Arquivos Mensais: janeiro \31\-03:00 2011

DIANTE DA TESTEMUNHA – por zuleika dos reis / são paulo


 

 

É verdade que, todos os dias, Ana fica em frente dele alguns minutos, mas, o tempo urge para o feijão no fogo, o preparo das misturas, o rearranjo dos desarranjos diários, a lavagem das sujeiras que intrépidas se renovam, a supervisão dos exercícios dos filhos, o preparo de suas mochilas, o embarque dos meninos na perua escolar, o elevador que demora, a ladeira para os passos já cansados desde a planície, o ônibus, as esperas no Banco, o pagamento das contas, as compras no supermercado, as multidões nas calçadas, o suor, os faróis sempre muito vermelhos, as buzinas sempre mais barulhentas, as palavras por dentro gastas como as solas dos sapatos, o silêncio cada vez maior diante da TV, das músicas, dos retratos, dos livros, das ideias, do futuro. O silêncio, à mesa, na sala, na cama.

É verdade que Ana jamais fica diante dele o tempo suficiente, mas nem se dá mais conta. Os minutos galopam, a noite todas as noites chega. As novelas sempre adiam para a noite seguinte a cena decisiva na qual a personagem revela ao marido que há outro homem, a cena em que o marido a expulsará de casa ou a perdoará, desde que ela abandone o outro. Depois do jantar, a louça é lavada e os utensílios guardados cada qual em seu respectivo lugar.

A água corre pelo corpo, o corpo se enxuga, veste o roupão. Planejam-se as sequências do dia seguinte. Os corpos se envolvem nos lençóis, as crianças dormem, o sono chega para todos, com os sonhos dos quais Ana jamais se lembra na manhã seguinte.

É verdade que quando Ana olha para ele, os gestos são sempre meio inconscientes, o olhar não se detém e já se lança para o corredor, a mão abre a mesma porta com a mesma chave de todos os dias, os pés repetem os mesmos passos para o sol lá fora, que também caminha com a regularidade cotidiana, assim como a lua e as estrelas. Nenhum cataclismo à vista.

É verdade que houve um tempo em que Ana olhava para ele e havia muito o que ver. Os olhos vivenciavam a transparência, as mãos se erguiam para lhe acariciarem os cabelos, a curva do queixo, a suavidade dos ombros, a sensualidade ereta dos seios. Os sorrisos brilhavam como um Sol. Nesse tempo a vida era um Novo Continente à espera dos navios de sonho que aportavam todas as noites, no eterno presente de palavras sempre renovadas, recém-emergidas do Jardim Primordial.

Ana não se lembra bem da vez primeira em que,  olhando para ele, percebeu a pequenina fenda, quase imperceptível fenda, alteração levíssima a modificar algo na forma e na expressão do olhar, culminando neste rosto de hoje. Irreversível.

 

BBB 11: $$$$$$$$$$$$$$ e LIXO! – por luis fernando veríssimo / porto alegre

Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço…A décima primeira (está indo longe!) edição do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil, encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência.
Dizem que Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB 11 é a pura e suprema banalização do sexo. Impossível assistir, ver este programa ao lado dos filhos. Gays, lésbicas, heteros… todos na mesma casa, a casa dos “heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterosexuais. O BBB 11 é a realidade em busca do IBOPE..
Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB 11. Ele prometeu um “zoológico humano divertido” . Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.
Se entendi corretamente as apresentações, são 15 os “animais” do “zoológico”: o judeu tarado, o gay afeminado, a dentista gostosa, o negro com suingue, a nerd tímida, a gostosa com bundão, a “não sou piranha mas não sou santa”, o modelo Mr. Maringá, a lésbica convicta, a DJ intelectual, o carioca marrento, o maquiador drag-queen e a PM que gosta de apanhar (essa é para acabar!!!).
Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça,
cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível.
Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo.
Eu gostaria de perguntar se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.
Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? HERÓIS ?
São esses nossos exemplos de HERÓIS ?
Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros, profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores), carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor, quase sempre mal remunerados..
Heróis, são milhares de brasileiros que sequer têm um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir e conseguem sobreviver a isso, todo santo dia.
Heróis, são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna.
Heróis, são inúmeras pessoas, entidades sociais e beneficentes, ONGs, voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao cuidado de carentes, doentes e necessitados (vamos lembrar de nossa eterna heroína, Zilda Arns).
Heróis, são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada meses atrás pela própria Rede Globo.
O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo,
o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral.
E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a “entender o comportamento humano”. Ah, tenha dó!!!
Veja o que está por de tra$$$$$$$$$$$$$$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.
Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social, moradia,
alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros?
(Poderia ser feito mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores!)
Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores.
Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa…, ir ao cinema…, estudar…. , ouvir boa música…, cuidar das flores e jardins… ,telefonar para um amigo… , visitar os avós… , pescar…, brincar com as crianças… , namorar… ou simplesmente dormir.

“OS PORÕES DA PRIVATARIA” o LIVRO-DENÚNCIA do jornalista AMAURY RIBEIRO JÚNIOR sobre as privatizações no país. É PRECISO LER e REAGIR.


Os porões da privataria

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Quem recebeu e quem pagou propina. Quem enriqueceu na função pública. Quem usou o poder para jogar dinheiro público na ciranda da privataria. Quem obteve perdões escandalosos de bancos públicos. Quem assistiu os parentes movimentarem milhões em paraísos fiscais. Um livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., que trabalhou nas mais importantes redações do país, tornando-se um especialista na investigação de crimes de lavagem do dinheiro, vai descrever os porões da privatização da era FHC. Seus personagens pensaram ou pilotaram o processo de venda das empresas estatais. Ou se aproveitaram do processo. Ribeiro Jr. promete mostrar, além disso, como ter parentes ou amigos no alto tucanato ajudou a construir fortunas. Entre as figuras de destaque da narrativa estão o ex-tesoureiro de campanhas de José Serra e Fernando Henrique Cardoso, Ricardo Sérgio de Oliveira, o próprio Serra e três dos seus parentes: a filha Verônica Serra, o genro Alexandre Bourgeois e o primo Gregório Marin Preciado. Todos eles, afirma, tem o que explicar ao Brasil.


Ribeiro Jr. vai detalhar, por exemplo, as ligações perigosas de José Serra com seu clã. A começar por seu primo Gregório Marín Preciado, casado com a prima do ex-governador Vicência Talan Marín. Além de primos, os dois foram sócios. O “Espanhol”, como (Marin) é conhecido, precisa explicar onde obteve US$ 3,2 milhões para depositar em contas de uma empresa vinculada a Ricardo Sérgio de Oliveira, homem-forte do Banco do Brasil durante as privatizações dos anos 1990. E continuará relatando como funcionam as empresas offshores semeadas em paraísos fiscais do Caribe pela filha – e sócia — do ex-governador, Verônica Serra e por seu genro, Alexandre Bourgeois. Como os dois tiram vantagem das suas operações, como seu dinheiro ingressa no Brasil …


Atrás da máxima “Siga o dinheiro!”, Ribeiro Jr perseguiu o caminho de ida e volta dos valores movimentados por políticos e empresários entre o Brasil e os paraísos fiscais do Caribe, mais especificamente as Ilhas Virgens Britânicas, descoberta por Cristóvão Colombo em 1493 e por muitos brasileiros espertos depois disso. Nestas ilhas, uma empresa equivale a uma caixa postal, as contas bancárias ocultam o nome do titular e a população de pessoas jurídicas é maior do que a de pessoas de carne e osso. Não é por acaso que todo dinheiro de origem suspeita busca refúgio nos paraísos fiscais, onde também são purificados os recursos do narcotráfico, do contrabando, do tráfico de mulheres, do terrorismo e da corrupção.


A trajetória do empresário Gregório Marin Preciado, ex-sócio, doador de campanha e primo do candidato do PSDB à Presidência da República mescla uma atuação no Brasil e no exterior. Ex-integrante do conselho de administração do Banco do Estado de São Paulo (Banespa), então o banco público paulista – nomeado quando Serra era secretário de planejamento do governo estadual, Preciado obteve uma redução de sua dívida no Banco do Brasil de R$ 448 milhões (1) para irrisórios R$ 4,1 milhões. Na época, Ricardo Sérgio de Oliveira era diretor da área internacional do BB e o todo-poderoso articulador das privatizações sob FHC.


(Ricardo Sergio é aquele do “estamos no limite da irresponsabilidade. Se  der m… “, o momento Péricles de Atenas do Governo do Farol – PHA)

Ricardo Sérgio também ajudaria o primo de Serra, representante da Iberdrola, da Espanha, a montar o consórcio Guaraniana. Sob influência do ex-tesoureiro de Serra e de FHC, mesmo sendo Preciado devedor milionário e relapso do BB, o banco também se juntaria ao Guaraniana para disputar e ganhar o leilão de três estatais do setor elétrico (2).


O que é mais inexplicável, segundo o autor, é que o primo de Serra, imerso em dívidas, tenha depositado US$ 3,2 milhões no exterior através da chamada conta Beacon Hill, no banco JP Morgan Chase, em Nova York.  É o que revelam documentos inéditos obtidos dos registros da própria Beacon Hill em poder de Ribeiro Jr. E mais importante ainda é que a bolada tenha beneficiado a Franton Interprises. Coincidentemente, a mesma empresa que recebeu depósitos do ex-tesoureiro de Serra e de FHC, Ricardo Sérgio de Oliveira, de seu sócio Ronaldo de Souza e da empresa de ambos, a Consultatun. A Franton, segundo Ribeiro, pertence a Ricardo Sérgio.


A documentação da Beacon Hill levantada pelo repórter investigativo radiografa uma notável movimentação bancária nos Estados Unidos realizada pelo primo supostamente arruinado do ex-governador. Os comprovantes detalham que a dinheirama depositada pelo parente do candidato tucano à Presidência na Franton oscila de US$ 17 mil (3 de outubro de 2001) até US$ 375 mil (10 de outubro de 2002). Os lançamentos presentes na base de dados da Beacon Hill se referem a três anos. E indicam que Preciado lidou com enormes somas em dois anos eleitorais – 1998 e 2002 – e em outro pré-eleitoral – 2001. Seu período mais prolífico foi 2002, quando o primo disputou a presidência contra Lula. A soma depositada bateu em US$ 1,5 milhão.


O maior depósito do endividado primo de Serra na Beacon Hill, porém, ocorreu em 25 de setembro de 2001. Foi quando destinou à offshore Rigler o montante de US$ 404 mil. A Rigler, aberta no Uruguai, outro paraíso fiscal, pertenceria ao doleiro carioca Dario Messer, figurinha fácil desse universo de transações subterrâneas. Na operação Sexta-Feira 13, da Polícia Federal, desfechada no ano passado, o Ministério Público Federal apontou Messer como um dos autores do ilusionismo financeiro que movimentou, através de contas no exterior, US$ 20 milhões derivados de fraudes praticadas por três empresários em licitações do Ministério da Saúde.


O esquema Beacon Hill enredou vários famosos, entre eles o banqueiro Daniel Dantas. Investigada no Brasil e nos Estados Unidos, a Beacon Hill foi condenada pela justiça norte-americana, em 2004, por operar contra a lei.


Percorrendo os caminhos e descaminhos dos milhões extraídos do país para passear nos paraísos fiscais, Ribeiro Jr. constatou a prodigalidade com que o círculo mais íntimo dos cardeais tucanos abre empresas nestes édens financeiros sob as palmeiras e o sol do Caribe. Foi assim com Verônica Serra. Sócia do pai na ACP Análise da Conjuntura, firma que funcionava em São Paulo em imóvel de Gregório Preciado, Verônica começou instalando, na Flórida, a empresa Decidir.com.br,  em sociedade com Verônica Dantas, irmã e sócia  do banqueiro Daniel Dantas, que arrematou várias empresas nos leilões de privatização realizados na era FHC.


Financiada pelo banco Opportunity, de Dantas, a empresa possui capital de US$ 5 milhões. Logo se transfere com o nome Decidir International Limited para o escritório do Ctco Building, em Road Town, ilha de Tortola, nas Ilhas Virgens Britânicas. A Decidir do Caribe consegue trazer todo o ervanário para o Brasil ao comprar R$ 10 milhões em ações da Decidir do Brasil.com.br, que funciona no escritório da própria Verônica Serra, vice-presidente da empresa. Como se percebe, todas as empresas tem o mesmo nome. É o que Ribeiro Jr. apelida de “empresas-camaleão”. No jogo de gato e rato com quem estiver interessado em saber, de fato, o que as empresas representam e praticam é preciso apagar as pegadas. É uma das dissimulações mais corriqueiras detectada na investigação.


Não é outro o estratagema seguido pelo marido de Verônica, o empresário Alexandre Bourgeois. O genro de Serra abre a Iconexa Inc no mesmo escritório do Ctco Building, nas Ilhas Virgens Britânicas, que interna dinheiro no Brasil ao investir R$ 7,5 milhões em ações da Superbird. com.br que depois muda de nome para  Iconexa S.A…Cria também a Vex capital no Ctco Building, enquanto Verônica passa a movimentar a Oltec Management no mesmo paraíso fiscal. “São empresas-ônibus”, na expressão de Ribeiro Jr., ou seja, levam dinheiro de um lado para o outro.


De modo geral, as offshores cumprem o papel de justificar perante o Banco Central e à Receita Federal a entrada de capital estrangeiro por meio da aquisição de cotas de outras empresas, geralmente de capital fechado, abertas no país. Muitas vezes, as offshores compram ações de empresas brasileiras em operações casadas na Bolsa de Valores. São frequentemente operações simuladas tendo como finalidade única internar dinheiro nas quais os procuradores dessas offshores acabam comprando ações de suas próprias empresas… Em outras ocasiões, a entrada de capital acontecia através de sucessivos aumentos de capital da empresa brasileira pela sócia cotista no Caribe, maneira de obter do BC a autorização de aporte do capital no Brasil. Um emprego alternativo das offshores é usá-las para adquirir imóveis no país.


Depois de manusear centenas de documentos, Ribeiro Jr. observa que Ricardo Sérgio, o pivô das privatizações — que articulou os consórcios usando o dinheiro do BB e do fundo de previdência dos funcionários do banco, a Previ, “no limite da irresponsabilidade” conforme foi gravado no famoso “Grampo do BNDES” — foi o pioneiro nas aventuras caribenhas entre o alto tucanato. Abriu a trilha rumo às offshores e as contas sigilosas da América Central ainda nos anos 1980. Fundou a offshore Andover, que depositaria dinheiro na Westchester, em São Paulo, que também lhe pertenceria…


Ribeiro Jr. promete outras revelações. Uma delas diz respeito a um dos maiores empresários brasileiros, suspeito de pagar propina durante o leilão das estatais, o que sempre desmentiu. Agora, porém, existe evidência, também obtida na conta Beacon Hill, do pagamento da US$ 410 mil por parte da empresa offshore Infinity Trading, pertencente ao empresário, à Franton Interprises, ligada a Ricardo Sérgio.


(1)A dívida de Preciado com o Banco do Brasil foi estimada em US$ 140 milhões, segundo declarou o próprio devedor. Esta quantia foi convertida em reais tendo-se como base a cotação cambial do período de aproximadamente R$ 3,2 por um dólar.

(2)As empresas arrematadas foram a Coelba, da Bahia, a Cosern, do Rio Grande do Norte, e a Celpe, de Pernambuco.

(*) PiG: Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

Eric Hobsbawn: “Lula é o verdadeiro introdutor da democracia no Brasil. No Brasil há muitos pobres e ninguém jamais fez tantas coisas concretas por eles”

“Com liberdade total para o mercado, quem atende aos pobres?”

Em entrevista publicada no jornal Página 12, o historiador britânico Eric Hobsbawm (foto) fala da crise atual e de suas possíveis implicações políticas. Para ele, o mundo está entrando em um período de depressão e os grandes riscos, diante da fragilidade da esquerda mundial, são o crescimento da xenofobia e da extrema-direita. Hobsbawm destaca o que está acontecendo na América Latina e elogia o presidente brasileiro. “É o verdadeiro introdutor da democracia no Brasil. No Brasil há muitos pobres e ninguém jamais fez tantas coisas concretas por eles”.

Por Martin Granovsky

Em junho ele completa 92 anos. Lúcido e ativo, o historiador que escreveu “Rebeldes Primitivos”, “A Era da Revolução” e a “História do Século XX”, entre outros livros, aceitou falar de sua própria vida, da crise de 30, do fascismo e do antifascismo e da crise atual. Segundo ele, uma crise da economia do fundamentalismo de mercado é o que a queda do Muro de Berlim foi para a lógica soviética do socialismo.

Hobsbawm aparece na porta da embaixada da Alemanha, em Londres. São pouco mais de três da tarde na bela Belgrave Square e se enxergam as bandeiras das embaixadas por trás das copas das árvores. De óculos, chapéu na cabeça e um casaco muito pesado, cumprimenta. Tem mãos grandes e ossudas, mas não parecem as mãos de um velho. Nenhuma deformação de artrite as atacou. Rapidamente uma pequena prova demonstra que as pernas de Hobsbawm também estão em boa forma. Com agilidade desce três degraus que levam do corrimão a calçada. Parece enxergar bem. Tem uma bengala na mão direita. Não se apóia nela, mas talvez a use como segurança, em caso de tropeçar, ou como um sensor de alerta rápido que detecta degraus, poças e, de imediato, o meio-fio da calçada. Hobsbawm é alto e magro. Uns oitenta e bicos. Não pede ajuda. O motorista do Foreign Office lhe abre a porta esquerda do jaguar preto. Entra no carro com facilidade. O carro é grande, por sorte, e cabe, mas a viagem é curta.

– Acabo de me encontrar com um historiador alemão, por isso estou na embaixada, e devo voltar – avisa. Ele chegou de visita a Londres e quis conversar com alguns de nós. Sei que vamos a Canning House. Está bem. Poucas voltas, não?

O carro dá meia volta na Belgrave Square e pára na frente de outro palacete branco de três andares, com uma varanda rodeada de colunas e a porta de madeira pesada. Por algum motivo mágico o motorista de cabelos brancos com uma mecha sobre o rosto, traje azul e sorridente como um ajudante do inspetor Morse de Oxford, já abre a porta a Hobsbawm. Entre essas construções tão parecidas, a elegância do Jaguar o assemelha a uma carruagem recém polida. O motorista sorri quando Hobsbawm desce. O professor lhe devolve a simpatia enquanto sobe com facilidade num hall obscuro. Já entrou em Canning House e à direita vê uma enorme imagem de José de San Martin. À esquerda do corredor, uma grande sala. O chá está servido. Quer dizer, o chá, os pães e uma torta. Outro quadro do mesmo tamanho que o de San Martin. É Simon Bolívar. E também é Bolívar o cavalheiro do busto sobre o aparador.

Quanto chá tomaram Bolívar e San Martin antes de saírem de Londres para a América do Sul, em princípios do século XIX, para cumprir seus planos de independência?

Hobsbawm pega a primeira taça e quer ser quem faz a primeira pergunta.

– Como está a Argentina? – interroga mas não muito, porque não espera e comenta – No ano passado Cristina esteve para vir a Londres para uma reunião de presidentes progressistas e pediu para me ver. Eu disse sim, mas ela não veio. Não foi sua culpa. Estava no meio do confronto com a Sociedade Rural.

Hobsbawm fala um inglês sem afetação nem os trejeitos de alguns acadêmicos do Reino Unido. Mas acaba de pronunciar “Sociedade Rural” em castellhano.

– O que aconteceu com esse conflito?

Durante a explicação, o professor inclina a cabeça, mais curioso que antes, enquanto com a mão direita seu garfo tenta cortar a torta de maçã. É uma tarefa difícil. Então se desconcentra da torta e fixa o olhar esperando, agora sim, alguma pergunta.

– O mundo está complicado – afirma ainda mantendo a iniciativa. Não quero cair em slogans, mas é indubitável que o Consenso de Washington morreu. A desregulação selvagem já não é somente má: é impossível. Há que se reorganizar o sistema financeiro internacional. Minha esperança é que os líderes do mundo se dêem conta de que não se pode renegociar a situação para voltar atrás, senão que há que se redesenhar tudo em direção ao futuro.

A Argentina experimentou várias crises, a última forte em 2001. Em 2005 o presidente Néstor Kirchner, de acordo com o governo brasileiro, que também o fez, pagou ao FMI e desvinculou a Argentina do organismo para que o país não continuasse submetido a suas condicionalidades.

– É que a esta altura se necessita de um FMI absolutamente distinto, com outros princípios que não dependam apenas dos países mais desenvolvidos e em que uma ou duas pessoas tomam as decisões. É muito importante o que o Brasil e a Argentina estão propondo, para mudar o sistema atual. Como estão as relações de vocês?

– Muito bem

– Isso é muito importante. Mantenham-nas assim. As boas relações entre governos como os de vocês são muito importantes em meio a uma crise que também implica riscos políticos. Para os padrões estadunidenses, o país está girando à esquerda e não à extrema direita. Isso também é bom. A Grande Depressão levou politicamente o mundo para a extrema direita em quase todo o planeta, com exceção dos países escandinavos e dos Estados Unidos de Roosevelt. Inclusive o Reino Unido chegou a ter membros do Parlamento que eram de extrema direita [e começa a entrevista propriamente].

– E que alternativa aparece?
– Não sei. Sabe qual é o drama? O giro à direita teve onde se apoiar: nos conservadores. O giro à esquerda também teve em quem descansar: nos trabalhistas.

– Os trabalhistas governam o Reino Unido.
– Sim, mas eu gostaria de considerar um quadro mais geral. Já não existe esquerda tal como era.

– Isso lhe é estranho?
– Faço apenas o registro.

– A quê se refere quando diz “a esquerda tal como era”?
– Às distintas variantes da esquerda clássica. Aos comunistas, naturalmente. E aos socialdemocratas. Mas, sabe o que acontece? Todas as variantes da esquerda precisam do Estado. E durante décadas de giro à direita conservadora, o controle do Estado se tornou impossível.

– Por que?
– Muito simples. Como você controla o estado em condições de globalização? Convém recordar que, em princípios dos anos 80 não só triunfaram Ronald Reagan e Margareth Thatcher. Na França, François Miterrand não obteve uma vitória.

– Havia vencido para a presidência dem 1974 e repetiu a vitória em 1981.
– Sim. Mas quando tentou uma unidade das esquerdas para nacionalizar um setor maior da economia, não teve poder suficiente para fazê-lo. Fracassou completamente. A esquerda e os partidos socialdemocratas se retiraram de cena, derrotados, convencidos de que nada se podia fazer. E, então, não só na França como em todo mundo ficou claro que o único modelo que se podia impor com poder real era o capitalismo absolutamente livre.

– Livre, sim. Por que diz “absolutamente”?
– Porque com liberdade absoluta para o mercado, quem atende aos pobres? Essa política, ou a política da não-política, é a que se desenvolveu com Margareth Thatcher e Ronald Reagan. E funcionou – dentro de sua lógica, claro, que não compartilho – até a crise que começou em 2008. Frente à situação anterior a esquerda não tinha alternativa. E frente a esta? Prestemos atenção, por exemplo, à esquerda mais clássica da Europa. É muito débil na Europa. Ou está fragmentada. Ou desapareceu. A Refundação Comunista na Itália é débil e os outros ramos do ex Partido Comunista Italiano estão muito mal. A Esquerda Unida na Espanha também está descendo ladeira abaixo. Algo permaneceu na Alemanha. Algo na França, como Partido Comunista. Nem essas forças, nem menos ainda a extrema esquerda, como os trotskistas, e nem sequer uma socialdemocracia como a que descrevi antes alcançam uma resposta a esta crise a seus perigos, contudo. A mesma debilidade da esquerda aumenta os riscos.

– Que riscos?
– Em períodos de grande descontentamento como o que começamos a viver, o grande perigo é a xenofobia, que alimentará e será por sua vez alimentada pela extrema direita. E quem essa extrema direita buscará? Buscará atrair os “estúpidos” cidadãos que se preocupam com seu trabalho e têm medo de perdê-lo. E digo estúpidos ironicamente, quero deixar claro. Porque aí reside outro fracasso evidente do fundamentalismo de mercado. Deu liberdade para todos, e a verdadeira liberdade de trabalho? A de mudá-lo e melhorar em todos os aspectos? Essa liberdade não foi respeitada porque, para o fundamentalismo de mercado isso tinha se tornado intolerável. Também teriam sido politicamente intoleráveis a liberdade absoluta e a desregulação absoluta em matéria laboral, ao menos na Europa. Eu temo uma era de depressão.

– Você ainda tem dúvidas de que entraremos em depressão?
– Se você quiser posso falar tecnicamente, como os economistas, e quantificar trimestres. Mas isso não é necessário. Que outra palavra pode se usar para denominar um tempo em que muito velozmente milhões de pessoas perdem seu emprego? De qualquer maneira, até o momento no vejo um cenário de uma extrema direita ganhando maioria em eleições, como ocorreu em 1933, quando a Alemanha elegeu Adolf Hitler. É paradoxal, mas com um mundo muito globalizado um fator impedirá a imigração, que por sua vez aparece como a desculpa para a xenofobia e para o giro à extrema direita. E esse fator é que as pessoas emigrarão menos – falo em termos de emigração em massa – ao verem que nos países desenvolvidos a crise é tão grave. Voltando à xenofobia, o problema é que, ainda que a extrema direita não ganhe, poderia ser muito importante na fixação da agenda pública de temas e terminaria por imprimir uma face muito feia na política.

– Deixemos de lado a economia, por um momento. Pensando em política, o que diminuiria o risco da xenofobia?
– Me parece bem, vamos à prática. O perigo diminuiria com governos que gozem de confiança política suficiente por parte do povo em virtude de sua capacidade de restaurar o bem-estar econômico. As pessoas devem ver os políticos como gente capaz de garantir a democracia, os direitos individuais e ao mesmo tempo coordenar planos eficazes para se sair da crise. Agora que falamos deste tema, sabe que vejo os países da América Latina surpreendentemente imunes à xenofobia?

– Por que?
– Eu lhe pergunto se é assim. É assim?

– É possível. Não diria que são imunes, se pensamos, por exemplo, no tratamento racista de um setor da Bolívia frente a Evo Morales, mas ao menos nos últimos 25 anos de democracia, para tomar a idade da democracia argentina, a xenofobia e o racismo nunca foram massivos nem nutriram partidos de extrema direita, que são muito pequenos. Nem sequer com a crise de 2001, que culminou o processo de destruição de milhões de empregos, apesar de que a imigração boliviana já era muito importante em número. Agora, não falamos dos cantos das torcidas de futebol, não é?

– Não, eu penso em termos massivos.

– Então as coisas parecem ser como você pensa, professor. E, como em outros lugares do mundo, o pensamento da extrema direita aparece, por exemplo, com a crispação sobre a segurança e a insegurança das ruas.
– Sim, a América Latina é interessante. Tenho essa intuição. Pense num país maior, o Brasil. Lula manteve algumas idéias de estabilidade econômica de Fernando Henrique Cardoso, mas ampliou enormemente os serviços sociais e a distribuição. Alguns dizem que não é suficiente…

– E você, o que diz?
– Que não é suficiente. Mas que Lula fez, fez. E é muito significativo. Lula é o verdadeiro introdutor da democracia no Brasil. E ninguém o havia feito nunca na história desse país. Por isso hoje tem 70% de popularidade, apesar dos problemas prévios às últimas eleições. Porque no Brasil há muitos pobres e ninguém jamais fez tantas coisas concretas por eles, desenvolvendo ao mesmo tempo a indústria e a exportação de produtos manufaturados. A desigualdade ainda assim segue sendo horrorosa. Mas ainda faltam muitos anos para mudar as cosias. Muitos.

– E você pensa que serão de anos de depressão mundial
– Sim. Lamento dizê-lo, mas apostaria que haverá depressão e que durará alguns anos. Estamos entrando em depressão. Sabem como se pode dar conta disso? Falando com gente de negócios. Bom, eles estão mais deprimidos que os economistas e os políticos. E, por sua vez, esta depressão é uma grande mudança para a economia capitalista global.

– Por que está tão seguro desse diagnóstico?
– Porque não há volta atrás para o mercado absoluto que regeu os últimos 40 anos, desde a década de 70. Já não é mais uma questão de ciclos. O sistema deve ser reestruturado.

– Posso lhe perguntar de novo por que está tão seguro?
– Porque esse modelo não é apenas injusto: agora é impossível. As noções básicas segundo as quais as políticas públicas deviam ser abandonadas, agora estão sendo deixadas de lado. Pense no que fazem e às vezes dizem, dirigentes importantes de países desenvolvidos. Estão querendo reestruturar as economias para sair da crise. Não estou elogiando. Estou descrevendo um fenômeno. E esse fenômeno tem um elemento central: ninguém mais se anima a pensar que o Estado pode não ser necessário ao desenvolvimento econômico. Ninguém mais diz que bastará deixar que o mercado flua, com sua liberdade total. Não vê que o sistema financeiro internacional já nem funciona mais? Num sentido, essa crise é pior do que a de 1929-1933, porque é absolutamente global. Nem os bancos funcionam.

– Onde você vivia nesse momento, no começo dos anos 30?
– Nada menos que em Viena e Berlim. Era um menino. Que momento horroroso. Falemos de coisas melhores, como Franklin Delano Roosevelt.

– Numa entrevista para a BBC no começo da crise você o resgatou.
– Sim, e resgato os motivos políticos de Roosevelt. Na política ele aplicou o princípio do “Nunca mais”. Com tantos pobres, com tantos famintos nos Estados Unidos, nunca mais o mercado como fator exclusivo de obtenção de recursos. Por isso decidiu realizar sua política do pleno emprego. E desse modo não somente atenuou os efeitos sociais da crise como seus eventuais efeitos políticos de fascistização com base no medo massivo. O sistema de pleno emprego não modificou a raiz da sociedade, mas funcionou durante décadas. Funcionou razoavelmente bem nos Estados Unidos, funcionou na França, produziu a inclusão social de muita gente, baseou-se no bem-estar combinado com uma economia mista que teve resultados muito razoáveis no mundo do pós-Segunda Guerra. Alguns estados foram mais sistemáticos, como a França, que implantou o capitalismo dirigido, mas em geral as economias eram mistas e o Estado estava presente de um modo ou de outro. Poderemos fazê-lo de novo? Não sei. O que sei é que a solução não estará só na tecnologia e no desenvolvimento econômico. Roosevelt levou em conta o custo humano da situação de crise.

– Quer dizer que para você as sociedades não se suicidam.
(Pensa) – Não deliberadamente. Sim, podem ir cometendo erros que as levam a catástrofes terríveis. Ou ao desastre. Com que razoabilidade, durante esses anos, se podia acreditar que o crescimento com tamanho nível de uma bolha seria ilimitado? Cedo ou tarde isso terminaria e algo deveria ser feito.

– De maneira que não haverá catástrofe.
– Não me interessam as previsões. Observe, se acontece, acontece. Mas se há algo que se possa fazer, façamos-no. Não se pode perdoar alguém por não ter feito nada. Pelo menos uma tentativa. O desastre sobrevirá se permanecermos quietos. A sociedade não pode basear-se numa concepção automática dos processos políticos. Minha geração não ficou quieta nos anos 30 nem nos 40. Na Inglaterra eu cresci, participei ativamente da política, fui acadêmico estudando em Cambridge. E todos éramos muito politizados. A Guerra Civil espanhola nos tocou muito. Por isso fomos firmemente antifascistas.

– Tocou a esquerda de todo o mundo. Também na América Latina
– Claro, foi um tema muito forte para todos. E nós, em Cambridge, víamos que os governos não faziam nada para defender a República. Por isso reagimos contra as velhas gerações e os governos que as representavam. Anos depois entendi a lógica de por quê o governo do Reino Unido, onde nós estávamos, não fez nada contra Francisco Franco. Já tinha a lucidez de se saber um império em decadência e tinha consciência de sua debilidade. A Espanha funcionou como uma distração. E os governos não deviam tê-la tomado assim. Equivocaram-se. O levante contra a República foi um dos feitos mais importantes do século XX. Logo depois, na Segunda Guerra…

– Pouco depois, não? Porque o fim da Guerra Civil Espanhola e a invasão alemã da Tchecoslováquia ocorreu no mesmo ano.
– É verdade. Dizia-lhe que logo depois o liberalismo e o comunismo tiveram uma causa comum. Se deram conta de que, assim não fosse, eram débeis frente ao nazismo. E no caso da América Latina o modelo de Franco influenciou mais que o de Benito Mussolini, com suas idéias conspiratórias da sinarquia, por exemplo. Não tome isso como uma desculpa para Mussolini, por favor. O fascismo europeu em geral é uma ideologia inaceitável, oposta a valores universais.

– Você fala da América Latina…
– Mas não me pergunte da Argentina. Não sei o suficiente de seu país. Todos me perguntam do peronismo. Para mim está claro que não pode ser tomado como um movimento de extrema direita. Foi um movimento popular que organizou os trabalhadores e isso talvez explique sua permanência no tempo. Nem os socialistas nem os comunistas puderam estabelecer uma base forte no movimento sindical. Sei das crises que a Argentina sofreu e sei algo de sua história, do peso da classe média, de sua sociedade avançada culturalmente dentro da América Latina, fenômeno que creio ainda se mantém. Sei da idade de ouro dos anos 20 e sei dos exemplos obscenos de desigualdade comuns a toda a América Latina.

– Você sempre se definiu com um homem de esquerda. Também segue tendo confiança nela?
– Sigo na esquerda, sem dúvida com mais interesse em Marx do que em Lênin. Porque sejamos sinceros, o socialismo soviético fracassou. Foi uma forma extrema de aplicar a lógica do socialismo, assimo como o fundamentalismo de mercado foi uma forma extrema de aplicação da lógica do liberalismo econômico. E também fracassou. A crise global que começou no ano passado é, para a economia de mercado, equivalente ao que foi a queda do Muro de Berlim em 1989. Por isso Marx segue me interessando. Como o capitalismo segue existindo, a análise marxista ainda é uma boa ferramenta para analisá-lo. Ao mesmo tempo, está claro que não só não é possível como não é desejável uma economia socialista sem mercado nem uma economia em geral sem Estado.

– Por que não?
– Se se mira a história e o presente, não há dúvida alguma de que os problemas principais, sobretudo no meio de uma crise profunda, devem e podem ser solucionados pela ação política. O mercado não tem condições de fazê-lo.

(*) Martin Granovsky é analista internacional e presidente da agência de notícias Télam.

Publicado no jornal Página 12, em 29 de março de 2009

Tradução: Katarina Peixoto

 

 

TROPILUZ de jairo pereira / quedas do iguaçu.pr


 

(Ensaio de relação entre o cavalo e o poeta)

 

Esse cavalo continuará correndo pelos caminhos de meus caminhos suas ventas quentes a inalar o cheiro do capim verde da Fazenda Poema na saída das primaveras meu cavalo que já faz parte de mim um equus hígido de luz continuará pastando o pasto fino de minhas visões o ritmo dos poemas longos pousados nos livros inéditos as pernas longas no arremesso do bólido no espaço o bólido muscular em seu  primeiro galope acima do vento a manter o sonho vivo o sonho do sonhar a grande poesia no pasto da campina!? Eu um boi agora a sonhar a grande poesia no pasto da campina um cavalo nunca poderá correr na frente do vento um cavalo nunca poderá correr na frente do pensamento um cavalo correr quando seu pai o homem estiver morto sou pai desse potro exuberante sobre as planícies um potro pasta minhas palavras de aluguel nessas planícies que imagino vertidas de luzes espectros de pensamentos mal conduzidos é de se ficar envolto numa filosofia que não se pode solucionar expor como água na palma da mão aos pobres de espírito aos lerdos aos letargidos um cavalo é de ficar com o homem morto o homem que morre em pé e seu cavalo ao lado do seu pai o cavalo hirto e resolvido do lado do dono que vai o dono que se ausenta um cavalo correndo do outro lado da vida com seu dono sedento de tempo… não! Essa amizade não poderia terminar assim como terminam as amizades entre os homens um cavalo é de ficar sempre com seu dono aprendendo o tempo lendo nos porões da antiga Biblioteca de Alexandria com um louco um poeta e uma criança

era um homem e era um cavalo e era um louco e era uma criancinha e era uma biblioteca crescida pra fora das cavernas e era outra biblioteca edificada dentro da terra e ambos liam e reliam a história da humanidade sobre quatro patas um equus refulgia na noite fúrnica relinchos ecoados no ciberespaço relinchos no temporal relinchos de éguas no cio cavalos crescidos nos embates das idéias cavalos cavalos colagens de equuos nas páginas dos dias ensolarados do futuro projeções de um homem um poeta louco e seu cavalo nas home pages como um hacker dilacerador um hacker que destrói o tempo do mundo do sem-cavalo éguas parindo para o porvir éguas silentes de segredos antigos cavaleiros mortos espadados nos campos do Senhor silêncio de segredos antigos dos mandatários déspotas meu cavalo ergoluz refulge as verdades encobertas quando o conduzo para o sem caminho da criação meu criatório de almas signos a protonathuralização do ímpeto nefertímoro anímoro germe um poema cavalo me desafia a reconstruir o mundo do com-cavalo um poema larva na folha de couve verde clorofilado no desafio das cores recrescidas para dentro tive ímpetos de cavalgar sobre os mares cavalgar sobre chãos de águas cavalgar no espaço sideral tive ímpetos de adentrar nos Tribunais com meu cavalo ébrio de poesia tive ímpetos de freqüentar o Congresso Nacional a Assembléia dos Sábios Consagrados pelo Governo com meu cavalo de óculos lendo poemas de loucura-boa e convicta que toda loucura deve ser convicta e boa no mundo dos com-cavalos meu cavalo lendo para os ignaros legisladores a razão que se desmancha sobre as quatro patas de um loz cavalgado de ventos meu cavalo sábio na tribuna com sua verve cavalar hipocêntrica cancheira com gosto de capim e calor de ventas meu cavalo ébrio de embates no mundo dos com-palavras um cavalo meu cavalo ébrio de poesia pós-graduado em philosophia preleciona verdades

na noite assombrante que virá meu mundo por um cavalo que carregue meus poemas junto às ancas cestos invisíveis de poemas sobre as ancas do loz tropiloz triloz na veloz cavalgada do vento não é preciso te dizer que essa coisa de amor muito amor a cavalos é coisa de poeta que se descobre em um mundo sobre quatro patas meu mundo por um cavalo Dario meu mundo Birão meu mundo Ivanê por um cavalo um loz atirado no tempo quantos povoados por passar?! Estradas além estradas no deserto sobre as montanhas nos vales nos baixos pântanos meu cavalo hígido de sóis e luas transfixado pelas setas espinhos das mais diversas nathuras meu pai deveria estar comigo com seu cavalo eu e meu pai cada qual com seu cavalo atropelado de tempo caças por abater de cima dos cavalos perdizes atiradas nos campos do velho Rio Grande do Sul de onde viemos e nunca mais voltamos o pai arroja o loz branco andaluz triluz de ventos contidos redemoinhos no baixo-ventre arroja sobre os cercados assimétricos dos campos ali deixei poemas espalhados pelos caminhos poemas que nunca foram escritos mas vi deixei-os pendurados como enroscos nativos na paisagem sob as cruzes de cemitérios campeiros abandonados ali a raiz da raça naqueles campos onde o loz triluz na veloz cavalgada do vento um cavalo Birão um cavalo Dario para um poeta abduzido de tudo e todos um cavalo a me levar para o outro lado da razão

visionário meu cavalo antropocênico no espaço verde da campina um cavalo testa sua imagem na tez cristalina das águas do açude um cavalo narcísico mira-se no esplendor da água parada com gosto de limo também já tive horas de ficar olhando no espelho da superfície de poços parados meu destino enliado de pequenos nós que a vida vai desamarrando

um cavalo um poema uma verve uma montanha uma lagoa um pântano tudo encrestado de finos cipós do tempo minha mãe lia todos os livros inescritos nas folhas de ervas do campo minha mãe analfabeta lia nas folhas das ervas meu destino cego doido pra tudo quanto é lado um dia um cavalo me levará pra bem longe daqui um cavalo no mundo do sem-cavalo um cavalo álgido florescente na noite fúrnica com seu cavaleiro poeta tropiprolixo atirado de poemas pelos caminhos um poeta e um cavalo um cavalo e um poeta um loz e um poeta tropiprolixo na noite infinda do sem fim a esmo um cavaleiro e seu cavalo por todos os caminhos sem dor de dentes inchaços nas virilhas um cavalo e seu cavaleiro amplos de céus e ventos soprados ao deus dará tinha que carregar meus livros no dorso do meu cavalo meus livros simples que o tempo foi fazendo e fez para mim com seus signos calculados previsíveis que qualquer um entende e critica

quem quiser se habilitar a Homero que o faça neste mundo do sem-cavalo um cavalo e um cavalo e um cavalo e muitos poemas cavalgados de noite fria cavalgados de estrelas guias cavalgados de pós dos tempos transtempos finistempos um cavalo sou eu a vagar na noite azeviche a noite que faz a poesia dos outros invadir minha morada e a minha saltar em galope para rumos desconhecidos um poeta galopa com seu cavalo as estações irresolvidas um cavalo busca solução no tempo um cavalo e seu poeta vertidos de luz no vento cuidavam cavalo e cavaleiro os vagalumes atirados no chão haviam pedras que brilhavam à noite lêmptas esferas cintilantes estremecidas com o vento nos barrancos onde o loz passava na veloz cavalgada

um loz branco andaluz na noite fúrnica línguas de muitas palavras jogadas no vento do meio daquelas palavras que envolviam o loz tropiloz na veloz cavalgada do vento pude aferir do tempo da poesia perdida na nathureza das coisas uma coisa que se sobressai sobre outra coisa e outra coisa e outras coisas e tudo retertrançado de outras coisas é assim que o olho que vê revê desvê entrevê tropivê deve saltar de cima do cavalo e adentrar as matérias agora um poeta penetra o vegético depois o minérico matéria sobre matéria ali dentro de átomos comprimidos a transforça energética do vento vento dentro da madeira viva em árvore vento dentro dos minérios atirados na terra vento dentro das pedras dos protopólipos das cartilagens escondidas vento redemoinhos força sobre força energia trúsbita de veios subterrâneos meu cavalo loz luz ergoluz tropiluz calçado de matérias aderentes metempsicado dos pós dos tempos meu cavalo aéreo na ventania meu cavalo e um poeta corrido de ventos soprado pra longe do tempo era de se possuir muitos cavalos neste tempo do sem-cavalo muitos cavalos lâmptos ergoluzes retemperados nas tempestades era de se ter cavalos muitos cavalos em frente à casa cavalos prontos para ergofulgir pelos caminhos um cavalo pronto me aguarda para a futuridade um cavalo lâmpio experimentado nas canchas do indecifrável tempo um cavalo ferrado de ventos libertinos um cavalo convidativo na frente da casa pronto para o serviço do sem-serviço

me oprime uma palavra vertida de voz uma palavra que fala na noite que me sopra conceitos no dia uma palavra espiritada de poesia só com meu cavalo devo correr na noite o meu tempo do sem-cavalo quando fulgurava só pra dentro as coisas guardadas que a poesia palavra vertente de sons significantes significados não dizia não era pra dizer mas tenho que dizer e digo um cavalo me leva pra fora de mim um cavalo álgido como uma bola de neve no tempo um cavalo descido das montanhas um cavalo vaticinado nos porões por bruxos desconhecidos um cavalo alçado no vento um cavalo e um poeta um cavalo e a irresponsabilidade do gesto um cavalo e a insensatez do espírito que conhece um cavalo e um poeta um cavalo e a palavra marginal corrida na frente do pensamento eu um cavalo repercutido no tempo um cavalo andaluzirano rústico espectral na noite brasantina eu um cavalo sob os próprios pés de cavalos repentidos um cavalo com o mundo virado pra baixo nas patas irresolvidas um cavalo sem-mundo

no mundo do sem-cavalo ¿∑Ψθ∏߀ÕΔ o poeta.

 

 

 

ÚNICA – de liana timm / porto alegre



nunca tive data
meu começo se deu nas dúvidas
nunca jamais esclarecidas
assim meu renascer
é um filme de suspense
com truques bem feitos
e outros desastres

 

.

 

arte da autora

FENDA – de fernando paixão / portugal-são paulo

Já não repito
os mesmos
nítidos
idos gestos

entre lábios
cresce
orvalho
o novo travo.

Não sai o som
da voz
na manhã seguinte
com igual exatidão:

mudei
de mim?

Entre ontem
e amanhã
minha face
tem o rosto
– de quem?

 

GENERAL FRANCISCO TORRES DE MELO liderou uma “jagunçada” no meio virtual disparando milhares de emails, por hora, caluniando, mentindo, acusando e pregando o ÓDIO contra a PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF. Lamentável. O EXÉRCITO BRASILEIRO deve tomar medidas punitivas.

Acorda, General, a guerra fria acabou!

Messias Pontes. Fortaleza.


Em entrevista ao jornal O Estado, edição de 24/01/2011, o general reformado do Exército, Francisco Batista Torres de Melo, também coordenador do Grupo Guararapes (de estrema direita), ainda defende a famigerada e finada Lei de Segurança Nacional, imposta durante a trágica ditadura militar implantada em 1º de abril de 1964 e finda em 15 de março de 1985, e não percebeu também que a guerra fria acabou. Nessa entrevista, ele diz uma série de sandices e só faltou dizer que comunista come criancinha e mata os velhos para fazer sabão como ensinou aos seus subordinados na caserna. Ele acusa a esquerda de ser a favor de ditadura, mas esqueceu de dizer que ele foi um dos golpistas de 64 e defensor até hoje da ditadura militar que infelicitou a nação brasileira, demitindo funcionários públicos, cassando mandatos parlamentares, fechando o Congresso Nacional, prendendo sem mandado judicial, portanto ilegalmente, banindo, torturando, estuprando e matando covardemente quem se opunha à tirania fardada, e ainda ocultando cadáveres e escondendo documentos oficiais. Ainda hoje 144 famílias esperam notícias da localização dos corpos de seus ente queridos, como, onde e quando foram mortos.
Defensor de democracia sem povo, Torres de Melo se queixa do “ódio da esquerda” mas destila um ódio insano contra todos que não leem na sua cartilha, em especial os que defendem a liberdade com o povo e a soberania nacional. O ódio dele ao então presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega a ser patológico. Talvez por entender que um ex-operário metalúrgico, retirante nordestino e sem formação acadêmica não pode ascender ao mais alto posto da Nação e, nesta condição, comandante-em-chefe das Forças Armadas. Dói na alma dele ver o presidente Lula deixar o governo sendo aclamado por 83% dos brasileiros, sendo que nas regiões Norte e Nordeste esse percentual ultrapassa os 90%.
É com relação ao PNDH-3 que ele demonstra ainda mais o seu desprezo pela democracia que diz defender. E esquece que este é apenas a repetição, com alguns avanços, do PNDH-2, proposto pelos tucanos que ele tanto defendeu nas últimas eleições presidenciais, quando usou seus comandados do famigerado Grupo Guararapes para encher as caixas de emails de centenas de milhares de brasileiros com mentiras, acusações e difamações contra Dilma Rousseff, candidata das forças democráticas, progressistas e patrióticas deste País.
Com relação à Comissão da Verdade – que ele chama de Comissão da Mentira – que deve ser votada pelo Congresso Nacional, Torres de Melo tem mais medo dela que o diabo da cruz. Por isso busca desqualificá-la pensando que os crimes praticados pelos setores antidemocráticos das Forças Armadas ficarão eternamente abafados.
Ele deve estar espumando de ódio de um significativo setor do Exército que está defendendo a democratização das Forças Armadas brasileiras. Trata-se do Movimento batizado de Capitanismo, fundado há dois anos por capitães que defendem a adequação das normas da caserna à Constituição Federal. O capitão paraquedista Luiz Fernando Ribeiro Sousa, que está em prisão domiciliar há dois meses, declara que “defendemos a manutenção da hierarquia e da disciplina militar, mas as coisas mudaram nas últimas quatro décadas”. Esse Movimento advoga a reformulação do Estatuto e do Código Penal Militar, ambos anteriores à Constituição de outubro de 1988.

Como cidadão e principalmente como oficial superior do Exército, ele tem a obrigação de defender e cumprir o que determina a Constituição Federal, Lei maior do País. Porém ele nunca a respeitou, já que ajudou a rasgá-la em abril de 1964, e agora chama a Constituição Cidadã de 1988 de “colcha de retalhos”. Diz ainda que a Constituição “é tão falsa que todo dia alguém apresenta mudança”.
Esse General, que ainda chama a quartelada de 1º de abril de revolução, é um intransigente defensor das carcomidas oligarquias que não se conformam com o fato de Lula ser hoje uma das maiores lideranças mundiais, recebendo um sem-número de condecorações de governos, entidades e até de jornais e revistas, inclusive de órgãos conservadores, da América Latina, dos Estados Unidos e da Europa.
Tirar 25 milhões de brasileiros da miséria e levar mais de 35 milhões à classe média; levar mais de 700 mil filhos de operários e camponeses pobres à universidade, estancar o criminoso processo de privatização do patrimônio público, falar de igual pra igual com os Estados Unidos, o Paraguai e a Bolívia, propiciar viagens de avião a milhares que nuca sequer sonharam com isso, dar condições dos pobres comerem carne diariamente, e até poder comprar motos e carros é demais.
O general Torres de Melo também não esconde o seu ódio irracional aos movimentos populares, notadamente ao Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem terra (MST). Aos que participam desses movimentos ele chama de criminosos, daí criticar com veemência o então presidente Lula por dialogar com todos eles.
No próximo artigo farei algumas perguntas e gostaria de vê-las respondidas pelo General Torres de Melo.

foto do gal. Torres de Melo, sem crédito.

grifo do site.

SERRA DO LUAR – de walter franco / são paulo


Amor, vim te buscar
Em pensamento
Cheguei agora no vento
Amor, não chora de sofrimento
Cheguei agora no vento
Eu só voltei prá te contar
Viajei…Fui prá Serra do Luar
Eu mergulhei…Ah!!!Eu quis voar
Agora vem, vem prá terra descansar

Viver é afinar o instrumento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro

Amor, vim te buscar
Em pensamento
Cheguei agora no vento
Amor, não chora de sofrimento
Cheguei agora no vento
Eu só voltei prá te contar
Viajei…Fui prá Serra do Luar
Eu mergulhei…Ah!!!Eu quis voar
Agora vem, vem prá terra descançar

Viver é afinar o instrumento (de dentro)
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro

Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranquilo
Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranquilo
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro

Piano aparece em banco de areia no meio do mar em Miami /eua

Autoridades não sabem como o piano foi parar no local.
Instrumento está a 180 metros da praia, na Baía de Biscayne.

 

Um piano apareceu em um banco de areia a cerca de 180 metros da praia, na Baía de Biscayne, em Miami, no estado da Flórida (EUA). As autoridades locais ainda não sabem como o piano de cerca de 300 quilos foi parar no local.

A Comissão de Pesca e Vida Silvestre da Flórida (FWC) disse que não fará nada para tirar o piano do banco de areia. “Pode haver aves que queiram se inspirar e resolvam pousar no piano. Por que não?”, afirmou o porta-voz da FWC em Miami, Jorge Pino.

Barco da guarda costeira passa próximo ao local onde está o piano.Barco da guarda costeira passa próximo ao local onde está o piano. (Foto: Wilfredo Lee/AP)

Do G1, em São Paulo

A história de um crime de 20 trilhões de dólares – por marco aurélio weissheimer / são paulo

  • Documentário que será lançado em fevereiro no Brasil mostra o comportamento criminoso de agentes políticos e econômicos que conduziu à crise mundial de 2008. Essa conduta criminosa provocou a perda do emprego e da moradia para milhões de pessoas. “Inside Job” (que ganhou o título de “Trabalho interno” em português) conta um pouco da história que Wall Street e seus agentes pelo mundo querem que seja esquecida o mais rápido possível. Documentário resultou de uma extensa pesquisa e de uma série de entrevistas com políticos e jornalistas, revelando relações corrosivas e promíscuas entre autoridades, agentes reguladores e a Academia.

Como causar uma quebradeira de 20 trilhões de dólares, por meio de uma farra de negócios especulativos, e cobrar a conta de milhões de pobres mortais que não participaram da festa? O documentário Inside Job (“Trabalho interno”, em português) responde essa pergunta mostrando o comportamento criminoso de agentes políticos e econômicos que conduziu à crise econômica mundial de 2008. Essa conduta criminosa provocou a perda do emprego e da moradia para milhões de pessoas.
Dirigido por Charles Ferguson (mesmo diretor de No End in Sight) e narrado por Matt Damon, o documentário conta um pouco da história que Wall Street e seus agentes pelo mundo querem que seja esquecida o mais rápido possível. Para repeti-la, provavelmente.

O documentário resultou de uma extensa pesquisa e de uma série de entrevistas com políticos e jornalistas, revelando relações corrosivas e promíscuas entre autoridades, agentes reguladores e a Academia.

Em No End in Sight, Ferguson faz uma análise sobre o governo de George W, Bush e sua conduta em relação à Guerra do Iraque e a ocupação do país, questionando as mentiras utilizadas pelas autoridades norte-americanas para sustentar a ocupação. Agora, em Inside Job, mais uma vez o diretor expõe uma teia de mentiras e condutas criminosas que prejudicaram seriamente (e seguem prejudicando) a vida de milhões de pessoas. Agende-se: a estreia do documentário no Brasil está prevista para o dia 18 de fevereiro.

“Se você não ficar revoltado ao final do filme, você não estava prestando atenção” – diz uma das frases promocionais do documentário. Uma revolta necessária, pois, neste exato momento, muitos dos agentes causadores da crise (do roubo, seria melhor dizer) voltaram a dar “conselhos” para governos e sociedades. Algumas das mais novas vítimas são gregos, irlandeses, espanhóis, portugueses e outros povos europeus que estão sendo “convidados” a “aceitar a ajuda do FMI”.

Os arautos das privatizações e da desregulamentação seguem soltos como se nada tivesse ocorrido. Inside Job mostra as entranhas deste mundo de cobiça, cinismo e mentira. São estes criminosos, no frigir dos ovos, que seguem dando as cartas no planeta. Preparem o estômago, abram os olhos e ouvidos e não deixem de ver esse filme.

Mão gigante de alumínio ‘agarra’ carro em escultura em Londres

Obra vai ficar exposta em praça londrina até abril.
Ela é da autoria de Lorenzo, filho do ator Anthony Quinn.

ESCOLA NACIONAL FLORESTAN FERNANDES convida :

Romero Britto celebra vitória de Dilma com anúncio no ‘NYT’ – editoria

Por achar a presidente Dilma Rousseff “uma coisa maravilhosa”, o artista plástico Romero Britto decidiu homenageá-la.

Publicou, na edição desta semana da “The New York Times Magazine”, a revista dominical do “The New York Times”, um anúncio de página inteira.

Para tanto, calcula ter gasto US$ 20 mil (cerca de R$ 33,5 mil). Aos domingos, a tiragem da revista fica em torno de 400 mil exemplares.

Pernambucano com galeria em Miami, autor de murais ultracoloridos, Britto usou a peça publicitária para apresentar sua versão de Dilma ao público americano.

A presidente é retratada com as cores fortes que caracterizam a obra do artista, com pinturas nas bochechas que lembram o personagem Pablo do programa “Qual é a Música?”, do SBT.

Acima da imagem, lê-se “parabéns, minha querida, a nova presidente do Brasil”.
Na sequência, o artista parabeniza “todas as mulheres da América Latina”.

Britto diz que, dos amigos americanos, só ouve “comentários positivos” sobre a sucessora de Lula.

A empolgação pela “primeira mulher presidente”, segundo ele, foi contagiante. Nos Estados Unidos durante as eleições, afirma ter feito questão de votar na petista lá mesmo.

Ele não sabe se Dilma já ficou a par da homenagem, mas disse que pretende presenteá-la com a arte em sua próxima visita ao Brasil. Espera que seja no Carnaval.

No anúncio da revista, abaixo da reprodução da pintura com o rosto da petista, há seis fotos da inauguração do Hospital da Mulher, em São João de Meriti (RJ), em março passado –quando a campanha eleitoral estava a pleno vapor.

Aparecem nos retratos Dilma, Britto, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e seu secretário de Saúde, Sérgio Côrtes.

 

A presidente ou a presidenta? – por prof. pasquale cipro neto / são paulo

O professor PASQUALE CIPRO NETO tira a dúvida.
Que têm em comum palavras como “pedinte”, “agente”, “fluente”, “gerente”, “caminhante”, “dirigente” etc.? Não é difícil, é? O ponto em comum é a terminação “-nte”, de origem latina. Essa terminação ocorre no particípio presente de verbos portugueses, italianos, espanhóis…
Termos como “presidente”, “dirigente”, “gerente”, entre inúmeros outros, são iguaizinhos nas três línguas, que, é sempre bom lembrar, nasceram do mesmo ventre. E que noção indica a terminação “-nte”? A de “agente”: gerente é quem gere, presidente é quem preside, dirigente é quem dirige e assim por diante.
Normalmente essas palavras têm forma fixa, isto é, são iguais para o masculino e para o feminino; o que muda é o artigo (o/a gerente, o/a dirigente, o/a pagante, o/a pedinte). Em alguns (raros) casos, o uso fixa como alternativas as formas exclusivamente femininas, em que o “e” final dá lugar a um “a”. Um desses casos é o de “parenta”, forma exclusivamente feminina e não obrigatória (pode-se dizer “minha parente” ou “minha parenta”, por exemplo). Outro desses casos é justamente o de “presidenta”: pode-se dizer “a presidente” ou “a presidenta”.
A esta altura alguém talvez já esteja dizendo que, por ser a primeira presidente/a do Brasil, Dilma Rousseff tem o direito de escolher. Sem dúvida nenhuma, ela tem esse e outros direitos. Se ela disser que quer ser chamada de “presidenta”, que seja feita a sua vontade -por que não?

 

O Poder Judiciário na mira da sociedade – por dora martins /são paulo




Votamos a cada quatro anos, e todo ano sofremos a tristeza de ver brasileiros e brasileiras perderem a vida por descura do poder público. Desastres das chuvas de janeiro se repetem há décadas e ficamos, no fundo, todos impotentes, tristes, revoltados, e à espera que tudo, de novo, aconteça. Falta-nos lembrar de todas essas desgraças na hora do voto, na hora de exigir o que é devido daqueles que colocamos no Poder, para que façam por nós o que sabemos que deve ser feito.

A participação da sociedade na condução das políticas implementadas pelo Estado deve ser estendida e cada vez maior, pois é o único modo de se avançar com a democracia.

O Poder Judiciário foi alvo de uma larga pesquisa feito pelo IPEA, em 2010, e dela obteve a baixa nota 4,55. Com isso, está dado o recado: o Poder Judiciário precisa ofertar ao povo brasileiro um novo formato de justiça, e que a prestação dela se dê de forma correta, eficiente e no tempo certo. Faz-se necessária a urgente reforma política ampla, que abranja todos os poderes do Estado e que cada Poder atue de modo a garantir o bem estar dos cidadãos.

No foco das reformas políticas que abrangem o Judiciário, está o Supremo Tribunal Federal.  Hoje, ele que é órgão máximo do Poder Judiciário, cuida de questões várias, advindas dos demais tribunais estaduais e federais.

Um dos pontos da reforma que se espera é que o STF cumpra apenas seu papel maior, qual seja um tribunal constitucional, que cuide de nossa Constituição com exclusividade e profundidade, pois está ela repleta de nossos mais caros princípios que devem defendidos quando atacados e garantidos quando postos em risco.

A presidenta Dilma nomeará, durante seu mandato, pelo menos três ministros do STF. Para poder disputar uma vaga de ministro do STF, o candidato ou candidata deve ter “mais de 35 e menos de 65 anos, ter notável saber jurídico e reputação ilibada” (art. 101 da CF). Assim sendo, a nossa Presidenta pode contribuir com a reforma política, desde já, sem muito esforço, e sem vulnerar seu poder no processo de nomeação do novo ministro ou ministra.  Basta que ela dê transparência e democratize esse processo de nomeação. Para tanto pode a Presidenta Dilma divulgar e dar publicidade dos nomes dos candidatos e candidatas ao cargo do STF. Com isso, será possível ao cidadão brasileiro, suas entidades de classe, suas associações debaterem e se manifestarem, formalmente, sobre os candidatos e candidatas ao cargo de ministro. Afinal, o que almejam esses candidatos e candidatas é, nada mais nada menos, ser a voz da Justiça brasileira, em seu mais alto patamar.

Com tal proceder, a nossa Presidenta estará prestigiando a participação social na construção da democracia brasileira. Permitir que o povo conheça, discuta, opine e seja ouvido é valorizar a cidadania em seu grau mais relevante.

É direito do cidadão saber o que o candidato ou candidata a ministro do STF pensa, como agiu e age ele ou ela na defesa dos princípios constitucionais e quais são seus compromissos com a construção de uma sociedade menos desigual e mais garantidora da dignidade humana.

É hora, pois, de nossa presidenta fazer a história. E, você, cidadão ou cidadã, faça sua parte. Mande mensagens para a Presidente Dilma, e peça essa transparência no trato com questões tão fundamentais.

Dora Martins é Integrante da Associação Juízes para a Democracia.


SÃO PAULO, PORQUE TE AMO – por zuleika dos reis / são paulo


Embora seja hoje o dia do teu aniversário, talvez eu devesse me deter na enunciação dos desmandos de que és vítima todo o tempo, desmandos das autoridades, desmandos de boa parte do povo que te habita, povo vítima, por sua vez, da falta de Educação, da falta do sentimento de cidadania, desmandos pelos quais tu, São Paulo, pagas, na tua gente mais pobre, mas também nas tuas gentes das várias classes sociais, pagamentos mais dramáticos ainda do que  ao longo do ano nestes tempos de chuvas, quando vem à tona o lixo acumulado no fundo dos teus rios, quando tantos perdem as suas já precaríssimas moradias, quando  carros boiam e outros afundam sob o peso das águas (…); como dizia, talvez eu me devesse deter na enunciação desses e de outros tantos horrores que marcam a trajetória das tuas ruas, dos teus dias. Não, eu não quero deter minhas palavras em tais horrores.

Poderia, pelo contrário, deter-me na enunciação do que tens de belo, na amplidão da tua vida cultural, na beleza dos teus parques, na variedade dos teus povos, na procura de caminhos de resgate para teus problemas por muitos dos seres que verdadeiramente te amam (…); no entanto, quero apenas fazer-te uma declaração de amor:

Tu, São Paulo, és como tem sido em mim o amor pelos homens da minha vida, pela poesia, pela música (…): amor difícil, contraditório, miserável e opulento, todo o tempo a oscilar entre o inferno e o céu. Assim, já que partilhas da tônica sempre presente nos meus modos de amar, não me resta outra escolha (até por coerência) senão continuar a amar-te também assim, com a volúpia do meu corpo, com o sentimento do meu coração e da minha alma, exatamente como tenho amado, ao longo da vida, os outros amores todos da minha vida.

 

A ESMOLA DE DULCE – de augusto dos anjos / sapé.pb

 

Ao Alfredo A.

E todo o dia eu vou como um perdido
De dor, por entre a dolorosa estrada,
Pedir a Dulce, a minha bem amada
A esmola dum carinho apetecido.

E ela fita-me, o olhar enlanguescido,
E eu balbucio trêmula balada:
– Senhora dai-me u’a esmola – e estertorada
A minha voz soluça num gemido.

Morre-me a voz, e eu gemo o último harpejo,
Estendendo à Dulce a mão, a fé perdida,
E dos lábios de Dulce cai um beijo.

Depois, como este beijo me consola!
Bendita seja a Dulce! A minha vida
Estava unicamente nessa esmola.

 

Tentativa número 3 – de “sofista pirateado”


Tentem os homens de forte fé

Ou tantos incrédulos da ciência

Explicarem a mim isso o que é

Desculpa para tédio ou doença:

 

Já não sou mais o mesmo menino

Se sou pensei ter crescido homem

Enganou me o tempo e o destino

E à noite os meus sonhos somem

Como tivesse todas as moléstias

Fraco dos nervos, até da cabeça

Coitado que não vai mais às festas

Quer mais que o mundo o esqueça

Como, com que força, que vontade

Meus sentidos transmudam, tremem

Vou falar, frases saem pela metade

Mudo minha cara, não me entendem

Como entenderiam minhas lágrimas

Esse tormento que aflige meu estar

Essa febre que não passa, trágicas

Sinfonias frias que teimo em escutar

Perdi a fome mesmo, pareço fraco,

Pareço pedaços, sou feito de vidro

Feito cacos do velho espelho opaco

Que os meus sonhos têm refletido.

Ainda te amo mesmo partindo

Esta estrada não tem distância

Amarei-te longe por lembrança

E será meu lembrar mais lindo.

 

 

Cidade na Índia realiza competição de pintura facial / ahmedabad

22/01/2011 11h42 – Atualizado em 22/01/2011 11h58

Concurso foi realizado na cidade de Ahmedabad, no oeste do país.
Campeonato ocorreu neste sábado (22).

 

Competição de pitura de rosto na ÍndiaParticipante pinta o rosto para competição de pintura facial realizada na cidade de Ahmedabad, no oeste da Índia. (Foto: Amit Dave/Reuters)
Competição de pitura de rosto na ÍndiaHomem se prepara para competição de pintura facial na Índia. (Foto: Amit Dave/Reuters)
Competição de pitura de rosto na ÍndiaCompetidora mostra sua pintura facial artística usada em campeonato. (Foto: Amit Dave/Reuters)

Do G1, em São Paulo

EUA criam projeto para grampear internet – por altamiro borges / são paulo



Onda tende a ganhar maior impulso devido ao impacto dos vazamentos pelo Wikileaks de memorandos da diplomacia estadunidense

Na edição de dezembro último, a revista Superinteressante trouxe uma notícia que deve preocupar os defensores da liberdade na internet. Ela reforça o temor de que está em curso uma ofensiva mundial para controlar e restringir o uso da rede. Esta onda tende a ganhar maior impulso devido ao impacto dos vazamentos pelo Wikileaks de memorados da diplomacia estadunidense.

“Um novo projeto de lei, que será apresentado ao Congresso dos EUA nas próximas semanas, pode representar o mais duro golpe já visto contra a liberdade na internet. Proposta pelo governo Obama, a lei determina que todas as empresas de internet sejam obrigadas a instalar sistemas de grampo para capturar os dados enviados e recebidos por seus usuários”, descreve a revista.

Vigilância das agências de espionagem

Ainda segundo a reportagem, “isso significa que todos os meios de comunicação existentes na web (de serviços de e-mail, como o Gmail, até programas de telefonia, como Skype) teriam de abrir brechas para as agências de espionagem do governo. A medida afetaria inclusive empresas sediadas fora dos EUA (como a Skype Inc., por exemplo, cujo escritório fica em Luxemburgo), que seriam obrigadas a manter computadores em território americano para instalação dos grampos”.

O governo ianque garante que a medida visa investigar as ações terroristas e que os grampos serão feitos com mandado judicial. Mas a desculpa é esfarrapada. Em 2006, por exemplo, a Agência de Segurança Nacional (NSA) manteve um grampo ilegal na operadora AT&T- cujo tráfego era automaticamente desviado, sem autorização judicial, para os espiões do governo ianque.

Restrições na Itália de Berlusconi

Nesta ofensiva mundial contra a liberdade na internet, cada país usa um pretexto. Na Itália, segundo artigo do Portal Imprensa, o governo de Silvio Berlusconi já impôs uma resolução que regula sítios como Youtube e Vimeo com as mesmas regras da televisão. A desculpa, no caso, é o da proteção da propriedade intelectual e do controle da produção de conteúdo.

A medida torna estas páginas “suscetíveis às mesmas punições das emissoras do país… A pasta das comunicações argumenta que se um site é curador do conteúdo gerado pelos usuários, ainda que por meio de algoritmos automáticos, significa que ele exerce controle editorial. Logo, deve ser submetido às regras aplicadas às estações de TV. Agora, responsáveis legalmente pelo conteúdo, os sites serão obrigados, assim como as TVs, a retirar um vídeo do ar no prazo de 48 horas”.


O AI-5 Digital do tucano Azeredo

Como se observa, as medidas de restrição à liberdade na internet fazem parte de uma onda mundial, orquestrada e pró-ativa. O senador Eduardo Azeredo, do PSDB/MG, apenas pegou carona nesta cruzada de “vigilantismo” – o tucano mais se parece com um papagaio repetitivo. O projeto de lei 84/99, aprovado em duas comissões da Câmara Federal em outubro passado, também criminaliza várias práticas cotidianas da rede e coloca em risco a própria privacidade dos internautas.

A desculpa, no Brasil, é ainda mais cômica. O senador tucano afirma que projeto visa impedir a pedofilia na rede. Mas tais crimes não ocorrem devido à internet e o próprio sistema disponibiliza os endereços dos criminosos. Na prática, sua proposta representa um duro golpe à liberdade de expressão. Não é para menos que o projeto foi apelidado de AI-5 Digital, numa referência irônica ao ato institucional da ditadura militar, de 1968, que recrudesceu ainda mais o autoritarismo no Brasil.

ARIJO – de jairo pereira / quedas do iguaçu.pr

ARIJO

 

Nasci Arijo Jairo Oriaj

filho de Dinarte e Lucilla

na tela em amarelo de março

três da tarde de 56

Um anjo anêmico me tocou a face

A casa velha, dourada de periferia

Signos ludindo no porão

O pai operário, a mãe do lar

Operária de pães enormes

Um forno pra sete filhos

Tudo em amarelo

Todas as telas, as vias

as abóboras, as significâncias

Rua Goytacás esquina com

Carijós, Vila Fátima de um

Passo Fundo perdido no tempo.

Feitiços na esquina. Linhas, laços

vermelhos, trançagens.

Minha identidade firmada

nas folhas da mata sobrevivida

que sobrevivi.

Em Arijo, li, reli o livro enterrado

no eucaliptal da infância

li, reli a fábula do poeta

Lagartixas e borboletas

no bosque da caça permitida

do futuro

E havia uma floresta permitida do

futuro

onde um ser de luz (o anjo

anêmico) da primeira visita

mostrava o caminho.

 

SENADOR ÁLVARO DIAS/PR quer receber R$1.600.000,00 de aposentadoria “atrasada” como ex-governador! claro, é da turma do Serra e líder da oposição ao BRASIL!

Vocês pensam que é barato aplicação de botox

janeiro 20th, 2011 |  Autor: CelsoJardim
O senador paranaense Alvaro Dias (PSDB), que recebe aposentadoria como ex-governador desde outubro do ano passado, solicitou à Secretaria de Estado da Administração o pagamento retroativo de cinco anos do benefício.
Se o pedido for aceito pelo governo estadual, o senador poderá receber R$ 1,6 milhão dos cofres públicos.
Pela legislação vigente no Paraná, Alvaro teria direito à pensão vitalícia desde que deixou o governo do estado, em 1991. Como só fez o pedido no ano passado, decidiu solicitar os valores retroativos.
De acordo com o governo do estado, a solicitação de Alvaro foi encaminhada para a Procurado ria-Geral do Estado na última sexta-feira para análise jurídica.
Só depois do parecer vai ser anunciado se o pagamento ocorrerá e como será feito.
A aposentadoria dos ex-governadores no Paraná hoje é de R$ 24,8 mil, com direito a 13 pagamentos por ano. Caso o senador conseguisse receber as 65 mensalidades que solicitou pelo valor atual, receberia R$ 1,6 milhão.
Isso seria suficiente para quase dobrar o seu patrimônio pessoal. Na última eleição que disputou, em 2006, Alvaro afirmou, à Jus tiça Eleitoral, possuir um patrimônio de R$ 1,9 milhão.
*Celso Jardim com Gazeta do Povo

CRUCIFIXÃO – de joão batista do lago / são luis



Lavo, pois, minhas mãos,

Ieshua Ha-Nozri.

Tu és o único culpado.

Tua muda palavra

Caluda no palco das

Crucificações não te liberam do

Veredito que me impões tomá-lo.

Aceito, pois, tua condenação eterna:

Teu algoz não o sou…

Teu algoz – o povo que hoje te adora e me condena! –

Deblatera orações nas igrejas dos miseráveis e

Libera, como loucos insaciáveis,

Suas dores em terços de rosários,

Onde cultivam pedaços de céus nas litanias dos falsários.

Em meu favor, apenas a água benta e santa!

Somente ela é sabedora da minha eterna dor:

Carrego nos ombros o peso de condenar-Te.

Mas preferiram-Te – a Ti – que ao ladrão…

Eu, sim, sou o crucificado, não o condenador.

E no dia do Teu retorno presta um favor a toda essa multidão:

Desfaz toda essa confusão sobre tua condenação.

P Á S S A R O S – por jorge lescano / são paulo


 

Brisa de abril

como flechas de sombras

os pássaros voltam.

 

água dos pássaros. Frase vinda de outro lugar ou tempo, palavras cujo eco chega sem antes nem depois. Palavras sem destino à procura de suas origens? Às vezes Suécia, Noruega ou Dinamarca, às vezes nada. E cada palavra é um fato: palavra pássaro ou nós. Anoto a frase quando possível, ou as circunstâncias em que aparece. Em algumas ocasiões – nem sempre: o vôo é rápido -, ponto de partida para frases impensadas se aninhando em torno dela, ou prolongando seu vôo, mesmo quando em direção oposta: cada pássaro é um universo de plumas e cores e vôos e gritos alheios ao virtual ouvinte, livres por tanto. Talvez a frase tenha algum sentido antigo oculto na memória ou na tensão dos nervos, significado a ser desvendado pelo desenrolar do texto que origina. Percebo o vôo como a porta de um labirinto imaginário e cuja construção só poderá ter a finalidade de justificar a porta. Talvez a migração destas palavras seja apenas um pretexto para o vôo solitário (meu e talvez teu), ou este seja uma forma de nos fazer ver o espaço circundante: sombra na página em branco e pote de água para pássaros mas sem pássaros à vista, porém sempre possíveis: palavras em vôo dispersas na superfície do papel: grafismos sem outra função que a de existirem, como quem as anota e/ou lê rapidamente, antes de fugirem: pássaro nunca imóvel. Depois do eco, a contemplação e a procura de outro significado: outras palavras?, pois o vôo não fica gravado no espaço. E se fica, o que desenha? Palavras manuscritas: garras na neve do pensamento: lago virgem antes do pouso. Adejar de palavras: sons, grafismos, conceitos relativos: vôos incompletos e ao mesmo tempo auto-suficientes. Por isso: deixar agora que o texto seja um vôo anárquico apenas para nós por uma vez deixá-lo debandar sobre a rigidez geométrica do plano e ainda que só encontre sentido entre nossos iguais que seu vôo adquira forma no barro de nossos pensamentos sabendo que seu pouso é uma escolha e não a razão do seu ser-pássaro sempre aquém e/ou além da mirada à margem do silêncio inapreensível forma em branco que não se diz e que talvez voe rasante sobre a tua e a minha pele

 

 

Deus ‘quer’ wi-fi grátis, onipresente e sem senha, diz ícone do software livre

 

John Hall, da Linux International, participou de evento na Campus Party.
Segundo ele, é possível fazer dinheiro usando hardware e software livres.


Jon 'Maddog' Hall, durante palestra na Campus PartyJon ‘Maddog’ Hall, durante palestra na Campus Party 2011 (Foto: Daigo Oliva/G1)

Uma das figuras mais importantes do movimento que defende o uso de software livre participou da Campus Party 2011 nesta quarta-feira (19) para convencer as pessoas loucas por tecnologia a usarem seu conhecimento para ajudar os outros. Jon Hall, que há anos luta para se livrar do apelido “Maddog” (em inglês, “cachorro louco”), defendeu ainda a distribuição gratuita de internet via wi-fi nos grandes centros urbanos.

“Internet sem fio livre, que não precisa de senha e de termos. Foi assim que Deus entendeu que a internet deveria ser”, afirmou o atual diretor-executivo da Linux International. No evento, Hall voltou a falar no Projeto Cauã, apresentado em julho de 2010 na última Feira Internacional do Software Livre (fisl) em Porto Alegre. O projeto tem como objetivo criar computadores simples e baratos, conhecidos com “thin clients”, para democratizar o acesso à informação.

“Eu fui vendedor de sistema de computação para levar os computadores para as pessoas. Mas vocês são muito ‘geek’. Vocês ficam tão focados na tecnologia que se esquecem de algumas coisas, como tomar banho”, brincou Maddog.

Durante a palestra, ele explicou como é possível ser um empreendedor e fazer dinheiro usando hardware e software livres. “No Brasil, a internet não está tão longe das pessoas que não tem acesso. Eu quero mostrar como todo mundo pode ter internet”, disse.

Segundo “Maddog”, essas pessoas poderiam usar dispositivos de acesso baratos e buscar informação e treinamento para conseguir um novo emprego. “Eu quero criar milhões de empregos, criar computadores mais sustentáveis e fáceis de usar. Nós achamos fáceis porque somos ‘geeks’ e gostamos se sofrer”.

Laura BrentanoDo G1, em São Paulo.

19/01/2011 15h15 – Atualizado em 19/01/2011 15h15

MINISTRO GILMAR MENDES cria confusão desnecessária ou com objetivos “ocultos” com os suplentes da Câmara Federal

19/01/2011 – 07h00

STF provoca confusão com suplentes

Uma decisão tomada no ano passado abre dúvida sobre quem assumirá como deputado no lugar daqueles que saíram para ser secretários ou ministros. A decisão do Supremo pode modificar um critério que é usado há décadas

 

Para David Fleischer, Gilmar Mendes não entendeu como funciona o sistema de eleição dos deputados no país

 

Em dezembro do ano passado, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) determinaram que a Câmara dos Deputados empossasse o primeiro suplente do partido, e não da coligação, no lugar do ex-deputado Natan Donadon (PMDB-RO), que havia renunciado ao mandato. A decisão, em caráter liminar, instalou dúvidas jurídicas e suscitou críticas ao STF. Isso porque pode modificar a composição das bancadas federais, já que pelo menos 41 parlamentares se licenciarão para assumir secretarias e ministérios. Se prevalecer a decisão do STF, as vagas serão preenchidas de uma forma diferente da que a Câmara vem usando há cinco décadas. Um critério que está sendo usado agora, para empossar suplentes que entram nas vagas dos atuais parlamentares, como, por exemplo, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), que assumiu o Ministério da Justiça.

A confusão se dá porque suplentes estão entrando no STF pedindo que a mesma decisão tomada no caso de Natan Donadon os favoreça. Até o momento, dois suplentes entraram no STF com mandados de segurança pedindo para serem declarados como primeiro suplente. Desta maneira, assumiriam o mandato de deputado federal logo após os titulares dos cargos se afastarem para atuar no Executivo. O último deles foi Carlos Victor da Rocha Mendes (PSB). Com 27.286 votos, ele foi diplomado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) como segundo suplente da coligação formada pelo PSB e pelo PMN.

Ele quer que o Supremo conceda uma liminar para entrar na vaga deixada por Alexandre Cardoso (PSB), eleito deputado federal e confirmado por Sérgio Cabral para a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro. Pela regra usada pela regra, que determina que toma posse o suplente mais votado da coligação eleita, quem assume no lugar de Alexandre Cardoso é Alberto Lopes, do PMN.

Além dele, também entrou no Supremo e espera o recesso do Judiciário acabar o suplente Humberto Souto (PPS-MG). O caso dele é o mesmo de Rocha Mendes. Ele quer ficar na vaga de Alexandre Oliveira (PPS-MG), eleito deputado e que tomou posse como secretário de Gestão Metropolitana do governo mineiro. No mandado de segurança, Souto usa como argumento parte da decisão do STF em dezembro. Ele argumenta que os efeitos da coligação cessam com o fim das eleições. A partir daí o que vale, na visão do suplente, é o desempenho do partido.

“O ministro não entendeu”

A lógica da maioria dos ministros do STF contraria o que está previsto no Código Eleitoral. Nele, está a previsão de que, para as eleições, as coligações equivalem a um partido político. “Isso indica que o ministro não entendeu como funcionam as coligações para as eleições proporcionais”, disparou o cientista político da Universidade de Brasília (UnB), David Fleischer. Ele se referiu ao voto do ministro Gilmar Mendes, relator do caso no Supremo que abriu toda a polêmica.

No dia 9 de dezembro do ano passado, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) concederam liminar em Mandado de Segurança (MS 29988) impetrado pela Comissão Executiva do Diretório Nacional do PMDB e determinaram que a vaga decorrente da renúncia do deputado Natan Donadon (PMDB-RO),  ocorrida no último dia 27 de outubro, seja ocupada pela primeira suplente do partido, Raquel Duarte Carvalho. Pelo critério da coligação, quem deveria ter tomado posse era Agnaldo Muniz. Mas havia uma particularidade no caso dele. Quando Donadon renunciou, Agnaldo Muniz já não estava mais filiado ao PP, o partido que se coligara ao PMDB nas eleições de 2006.

Mendes, no seu voto, disse que a jurisprudência, tanto do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quando do STF, é firme no sentido de que o mandato parlamentar conquistado no sistema eleitoral proporcional pertence ao partido. Como base, ele usou a resolução do TSE que regulmentou a fidelidade partidária. A norma estabelece que o mandato pertence à legenda, e não ao candidato. Em segundo lugar porque a formação de coligação é uma faculdade atribuída aos partidos políticos para disputa do pleito, tendo caráter temporário e restrito ao processo eleitoral. O problema, na opinião dos que divergem da decisão dos ministros, é que a relação dos suplentes no caso da Câmara obedece a um resultado eleitoral: eles são os mais bem votados logo abaixo daqueles que foram eleitos deputados. Se a coligação foi usada no cálculo da escolha dos titulares, logicamente deve ser usada também no caso do suplentes.

Queda de braço

“A coligação foi feita lá atrás, espero que essa decisão do STF seja revista”, afirmou o deputado Augusto Carvalho (PPS-DF). Eleito federal em 2006, não conseguiu a reeleição na eleição passada. Acabou ficando como segundo suplente na coligação entre PPS e PT. Como dois petistas fazem parte do governo de Agnelo Queiroz (PT) – Geraldo Magela e Paulo Tadeu –, ele deve assumir o mandato após a posse dos eleitos.

No entanto, se o Supremo confirmar o entendimento de que deve assumir o primeiro suplente do partido, e não da coligação, Carvalho pode perder o cargo. O parlamentar, que chegou a ser secretário de Saúde no governo de José Roberto Arruda (ex-DEM), pode ser substituído por João Maria, petista que obteve 2.199 votos em outubro passado, cerca de 16 mil a menos do que Augusto (18.893).

Augusto tem confiança que a Câmara mantenha o entendimento do caso de Natan Donandon. Ao receber a decisão do Supremo, o vice-presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), enviou a decisão para ser analisada pelo corregedor ACM Neto (DEM-BA). A Mesa Diretora, com base em relatório feito pelo demista, decidiu cumprir a determinação do STF. No entanto, resolveu que ela só valeria para o caso específico, não passaria a ser usada como regra para os demais, a não ser que eles também entrassem na Justiça. Ou seja: a decisão da Câmara pode estabelecer uma queda de braço com o Supremo, caso ele mantenha a decisão ao julgar outras ações.

“Se a decisão do STF for estendida aos outros casos, isso vai desvirtuar o processo eleitoral brasileiro, pois as coligações, na prática, anulam individualmente os partidos e têm efeitos que vão até depois das eleições. Não vejo como o Supremo poderia mudar esse entendimento, que é histórico”, disse o corregedor da Câmara no seu relatório. A decisão da Casa ocorreu em 1º de janeiro, logo após a posse de Dilma Rousseff como presidenta da República.

Um dos pontos do relatório de ACM Neto é que os efeitos das coligações duram toda a legislatura. Afinal, o quociente partidário foi calculado com base na votação da união dos partidos nas eleições. “Permitir que as coligações tenham efeito para a formação do quociente partidário e, depois, cassar dos partidos que a compuseram até mesmo o direito à suplência gera situações profundamente iníquas em relação às siglas coligadas e ao eleitorado”, apontou o deputado baiano.

“Idiota”

David Fleischer não poupa o Supremo, na decisão que considera totalmente equivocada. Para ele, a postura do STF foi “idiota e pontual”. No entendimento do cientista político da UnB, a interpretação da Câmara, diante da confusão, foi correta. Ele vislumbra, no caso, uma boa oportunidade para os parlamentares apresentarem um projeto de reforma política que acabe com divergências do tipo. Porém, lembra que os deputados tiveram outras oportunidades, como na resolução que regulamentou a fidelidade partidária. “Naquela oportunidade, a Câmara se mostrou inábil. A mesma coisa deve acontecer agora”, opinou Fleischer.

Em entrevista à Agência Câmara, o ex-ministro do STF Carlos Velloso avalia que um precedente importante foi aberto para futuras manifestações do tribunal. “A decisão do Supremo está correta, pois se o mandato pertence ao partido é o suplente do partido que deve assumir, mas foi aberto um precedente sério e isso deverá levar outros partidos a pleitearam o mesmo”, declarou. Há duas semanas, a vice-presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia, afirmou em Belo Horizonte que a corte eleitoral deve iniciar os trabalhos deste ano resolvendo as divergências sobre a nomeação de suplentes na Câmara dos Deputados e nas assembleias legislativas.

Mario Coelho.

A DEMOCRACIA CHEGA ÀS CASERNAS, a contragosto dos DEMos e OUTROS facistas de plantão.

Comandante Dilma


17 jan 2011 – 07:15

O general Enzo Martins Peri, comandante do Exército, disse o seguinte em entrevista à revista Veja: “A presidente Dilma Rousseff foi eleita pelo povo de maneira legítima. É ela quem exerce o comando supremo das Forças Armadas. É a Dilma que prestamos continência”.

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é necessário afirmar que, com raras exceções, as gerações de oficiais das forças armadas, posteriores aos militares da metade do século passado, tem formação democrática e por isso elevou a moral e o respeito na caserna. os generais golpistas, aqueles que tinham contato estreito com os EUA em razão da II guerra mundial, não conseguiram fazer escola que pudesse envolver as novas gerações que  analisaram, com clareza, a participação das forças armadas no período da ditadura pós 1964.

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Banda Foreplay se apresenta no Centro Europeu / curitiba


Curitiba, 18/01/2011 – Nesta quinta-feira, dia 20 de janeiro, o Centro Europeu de Curitiba irá apresentar mais uma atividade da programação especial que conta com atrações musicais, exposições de arte, oficinas e workshops. A banda Foreplay, velha conhecida da noite curitibana, será a atração do dia e comanda um Pocket Show na sede da escola (Rua Brigadeiro Franco – 1700), a partir das 18h. Formada no ano de 2003, a banda é composta pelos músicos Leandro Bandeira (Voz), Julian Barg (Violão), Claudio Jardim (Baixo) e Lucio Trombini (Bateria). A entrada para a apresentação é gratuita. Mais informações pelo telefone (41) 3222-6669 ou no site www.centroeuropeu.com.br.

ATENDIMENTO À IMPRENSA

Lide Multimídia – Assessoria de Imprensa

Eduardo Betinardi

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MAYARA PETRUSO, SERRA, TUCANOS e DEMOS tem ódio de pobre e gostariam que os nordestinos voltassem para o nordeste ! (CULTURA)


Nordestinos são vítimas de preconceitos

na internet

Ter, 02 de Novembro de 2010

A estudante de direito paulista, Mayara Petruso decidiu manifestar sua insatisfação pela vitória de Dilma Rousseff (PT), nas eleições, com a divulgação de mensagens preconceituosas com relação à população nordestina.

As mensagens geraram polemicas após serem postadas no Twitter e no Facebook da estudante, mas após perceber o alcance delas foram deletadas imediatamente.

De acordo com as opiniões de Mayara, os nordestinos não tem condições de votar, pois são analfabetos e incompetentes. “Nordestisto não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado!”, afirmou em uma das mensagens no twitter.  “Afunda Brasil. Dêem direito de voto pros nordestinos e afundem o país de quem trabalha pra sustentar os vagabundos que fazem filhos pra ganhar o bolsa 171”, escreveu em seu Facebook.

As declarações da estudante se espalharam pela internet e a hastag #nodestisto – escrito incorretamente,apareceu nesta segunda-feira (1º), como a terceira palavra mais comentada pelos usuários do Twitter, de acordo com o Trending Tropics brasileiro.

Apesar de repugnar esses atos lamentáveis, não apenas na internet, mas na sociedade como um todo e muitas pessoas compartilham da opinião da Mayara. De acordo com a lei nº 7.716/89, da Constituição Federal, crimes como estes podem acarretar em até três anos de prisão.

Muitos twitteiros chegaram a fazer um movimento contra a jovem e outros paulistas que responsabilizaram o Nordeste pelo resultado das eleições, com a criação da hastag, o #orgulhodesernordestino e do perfil @nordestisto, com forma de ironizar as críticas aos nordestinos.

 

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DEFESA:

Não parece justo que Mayara seja demonizada como paulista racista, quando o mote da campanha eleitoral foi o da oposição entre as regiões

Sou neta de nordestinos, que vieram para São Paulo e trabalharam muito para que, hoje, eu e outros familiares da mesma geração sejamos profissionais felizes com sua vida neste grande Estado brasileiro.

É muito triste ler a frase da estudante de direito Mayara Petruso, supostamente convocando paulistas a afogar nordestinos.

Também é bastante triste constatar a reação de alguns nordestinos, que generalizam a frase de Mayara a todos os paulistas.

Igualmente triste a rejeição sofrida pelo candidato da oposição à Presidência da República, muito em função de ele ser paulista. Todos ouvimos manifestações no sentido de que, tivesse sido Aécio Neves o candidato, Dilma teria tido mais trabalho para se eleger.

Independentemente da tristeza que as manifestações ofensivas suscitam, e mais do que tentar verificar se a frase da jovem se “enquadraria” em qualquer crime, parece ser urgente denunciar que Mayara é um resultado da política separatista há anos incentivada pelo governo federal.

É o nosso presidente quem faz questão de separar o Brasil em Norte e Sul. É ele quem faz questão de cindir o povo brasileiro em pobres e ricos. Infelizmente, é o líder máximo da nação que continua utilizando o factoide elite, devendo-se destacar que faz parte da estigmatizada elite apenas quem está contra o governo.

Ultrapassado o processo eleitoral, que, infelizmente, aceitou todo tipo de promessas, muitas das quais, pelo que já se anuncia, não serão cumpridas, é hora de chamar o Brasil para uma reflexão.
Talvez o caso Mayara seja o catalisador para tanto.

O Brasil sempre foi exemplo de união. Apesar das dimensões continentais, falamos a mesma língua.

Por mais popular que seja um líder político, não é possível permitir que essa união, que a União, seja maculada sob o pretexto de se criarem falsos inimigos, falsas elites, pretensos descontentes com as benesses conferidas aos pobres e aos necessitados.

São Paulo, é fato, é fonte de grande parte dos benefícios distribuídos no restante do país. São Paulo, é fato, revela-se o Estado mais nordestino da Federação.

Nós, brasileiros, não podemos permitir que a desunião impere. Tal desunião finda por fomentar o populismo, tão deletério às instituições no país.

Não há que se falar em governo para pobres ou para ricos. Pouco após a eleição, a futura presidente já anunciou o antes negado retorno da CPMF e adiou o prometido aumento no salário mínimo. Não é exagero lembrar que Getulio Vargas era conhecido como pai dos pobres e mãe dos ricos.

Não precisamos de pais ou mães. Não precisamos de mais vitimização. Precisamos apenas de governantes com responsabilidade.

Se, para garantir a permanência no poder, foi necessário fomentar a cisão, é preciso ter a decência de governar pela e para a União.

Quanto a Mayara, entendo que errou, mas não parece justo que seja demonizada como paulista racista, quando o mote dado na campanha eleitoral foi justamente o da oposição entre as regiões.

Se não dermos um basta a esse estratagema para manutenção no poder, várias Mayaras surgirão, em São Paulo, em Pernambuco, por todo o Brasil, e corremos o risco de perder o que temos de mais característico, a tolerância. Em nome de meu saudoso avô pernambucano, peço aos brasileiros que se mantenham unidos e fortes!

*JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL, advogada, é professora associada de direito penal na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

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COMENTÁRIO:

Racismo às avessas

Lendo as absurdas argumentações da professora Janaina Paschoal “Em defesa da estudante Mayara”, lembrei que grandes pesquisadores do racismo e preconceito no Brasil, como Roger Bastide e Florestan Fernandes, denunciaram a lógica da inversão. Graças a ela, não apenas não somos racistas, como, ademais, tudo que acontece é culpa da vítima. Se não fossem os negros, os nordestinos, os pobres, as prostitutas, os homossexuais, se Lula não fosse presidente, a estudante Mayara não teria cometido o destempério de pedir o assassinato de ninguém e tampouco teria sido demonizada. Coitadinha dela!

Heloísa Fernandes, professora associada de Sociologia da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (São Paulo, SP)

viomundo.

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Garota que ofendeu nordestinos some da internet e da faculdade
Mayara

A estudante Mayara Petruso, que bem gostaria de levantar uma muralha para separar o Nordeste do restante do país, por ironia, nasceu no mesmo ano em que os alemães puseram abaixo o Muro de Berlim e a saudade que separava um mesmo povo entre capitalistas e comunistas – 1989.

Depois dos comentários preconceituosos feitos na internet, Mayara sumiu na mesma velocidade com que excluiu seus perfis nas redes sociais. Na madrugada de segunda, logo após a eleição de Dilma Rousseff (PT), ela pregou a morte de nordestinos no twitter. “Nordestino não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado”, escreveu.

A repercussão negativa das declarações fez Mayara se esconder. Desde o episódio, ela não aparece na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), em São Paulo, onde cursa, à noite, o sexto semestre de Direito. Segundo a assessoria da instituição, os alunos não realizaram manifestações nem de apoio nem de repúdio à estudante.

Família

Mayara Penteado Petruso, 21 anos, faz parte de uma família tradicional, de origem italiana, do município de Bragança Paulista, a 90 quilômetros de São Paulo. Ela é filha caçula do empresário Antonino Petruso, que herdou uma rede de supermercados do pai, Salvatore.

A estudante é fruto do segundo casamento de Antonino com Mayara Coreno Penteado. Antes, ele vivia com Hermengarda Puccinelli, de origem italiana.

Ele teve duas filhas da ex-mulher, a advogada Bárbara Maria Puccinelli Petruso, 26 anos, e a estudante Carolina Maria Puccinelli Petruso, 23 anos. O CORREIO telefonou para o escritório de Antonino em Bragança, mas ele está em São Paulo com a filha.

Mayara deixou Bragança para ir morar no bairro da Liberdade, reduto paulistano da população de ascendência oriental, e cursar Direito na Universidade São Francisco, em Pari, Zona Leste de São Paulo. Após dois anos e meio, ela transferiu-se, neste semestre, para a FMU.


O ÓDIO plantado pelos “TUCANOS e DEMOS” durante a campanha presidencial resultou nisto:

Ah, se fosse nos Estados Unidos…

Essa turma aí tem sorte de viver no Brasil.

Nos Estados Unidos, onde essa coisa é levada a sério, hoje estariam todos se explicando ao FBI…

Para ver mais, aqui (dica da Ana Paula Siqueira, via Facebook).

O machão acima, Walter Edward Bagdasarian, pegou dois meses de cana e dois anos de sursis por escrever num blog do Yahoo, sobre Obama: “Fuck the nigger, he will have a 50 cal in the head soon”. O Serviço Secreto soube da ameaça e foi bater na porta dele. Na hora agá, chorou diante do juiz pedindo clemência…

PS do Viomundo: A foto que ilustra a capa é de Daniel Cowart, que vai pegar entre 15 e 18 anos de prisão por ameaçar Obama.

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Trinta milhões de eleitores de boa fé acreditaram nas mentiras, calúnias, preconceitos e ódios semeados pelo Serra, PSDB e DEMOS.

O que você leu, acima, é a colheita no seio da nossa juventude, que não tem a menor idéia de quem sejam Dilma ou Serra.

São apenas fantoches, do ódio disseminado, que reproduzem o que os “caciques” diabólicos programam.

Gostaria de ver a cara de um pai ou mãe de um desses jovens após ler o “recadinho” do querido filho no twiter.

É provavel que “as crianças” tenham sido incentivados pelos próprios pais, se foram, não haverá orçamento suficiente para saciar a sede de locupletação.

A cachoeira ( O que farão os poetas quando todas as combinações de palavras tiverem sido usadas?) – por omar de la roca / são paulo

 

Tenho ouvido muito sobre a morte das palavras,de palavras que secaram, de poetas que se perderam ou que perderam as palavras.Não posso falar por todos,cada um tem o seu problema.Mas posso dizer que nem as palavras morreram,nem os poetas se perderam ( mas podem estar confusos ) e nem perderam as palavras ( sentaram-se apenas num canto do caminho esperando uma hora que o sol não esteja tão forte).Pode ser que me perguntem como posso ter certeza.Podem ser que não acreditem,mas encontrei a fonte das palavras.Mais corretamente,uma  cachoeira de palavras.Com certeza não deve ser o único manancial,mas com certeza o encontrei e passo a descrever o lugar em seguida.Depois de três quilômetros montanha acima,cheguei numa pequena fazenda. Havia um pequeno portão que levava a um caminho ladeado por hortênsias azuis e enormes plátanos. Mais para a frente a esquerda um pequeno lago sobre o qual se debruçava um salgueiro , escrevendo com seus dedos preguiçosos poesias na superfície do lago. Quando o vento soprava forte, levantava sua cabeça e sacudia os longos cabelos sorrindo. Passando por ele, um espaço aberto onde se via a entrada do caminho que leva a cachoeira. Era um caminho que precisava cuidado. Era um caminho essencialmente individual. Nada proibia que ajudássemos uns aos outros, já que as pedras estão quase sempre úmidas. Pelo caminho cruzei com alguns poetas que descansavam sentados na grama , sem pressa para seguir ate a cachoeira. Comecei a descer o caminho devagar. Havia curvas encharcadas de água, e pedras traiçoeiras. Poucos apoios havia pelo caminho onde pudesse me segurar. Mas segui em frente que já ouvia o som da cachoeira. Não era um som que eu esperava ouvir. Parecia que mil vozes falavam ao mesmo tempo, mil palavras diferentes, mil línguas de fogo.Continuei descendo pelas pedras animado. Enfim cheguei ate um lugar onde podia observar um trecho da queda d’agua.Não toda, pois o terreno era irregular e ela muito grande.Parei um pouco e fechei os olhos para ouvir melhor.Ouvi palavras doces,agressivas,de desencanto, de esperança, palavras de amor, de ilusão, palavras que cantam,  que desencantam, enganadoras, sinceras,ásperas ( que eram altas ), de fé, palavras de cansaço, de entusiasmo,de exaustão.Palavras de espera, de cansaço de esperar, de ingenuidade, de resignação, de revolta, de inconformismo , de ação, de reação, de choro, de tristeza, de histeria, aflição, de riso , de dissimulação, de surpresa. Palavras de areia e de cinzas de gelo e fogo. De sacrifícios inúteis, de longas preparações para algo que nunca acontecerá. Palavras prolixas,sublimes,eróticas, satíricas.Palavrastodaspalavras . Que davam as mãos ao cair apenas para se separar ao chegar ao solo. Mas não. Era o meio da cachoeira.Ela continuava seu caminho tranqüilo até mergulhar na terra e seguir adiante.Desci mais um pouco até um pequeno remanso onde as palavras boiavam com os bracinhos atrás da cabeça, antes de se precipitarem mais a frente.Ouvi ainda palavras de gozação, de riso dissimulado,de rostos virados, de comentários inconseqüentes. Palavras displicentes, engraçadas , de falta, de abuso, de pena, de como podia ter sido, de solidão , de compaixão.Abri bem os olhos e a cachoeira ainda estava ali.Palavras de ventos e calmarias, de pássaros, folhas, borboletas.De natureza, de terremotos, vendavais.Fartei-me de palavras.Fartei-me.Estão todas dentro de mim esperando para sair.Tomara eu não arrebente,ou arrebente aos poucos,deixando sair toda aquela caudalosa corrente.Enquanto a cachoeira segue seu caminho plácido entre as plantas,pedras,correndo célere para o mar.

 

BBB 11, ética pelo ralo – por washington araújo / são paulo

O formato é o mesmo já consagrado pelo público e pelos anunciantes: invasão de privacidade com a venda de corpos quase sempre sarados, bronzeados e bem torneados e com a exposição de mentes vazias a abrigar ideias que trafegam entre a futilidade e a galeria de preconceitos.



No dia 11/1/201 a TV Globo levou ao ar seu programa de maior audiência no verão brasileiro: Big Brother Brasil 11. Sucesso de público, sucesso de marketing, sucesso financeiro, sempre na casa dos milhões de reais. Fracasso ético, fracasso de cidadania, fracasso de respeito aos direitos humanos fundamentais.

O prêmio será de R$ 1,5 milhão para o vencedor. O segundo e terceiro lugares levam, respectivamente, R$ 150 mil e R$ 50 mil. As inscrições para a próxima edição do BBB já estão encerradas. Ao todo, nas dez edições, foram 140 participantes. E já foram entregues mais de R$ 8,5 milhões em prêmios. Balanço raquítico, tanto numérico quanto financeiro para seus participantes, para um programa que se especializou em degradar a condição humana.

Aos 11 anos de existência, roubando sempre 25% do ano (janeiro a março) e agora entrando na puberdade como se humano fosse, o BBB começa anunciando que passará por mudanças na edição 2011. Se você pensou que as mudanças seriam para melhorar o que não tem como ser melhorado se enganou redondamente. O formato será sempre o mesmo, consagrado pelo público e pelos anunciantes: invasão de privacidade com a venda de corpos quase sempre sarados, bronzeados e bem torneados e com a exposição de mentes vazias a abrigar ideias que trafegam entre a futilidade e a galeria de preconceitos contra negros, pobres, analfabetos funcionais.

Após dez anos seguidos, sabemos que a receita do reality show inclui em sua base de sustentação as antivirtudes da mentira, da deslealdade, dos conluios e… da cafajestagem. Aos poucos, todos irão se despir de sua condição humana tão logo um deles diga que “isto aqui é um jogo”. Outros ensaiarão frases pretensamente fincadas na moral: “Mas nem tudo vou fazer para ganhar esse jogo.”

Como miquinhos amestrados, os participantes estarão ali para serem desrespeitados, não poucas vezes humilhados e muitas vezes objeto de escárnio e lições filosóficas extraídas de diferentes placas de caminhões e compartilhadas quase diariamente pelo jornalista Pedro Bial, ao que parece, senhor absoluto do reality show. Não faltarão “provas” grotescas, como colocar uma participante para botar ovo a cada trinta minutos; outra para latir ou miar a cada hora cheia; algum outro para passar 24 horas de sua vida fantasiado de bailarina ou para pular e coaxar como sapo sempre que for ativado determinado sinal acústico. O domador, que terá como chicote sua lábia de ocasião ou nalgumas vezes sua língua afiada, continuará sendo Pedro Bial que, a meu ver, representa um claro sinal de como as engrenagens que movem a televisão guardam estreita semelhança com aqueles velhos moedores de carne.

O último a sair da jaula
É inegável que Bial é talentoso. É inegável que passou parte de sua vida tendo páginas de livros ao alcance das mãos e dos olhos. É inegável também que parece inconsciente dos prejuízos éticos e morais que haverá de carregar vida afora. Isto porque a cada nova edição do reality mais se plasmam os nomes BBB e Pedro Bial. E será difícil ao ouvir um não lembrar imediatamente o outro. Porque lançamos aqui nosso nome, que poderá ter vida fugaz de cigarra ou ecoará pela eternidade. Imagino, daqui a uns 25 anos, em 2035, quando um descendente deste Pedro for reconhecido como bisneto daquele homem engraçado que fazia o Big Brother no Brasil. E os milhares de vídeos armazenados virtualmente no YouTube darão conta de ilustrar as gerações do porvir.

E, no entanto, essas quase duas dezenas de jovens estarão ali para ganhar fama instantânea, como se estivessem acondicionados naqueles pacotinhos de sopa da marca Miojo. Imagino cada um deles a envergar letreiro imaginário a nos dizer com a tristeza possível que “Coloco à venda meu corpo sem alma, meu coração quebrado e minha inteligência esgotada; vendo tudo isso muito barato porque vejo que há muita oferta no mercado”. E teremos aquele interminável desfile de senso comum. Afinal, serão 90 dias de vida desperdiçada, ou melhor, de vida em que a principal atividade humana será jogar conversa fora. O que dá no mesmo. E não será o senso comum exatamente aquele conjunto de preconceitos adquiridos antes de completarmos 15 anos de vida?

Friederich Nietzsche (1844-1900) parecia ter o dom da premonição. É que o filósofo alemão se antecipava muito quando se tratava de projetar ideias sobre a condição humana. É dele esta percepção: “O macaco é um animal demasiado simpático para que o homem descenda dele”. Isto porque Nietzsche foi poupado de atrações quase sérias e semi-circenses, como o BBB. No picadeiro, o macaco é aplaudido por sua imitação do humano: se equilibra e passeia de triciclo e de bicicleta, se veste de gente, com casaca e gravata, sabe usar vaso sanitário, descasca alimentos. No picadeiro do BBB, os seres humanos são aplaudidos por se mostrarem intolerantes uns com os outros, se vestem de papagaios, ladram, miam, coaxam, zumbem – e tudo como se animais fossem. Chegam a botar ovo em momento predeterminado. Se vestem de esponja e se encharcam de detergente a limpar pratos descomunais noite afora.

Em sua imitação de animal, o humano que se sobressai no BBB é aquele que consegue ficar engaiolado – digo, literalmente engaiolado – junto com outros bípedes não emplumados – por grande quantidade de horas. E sem poder satisfazer as necessidades humanas básicas, muitas vezes tendo que ficar em uma mesma posição, como seriemas destreinadas. E são os únicos animais que demonstram imensa felicidade em permanecer por mais tempo na gaiola. Não lhes jogam bananas nem pipocas, mas quem for o último a sair da jaula semi-humana ganha uma prenda. Pode ser um passeio de helicóptero, pode ser um carro, pode ser uma noite na Marquês de Sapucaí.

Heidegger reconheceria
O leitor atento deve ter percebido que em algum momento deste texto mencionei que o BBB 11 terá mudanças. Nem vou me dar ao trabalho de editar. Eis o quecopiei do site G1:

“Boninho, diretor do BBB, falou em seu Twitter nesta quarta-feira, 24/11, sobre a nova edição do programa, a 11ª, que estreará em janeiro de 2011. E ele adianta que, desta vez, as coisas vão mudar. ‘Esse ano tudo vai ser diferente… Nada é proibido no BBB, pode fazer o que quiser’, postou Boninho em seu microblog. Questionado sobre o que estaria liberado no confinamento que não estava em edições anteriores, ele respondeu: ‘Esse ano… liberado! Vai valer tudo, até porrada’. Boninho também comentou sobre as bebidas no reality show: ‘Acabou o ice no BBB… Vai ser power… chega de bebida de criança’, escreveu.”

Não terá chegado a hora de o portentoso império Globo de comunicação negociar com o governo italiano a cessão do Coliseu romano para parte das locações, ao menos aquelas em que murros e safanões, sob efeito de álcool ou não, certamente ocorrerão? E como nada compreendo de Heidegger, só me resta dizer que ao longo de toda sua vida madura Heidegger esteve obcecado pela possibilidade de haver um sentido básico do verbo “ser” que estaria por trás de sua variedade de usos. E são recorrentes suas concepções quanto ao que existe, o estudo do que é, do que existe: a questão do Ser (i.e. uma Ontologia) dependente dos filósofos antes de Sócrates, da filosofia de Platão e de Aristóteles e dos Gnósticos.

Quem sabe tivesse assistido uma única noite do BBB – caso o formato da Endemol estivesse em cena antes de 1976 –, o filósofo, por muitos cultuado, não apenas teria uma confirmação segura de que não valia mesmo a pena publicar o segundo volume de sua obra principal, O Ser e o Tempo, como também haveria de reconhecer a inexistência de algo anterior ao ser. Mas, com certeza, se fartaria com a miríade de usos dados ao verbo “ser”.

Washington Araújo é jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela
UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil,
Argentina, Espanha, México. Tem o blog http://www.cidadaodomundo.org

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BBB11: Ariadna confessa que foi garota de programa

“Saí de casa aos 14 anos”, diz a carioca

iG Gente16/01/2011 01:44

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Foto: Reprodução

Sisters ouvem com atenção a história de vida de Ariadna

Sentada para conversar com Janaina,Jaqueline e Paula, Ariadna confessou – durante a Festa Caliente que rolou na madrugada de domingo (16) –, que já trabalhou como garota de programa.
“A minha família sabe de tudo que eu faço”, disse a cabeleireira.

As sisters ouviram a história com muita atenção, interrompendo apenas para consolar a carioca, que chorou muito.

“Sai de casa aos 14 anos e tive de me virar de uma forma muito ruim. Não tive adolescência. Não tive amor de pai e muita rejeição de mãe”, continuou Ariadna.

 

Ela pediu que o trio guardasse segredo e recebeu o apoio de Janaina: “Não acho legal isso vazar para os homens”, se solidarizou a paulista.

E Jaqueline completou: “Essa é a oportunidade que Deus deu, para você nunca mais voltar a fazer isso”.

 

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BBB11: Maurício quer levar Maria para o quarto do líder

“Quero ser líder para levar a Maria para o quarto e pintar o sete”, diz o músico

iG Gente16/01/2011 06:21

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Maurício conversava com Rodrigão e Diogodurante a festa e comentou que não queria ter sido o primeiro líder do reality, por conta da falta de opção de votos: “Você só tem nove opções de voto de 17. É muito difícil escolher. Na prova, eu não quis ser o último para não virar líder”.

O músico ainda revelou que deseja conquistar o reinado para dormir com Maria: “Quero ser líder para levar a Maria para o quarto e pintar o sete”, afirmou o músico e Diogo comentou: “Ela tem uma personalidade forte. Eu acho que se tiver que rolar, ela vai topar”.

ESTE É O PADRÃO “GLOBO” DE CULTURA A SERVIÇO DO

DESMANCHE DO CÓDIGO DE NAÇÃO.

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matéria do IG postada pelo site.

PRESIDENTA DILMA, só um alerta: fique atenta aos passos deste milico frustrado (se fantasia de soldado sempre que pode), ele tem compromissos outros com “outros” – por l.garcia / porto alegre

O fato do LULA ter pedido para que DILMA mantivesse o JOHNBIM ( ele é um entreguista, um subalterno às vontades dos EUA), não está claro, imagino que tenha sido um agrado para com os militares. Não se sabe das razões, pois militar, ou civil, não dá mais golpe armado no país, não tem condições reais e o povo brasileiro  impediria massivamente.  Se algum risco há, de golpe, é  no tapetão  do judiciário, que continua sendo um templo de falsas vestais e que “dançam” para o Dantas ( aquele banqueiro e homem de negócios “honestos” que honram o país). É preciso abrir a “caixa preta” ( ou as contas bancárias?). Amiga, cuide-se, você está cheia de inimigos na trincheira.

 

 

caricatura de joão de deus netto. (NETTO)

O FAROESTE AO ALCANCE DE TODOS por josé inácio werneck / bristol. eua

O faroeste ao alcance de todos

 

Bristol (EUA) – Que país é este? Este é, como gostam de dizer os próprios americanos, “o líder do mundo livre”. The leader of the Free World. É uma linguagem cediça, adotada ao tempo da Guerra Fria, mas incessantemente repetida, talvez pelo prazer da bazófia, talvez como velada advertência a outros possíveis pretendentes.

Em um índice os Estados Unidos sem dúvida lideram por larga margem: o absurdo número de armas de fogo e não estou falando apenas em termos absolutos. Falo também em números proporcionais. Há nos Estados Unidos 90 armas de fogo para cada cem habitantes. Nove para cada dez habitantes. Você pode ter certeza de que, esteja você onde estiver, haverá um cidadão armado (ou uma cidadã armada) nas proximidades: nos supermercados, nos bancos, no cinema, na festinha de aniversário das crianças, no play-ground, no automóvel ao seu lado na rua, na Igreja onde todos supostamente vão pedir a paz do Senhor. A única vítima verdadeiramente inerme, inocente e indefesa na tragédia de Tucson foi a menina de nove anos.

A própria deputada Gabrielle Giffords, agora entre a vida e a morte, alardeava o fato de que era dona de “uma Glock nove milímetros e atiro muito  bem”. O juiz morto na chacina, que era católico devoto e todos os dias ia à missa, não apenas frequentava um clube de tiro, mas lá também matriculara sua esposa. Um dos neuro-cirurgiões que operaram a deputada é também sócio desta agremiação, o Pima Pistol Club.

Há, concomitantemente, desde a eleição de Barack Obama, um partido de lunáticos chamado Tea Party, liderado por uma roceira ínscia, de nome Sarah Palin, que distribuiu antes das últimas eleições folhetins em que distritos com candidatos democratas  a favor da Reforma da Saúde (como Gabrielle Giffords) eram identificados com uma mira telescópica.

Os Tea Partiers proclamam ser “originalistas”. Isto é, querem que a Constituição seja cumprida em seus termos originais. Se fôssemos adotar sua doutrina voltaríamos, de saída, ao tempo da escravidão e negaríamos às mulheres direitos iguais aos dos homens.

O tal Tea Party baseia-se num incidente, nos tempos coloniais, em que moradores em Boston atiraram ao mar um carregamento de chá, pois achavam que não estavam obrigados a pagar impostos requeridos pela Coroa Britânica, alegando que “não tinham representação” em Londres.

No taxation without representation, era seu grito de guerra. Os pacóvios do Tea Party aparentemente não percebem que hoje eles tem representação. São congressistas como Gabrielle Giffords que os representam em Washington e passam leis cobrando impostos ou reformando os planos de assistência médica.

A eleição de um negro – acusado de 1) ter falsificado sua certidão de nascimento e 2) ser ao mesmo tempo comunista, fascista e nazista – foi o estopim para que a mídia controlada pela extrema direita, especialmente a que está nas mão do  magnata Rupert Murdoch, da Rede Fox, passasse a desfechar uma virulenta campanha  contra o presidente legitimamente eleito do país. (O que, lembrem-se, não foi o caso de George W. Bush, o Presidente de Araque que atacou o Ditador do Iraque.)

Eu escrevi acima que os integrantes do Tea Party são lunáticos. Acrescento: são lunáticos grosseiros, violentos, ameaçadores. São liderados na televisão pelos medievais Glenn Beck e Bill O`Reilly, da rede Fox, enquanto na rádio, em cadeia nacional, de costa a costa, um troglodita chamado Rush Limbaugh, destila diariamente, ao longo de três horas, uma campanha de ódio e incitamento contra Barack Obama. Não é de admirar que um desequilibrado como Jared Loughner tenha resolvido colocar em ação o que tais figuras deixam subentendido em palavras.

Paro por aquí porque o telefone está chamando. Deve ser o Bat Masterson.

AINDA HÁ ESPERANÇAS por mauro santayana /são paulo



AS DUAS TRAGÉDIAS desta semana, a de Tucson e a da Serra do Mar, trazem, em todo o seu horror, a centelha da esperança. Os fatos do Arizona, embora tenham custado muito menos vidas, conduziam presságios piores.


Os desastres naturais, ainda que se devam, em parte, à imprevidência dos homens e dos estados, não podem ser imputados à vontade desse ou daquele agente. A vida é uma concessão fugaz de razões imperscrutáveis que fizeram surgir tempo e espaço e, neles, essa fantástica aventura da energia convertida em matéria e dotada da consciência de si mesma. As tempestades, os vulcões, terremotos, ciclones – e prováveis impactos de asteroides – escapam de nosso controle.  Diante deles, nossa impotência se converte em força e coragem, como nos revelam os belos atos de solidariedade destas horas de luto e pranto.


Nos Estados Unidos, embora de forma ainda tímida, começa a reunir-se a consciência da necessidade de convívio mais civilizado entre os interesses políticos e econômicos, que sempre se aproveitam dos piores sentimentos para impor-se à sociedade. Ali, a extrema-direita se move contra a assistência médica universal e os imigrantes pobres. O discurso de Obama, convocando a união, foi acolhido com respeito.


Mas o ódio que se construiu e se manifestou de forma quase absoluta, nos anos 30 e 40, está, mais uma vez, de volta, e ensandecido, como revelam os atos do Tea Party, de Sarah Palin, Karl Rove e Murdoch. Nos últimos 65 anos, depois que o Julgamento de Nuremberg espantou o mundo com a ideologia do Terceiro Reich, que juntava baderneiros aos grandes banqueiros, temos lutado, com algum êxito, contra a nova barbárie, mas não conseguimos dela nos livrar.


O ódio ao outro permanece, e sofremos em ver que, em alguns casos, as vítimas de ontem se transformam em cruéis perseguidores de hoje. Sim, pensamos na Palestina. Todos os homens teriam que visitar, pelo menos uma vez na vida, os campos de concentração que ainda restam de pé.


Mais do que isso: deveriam ser de leitura obrigatória os relatos dos sobreviventes desses espaços de ódio convertido em razões de estado. Um desses inquietantes depoimentos é o de Robert Antelme, La espèce humaine. A mais clamorosa de suas experiências foi descobrir, em um relâmpago da consciência, que os seus algozes pertenciam à mesma e única espécie humana.


“O reino do homem – diz Antelme – não cessa. Os SS não podem mudar nossa espécie. Eles mesmos são fechados na mesma espécie e na mesma história”. E em outro momento forte, Antelme, resistente francês – e não judeu – reduz o SS a um ponto minúsculo no sistema, “encerrado, ele também, dentro do arame farpado, condenado a nós, fechado dentro de seu próprio mito”.


O Brasil, representado pela decisão da chefe de Estado, se une na busca dos mortos e feridos nas encostas de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo. Todos os nossos recursos, humanos e materiais, serão empregados no Rio de Janeiro, de acordo com a decisão da presidente Dilma Rousseff. Essas providências, é certo, serão tomadas também nas áreas atingidas em outros estados, como os de São Paulo e Minas.


É mais fácil sepultar as vítimas dos desastres naturais do que as da bestialidade dos próprios homens. Os enviados para as câmaras de gás e os fornos crematórios dos lager nazistas – judeus, comunistas, eslavos, ciganos – continuam insepultos, ainda que convertidos em cinzas, como insepultos continuam os negros assassinados pela Ku-Klux-Kan, os líderes políticos como Gandhi e Allende, as vítimas de Tucson – e os brasileiros mortos em tempo que não se afasta de nossa memória dilacerada.


Apesar disso, não puderam assassinar a esperança. Enquanto formos capazes de remover os escombros, neles encontrar vidas, e chorar pelos estranhos, seremos também capazes de combater o ódio e as injustiças, para a salvação da nossa espécie.


 

UMA PROSA À MEIA-NOITE – por zuleika dos reis / são paulo


 

 

O pior cego é aquele que vê demais. Ver demais obscurece a visão, ao contrário do que imagina a nossa vã filosofia ou, para complicar um pouquinho mais, a nossa vã auto filantropia. Achar é estar distraído, isto é, não procurar ver demais para que não nos ataque a cegueira irremediável diante do real. Por sua vez, há cegos que veem muito além da conta, mas isso pertence a outro departamento ou a outra história como preferirem os que se estejam expondo à leitura desta prosa sem sentidos predispostos a serem tecidos no exato momento presente, ou melhor, destecidos, que isso mais parece um casaquinho de tricô com um ponto solto bem no meio e aí a tricotadeira se vê obrigada a desmontar metade das costas do casaquinho que já ia pelo meio. Não me perguntem nem se perguntem nada sobre o que esta bobagem toda está a dizer. Ela não pretende dizer nada: eu estava aqui, no vazio dos pensamentos ociosos, inúteis e, inutilidade por inutilidade, entrei no Recanto e me pus a escrever este “texto”, ao vivo e não em cores. Não exatamente a compor uma escrita automática – ora, vejam só que beleza esse “compor uma escrita automática”. Quem sou eu, quem me dera ausentar-me de mim o suficiente em alguma escrita automática. O que eu desejo é repartir um pouco dessa loucura noturna, a esmo, com algum pobre leitor que nela caia, ao acaso, como diz o título, e nela permaneça para ver se essa maluquice deságua em algum lugar minimamente aceitável. Poderia continuar a escrever indefinidamente, assim, sem razão qualquer, sem pausa, como a vida. Só porque pensei nisso parei um instante e me vou de novo por esse lago estagnado de palavras, simplesmente porque não tenho ânimo para telefonar a algum amigo, a algum ex-amante ou para o amor de toda a vida, mais perdido dentro de si mesmo do que este pobre texto aqui presente (?). Pobre texto meu, pobre amor meu, assim tão ausentes de si mesmos. Pobre leitor incauto, caindo nessa teia. Sorte dele é que a aranha está tão morta de cansaço que não tem forças para causar mal a quem quer que seja.

 

LUIZ CARLOS PRATES: “Nem a Globo segurou o inimigo do pobre que tem carro” vitória do povo catarinense que reagiu e da BLOGOSFERA que divulgou massivamente a proteção da RBS

ENFIM DEMITIRAM O ENERGÚMENO

Prates: o facista catarinense ( era gaúcho, foi expulso de lá) a serviço dos facistas catarinenses, remunerado, é claro, portanto, é militante contra si próprio, ou seja, ele é o pobre que anda de carro.

E os outros inimigos do pobre que tem carro e que usam e abusam do espaço PÚBLICO que a Globo explora comercialmente ?

Quando eles vão parar de manifestar o ódio ao pobre que anda de avião ?

Quando também esses vão preferir seus “projetos pessoais” ?

Clique aqui para ver o vídeo inesquecível: Prates ataca pobre que usa carro.

PHA/jbv

ANDREA BOCELLI e Anna Netrebko interpretam “BRINDISI” – LA TRAVIATA

dê UM clique no centro do vídeo:

ENRIQUE ROSAS PARAVICINO sobre MANOEL DE ANDRADE:


EL CANTOR PEREGRINO DE AMÉRICA (*)


Un proverbio chino dice que un largo viaje empieza con un simple paso. Este paso en la vida de Manoel de Andrade debió ser una palabra, una metáfora, un verso juvenil, algo que diera inicio a la gran aventura de su existencia: escribir y caminar, crear y peregrinar, versificar el dolor social  y recorrer los infatigables caminos de América. Como León Felipe, fue el viento áspero y testimonial de las injusticias de la tierra, pero además, el que proclama su fe en aquel tiempo nuevo que la historia reserva para los pueblos oprimidos. Poesía labrada en la lucha tenaz, macerada en lágrimas y enunciada con tono viril y desafiante a pesar de los tiranos, poesía esparcida por las tempestades andinas para que resuene en villorrios, ciudades, centros mineros, fábricas y comarcas campesinas. ¿De dónde salió Manoel de Andrade con esa misión que se impuso, como un apostolado laico, con una firme convicción que lo identifique como esencial entre los poetas de su generación? Salió de Curitiba, Paraná, la noble tierra brasileña que se arrulla con el eco cercano del Atlántico. Nació en un hogar proletario, se hizo hombre a golpe de esfuerzo y necesidad. Por algo en uno de sus poemas se define forjado en la dureza de las privaciones:



 

“Cuando me preguntan de qué vale un poeta en el mundo / yo contesto con mi canto de hijo proletario /  con mi infancia descalza ysin juguetes / con todos los niños del mundo que fui en mi estómago de agua”. (Tiempo de siembra).

En tal origen humilde ya estuvo el germen de una poética que proclamaba derechos y utopías sociales. Bajo el magisterio de los dos íconos latinoamericanos más influyentes del siglo XX, Vallejo y Neruda, el brasileño se propuso entonces poetizar la gesta popular, el sacrificio colectivo, la solidaridad de clase, el ansia de libertad y el rechazo a la exclusión y el oprobio. En ese afán, crispa el puño contra los opresores de toda laya, aquellos que convirtieron la ancha tierra americana en una comarca de cadenas, saqueos y fosas comunes. Su poesía es una respuesta a esa paz de cementerio impuesta por los dictadores, pero también poesía matizada con tonos de ternura, de requiebros afectivos y de reafirmación de principios. Fueron años intensos de recorrido del poeta por Bolivia, Perú, Chile, Colombia, Ecuador y México. Portador de la bandera de “los hombres sin rostro”, Manoel de Andrade sintetiza así su largo peregrinar por el continente:

…Y de pueblo en pueblo / por esas ciudades llenas y vacías / en los teatros y las fábricas / en las escuelas y en los sindicatos / por los socavones profundos de las minas / en lo alto de los Andes / y por el eco misterioso de las montañas / sobre los valles florecidos / y entre los campesinos en medio de la cosecha / de frontera a frontera, / de esperanza en esperanza / por todas partes sembraré mi canto. (El caminante y su tiempo).

El poeta se yergue contra la infamia de las tiranías y se constituye en una voz digna y desafiante, esto es, la voz del sur que reclama la justicia secuestrada por los tecnócratas del norte opresivo, la palabra vibrante que conjuga, en sí, ética y estética, y resuena acompasada por el péndulo de los grandes ideales humanos. Porque, ciertamente, la ruta al futuro está asfaltada  de “sacrificios profundos” (dixit, Eduardo Galeano), con las acciones de los mártires y los sueños aurorales de los paladines de la emancipación continental. Convenzámonos de esto hoy que celebramos el segundo centenario de nuestra Independencia, momento propicio para revalorar una poética como la de Manoel de Andrade, firmemente enraizada en el fermento de las luchas populares, vivificada por una herencia histórica llena de gestas libertarias; sin perder  en tal contexto su yo poético, ese pronombre identitario que se enlaza con el yo colectivo de los humillados y negados de América.

Yo vengo a denunciar falsas revoluciones / y el oportuno pacifismo / vengo a hablar de un  tiempo de destierros y torturas, / yo vengo a hablar de un terror que crece uniformado, / y de estos años en que cada promesa de paz es una mentira. (Canción de amor a América).

No es gratuito, entonces, que en sus versos asomen los arquetipos de la heroicidad latinoamericana: Ernesto Guevara Serna, Javier Heraud, Guido Inti Peredo y Otto René Castillo, entre otros. Tampoco es casual que su primer poemario, publicado en Bolivia, lo haya dedicado a la memoria del

líder minero Federico Escobar Zapata. Ni menos nos sorprende que los editores de sus primeras hojas volantes hayan sido estudiantes bolivianos y peruanos, quienes fueron, asimismo, sus más entusiastas difusores. De ahí que Manoel de Andrade más que un simple hablante periférico, viene a ser  la personificación de una conciencia moral que al señalar, reclamar y nombrar en representación del pan y la equidad, le restituye a la palabra su inflexión más raigalmente humana, allí donde madura la simiente inicial de todo proyecto de justicia en el mundo. Su invocación a la libertad lo retrata mejor en esta ruta:

Libertad… oh libertad… / hoy somos apenas los guardianes de un sueño / los que sustentamos en tantas patrias la bandera de la bravura / hoy somos los guerreros del silencio / para que tu himno pueda ser entonado con alegría por los hijos del mañana. (Libertad).

Extraño caso el de este poeta. Adquirir el prestigio de la voz no en su patria natal, sino en el exilio y en el rumor de las multitudes sin voz de América. Él encarna esa ansia de liberación, la necesidad de romper los grilletes que atan al hombre a la enajenación, la miseria y a la marginalidad. El prestigio de su poética viene, esencialmente, de su identificación con la causa de los expoliados, de los que teniendo memoria han sido privados de futuro, de aquellos que con su duro trabajo cotidiano forjan las riquezas ajenas y acrecientan el poder opresivo de los pocos. Esta tesitura verbal se sustenta en certezas cotidianas y palpables, no así en abstracciones metafísicas decimonónicas; es una poesía que denuncia y alega, a la vez que afirma y remarca convicciones de lucha, en un tiempo en que pareciera decaer la fe en los valores supremos de la humanidad. En fin, es una poesía que debemos hacerla nuestra, porque nos representa como discurso y como demanda, porque todos estamos inmersos en su reclamo fidedigno y en la promesa que conlleva: la llegada de un amanecer que sea, necesariamente, el inicio de una historia de plenitud para nuestros pueblos.

Gracias, Manoel de Andrade, por resemantizar, con notable solvencia de voz, la memoria social de América.

Cusco, Perú, primavera de 2010.

(*) A propósito del libro Poemas para a liberdade. Ed. Escrituras, São Paulo, 2009.

Enrique Rosas Paravicino (Cusco, Peru) é  narrador, poeta, ensaísta e autor dos livros: Al filo del rayo (1988), El gran señor (1994), Ciudad apocalíptica (1998), La edad de leviatán (2005), Muchas lunas en Machu Picchu (2006), El patriarca de las aves (2006) y El ferrocarril invisible (2009),  além de inúmeros artigos publicados em revistas especializadas. Em conjunto com outros autores também publicou: Fuego del sur (1990), Alfredo Yépez Miranda y su tiempo (2001) y Nueva antología del Cusco (2005).
Seus textos integram estudos e varias antologias. É professor e pesquisador da Universidade Nacional de San Antonio Abad del Cusco e  reconhecido com vários prêmios e distinções nacionais.

SEM TITULO – por vera lucia kalahari / portugal

No deserto onde nasci, nesse Namibe das mil miragens, aprendi a falar
sem precisar das palavras, porque elas, muitas vezes, são pobres e
inúteis…Sim, significam as coisas banais e insignificantes da vida:
o camelo, o oásis, as tâmaras, o albornoz….
Quando sentimos alguma coisa profunda em nosso coração ,só o coração
saberia dizer o que as palavras não podem… Mas o coração só sabe as
sílabas da sua pulsação… Repousa a cabeça no meu peito, na solidão
da minha tenda, e ouve-o pulsar… Ouvirás o vento varrendo as areias,
curvando as palmeiras, secando as fontes, sepultando as caravanas.
E nas suas curtas sílabas, compreenderás todas as palavras que não
vale a pena serem ditas.
Esta é uma pequena alegoria que faço à mudança que tem que ser feita,
no deserto que é a vida…Quando aprenderes a encostar a cabeça num
ombro acolhedor e sentires que amas esse amigo, com a mesma ternura
que amarás uma árvore em cuja sombra, depois de longa caminhada ao sol
ardente pelas dunas solitárias, te dará a doçura da sua sombra
benfazeja, aí residirá a mudança. Saberás que ele não te poderá dar
senão a mesma frescura dos ramos dessa árvore acolhedora, nada mais…
Que somos na natureza seres diferentes, separados em mundos
diferentes, mas o amor junta-nos ali… E o amor é isso mesmo: Que
importa que linguas diferentes não nos nos deixem comunicar que as
mãos estejam distantes para uma carícia…Basta essa sombra da árvore
que acolhe um momento nossos destinos obscuros, errando pelos sóis do
deserto…
É aí que residirá o futuro da humanidade, nestes tempos de mudança.
Por isso, resta-nos ajoelhar e beijar a sombra silenciosa e
acolhedora, que, sem saber, aqueles que sabem amar trouxeram também
aos sois do nosso deserto.

P.S.  Dedicado ao meu amigo e grande poeta, João Batista do Lago

A VISÃO

Eu vi,

Corpos negros dançando

Num bailado sem fim…

Vi corpos requebrando ao vento

Como coqueiros  arqueados.

Era algo de profundo e magnífico…

Vi panos coloridos

Desnudando corpos,

Esvoaçando e brilhando,

Azuis, roxos, negros…

Vi  risos e cantos e tambores

Ressoando ao sol

Numa sinfonia sem fim…

Ran…Tan…Tan…

E vi a minha terra toda,

Meus avós, num bater frágil de asas,

Num canto inesquecível, superior à poesia,

Surgindo, surgindo,

De milhões de palmas, das fontes do eterno frio…

Deus… Que futuro imenso para esta terra,

Onde o lodo se tornará cristal,

E onde a liberdade há-de chegar…

Glória a todos os que morreram por ti,

Orgulhosos do seu fim,

Acreditando num mundo melhor…

Quem somos nós para duvidar

Que esse tempo tem que chegar?

 

JÁ É UM COMEÇO DE GOLPE – por rui martins / suiça

Rui Martins*

Se você faz parte dos 87% que apoiavam o governo Lula, fique alerta – no mais escondido covil de serpentes e escorpiões trama-se um golpe institucional contra o governo de Dilma, mesmo se esse governo começou com 62% de aprovação popular.

Desta vez, ao contrário do golpe de 1964 não se trama nos quartéis com o apoio declarado dos Estados Unidos. A trama é bem mais sutil – não se acena com a paranóia do perigo vermelho, mas com base em pretensos arrazoados jurídicos se quer desmoralizar e desautorizar o ex-presidente Lula e se colocar no ridículo a presidenta Dilma, que será destituída do poder de decisão.

O golpe não parece financiado só por dólares americanos, como no passado, mas igualmente por euros vindos da Itália. Aparentemente trata-se da extradição ou não extradição de um antigo militante italiano, Cesare Battisti, condenado num processo italiano fajuto à prisão perpétua, mas a verdade submersa do iceberg é bem outra.
Quem leu as revelações do Wikileaks quanto as opiniões dos EUA sobre Lula, considerado suspeito, e Celso Amorim, considerado antiamericano, e que acompanhou a campanha contra a eleição de Dilma, sabe muito bem haver interesses de grupos internacionais em provocar uma crise institucional no Brasil.

Será também a maneira de grupos econômicos estrangeiros impedirem a atual emergência do país como potência mundial. A Itália neofascista de Berlusconi com seu desejo de recuperar um antigo militante esquerdista é apenas uma providencial pretexto para os grupos políticos e econômicos internacionais incomodados com o Brasil líder do G-20 e vitorioso contra os EUA na OMC.

O que se quer agora, com o caso Battisti, é subverter as instituições brasileiras, mergulhar-se o país numa confusão entre o poder do Executivo e o poder do Judiciário, anular-se uma decisão do ex-presidente Lula para se abrir o caminho a que governança do Brasil seja sujeita à aprovação do STF. Para isso conta-se, como em 1964, com os vendilhões da nossa soberania e com os golpistas da grande imprensa.

Simples e prático, para se evitar que a presidente Dilma governe, vai se tentar lhe por um cabresto e toda decisão sua que desagrade grupos internacionais deverá ser anulada pelo STF. Por exemplo, a questão da exploração petrolífera do pré-sal poderá ser uma das próximas ações confiadas ao STF.

Se Dilma quiser renacionalizar as comunicações, já que a telefonia é questão estratégica, o STF poderá dizer Não e também optar pela privatização da Petrobras. Delírio ? Não, os neoliberais inimigos de Lula e da política nacionalista, derrotados nas eleições, poderão subrepticiamente retirar, pouco a pouco, os poderes da presidenta e do Legislativo, para que fique apenas com o STF o governo ou o desgoverno do Brasil.

O próprio advogado de Cesare Battisti, acostumado com leis e recursos, nunca viu uma decisão presidencial ser posta em dúvida por um ministro do STF, e por isso falou em « golpe » tal como havíamos alertado.

Por sua vez, o atual governador do Rio Grande do Sul, que aceitou o pedido de refúgio de Battisti quando ministro da Justiça, não aguentou a decisão do ministro Cezar Peluso do STF de colocar em, questão a validade da decisão do presidente Lula e declarou como « ilegal » e « ditatorial » o ato do ministro Peluso, do qual decorre um « prejuízo institucional grave » para o país e um « abalo à soberania nacional ».

Faz dois anos, Tarso Genro concedeu refúgio a Battisti, que deveria estar em liberdade desde essa época. Mas o ato liberatório foi sustado pelo ministro Gilmar Mendes, que submeteu a questão ao STF, o que já consistia um ato arbitrario. Embora os ministros tenham decidido por 5 a 4 pela extradição, competia ao presidente a decisão final, o que foi reconhecido, depois de uma tentativa de reabertura do julgamento.

O presidente Lula justificando seu ato, dentro do permitido pelo Tratado mútuo de Extradição entre Brasil e Itália, com base num documento da Advocacía Geral da União, negou a extradição e a própria Itália entendeu o ato como definitivo. Ora, a decisão do ministro Cezar Peluso de pôr em dúvida a decisão do presidente Lula e reabrir a questão vai além de sua competência e fere uma decisão soberana.
É tentativa ou já é golpe, no entender do advogado Luiz Roberto Barroso, é ilegal e ditatorial segundo o ex-ministro da Justiça Tarso Genro, opiniões que vão no mesmo sentido de Dalmo Dallari e de outros juristas.

O que iremos viver, quando o ministro Gilmar Mendes se dignar a colocar na agenda do STF o « julgamento da decisão do presidente Lula », se a maioria, por um voto que seja, decidir anular a decisão de Lula ? Será que a presidenta Dilma aceitará essa intromissão do STF no poder do Executivo ? Em todo caso, será o caos.

É hora de reagir, antes que seja tarde demais.

*RUI NARTINS – Ex-correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. Autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criou os Brasileirinhos Apátridas e propõe o Estado dos Emigrantes. Vive na Suíça, colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, é colunista do site Direto da Redação. Colabora com o Correio do Brasil e com esta nossa Agência Assaz Atroz.

TANTOS… – de wagner de oliveira mello / curitiba

Tem tantos lugares onde eu poderia estar.

Sem rosto, sem corpo

apenas presença

um estar sem sentido

sentindo apenas.

 

No silêncio de alguns

na euforia de outros

tantos outros!

Quem são os outros quando não estão aqui?

 

Quem são, senão concepções vazias

ou irremediáveis certezas

que os fazem ser o que são

e o que não são.

 

RECUERDOS DE OUTUBRO DE 1983 – de julio saraiva / são paulo



a poeta hilda hilst
cercada de seus cães
lia poemas de amor na sala
de sua chácara em campinas
e entre goles de vinho do porto
e alguns palavrões
reclamava que ninguém a entendia

a poeta ana cristina cesar
no apogeu dos seus 32 anos
colocou a beleza de lado
e se atirou do prédio onde morava
no rio de janeiro
sem deixar nenhum escrito
que justificasse seu gesto
(se ela soubesse que foi minha namorada
secreta talvez não fizesse isso)

o poeta álvaro alves de faria
e eu
bebíamos conhaque dreher
no bar costa do sol
na rua 7 de abril
em frente ao edifício do diário da noite
que não existia mais

era outubro de 1983

agastam-me as palavras – por zénite / portugal



“Abalarei os céus, e a terra, e o mar, e a terra seca…”
(Ageu 2:6-21)

Hoje, venho dizer-vos que me agastam e entristecem as palavras.
Sou o errático andante que caminha descalço ou de sandálias pelo deserto das palavras, e as ama e anatomiza, as detesta e anatematiza, e volta a anatomizar e a amar e de novo a abominá-las e a anatematizá-las… e a amá-las…

Às palavras, a esses seres estranhíssimos que permitem amar e odiar em simultâneo, que nos amarram e escravizam e nos acenam depois com ventos de amor e liberdade, para voltarem de novo a acorrentar-nos sem piedade, há que rasgá-las, fendê-las, rachá-las, ateá-las e incendiá-las como lenha seca que arde em gigantesca pira – piramidal pira, diria, não fora a cacofonia – em sinuosas e ondulantes flamas de sangue.

Haverá estilhaços incandescentes e brasas incendiando todas as memórias.
E haverá fumo e uma inundação de luz e cinzas pairando. Perfurando o silêncio algemado e trucidado em serpejantes labaredas.
E haverá, outrossim, farpas. Dolorosas farpas rasgando e lacerando profundamente a pele, a carne e as ansas, qual mítica fénix de asas dilaceradas.

E dessa inundação de cinzas e de restos carbonizados, as palavras hão-de fluir de novo e voar, sopradas pelo vulturno nas noites soturnas e sem luar, ou nas manhãs e tardes aprazíveis e solares, impelidas pelo brando zéfiro, em eminentes vertigens de fénix renascidas.

Redescubramo-las e reinventemo-las, estáticas ou dinâmicas, desde o início de todas as linguagens.

Como na língua dos Hervos, que aqui vos deixo em soneto, neste meu deserto de vento e areia:

Soneto aos Hervos


Baixa lúcido o sol sobre os
montíolos,
E já a luz
sidárvia dos sidócitos,
Elíptica, tremula entre os gladíolos,
Trespassando as vidraças dos
esmócitos.

Crescem na tarde lânguidos ortíolos,
Em atávicos salmos tão
bartócitos,
Que agitam, paladinos, os pecíolos
Das hastes alongadas dos
acrócitos.

Ouve-se ao longe uma harpa merencória
Que aflita geme com a frauta lírica,
Enquanto a noite desce transitória.

São os hervos que voltam da hortírica
Com uvas de corinto e fruta
hespória
E mil sorrisos de candura onírica.

.

São os Hervos um povo gentil e humilde, amante da natureza, que habita os Vales Solitários do Nunca, contíguos à Terra-do-Meio, onde vivem os Hobbits, seus parentes próximos, que amam igualmente a natureza, a paz e o seu semelhante, e não se importam, minimamente, com o que se passa no resto do mundo, que, alías, não conhecem nem nunca ouviram falar.
P.S.: as palavras em itálico constam dos dicionários dos Hervos, e em nenhum mais.

O escritor AMILCAR NEVES, o poeta MANOEL de ANDRADE, MARIA VITÓRIA e NEIVA ANDRADE foram celebrar a chegada de 2011 com J B VIDAL e RÔ STAVIS na Praia dos Ingleses/Ilha de Santa Catarina


o escritor AMILCAR NEVES da Ilha de Santa Catarina, o poeta MANOEL de ANDRADE de CURITIBA e o poeta e editor do PALAVRAS TODAS PALAVRAS J B VIDAL comemorando a virada do ano (2011) na residência de J B na Praia dos Ingleses / Ilha de Santa Catarina.

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MARIA VITÓRIA, ROSANGELA STAVIS e NEIVA ANDRADE senhoras do escritor e poetas acima.

Uma noite muito agradável e rica no temário que acabou por estender-se até as 4:00 do dia 1/1/11.

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o escritor e poeta JAIRO PEREIRA de Quedas do Iguaçu/PR esteve visitando o amigo e colega J B VIDAL horas antes da virada do ano. seis horas de conversa, mesmo assim faltaram algumas abordagens.

SOB O SIGNO DO DESCASO – por amilcar neves / ilha de santa catarina


 

O atual governo do Estado inicia exatamente como terminou o anterior: sem um presidente na Fundação Catarinense de Cultura.

 

Escrevo esta crônica na noite de 3 de janeiro. Até o final da tarde não havia na FCC qualquer informação sobre comando da casa: nem presidente, nem diretores, nem gerentes, chefia nenhuma, tudo absurdamente olhado como cargos de confiança a serem preenchidos por afilhados políticos de acordo com questionáveis cotas partidárias: nada de profissionalismo, nada de valorização do pessoal de carreira, nada de continuidade administrativa e de projetos. Tudo parado no Centro Integrado de Cultura, complexo cultural que é forçado a ceder quase metade do seu espaço para abrigar a Fundação.

 

A data em que este texto é escrito mostra duas coisas: passados já três dias de governo, não há sequer nome escolhido para conduzir as atividades culturais em Santa Catarina – um dos poucos estados da Federação que, de modo também absurdo, não conta com uma Secretaria da Cultura. Como se o Estado não precisasse disso, como se não houvesse necessidades urgentes na área.

 

A segunda coisa: nesta data, completam-se três meses que o governador foi eleito em primeiro turno. Como não teve tempo, disposição ou vontade de definir o comando da FCC, certamente há de fazê-lo agora de improviso, às pressas, porque o tempo urge – e a possibilidade de fazer uma má escolha só aumenta com o tempo.

 

O governador anterior, um vice que assumiu porque o governador eleito que tanto quis acabar com a Biblioteca estadual saiu para ser senador, exonerou o presidente da Fundação no dia 16 de dezembro e ninguém fala por que Antonio Ubiratan de Alencastro, do mesmo PSDB do vice efetivado, foi assim subitamente descartado. Sempre ressalvando que mais tarde contarão direito a história, as pessoas dizem que “o Bira vacilou e foi exonerado” ou “queriam que o Bira fizesse coisas com as quais ele não concordou”.

 

Só há dois motivos para exonerar alguém do segundo escalão a 15 dias do fim do mandato: ou porque fez algo muito feio e errado ou porque recusou-se a fazer algo muito feio e errado. Pelo pouco que conheço do Bira, ele é o tipo do católico ativo, convicto dos Dez Mandamentos e incapaz de meter-se em aventuras condenáveis, feias e erradas.

 

Assim se dá a continuidade no governo do Estado: sob o signo do descaso. A Biblioteca Pública que se cuide.

 

 

EU TE COMPREENDO… de joão de abreu borges

 

 

Eu te compreendo…

Porque sei que estás vivendo da melhor maneira possível, apesar de todas as dificuldades financeiras que tens encontrado… e sorri para as conseqüências disto, principalmente a falta dos amigos que deixam minutos no chão para marcar o caminho mas se perdem, pois o tempo passa…

 

Eu te compreendo…

Porque sei que as suas intenções são as melhores possíveis e que estás procurando enxergar aquilo que poucos têm a coragem de procurar entender… e sorri para as consequências disto, principalmente a falta do que fazer quando muitos estão ocupados com tantas coisas…

 

Eu te compreendo…

Porque sei que a tua história se confunde com a história da maioria das pessoas que está ao seu redor, achando até mesmo graça no fato de às vezes se perderes no meio delas, encontrando-se como Um no organismo social que, nessas horas, faz sentido… e sorri para as consequências disto, principalmente quando tropeças por não conseguir acompanhar tanta pressa, tanta ânsia, tanto nervosismo…

 

Eu te compreendo…

Porque sei que quando dizes “sim”, talvez devesses dizer “não”, mas prefere a mentira quando esta se torna necessária para o bem estar do próximo… e sorri para as conseqüências disto, principalmente se quem recebeu esta tua gentileza seguiu em frente sem nem olhar para trás… e você nem reparou…

 

Eu te compreendo…

Porque sei que tu queres o melhor para ti, a partir do momento em que ensinas tudo aquilo que queres aprender e reflete a luz daquele que não consegue brilhar… e sorri para as consequências disto, principalmente o esgotamento que muitas vezes o deixa em dúvida, com o olhar perdido no céu… mas isto não o impede de caminhar.

 

Eu te compreendo…

Porque sei que teus princípios são os mais nobres possíveis… que tua voz é a mais elegante possível… que as tuas idéias tem um valor inestimável… que o teu amor surpreende até mesmo ao teu próprio coração… e sorri para as consequências disto, principalmente pela roupa simples que usas, pelo tênis apertado que ganhastes e pelo cabelo desmanchado que ainda não aparastes…

 

Eu te compreendo…

Porque sei, enfim, que tu compreendes a ti mesmo como um filho da natureza que está em evolução e em perfeita sintonia com os fenômenos do Universo e, assim, teu sorriso se expande entre árvores e estrelas, e nada disso tem conseqüência porque tudo está interligado.

 

Então, eu te compreendo!

 

LÍBIA e sua beleza natural – por haroldo castro / são paulo

Areias e montanhas pontiagudas do deserto de Akakus, Líbia


Começo 2011 com uma série de crônicas sobre a Líbia, um país tão enigmático como fotogênico. Escolho como ponto de partida o deserto, uma das mais paisagens mais belas do planeta.

Ali Mahfud é meu guia e tradutor durante essa jornada. Logo no primeiro dia, descubro que ele adora uma discussão filosófica, usando um francês que ele domina bem. “Aqui no deserto, a areia é a mãe e as rochas são suas filhas, pois as pedras foram feitas de areia”, afirma ele. Para manter a tensão do diálogo, rebato com uma visão mais geológica, dizendo que “as areias também são filhas das pedras, pois representam o resultado da erosão dos arenitos.”

As paisagens inspiram discussões filosóficas. A areia é a mãe das rochas? Ou, pelo resultado da erosão, a areia é filha das pedras?

Nossa conversa é uma viagem que se confunde com o próprio cenário. Rodeados por dunas gigantescas e formações rochosas pontiagudas, que nos transportam a outro mundo, estamos no deserto de Akakus, parte do infinito Saara.

O Akakus é a continuação do Parque Nacional Tassili N’ajjer, situado na Argélia. É bem diferente dos outros desertos que conheci até então. Hospeda dunas altas – algumas com mais de 100 metros de altura – e suas areias variam do branco ao ocre, passando pelo amarelo ouro e pelo quase-vermelho. Mas é o jogo entre as dunas dinâmicas e as formações rochosas que fazem de Akakus um lugar excepcional. Para os tuaregues, nômades da região e guardiões do deserto, é um “lugar” (aka)“tórrido” (kus), mas para a viajante parisiense Françoise Dubeau é simplesmente “o deserto de meus sonhos de criança.”

No deserto de Akakus, existe um jogo contínuo e dinâmico entre as dunas de areias coloridas e as formações rochosas.

Não é fácil chegar a esse recanto perdido do globo. Demanda muita logística para adentrar o deserto: duas Toyotas Land Cruiser 4×4, com tanques extra de 200 litros de combustível; equipamento de cozinha e comida de sobra; barracas, sacos de dormir, colchões e cobertores. E muita, muita água.

Sebha é a porta de ingresso ao Saara. É a principal cidade do Fezzan, nome da região situada ao sudoeste do país. Qualquer visitante estrangeiro que queira conhecer o deserto na Líbia deve passar obrigatoriamente por Sebha. Para os imigrantes ilegais vindos do Sudão, do Chade e do Niger, essa cidade de 130 mil habitantes é também um marco importante antes que eles possam viajar, como clandestinos, de Trípoli para a Europa. Sheba, com suas largas avenidas asfaltadas, seu aeroporto moderno e seus ricos mercados, é uma encruzilhada de cores e culturas.

Mais de 400 km separam Sebha das montanhas do Akakus. Durante o trajeto observo uma prova do poder da água e da vontade política. Poços artesianos que chegam a 450 metros de profundidade trazem água à superfície. O sagrado líquido transforma o solo árido em um tapete verde de trigo, milho e outras plantações.

O asfalto acaba em Sardalas. Agora é rumar para o leste e enfrentar a poeira, o calor e as pistas de areia e pedras. As montanhas negras que definem o Akakus, que se confundiam com a linha do horizonte, ganham mais presença. Quarenta quilômetros e duas horas depois alcançamos as primeiras pedras que brincam com nossa imaginação. Moldados pela erosão do vento (e, algumas raras vezes, da água) e pelas diferenças de temperaturas extremas entre as noites de inverno e os dias de verão, os arenitos de Akakus tomam as formas mais bizarras.

O monolito Ad’ad (significa, em idioma berbere, “dedo”) é o marco de entrada nesse mundo de objetos e pessoas que viraram pedra. “Parece que estamos na Lua”, diz Ali Mahfud. Para alimentar nossa peleja semântica, respondo que “a comparação com Marte seria melhor, pois a areia daqui é toda vermelha.” Ambos somos do mesmo signo de Áries e a viagem está apenas começando…

O monólito Ad’ad marca o ingresso no mundo insólito e imaginativo das pedras. Em idioma berbere, Ad’ad significa dedo.

RE.

PANELAS, terra dos cabanos – por josé alexandre saraiva / curitiba


Encravada no brejo de Pernambuco, meio mata, meio agreste, Panelas é cercada de serras majestosas. Os moradores respiram doces aromas de árvores frutíferas e são acalentados por brisas vespertinas que beijam as folhas do mulungu, dos cajazeiros, das mangueiras e dos juazeiros. A temperatura média é a mais acolhedora do mundo: varia entre 17°C  e 25°C..

 

No passado, suas encostas íngremes e os recônditos de matos impenetráveis serviram de palco em tórridas batalhas da Guerra dos Cabanos. Nesse cenário, realçado pelas venerandas Serras da Bica, do Boqueirão e dos Timóteos, forças dos governo registraram incontáveis baixas na Revolta de Panelas, iniciada em 1832. A Cabanada ganhou as páginas da História por sua singularidade. Tinha como objetivo o retorno ao trono do imperador Pedro I. A guerra, como posteriormente ocorreria no Pará e em outras regiões do Brasil, embora com conotações distintas, foi deflagrada por estar em jogo o status quo das elites dominantes, incluindo donos de engenhos apreensivos com a ruptura do modelo político e social promovido pela regência. Abrupto aumento da concorrência comercial, desvalorização da moeda, iminente suspensão de importação de escravos e insegurança jurídica formaram o pano de fundo do levante. Com engodos assistencialistas, sobretudo de fixação do lavrador como titular da terra e o fim do cambão, apoiados pelo clero, burgueses e aristocratas conservadores, dissidentes do núcleo  litorâneo do poder, seduziram a massa rural com o canto da sereia. Além de senhores de engenho, doutrinaram pessoas simples, moradores de cabanas rústicas, fornecendo-lhes armas e munição para cruentas e selvagens lutas. O contingente rebelde, que no auge do conflito correspondia a 10% da população pernambucana, era formado pelos camponeses, índios, negros e caboclos. Ocorreu que a liderança inicial do movimento – composta de pseudo-ideólogos de uma liberdade que nunca iria existir, donos de escravos e paladinos de uma restauração política impossível –  logo recuou. Mas ignoraram que isso já era tarde para deter a marcha do confronto. Ele prosseguiria de modo selvagem nos recessos das matas. Não havia mais tempo para retirar dos cabanos a doutrina de uma suposta injustiça, que teria sido praticada contra o imperador, e da ameaça real de expulsão das pequenas glebas, à época ocupadas graças a benesses ou favores concedidos pelos latifundiários. Na melhor das hipóteses, por esse modelo de fixação do homem à terra, os trabalhadores livres submetiam-se ao cambão, que consistia em entregar ao senhorio metade da suada produção. Os rebeldes, em sua maioria  elementos rudes e de valentia indomável, utilizavam táticas de guerrilha para dificultar as estratégias do inimigo, isto é, da força militar. E assim, à lavagem cerebral de reentronização de Pedro I, inicialmente apregoada, afloraram interesses próprios e legítimos dos cabanos, como o direito claro e objetivo à posse da terra e à sobrevivência digna. Em Panelas, o quartel-general dos cabanos era na Serra dos Timóteos, assim batizada em homenagem aos líderes locais, os irmãos Antônio e João Timóteo. Com o decorrer do tempo, o comando geral dos Cabanos, compreendendo os estados de Pernambuco e Alagoas, foi assumido por Vicente Ferreira de Paula. Com larga experiência militar, ele consolidou e liderou o movimento até o seu epílogo. Recolheu-se, com reduzido grupo de rebeldes (apelidados “papa-méis”), sem aceitar anistia, ao seu recanto predileto, um lugar chamado Riacho do Mato. Mas as forças legais continuaram vendo nele uma ameaça. Anos depois, apunhalado pelas costas numa cilada engendrada covardemente pelo Marquês do Paraná, famoso fazendeiro de café no Rio de Janeiro, foi preso aos 59 anos de idade, cumprindo uma pena de reclusão de 10 anos em Fernando de Noronha. Com a liberdade, setuagenário, teria ido morar em Alagoas, em cuja costa, insistentemente, no passado, tentara tomar de assalto um porto imaginando receber o venerado imperador Pedro I.

 

Certamente morreu sonhando um grande sonho, nunca o sonho daqueles doutrinadores iniciais, de ocasião. Um sonho ainda não convincentemente decifrado pela História oficial. Um sonho para o qual no começo foram conduzidos e que, com os desdobramento, no final, tiveram motivos próprios para, independentemente dos “doutrinadores”, perseguirem genuíno sonho. E isso já era tudo. Um sonho de pouco discurso, movido a cheiro de terra, de liberdade, de coragem e de braços fortes. Claro, de pólvora também. Um papa-mel poderia sonhar mais fundo ou mais largo do que suas braçadas firmes no sagrado solo natal? Eis porque foi um sonho legítimo: nunca esteve além do fruto da terra. Sequer foi mais alto que as lendárias Serra dos Timóteos , da Bica e do Boqueirão. Bastava a flor do mandacaru para demarcar fronteiras…

 

 

O nome Panelas

 

 

Para alguns pesquisadores, a palavra que dá nome à cidade originou-se da tradição dos antigos habitantes, especialmente os índios, na manufatura de panelas de barro. Outros atribuem a denominação à geografia urbana, comprimida entre os sopés de suas serras. Fico com a primeira versão. Ora, a palavra está registrada no plural (“Panelas”), a indicar a existência de provável cultura de artefatos de barro produzidos pelos antepassados. A localização da cidade, vista do topo de uma das três proeminentes serras, pode, quando muito, lembrar uma panela, mas uma só, no singular. Por outro lado, soa desproposital comparar o conjunto geográfico de suas terras a trempes de panelas – a menos que se admita um gigantesco triplé de serras para assentar panelas colossais, com vários quilômetros de diâmetro, vindas de outros planetas! Mesmo assim, e apenas como reforço de argumento final, o nome não poderia ser Panelas. Na melhor das hipóteses, seria Trempe, ou, com mais esforço ainda, “Trempes”.

 

 

 

general José Elito Carvalho, chefe do Gabinete de Segurança Institucional: ” A mais indecente declaração em 40 anos”

Vergonha é não ter vergonha

Começa muito mal a gestão Dilma Rousseff: deveria ter demitido no ato o general José Elito Carvalho, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, para quem não há motivo para vergonha no fato de o país ter desaparecidos políticos.

Familiares exibem fotos de desaparecidos durante a ditadura

No mínimo, no mínimo, a presidente deveria ter exigido de seu subordinado que emitisse nota oficial explicando as declarações que deu e que, segundo ele, foram mal interpretadas. Não cabia interpretação nenhuma. O general produziu a mais indecente declaração que ouvi até hoje em 40 anos de acompanhamento de questões vinculadas aos direitos humanos nas muitas ditaduras sul-americanas.

Achar que se trata de “fato histórico” é zombar do público. Quer dizer então que os desaparecidos foram tragados por um tsunami, por um terremoto, um vendaval, “fatos” naturais contra os quais não há mesmo remédios nem culpados?
Não, meu Deus do céu, não. Foram produzidos por mãos humanas, se é que são de fato humanas pessoas capazes de tal barbaridade. Mãos que, até agora, não tiveram as digitais colhidas nem as responsabilidades devidamente apuradas, é bom lembrar.
Por extensão, há, sim, todas as razões do mundo para ter vergonha do que aconteceu. Como é possível a um ser humano O novo ministro do Gabinete de Segurança Institucional, General José Elito                     Carvalho Siqueira. Foto: Marcos Ommati/Diálogo
não sentir vergonha de o Estado brasileiro, em uma determinada etapa, ter feito desaparecer adversários políticos? É indecente, é obsceno.
Um funcionário público, graduado ou não, fardado ou não, que não sinta vergonha não é digno de continuar a serviço da sociedade, muito menos ainda na posição de responsável pela segurança institucional da República. É, visivelmente, um promotor da insegurança, jurídica e pessoal, ao tomar como “fato histórico” o que é crime.
Ou o general explica, limpidamente, o que pensa sobre o assunto ou se demite.
Conversa Afiada. pha.

VERA LUCIA KALAHARI e sua poesia / portugal

NOITES DE INSÓNIA

Oh…Estas noites de insónia

Terríveis, infinitas

Onde o próprio vento    `

Parece escorraçar-nos.

Onde cada pulsação é um tiro

Quebrando a escuridão

E cada sombra um mistério,

Cada ramo erguido

Uma garra que nos quebranta

Cada minuto, uma agonia…

Estas noites que me atemorizam

Em que cada  sombra é um fantasma,

E cada homem, cada amigo, um inimigo…

Lá longe, muito ao longe,

Ouve-se o cantar do mar.

…Depois, mais nada.

Só o pulsar cadenciado do meu coração

Muito alto…Muito alto…

É a hora em que as flores tombam em morte lenta

Tentando numa ânsia  agónica

Prenderem-se à terra.

Em que se ouvem, perdidos,

Os gritos lancinantes das crianças…

É a hora em que a morte surge, à espreita…

A hora em que os famintos curvados no lixo

Buscam, como se colhessem flores,

-Estranhas flores-

Pedaços de pão…

É a hora das coisas, dos silêncios, dos homens…

Em qualquer parte, em qualquer terra,

É a hora amarga dos pesadelos

Em que nos sentimos sós

Como se nos rodeasse já

A solidão torturante damorte.

Oh… Estas terríveis noites…

Este terrível chamamento, este horroroso apelo

Dum mundo em pranto.

O MEU CREDO

Creio

No cristal límpido

Em que se hão de transformar

Os pensamentos lodosos.

No sorriso iluminando rostos

Nos trajes luminosos que hão-de cobrir os homens:

Os trajes da liberdade.

No vinho doce que há-de embriagar

Mentes enlouquecidas…

No tropel de gente esperançada

Que há-de correr, chorando,

Para o Bom Deus, temendo chegar atrasada.

E vós

Que olhais sem verdes nada

Que fechais a alma à esperança,

Que tiritais ao frio da nortada

Esperai, por favor, pelo sol ardente

Que vos virá aquecer…

Porque, crede: O tempo sem violência de que vos falo,

Virá…Terá que vir…Acreditai.

O Sofá – por omar de la roca / são paulo

É meu costume deixar o despertador adiantado quinze minutos.Podia deixar na hora certa também e colocar para despertar quinze minutos antes.Mas é o meu jeito. Hoje de manhã acordei, depois de um sonho meio agitado.Esfreguei os olhos e comecei a lembrar do sonho.Me lembro que fazia referencia a um sofá.Sacudi a cabeça e sorri.Apenas um sonho.Peguei meu anel que estava no criado mudo e só então me lembrei do folheto.Estava debaixo do anel. Alguém colocara em minha mão na saída do metro Brigadeiro e eu distraído,coloquei no bolso de trás das calças. Mais tarde ao pendurá-las, encontrei o folheto.Então o sonho todo fez sentido.Reli o texto. Falava de um sofá que apagava as memórias. O texto não era muito longo, não dava maiores explicações. Era um sofá que você sentava, após assinar um contrato,que apagava as memórias que você havia escolhido previamente.Dizia que haviam se esmerado para decorar cada instalação ( que é como chamavam as lojas de esquecimento ). A que ficava nos Jardins era minimalista. Uma sala branca , um sofá branco de couro ( falso ,ecologistas ), um tapete branco e uma televisão de LCD de 52 polegadas. No centro antigo, era uma sala menor, de paredes amarelas, tapete azul e quadros escuros. A TV era de LCD, mas de 32 pol. Na Berrini era uma sala toda preta, com um sofá escuro.Parecia um confessionário do BBB. Tudo era pensado para garantir o conforto. Três outras lojas estavam em fase de acabamento no Rio de Janeiro. Havia ainda uma pequena descrição do método usado. Colhia-se um pouco de sangue para verificar a coagulação e outros itens.Media-se a pressão sanguínea. De cara desconfiei que era armação. Colocavam musica New Age em seus ouvidos,na TV vídeos de animais da Nat Geo ( a sua escolha ), incenso indiano  e colocavam sob a língua do requisitante uma suspeita pastilha de hortelã. Ah, detalhe , funcionava vinte e quatro horas. Mas não informava os preços. Como ainda era cedo, não me contive. Peguei no telefone e liguei para o primeiro numero da lista ( cada instalação tinha seis números diferentes ! ).Pensei que era um negocio em expansão que exigia  que os contatos fossem  imediatos. Uma voz eficiente atendeu antes do segundo toque. Dei meu nome e solicitei algumas informações. A voz que amavelmente se identificou como Maria ( Hum ! ) disse que estava as minhas ordens. Comecei perguntando sobre os preços.

– Depende da distancia que a memória escolhida esta do presente, senhor. Quanto mais distante, mais cara.

– Porque ?

– Porque dispende maior quantidade de energia para obter o efeito do relaxamento  (esquecimento ).

– E posso fazer um pacote de memórias a serem esquecidas ?

– Sim senhor,numa única sessão podemos relaxar ate quatro memórias, desde que de épocas próximas.Não podemos por exemplo relaxar uma memória sua aos sete anos e outra aos dezessete. Tem um arco máximo de três anos.

– E posso apagar, digo relaxar longos períodos ?

– Infelizmente ainda não temos autorização para relaxar longos momentos.Usamos o método americano que ainda é o mais seguro. Estão desenvolvendo relaxamentos de períodos mais longos, mas ainda não temos tecnologia segura e nosso presidente ainda não autorizou.

– Da empresa ?

– Não senhor, da republica. Os russos estão em fase adiantada de testes para relaxamentos longos. Comenta-se na Internet que conseguiram relaxar a infância de uma senhora que viveu esta época de sua vida durante  a ultima grande  guerra.Só não comentam o resultado,mas parece que ela ficou mais alegrinha.

– E é caro ?

– Não senhor, a relação custo benefício é excelente.

– E quanto seria para uma memoriazinha de infância ?

– Desculpe me senhor, só informamos preços pessoalmente.

– E o governo brasileiro, não faz nada para tentar abaixar os preços ?

– Os preços não são altos senhor. No momento os parlamentares estão mais preocupados com aumentos do que com descontos. Não devia comentar com o senhor mas os preços das memórias de guerra estão entre os mais altos.É que normalmente estas pessoas podem pagar mais.

– E o que vocês fazem com as memórias ?

– Depende do senhor. As memórias podem ficar armazenadas conosco por ate dez anos.Ou por um extra podem ser irreversivelmente destruídas.

– Destruídas ?

– Sim, se for uma coisa que o senhor tem certeza de que não quer mesmo mais saber…

– Pensei um pouco,memórias . Mas Maria ainda estava na linha e batia o lápis no caderno.

– Pode me explicar um pouco do procedimento ?

– Não sei muitos detalhes. Já fiz uma vez para esquecer uma coisa de que não gostava. Mas não dói. Não é como tatuagem.

– E o que você queria esquecer ? Existe devolução ?

– Desculpe me mas não me lembro.Fiz o pacote econômico, que guarda a memória por dois anos. Ao fim deste período poderei optar por lembrar a memória ou ela será destruída. Mas o nosso índice de desistência de esquecimento é mínimo. Depois que a pessoa esquece, dificilmente se lembra de pedir devolução do produto.

– E onde as memórias ficam guardadas  ? Não existe perigo de roubo ?

– Não senhor. As memórias são codificadas duas vezes antes de serem enviadas ao cofre em Brasilia. As senhas de acesso a cada uma delas ficam em poder de nosso presidente.

– Da república ?

– Não senhor, de nossa empresa. Nomeado pelos conselheiros americanos.

– Fingi que alguém falava comigo, pedi um minuto,cobri o fone com a mão e pensei.Será que é verdade? Que memórias, por mais difíceis, deveríamos esquecer ? A vida já não se encarregar de faze-lo ? Mas não. Existem coisas que nem a vida consegue varrer de nossa memória.

– Senhor Omar ?

– Desculpe me Maria, já retorno. Memórias tristes, que se agarravam a meus pés. Memórias que gostaria de deletar por definitivo. Mágoas, incompreensões, abusos.Poderia deleta-los todos, com uma só sessão. Só para começar. Depois estudaria as outras mais recentes.

– Maria, e quando vocês tem hora ?

– Só um momento senhor Omar,vou consultar em todas as lojas.

Ouvi o som to teclado sendo tocado rapidamente.  De novo.

– Só mais um momento senhor Omar.Me parece que a loja dos Jardins, esta com uma desistência para Novembro do ano que vem.

– Novembro ? Mas estamos em Dezembro !

– Nosso procedimento exige um período mínimo de seis meses durante o qual o paciente é acompanhado por psicólogos para ter certeza de que quer mesmo esquecer.

– E não existem exceções ?

– Sim senhor Omar, mas só são autorizadas pela presidente.

– Da república ?

– Sim senhor. Agora no final do ano damos entrada dos processos urgentíssimos, que serão julgados em no máximo três meses.Mas adianto que apenas alguns privilegiados conseguem. Ca entre nós, custa muito caro. Apenas alguns políticos conseguem.

– E a tecnologia é segura? Não corro o risco da memória voltar expontâneamente ?

– Olha senhor Omar, temos ordens de não dizer nada sobre isso. Mas gostei do senhor . Alguns de nossos pacientes esqueceram-se  de  mais do que deveriam. Mais do que constava no pacote. Estão com amnésia . Não conseguimos fazer as memórias voltarem. Nunca mais serão os mesmos. Mas se o senhor disser que eu contei , nego ate a morte. Para sua segurança as ligações não são gravadas.

– E nesse caso que você ( não ) me contou,o dinheiro é devolvido ?

– Não senhor. Após o procedimento realizado não há devolução. É feito apenas acompanhamento do paciente e da família.Esta é uma das cláusulas do contrato.

– E ninguém reclamou ?

– Achamos que algumas reclamações serão enviadas a nossa presidente no ano que vem.

– E como pretendem lidar com elas ?

– Isso fica a cargo da gerencia senhor Omar, sou apenas uma atendente.

– Desculpe me Maria, mas este emprego é bem pago? Você ganha comissão ?

– Esta acima da média do mercado,senhor Omar.Temos um adicional de contratos firmados. Deu para reformar nosso apartamento no Guarujá, no ano passado.

– Ah, entendi.Tem plano de saúde? Cartão alimentação ?

– Senhor Omar, o senhor não é repórter , não é ?

– Não, não, escritor.

– Então ta. Nossos benefícios incluem  os melhores hospitais e os melhores restaurantes.Podemos ate optar por esquecer algumas memórias por preço promocional.Mas depois que fiquei sabendo dos problemas, não me arrisquei mais.

– E a igreja, não é contra ?

– No começo o papa quis impor restrições no relaxamento. Memórias religiosas não poderiam ser incluídas. Mas somos contra o sofrimento e conseguimos passar por cima das imposições.Tudo que o paciente quiser,podemos relaxar.

– Ta bom Maria, não vou te perturbar mais.Obrigado.

– Não tem problema senhor Omar, venha tomar um café conosco quando estiver por perto. O senhor será sempre bem vindo. Diga que falou comigo, que o segurança o deixará passar.

– Esta bem Maria. Prometo passar por ai qualquer dia destes.Obrigado pelas informações.As guardarei sempre em minha memória.

– O senhor é quem sabe. Qualquer coisa podemos dar um jeitinho pro senhor. É o nosso negócio.

– Ok Maria, agradeço novamente, bom ano novo.

Coloquei o folheto dentro da gaveta do criado mudo. Preciso pensar. Será que algum dia vou me arriscar a deletar algumas memórias? Como irei me sentir ? Irei sentir falta delas ? Se me arriscar, não ficará um buraco em meu passado ? Será confortável ? Ou será como uma coceira que não se consegue coçar ? Por enquanto acho que vou ficar com elas. Boas ou más, a elas estou acostumado.Criei couraças. Mas de vez em quando as defesas caem. Só ai então irei me decidir a tomar um café com Maria e quem sabe agendar um relaxamento.

O pé de rosadá – por débora guedes / coruripe.alagoas


Sempre fui uma pessoa apegada a sons, aromas e sabores. Bem, observando minha forma física, muito mais em sabores do que em aromas e sons. Quando cheguei à emissora de rádio para editar um material de áudio da prefeitura em que trabalho, vi uma plantinha bastante familiar… Era um arbusto filhote ainda, quase imperceptível, meio sem graça, visto que suas folhas estavam maltratadas e seus frutos escassos. Era um pé de rosadá. Imediatamente, fui transportada para a infância vivida no sítio do meu avô, no povoado Estiva, na cidade de Coruripe.
Viajei até aquela casa, situada no alto de um morro, ladeada pelo alpendre onde redes e cadeiras de balanço convidavam para o descanso – se bem que a última coisa que uma criança queria, naquele paraíso, era descansar. Os quatro quartos eram simples, de piso grosso, com camas de madeira firme e lençóis caprichosamente lavados exalando cheiro de sabão em pó. O quarto de meus avós era um caso a parte: tinha guarda-roupa grande, penteadeira com muitos perfumes, talco, pó de arroz, cremes e muitas imagens de santos e terços. As marcas dos cosméticos eram populares, mas faziam a nossa festa. Todos tinham janelas enormes que permitiam a ampla entrada do sol e do vento. Fui levada pelo cheiro da lembrança àquelas salas de jantar e TV, onde religiosamente, todos os domingos, eu assistia a um programa de música regional, na companhia do meu avô, ouvindo a música tema de Renato Teixeira “Amanheceu, peguei a viola” e via a abertura linda que a emissora do plin-plin deixou de exibir.
A cozinha, que além do fogão a gás trazido pela modernidade, tinha um típico fogão à lenha, que era utilizado para cozinhar o feijão de arranca, temperado apenas com sal. Não que faltassem condimentos na casa de meus avós. Mas ele, o feijão, era preparado dessa forma, e confesso que jamais provei algo tão gostoso. Tentei prepará-lo igual em casa, mas não surtiu o mesmo efeito. Acho que a mágica estavam naquelas panelas sujas de cinza, nas lenhas do fogão e principalmente nas mãos calejadas de minha avó.
O quintal parecia um planeta colorido, saboroso com cajueiros, jaqueiras, bananeiras, goiabeiras, saputis, mangueiras, jabuticabeiras, limoeiros, laranjeiras, pitombeira, pés de café… Não que meu avô tivesse sido barão de café, porque com o escasso dinheiro, ele seria, na brincadeira, um café com leite. Mas tínhamos um pé e provávamos da fruta que por incrível que pareça, tem um sabor doce, meio enjoativo.
A oficina onde o caminhão e a saveiro eram consertadas, também era a montadora dos carros de rolimã, e carrinhos feitos de lata de óleo com os quais meus primos costumavam brincar.
Havia do outro lado da estrada de barro, um sítio de manga, com campo de várzea, para os famosos rachas, um cercado com algumas vacas que supriam nossa necessidade de leite fresco e o limite entre a terra vizinha, era o Rio Coruripe. Existia também uma casa de farinha onde descascávamos mandioca, colocávamos em sacas e meus tios colocavam sob a prensa, para retirar o líquido tóxico da raiz. Depois desse processo, a massa crua era peneirada por nós, em uma folia contagiante e levada ao forno de lenha, grande, redondo onde meus tios mexiam a melhor farinha que já comi. Lá, na casa de farinha, as risadas eram soltas, sem pudores e nós, as crianças, sempre a enlouquecer o juízo dos mais velhos – Eu mais que os outros, já que vivia às turras com meus primos e às quedas, porque falta de equilíbrio e coordenação me acompanha desde sempre. Qualquer semelhança com o fato de eu ser acadêmica de fisioterapia, não é mera coincidência.
Nas refeições, a mesa era farta de comida e principalmente de gente. Meu avô como típico patriarca do interior nordestino, não permitia que viva alma saísse de sua casa de estômago vazio. Tinha que estufar! “Coma!” Ordenava. “Tem feijão, arroz, macarrão, charque, carne guizada, peixe frito e salada. Se ‘silva’”, dizia ele em sua ingênua falta de traquejo na pronúncia da língua portuguesa.
Perto da casa de farinha, tinha uma mangueira e abaixo dela, um tronco quase sexagenário onde sentávamos as tardes para prosear e as noites para cantar ao som extraído das cordas surradas, porém afinadas do violão de meu tio.
Nas férias, ao chegar naquela casa, na subida do pequeno morro, o cheiro daquela planta sinalizava que minha festa estava apenas começando. Quando vejo o arbusto florido lembro-me daquele lugar, da minha infância muito bem vivida.
Confesso que antes de escrever esse post, liguei para minha prima e perguntei: “Kássia, como é mesmo o nome daquela planta que tem o cheiro da casa da vovó?” E sem pestanejar, ela respondeu: “Ah! É o pé de rosadá”.

DILMA ROUSSEFF PRESIDENTE !

Marcelo Casal/ABr / Dilma e o  vice-presidente Michel Temer sobem a rampa do Palácio do Planalto: promessa da nova presidente é de manter a estabilidade econômica
Dilma e o vice-presidente Michel Temer sobem a rampa do Palácio do Planalto: promessa da nova presidente é de manter a estabilidade econômica

Na posse, Dilma anuncia meta de erradicar a miséria no país

Nova presidente também deu destaque especial à luta pela melhoria da saúde, educação e segurança pública, áreas de forte demanda social

BRASÍLIA – A presidente Dilma Rousseff (PT) tomou posse ontem como a primeira mulher a comandar o Brasil. Disse que a pobreza extrema “envergonha o país’’. E reiterou que sua principal meta de governo será erradicar a fome e a miséria. Também deu uma especial atenção ao compromisso de lutar pela qualidade da educação, saúde e segurança – algumas das principais demandas da sociedade.

Aos 63 anos, a ex-militante de esquerda e ex-presa política foi oficialmente declarada empossada às 14h52 por um antigo integrante do campo político da ditadura que ela combateu, o presidente do Senado e do Congresso, José Sarney (PMDB-AP).


Brasília – A presidente Dilma Rousseff (PT) passou as duas últimas semanas debruçada sobre os discursos feitos ontem no Congresso Nacional e no Palácio do Planalto. Os textos finais contaram com sugestões do publicitário João Santana (marqueteiro das campanhas presidenciais dela e de Lula) e dos ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio).

“Eles ajudaram, mas foi a própria Dilma quem conduziu o trabalho. A presidente é muito inventiva, gosta disso”, diz o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. O paranaense se disse “emocionado” com o teor dos discursos.

“É muito importante que ela tenha colocado como um avanço necessário e imprescindível a questão da erradicação da miséria.” Carvalho também adiantou que a primeira reunião da nova equipe de coordenação política do governo será realizada na terça-feira. Segundo ele, porém, ainda não está definido quem integrará a equipe.


Saúde terá papel fundamental no combate à pobreza extrema

Apontado como meta primordial do governo por Dilma Rousseff, o combate à miséria integrará todos os ministérios.

O discurso de 40 minutos de Dilma no Congresso, onde tomou posse, foi basicamente uma repetição de compromissos que ela vem assumindo desde sua eleição, além dos tradicionais elogios dos anos de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem ontem recebeu a faixa presidencial. A novidade foi a introdução daquele que pode ser seu bordão de discursos de Dilma: “Queridas brasileiros, queridos brasileiros’’.

O texto teve como mote a afirmação de que seu antecessor e padrinho político promoveu o “despertar de um novo Brasil’’ e “o maior processo de afirmação’’ que o país já viveu, disse a petista, que é a 40.ª pessoa a ocupar ocupar a Presidência da República.

Dilma reafirmou que a luta de seu governo será “a erradicação da pobreza extrema e a criação de oportunidades para todos’’, além da melhora na “educação, saúde e segurança.’’ “Não vou descansar enquanto houver brasileiros sem alimentos na mesa, enquanto houver famílias no desalento das ruas, enquanto houver crianças pobres abandonadas à própria sorte”, disse. “Essa não será uma tarefa isolada de um governo, mas um compromisso a ser abraçado por toda a sociedade”, ressaltou.

Ao citar que outra prioridade no seu governo será a luta pela qualidade da educação, saúde e segurança, Dilma destacou que para melhorar a qualidade do ensino os professores precisam ser “tratados como verdadeiras autoridades da educação, com formação continuada, remuneração adequada e sólido compromisso com a educação das crianças e jovens”.

Economia

A nova presidente defendeu ainda em seu discurso de posse uma reforma política urgente “para fazer avançar nossa jovem democracia” e dar longevidade ao atual ciclo de crescimento. “É, portanto, inadiável a implementação de um conjunto de medidas que modernize o sistema tributário, orientado pelo princípio da simplificação e da racionalidade”, afirmou.

Dilma reiterou que manterá a estabilidade econômica como valor absoluto. “Já faz parte de nossa cultura recente a convicção de que a inflação desorganiza a economia e degrada a renda do trabalhador”, afirmou. “Não permitiremos, sob nenhuma hipótese que esta praga volte a corroer nosso tecido econômico e a castigar as famílias mais pobres”.

Ela prometeu também não fazer a menor concessão ao protecionismo dos países ricos “que sufoca qualquer possibilidade de superação da pobreza” e fazer um trabalho permanente e continuado para melhorar o gasto público.

Apoio político

Dilma pediu também o apoio dos partidos políticos, instituições e sociedade para governar o país. “O Brasil do futuro será exatamente do tamanho daquilo que, juntos, fizermos por ele hoje. Do tamanho da participação de todos e de cada um”.

Dilma prestou também homenagem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, embargando a voz ao citá-lo e especialmente ao vice, José Alencar, internado em São Paulo, “pelo exemplo de coragem” no combate ao câncer. Alencar luta contra tumores malignos no intestino e não pôde comparecer à posse de Dilma.

André Gonçalves, correspondente

DILMA ROUSSEFF, discurso de posse no CONGRESSO NACIONAL

Dilma Rousseff  e Michel Temer foram empossados presidente vice, respectivamente, às 14h52 deste sábado no Congresso Nacional. Dilma fez um discurso de 40 minutos.

abaixo, leia a íntegra:

“Senhor presidente do Congresso Nacional, senador José Sarney,
Senhores chefes de Estado e de Governo que me honram com as suas presenças,
Senhor vice-presidente da República, Michel Temer,
Senhor presidente da Câmara dos Deputados, deputado Marco Maia,
Senhor presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Cezar Peluso,
Senhoras e senhores chefes das missões estrangeiras,
Senhoras e senhores ministros de Estado,
Senhoras e senhores governadores,
Senhoras e senhores senadores,
Senhoras e senhores deputados federais,
Senhoras e senhores representantes da imprensa,
Meus queridos brasileiros e brasileiras,

Pela decisão soberana do povo, hoje será a primeira vez que a faixa presidencial cingirá o ombro de uma mulher.

Sinto uma imensa honra por essa escolha do povo brasileiro e sei do significado histórico desta decisão.

Sei, também, como é aparente a suavidade da seda verde-amarela da faixa presidencial, pois ela traz consigo uma enorme responsabilidade perante a nação.

Para assumi-la, tenho comigo a força e o exemplo da mulher brasileira. Abro meu coração para receber, neste momento, uma centelha da sua imensa energia.

E sei que meu mandato deve incluir a tradução mais generosa desta ousadia do voto popular que, após levar à presidência um homem do povo, um trabalhador, decide convocar uma mulher para dirigir os destinos do país.

Venho para abrir portas para que muitas outras mulheres também possam, no futuro, ser presidentas; e para que – no dia de hoje – todas as mulheres brasileiras sintam o orgulho e a alegria de ser mulher.

Não venho para enaltecer a minha biografia; mas para glorificar a vida de cada mulher brasileira. Meu compromisso supremo – eu reitero – é honrar as mulheres, proteger os mais frágeis e governar para todos!

Venho, antes de tudo, para dar continuidade ao maior processo de afirmação que este país já viveu nos tempos recentes.

Venho para consolidar a obra transformadora do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, venho para consolidar a obra transformadora do Presidente Lula, com quem tive a mais vigorosa experiência política da minha vida e o privilégio de servir ao país, ao seu lado, nestes últimos anos. De um presidente que mudou a forma de governar e levou o povo brasileiro a confiar ainda mais em si mesmo e no futuro do país.

A maior homenagem que posso prestar a ele é ampliar e avançar as conquistas do seu governo. Reconhecer, acreditar e investir na força do povo foi a maior lição que o presidente Lula deixa para todos nós.

Sob a sua liderança, o povo brasileiro fez a travessia para uma outra margem da nossa história.
Minha missão agora é de consolidar esta passagem e avançar no caminho de uma nação geradora das mais amplas oportunidades.

Quero, neste momento, prestar minha homenagem a outro grande brasileiro, incansável lutador, companheiro que esteve ao lado do Presidente Lula nesses oito anos: nosso querido vice-presidente José Alencar. Que exemplo de coragem e de amor à vida nos dá este grande homem!! E que parceria fizeram o presidente Lula e o vice-presidente José Alencar, pelo Brasil e pelo nosso povo!!

Eu e o vice-presidente Michel Temer nos sentimos responsáveis por seguir no caminho iniciado por eles.

Um governo se alicerça no acúmulo de conquistas realizadas ao longo da história. Ele sempre será, ao seu tempo, mudança e continuidade. Por isso, ao saudar os extraordinários avanços recentes, liderados pelo presidente Lula, é justo lembrar que muitos, a seu tempo e a seu modo, deram grandes contribuições às conquistas do Brasil de hoje.

Vivemos um dos melhores períodos da vida nacional: milhões de empregos estão sendo criados; nossa taxa de crescimento mais que dobrou e encerramos um longo período de dependência do Fundo Monetário Internacional, ao mesmo tempo em que superamos a nossa dívida externa.

Reduzimos, sobretudo, a nossa dívida social, a nossa histórica dívida social, resgatando milhões de brasileiros da tragédia da miséria e ajudando outros milhões a alcançarem a classe média.
Mas, em um país com a complexidade do nosso, é preciso sempre querer mais, descobrir mais, inovar nos caminhos e buscar sempre novas soluções.

Só assim poderemos garantir, aos que melhoraram de vida, que eles podem alcançar mais; e provar, aos que ainda lutam para sair da miséria, que eles podem, com a ajuda do governo e de toda a sociedade, mudar de vida e de patamar.

Que podemos ser, de fato, uma das nações mais desenvolvidas e menos desiguais do mundo – um país de classe média sólida e empreendedora.

Uma democracia vibrante e moderna, plena de compromisso social, liberdade política e criatividade.

Queridos brasileiros e queridas brasileiras,
Para enfrentar estes grandes desafios é preciso manter os fundamentos que nos garantiram chegar até aqui.

Mas, igualmente, agregar novas ferramentas e novos valores.

Na política é tarefa indeclinável e urgente uma reforma com mudanças na legislação para fazer avançar nossa jovem democracia, fortalecer o sentido programático dos partidos e aperfeiçoar as instituições, restaurando valores e dando mais transparência ao conjunto da atividade pública.

Para dar longevidade ao atual ciclo de crescimento é preciso garantir a estabilidade, especialmente a estabilidade de preços, e seguir eliminando as travas que ainda inibem o dinamismo da nossa economia, facilitando a produção e estimulando a capacidade empreendedora de nosso povo, da grande empresa até os pequenos negócios locais, do agronegócio à agricultura familiar.

É, portanto, inadiável a implementação de um conjunto de medidas que modernize o sistema tributário, orientado pelo princípio da simplificação e da racionalidade. O uso intensivo da tecnologia da informação deve estar a serviço de um sistema de progressiva eficiência e elevado respeito ao contribuinte.

Valorizar nosso parque industrial e ampliar sua força exportadora será meta permanente. A competitividade de nossa agricultura e da nossa pecuária, que faz do Brasil grande exportador de produtos de qualidade para todos os continentes, merecerá toda a nossa atenção. Nos setores mais produtivos a internacionalização de nossas empresas já é uma realidade.

O apoio aos grandes exportadores não é incompatível com o incentivo, o desenvolvimento e o apoio à agricultura familiar e ao microempreendedor. As pequenas empresas são responsáveis pela maior parcela dos empregos permanentes em nosso país. Merecerão políticas tributárias e de crédito perenes.

Valorizar o desenvolvimento regional é outro imperativo de um país continental, sustentando a vibrante economia do Nordeste, preservando e respeitando a biodiversidade da Amazônia no Norte, dando condições à extraordinária produção agrícola do Centro-Oeste, a força industrial do Sudeste e a pujança e o espírito de pioneirismo do Sul.

É preciso, antes de tudo, criar condições reais e efetivas capazes de aproveitar e potencializar, ainda mais e melhor, a imensa energia criativa e produtiva do povo brasileiro.

No plano social, a inclusão só será plenamente alcançada com a universalização e a qualificação dos serviços essenciais. Este é um passo decisivo e irrevogável, para consolidar e ampliar as grandes conquistas obtidas pela nossa população no período do governo do presidente Lula.

É, portanto, tarefa indispensável uma ação renovadora, efetiva e integrada dos governos federal, estaduais e municipais, em particular nas áreas da saúde, da educação e da segurança, o que é vontade expressa das famílias e da população brasileira.

Queridos brasileiros e brasileiras,
A luta mais obstinada do meu governo será pela erradicação da pobreza extrema e a criação de oportunidades para todos.

Uma expressiva mobilidade social ocorreu nos dois mandatos do Presidente Lula. Mas ainda existe pobreza a envergonhar nosso país e a impedir nossa afirmação plena como povo desenvolvido.

Não vou descansar enquanto houver brasileiros sem alimentos na mesa, enquanto houver famílias no desalento das ruas, enquanto houver crianças pobres abandonadas à própria sorte. O congraçamento das famílias se dá no alimento, na paz e na alegria. É este o sonho que vou perseguir!

Esta não é tarefa isolada de um governo, mas um compromisso a ser abraçado por toda a nossa sociedade. Para isso peço com humildade o apoio das instituições públicas e privadas, de todos os partidos, das entidades empresariais e dos trabalhadores, das universidades, da juventude, de toda a imprensa e das pessoas de bem.

A superação da miséria exige prioridade na sustentação de um longo ciclo de crescimento. É com crescimento que serão gerados os empregos necessários para as atuais e as novas gerações.

É com crescimento, associado a fortes programas sociais, que venceremos a desigualdade de renda e do desenvolvimento regional.

Isso significa – reitero – manter a estabilidade econômica como valor. Já faz parte, aliás, da nossa cultura recente a convicção de que a inflação desorganiza a economia e degrada a renda do trabalhador. Não permitiremos, sob nenhuma hipótese, que essa praga volte a corroer nosso tecido econômico e a castigar as famílias mais pobres.

Continuaremos fortalecendo nossas reservas externas para garantir o equilíbrio das contas externas e bloquear, e impedir a vulnerabilidade externa. Atuaremos decididamente nos fóruns multilaterais na defesa de políticas econômicas saudáveis e equilibradas, protegendo o país da concorrência desleal e do fluxo indiscriminado de capitais especulativos.

Não faremos a menor concessão ao protecionismo dos países ricos que sufoca qualquer possibilidade de superação da pobreza de tantas nações pela via do esforço de produção.
Faremos um trabalho permanente e continuado para melhorar a qualidade do gasto público.

O Brasil optou, ao longo de sua história, por construir um Estado provedor de serviços básicos e de previdência social pública.

Isso significa custos elevados para toda a sociedade, mas significa também a garantia do alento da aposentadoria para todos e serviços de saúde e educação universais. Portanto, a melhoria dos serviços públicos é também um imperativo de qualificação dos gastos governamentais.

Outro fator importante da qualidade da despesa é o aumento dos níveis de investimento em relação aos gastos de custeio. O investimento público é essencial como indutor do investimento privado e como instrumento de desenvolvimento regional.

Através do Programa de Aceleração do Crescimento e do programa Minha Casa, Minha Vida, manteremos o investimento sob estrito e cuidadoso acompanhamento da Presidência da República e dos ministérios.

O PAC continuará sendo um instrumento de coesão da ação governamental e coordenação voluntária dos investimentos estruturais dos estados e municípios. Será também vetor de incentivo ao investimento privado, valorizando todas as iniciativas de constituição de fundos privados de longo prazo.

Por sua vez, os investimentos previstos para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas serão concebidos de maneira a dar ganhos permanentes de qualidade de vida, em todas as regiões envolvidas.

Esse princípio vai reger também nossa política de transporte aéreo. É preciso, sem dúvida, melhorar e ampliar nossos aeroportos para a Copa e as Olimpíadas. Mas é mais que necessário melhorá-los já, para arcar com o crescente uso desse meio de transporte por parcelas cada vez mais amplas da população brasileira.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros,
Junto com a erradicação da miséria, será prioridade do meu governo a luta pela qualidade da educação, da saúde e da segurança.

Nas últimas décadas, o Brasil universalizou o ensino fundamental. Porém é preciso melhorar sua qualidade e aumentar as vagas no ensino infantil e no ensino médio.

Para isso, vamos ajudar decididamente os municípios a ampliar a oferta de creches e de pré-escolas.

No ensino médio, além do aumento do investimento público vamos estender a vitoriosa experiência do ProUni para o ensino médio profissionalizante, acelerando a oferta de milhares de vagas para que nossos jovens recebam uma formação educacional e profissional de qualidade.

Mas só existirá ensino de qualidade se o professor e a professora forem tratados como as verdadeiras autoridades da educação, com formação continuada, remuneração adequada e sólido compromisso dos professores e da sociedade com a educação das crianças e dos jovens.

Somente com avanço na qualidade de ensino poderemos formar jovens preparados, de fato, para nos conduzir à sociedade da tecnologia e do conhecimento.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros,
Consolidar o Sistema Único de Saúde será outra grande prioridade do meu governo.

Para isso, vou acompanhar pessoalmente o desenvolvimento desse setor tão essencial para o povo brasileiro.

O SUS deve ter como meta a solução real do problema que atinge a pessoa que o procura, com uso de todos os instrumentos de diagnóstico e tratamento disponíveis, tornando os medicamentos acessíveis a todos, além de fortalecer as políticas de prevenção e promoção da saúde.

Vou usar, sim, a força do governo federal para acompanhar a qualidade do serviço prestado e o respeito ao usuário.

Vamos estabelecer parcerias com o setor privado na área da saúde, assegurando a reciprocidade quando da utilização dos serviços do SUS.

A formação e a presença de profissionais de saúde adequadamente distribuídos em todas as regiões do país será outra meta essencial ao bom funcionamento do sistema.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros,
A ação integrada de todos os níveis do governo e a participação da sociedade é o caminho para a redução da violência que constrange a sociedade e as famílias brasileiras.

Meu governo fará um trabalho permanente para garantir a presença do Estado em todas as regiões mais sensíveis à ação da criminalidade e das drogas, em forte parceria com estados e municípios.

O estado do Rio de Janeiro mostrou o quanto é importante, na solução dos conflitos, a ação coordenada das forças de segurança dos três níveis de governo, incluindo – quando necessário – a participação decisiva das Forças Armadas.

O êxito dessa experiência deve nos estimular a unir as forças de segurança no combate, sem tréguas, ao crime organizado, que sofistica a cada dia seu poder de fogo e suas técnicas de aliciamento dos jovens.

Buscaremos também uma maior capacitação federal na área de inteligência e no controle das fronteiras, com o uso de modernas tecnologias e treinamento profissional permanente.

Reitero meu compromisso de agir no combate às drogas, em especial ao avanço do crack, que desintegra nossa juventude e infelicita as nossas famílias.

O pré-sal é nosso passaporte para o futuro, mas só o será plenamente, queridas brasileiras e queridos brasileiros, se produzir uma síntese equilibrada de avanço tecnológico, avanço social e cuidado ambiental.

A sua própria descoberta é resultado do avanço tecnológico brasileiro e de uma moderna política de investimentos em pesquisa e inovação. Seu desenvolvimento será fator de valorização da empresa nacional e seus investimentos serão geradores de milhares de novos empregos.

O grande agente dessa política foi e é a Petrobrás, símbolo histórico da soberania brasileira na produção energética e do petróleo.

O meu governo terá a responsabilidade de transformar a enorme riqueza obtida no pré-sal em poupança de longo prazo, capaz de fornecer às atuais e às futuras gerações a melhor parcela dessa riqueza, transformada, ao longo do tempo, em investimentos efetivos na qualidade dos serviços públicos, na redução da pobreza e na valorização do meio ambiente. Recusaremos o gasto apressado, que reserva às futuras gerações apenas as dívidas e a desesperança.

Queridos e queridas brasileiras e brasileiros,
Muita coisa melhorou no nosso país, mas estamos vivendo apenas o início de uma nova era. O despertar de um novo Brasil.

Recorro a um poeta da minha terra natal. Ele diz: “o que tem de ser, tem muita força, tem uma força enorme”.

Pela primeira vez o Brasil se vê diante da oportunidade real de se tornar, de ser, uma nação desenvolvida. Uma nação com a marca inerente também da cultura e do estilo brasileiros – o amor, a generosidade, a criatividade e a tolerância.

Uma nação em que a preservação das reservas naturais e das suas imensas florestas, associada à rica biodiversidade e à matriz energética mais limpa do mundo, permitem um projeto inédito de país desenvolvido com forte componente ambiental.

O mundo vive em um ritmo cada vez mais acelerado de revolução tecnológica. Ela se processa tanto na decifração de códigos desvendadores da vida quanto na explosão da comunicação e da informática.

Temos avançado na pesquisa e na tecnologia, mas precisamos avançar muito mais. Meu governo apoiará fortemente o desenvolvimento científico e tecnológico para o domínio do conhecimento e para a inovação como instrumento fundamental de produtividade e competitividade do nosso país.

Mas o caminho para uma nação desenvolvida não está somente no campo econômico ou no campo do desenvolvimento econômico pura e simplesmente. Ele pressupõe o avanço social e a valorização da nossa imensa diversidade cultural. A cultura é a alma de um povo, essência de sua identidade.

Vamos investir em cultura, ampliando a produção e o consumo em todas as regiões de nossos bens culturais e expandindo a exportação de nossa música, cinema e literatura, signos vivos de nossa presença no mundo.

Em suma: temos que combater a miséria, que é a forma mais trágica de atraso, e, ao mesmo tempo, avançar investindo fortemente nas áreas mais modernas e sofisticadas da invenção tecnológica, da criação intelectual e da produção artística e cultural.

Justiça social, moralidade, conhecimento, invenção e criatividade devem ser, mais que nunca, conceitos vivos no dia a dia da nossa nação.

Queridas e queridos brasileiros e brasileiras,
Considero uma missão sagrada do Brasil a de mostrar ao mundo que é possível um país crescer aceleradamente, sem destruir o meio ambiente.

Somos e seremos os campeões mundiais de energia limpa, um país que sempre saberá crescer de forma saudável e equilibrada.

O etanol e as fontes de energias hídricas terão grande incentivo, assim como as fontes alternativas: a biomassa, (incompreensível) a eólica e a solar. O Brasil continuará também priorizando a preservação das reservas naturais e de suas imensas florestas.

Nossa política ambiental favorecerá nossa ação nos fóruns multilaterais. Mas o Brasil não condicionará sua ação ambiental ao sucesso e ao cumprimento, por terceiros, de acordos internacionais.

Defender o equilíbrio ambiental do planeta é um dos nossos compromissos nacionais mais universais.

Meus queridos brasileiros e brasileiras,
Nossa política externa estará baseada nos valores clássicos da tradição diplomática brasileira: promoção da paz, respeito ao princípio de não intervenção, defesa dos Direitos Humanos e fortalecimento do multilateralismo.

O meu governo continuará engajado na luta contra a fome e a miséria no mundo.
Seguiremos aprofundando o relacionamento com nossos vizinhos sul-americanos; com nossos irmãos da América Latina e do Caribe; com nossos irmãos africanos e com os povos do Oriente Médio e dos países asiáticos. Preservaremos e aprofundaremos o relacionamento com os Estados Unidos e com a União Européia.

Vamos dar grande atenção aos países emergentes.

O Brasil reitera, com veemência e firmeza, a decisão de associar seu desenvolvimento econômico, social e político ao nosso continente.

Podemos transformar nossa região em componente essencial do mundo multipolar que se anuncia, dando consistência cada vez maior ao Mercosul e à Unasul. Vamos contribuir para a estabilidade financeira internacional, com uma intervenção qualificada nos fóruns multilaterais.

Nossa tradição de defesa da paz não nos permite qualquer indiferença frente à existência de enormes arsenais atômicos, à proliferação nuclear, ao terrorismo e ao crime organizado transnacional.

Nossa ação política externa continuará propugnando pela reforma dos organismos de governança mundial, em especial as Nações Unidas e seu Conselho de Segurança.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros,
Disse, ao início deste discurso, que eu governarei para todos os brasileiros e brasileiras. E vou fazê-lo.

Mas é importante lembrar que o destino de um país não se resume à ação de seu governo. Ele é o resultado do trabalho e da ação transformadora de todos os brasileiros e brasileiras. O Brasil do futuro será exatamente do tamanho daquilo que, juntos, fizermos por ele hoje. Do tamanho da participação de todos e de cada um:
Dos movimentos sociais,
dos que labutam no campo,
dos profissionais liberais,
dos trabalhadores e dos pequenos empreendedores,
dos intelectuais,
dos servidores públicos,
dos empresários,
das mulheres,
dos negros, dos índios, dos jovens,
de todos aqueles que lutam para superar distintas formas de discriminação.

Quero estar ao lado dos que trabalham pelo bem do Brasil na solidão amazônica, no semiárido nordestino e em todos os seus rincões, na imensidão do cerrado, na vastidão dos pampas.

Quero estar ao lado dos que vivem nos aglomerados metropolitanos, na vastidão das florestas; no interior ou no litoral, nas capitais e nas fronteiras do Brasil.

Quero convocar todos a participar do esforço de transformação do nosso país.

Respeitada a autonomia dos poderes e o princípio federativo, quero contar com o Legislativo e o Judiciário, e com a parceria de governadores e prefeitos para continuarmos desenvolvendo nosso país, aperfeiçoando nossas instituições e fortalecendo nossa democracia.

Reafirmo meu compromisso inegociável com a garantia plena das liberdades individuais; da liberdade de culto e de religião; da liberdade de imprensa e de opinião.

Reafirmo que o que disse ao longo da campanha, que prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras. Quem, como eu e tantos outros da minha geração, lutamos contra o arbítrio, a censura e a ditadura, somos naturalmente amantes da mais plena democracia e da defesa intransigente dos direitos humanos, no nosso país e como bandeira sagrada de todos os povos.

O ser humano não é só realização prática, mas sonho; não é só cautela racional, mas coragem, invenção e ousadia. E esses são os elementos fundamentais para a afirmação coletiva da nossa nação.

Eu e meu vice-presidente Michel Temer fomos eleitos por uma ampla coligação partidária. Estamos construindo com eles um governo onde capacidade profissional, liderança e a disposição de servir ao país serão os critérios fundamentais.

Mais uma vez estendo minha mão aos partidos de oposição e às parcelas da sociedade que não estiveram conosco na recente jornada eleitoral. Não haverá de minha parte e do meu governo discriminação, privilégios ou compadrio.

A partir deste momento sou a presidenta de todos os brasileiros, sob a égide dos valores republicanos.

Serei rígida na defesa do interesse público. Não haverá compromisso com o desvio e o malfeito. A corrupção será combatida permanentemente, e os órgãos de controle e investigação terão todo o meu respaldo para aturem com firmeza e autonomia.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros,
Chegamos ao final deste longo discurso. Queria dizer a vocês que eu dediquei toda a minha vida à causa do Brasil. Entreguei, como muitos aqui presentes, minha juventude ao sonho de um país justo e democrático. Suportei as adversidades mais extremas infligidas a todos que ousamos enfrentar o arbítrio. Não tenho qualquer arrependimento, tampouco não tenho ressentimento ou rancor.

Muitos da minha geração, que tombaram pelo caminho, não podem compartilhar a alegria deste momento. Divido com eles esta conquista, e rendo-lhes minha homenagem.

Esta, às vezes dura, caminhada me fez valorizar e amar muito mais a vida e me deu sobretudo coragem para enfrentar desafios ainda maiores. Recorro mais uma vez ao poeta da minha terra:
‘O correr da vida – diz ele – embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem’.

É com essa coragem que vou governar o Brasil.

Mas mulher não é só coragem. É carinho também. Carinho que dedico a minha filha e ao meu neto. Carinho com que abraço a minha mãe que me acompanha e me abençoa.

É com esse imenso carinho que quero cuidar do meu povo, e a ele dedicar os próximos anos da minha vida.

Que Deus abençoe o Brasil!
Que Deus abençoe a todos nós!
E que tenhamos paz no mundo!”