupe aquelas favelas, como ocorreu na comunidade Santo Amaro, no Catete, onde está há um mês e já apreendeu 1.513 pedras.

— Gostaria que essa decisão se espalhasse por todas as favelas do Rio porque o crack é uma droga devastadora e tem produzido só dor e sofrimento —  diz o líder do Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, que desde 2009 faz trabalhos sociais na Mandela.

Durante muito tempo o crack era vendido apenas em São Paulo. Dizia a lenda que os traficantes do Rio não queriam produzir “zumbis”. Dependentes de crack vivem nas imediações das bocas de fumo, atraindo a atenção da mídia e de operações do poder público. O tráfico no Rio alegava que a clientela de crack — miserável — traria problemas à venda de maconha e cocaína, mas capitulou após supostas alianças com a facção paulista, e começaram a oferecer o entorpecente vendido junto com a cocaína.

O combate ao crack virou uma questão de honra para o governo Dilma, que anunciou investimentos da ordem de R$ 4 bilhões no programa lançado em dezembro do ano passado. A grande dificuldade, segundo o ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, é a falta de pessoal capacitado para lidar com os dependentes de crack em todo o país. No Rio o programa foi implantado em abril, com a participação do governo do estado e da prefeitura. Só no Estado do Rio, a previsão de verbas da União é de R$ 240 milhões.

De alguma forma a prioridade dada pelo governo ao combate ao crack chegou ao conhecimento dos chefes da maior facção criminosa, que vende a droga nas favelas. Um sinal de que o governo federal vai combater com firmeza o problema pode estar no envio da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) ao Rio, apesar do desinteresse inicial manifestado pelo governo do estado. No domingo fez um mês que integrantes da Força Nacional de Segurança — a tropa de elite subordinada ao Ministério da Justiça — ocuparam a comunidade de Santo Amaro, que ainda não foi pacificada, na Zona Sul do Rio. Em um mês de ocupação, a Força Nacional realizou na favela 6.929 abordagens e apreendeu 650 papelotes de cocaína, 1513 pedras de crack, 840 gramas de maconha. Além disso, foram recolhidas munições, explosivos e armas.

Durante 180 dias, serão realizadas ações de polícia ostensiva, judiciária, bombeiros e perícia, em apoio às Secretarias de Saúde, Assistência Social e de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, nas áreas onde serão desenvolvidas as ações de implantação do Programa Crack, é Possível Vencer.

Nas favelas de Manguinhos, traficantes foram informados que a área poderia ser ocupada pela Força Nacional se o crack não fosse retirado de lá. Isso pode ter motivado a decisão dos traficantes. A decisão agradou muitos moradores da favela Mandela. Eles são testemunhas diárias do estrago causado pelo crack na comunidade. No Jacarezinho é possível ver usuários de crack na entrada da favela, mesmo por quem passa no asfalto. As operações policiais têm sido recorrentes, mas o problema está longe de ser resolvido.

Há três anos fazendo trabalhos sociais na favela Mandela, o líder do Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, afirma que tem visto a tragédia causada pelo crack na comunidade. Ele lembra que já teve que solicitar ajuda da Justiça para levar a um abrigo três crianças que eram abandonadas pelos pais, usuários de crack. A ONG Rio de Paz — que nasceu envolvida cm a redução de homicídios — tem um projeto social, que prevê a construção de uma padaria-escola e o apadrinhamento de crianças por famílias de classe média — até a universidade.

Assista ao vídeo em que Antônio Carlos entrevista dona Veruska, uma usuária de crack. Ela confessa que é “uma droga maldita”:

— Eu fumo para deitar e acordo para fumar — diz a moradora da favela Mandela.

Telescópio europeu flagra berçário de estrelas na ‘Nebulosa Guerra e Paz’ / NASA / eua

Aglomerado de astros fica na constelação de Escorpião, na Via Láctea.
Região foi avistada pela primeira vez em 1837, a partir da África do Sul.

Do G1, em São Paulo

Estrelas  (Foto: ESO/Divulgação)O Telescópio Extremamente Grande do Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês) divulgou nesta quarta-feira (20) a imagem mais detalhada obtida até hoje do berçário estelar NGC 6357, conhecido como Nebulosa Guerra e Paz, que fica na constelação de Escorpião, nas profundezas da Via Láctea. A foto mostra inúmeras estrelas quentes e jovens (com “apenas” milhões de anos), nuvens brilhantes de gás e formações de poeira circulando em meio a ventos estelares e radiação ultravioleta (Foto: ESO/Divulgação)
Estrelas 2 (Foto: ESO/Divulgação)Os traços escuros que recobrem esta imagem e a de cima são poeira cósmica, formada por pequeníssimas partículas de silicatos, grafite e gelo, produzidas e expelidas para o espaço por gerações anteriores de estrelas. Essa poeira é muito mais fina que a doméstica e se parece com fumaça. O nome da nebulosa, Guerra e Paz, foi dado pelos astrônomos porque esta foto pareceria uma pomba e a de cima, uma caveira. As duas compõem uma imagem única, sendo esta a da esquerda e a de cima, da direita (Foto: ESO/Divulgação)
Estrelas 3 (Foto: ESO/Divulgação)A região mais central e brilhante da nebulosa NGC 6357 contém um aglomerado de estrelas de grande massa, que estão entre os astros mais brilhantes da Via Láctea. O interior dele, que não pode ser visto na imagem, já foi intensamente estudado pelo Telescópio Hubble, da agência espacial americana (Nasa). Esta foto foi produzida pelo programa Joias Cósmicas, do ESO, que é financiado por 15 países europeus, além do Brasil. A NGC 6357 foi vista pela primeira vez em 1837, a partir da África do Sul (Foto: ESO/Divulgação)

BRASIL PASSANDO A LIMPO:

“Em 2009, nós fomos a Copenhagen e a gente dizia que o Brasil, em 2016, seria a 6ª economia do mundo. Não precisou esperar 2016, hoje, em 2012, o Brasil já é a 6ª economia do mundo. A única coisa que está faltando é a gente comunicar ao Obama e aos países ricos que participavam do G8, que o Brasil já passou alguns países da Europa e que, portanto, o último G8 foi feito nos Estados Unidos sem a presença da 6a economia do mundo” (Lula, Rio de Janeiro, 06 de junho de 2012)

REP. FED. DO BRASIL: a impressão que se tem é que a intelectualidade brasileira minou o ESTADO. O sentimento é de que o ESTADO está PODRE! É corrupção, que é crime, em todas as esferas a serviço do CRIME, organizado ou não! O que fazer?

CIDADANIA PLENA.

Economista brasileiro será homenageado pela rainha Elizabeth II / londres

15/06/2012 08h17 – Atualizado em 15/06/2012 08h17

Eduardo Moreira é sócio-fundador da gestora de recursos Plural Capital.
Motivo é pelo seu esforço para eliminar violência no treinamento de cavalos.

No próximo dia 24, o economista brasileiro Eduardo Moreira, de 36 anos, sócio-fundador da gestora de recursos Plural Capital e ex-sócio do Banco Pactual (hoje BTG Pactual) será homenageado com um certificado entregue diretamente das mãos da rainha Elizabeth II, no Castelo de Windsor, na Inglaterra. A homenagem, contudo, de nada tem a ver com seus mais de 13 anos de experiência no mercado financeiro, mas sim com seu esforço, nos últimos anos, para eliminar o uso da violência no treinamento de cavalos no Brasil.

Após fazer o curso com o domador Monty Roberts, Eduardo Moreira ficou amigo do americano e passou a difundir a técnica da doma gentil no Brasil (Foto: Arquivo pessoal)Após fazer o curso com o domador Monty Roberts (esq.), Eduardo Moreira (dir.) ficou amigo do americano e passou a difundir a técnica da doma gentil no Brasil (Foto: Arquivo pessoal)

A premiação acontecerá na final de um campeonato de polo, no Guards Polo Club (clube de polo que fica em Windsor). Além de Moreira, outras nove pessoas receberão a homenagem da rainha Elizabeth II (entre eles outros dois brasileiros, peões que trabalham com Moreira, e jogadores de polo), todas indicadas pelo domador norte-americano Monty Roberts, de 77 anos, responsável pela difusão, ao redor do mundo, do método da doma gentil de cavalos.

Moreira, inclusive, afirma que será o primeiro brasileiro a receber o tipo de homenagem da rainha. “Essa condecoração, com certeza serei o primeiro, até porque ela não existia”, relata.

O pontapé inicial que fez Moreira acrescentar à sua vida uma nova preocupação além do já “preocupante” mercado financeiro e ser indicado por Roberts foi, literalmente, uma queda do cavalo.

Em 2009, o carioca, que já vive há mais de dez anos na capital paulista, adquiriu uma fazenda no interior de São Paulo e resolveu comprar uma égua pela internet. “Fui montar, o cavalo era super bravo e levei um tombo”. Ele quebrou o tornozelo, além de ter sofrido rupturas musculares nas costas pelo trauma da queda. Os meses que sucederam o acidente, além de preenchidos com o tratamento para a recuperação (foram duas semanas de cama e seis meses de fisioterapia), acabaram sendo responsáveis por apresentá-lo a Roberts, autor do livro “O homem que ouve cavalos” – que inspirou, inclusive, o filme “O encantador de cavalos”, de Robert Redford.

Se não quisermos ser livres da violência, então podemos prosseguir usando a violência, mas com essa decisão temos que admitir que não somos um povo civilizado”
Monty Roberts

Como havia sofrido o acidente, Moreira foi presenteado por um amigo com o livro, que fala da vida do autor e da técnica chamada por ele de “Join Up”, um treinamento sem o uso da violência, basicamente por meio da troca de gestos e olhares com o animal. “Li e fiquei super interessado em conhecer Monty Roberts”.

Moreira viajou para a Califórnia, onde vive o domador, e fez um curso de cinco dias no qual Roberts faz apresentações de seu método. “Nesse período fiquei muito amigo dele (…). Voltei para o Brasil e tentei fazer o mesmo. Foi quando comecei a notar que eu tenho esse dom”, revela.

O economista afirma que apenas observou como o americano agia com os cavalos e já aprendeu a técnica. Antes, ele conta que sequer tinha contato com cavalos – a égua da qual levou o tombo foi a primeira que comprou (hoje, contudo, há 15 cavalos em seu sítio).

Impressionado com os resultados do modelo de Roberts, Moreira relata que sentiu a necessidade de difundir a prática pelo Brasil. Desde que adotou a causa, calcula que já fez apresentações pelo país com mais de 400 cavalos. Em todas as vezes, são levados animais selvagens para ele domar. “Nunca deu errado”, garante. Ele diz não cobrar nada pelas demonstrações. “Mosto para todo mundo que o método violento não é o mais eficiente”, afirma.

O economista diz acreditar ser importante difundir a técnica porque o método tradicional de doma é muito duro. “Amarra, priva o cavalo de alimentação para deixá-lo mais fraco. Demora umas seis semanas e vários não aguentam e morrem”, diz. Pelo treinamento de Roberts, Moreira se comunica com o cavalo de forma a conseguir domá-lo em 25 minutos, diz, sem praticamente tocar no animal.

“É muito importante não julgar aquele que bate. Enquanto as pessoas não têm uma forma nova apresentada, elas não podem ser julgadas por fazerem aquilo que sempre aprenderam”, diz. “Depois que a pessoa vê a apresentação, ela chega em casa e não consegue bater no cavalo”, salienta.

No método de doma 'Join-up', praticamente não se toca no cavalo (Foto: Arquivo pessoal)No método de doma ‘Join-up’, praticamente não se toca no cavalo (Foto: Arquivo pessoal)

A habilidade do economista é inclusive reconhecida por Roberts, que falou ao G1 sobre a homenagem. “Moreira foi meu aluno por um período muito curto. Ele é um homem talentoso, física e mentalmente. Aprendeu em cinco dias tanto quanto muitos de meus alunos aprendem em dois, três anos”, afirma. “Eduardo não só aprendeu os meus conceitos e os executou como tem sido uma influência na causa para se fazer o mesmo”, disse.

Na opinião do escritor, a rainha Elizabeth II é a líder que tem o maior poder de influência nos tempos atuais, levando em conta o alto número de pessoas que atinge, daí a importância da homenagem. “Ela [a rainha] ficará para a história como o líder mundial que mais influenciou, de forma positiva, a relação do homem com os animais na terra”, opina.

Esta não será a primeira vez, aliás, que Roberts estará envolvido em homenagens da rainha da Inglaterra. Em 2011, o domador americano foi condecorado por ela como Membro da Ordem Vitoriana (Member of the Royal Victorian Order, M.V.O, em inglês), com uma medalha citando seus trabalhos em prol dos estábulos reais.

Desta vez, além de Moreira, os outros oito homenageados pela rainha indicados por Roberts por incentivar a doma sem violência na América Latina são os dois peões brasileiros que trabalham com o economista, Carlos Leite e Mateus Ribeiro, além dos jogadores de polo Adolfo Cambiaso (Argentina), Carlos Gracida e Memo Gracida (Mexico), Joel Baker (USA) e Satish Seemar (Dubai). Também será homenageada Catherine Cunningham, da Guatemala, que trabalha com Roberts. Segundo Moreira, Leite e Ribeiro não poderão comparecer à entrega do prêmio pela rainha. O economista receberá os certificados e os trará ao Brasil, onde serão entregues aos dois em um evento em julho em Belo Horizonte, com a presença de Roberts.

O domador americano afirma que a disseminação da técnica gentil nas Américas do Sul e Central, além do México, é importante, pois o treino violento ainda é muito comum nesses lugares. “O domador atual tende a deixar de lado o antigo método a partir do momento que ele fica sabendo que a doma sem violência é mais efetiva”, disse.

Após ler o livro de Roberts, 'O encantador de cavalos', Moreira acabou escrevendo seu próprio livro, 'Encantadores de vidas' (Foto: Arquivo pessoal/Divulgação)Após ler o livro de Roberts, ‘O encantador de
cavalos’, Moreira acabou escrevendo seu próprio
livro, ‘Encantadores de vidas’
(Foto: Arquivo pessoal/Divulgação)

Livro
O acidente com o cavalo, porém, não foi o único episódio que marcou a vida de Moreira. Em dezembro de 2010, o economista sofreu um segundo tombo: foi correr para pegar um táxi num dia de chuva e escorregou. “Foram sete ossos completamente quebrados no pé e perna esquerdos”. Para a recuperação, conheceu uma segunda pessoa que considera como um ‘inspirador’, o preparador físico Nuno Coba (que trabalhou com Ayrton Senna). Moreira diz ter aprendido muito com Cobra, tendo em vista a reabilitação que teve – em dois meses tirou o gesso e já andava sem o auxílio de muletas. “Eu tinha, segundo os medicos, 80% de chance de perder o pé”, conta.

O contato com Roberts e Cobra levaram Moreira a escrever um livro, “Encantadores de vidas”, da editora Record. Os ganhos com as vendas são usados para doações. Entre os destinos está um instituto de Roberts que promove a equoterapia e a mensagem de não violencia pelo mundo, diz.

‘Perdeu o juízo’

Quando fala sobre a premiação da rainha, o economista se diz orgulhoso. “Quando eu vim para o Brasil, há três anos, e comecei a fazer isso [o trabalho com os cavalos], todo mundo falou ‘um cara do mercado financeiro, sócio de banco, ele enlouqueceu, não está com nada na cabeça, perdeu o juízo’”, revela. Moreira acrescenta que ouviu de muita gente que ele “estava querendo aparecer” ou “jogando fora a oportunidade de ganhar dinheiro”. “Foram três anos brigando com o mundo e do e do nada receber um negócio desse, para mim é uma vitória que não consigo nem expressar”, diz.

Moreira frisa que, ao contrário do que muitos disseram, não perdeu dinheiro com a dedicação à causa. “Eu disponho uma grande parte do meu tempo livre [para as apresentações com os cavalos], eu não tirei uma hora do meu trabalho no mercado financeiro por causa disso (…). Se você acredita numa coisa que gosta, que acha que é possível, ir lá e fazer, é um risco, é um negócio que tem que encarar opiniões contrárias, mas é gratificante”, sugere.

Para Roberts, os esforços para a eliminação da violência no trato com os animais apenas são válidos, contudo, se como seres civilizados não usarmos a violência em todos os tipos de educação, seja com animais ou com seres humanos. Ele cita tempos em que homens podiam bater em suas mulheres com uma forma de submissão, e o mesmo ocorriam com as crianças. Ele também lembra que, por séculos, foi usada a violência para os subordinados no trabalho. “Se não quisermos ser livres da violência, então nós podemos prosseguir usando a violência, mas com essa decisão temos que admitir que não somos um povo civilizado”, afirma.

Gabriela GasparinDo G1, em São Paulo

GINGA do MANÉ convida: lagoa da conceição / ilha de santa catarina.sc

 

Cantor, ritmista e reconhecido pesquisador de música brasileira, Barão do Pandeiro nasceu e foi criado no meio do Choro e do Samba. Desde então passou a tocar o instrumento que incorporou seu nome aos cinco anos de idade, tendo por inspiração o grande João da Baiana. Conviveu e acompanhou grandes nomes da música popular brasileira, com destaque para Nelson Cavaquinho, Cartola, Clementina de Jesus, Zé Kéti,  e Cristina Buarque de Holanda – sua atual parceira de musicais.

 Pesquisa e arte condicionam a trajetória desse músico, cujo repertório, extremamente cultivado, ressalta o universo do Samba e do Choro. E considerado exímio pandeirista, foi e continua sendo componente de representativos grupos de Choro e Samba, acompanhando velhas e novas gerações.

O CICLO QUE SE FECHA – por olsen jr / rio negrinho.sc



Entrei na ruazinha de terra batida com o pensamento fixo. Relutei no princípio, o lugar me trazia boas lembranças. Talvez por isso hesitasse, o temor da decepção rondava o desavisado. Quando desci do carro, um solzinho medroso esgueirava-se por entre as pedras do barranco onde uma vegetação ainda espreguiçava-se estendendo seus braços ao acaso.

As pessoas que estavam comigo se espalharam buscando as novidades que o lugar prometia. Permaneci por momentos observando a casa de madeira bem construída no alto da elevação do terreno e que era a mesma da última vez que ali estive com os meus pais. Eles buscavam um mel diferenciado, puro, que só era encontrado ali. O encarregado era amigo da família, meu pai e ele tinham boa convivência e o encontro entre ambos era sempre uma celebração. Naquele dia não fora diferente. Depois dos cumprimentos, efusivos pela própria natureza, subiram a pequena encosta caminhando vagarosamente e tentando por a prosa em dia. As notícias caindo como novidades semelhantes a um conta gotas aspergindo alívio a um par de vistas cansadas. Distanciando-se dos curiosos e compartilhando de uma conversa de homens vividos com muitas coisas em comum. Para nós, crianças na época, a parada era mais um contratempo que uma alternativa de entretenimento. Permanecíamos inquietos até servirem os favos ainda dentro do  caxilho onde eram produzidos, vinham cheios de mel, levemente refrescados por um acondicionamento em geladeira pouco antes de serem levados ao consumo. Mastigar aquelas favas em pequenos nacos, sentir o líquido doce escorrendo pela boca e sorvê-lo em bocados era uma sensação divina. Porque os adultos costumavam afirmar que aquele alimento líquido era o néctar dos deuses e, portanto, aquele “divino” acrescido ao prazer sentido em absorvê-lo era um reconhecimento mundano ao olimpo onde era usualmente apreciado.

Enquanto estávamos assim entretidos, os adultos aproveitavam para beber uma aguardente misturada com porções daquele mel e servido à temperatura ambiente. Naquele tempo as pessoas se adaptavam facilmente ao que possuíam tirando partido das circunstâncias e eram compreensíveis os rumos que a conversa tomava escorrendo como as águas de uma fonte ocupando todos os desvãos do terreno sem um destino específico, apenas fluindo.

Depois havia uma despedida… A próxima visita poderia demorar, talvez nem acontecer, o importante era os vínculos afetivos reavivados sempre como as chamas brandas de um acampamento cigano sem tempo para extinguir.

A pequena venda aberta ali no pé do morro era uma novidade. O garoto que atendia o balcão estava ocupado em montar pequenos dispositivos elétricos enquanto esperava os clientes.  Responde as minhas perguntas como se já estivesse habituado a elas… Fico sabendo que o amigo do meu pai era seu avô… Também que eles não vendiam mais mel ali…

Estava diante da terceira geração…

Observo as prateleiras do mercadinho, busco com os olhos alguma coisa para amarrar a minha memória ao presente, mas não encontro nada… Talvez aquele garoto fosse o último liame com o passado… Sufocando a própria infância…

Digo que o meu pai foi grande amigo do avô dele… Ele sorri, talvez não consiga ver a ligação daquelas reminiscências com o que estava fazendo ali atrás do balcão… Despeço-me dele e do local…

Ali fora ainda observo a casa na colina… Esforço-me para ver os meus pais e o avô do garoto conversando enquanto subiam a pequena encosta… Foi muito rápido, por momentos senti naquela quietude um laivo de saudades e logo uma voz me tirou daquele devaneio… “Vamos!”… Ouvi…

… Um homem é ele e sua memória… Penso enquanto me afasto do lugar aderindo ao convite para ir embora e repetindo a expressão: “vamos!” Para ter certeza!

 

NOTAS:

Olá, camaradas, salve!

Com este texto começo algo diferente…

Na condição de cidadão rionegrinhense… A palavra é feia, mas as pessoas são acolhedoras…

Well, vamos regularizar o envio semanal… Espero…

A música poderia ser esta…

 

http://www.youtube.com/watch?v=r4wiF1qnPlY&feature=related

 

O Grupo “The Walkers” (Os Andarilhos) é holandês, do início da década de 1960…

A composição “There’s no More Corn on the Brasos” foi um dos seus maiores sucessos…

Folk, country, rock… O de sempre para a época…

Com o carinho do poeta!

 

CUBA: Bar e museu da Revolução fazem as vezes de ‘catedrais’ / havana.cu

Caminhando em direção a Habana Vieja, chega-se ao centro de Havana. Guarde uma tarde para passear sem pressa pelo Paseo del Prado, bulevar cheio de árvores no qual artistas locais mostram suas obras de arte.

Bem próximo ao passeio fica o museu da Revolução -num palácio que já foi residência presidencial, palácio da Justiça e Tribunal Supremo- e que conserva buracos de tiro na parede, herança de um atentado nos anos 1950.

Dispensável dizer que o local é apropriado para entender a Revolução Cubana, que culminou com a tomada do poder, no dia 1º de janeiro de 1959, por um grupo liderado por Fidel Castro.
Deposto, o até então presidente Fulgêncio Batista, integrantes do seu governo e opositores da revolução fugiram da ilha, muitos deles rumo à Flórida, nos EUA.

Os textos, fotos, armas e uniformes dos revolucionários são expostos sem muita pompa e mostram, didaticamente, a luta para derrubar Batista e instituir, alguns anos depois, uma república socialista inicialmente alinhada com a ex-União Soviética. O ingresso dá direito a visitar o memorial Granma.

Ao lado do museu da Revolução ficam expostos os aviões, barcos e veículos que tomaram parte da empreitada militar-revolucionária de Fidel e de seus companheiros rumo ao poder em Cuba.

Guilherme Tosetto/Folhapress
Turistas passeiam na Plaza de la Revolucion, em Havana; cidade tem 'acervo revolucionário
Turistas passeiam na Plaza de la Revolucion, em Havana; cidade tem ‘acervo revolucionário’

No fim do Paseo del Prado fica o Grande Teatro de La Habana. Se puder, passe na bilheteria e compre ingresso para algum dos espetáculos apresentados quase diariamente. O preço é alto para turistas, 25 CUCs, mas, se você der sorte, pode até ver o Ballet Nacional de Cuba.

Uma quadra adiante fica o Capitólio, que antes da revolução abrigou o Congresso e foi biblioteca. Lamentavelmente entrou num período de reformas que se estendem até hoje e está fechado.

A qualquer hora do dia, o turista pode ir atrás de outra entidade cubana, o daiquiri, drinque preferido do escritor norte-americano Ernest Hemingway (1899-1961), que foi habitué de Cuba. Ele é magistralmente preparado no El Floridita, um restaurante caro, mas com turistas entrando e saindo sem parar.

A estátua de Hemingway continua lá, no canto do balcão, embalada por hits cubanos para estrangeiro ouvir: “Hasta Siempre, Comandante” e “Guantanamera”.

Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress

 

GUILHERME TOSETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CUBA

 

China veta cheiro e mau hálito em astronauta / pequim.ch

Se as condições meteorológicas permitirem, a China enviará no sábado sua primeira astronauta ao espaço, dentro do ambicioso programa espacial que prevê a construção de uma estação independente até 2020 e a conquista da Lua em 2025. O nome da chinesa que estará a bordo da nave Shenzhou IX ainda não foi divulgado, mas os critérios para sua seleção incluíram exigências que vão além do preparo físico e psicológico: as candidatas não podiam ter cheiro nem mau hálito. Também deveriam ser casadas, ter um filho e ter dado à luz em parto natural, já que possuir cicatrizes levaria à sua eliminação. Por fim, elas deveriam exibir uma pele impecável e não ter machucados ou dentes estragados.

As finalistas da seleção são duas pilotos do Exército de Libertação Popular: a major Liu Yang e a capitã Wang Yaping, ambas de 34 anos, casadas e mães de filhos únicos. Uma delas deverá estar no sábado na Shenzhou IX ao lado de dois astronautas homens. Segundo o governo chinês, a exigência da maternidade está relacionada a eventuais danos à fertilidade provocados por potencial exposição à radiação. “Nós temos que ser cauteloso em proteger os astronautas, apesar de não haver evidência de danos”, disse ao jornal oficial China Daily Xu Xianrong, diretor do Centro Médico Aeroespacial do Exército de Libertação Popular.

O veto às cicatrizes decorre do temor de que elas possam se abrir e sangrar no espaço, de acordo com a imprensa oficial. Em entrevista ao China Daily, o editor da revista Espaço Internacional, da Academia Chinesa de Tecnologia Espacial, Pang Zhihan, justificou outra das exigências: “[as astronautas] não podem ter dentes estragados porque a mínima falha pode causar grandes problemas ou um desastre no espaço”.

A China é o terceiro país do mundo a ter um programa espacial próprio, depois de Rússia e Estados Unidos, e será o oitavo a enviar uma mulher ao espaço. A primeira missão tripulada do país foi lançada em 2003 e, até agora, seis astronautas chineses viajaram ao espaço.

Os três tripulantes da Shenzhou IX farão exercícios de acoplamento a um módulo não-tripulado, em preparação para a construção do laboratório espacial independente que Pequim espera concluir até 2020. Por divergências com os norte-americanos, a China não integra a Estação Espacial Internacional, que tem participação de Estados Unidos, Rússia, Europa, Japão e Canadá. A estação espacial chinesa terá 60 toneladas e será bem menor que a internacional, de 400 toneladas.

O programa espacial é um dos principais símbolos do processo de transformação da China em uma potência global. O país já é a segunda maior economia do mundo, conquistou o maior número de medalhas de ouro na Olimpíada de 2008 e faz parte do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.

agência international.

UNIVERSIDADE do PORTO lança livro do “Movimento da Educação Nova” / portugal

Lançamento do livro “O Movimento da Educação Nova”

A Universidade do Porto apresenta hoje 13 de junho, pelas 18h30, na Feira do Livro do Porto o livro O Movimento da Educação Nova e a reinvenção da Escola. Da afirmação de uma necessidade aos equívocos de um desejo, da autoria de Rui Trindade, obra editada pela U.Porto editorial. A apresentação será feita por Carlinda Leite, professora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto.

A obra pretende refletir sobre os discursos originais de alguns dos pedagogos mais emblemáticos que se relacionam com o “Movimento da Educação Nova”, considerados como discursos matriciais do campo das pedagogias da aprendizagem. Um campo que enfatiza a necessidade de se reconhecer, quer a centralidade pedagógica dos alunos no âmbito dos projetos de intervenção educativa que têm lugar no seio das escolas, quer a valorização do ato de aprender, em detrimento do ato de ensinar, como condições necessárias à afirmação das escolas enquanto contextos educacionais mais humanos e cultos.

Rui Trindade é professor na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto e investigador do Centro de Investigação e Intervenção Educativas da mesma faculdade, lecionando, pesquisando e intervindo em domínios como os da gestão e organização do trabalho pedagógico, dos estudos sobre aprendizagem e da pedagogia no ensino superior.

A sessão realiza-se no auditório da Feira do Livro do Porto, a decorrer na Avenida dos Aliados. A entrada é livre.

CAPA DO LIVRO.

GABRIEL GARCIA MARQUES afirma:

“O problema do casamento é que se acaba todas as

noites depois de se fazer o amor, e é preciso tornar a

reconstruí-lo todas as manhãs, antes do café”.

Qual mulher? – de Day / rio de janeiro.rj

Qual mulher, não se importando se feia ou bela
Não quer, toda manhã, nua, abrir sua janela
E, como Quintana, ver a mesma paisagem
Mas numa nova tela, nova página, um novo homem…

A beleza não está no rosto zoom, nas pernas cruzadas
Mas no momento dos ‘ais’ sem fingimento, sem pudor.
O amor nasceu para mim e para você
Eros, éramos tão bem felizes, mas e agora?
Sentada na cadeira, a tarde inteira vira noite de terror,
Ama a madrugada e eu sozinha porque não vens.

Não vem um homem, não vem um corvo!
Desde quando é pecado falar de carne, de querências?
Sem rosto não posso ficar, sem corpo tu não me amas
Close, close em meu coração
Se tiro o roupão, para que banho a sós?

Se viesses, com bebida e Hilda de presente
Jantaríamos lagosta ou ovos fritos, afinal quem comeria?
Oh, meu querido, não vê que já cai a noite e estrelas hoje não!
Chove e berra o trovão – Não! Tu não virás.

Habite meu rosto, close das tristes, beleza não há
Se nada há que beijar, rosto para quê?
A não ser o espelho que envelhece comigo
Ninguém mais tem me querido.

E mesmo se houvesse, é a ti que amo,
E, ainda assim, anoitece e tu não vens
Matar meu desejo e desejar não é pecado
E se for, afasto-me de Deus por alguns momentos
E oro sobre teu dorso…
Mas tu não virás – Tu não virás!…

O ocaso do maior escritor do século 20: GABRIEL GARCIA MARQUES – por marco lacerda*

Demência senil impede Gabriel García Márquez de reconhecer familiares e amigos íntimos
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García Márquez: demência impede o Nobel de Literatura de escrever (Foto: )



O escritor Gabriel García Márquez perdeu definitivamente a memória. Pelo menos esta é a conclusão a que chegaram os meios de comunicação colombianos depois de uma entrevista do autor, terça-feira passada, ao jornalista Plinio Apuleyo, seu amigo íntimo. Depois de duas horas com Gabo, o jornalista revelou que a demência senil já não permite ao escritor escrever e sequer reconhecer familiares e amigos próximos.

“Nas últimas vezes que conversamos pessoalmente, na Cidade do México, ele repetiu várias vezes: ‘Como anda você? O que tem feito? Quando volta de Paris’? Muitos amigos comuns com quem falei sobre o assunto disseram que com eles aconteceu a mesma coisa. Gabo fez as mesmas perguntas. Existe a suspeita de ele tenha algumas fórmulas. Se não reconhece alguém, não pergunta ‘quem é você’?. Prefere fazer perguntas genéricas. Dói muito vê-lo assim. Gabo sempre foi um grande amigo”, disse Plinio Apuleyo.

Há pelo menos cinco anos a deterioração da saúde de García Márquez tornou-se pública. Os primeiros sinais foram dados quando ele renunciou a continuar escrevendo suas memórias (“Viver para contá-la”, primeiro volume de uma trilogia frustrada) e enfrentou a morte de um irmão. Pouco antes o escritor tinha sido vítima de um linfoma do qual saiu intacto.

Em 2007, quando o Congresso do Idioma celebrou em Cartagena de Índias, na Colômbia, os 40 anos da publicação de “Cem anos de solidão”, García Márquez, pai do cineasta Rodrigo García, se deixou ver sorridente e feliz, vestindo um terno de linho branco. Em nenhum momento, porém, falou em público nem concedeu entrevistas. Nesta época surgiram os primeiros rumores sobre os lapsos de memória do Prêmio Nobel de Literatura de 1982.

No mesmo ano, o escritor britânico Gerald Martin escreveu a biografia oficial de Gabo, “Uma vida”, na qual se pode ler, nas entrelinhas, a notícia velada da enfermidade do autor: “Ele era capaz de recordar a maioria das coisas do passado distante, embora tivesse dificuldade em recordar os títulos de seus livros. Mas mantivemos uma conversa normal, até divertida”, diz Martin.

Há um ano, alguns meios de comunicação chegaram a anunciar que Márquez estaria em vias de morrer em Paris. Sua mulher, Mercedes, e sua agente literária, Carmen Balcells, desmentiram a notícia. Gabo não estava em apuros nem estava em Paris. Permanecia em sua casa no México. Há poucos meses a família divulgou uma foto tirada na festa dos 85 anos do autor.

Nos tempos de sua pródiga produção literária Gabriel García Márquez brindou o mundo com uma coleção de obras primas, que o tornaram, na opinião de muitos o maior escritor do século 20. Entre elas se incluem “Ninguém escreve ao coronel”, “Crônica de uma morte anunciada”, “O outono do patriarca”, “O amor nos tempos do cólera”, “Cheiro de goiaba”, “O general em seu labirinto”, “Do amor e outros demônios”, além de uma vasta obra como jornalista e cronista.

Dez frases

“Um único minuto de reconciliação vale mais do que toda uma vida de amizade”.

“O segredo de uma velhice agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão”.

“A sabedoria é algo que, quando nos bate à porta, já não serve para nada”.

“O sexo é o consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança”.

“Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se”.

“Não passes o tempo com alguém que não esteja disposto a passá-lo contigo”.

“Te amo não por quem tu és, mas por quem sou quando estou contigo”.

“Nunca deixes de sorrir, nem mesmo quando estiver triste, porque nunca se sabe quem pode se apaixonar por teu sorriso”.

“Dou valor as coisas, não por aquilo que valem, mas por aquilo que significam”.

“O problema do casamento é que se acaba todas as noites depois de se fazer o amor, e é preciso tornar a reconstruí-lo todas as manhãs, antes do café”.

*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do Dom Total. Artigo escrito com base em informações do jornal espanhol El Mundo e de agências de notícias

NOVO POEMA! – de gilda E. kluppel / cuiritiba.pr

Novo Poema

 

No encalço de um novo poema

para expressar a felicidade de um encontro

como o retorno de uma breve viagem

num tempo perdido, jamais recolhido

entre sofridas lembranças e ligeiras alegrias

duma miragem que me deixei conduzir.

 

Que através de um novo poema

possa fortalecer ao me envolver em seus versos

encontrar novos horizontes

uma profícua jornada em estradas floridas

distantes da superficialidade e da hostilidade

de um mundo sem renúncia e sem complacência

que por descuido, em alguns momentos, me envolvi.

 

Peço perdão se me deixei levar

por um canto vazio de sentido

cheio de enganos e danos

receba-me com toda a minha fragilidade

para caminharmos juntos

e se por algum motivo me afastar

acolha-me novamente

depositando brilho em meus olhos

com a escrita de um novo poema.

 

Florence Nightingale: a lâmpada da caridade (*) – por manoel de andrade / curitiba.pr

 

A ENFERMEIRA NO ACAMPAMENTO COM AS DEMAIS COLEGAS E ALUNAS.

                                                                              “A Enfermagem é uma arte; e para realizá-la como arte,  requer uma devoção tão exclusiva, um preparo tão rigoroso, como a obra de qualquer pintor ou escultor; pois o que é tratar da tela morta ou do frio mármore comparado ao tratar do corpo vivo, o templo do espírito de Deus? É uma das artes, poder-se-ia dizer, a mais bela das artes”…

                                                                                                                         Florence Nightingale

          Realmente é uma arte das mais belas devotar-se ao alívio do sofrimento humano e Florence Nightingale, filha de aristocratas londrinos, teve que romper com a própria família quando optou por esse caminho. Contrariada com o vazio da vida na alta sociedade de Londres, aos 24 anos sente um forte apelo íntimo para cuidar dos enfermos, mas viu os primeiros passos de sua vocação paralisados pela frontal oposição da mãe.

Nascida na Itália, numa longa viagem dos pais, seu nome foi uma referência à cidade de Florença onde veio à luz em 12 de maio de 1820. Aos vinte anos, entediada com a rotina dos bordados e da dança de salão, insiste com os pais que a deixem estudar matemática, mas a mãe não permite. Contudo, como o pai gostava da matemática, ambos acabaram concordando, desde que a filha estudasse tutorada por bons  matemáticos, entre eles Arthur Cayley —  posteriormente conhecido pelos seus estudos da matemática pura e sobretudo pelo seu  trabalho sobre matrizes algébricas, desenvolvido na mecânica quântica por Werner Heisenberg em 1925 — e por James Joseph Sylvester — celebrizado pelas suas teorias dos invariantes, matricial e análise combinatória  — de quem foi considerada a melhor aluna. Seus conhecimentos de Aritmética, Geometria e Álgebra foram utilizados para dar aulas para crianças antes que abraçasse a carreira de enfermagem. Além das aulas com os matemáticos ingleses, Florence estudou os métodos estatísticos do cientista belga  Jacques Quetelet  — célebre pelos estudos sobre o Índice da Massa Corporal (IMC)  — que ela aplicou pela primeira vez, como enfermeira de guerra, utilizando métodos de representação visual com informações em forma de diagrama para mostrar as taxas de mortalidade dos soldados na Guerra da Criméia.

Seu caminho irreversível para a enfermagem começa em 1846 ao sensibilizar-se diante de um fato que escandalizou a opinião pública pelo péssimo tratamento que levou à morte um indigente numa enfermaria de Londres. Florence levantou a bandeira do Comitê de Lei para os Pobres (Poor Law Board) propondo sua reforma e visando ampliar os deveres do Estado no atendimento dos pobres e desamparados. Seu interesse pelas causas sociais e suas iniciativas de buscar experiência para socorrer doentes em hospitais, contudo, não eram aceitas pela família. Seus poucos procedimentos de enfermagem reduziam-se ao atendimento de parentes e amigos doentes. Os fortes preconceitos sociais da época não abriam à profissão uma graduação acadêmica e as enfermeiras eram vistas como pessoas sem preparo, ignorantes, sem reputação, ladras, sexualmente promíscuas e voltadas para o alcoolismo.[1]

Aos 30 anos Florence decide romper com a oposição da família e finalmente iniciar uma missão que, segundo ela, nascera de um chamamento espiritual ouvido aos 17 anos. A partir de então começa a fazer estágios em importantes hospitais da Alemanha e da França, iniciando seu treinamento como enfermeira. Em março de 1854 teve início a Guerra da Criméia, com a Inglaterra, França e Turquia declarando guerra à Rússia. As críticas da imprensa contra a precariedade hospitalar na retaguarda militar britânica levou o governo da Inglaterra a solicitar a supervisão oficial de Florence aos hospitais ingleses na Turquia, onde chegou em novembro de 1854, com 38 enfermeiras.

O início de seu trabalho em Scutari, um subúrbio asiático de Constantinopla (hoje Istambul), não foi fácil, pelo fato de ser mulher e ter que enfrentar os preconceitos, a burocracia, a alta hierarquia militar, a hostilidade dos médicos e a falta de recursos a fim de mudar toda a estrutura do sistema hospitalar. Encontrou os soldados deitados em chão de terra, partilhando o mesmo ambiente com baratas, insetos e ratos e onde os processos cirúrgicos eram feitos em condições anti-higiênicas. Alarmada com o altíssimo índice de mortalidade causado pelo tifo e pela cólera, concluiu que as doenças hospitalares estavam matando sete vezes mais do que os campos de batalha. Com uma coleta constante de dados e aplicando os métodos de Quetelet, organizou registros e estatísticas montando diagramas de área polar onde visualizou, mês a mês, que o rigor na assepsia fazia decrescer as mortes por infecção. Durante o mês de janeiro de 1855, enquanto 2.761 soldados morreram por doenças contagiosas, apenas 324 foram por causas diversas e 83 por ferimentos em campo de batalha. Seus relatórios foram de importância vital para a sobrevivênvia do exército britânico na guerra, mostrando que com tal índice de mortalidade e a não reposição constante das tropas, em pouco tempo todo o contingente da Crimeia seria aniquilado pela infecção. Três meses depois de sua chegada, as taxas de mortalidade de fevereiro de 1855 caíram de 60% para 42,7%. Prosseguindo com as melhorias sanitárias, o uso da água fresca, frutas, vegetais e novos equipamentos hospitalares, os óbitos caíram em abril para 2,2%.

Com o correr das semanas e dos meses, a imagem de Florence emergia triunfante pelo reconhecimento e admiração dos próprios médicos e pelos resultados da disciplina e da liderança com que comandava as demais enfermeiras. Contudo foi entre os soldados que sua imagem foi surgindo como a de um anjo da guarda, sempre buscando  consolar os moribundos. Sua generosidade e doçura com os pacientes e seus cuidados percorrendo as enfermarias dos batalhões e acampamentos durante a noite com uma lanterna na mão, visitando a todos e dirigindo-se a cada um, fizeram-na conhecida como  “A dama da lâmpada”.

Com o fim da guerra, Florence retorna a Londres e verifica que os soldados, entre 20 e 35 anos, mesmo desmobilizados pelo fim da guerra, dobravam o índice de mortalidade em relação aos civis. Seu pedido de investigação e de reforma nas condições sanitárias dos hospitais militares chamou a atenção da Rainha Vitória e uma Comissão Real Sobre a Saúde nas Formas Armadas foi instalada em 1857. As mesmas providências Florence pediu para os hospitais militares da Índia. Em 1858, suas contribuições para a saúde dos soldados ingleses levaram-na a ser eleita membro da Sociedade Estatística Real.

Quando de seu retorno à Inglaterra, em 1856, acamada e limitada pela doença que contraiu na guerra, recebe um prêmio em dinheiro do governo britânico, pelo extraordinário trabalho e a dedicação incondicional aos feridos na guerra. Todo o dinheiro foi usado por Florence para fundar, em1859, aPrimeira Escola de Enfermagem, no Hospital Saint Thomas, tornando-se modelo para as demais escolas que surgiram no mundo ao estabelecer as bases da moderna enfermagem. Era o seu sonho transformando-se em realidade: ensinar a outras mulheres a grandeza e a dignidade da enfermagem, concebida como uma verdadeira profissão e exercida com ciência e como uma arte.

A biografia de Florence Nightingale é a história de uma vida inteiramente dedicada ao amor pelos semelhantes e seus detalhes não cabem nos limites deste artigo. Na Guerra da Crimeia, quando um médico a pediu em casamento ela respondeu que “Com 17 anos ouvi a voz de Deus convocando meus serviços”. Sua missão de lenir o sofrimento humano nunca lhe permitiu que se casasse. O espírito Emmanuel, numa sugestiva passagem, referindo-se à “Dama da Lâmpada” afirmou: “Pensas em Florence Nigthtingale, a mulher admirável que esteve quase um século entre os homens, dedicando-se aos feridos e aos doentes, sem quaisquer intenções subalternas.” (Justiça Divina, F.C. Xavier, FEB, 3ª ed., p. 109.)

“Escolhi servir ao próximo porque sei que todos nós um dia precisamos de ajuda.
Escolhi ser enfermeira porque amo e respeito a vida!!!”

                                                                                   Florence Nigthtingale (1820-1910)

(*) Este artigo foi escrito para o jornalMUNDO ESPÍRITA” publicação da Federação Espírita do Paraná.  Publicado aqui com licença do autor.

[1] Charles Dickens (1812-1870), o mais famoso escritor da era vitoriana e um crítico profundo da miséria social do seu tempo, retratou de uma forma nua e crua o perfil da enfermagem na Inglaterra em seus romances Oliver Twist, Martin Chuzzlewitt.  Neste último, a célebre personagem da enfermeira Mrs. Sairey Gamp é o retrato chocante do despreparo profissional, da frieza e do descaso para com os doentes.


O DEDO do LULA – por emir sader /são paulo.sp

A sociedade brasileira teve sempre a discriminação como um dos seus pilares. O ódio a Lula é um ódio de classe, vem do profundo da burguesia paulista e de setores de classe média que assumem os valores dessa burguesia. O anti-petismo é expressão disso. Os tucanos são sua representação política.

– por Emir Sader

A sociedade brasileira teve sempre a discriminação como um dos seus pilares. A escravidão, que desqualificava, ao mesmo tempo, os negros e o trabalho – atividade de uma raça considerada inferior – foi constitutiva do Brasil, como economia, como estratificação social e como ideologia.

Uma sociedade que nunca foi majoritariamente branca, teve sempre como ideologia dominante a da elite branca, Sempre presidiram o país, ocuparam os cargos mais importantes nas FFAA, nos bancos, nos ministérios, na direção das grandes empresas, na mídia, na direção dos clubes – em todos os lugares em que se concentra o poder na sociedade, estiveram sempre os brancos.

A elite paulista representa melhor do que qualquer outro setor, esse ranço racista. Nunca assimilaram a Revoluçao de 30, menos ainda o governo do Getúlio. Foram derrotados sistematicamente pelo Getulio e pelos candidatos que ele apoiou. Atribuíam essa derrota aos “marmiteiros”- expressão depreciativa que a direita tinha para os trabalhadores, uma forma explicita de preconceito de classe.

A ideologia separatista de 1932 – que considerava São Paulo “a locomotiva da nação”, o setor dinâmico e trabalhador, que arrastava os vagões preguiçosos e atrasados dos outros estados – nunca deixou de ser o sentimento dominante da elite paulista em relação ao resto do Brasil. Os trabalhadores imigrantes, que construíram a riqueza de Sao Paulo, eram todos “baianos” ou “cabeças chatas”, trabalhadores que sobreviviam morando nas construções – como o personagem que comia gilete, da música do Vinicius e do Carlos Lira, cantada pelo Ari Toledo, com o sugestivo nome de pau-de-arara, outra denominação para os imigrantes nordestinos em Sao Paulo.

A elite paulista foi protagonista essencial nas marchas das senhoras com a igreja e a mídia, que prepararam o clima para o golpe militar e o apoiaram, incluindo o mesmo tipo de campanha de 1932, com doações de joias e outros bens para a “salvação do Brasil”- de que os militares da ditadura eram os agentes salvadores.

Terminada a ditadura, tiveram que conviver com o Lula como líder popular e o Partido dos Trabalhadores, para o qual canalizaram seu ódio de classe e seu racismo. Lula é o personagem preferencial desses sentimentos, porque sintetiza os aspectos que a elite paulista mais detesta: nordestino, não branco, operário, esquerdista, líder popular.

Não bastasse sua imagem de nordestino, de trabalhador, sua linguagem, seu caráter, está sua mão: Lula perdeu um dedo não em um jet-sky, mas na máquina, como operário metalúrgico, em um dos tantos acidentes de trabalho cotidianos, produto da super exploração dos trabalhadores. O dedo de uma mão de operário, acostumado a produzir, a trabalhar na máquina, a viver do seu próprio trabalho, a lutar, a resistir, a organizar os trabalhadores, a batalhar por seus interesses. Está inscrito no corpo do Lula, nos seus gestos, nas suas mãos, sua origem de classe. É insuportável para o racismo da elite paulista.

Essa elite racista teve que conviver com o sucesso dos governos Lula, depois do fracasso do seu queridinho – FHC, que saiu enxotado da presidência – e da sua sucessora, a Dilma. Tem que conviver com a ascensão social dos trabalhadores, dos nordestinos, dos não brancos, da vitória da esquerda, do PT, do Lula, do povo.

O ódio a Lula é um ódio de classe, vem do profundo da burguesia paulista e de setores de classe média que assumem os valores dessa burguesia. O anti-petismo é expressão disso. Os tucanos são sua representação política.

Da discriminação, do racismo, do pânico diante das ascensão das classes populares, do seu desalojo da direção do Estado, que sempre tinham exercido sem contrapontos. Os Cansei, a mídia paulista, os moradores dos Jardins, os adeptos do FHC, do Serra, do Gilmar, dos otavinhos – derrotados, desesperados, racistas, decadentes.

PAULO EGYDIO MARTINS, ex governador de São Paulo, e a morte do jorn. WLADIMIR HERZOG . Entrevistado por Geneton Moraes Neto / são paulo.sp

Ex-governador de São Paulo dá veredito: “Suicídio foi maquiado. Herzog foi assassinado no II Exército”. E descreve chantagem praticada por militares do DOI-CODI contra um general

por Geneton Moraes Neto |

A Globonews reapresenta nesta terça-feira (amanhã 5/6/12)  em dois horários:  uma e cinco (madrugada) e onze e cinco da manhã)  o DOSSIÊ GLOBONEWS em que o ex-governador Paulo Egydio Martins se torna a primeira autoridade a se oferecer publicamente a depor na Comissão da Verdade. Egydio – que governou São Paulo de março de 1975 a março de 1979 –  descreve com detalhes, na entrevista, cenas de bastidores ocorridas em momentos críticos do regime militar, como a crise provocada pelas mortes do jornalista Vladimir Herzog e do operário Manoel Fiel Filho nas dependências do II Exército. Pela primeira vez, uma autoridade da época faz uma declaração tão direta sobre as circunstâncias da morte do jornalista: “O suicídio foi maquiado. Herzog foi assassinado dentro das dependências do II Exército, na rua Tutóia, em São Paulo”.

O ex-governador também se refere, na entrevista, a um caso que jamais foi esclarecido: uma chantagem praticada por subordinados contra um general do II  Exército. O fato de não se saber do desfecho da chantagem parece ser uma prova de que ainda há capítulos inteiros a serem contados sobre a história do regime militar.

Trechos da entrevista:

GMN: O senhor revela que o chefe do Estado Maior do II Exército foi vítima de uma chantagem, praticada por dois militares que ameaçavam denunciar publicamente a prática de torturas no II Exército. Que providências o senhor tomou ?

Paulo Egydio: “Quando o coronel Erasmo Dias ( secretário de segurança ) me procurou, me disse o seguinte: “Governador, o general Marques me procurou,nervosíssimo, extremamente tenso, porque um sargento e um cabo, integrantes da equipe do DOI-CODI, foram a ele pedindo um volume de dinheiro. Senão, iriam delatar para a imprensa o que se passava dentro do DOI-CODI. E ele ficou sem saber o que fazer. Veio me pedir se eu podia arranjar esse dinheiro da verba secretra da Secretaria de Segurança”.

Quando eu assumi o governo, extingui a verba secreta do gabinete do governador. E disse a Erasmo que a verba secreta da Secretaria de Segurança era de responsabilidade dele. Jamais eu iria intervir. Virei para ele e disse: “Erasmo, a decisão é sua, sobre se vai atender ao Marques ou se não vai atender. Chantagem só tem duas respostas: “Ou você mata ou você morre”. Porque qualquer tentativa de aceitar chantagem é horrível, é péssima. É minha reação pessoal. Você faz o que você quiser fazer” .

Nunca mais tive retorno dessa conversa. Nada aflorou dessa chantagem. Mas ela mostra o que significa, como quebra de hierarquia militar: a gravidade deste episódio. Porque, quando um cabo e um sargento procuram um general comandante do Estado Maior de um Exército e chantageiam pedindo dinheiro para não contar o que estava se passando dentro do recinto pertencente a esse mesmo Exército, acabou qualquer hierarquia militar, qualquer espírito militar. Isso é absoluta e totalmente incompreensível e inaceitável”.

GMN: O fato de esses militares não terem feito a denúncia pública não significa que eles podem ter recebido o dinheiro ?

Paulo Egydio: “Eu não saberia lhe responder. A dúvida paira. Não voltei a conversar com Erasmo. Não foi pedida prestação de contas. A verba era secreta. Não estava sujeita à aprovação de ninguém. Não saberia lhe responder. Posso dizer que sim e posso dizer que não”.

O Caso Herzog: Egydio pediu a órgãos de segurança a ficha do jornalista. Conclusão: Nada consta.

GMN : O senhor fez uma reunião com o então secretário de  Cultura, José Mindlin; com o coronel Erasmo Dias, secretário de segurança; com o diretor do DOPS, Romeu Tuma e com o representante do SNI, coronel Paiva, para discutir a nomeação do jornalista Vladimir Herzog para a TV Cultura. Qual foi o resultado da reunião ?

Paulo Egydio: “Quem me trouxe o problema foi o secretário de Cultura, meu amigo José Mindlin, que disse:”Estou recebendo acusações de ter escolhido, com muitas dificuldades, um responsável pelo Jornal da Cultura. E esse indivíduo que escolhi agora está sendo acusado – por uma imprensa marrom – de ser comunista” . Eu não tinha a menor idéia, cá entre nós. Se a Globo tinha cinqüenta por cento de audiência, o Jornal da Cultura deveria ter zero vírgula zero um de audiência. Quem era o diretor de jornal da TV Cultura era algo que não estava na minha cabeça –  de jeito nenhum. Se era comunista, se não era comunista….Virei para Mindlin: “O problema não é meu. É seu. Você resolve como quiser”. E Mindlin: “Isso tem me causado incômodo. Preciso que você verifique se procede alguma coisa ou não”.   Numa reunião, deixei instruções específicas : eu queria ter  informações do Serviço Secreto do Exército , Marinha e Aeronáutica e do SNI sobre se alguma coisa constava sobre aquele diretor de jornal da TV Cultura – de quem eu nunca ouvido o nome antes – , chamado Vladimir Herzog. Passaram-se dez, quinze dias. Houve outra reunião, em que as mesmas pessoas se reportaram a mim: “Nós levantamos tudo. Nada consta, senhor governador”. Eu disse: “Mindlin, veja a resposta: se nada consta, você fica livre para decidir o que quiser. Já cumprimos nossa obrigação de verificar se procedia uma acusação ou não. Ficou provado que não procede. Você, agora, aja como quiser agir. Quer manter, mantenha. Não quer manter, não mantém. Após esse incidente, houve a determinação se ele comparecer ao DOI-CODI, onde acabou assassinado”.

GMN :Se nada constava contra Vladimir Herzog nos órgãos de informação, se a ficha era limpa, como o senhor diz, a prisão foi inteiramente
injustificada. Depois da morte de Vladimir Herzog, o senhor fez esta comunicação ao presidente Geisel ?

Paulo Egydio: “Fiz. Não só fiz esta comunicação, como eu tinha liberdade com ele de pensar alto. Eu estranhava o que estava se passando, aquele luta intestina, aquela luta em quarto escuro. Você não tem meios de comprovar essas coisas com clareza. Como é que você comprova uma tortura ? Só assiste a tortura o torturador. E um torturador não vai dedurar outro torturador. Num caso desse aqui, eu dizia para Geisel: “Presidente, estou estranhando : existe alguma coisa a mais”. E Geisel: “Paulo, tire isso da cabeça! Enquanto eu for Presidente desse país, nada vai acontecer”. Geisel não aceitava que a autoridade dele pudesse ser questionada. Não é mais um fato de você averiguar: é um fato histórico. Havia um plano de derrubar o general Ernesto Geisel da presidência da República. Tentaram me usar como governador do 
Estado mais forte da federação naquela ocasião pela minha ligação pessoal com ele – que era pública e notória (….). Havia uma briga interna do Exército  que nós, civis, não avaliamos. Não tenho a menor dúvida quanto a um embate dentro de duas facções do Exército nacional que disputavam o Poder”.

GMN: Quando o senhor tratou com o presidente Geisel pela primeira vez sobre a morte de Vladimir Herzog, o senhor disse a ele que nada
constava contra o jornalista Vladimir Herzog nos órgãos de segurança?

Paulo Egydio:”Disse. E disse claramente, como acabo de  repetir para você. Ele sabia disso ( silêncio). Se maquiou um suicídio ! O suicídio foi maquiado ! Não houve suicídio! Herzog foi assassinado dentro das dependências do II Exército na rua Tutóia, em São Paulo”.

GMN: O senhor testemunhou uma cena importantíssima dos bastidores do regime militar: o dia em que o presidente Geisel chamou o então
comandante do II Exército, general Ednardo D`Ávila, logo depois da morte do jornalista Vladimir Herzog nas dependências do quartel. O que foi exatamente que o general Geisel disse ao gen0eral Ednardo ?

Paulo Egydio :”Eu já tinha me recolhido com o presidente Geisel para a ala residencial do Palácio dos Bandeirantes. Estávamos sentados na biblioteca. Ednardo subiu para a ala residencial. Quando apareceu na porta, fiz um gesto de me levantar .Não ia ficar presente a uma reunião do Presidente da República com o comandante do II Exército, os dois generais. Geisel virou para mim e disse:  “Não,não, Paulo. Quero que você fique aí e escute”. E o general Ednardo D`Ávila Melo, perfilado, em posição de sentido, na frente de Geisel e na minha, ficou ouvindo Geisel se dirigir a ele assim:  “Ednardo, você me conhece muito bem. Você sabe do meu passado. Você sabe da minha história. Não vou admitir que fatos como esses que ocorreram aqui no II Exército se repitam. Quero que você saiba que vou tomar medidas. Você vai tomar conhecimento pelo seu ministro do Exército e pelo Diário Oficial. Vou tornar isso um decreto: proibir que alguém seja preso antes de uma comunicação ao meu gabinete – ao gabinete militar, ao SNI ou a mim, pessoalmente. Só depois dessa comunicação é que posso admitir que um preso político seja levado ao recinto de um quartel do Exército. O senhor está me ouvindo? Está entendendo? “. E o general: “Sim, senhor  Presidente; sim,senhor Presidente”. Geisel: “Pode se retirar”. Escutei tudo aquilo quieto e calado. Meses depois, houve o caso de Manoel Fiel Filho – que contrariou juridicamente, formalmente e hierarquicamente todas as determinações do Presidente da República, comandante-em-chefe das Forças Armadas do Brasil. Consequência: o general, fiel às palavras que tinha proferido na minha frente, exonerou um general de quatro estrelas do comando do II Exército, fato inédito na história do Exército brasileiro”.

GMN: Se o senhor for convocado a depor na Comissão ds Verdade  para relatar as cenas de bastidores que aconteceram nos episódios das mortes de Vladimir Herzog e de Manoel Fiel Filho, o senhor vai comparecer ?

Paulo Egydio: “Claro. Se eu não comparecer, faça um favor: mande uma cópia deste depoimento. Irei a qualquer hora, a qualquer instante. Não temos de temer nada. É hora de botar para fora tudo o que for para botar para fora. Vivemos numa democracia para ser verdadeira”.

DIÁRIO DA PROVYNCIA III – por olsen junior / rio negrinho.sc


 

CÍNICO, CÉTICO E EFICIENTE!

Foi somente depois que o carro passou sobre a água empoçada num desvão (de um trabalho mal feito anteriormente) nas lajotas oitavadas da Avenida das Rendeiras, salpicando com água barrenta uma família inteira que caminhava no passeio em frente é que me dei conta: tínhamos de ser muito otimistas para acreditar que havia alguma esperança para o ser humano.

O veículo trafegava com o dobro da velocidade permitida naquele trajeto no bairro boêmio da Lagoa da Conceição. Compreende-se que as pessoas de férias possam distrair-se com o ambiente enquanto passeiam, mas é injustificável que um motorista não tenha a dimensão de uma atitude imprudente. Seja pelo excesso de velocidade ou pela visão embotada do percurso. O que é pior, que encare ambas com naturalidade como se estivessem incorporadas ao “seu fazer” e até, a danação, que sequer tenha consciência da imperícia e da infração cometida.

Sei! Alguém pode lembrar que uma ação isolada não serve de parâmetro para avalizar um comportamento humano. De tanto observar atitudes desrespeitosas como essa, me tornei um cético. Então, resta o quê?

Lembrei de um texto do Paulo Francis na Folha, década de 1970 “Resta o consolo do trabalho. São Paulo estava errado e São João certo. A salvação é pelas obras e não pela fé. Esta matamos há muito tempo”.

Parte do meu aprendizado foi aperfeiçoada num texto do mesmo Paulo Francis (já que mencionei o trabalho) comentando o filme “Mississippi em Chamas”, de Alan Parker e a atuação de Gene Hackman.

O filme é baseado no assassinato em 1964, de três ativistas dos direitos civis no sul segregacionista dos EUA. O foco está na investigação de dois agentes do FBI, o sulista Rupert Anderson (Gene Hackman) e o nortista Alan Ward (William Dafoe) e os métodos de cada um para chegar a verdade: o primeiro com suavidade e o segundo agressivo. No fim triunfa a astúcia do primeiro e a perseverança do segundo. Em 2005, um ex-integrante da Ku-Kux-Klan, Edgar Ray Killen, então com 80 anos, foi condenado a 60 anos de prisão pela morte dos ativistas no qual o filme se baseou, corroborando a tese de seu diretor, que acreditava que um filme pode ter funções políticas.

Francis ressaltava que a atuação de Gene Hackman era a expressão pura do que o crítico Edmund Wilson chama de Jobbism num ensaio em que afirmava  “só nos resta neste mundo corrupto fazer nosso trabalho bem feito, sem tomar conhecimento de causas e pretensões iluministas”.

No filme, as pessoas se recusam a falar. Quem diz alguma coisa é espancada. Lá como aqui, uma realidade que se repete no mundo e no submundo da impunidade. Mas o Francis afirma que “Hackman olha e ri nos falando uma enciclopédia britânica sobre a natureza humana. Não se vangloria e nem tem ilusões. São pessoas assim que avançam as causas, poucas ainda em que acreditamos, e não ideólogos e idealistas. São céticas, cínicas e eficientes. Nossa única esperança, e Gene Hackman é emblemático de nossa condição”.

Esse “jobbism” que pode ser traduzido como “mãos-à-obra” descoberto pelo Francis no ensaio de Edmund “Bunny” Wilson que ele tomou conhecimento no início da década de 1960 e só foi assimilado na de 1980 pode ter raízes no médico e poeta transcendentalista americano Oliver Wendell Holmes… A uni-los, a descoberta da dignidade profissional enquanto último e inoxidável instrumento de participação social.  Não será a pólvora, como lembrou a jornalista Ana Claudia Vicente, mas para mim o jobbism foi um achado. Que funcionará, quando muita gente o achar também.

É isso, desde então, na cabeceira da minha cama, além de um champanhe e do livro que estiver lendo, está o trípdico: cínico, cético e eficiente…

Justifica-se: a bebida, como lembrou Zózimo Barroso do Amaral “enquanto houver champanhe, há esperança”; um livro, porque como afirma o poeta que habita em mim “é a melhor companhia quando você não quer ver ninguém” e as palavras, para manter uma atitude enquanto não se põe mãos-à-obra!

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NOTAS:

Olá, camaradas, salve!

Tempo curto, dinheiro escasso…

Segue o texto da semana…

Com o abraço fraterno!

http://www.youtube.com/watch?v=zC4poOpZG9w&feature=related

GILMAR MENDES! este o Brasil conhece e espera que o Supremo se livre dele!

LUIS ANTONIO PAGOT: Serra, Kassab, Alckmin, PSDB, PT e DEM pressionavam DNIT a doar recursos para as campanhas – vergonha nacional / são paulo.sp

Em entrevista, ex-diretor do DNIT acusa PSDB, PT e DEM de buscar recursos de campanha no órgão dos Transportes


O ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT) Luiz Antonio Pagot acusou políticos de PSDB, PT e DEM de buscar dinheiro no órgão ligado ao Ministério dos Transportes para pagar dívidas de campanha e fazer caixa 2.

Segundo a revista Istoé, Pagot se sentiu pressionado a aprovar aditivos ilegais no valor de R$ 260 milhões ao trecho sul do Rodoanel. Serra qualificou as declarações do ex-diretor do DNIT como “calúnia pré-eleitoral aloprada”.

Pagot afirmou ainda que o governo do então governador tucano teria usado a obra para  abastecer um suposto caixa 2 da campanha à Presidência da República em 2010. “Veio procurador de empreiteira me avisar: ‘Você tem que se prevenir, tem 8% entrando lá.’ Era 60% para o Serra, 20% para o Kassab e 20% para o Alckmin”, disse.

“Todos os empreiteiros do Brasil sabiam que o Rodoanel financiava a campanha do Serra”, revelou. “Teve uma reunião no DNIT. O Paulo Preto (diretor da Dersa) apresentou a fatura de R$ 260 milhões. Não aceitei e começaram as pressões.”

O diretório estadual do PSDB divulgou uma nota em que defende o governador Geraldo Alckmin das acusações de receber um porcentagem do caixa 2 das obras do Rodoanel Sul.”A matéria da Istoé é caluniosa. As campanhas eleitorais do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do pré-candidato à Prefeitura, José Serra, sempre contaram com doações declaradas à Justiça Eleitoral.”.

O ex-diretor do DNIT disse à Istoé que passou a receber telefonemas constantes, não só de Paulo Preto, mas do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), do ministro Alfredo Nascimento e de seu secretário-executivo, hoje ministro Paulo Sérgio Passos. Mais tarde, o TCU autorizou a Dersa a assinar um Termo de Ajuste de Conduta (TAC), condicionando novos aditivos à autorização prévia do tribunal e do Ministério Público. Pagot recorreu à Advocacia-Geral da União, que em parecer, ao qual a Istoé teve acesso, o liberou de assinar o documento.

“Aquele convênio tinha um porcentual ali que era para a campanha. Todos os empreiteiros do Brasil sabiam que essa obra financiava a campanha do Serra”, disse. De acordo com o TSE, o comitê de Serra e do PSDB receberam das empreiteiras que atuaram no trecho sul do Rodoanel quase R$ 40 milhões.

Caso Cachoeira. Ainda segundo a revista, Pagot também disse que o senador Demóstenes Torres (sem partido, ex-DEM) foi buscar no órgão fundos para quitar dívidas de campanha com a Delta Construções, através de acordos com a construtora.

Demóstenes teria chamado Pagot para uma conversa privada, durante a qual disse que estava com dívidas com a Delta e que precisava “carimbar alguma obra para poder retribuir o favor” que a construtora fez para ele na campanha.

Pagot disse que não cedeu à pressão de Serra e Demóstenes. No entanto, ele confessou ter aceito a solicitação do tesoureiro da campanha do PT, deputado José De Filippi (SP), que durante as eleições de 2010, pediu para ele arrecadar recursos junto às empreiteiras ligadas ao DNIT. “Cada um doou o que quis. Algumas enviavam cópia do boleto para mim e eu remetia para o Filippi. Outras diziam ‘depositamos’”, afirmou. As doações teriam sido feitas pelas vias legais, segundo o ex-diretor.

Na entrevista, Pagot identificou na prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral ao menos 15 empresas que abasteceram a campanha do PT a pedido seu: Carioca Engenharia, Concremat, Construcap, Barbosa Mello, Ferreira Guedes, Triunfo, CR Almeida, Egesa, Fidens, Trier, Via Engenharia, Central do Brasil, Lorentz, Sath Construções e STE Engenharia.

Pagot também acusou a ministra da Relações Institucionais, Ideli Salvatti, de ter pedido ajuda na arrecadação de recursos de campanha em 2010, quando foi candidata a governadora de Santa Catarina. “Ela queria que eu chamasse as empreiteiras e pedisse para pôr dinheiro na campanha dela”, afirma. Como se negou a ajudá-la, Pagot acha que Ideli ficou ressentida e passou a miná-lo quando chegou ao Planalto.

Outro lado. Em nota divulgada à tarde, a assessoria de Serra apresentou a resposta do ex-governador à reportagem da Istoé, na qual ele rechaça as acusações de Pagot. “Trata-se de uma calúnia pré-eleitoral aloprada. A acusação é absolutamente inconsistente e a credibilidade dos envolvidos é zero. Tomaremos as medidas judiciais cabíveis”, disse o tucano.

A declaração oficial do PSDB critica, ainda, o fato dos tucanos não terem sido procurados, ao contrário de petistas citados na matéria. “A revista sequer respeitou os princípios éticos do bom jornalismo uma vez que nem Alckmin nem Serra foram procurados pela reportagem, ao contrário de um grupo seleto de personagens nela citados. Com esse procedimento abominável, a Istoé deixou que prosperassem mentiras ditas pelo Sr. Luiz Antônio Pagot baseadas em algo que ele teria ouvido de um “procurador de empreiteira” cujo nome ele nem menciona.”

Segundo a assessoria do prefeito Gilberto Kassab (PSD), a “acusação é improcedente e mentirosa. Portanto serão adotadas as medidas jurídicas cabíveis diante dessa irresponsável calunia”.

Filippi foi ouvido pela Istoé e admitiu ter se reunido com Pagot durante a eleição, mas negou ter recebido boletos dos depósitos de campanha do ex-diretor do DNIT. “A conversa tratou da proposta de Pagot de a campanha receber três aviões do Blairo Maggi”, disse Filippi. “Num segundo encontro, depois da eleição de Dilma, ficou acertado que Pagot buscaria recursos para saldar dívidas da campanha eleitoral.” Por meio de nota, Ideli negou que tenha recorrido a Pagot para solicitar recursos.

O ex-diretor do DNIT também conversou com a revista Época. Nessa entrevista, Pagot deu mais detalhes sobre a ajuda ao PT. Ele disse que, após a conversa com Filippi, reuniu-se com sindicatos de empresas da construção civil e representantes da Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias (Aneor). “Fui um colaborador espontâneo”, afirmou. Ele disse que Fillipi recebia boletos de depósitos de empreiteiras que se dispuseram a fazer doações para a campanha.

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Estadão.com.br – Atualizada às 21h16

Gilmar não é o Supremo – por mauro santayana /são paulo.sp

Engana-se o Sr. Gilmar Mendes, quando denuncia uma articulação conspiratória contra o Supremo Tribunal Federal, nas suspeitas correntes de que ele, Gilmar, se encontra envolvido nas penumbrosas relações do Senador Demóstenes Torres com o crime organizado em Goiás.
A articulação conspiratória contra o Supremo partiu de Fernando Henrique Cardoso, quando indicou o seu nome para o mais alto tribunal da República ao Senado Federal, e usou de todo o rolo compressor do Poder Executivo, a fim de obter a aprovação. Registre-se que houve 15 manifestações contrárias, a mais elevada rejeição em votações para o STF nos anais do Senado.
Com todo o respeito pelos títulos acadêmicos que o candidato ostentava – e não eram tão numerosos, nem tão importantes assim – o Sr. Gilmar Mendes não trazia, de sua experiência de vida, recomendações maiores. Servira ao Sr. Fernando Collor, na Secretaria da Presidência, e talvez não tenha tido tempo, ou interesse, de advertir o Presidente das previsíveis dificuldades que viriam do comportamento de auxiliares como P.C. Farias. Afastado do Planalto durante o mandato de Itamar, o Sr. Gilmar Mendes a ele retornou, como Advogado Geral da União de Fernando Henrique Cardoso. Com a aposentadoria do ministro Néri da Silveira, Fernando Henrique o levou ao Supremo. No mesmo dia em que foi sabatinado, o jurista Dalmo Dallari advertiu que, se Gilmar chegasse ao Supremo, estariam “correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional”. Pelo que estamos vendo, Dallari tinha toda a razão.
Gilmar, como advogado geral da União – e o fato é conhecido –, recomendara aos agentes do Poder Executivo não cumprirem determinadas ordens judiciais. Como alguém que não respeita as decisões da justiça pode integrar o mais alto tribunal do país? Basta isso para concluir que Fernando Henrique, ao nomear o Sr. Gilmar Mendes, demonstrou o seu desprezo pelo STF. O Supremo, pela maioria de seus membros, deveria ter o poder de veto em casos semelhantes.
Esse comportamento de desrespeito – vale lembrar – ocorreu também quando o Sr. Francisco Rezek renunciou ao cargo de Ministro do Supremo, a fim de se tornar Ministro de Relações Exteriores, e voltou ao alto tribunal, re-indicado pelo próprio Collor. O episódio, tal como a posterior indicação de Gilmar, trouxe constrangimento à República. Ressalve-se que os conhecimentos jurídicos de Rezek, na opinião dos especialistas, são muito maiores do que os de Gilmar. Mas se Rezek não servia como chanceler, por que deveria voltar ao cargo de juiz a que renunciara? São atos como esses, praticados pelo Poder Executivo, que atentam contra a soberania da Justiça, encarnada pelo alto tribunal.
A nação deve ignorar o esperneio do Sr. Gilmar Mendes. Ele busca a confusão, talvez com o propósito de desviar a atenção do país das revelações da CPI. O Congresso não se deve intimidar pela arrogância do Ministro, e levar a CPMI às últimas conseqüências; o STF deve julgar, como se espera, o processo conhecido como mensalão, como está previsto. Acima dos três personagens envolvidos na conversa estranha que só o Sr. Mendes confirma, lembremos o aviso latino, de que testis unus, testis nullus, está a Nação, em sua perenidade. Está o povo, em seus direitos. Está a República, em suas instituições.
O Sr. Gilmar Mendes não é o Supremo, ainda que dele faça parte. E se sua presença naquele tribunal for danosa à estabilidade republicana – sempre lembrando a forte advertência de Dallari – cabe ao Tribunal, em sua soberania, agir na defesa clara da Constituição, tomando todas as medidas exigidas. Para lembrar um autor alemão, Carl Schmitt, que Gilmar deve conhecer bem, soberano é aquele que pratica o ato necessário.

Via Láctea está em rota de colisão com Andrômeda, diz Nasa / eua

Choque deve ocorrer daqui 4 bilhões de anos a 1,9 km/h; Terra e o Sol sobreviverão

31 de maio de 2012 | 20h 38
Associated Press


Projeção da colisão das galáxias vista da Terra feita pela Nasa

A Via Láctea, galáxia onde está localizado o nosso Sistema Solar, está em franca rota de colisão com Andrômeda, uma galáxia vizinha, disseram nesta quinta-feira, 31, os astrônomos da Agência Espacial dos Estados Unidos, a Nasa.

Os astrônomos anunciaram as descobertas depois de analisar uma série de dados obtidos pela observação do telescópio Hubble. Eles identificaram o movimento de Andrômeda em direção à Via Láctea e acharam que haveria chances de que as galáxias apenas resvalassem uma na outra, mas após analisar a rota com o telescópio, descobriram que, de fato, haverá uma colisão frontal.

De acordo com os cientistas o Sol e a Terra conseguiriam sobreviver à colisão – que deve ocorrer com as galáxias se movimentando a 1,9 milhão de quilômetros por hora -, mas tanto o planeta quanto a estrela devem estar em um local diferente no espaço quando o choque acontecer.