Arquivos Mensais: junho \30\-03:00 2011

CARLOS FRANKLIN PAIXÃO DE ARAÚJO, ex-marido de DILMA ROUSSEFF grava revelações para novela / porto alegre

o ex-militante da guerrilha contra a ditadura, ex-dirigente partidário e ex-deputado estadual no Rio Grande do Sul, CARLOS ARAÚJO, meu amigo estimado pessoal há mais de 30 anos, concedeu esta entrevista que vai ao ar no final dos capítulos desta novela e que eu dou publicidade para aqueles que não acompanham como uma singela homenagem ao fraternal amigo.

J B VIDAL

EDITOR 

Em depoimento gravado para Amor e Revolução”Carlos Araújo, ex-marido da presidenta Dilma Rousseff, relata detalhes sobre o roubo do cofre de Adhemar de Barros, as torturas que sofreu, sua tentativa de suicídio e também a prisão de Dilma.

Por conta da riqueza das experiências, o depoimento foi dividido em 5 partes, que vão ao ar entre os dias 04 e 08 de julho, ao final de cada capítulo da novela.

Confira as surpreendentes revelações!

 

Capítulo 65, segunda-feira, 04 de julho

 

Relação de companheirismo com Dilma – “Eu tenho muito orgulho de ser companheiro da Dilma. Sempre nos identificamos. O nosso bom companheirismo persiste até hoje. Eu sempre fui advogado de gente pobre. Sempre fui uma pessoa de esquerda. Com a ditadura não vi outra saída a não ser partir para a luta armada. Formamos uma organização chamada Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), e praticávamos ações de desapropriação de bancos. Buscávamos dinheiro no banco para comprar armas. Também fizemos algumas ações em quartéis para pegar armas. Praticamos ações sociais também: pegávamos caminhões de carne na baixada fluminense e distribuíamos em favelas.”

Capítulo 66, terça-feira, 05 de julho

 

Prisão de Dilma Rousseff –  “A Dilma foi presa em frente ao Jornal O Estado de S. Paulo. Como todos os demais, foi torturada na Oban (Operação Bandeirante). Ela foi condenada por 3 anos e cumpriu toda a pena… A Dilma sente muito orgulho do que fez! Ela não ficou com sequelas. Felizmente. Ela entrou na cadeia nova e saiu nova… Não deixa de ser uma ironia… Eu moro aqui nessa casa na beira do rio em frente à Ilha do Presídio (Porto Alegre), onde fiquei preso por quase um ano.”

Capítulo 67, quarta-feira, 06 de julho

 

Roubo do cofre de Adhemar de Barros – “Conforme aumentava o número de clandestinos, de pessoas procuradas, tínhamos que planejar ações em bancos e pegar dinheiro para sustentar o pessoal. O Adhemar de Barros tinha o monopólio do jogo do bicho no Rio de Janeiro; não era só São Paulo. Tínhamos a informação de que o dinheiro do jogo do bicho era recolhido mensalmente e levado para a casa de Dona Ana Capriglione, no bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, e depois mandado para o exterior. Soubemos disso, fomos lá e pegamos o cofre. Naquela época tinha aproximadamente US$ 2 milhões. O mais interessante é que Dona Ana nunca pôde denunciar nenhum companheiro. Ela sempre negava o roubo. Então, ninguém foi denunciado processualmente por essa ação. É como se não tivesse existido. Dona Ana não podia denunciar… Como ela justificaria o dinheiro?”

Capítulo 68, quinta-feira, 07 de julho

 

Tentativa de suicídio  “Fui pego em São Paulo e me levaram para o Dops. Fui torturado violentamente! Durante o processo de tortura tomei uma decisão: a de me matar. Durante um depoimento eu menti, e disse que tinha um encontro marcado com o Lamarca no dia seguinte pela manhã. Escolhi um lugar que era fácil para me matar: uma avenida da Lapa (Bairro de São Paulo) que passava carros em altíssima velocidade. Eu havia decidido me jogar. E foi o que aconteceu comigo: eu me atirei embaixo de uma Kombi e fiquei bastante ferido. Fiquei no hospital, mas depois de um tempo voltei para a tortura na Operação Bandeirante (Oban).”

Capítulo 69, sexta-feira, 08 de julho

 

Dilma não participou de ações armadas – “A Dilma não participou de ação nenhuma. Não existe nenhum processo. Ela não participou de nenhuma ação armada porque não era o setor dela. Ela atuava em outros setores. Nos orgulhamos do que fizemos, mas isso não quer dizer que somos desprovidos de uma visão crítica. Tínhamos uma visão idealista que entrava em choque com a realidade. Mas não renunciamos nada; temos orgulho do que fizemos. Mesmo agindo incorretamente, às vezes.”

EDU HOFFMANN e sua poesia IV / curitiba

Quarto Crescente

 

 

 

ah, minha sinhazinha

como é bom ouvir um blusão

tirando sua blusinha

 

poeta nua

sua boca me kiss

no moon da lua

 

o céu já me dizia

o céu já me falava

que você era o sol

que me faltava

 

 

 

 

 

 

 

  Buenos Aires

 

 

 

 

 

 

seu corpo tango

 

me veio vinho

 

 

 

beijos

 

o coração na boca

 

 

eu nunca assim sabia

 

 

negras meias

 

se despindo inteira

 

 

 

 

 

 

 

Perfume

 

chove chuva de chuveiro

é uma lisonja ensaboar

a quem a mui lejos foi monja

ela me disse que tudo passa

– passe bem de leve a esponja

 

melodias realejo

ambígua língua dançando

distraída no seu umbigo

 

blues no azul do azulejo

 

 

 

 

 

 

 

Gomos

feche os olhos ela me disse

assim assim, no boca-a-boca

e qual dicionário saberia

explicar coisa tão louca ?

eu tateava feito cego

perdido num braile de rimas

ah, música sempre ajuda

sol embaixo lua em cima

dois gomos abertos

suas coxas

afluentes

quentes lágrimas sem culpa

Amélias, Madalenas

quero dos seus travesseiros

que voem

tuas penas

 

A fome e FAO não existem para o conservadorismo – por saul leblon / são paulo


A indisfarçável má vontade da mídia com a vitória brasileira na sucessão da FAO transitou da indiferença inicial para a tentativa de minimizar a própria omissão ao manifestar menosprezo pelo resultado. Ignorada de início, a campanha pela FAO recebeu dos jornalões nativos, com raras exceções, um espaço inferior ao ocupado na imprensa mundial por um tema de importância auto-explicativa dada a sua interrelação com a explosão dos preços da comida e o número de famintos no mundo.

Quando o êxito da diplomacia brasileira se consumou – ancorado, em boa parte, na credibilidade decorrente dos resultados sociais do governo Lula, reconhecimento esse doloroso para a mídia – partiu-se então para tentativas explícitas de desqualificar a escolha do ex-ministro José Graziano da Silva para dirigir o principal organismo voltado à luta contra a fome no mundo.

Omite-se nessa toada de preconceito e preguiça a real dimensão de um deslocamento diplomático importantíssimo, marcado pela rearticulação do G-77, que, afinal deu a vitória a Graziano. O fato é que o grupo dos países pobres e em desenvolvimento (G-77) uniu-se como raras vezes nos últimos anos para viabilizar o resultado que colocou pela primeira vez um brasileiro e um latinoamericano no comando da FAO.

Algo de crucial relevância que escapou ao colunista negligente é que esses países não estavam se opondo apenas aos blindados diplomáticos dos países ricos e protecionistas. Mas, sobretudo, à lógica de uma hegemonia esférica cujo resultado mais reluzente foi o colapso financeiro mundial que gerou 30 milhões de desempregados no planeta e elevou o contingente de famintos a 1 bilhão de pessoas em pleno século 21.

Entre os argumentos arrolados pelos ‘colunismo isento’ para justificar o apequenamento da cobertura listam-se o dito fracasso do Fome Zero e a suposta irrelevância da FAO, fechando-se assim um círculo de ferro no qual se esmaga o protagonista, a instituição e a dinâmica histórica que pode mudá-la.

Duas das mais importantes dificuldades enfrentadas para a implantação do Fome Zero, em 2003, são omitidas por esse raciocínio que mais esconde do que informa.

O Fome Zero, na verdade, enfrentou um cerco brutal dessa mídia que instaurou um ambiente de terceiro turno no país no início do 1º mandato de Lula. Sob o pano de fundo um conservadorismo ferido e virulento, o Fome Zero foi escolhido como alvo preferencial para reverter a derrota da candidatura da direita, recorrendo-se à desqualificação do eleito pelas urnas.

Recorde-se que já durante a campanha, expoentes do tucanato, como o próprio candidato derrotado José Serra, ameaçavam a sociedade com truques correlatos. A ‘argentinização’ do país (leia-se, a mazorca, a desordem’) puniria os eleitores se o escolhido fosse Luiz Inácio Lula da Silva. Era esse o clima. E foi sob esse diapasão que se montou um torniquete político e midiático em torno do Fome Zero.

A própria denominação do principal programa social do novo governo incomodava.

Vamos ser claros: elites, aqui e alhures, jamais aceitaram a existência da fome como expressão da miséria social por elas produzida. Não deixa de ser sintomático, por exemplo, que no seu desdém pela vitória brasileira na FAO, o articulista da Folha, Hélio Schwartsman retome essa negativa classista.

No comentário “FAO e Fome Zero não podem ser chamados de casos de sucesso” (Folha, 28/06), ele sapeca ligeiro: “em 2003 a obesidade já era um problema mais grave que a desnutrição”. Ou seja, o Fome Zero, nome fantasia para uma política de segurança alimentar que o país jamais tivera e que hoje é uma questão prioritária no mundo— errara feio no diagnóstico. A fome era uma ficção esquerdista. O governo devia é ter liberado a lipoaspiração no SUS.

O mesmo articulista que revoga a fome en passant visualizou uma pandemia de gripe suína no país em 2009.

No dia 19 de julho, aquecendo os motores para a nova tentativa de colocar Serra na Presidência , o sábio Schwartsman assinava o texto da manchete da Folha, na 1º página: “Gripe suína deve atingir ao menos 35 milhões no país em 2 meses”. No título interno: “Gripe pode afetar até 67 milhões de brasileiros em oito semanas”.

O alarmismo progressivo com tema tão delicado de saúde pública foi duramente criticado pela comunidade médica.

O próprio ombudsman da Folha de então, Carlos Eduardo Lins e Silva, questionaria o jornal em comentário corajoso do dia 26 de julho, com o título: “No limite da irresponsabilidade”. Trecho: “‘…A reportagem e principalmente a chamada de capa sobre a gripe A (H1N1) no domingo passado constituem um dos mais graves erros jornalísticos cometidos por este jornal desde que assumi o cargo, em abril de 2008..”.

É do alto desse patrimônio de isenção e rigor jornalístico associado ao elevado senso ético de quem fez da gripe suína uma estratégia de pânico desfrutável pelo ex-ministro da Saúde e então pré-candidato presidencial, José Serra, que se pontifica agora a irrelevância da FAO, do Fome Zero e, naturalmente, da própria fome.

A implicância com a fome não é uma originalidade do pontífice da Barão de Limeira. Quando o médico Josué de Castro (1908-1973) escreveu Geografia da Fome, em 1946, tratando pioneiramente do tema, ele também sofreu pressões para que o título – lançado pela editora O Cruzeiro – fosse substituído por outro mais ameno.

O livro e a militância progressista do autor foram responsáveis pelo exílio que o golpe de 1964 impôs a esse pernambucano ilustre, que por sinal dirigiu a estrutura nascente da FAO e teve duas indicações ao Nobel da Paz. Morreu no exilo, em Paris, em setembro de 1973, depois de ter seu pedido de regresso recusado pelo governo Médici. Não por acaso. O interdito à discussão da fome ganhou selo oficial na ditadura militar, quando a censura vetou inúmeros textos jornalísticos na tentativa de calar a palavra de incisiva contundência.

À censura policial, lembra a pesquisadora Ana Claudia da Silva, em seu artigo “Fome, história de uma cicatriz social”, sobreveio a “higienização ideológica”.

Nos anos 70/80, adotou-se oficialmente o termo médico “desnutrição” para descrever o problema, como se a questão de fundo fosse mais de biologia clínica do que de política econômica.

A resistência das elites em admitir a existência de um Brasil mergulhado até o pescoço na insegurança alimentar não hesitaria ainda em recorrer ao argumento do determinismo biológico.

O estigma de um Jeca Tatu anêmico, permanentemente desleixado, inspirado nas idéias de Gobineau, cuidava de atribuir a penúria do homem do campo a ele mesmo. Soa familiar quando se ouve dizer que o Bolsa Família deixa o pobre preguiçoso, como sentenciam alguns tucanos e democratas.

Para resumir: o problema não está sociedade; a fome não tem origem na história, mas biologia. A circularidade do raciocínio reforça a legitimidade do preconceito ainda latejante. Os famintos, afinal, são a causa da fome.

Em 2003, sessenta e três anos depois do lançamento do livro de Josué de Castro, a palavra maldita continuava a carregar esse fardo de uma potente denúncia contra as elites e sua obra. No caso, aquela legada pelo governo cujo candidato tivera o apoio irrestrito da mídia. E mesmo assim fora rechaçado pela opinião pública majoritária.

Foi nesse ambiente que o Fome Zero cometeu alguns erros graves.

O primeiro deles foi de comunicação. A sociedade não foi informada de sua verdadeira natureza abrangente. Sob o cerco da mídia e da hesitação do governo em desfechar um poderoso mecanismo de comunicação de massa, a política de segurança alimentar foi soterrada pelo debate distorcido de um mata-fome imediatista e amador, como a mídia tentou vendê-lo.

Ao contrário do que se cristalizou como sendo a história contada pelos vencedores, o Fome Zero não foi um truque de improviso na trajetória do PT.

Em outubro de 1991, em plena vigência da vaga neoliberal, o Governo Paralelo do PT –criado para fazer oposição propositiva a Collor – apresentou à sociedade a primeira proposta de uma Política Nacional de Segurança Alimentar para o Brasil.

O trabalho foi coordenado pelo agrônomo José Gomes da Silva, pai do agora eleito diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva.

Retomava-se ali a importância do Estado e do planejamento na superação dos gargalos do desenvolvimento, sendo a fome caracterizada como o núcleo duro de desequilíbrios históricos, que não seriam superados com respostas assistenciais.

Para assegurar a todos os brasileiros o acesso a uma alimentação suficiente, regular e saudável, o país e a política econômica teriam de mudar. Era o que dizia o Fome Zero, ou melhor, a proposta de Política Nacional de Segurança Alimentar do PT em 1991.

O enfoque do Governo Paralelo tinha como pressuposto que a lógica de mercado, vedete absoluta nos círculos oficiais e midiáticos então, era incapaz de vencer os obstáculos como a concentração de renda, os conflitos fundiários e os desequilíbrios regionais.

A fome era o estuário silencioso dessa correnteza profunda.

A politização do tema evidenciava justamente o oposto da abordagem assistencial que tanto se criticaria, indevidamente, no Fome Zero em 2003.

A primeira proposta nacional de segurança alimentar do PT previa políticas que levassem a um crescimento sustentado, com elevação do emprego; gradativo aumento do poder de compra do salário mínimo; um plano nacional de reforma agrária; medidas de fortalecimento da agricultura familiar; política agroindustrial e políticas de comercialização agrícola, com garantia de preços mínimos e a formação de estoques reguladores.

O projeto do Governo Paralelo do PT preconizava, ademais, inúmeras providências operacionais e políticas consolidadas nos últimos anos. Entre elas, a criação de um marco institucional, uma parceria institucionalizada com a sociedade civil por meio da criação de um Conselho de Segurança Alimentar, o Consea.

Tudo isso estava condensado sob o nome fantasia de Fome Zero lançado em 2003, cuja segunda falha, essa de consequências dramáticas, foi subestimar o sucateamento do Estado brasileiro, após oito anos de administração tucana.

A verdade é que a máquina pública em 2003 não dispunha sequer de um cadastro único da população brasileira miserável.

Em que pese um esforço feito pelo Comunidade Solidária ao final do governo FHC, cada ministério – caso da Saúde, por exemplo,ocupado por Serra – tinha seu próprio cadastro. E controlava sua própria contabilidade de ‘gastos’ sociais, a serviço do titular de cada área, não raros com atritos entre eles.

É conhecido o comentário da atual presidenta Dilma Rousseff sobre o desmonte que encontrou no ministério das Minas e Energia, quando assumiu a pasta em 2003: ‘Tinha 20 motoristas; apenas um engenheiro’.

O PT, portanto, negligenciou seu próprio diagnóstico.

Um Estado recém saído de um ciclo neoliberal não poderia ter recursos materiais e humanos para sustentar uma política de segurança alimentar com a abrangência e a profundidade condensadas no Fome Zero, em 2003.

Acrescente-se a isso o cerco da oligarquia conservadora ao programa.

A concepção original do Fome Zero pressuponha a organização dos beneficiários que, progressivamente, assumiriam o seu controle como antídoto ao clientelismo e à manipulação política. Nada mais democrático. Tal horizonte, porém, atiçado pela mídia, assumiu contornos de ‘semente do chavismo’. Excitaria assim os sucos gástricos do anti-comunismo conservador e da resistência oligárquica – inclusive da Igreja Católica – em abdicar da ‘administração de seus pobres’.

Foi essa pá de cal que exigiria um recuo cirúrgico, com fatiamento do Fome Zero em políticas setoriais, cuja unidade estrutural acabaria sendo retomada apenas no segundo mandato de Lula. Ainda assim, foi preciso uma crise mundial igual ou superior a de 1929 para que as políticas sociais desdobradas do plano original – como a recuperação do salário mínimo, o Bolsa Família, o fortalecimento da agricultura familiar, o reforço a merenda escolar etc – ganhassem legitimidade, funcionando como robusto contrapeso de mercado de massa à contração econômica internacional.

Ao final de 2002, após oito anos de FHC, o IBGE havia divulgado uma pesquisa em que apontava a existência de 54 milhões de brasileiros – mais de um terço da população então – vivendo em estado de penúria, com até meio salário mínimo por mês. Havia fome bruta entre eles, por mais que o colunismo da Folha, sabidório, confunda saciamento e obesidade às custas de comida barata (gordura e refrigerantes) com nutrição e ausência de fome. Agora, em junho de 2011, a Fundação Getúlio Vargas acaba de divulgar um estudo que resume o que se passou após a longa caminhada de regeneração do Estado e das políticas públicas afilhadas do primeiro plano de segurança alimentar criado pelo PT, em 1991, base ao Fome Zero.

A renda per capta dos brasileiros mais ricos, informa a FGV, cresceu 10% na última década; a dos mais pobres aumentou 68%. O ganho de renda dos brasileiros mais ricos foi inferior à média registrada nos demais integrantes do Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul). Em contrapartida, o crescimento da renda dos 20% mais pobres só perdeu para a China. No governo Lula, o mercado de consumo incorporou um contingente da ordem de 50 milhões de brasileiros – o equivalente a uma Espanha demográfica.

Foram essas as credenciais que levaram o Brasil e Graziano à direção da FAO. E é a experiência dramática que elas condensam – de erros, acertos e potente sabotagem conservadora – que dão a ele a possibilidade de sacudir a letargia dessa organização, irrelevante, segundo a direita – como irrelevante para ela são todas as instituições que possam se opor à lógica dos livres mercados.

 

VERSOS À BRIZOLA – de ademar adams / cuiabá

Leonel de Moura Brizola,
Legenda do meu Brasil,
Que nunca aceitou canzil,
Nem canga, maneia ou freio,
E agora te homenageio
De coração contristado,
Já que fostes pro outro lado,
Lá pro céu parar rodeio.

Foi prefeito, deputado,
Três vezes governador,
Um tribuno pajador,
Dos que não dão touceira,
E se lutou a vida inteira,
Pelo povo desta terra,
Sua morte não encerra,
A peleia na trincheira.

Enfrentou perseguição,
Da pátria foi exilado,
Por jamais fazer costado,
A patrão de além fronteira,
Pois, sua fé altaneira,
No brio da gente Brasil,
E enfrentou até fuzil
Com tiro de boleadeira.

Ao governar o Rio Grande,
Vejam a visão do Brizola,
Fez mais de seis mil escolas,
Pra ensinar o piazedo,
A aprender desde cedo,
O valor da educação;
E também fez revolução,
Iniciando a reforma agrária,
Contra uma elite, refratária
Que nunca reparte o pão.

Lutava por igualdade,
E tinha razão o paisano,
Que nunca jogou de mano,
C’ o capital estrangeiro,
Ele encampou altaneiro,
A energia e o telefone,
E então marcou seu nome,
De grande herói brasileiro.

Lembremos sessenta e um,
Quando levantou o Rio Grande,
Num grito que se expande,
Pra imensa brasilidade,
E no brado: “legalidade”!
A força da lei garantiu,
E João Goulart assumiu,
Pra nossa felicidade.

Na quartelada sanguinária,
De abril de sessenta e quatro,
A traição falou mais alto:
Derrubaram João Goulart,
Um homem bom, um baluarte,
E que faria a reforma,
Mas rasgaram toda norma,
U’a Milicada sem quilate…

O Brizola tentou resistir,
Foi levantar o Rio Grande,
Mas o Jango não quis sangue,
Tomou o rumo do exílio,
E morreu como andarilho,
Esperando sempre o levante,
Chorando a pátria distante,
Um Brasil fora do trilho.

Quinze anos desterrado,
Mas o Brizola sobreviveu,
Voltou para o povo seu,
Para cumprir o seu destino,
E derrotar o tal malino,
O capital estrangeiro,
Que no solo brasileiro,
Diz a missa e bate o sino.

Por isso lá nas estranja,
Tinham a grande temência,
O Brizola na presidência,
Faria levantar poeira,
E acabar com bandalheira,
Com coragem e qualidade,
Iria gritar: Liberdade!
Para a nação brasileira.

De tudo que produzimos,
O lucro vai pro exterior,
Nosso povo sofredor,
Sem saúde e moradia,
Vive em eterna agonia,
Nesse modelo que estiola,
Que sempre o velho Brizola
Combateu com galhardia.

Na luta pra presidente,
Enfrenou mal o cavalo,
E foi golpeado de estalo,
Para o mal desta nação,
Usaram a televisão,
Pra fazer daquela figura,
O Filhote da Ditadura,
Um presidente ladrão.

A marca de estância velha,
Que colaram no patriota,
Dizendo que era lorota,
A sua forte pregação,
E honesto por religião,
Dizia que todo o mal,
A perda internacional,
Era o câncer da nação.

Mas não parou de pelear,
Mesmo depois dos oitenta,
Ele tinha fogo na venta,
Maragato de qualidade,
Padrão de moralidade,
Neste país que é sem sorte,
E foi-se pra outros norte,
Deixando enorme orfandade.

Foi se encontrar c’o Getúlio,
Com Jango e dona Neusa,
Aquela que foi sua Deusa,
No inverno e no outono;
Mas no pago do eterno sono,
Tem outro encontro de fé,
Para gritar com o Sepé,
Que “esta terra tem dono”!

Ademar Adams – junho 2005

Botões, controles e comandos – por amilcar neves / ilha de santa catarina


Gabriel não é um cara desta década, a segunda (já!) do século 21. Apesar do seu ano e meio incompleto, Gabriel nasceu na década passada. Há, pois, no mundo, gente muito mais moderna do que ele. Se ele fosse um dispositivo eletrônico qualquer, um sistema ou programa (também chamado software) de computador, um aplicativo dessa coisa antiquíssima e em vias de extinção a que, muito tempo atrás, se deu o nome pomposo e restritivo de telefone celular, sabiamente abreviado, nos dias de glória do dispositivo, para celular, apenas (há hoje muitos equipamentos dessa família que fazem milagres sem conta e maravilhas sem que se as imagine mas, talvez por esquecimento ou distração, não fazem ligações telefônicas ou não são usados para tal fim (na verdade usam o skype e outros recursos virtuais que, além de agregarem imagem em movimento e transferência de quaisquer tipos de arquivo, passam olimpicamente ao largo das velhas, superadas e vetustas companhias telefônicas que, na ânsia de se manterem vivas e rentáveis, autobatizaram-se de operadoras, algo supostamente muito mais nobre e elevado (desde que lucrativo, obviamente) do que uma reles companhia qualquer prestadora de serviços quaisquer.


Então: se o Gabriel, um aninho apenas completado em janeiro passado, já lá tão longe no tempo e nas nossas preocupações (qual era mesmo o nosso grande problema, o nosso enorme desafio, a nossa grandiosa dificuldade, o nosso monumental, insuperável, pesadelo no começo deste ano da graça de 2011 DC?), se ele fosse uma qualquer dessas bugigangas eletrônicas, tecnológicas, inúteis para o progresso humano e social do ser humano e social, ou outro miraculoso dispositivo de extraordinário sucesso relâmpago (um relâmpago é súbito, intenso e fugaz) que certamente surgirá no mercado no intervalo compreendido entre este momento em que escrevo o presente texto (à mão, com caneta e papel, lembram desses arcaicos instrumentos de escrita?, nas cadeiras da Ressacada, apenas para deixar aqui um registro romântico e sentimental) e esse momento em que lês o passado texto (praticamente o mesmo, embora concebido e degustado em situações, condições e estados de espírito totalmente diversos).


Assim: caso o Gabriel fosse qualquer dessas coisas efêmeras cada vez mais, ele já teria que ter sido descartado por obsolescência. No entanto, apesar disso tudo, ele tem a missão de testemunhar o rompimento do século 22.


O que acontece é que o Gabriel já está mesmo superado. Hoje espera-se muito mais, outras habilidades mais condizentes com as exigências e expectativas da vida, dos novos seres humanos, dos modelos-tipo da segunda década do corrente século, o qual corre à velocidade, não dos tempos presentes, mas da angústia existencial, cada vez mais acelerada e desnorteada, da vida pós-moderna, dessa atroz pós-vida.


Desde a mais tenra idade Gabriel foi fissurado por botões, teclas, chaves, interruptores e controles remotos. Desde cedo ele percebeu que, acionando-os, ele muda o mundo em redor: a televisão fica com chuvisco, o computador é instantaneamente desligado no meio de um trabalho importante, o volume do som sobe a alturas insuportáveis.


O que o está tornando obsoleto é o fato de que, numa atitude de resistência, Gabriel está sendo educado a perceber que existem comandos, que estes é que definem as funções dos botões e dos controles, e que os comandos é que devem ser vigiados e usados pelas pessoas. E não ao contrário.


Isto é muito grave.


Exposição “Máquinas” reúne obras de 16 artistas de vários países

A ação integra a programação paralela da Bienal de Curitiba

CURITIBA, 28/06/2011 – Nesta quarta-feira (29), será aberta ao público a exposição “Máquinas”, em Belo Horizonte (MG). O evento faz parte da programação paralela da 6ª VentoSul – Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Curitiba. A exposição apresenta obras de 16 artistas de vários países da Europa, Ásia e Américas e, alguns deles também participarão das exposições da Bienal de Curitiba, a partir de setembro. A ação é uma iniciativa do Oi Futuro, em conjunto com Goethe-Institut, com patrocínio da Oi, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura (MG), e conta com apoio do Instituto Paranaense de Arte e da 6ª Bienal de Curitiba.

 

“Máquinas” tem curadoria de Alfons Hug e Alberto Saraiva e co-curadoria de Paz Guevara. As obras expostas são dos artistas: O Grivo (Brasil), Chico Fernandes (Brasil), Roman Signer (Suíça), Ali Kazma (Turquia), Dinh Q. Lê (Vietnã), Laurent Gutiérrez/Valérie Portefaix (França/ Hong Kong), Zhou Tao (China), Michel de Broin (Canadá), Harun Farocki (Alemanha), Desire Machine Collective (Índia), Chen Chieh-Jen (Taiwan), Libia Posada (Colômbia), Lourdes de la Riva (Guatemala), Arirang (Coréia do Norte) e Chris Larson (EUA).

 

A programação geral da Bienal de Curitiba acontece de junho a dezembro de 2011 e inclui projeto educativo, palestras, mesas-redondas, cursos, oficinas, mostra de filmes, performances e interferências urbanas. As exposições na capital paranaense acontecem de 18 de setembro a 20 de novembro em diversos espaços.

 

Serviço

Exposição Máquinas
De 29 de junho a 21 de agosto

De terça a sábado, das 11h às 21h, domingo, das 11h às 19h

Galeria Oi Futuro BH: Av. Afonso Pena 4001 – Mangabeiras

Entrada franca | Classificação etária: Livre

Cadê o pronunciamento de Myrian Rios sobre pedofilia clerical? – por fátima oliveira / são paulo

Missionária da Canção Nova, comunidade católica de renovação
carismática, a atriz e deputada estadual Myrian Rios (PDT-RJ), que é mineira,
primou pela carolice exacerbada. Com seus melhores trejeitos de atriz,
verbalizou: “Não poder discriminar homossexuais é abrir uma porta para a pedofilia” (23.6.2011).

Ela tem todo o direito de professar a sua fé como desejar, desde que não cause danos a outrem e sem esquecer que as experiências do sagrado são diversas – nem todas atentam contra os direitos humanos – e que, em território
brasileiro, nenhuma religião está acima da lei.

A homofóbica deputada propala inverdades e ousa reclamar pelo direito de
discriminar a condição homossexual! Sendo ela de uma facção católica, se
tivesse intenção de combater o crime de pedofilia, seu mandato denunciaria a
pedofilia clerical de sua igreja. Lamento que o partido de Brizola, o PDT,
acolha gente de tal naipe.

É inegável que são ideias incompatíveis com inúmeros estudos
sociológicos, com os saberes das biociências e com a própria vida, que já
demonstraram que homossexualidade é uma coisa e pedofilia é outra e uma não
leva necessariamente à outra! Por que ela tenta embolar o meio de campo?

Não o faz por ignorância, mas por omissão e desfaçatez políticas,
esquecendo-se de que integra um ramo do cristianismo que há séculos imola
sexualmente crianças, jovens e mulheres; e que santifica a maternidade e
sataniza as mulheres. É público que, diante da pedofilia clerical, a omissão do
Vaticano tem sido a regra, pois compactua e dá guarida a um signo maldito da
dupla moral sexual – crimes clericais de natureza sexual, como registrei em “O
Vaticano arde nas labaredas do inferno por causa da pedofilia”: “O furacão da
pedofilia, depois dos Estados Unidos e da Europa, chegou à Alemanha, pátria do
papa, depois na diocese do papa, agora dentro do Vaticano, na Congregação da
Doutrina da Fé, onde o cardeal Joseph Ratzinger foi prefeito – por 24 anos, de
1981 a 2005 -, apontando para a sua responsabilidade direta” (O TEMPO,
30.3.2010).

Em março de 2010, um irmão de Bento XVI, Georg Ratzinger (87 anos),
apareceu como um dos envolvidos no escândalo de pedofilia quando era diretor
musical do colégio interno de Ratisbona (1963-1994). Ele tem negado. Em seu
papado, Bento XVI só se mexeu quando a Igreja Católica começou a perder
patrimônio, vendendo igrejas para pagar indenizações das vítimas, o que o
obrigou, no encontro com bispos irlandeses, a declarar que a pedofilia era
crime hediondo e pecado grave – até então, nem pecado era!

Em 2011, no rastro da notícia de que vítimas belgas de padres pedófilos
processariam o papa, o Vaticano, em carta aos bispos, resume as práticas
adotadas na Alemanha, na Áustria, na Bélgica, nos EUA, na Holanda, na Irlanda,
na Itália e em vários países da América Latina para enfrentar o sangradouro de
dinheiro nos tribunais e recomenda que “os membros do clero suspeitos de
pedofilia sejam entregues às autoridades civis competentes” (15.5.2011).

A assessoria de imprensa do Vaticano anunciou para fevereiro de 2012, em
Roma, uma reunião de bispos e chefes de congregações religiosas para dar uma
“resposta global aos problemas de pedofilia”, segundo as diretrizes de luta
contra a pedofilia formuladas em maio passado pela Congregação da Doutrina da
Fé (13.6.2011). Ou seja, enquanto não meteu a mão no bolso, a Santa Sé não
tomou providências.

Desconheço pronunciamento da deputada a respeito da pedofilia clerical.
Está passando da hora de fazê-lo!

Fátima Oliveira é médica. 

Final de tarde – de tonicato miranda – curitiba

 

para Helena Kolody

 

felizes os que morrem com a tarde

finando seu ciclo de claridade e luz

felizes daqueles diante de um copo

a mirar a própria lágrima derretida

 

felizes os seres estes que mugem

vejo o azul cobalto na flor do maracujá

vejo um prego coberto de ferrugem

e belezas na luz da tarde a soçobrar

 

felizes os que sabem um sopro soprar

beijando no lábio a musa tão querida

ah esta tarde derramando-se na noite

leva-me contigo onde outras tardes há

 

feliz aquele que perdoa sua tristeza

nada mais vejo agora no céu a chorar

a folha da palmeira antes pura beleza

foi a casa sonora de um pio de sabiá

 

não há mais felicidade morando aqui

saudade da janela e de um pé de piqui

arrastando folhas a murmurar: estou aqui

minha cara boba a dizer: eu vi o piqui cantar

 

o cinza já derreteu todas belezas do ar

e a cor é somente luz, já disse Helena

sinto a lavanda dela a pairar no ar, a pairar

e sua alegria dos dentes à mais longa melena

 

feliz você que já partiu, não viu esta tarde

onde me ponho a chorar como chaleira velha

saiba, mesmo cinza a tarde é linda como árvore

qual aquela no terreno ao lado a me namorar

O ANJO VINGADOR DOS POETAS RECUSADOS (fragmentos) – de jairo pereira / quedas do iguaçu.pr

Sentidos pouco sentindo no
marasmo dos dias thorpes. Sentidos vãos quando tudo está certo equilibrado no
tempo do sem-tempo. Para um herói qualquer dia é dia e a vingança não pode
durar mais q. alguns segundos.

Os
mortos vivos vão saindo das tumbas e vindo pro lado do anjo vingador vindo
trançando figas e coroas de flores os mortos vivos alarmados com algo q. não os
deixa dormir em paz algo q. passa pelo vão das pedras e não é formiga algo como
posso dizer estranho por nascença energia branda q. atormenta até morto
redormido. As almas pusthulentas interagem com algo q. está no ar e vagam os
espaços noturnos: estradas, beira de matas, costeando rios e cercas, sob pontes
e viadutos. O anjo cansa de ver as presenças negras nos mapas q. transita e
chega cumprimentá-las nos encontros acidentais. Ver a morte sempre de perto a
morte transnascida naquelas almas noctívagas refresca o pensamento de quem está
vivo :vivo: vivíssimo cheio de energia boa pra queimar pensamento no pensamento
criação na criação poema no poema prosa na prosa melodia na melodia rosto na
argila Cego
um poeta conta estrelas cego um poeta se avizinha do precipício cego uma alma
geme transmundos na fala. Lingüista algum explica!

A
diferença hoje é escrever com signos bólidos tridimensionais no espaço e não
com frases sentenças empoladas onde os signos da composição ficam entremamente
dependentes uns dos outros. Os signos avançam em todas as direções como vespas
autônomas sem destinação e é só apreende-las no espaço e lhes impor contexto
ludoespacial. Poetas gostam de complicar o simples e simplificar o complexo.
Poetas sabem fazer sopa de signos só pra ver no q. vai dar. Poetas refazer o
benfeito desconstruir reprojetar o estabelecido no tempo como forma de animar a
vida e a arte. Poetas, adoram abrir caroços dos frutos pra ver o q. tem dentro.
Poetas, impor significados às coisas não nascidas. Poetas, criar problemas de
entendimento. Contradição na contradição: existe o mundo do incriado, onde as
coisas ainda não nominadas animam sem rigor ou finalidade a vida. Poetas
mergulham nesses pântanos pra pinçar o q. se pode aproveitar, nominar, e fazer
existir pra todos. Comigo é assim e com meus irmãos deve ser muito pior.

De
tanto andar corpo a corpo com o chão o ser impoverteu-se: melhor dizer q. virou
pó.

Subi
naquela velha caixa de maçãs (não sem antes cortar o pedaço duma pro meu
pássaro yogurt) e proferi palavras de baixo calão enquanto moças brancas de Curitiba papel de
celofane no olhar e sandálias plásticas sorriam sobranceiras minha patética
figura naquele estado digamos assim rifutembho de aprofundamento poético
ficto-ético-esthético-existencial. Sim pois pra dizer o q. diria não dava pra
pensar outra coisa um paraíso na terra com belas polakas e um inpherno no céu
com gente te mandando trabalhar te impondo salário subordinação horário pra
cumprir dependência até pra limpar o cu cheio de limalhas pratas com círculos
preciosos do torno mecânico q. as criou por acidente. Um acidente dos sentidos
mentir q. se é o maior de todos os heróis anti-heróis personas erigidas por mentes prodigiosas. Mentir q. se é o maior
pra si mesmo compor filmes apavorantes com muitos corpos destroçados nos campos
de batalha e beber um vinho tinto suave temperatura ambiente depois do almoço
sobremesa de pêssego com calda e creme de leite uma polaka nua no quarto do
andar de cima de cima da terceira nuvem do viajante cósmico (nua e lúbrica
raspando a língua no batom vermelho dos cantos da boca) o anjo vingador q.
chegou pra vingar as polakas recusadas e amar a todas todas todas mantendo um
polakário particular no sítio das estrelas onde se recolhe trezentos e sessenta
e três dias por ano claro q. pelo menos umas horas se deve descansar nesse
pérphido ofício e périplo desregrado inglório de anjo vingador dos poetas
recusados. Afinal de contas ninguém é de estanho e estranho q. as puthinhas da
quinze deram agora de grudar no celular suas orelhas calejadas de golpes de
pica. Não se fazem mais programas como antigamente trintão por pegada boquet’s
grátis e massagem de língua na glande inflada. Vá pra casa mano, cuidar o filho
teu com a empregada, antes q. descubram tudo. Não deixe o piá passar sede
fome… te vira malandro. O anjo vingador dos poetas recusados tem mais de mil
e quinhentos polakinhos por esse orbe infielíssimo e nunca tu ouvirá reclamação
de um dente por fazer nos pirralhos. O anjo toma conta de tudo, claro q. sob a
regência das centenas de polakas q. compõe seu sórdido (e convenhamos
maravilhoso!?) imaginário. É responsa mano. Responsa, sabe o q. é isso!? Sabe
porra nenhuma, nem lavou o cê-u hoje e tá cheirando a sulampra do mês passado.
Sulampra pra quem não sabe é aquela porrinha de mnerda q. fica grudada nos
pentelhos do cu fazendo o maior estrago sujando a cueca às vezes até a calça e
dando ao agente detonador da nathureza (o trouxão) aquele cheiro característico
de prustifructo singular. AH VÁ TE PHODER ESPECTRO REVERTIGO DE SUPREMA
CUTILEDÔNEA SPRIÊNCIA LÚBRICA NUS TREE LENÇÓIS! Vou dizer e digo blasfemo
ensandeço contra o infinito. É só me tirar uma polaka e veja como fico.

Muitas
almas me freqüentam esplendoríndeas muitas almas muitas vidas de contra-favor
onde estou não fico onde fico não estou transmudo-me entre as raízes retorcidas
da paisagem.

Escrever simples e
complexo escrever erudito e popular escrever pra professores e estudantes
escrever pra poetas e pintores escrever por escrever sem ter q. dizer porque
pra que e pra quem eis a vida do anjo no solitário ofício de lançar palavras ao
espaço seus  signos de artifício o anjo e
sua sanha de desvelar os mundos escondidos do saber as verdades q. estavam ali
na pedra sob as árvores e ninguém imaginava o anjo em prospecções inúteis procurando
dar significado e nominação às coisas não-nascidas q. faz nascer a força um
anjo investido de sóis estranhíssimos nessa terça-feira de tédio e tentações.
Os convites são mais q. sedutores: o diabinho da direita diz q. é pra nadar
desnudo no rio o da esquerda incita a mandar um poema pra gata de olhos
amendoados q. tá na garupa do grandão supertatuado da motocicleta. É sempre
assim correr os riscos das tentações a cada momento e nunca deixar a peteca
cair. Todas as vezes q. sentir prazer escondido renegue-o para o bem da vida.
Prazer tem q. sentir-se às claras de olhos bem abertos e com amor amor amor q.
é tudo q. mais interessa nessa porra de vida onde estamos condenados a sofrer e
ser enganados e nos roubarem a moto e nos despedirem do emprego e nos
atormentarem com propostas indecorosas e nos fazerem crer q. o paraíso é pra lá
do mundo dos vivos e nos torpediarem dia-a-dia com aquela história de camisinha
de evitar a aid’s de evitar as nocivas relações promíscuas. O agiota, fia da
putha, tá pouco interessado em algo fora dos juros sobre juros a receber dos
trouxas, o agiota bancado pela vida q. não quer trabalhar. Tudo q. não presta
no olhar do crúsphito encostado no muro do colégio vendendo drogas aos
pequeninos. Uma mnerda a vida em meio a essa corja sem escrúpulos. Pureza nas
relações pureza na vida longe dos pais difícil acreditar q. alguém entenda o
mundo dos q. estão por vir e já devem estar a caminho. Com teus pais uma vida
grampeada no amor amor sobre todas as coisas vivas e mortas desse mundo. Lá
fora, além do pátio só martírio sacrifício de mano só pra ver a vida gemer. Te
liga transfirmotente em meus delírios de vingador te liga q. uma nuvem de
signos obnubla o quarteirão e são de minha lavra os proliferados vociferinos
contra os pulhas a corja as eminências pardicenthas do mal q. não as vejo mas
sinto de próstata inchada e impotência irreversível sobre aquelas velhas
cadeiras de espaldar.

reflexos nos espelhos
espetacular jogo de luz espelhar na sobrevivência. Os mortos vivos impõem o
contraponto do viver na sua inútil condição de seres nacaráctios. Para um anjo
q. viaja todos os orbes nada surpreende. Fogos de artifício nathurais cobrem de
luz os espaços negros da criação. Entre os raios lanchispantes vivas-almas
conquistam espaços novos nas relações, campos onde progridem os pensamentos
bons. Se há campos de pensamentos bons, há também os dos ruins. E ali onde
maltratam poetas, um dia haverá um circo pra mostrar os pulhas ao público. Os
pulhas q. sempre ficam atrás das cortinas, nos gabinetes dos maus espírithos,
elocubrando perversas ações. Os pulhas e seus patrocinadores não menos pulhas,
sem mulheres e sem amor, sem poesia e sem emoção. Os pulhas, cus de peixes,
frios e resistentes, em suas campanhas de tudo aniquilar, quando se trata de
arte, cultura, criação, talento & ímpeto. A garotinha q. tá fazendo Letras,
não entende ou não quer entender minha sacrossanta indignação. Pobrezinha…
nas mãos de tolos acadêmicos, vai perder parte da visão, parte da vida, parte
do entendimento estético, parte da ideologia poética, parte de parte da parte
da partitura. Para um anjo menina de belas intenções uma ópera se compõe em
poucos dias uma ópera como apoteótica revelação da vida abaixo da razão a vida
do mnerda q. somos sobrevivendo como rato de bueiro barata de pia mosca de
potreiro sempre a entornar o podre o q. fede o q. esterquilina. Um gole de água
tônica q. tem quinino pra tirar esse gosto amargo de mágoa na boca esse gosto
de revolta contra o sistema e a vida dos pothenthori’s com suas mãos pegajosas
de betume derretido acrescido de ranhos sangue veneno de cobra cuspe de sapo e
fezes de lagarto.

Muitas
almas me freqüentam esplendoríndeas muitas almas muitas vidas de contra-favor
onde estou não fico onde fico não estou transmudo-me entre as raízes retorcidas
da paisagem.

Escrever simples e
complexo escrever erudito e popular escrever pra professores e estudantes
escrever pra poetas e pintores escrever por escrever sem ter q. dizer porque
pra que e pra quem eis a vida do anjo no solitário ofício de lançar palavras ao
espaço seus  signos de artifício o anjo e
sua sanha de desvelar os mundos escondidos do saber as verdades q. estavam ali
na pedra sob as árvores e ninguém imaginava o anjo em prospecções inúteis
procurando dar significado e nominação às coisas não-nascidas q. faz nascer a
força um anjo investido de sóis estranhíssimos nessa terça-feira de tédio e
tentações. Os convites são mais q. sedutores: o diabinho da direita diz q. é
pra nadar desnudo no rio o da esquerda incita a mandar um poema pra gata de
olhos amendoados q. tá na garupa do grandão supertatuado da motocicleta. É
sempre assim correr os riscos das tentações a cada momento e nunca deixar a
peteca cair. Todas as vezes q. sentir prazer escondido renegue-o para o bem da
vida. Prazer tem q. sentir-se às claras de olhos bem abertos e com amor amor
amor q. é tudo q. mais interessa nessa porra de vida onde estamos condenados a
sofrer e ser enganados e nos roubarem a moto e nos despedirem do emprego e nos
atormentarem com propostas indecorosas e nos fazerem crer q. o paraíso é pra lá
do mundo dos vivos e nos torpediarem dia-a-dia com aquela história de camisinha
de evitar a aid’s de evitar as nocivas relações promíscuas. O agiota, fia da
putha, tá pouco interessado em algo fora dos juros sobre juros a receber dos
trouxas, o agiota bancado pela vida q. não quer trabalhar. Tudo q. não presta
no olhar do crúsphito encostado no muro do colégio vendendo drogas aos
pequeninos. Uma mnerda a vida em meio a essa corja sem escrúpulos. Pureza nas
relações pureza na vida longe dos pais difícil acreditar q. alguém entenda o
mundo dos q. estão por vir e já devem estar a caminho. Com teus pais uma vida
grampeada no amor amor sobre todas as coisas vivas e mortas desse mundo. Lá
fora, além do pátio só martírio sacrifício de mano só pra ver a vida gemer. Te
liga transfirmotente em meus delírios de vingador te liga q. uma nuvem de
signos obnubla o quarteirão e são de minha lavra os proliferados vociferinos
contra os pulhas a corja as eminências pardicenthas do mal q. não as vejo mas
sinto de próstata inchada e impotência irreversível sobre aquelas velhas
cadeiras de espaldar.

não tem ninguém

nessas miragens

heras sobre as pedras

o sangue dos mártires secou

como secará o meu

em teu amanhã de mentiras

Um
anjo vingador vingar passado presente e futuro do q. ainda nem nasceu nascerá
como é de se nascer apto a consertos. Meu périplo de anjo salvador vingador dos
poetas recusados começa num dia de sol soliníssimo de segunda-feira e passa por
noites de pau d’arcos com Augusto dos Anjos Pedrinho da Mampusheira o rude
Orástino da Silva o lírico Meliandro do Ingá o neobarroco Neco Ripo o sexínio
Ertho Murthis o inventor de linguagens q. criou poemas cut-ups (cutapes em
tupiniquim celerado) transgressoras colagens alla literatura de William Burroughs
Carlo Ferri q. esculpe no gelo seco universos paralelos com imensas naves
torres e ovnis Artur Landis q. apavora na noite com seus poemas sinistros de
supra-realidades, sempre depois da meia-noite nos bares, estrepa-se na Ilha da
Magia daqueles tempos com Cruz e Souza transgride com os loucos letargidos, os
pictóricos desassistidos e atola seu cavalo monet na mnerda da mediocridade. Um
quê de anjo todo mundo tem vingador se revelar consertador das coisas
incompreendidas dos atos pensamentos retornados sem sentido da vida q. alumbrou
ser estenuou no não-viver. Em muitos campos desolados brandi minhas espadas de
lata. Aquela vez q. invadi o Projac da Rede Globo Televisions transvi
tressaltos de desencantos. Minha fúria hostil não encontrou escora no entre
câmeras. Madames atrizes diretores bichas produtores pan-livrertinos &
marqueteiros vendedores de mães evoluíram seus desajustes. Siga bem condoreiro
anjo vingador dos poetas recusados. Sigo tresando nos meus dias negros. Esphias
nas esphias séphias, um galo há de brigar sempre pela mesma franga. Falar nisso
mano, manja a farsa dos dias enuviados com absinto falsificado!? Não erijo
transmundos por brincadeira nomino coisas só pro gasto e tudo tem seu ofício de
permanecer em mim. Te
transfiro um pouco de minha ira santa. Desbancar os bancados q. nos oprimem.
Teu bus de papelão vaga essa cidade neferthímora. Quantas vidas entornadas no
lixo!? Minha poesia nossa vossa adentra as searas sujas da periferia. O anjo
vingador está aqui. Me anuncio implume pássaro no carnaval polako. Já deves
estar putho com essa história forjada de um anjo vingador q. vem da linguagem
para a vida do nojo do signo transfimortente para a morte. Vá te cagar pentelho
espectral de aziagas noites. Nada te devo de meus arroubos operísticos. Um
doido convicto inventar conflitos só por prazer confluir as forças anímicas pra
tomar uma gelada no Bife Sujo. Da última vez o cézinha me trocou um cheque
voador de duzentas pratas q. atravessou três vezes a nado o Iguaçu. Vate
transfivatente dou gorjetas aos meus garçons preferidos. Nas vinhas do amor a
polaka espessa de sexo beija minha boca suja. Beija, suga, embaba de língua,
enosa chiclet’s e drops de hortelã untados de saliva energética. Signos
espérios meu garoto lambem o dizer criptofilho do chão.

A
coisa vinha vindo trinha sido tranha signos símbolos na minha língua grossa de
veios thérvios. A cornucópia do poeta é cheia do líquido precioso dê sua língua
à minha língua seu verbo thurvo a minha thurva esphia. Jesus nega os insensatos
e com toda razão des-razão apruma my verbo novo. A nathura q. louca amamos não
é por acaso também insensata em seus cataústricos!? Um poeta esmerilar os
signos nas amplas pedras do deserto. Como uma bala de fuzil cada nominata
dirigida a um inimigo. Nomeio coisas troisas pfscoisais loisas froixsas nos
meus desígnios. Um doido tirando formigas do formigueiro abandonado o anjo
vingador espalhador de ditos tranfusiados nichos de só-pensar. Elos nos elos
desengonçados. Perdida a febre terçã inicial da palavra e dos atos. Não é assim
q. se fazem heróis. Não é assim q. se fazem anjos vingadores. Um anjo vingador
dos poetas e artistas recusados se faz com ação conflito e solução do enguiço.
Este q. te fala é charlatão malquisto não age nada resolve não interage com o povo
e molesta polakinhas desprevenidas. Me entrelaço nas clareaduras de tua fala e
masco ervas amargas pra dizer-se só excluído recusado pelos editores atropelado
pelos mercadores marcado na volta da paleta pelos trívios políticos. Sou-me
risolentho esthertorante reflexímoro no mar do sonhar o ser sonhado e não deixo
visgo no meu rastro imundo. Tortilhas sonethárias nos jantares sob as
santas-bárbaras do norte do Paraná. Desci dali dos cafezais abandonados rio
Tibagi até o Piquiri e depois angulei ao Iguaçu o rio meu por excelência
agrilhoado em usinas.
Teus grilhões meu rio o anjo vingador romperá com dentes de
aço da terceira dentadura q. lhe deram em vida. Thorpes, essas
ogivas nas balas de hortelã não acalmam ninguém. Meu empresário vendeu um poema
por um prato feito em frente ao Passeio Público poema com gosto de carpa
húngara cravejada de poucas escamas douradas q. me roubou no acerto de contas.
Já viram o anjo vingador acertar suas contas com o empresário de sua poesia
recusada!? Só por deus ainda se fazem homens desse naipe enlevados no ofício de
sobreviver. Tangiro vencer o desvencido. Intenciono renovar o embolorado.
Minhas catanas descida dos triminhões das canas. Minhas armas de verdes hastes
embebidas no líquido espesso da cornucópia do poeta. Bom pra ti meu caro, esse
passeio pela língua do poeta o anjo vingador q. mata o passarinho de seu ofício
pra achar a pedra na vesícula.

Uma cobra escorregar pelo
barranco esgueirar pelos porões dos signos como uma língua extensa transverbal
uma língua eu-lúrica & magistral.

Um
pássaro é um pássaro uma formiga uma formiga um phósphoro um phósphoro uma
chave uma chave uma pedra uma pedra um caminho um des-caminho.

Um
anjo, manja de tudo um pouco e quando nada manja, arrisca. Se é pra vingar o q.
há de ser vingado, todas as armas são válidas, inclusive as do pensamento
enlevado. Poeta não pode ser o mnerda alienadão, q. pega uma receita de bolo e
fica naquela. Poeta q. é poeta arrisca tudo no conhecer em sendo, a fim de
trazer do nada o tudo q. ilumina a vida do poema.

Noutra
vez traveis desveis desci as escadarias da ampla Biblioteca de Alexandria e
naquela época pequenas moedas de lata tinham muito valor. Lascas de minha
espada como dinheiro naquelas soledades do deserto, trocadas por especiarias,
tapetes persas, sândalo, damasco, etc e tal. Com meu cavalo e uma criança li
livros herméticos naqueles templos. Livros costurados à mão. Livros dos
impérios do poder e da emoção. Sabe como se lê um libro hermético mi cidadon?
Cheirando-o. Os signos tem cheiro sim. Aprendi isso com as abelhas em colméias
abandonadas. Meu pai sempre fazia isso também cheirar os livros. Um anjo
vingador tem pai meu amigo pai como cada um de vós tranceiros duma figa. Um pai
progride com seu filho em suas loucuras de criação. Quantas vezes meu pai
imaginou seu louquinho-bom ganhando o mundo fudendo-se como espectro ambulante
alla 4Claudinei Ramos no seu périplo de três dias. Dá nojo enganar
polakinhas a troco de sexo, quando se é gerente de loja de eletrodomésticos em plena Marechal Deodoro,
próximo aos Correios. Um pai um sogro tios tias primos primas e amigos q.
desconsolo nos conhecerem em nossos repentes de imaginação. Um louco-bom
repercute em Santa
Felicidade a noergologia: 5Jacob Bettoni. O anjo
vingador dos poetas recusados o encontra escovando a bela égua alazã quarto de
milha. Ele vem noeticamente e enuncia conceitos revolucionários no paradigma
novo da psicologia. Um louco-bom como um arauto dos novos tempos, peripatético
sempre revoluteando as coisas. Jacob Bettoni me acena com a possibilidade da
protonathural philosophia estética e a noergologia comporem um único bloco
monolítico sapienthi’s pra enfeitiçar almas letargidas nas manhãs de
segundas-feiras ante as chaminés do pólo petroquímico. Um louco-bom sou eu
também poeta coça-saco de a pé e a cavalo, como diz o ditado-deitado paradão
cheio de chatos no acrílico onde o bus sosfrega e não vem. Um anjo vingador não
conhecer limites em sua luta de tudo levantar expandir como ofício de viver e
ser vivido amar e ser amado matar e ser matado. Nas barrancas daquele rio (o
Iguaçu) erigi transmundos só pra ver no que ia dar e deu: uma nau de carbono
luminosa crispou de lux trilux overlux o denso da floresta naquela noite. Tenho
certeza q. tinha gente dentro do tribuliço. Gente com olhos grandes e braços
abertos. Focos concêntricos para um mesmo (alvo) ideal, invisível. Um sinal,
era o sinal. E, o sinal era de signo ingos nigos sonigs perdido no
signário-vida e tive q. sair dali conquistar outros espaços com minha arte
singular de tudo transverter. Vem de príscas eras essa ânsia de inventar o
desinventado e interferir nos espaços sagrados da criação como um mephisto
invasor o anjo autoproclamado de salvador dos artistas recusados. Minha ira
santa enlevar o raso o letargido o transvencido como forma de animar a vida.
Meu castigo a incompreensão dos árvios iletrados dos púrcios néscios soberbos
em seus atóis. Para uma polaka de meu amor consagro essa verve: de primeira
insensata de segunda interferente de terceira auto-flagelada. Não se fazem mais
Cândidos ou o optimismo como antigamente, Dom quixotes, Macunaímas, heróis e
anti-heróis integrais em seus ofícios. Rapsódia nóia. Rapsódia nóia, ver,
sentir… tudo com o espíritho da vingança. A farinha q. o anjo vingador come é
q. traz os espectros sígnicos de sua verve alucinada e o pão q. a mesma amassa
é o pão de sua verdade representação esplendorosa do seu ser escroncho.
Inverossímil a linha de uma vida assim como a vertida agora. Nem um anjo
vingador satisfaz público empresário mecenas mídia loquaz pelo contrário um
louco deambulante pelos signos criar problemas de entendimento perverter as
mentes juvenis alardear significação como farsa às coisas não-nascidas.
Nascimento vida morte de um herói super-convicto q. acredita em correção do tempo
dos atos enfins dos homens para com os homens na história. O SOL eleva-se sobre
todos e distribui na mesma proporção quântica seus favores. O anjo vingador
também delibera e vence contra todos os inimigos comuns. Com esse ofício de
fazer poemas muitas almas penaram nos céus inphernos e purgatórios do Sr.
Dante. Selva selvagem selvagínia não há ninguém a minha espera ninguém nem um
sol de contra-favor a enovelar meu grito. Meu cavalo monet galopa por uma
estrada branca como uma polaka estirada em lençóis verdes uma estrada uma
polaka um oásis de prazer muito prazer na pororoquinha da marthininha muito
prazer lubricidade comesura de olhar uma polaka como uma flor sensual em seus
ofícios de amar amar sobre todas as coisas frias dessa cidade esses pontos de bus
cercados de cadeados invisíveis onde as almas esperam esperam o caixote de
papelão chegar combinado com outros caixotes e a vida repetindo-se sempre no
mesmo ritmo. Ritmo de lesa-vida meu irmão, sentido de pouco sentido, persigos
sobre persigos. Meu cavalo uma cancha reta como um louco evadindo-se do
inpherno de Dante. Atrás de nós as silhuetas dos trúmphicos imperiais do baixo
império/espíritho, almas trivilinas, soltando fogos pelas bocas. Siga comigo
seu verme strúnhio nesse domingo aziago. Vamos ver a fonte de onde vertem as
profícuas almas lângues. O que é uma alma lângue? Não tá viva, não tá morta, é
cruiféiz estaca no descampado da vida. Acabas por saber q. é uma expressão de
linguagem recém-criada como posso te dizer nefhertímora (nojenta, escabrosa,
escorchante). Não sabes com quem falas, pobre parvo espiroguentho. Comigo
aprenderás da vida seus melhores momentos. Q. bela polaka estirada no hall daquele hotel de terceira!? Q.
belas ancas no desperdício dos dias!? Já sei, não me venha com esse blá-blá-blá
de q. futebol é o q. interessa. Futebol antes de tudo e depois. Tá por fora
pica de trapo. Olor de creolina exposta ao sereno. O carinha do tênis, nos
iludindo com sua polpuda conta-bancária, bancado pelos nikteiros. Ora vejamos
pronóbis saturno nublinheski monte nardines pega o curtis o cavalo outro cavalo
como reforço providencial ao meu monet o meu crunspício (aquele q. sofre junto)
e vamos enveredar pro Sul. Farroupilhas hastes naquelas clareaduras de campos,
coxilhas, sangas e restingas. Digo q. mato e limpo o jaracatiá borbhota
sorthinífero no topo da canjarana e limpo com farpa de angico. Rude minha lide
nesses vergéis antigos. Na linha desse dizer muitas palavras se perderam nos
cimos das árvores muitos cascos gastos em cavalgadas inúteis. Esse dizer q.
atravessa eras e repousa no ombro esquerdo do anjo vingador dos poetas
recusados, como uma coruja, pássaro de bom ou mau agouro. Não esqueço nunca
daquela dos trezentos viúvos de polakas, lembra? Ou trezentas polakas viúvas de
defuntos vivos até o embate. A procissão dos mortos vivos reage em meus sonhos
quando estou fraco e cansado. A cabeça em recosto nas barbas de pau sob aquelas
árvores. Fraco e cansado, isso pouco acontece, mas enfrento meio-dormindo a
reação escrota dos mortos-vivos. Comigo é assim e com meu irmão o Birão é muito
pior. No asteróide ASPHIZ 8800 só de passagem quando me viram muitos
esconderam-se nos escombros da velha nave muitos morreram de medo do anjo
vingador q. mata e seca só de olhar. Uma vez uma tribo de Panfluetha’s mistura
de panviados com punhethas adentrou um trigal imenso e com minhas espadas
revistentes desnudei-os de um por um. Nada contra e nada a favor o milho cresce
nos amplos espaços do verso livre. Viu como se sai pela tangente!? O anjo
vingador do futuro guturaaaaaa… seu
grito de guerra com papel celofane na boca e um pente carioca pra
convocar legionários ao bom combate. No bom combate há o imperativo odiar
reconhecer o tranho e o perigo não se pode simplesmente atacar o q. sequer se
conhece ofereça perigo e tal e tal isso da guerra da luta fratricida coisas de
peleja tudo mundo deve saber de cor e salteado. A mesa dos Deonísios e
Philosísifos sentam-se os mnerdas das construções sígnicas. Os mnerdas e seus
afiliados sempre pardos eminentes nos gabinetes dos maus espírithos tramando
despautérios sacrifícios. Flagelos de vozes no degelo. Nada se cria e tudo se
copia na mesmasséia dos profedídithes. Massa mano, essas hastes de boas-falas
q. reverbero no espaço como biscoito protonathural. Não tem meu Sr. não pode
não haverá nunca de acontecer um anjo vingador vingar o já vingado amar o já
amado matar o já matado.

Uma
língua aderida de ciscos signos símbolos sinais pós asteriscos uma língua como
uma esteira luminosa na noite grande uma língua antropomística &
polissimbela.

Anjo
vingador dos poetas recusados venho quente na haste núbila abrir clareiras na
floresta escura para um colóquio estranho. Nem só de colóquios vive o homem e
tranço termos de ficar em tua vida pro que der e vier. Nos amplos horizontes a
escatológica vertigem todos mortos: o padeiro, o açougueiro (q. não perturbará
a mulher de mais ninguém), o vidraceiro, a prostituta, o padre, o militar, o
professor, o dentista (q. virou gangster), a enfermeira, a psicóloga (confusa),
o camelô, o advogado, o servidor público municipal, o político… todos mortos
sobre as folhas da relva ainda úmida do sangue dos poetas recusados todos
mortos e a cornucópia do poeta passando de mão em mão com seu líquido espesso
q. não é sangue e não é mel e não é vinho e não é leite e não é refrigerante e
não é cerveja e não se sabe e nunca se saberá ao certo o q. é q. é. Morta a
vida q. nunca nasceu cresceu expandiu como espera o anjo vingador em
conhecimento artístico reconhecimento do artífice q. faz e projeta e delibera e
inventa reinventa a vida como pode e deve. A cornucópia do poeta é invisível e
vc aí esperando o busão já bebeu desse líquido precioso-néctar meu Sr. meu Sr.
de muitas fábulas invertidas, sem moral e sem história. Vais contar tudo amanhã
ou depois, q. ninguém em sã consistência de gente ficará sem verve pra dizer e
oportunizar a todos sua experiência. No líquido espesso derramado em tua língua
a vida a vida de força de investimento nos atos fatos pensamentos te revelará
meu Sr., a glória de dizer o indizível de vencer o invencível tomará conta de
tua anímica força. Somos mais q. muitos imaginam. Mais q. tantos sonharam,
sonhamos. Muitos anjos vingadores nascidos da cornucópia do poeta do beber o
seu líquido espesso e agir e sonhar e deliberar e construir e reconstruir sobre
o lux owerlux trilux da vida e as trevas da morte. Um pai não procura defeitos
nos seus filhos. Um pai toca com as mãos os seus pupilos rumo ao futuro. Eu o
anjo vingador dos poetas recusados, unjo-te menino de boas falas um caminho muitas
sendas desígnios profícuos em tua vida. Naquele bar de beira de estrada parei
com meu cavalo monet. A moça loira (polaka) como era de ser me enovelou em suas
histórias de ficar. Fiquei. Meu cavalo estercou nas pedras da estalagem antiga.
O curió curioso deu uma cagadinha no ombro da bela e ensaiou três coices pra
cada lado, depois em sanha de urutago urucubou as coisas pro meu lado.
Sacatrapo du carilho pequetito estribilho de grilo, te mato fia da putha com
palito de dente afiado! Pra Curitiba hei de ir, pensei, sonhei, despensei,
ergui acampamento e com polaka e tudo parti. Entre um beijo e outro, costuras
de olhar, pegação, zanzeira com barrotranquira e cipó nas coxas grossas e pólem
viajante nos olhos amendoados. Pinecpecki no profhuri. Vindecthine soporhu
ghudam.

um superpesadelo negro nesta noite fria

como um flagelo demoníaco

suspendi a lança & cortei em cruz

três vezes os strúnhios inimigos

os inimigos não se afastaram

(demônios superconvictos)

mas saí pra fora do lúgubre transe

VASO GREGO de alberto de oliveira / niterói.rj

Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvasada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.

Depois… Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas hás-de lhe ouvir, canora e doce,

Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.

Uma contra-revolução silenciosa em curso na Europa – por thomas coutrot, pierre khalfa, verveine angeli e daniel rallet / frança

A nova Governança Europeia visa colocar sob maior vigilância os orçamentos nacionais para reforçar as sanções contra os estados em déficit excessivo e limitar o crescimento dos gastos públicos. O pacto para o euro visa aumentar a flexibilidade do trabalho para evitar aumentos de salários e reduzir os gastos com a proteção social. A Grécia está no seu terceiro plano no espaço de um ano e viu a sua dívida e o seu déficit crescerem ao ritmo do empobrecimento da população. O mesmo destino aguarda a Irlanda, Portugal e Espanha. O artigo é de Thomas Coutrot, Pierre Khalfa, Verveine Angeli e Daniel Rallet.

Está para ser aprovado no Parlamento Europeu um pacote de seis propostas legislativas para uma nova política econômica da União Europeia. Enquanto isso, os governos europeus subscreveram em março um “pacto para o euro.”

Do que se trata? A nova Governança Europeia visa colocar sob maior vigilância os orçamentos nacionais para reforçar as sanções contra os estados em déficit excessivo e limitar o crescimento dos gastos públicos. Uma medida já tomada completa o dispositivo, o”semestre europeu”, que pretende apresentar ao Conselho e à Comissão os orçamentos dos estados antes mesmo de serem discutidos pelos parlamentos nacionais. O pacto para o euro, seguindo a proposta Merkel-Sarkozy de estabelecer um pacto de competitividade, visa, nomeadamente, aumentar a flexibilidade do trabalho, para evitar aumentos de salários e reduzir os gastos com a proteção social.

Essas medidas são tomadas em nome de um argumento de aparente bom senso. Os Estados não podem pedir ajuda à União se não houver regras. Mas, na ausência de qualquer debate democrático sobre as políticas econômicas a adoptar, as atuais medidas acabam por enfraquecer os parlamentos nacionais em benefício dos Ministérios das Finanças e da tecno-estrutura europeia. E de que ajuda se trata? Os montantes emprestados pela União são obtidos nos mercados a juros relativamente baixos e emprestados aos Estados que estão em dificuldades a taxas de juros muito mais elevadas. É o povo que paga o preço mais alto com a implementação de planos de austeridade drástica, arruinando qualquer hipótese de recuperação económica. Prova disso é o exemplo patético da Grécia, agora no seu terceiro plano no espaço de um ano, que viu a sua dívida e o seu déficit crescerem ao ritmo do empobrecimento da população. Enquanto isso, os bancos podem continuar a refinanciar-se junto do Banco Central Europeu (BCE) com taxas ridículas, e a emprestar aos estados com juros muito mais altos. Assim, em fevereiro, as taxas a dois anos para a Grécia ultrapassaram os 25%. Não são as pessoas que recebem ajuda, são os bancos e os bancos europeus, em particular!

O mesmo destino aguarda agora a Irlanda, Portugal e a Espanha. Mas todos os países europeus são confrontados com o mesmo tratamento. Os governos, o BCE, a Comissão e o Fundo Monetário Internacional (FMI) usam a purga social como os médicos de Molière usavam a sangria. Numa Europa de economias totalmente integradas, onde os clientes de uns são os fornecedores de outros, tais medidas levam a uma lógica recessiva e, portanto, a uma redução das receitas fiscais que vai alimentar ainda mais os défices. Socialmente desastrosas, são economicamente absurdas.

Mas, dizem-nos, não havia outra opção. É preciso “assegurar os mercados.” Reconhecemos aqui o argumento final, o famoso “Tina”, que foi, a seu tempo, empregue por Margaret Thatcher: “There is no alternative.” Na verdade não há alternativa, se continuarmos a submeter-nos aos mercados financeiros. Este é o ponto cardeal e o ponto de partida de qualquer política. Como tal, para a votação do Parlamento Europeu marcada para junho, esperamos que os partidos da esquerda europeia se recusem claramente a votar em propostas com consequências dramáticas para a população.

É possível – e hoje é indispensável – uma verdadeira ruptura: ela vai consistir não em “tranquilizar os mercados”, mas organizar o seu desarmamento sistemático, começando por lhes retirar o primeiro instrumento de chantagem, a possibilidade de especular com as dívidas públicas. Antes da crise, a origem da dívida estava na queda de receitas devida aos benefícios fiscais feitos às famílias mais ricas e às empresas. No momento da crise financeira, os Estados foram forçados a injetar quantidades maciças de liquidez na economia para evitar que o sistema bancário entrasse em colapso e que a recessão se transformasse em depressão. A explosão dos déficits tem, portanto, as suas raízes no comportamento dos operadores financeiros que são a causa da crise.

As dívidas públicas são, em grande parte, ilegítimas e, portanto, uma auditoria pública da dívida permitirá decidir o que será reembolsado ou excluído. O BCE deverá poder, sob supervisão democrática europeia, financiar os déficits públicos conjunturais. Uma reforma fiscal ampla, tanto em nível nacional como europeu, permitirá encontrar espaço de manobra à ação pública. Tais medidas requerem, portanto, vontade política para romper com o domínio dos mercados financeiros sobre a vida econômica e social. Esta vontade política, de momento, não existe. Será preciso impô-la. O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, falou de uma “revolução silenciosa” a propósito das medidas tomadas pela União Europeia. Preferimos falar de contra-revolução, mas, ao passo que Durão Barroso rejubila, nós só podemos lamentar o quase-silêncio, especialmente da França, sobre estas questões que são, no entanto, capitais. Como gritam os manifestantes da praça Puerta del Sol: “Não é uma crise, é uma ladroagem.” Essas políticas encostam a União Europeia à parede: está na hora de inventar outra coisa.

(*) Thomas Coutrot, co-presidente da Attac França; Pierre Khalfa co-presidente da fundação Copérnico; Verveine Angeli, sindicalista; Daniel Rallet, sindicalista. Publicado no jornal francês Libération, em 7 de Junho de 2011.

Tradução de Deolinda Peralta.

SERGIO ARCHER comenta em CLAUDIO KAMBÉ – artista visual / itália

COMENTÁRIO:

Sergio R. B. Arche | junho 24, 2011 8:07 am às 8:07 am | Responder | Editar

O Claudio Kambé esta para a arte assim como Albert Einstein esta para a Fisica.
A cidade de Roma tem saudades de vc.

um abraço

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JUSTIÇA

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veja neste site a página de KAMBÉ 

Igreja Universal colocará fiéis devedores no SPC e SERASA

do G17

A Igreja Universal vai enviar para o SPC/SERASA os fiéis que estão com o pagamento do dízimo em atraso. A medida tomada pelos bispos com o objetivo de reduzir a inadimplência por parte dos fiéis. O departamento de finanças e arrecadação da Igreja, não informou a quantidade de inadimplentes, mas estimasse que os maus pagadores estão causando um prejuízo mensal de quase 1 bilhão de reais.

Quem estiver devendo o dízimo e não quiser ter o nome incluso no SPC ou SERASA, deve entrar em contato com a Universal para renegociar a dívida, podendo parcelar no cartão de crédito o débito, com uma baixa taxa de juros de 72% ao mês.

Além da inclusão dos devedores no SPC e SERASA, a diretoria financeira pretende também cobrar multa, de rescisão de contrato, caso um fiel troque a Universal por outra igreja.

José da Silva Rodrigues Pimenta Pereira, disse que acha justa a medida da Universal, pois vai fazer com que os fieis sejam pontuais com o dinheiro de Deus. “Eu ganho 500 reais, e pago 200 reais pra Universal, nunca atrasei um pagamento, e tem gente que ganha muito mais que eu e atrasa, não acho justo, a Universal tem que tomar uma medida mesmo”, disse José ao repórter de G17.

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o deus deles não perdoa! não entrou a grana vai pro spc, pro inferno e pro serasa! gostaria de saber o que deus faz com esse dinheiro, onde gasta, o que consome, onde mora, porque os ladrões da ingenuidade humana, da fé alheia, estes nós sabemos o que fazem com seus bezerros de ouro coletados diversas vezes ao dia nas “centrais do inferno”, em muitas ocasiões exigindo que o “fiel” entregue o dinheiro do pão da familia. lamentável.

A CANÇÃO DO RELÓGIO – de zuleika dos reis / são paulo


                          

Hora vai

Hora vem

ora vais

ora vens.

No vão dos dias

o pêndulo

vai-e-vem

não vais nem vens.

O pêndulo

entre teu vai e teu vem

entre teu não vai e teu não vem.

Os ponteiros do relógio

só vão

nunca vêm.

Viajante só de vai

nunca de vem

o tempo

passa o tempo

o tempo

nem ri de nós

só se esvai

sem saber de ninguém.

O trem que nos leva – de edu hoffmann / curitiba


Antes do pio dos pardais o trem apitava

sua locomotiva puxando VAGÕES VAGÕES VAGÕES VAGÕES … …

que não acabavam mais…

 

o trem cruzava a padre Germano Mayer

fazendo a manhã correr seu trilho, afugentando neblinas.

 

Ôrra meu, são seis horas, me enrosco no cobertor e

re-durmo no aguardo do amadurecer do dia.

 

No café, bolo de fubá mimoso, com bastante manteiga Aviação.

O café com leite, pra variar, pelando de quente. Só depois descascava

mimosa, fazendo companhia ao guapeca que festejava devorando o resto da vina de ontem.

 

Como todo piá pançudo, saía com a gurizada ranhenta, atravessando a quadra depois do sinaleiro, catando bolotas pra atirar com a cetra nos focos dos postes.

 

Sempre guardávamos algumas moedinhas pra comprar dolé.

Depois desse intervalo, íamos jogar betes ou soltar raia, já quase meio-dia, quando o sol já se alaranjava.

 

Tudo isso era louco de bom, quando nossas vidas ainda vestiam calça-curta

e qualquer ki-chute calçava nosso caminhos.

 

A benção, nossa senhora dos Pinhais !

 

Segredo de Estado – por amilcar neves / ilha de santa catarina


Assim como o Estado é uno e eterno, o Segredo de Estado também o é, ou seja, reveste-se igualmente das propriedades de unicidade e eternidade inerentes ao Estado a que serve e, sendo segredo, deverá estar coberto por sigilo eterno.

 

Nossos contatos e a maior ou menor habilidade que tivermos para manejá-los nos permitirão agregar nosso segredinho particular a esse vastíssimo patrimônio chamado Segredo de Estado, resguardando assim nossa intimidade e nossa privacidade pelos tempos sem fim.

 

Sarney fez assim. Depois de posicionar-se energicamente, nas profundezas do Poder, contra a abertura “indiscriminada” dos arquivos nacionais, mesmo depois de 30 ou 50 anos, o ex-presidente da República, eterno presidente do Senado, veio a público para fazer joguinho de cena. Disse que não tem restrição alguma a que vasculhemos os documentos do seu governo, sua preocupação única dirige-se a questões de soberania nacional, que possam levar embaraço, ressentimento ou rancor aos nossos vizinhos. E foi triunfal: quem quiser saber o que houve em sua gestão, que confira na sua Fundação, no Maranhão, a cópia deles todos, mais de 400 mil documentos, abertos aos interessados.

 

O que ele omitiu (talvez por ser Segredo de Estado), é que existe um papel pregado na porta da instituição que diz exatamente isto: “A Fundação José Sarney comunica ao público que por motivo de restauração do seu acervo, suas atividades estarão suspensas por tempo indeterminado.” Suspensas talvez por 30 ou 50 anos, com direito a renovações perpétuas.

 

Collor é outro que também pressionou com sucesso o governo Federal no mesmo sentido. Ao que eu saiba, o atual senador, futuro presidente do Senado e antigo caçador de marajás, ainda não apresentou suas justificativas. Como se trata, porém, de um inventivo e fecundo ficcionista, logo teremos da parte dele uma saborosa história impessoal sobre sua posição a respeito do assunto.

 

E há, lógico, o caso crônico dos militares (e também dos diplomatas, sejamos justos com a História), que escondem documentos pelo menos desde a Guerra do Paraguai, ainda nos tempos do Império. Sequer a proclamação da República conseguiu romper os véus espessos que velam a participação dos nossos viscondes, condes e duques em intervenções, negócios e negociatas por aí. Dizem que, por questões de território e limites, poderemos ter aborrecimentos sérios com vizinhos como Peru e Bolívia, que se revoltarão contra nós se souberem do conteúdo dos nossos documentos eternamente secretos – o que significa a confissão implícita de que o Brasil (nós) foi desonesto ao tratar dessas questões, apropriando-se imoral e ilegalmente do que não era seu (nosso).

 

Mas, enfim, o nosso inabalável Judiciário está aí para auxiliar os interessados em geral na agregação do seu segredinho privado ao amplo repertório do Segredo de Estado. Na justificativa da sentença que manda retirar de circulação um determinado livro, o meritíssimo juiz do caso ensina com todas as letras: “O fato é que, independente da veracidade das informações e das respectivas fontes, houve excesso por parte dos réus na forma como [Fulano] foi descrito.” E cita uma decisão do Tribunal de Justiça gaúcho: “O dano moral não decorre da veracidade ou não do material divulgado, mas do abuso no exercício da liberdade de expressão”.

 

Desculpem-me, não me atrevo a revelar nome completo do juiz nem número do processo porque isso talvez seja Segredo de Estado, e nessas questões não convém arriscarmo-nos.

 

A história dos círculos nas colheitas (“Crop Circles”)

Os “círculos” nas colheitas, ou “crop circles”, como ficaram conhecidas as manifestações pictóricas ocorridas nos campos de cultivo da Europa e agora também em outros países são um dos mais fascinantes e profundos mistérios da atualidade. Embora sejam relacionados à atividade humana, nenhuma evidência comprovada foi encontrada nos círculos “autênticos”.

Nestes casos, nos círculos, ou em sua proximidade, nunca foram encontrados quaisquer traços ou pistas que indicassem como foram feitos ou por quem. Não há pegadas de pessoas, ou marcas de pneus de veículos, nem sinal de que as plantas em seu interior tenham sido manipuladas por humanos. Simplesmente, os círculos surgem do nada, portando uma mensagem inexplicável e desafiando nossa inteligência e tecnologia.

Duas organizações vêm fazendo estudo do solo dos círculos. Elas são o Center for Crop Circles Studies in England e uma organização conhecida como ADAS Ltd., trabalhando com o Ministério da Agricultura Inglês. Uma das coisas que eles descobriram é que os solos adquirem uma quantidade anormal de hidrogênio após cada formação. O único modo desta quantidade de hidrogênio aparecer assim seria se o solo recebesse uma carga elétrica extremamente forte.

A origem do fenômeno é bem mais complexa. Alguns estudiosos ingleses encontraram na capa de um tablóide londrino, datado de 22 de agosto de 1678, uma narrativa que faz menção à lenda do “Demônio Ceifador”, relatando a existência de misteriosos círculos nas plantações inglesas já naquela época.

Em outros casos, pessoas foram condenadas pela igreja por utilizar grãos provenientes dos círculos pra celebração de rituais de fertilidade. Também foram relatados casos nas décadas de 1930 e 40, alertando sobre o fenômeno.

Com o passar dos anos as figuras foram se tornando cada vez mais complexas, primeiro eram circunferências simples, depois surgiram circunferências duplas, triplas, quádruplas, quíntuplas, círculos com anéis, figuras triangulares, ovais, espirais, etc. e assim o mistério continua, os círculos viraram símbolos e depois figuras complexas e extraordinárias.

Com o aumento na quantidade e complexidade das figuras a cada ano, ficava evidente que aqueles misteriosos desenhos jamais poderiam ser feitos por mãos humanas, pois mesmo que tivesse uma multidão de pessoas desocupadas e interessadas em produzir tal fenômeno não iriam dar conta das centenas de círculos que já viam sendo catalogados em todo o interior da Inglaterra.

Com tal aumento na complexidade dos chamados Círculos Ingleses, ficou descartada a teoria inicial de que os círculos seriam simples marcas de trens de pouso de naves alienígenas. Ufólogos, geólogos, biólogos, matemáticos, físicos, astrônomos e céticos se revezam no mundo inteiro para tentar explicar este fenômeno, alguns com bons argumentos, outros chegam a ser ate ridículos, como a história divulgada pela TV Inglesa no final de 1991, de que dois velhinhos Doug e Dave, teriam feito tais desenhos durante a noite usando a simples técnica de puxar uma tábua amarrada a uma corda por sobre os trigais. Logo os céticos do mundo inteiro deram como encerrado o problema e desvendado o mistério.

Mas o que ocorreu nos anos seguintes foi uma explosão do fenômeno (mais de 3000) por regiões tão distantes e de forma tão acelerada que a dupla de velhinhos já não era capaz de realizá-los, exceto pela imaginação. Quando perguntados sobre as técnicas empregadas, muitas vezes titubeavam e não conseguiam dar explicações consistentes sobre as construções das imagens e muito menos sobre sua execução.

Descartando completamente a hipótese dos céticos sobre a autoria humana das imagens e voltando-se ao fenômeno original, observamos que as formações seguem padrões de geometria euclidiana, com complexas formas e motivos, atualmente com várias manifestações baseadas em geometria fractal e simbologia matemática, rica em mensagens codificadas sobre lavouras de grãos ao redor do mundo.

Mas o que temos de concreto até o momento?

1. Sabemos da pesquisa científica que eles são formados (as genuínas formações) por uma energia capaz de alterar a estrutura molecular da planta sem danificá-la. Além disso, também é capaz de alterar a taxa de crescimento e o seu padrão.

2. A energia envolvida parece ser benigna, mas sua natureza ainda é desconhecida.

3. Algumas formações irradiam uma onda de aproximadamente 5.7 Hz no espectro eletromagnético.

4. Ocorrem às vezes paralelamente ao avistamento de Ovnis.

5. Mesmo após a colheita, a forma dos círculos tem permanecido na terra durante pelo menos seis meses em alguns casos. Isto não pode ser conseguido por “formações na colheita” feitas por humanos.

6. Em algumas das formações, bússolas giram denotando uma anomalia magnética presente.

7. A plantação fora da formação não exibe as mesmas características encontradas dentro do círculo.

8. Não há nenhum nível de consistência. Em algumas formações temos o fator som, as anomalias magnéticas e impressões no solo, mas isto não quer dizer que iremos encontrar as mesmas características na próxima formação. Ainda assim, pode-se mostrar que os novos círculos fazem parte de uma formação genuína.

9. Se nenhum ser humano entrar na formação, a colheita (plantação) continuará crescendo e o fazendeiro não vai perder qualquer grão.

Assim, o que nós temos? Lindos padrões geométricos nos campos que desafiam nossas leis de lógica, da física e argumentos. Mas eles continuam aparecendo pelo mundo afora! Eles parecem ter um profundo efeito espiritual em todos os visitantes ou pesquisadores. Talvez, se nada mais houver, esta seja a razão da sua existência.

Olhando de perto

“Para cada coisa que acredito saber, dou-me conta de nove que ignoro.” (Provérbio Árabe)

Mas o que os cientistas dizem a respeito? Existe algum trabalho sério sendo conduzido neste campo? O que se tem realizado são pesquisas ainda incipientes e nenhuma com respaldo de grandes instituições. Entretanto com a multiplicação do fenômeno acredita-se que mais cientistas voltem os olhos para o fenômeno e tenham iniciativa para realizar estudos aprofundados.

Nos últimos meses, alguns pesquisadores tem se voltado para decifrar os códigos matemáticos impressos nas imagens. O resultado tem sido fascinante. Muitas das imagens produzidas este ano foram relacionadas a eventos astronômicos, como o eclipse de 1º de agosto, onde vemos várias alusões ao alinhamento planetário.

Outra fascinante descoberta foi realizada pelo astrofísico Michael Reed em decifrar uma imagem aparecida em julho deste ano próxima ao castelo Barbury, em Wilts, que continha claramente os dez dígitos do número Pi, a mais ubiqua de todas as constantes matemáticas. Segundo ele, “O pequeno ponto próximo ao centro representa o algarismo decimal, o décimo dígito foi corretamente aproximado, os segmentos angulares representam os dígitos com o salto do raio, de acordo com o valor de cada um, e começando por contar desde o centro, obtém-se exatamente o valor dos dez primeiros dígitos de pi: 3.141592654″

Outro aspecto fascinante das manifestações é a marca deixada nas plantas. As alterações biofísicas são de um grau desconhecido na sua origem, mas algumas simulações demonstraram que a aplicação de alta carga energética pode produzir efeitos semelhantes na estrutura das plantas.

Outros estudos tem sido conduzidos por biofísicos e biólogos moleculares no tocante à estas alterações, bastante peculiares e também impossíveis de serem produzidas por mãos (ou pés) humanos. Alguns estudos comprovaram alterações na parede celular das plantas, bem como alterações cromossômicas e embrionárias nas sementes. Entretanto até o momento nenhum estudo amplo foi publicado.

 

Conforme estas imagens produzidas na Polônia, onde um círculo foi observado em agosto deste ano, as características são semelhantes as demais manifestações, onde as plantas são “dobradas” a mais ou menos 20% da altura, produzindo nódulos no caule com detalhes interessantes, formando um “cotovelo”, que pode ser desenvolvido pela própria planta por pressão de crescimento, porém de forma muito mais lenta do que o ocorrido nas aparições, e nunca na mesma altura da haste e na direção paralela ao solo.

Indo além nas explicações

Testemunhas oculares que presenciaram formações alegam que os desenhos são frutos da manifestação de bolas luminosas, que podem estar agrupadas ou só, onde flutuam sobre as plantações geralmente durante a madrugada. Um vídeo controverso produzido por uma testemunha mostra uma formação em tempo real do círculo pelos ditos ovnis. Numa velocidade surpreendente, o desenho formado pelas plantas dobradas apresenta as mesmas características dos círculos autênticos. Este vídeo esta disponível [ aqui ]. Todavia parece que este é o único material produzido em vídeo até hoje sobre o fenômeno, embora multidões de pesquisadorese curiosos tenham tentado registrar estes eventos. Sempre ocorrem fatos inexplicáveis, como alterações no equipamento, descarga das baterias e até esquecimento de por a fita na câmera (sic).

Partindo do pressuposto de que as formas geométricas são originárias de manifestações energéticas desconhecidas, as bolas de luz ou quaisquer outro objeto voador não identificado traduz nossa total ignorância sobre física, principalmente após um século de descobertas quânticas. Descobiu-se que nosso universo é permeado por uma energia infinitamente maior e desconhecida: a chamada energia negra. De fato, esta energia não é escura, e foi apenas um nome escolhido para representá-la, talvez por ser escura para nosso entendimento.

Segundo a renomada bióloga evolutiva Elisabeth Sahtouris, o universo é permeado por formas de energia criativa, presente em todo o cosmos, que diz ainda: “We must collectively recognize what western science is only now discovering: that humanity and the rest of our living world are embedded within a far greater and fundamentally different reality than is encompassed by our current scientific worldview or paradigm. We are replacing the view of a non-living material/ electromagnetic universe with a greater non-physical reality of conscious intelligence as the never-ending source of scientifically known energy and matter a cosmic source that has been known in many human cultures from ancient times. It is fundamentally conscious and creative, transforming or transmuting into material universes and other creative ventures.”

Talvez estes fenômenos representem uma ótima oportunidade para a humanidade dar um salto significativo em seu desenvolvimento, não apenas pensando em que algo “extraterrestre” seja responsável pela salvação de nosso destino, mas que isto apenas está em nossas mãos, como nunca antes…

Dalmo Dallari: Suprema guarda da Constituição / são paulo

O Supremo Tribunal Federal acaba de tomar duas decisões de grande relevância pelos seus efeitos, mas especialmente importantes porque implicaram a correção de graves desvios de seu relevante papel constitucional e de sua responsabilidade como expressão mais alta do Judiciário brasileiro, padrão de respeito à Constituição e às normas jurídicas vigentes no Brasil. Em sessão de 8 de junho, apreciando, uma vez mais, o caso envolvendo o pedido de extradição do militante político italiano Cesare Battisti, pela maioria absoluta de seus membros, seis votos contra três, o Supremo Tribunal decidiu arquivar um processo de Reclamação que jamais deveria ter sido admitido, por falta absoluta de fundamento legal. A Reclamação é prevista no artigo 156 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, para as hipóteses de questionamento da competência do Supremo Tribunal ou da autoridade de uma decisão sua. Nada disso estava ocorrendo, e a Reclamação foi um artifício utilizado pelos advogados do governo italiano para criar a ilusão de que continuava aberto o caso Battisti e que por isso ele deveria continuar preso. A chicana foi repelida pela maioria dos ministros, e a Reclamação foi arquivada.

Em seguida, na mesma sessão, o Tribunal passou a julgar um pedido de soltura de Battisti, preso em Brasília desde 2007, por determinação do ministro Gilmar Mendes, relator do pedido de extradição formulado pelo governo da Itália. Essa prisão tinha caráter preventivo, visando impedir que Battisti desaparecesse ou fugisse, impedindo a execução da decisão de extraditá-lo, se tal decisão ocorresse. O Supremo Tribunal já havia decidido anteriormente, considerando atendidos os requisitos formais para a extradição mas reconhecendo, expressamente, que, nos termos do que dispõe a Constituição, a decisão final é de competência exclusiva do presidente da República. E Cesare Battisti foi mantido preso, à espera da decisão presidencial.

No dia 31 de dezembro de 2010, o presidente Lula tomou a decisão que lhe competia, negando atendimento ao pedido de extradição, fundamentado em dispositivos constantes da Constituição brasileira e do Tratado de Extradição assinado pelo Brasil e pela Itália. Em ocasião anterior, quando o governo brasileiro concedeu a Battisti o estatuto de refugiado, o que posteriormente foi revogado, membros do governo italiano investiram furiosamente contra o Brasil, tendo um dos ministros declarado à imprensa que o Brasil não é conhecido no mundo por seus juristas, mas “por ser uma república bananeira e por suas dançarinas”. A par disso, como foi noticiado pelo jornal italiano La Reppublica, houve manifestações de rua extremamente radicais, com cartazes afirmando, entre outras coisas, que Battisti deveria ser eliminado por ser um terrorista. Evidentemente, se Battisti fosse entregue agora ao governo italiano, correria o risco de sofrer toda espécie de violências. Sem qualquer sombra de dúvida sofreria discriminações e humilhações, e não haveria o mínimo respeito por seus direitos fundamentais e por sua dignidade humana. Foi isso, basicamente, que serviu de base para a negativa da extradição.

E na sessão de 8 de junho do Supremo Tribunal Federal vários ministros ressaltaram a absoluta falta de fundamento legal para a prisão de Battisti a partir de 1º de janeiro de 2011, quando se tornou pública a decisão presidencial negando a extradição. E seis dos membros do Supremo Tribunal, o que constitui maioria absoluta, votaram pela imediata libertação de Battisti. Mais do que isso, diversos ministros ressaltaram expressamente o acerto daquela decisão, lembrando que por disposição expressa do artigo 1º da Constituição brasileira a dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos da República e, pelo que determina o artigo 4º, inciso II, em suas relações internacionais, o Brasil rege-se pelo princípio da prevalência dos direitos humanos.  Assim decidindo, a maioria dos membros do Supremo Tribunal deu importante contribuição para recuperar sua imagem de guarda da Constituição, comprometida pelos que, por motivos e interesses que nada têm de jurídicos, comportaram-se como advogados do arbítrio e da ilegalidade.

 

“Fukushima é muito pior do que se imagina” – por dahr jamail

Alerta é de ex-dirigente da indústria nuclear. “Fukushima é a pior catástrofe industrial da história da humanidade”, disse Arnold Gundersen, à rede de televisão Al Jazeera. Cientistas independentes têm monitorado a localização de lugares radioativos perigosos em todo o Japão e seus resultados são desconcertantes. “temos 20 núcleos expostos, os tanques de combustível têm vários núcleos cada um, ou seja, há um potencial para liberar 20 vezes mais radicação do que ocorreu em Chernobyl”, afirma Gundersen. Médicos alertam para possibilidade de chuva radioativa já afetar os Estados Unidos.

Dahr Jamail – Al-Jazeera

“Fukushima é a pior catástrofe industrial da história da humanidade”, disse Arnold Gundersen, ex-executivo da indústria nuclear, à rede de televisão Al Jazeera.

O terremoto de 9 graus que atingiu o Japão no dia 11 de março causou um imenso tsunami que danificou os sistemas de esfriamento da usina nuclear da Tokyo Eletric Power Company (TEPCO), em Fukushima, Japão. Também causou explosões de hidrogênio e fusões de reatores que obrigaram o governo a evacuar moradores em um raio de 20 quilômetros da usina.

Gundersen, operador licenciado de reatores com 39 anos de experiência no desenho de plantas nucleares e na administração e coordenação de projetos em 70 usinas de energia nuclear em todos os Estados Unidos, diz que a planta nuclear de Fukushima tem provavelmente mais núcleos de reatores expostos do que se acredita comumente.

“Fukushima tem três reatores nucleares expostos e quatro núcleos de combustíveis expostos”, afirmou. “Provavelmente, há cerca de 20 núcleos de reatores por causa dos núcleos de combustível e todos necessitam desesperadamente ser esfriados. O problema é que não há meios para esfriá-los efetivamente”.

A TEPCO tem lançado continuamente água sobre vários dos reatores e núcleos de combustível, mas isso tem provocado problemas ainda maiores, como a radiação emitida na atmosfera em forma de vapor e na água do mar, assim como a geração de centenas de milhares de toneladas de água marinha altamente radioativa. “O problema é como manter o reator frio”, diz Gundersen. “Estão lançando água e o problema é o que vão fazer com os dejetos que saem desse sistema, pois eles vão conter plutônio e urânio. Onde vão colocar essa água?”

Apesar da usina ter sido fechada, os produtos da fissão nuclear, como o urânio, seguem gerando calor, o que exige o resfriamento. “Agora os combustíveis são uma massa disforme fundida no fundo do reator”, acrescentou Gundersen. “A TEPCO anunciou que tiveram um“melt trough”, ou seja, uma fusão na qual o combustível derretido passa através do fundo do reator para o meio ambiente. Uma fusão do núcleo (“meltdown”) é quando o combustível fundido cai no fundo do reator, e um “melt trough” significa que ele atravessou várias camadas. Essa massa disforme é incrivelmente radioativa e agora há agua sobre ela. A água absorve enormes quantidades de radiação, o que exige mais água para resfriá-la, o que gera centenas de milhares de água fortemente radioativa”.

Cientistas independentes têm monitorado a localização de lugares radioativos perigosos em todo o Japão e seus resultados são desconcertantes. “temos 20 núcleos expostos, os tanques de combustível têm vários núcleos cada um, ou seja, há um potencial para liberar 20 vezes mais radicação do que ocorreu em Chernobyl”, afirma Gundersen. “Os dados que estou vendo mostram estamos encontrando lugares perigosos mais distantes do que no caso de Chernobyl, e a quantidade de radiação em muitos deles era a quantidade que levou a que algumas áreas fossem declaradas terra arrasada em Chernobyl. Essas áreas se encontram a 60, 70 quilômetros do reator. Não se pode limpar tudo isso. Ainda há javalis radioativos na Alemanha, 30 anos depois de Chernobyil”.

Monitores de radiação para crianças
A Central de Reação de Emergência Nuclear do Japão terminou admitindo no início deste mês que os reatores 1, 2 e 3 da planta de Fukushima sofreram fusões nucleares totais. A TEPCO anunciou que o acidente provavelmente liberou mais material radioativo no entorno do que Chernobyl, convertendo-se no pior acidente nuclear conhecido. Enquanto isso, um assessor de resíduos nucleares do governo japonês informou que é provável que cerca de 966 quilômetros quadrados ao redor da usina – uma área de aproximadamente 17 vezes o tamanho de Manhattan – tenham se tornado inabitáveis.

Nos EUA, a doutora Janette Sherman e o epidemiologista Joseph Mangano publicaram um ensaio assinalando um aumento de 35% na mortalidade infantil em cidades do noroeste (dos EUA), após a fusão nuclear em Fukushima, o que poderia, segundo eles, ser o resultado de chuva radioativa originada da planta nuclear acidentada. As oito cidades incluídas no informe são San Jose, Berkeley, San Francisco, Sacramento, Santa Cruz, Portland, Seattle e Boise, e o período considerado inclui as dez semanas imediatamente posteriores ao desastre.

“Existe – e deve haver – preocupação sobre a exposição de população jovem, e o governo japonês vai entregar monitores de radiação para as crianças”, disse o doutor MV Ramana, físico do Programa sobre Ciência e Segurança Global na Universidade de Princeton, e especialista em temas de segurança nuclear. Ele acredita que a ameaça primordial da radiação segue existindo, sobretudo para residentes que vivem em um raio de 50 quilômetros da usina. “Haverá áreas fora da zona de evacuação obrigatória de 20 quilômetros do governo japonês onde a radiação será maior. De modo que isso poderia significar que haja zonas de evacuação também nestas áreas”.

Gundersen assinala que foi liberada muito mais radiação em Fukushima do que o declarado pelas autoridades japonesas. “Voltaram a calcular a quantidade de radiação liberada, mas as notícias não falam realmente do tema. Os novos cálculos mostram que, na primeira semana depois do acidente, foi liberada de 2 a 3 vezes tanta radiação como a que pensaram que tinha sido liberada nos primeiros 80 dias. Segundo Gundersen, os reatores e núcleos de combustível expostos seguem liberando micra de isótopos de césio, estrôncio e plutônio. São as chamadas “hot particles” (partículas quentes ou partículas perigosas). “Estamos descobrindo partículas perigosas em praticamente todas as partes do Japão, inclusive em Tóquio”, revelou.

“Os cientistas estão encontrando-as por toda parte. Nos últimos 90 dias essas partículas perigosas seguiram caindo e estão se depositando em altas concentrações. Muita gente está as absorvendo pelos filtros de ar dos motores dos automóveis”. Os filtros de ar radioativos em automóveis em Fukushima e Tóquio tornaram-se comuns e Gundersen diz que suas fontes já encontraram filtros de ar radioativos na região de Seattle, nos EUA. As partículas perigosas que contem também podem provocar câncer.

“Elas se fixam nos pulmões ou no trato gastrointestinal e provocam uma irritação constante”, explicou. “Um cigarro não te mata, mas com o tempo acaba fazendo isso. Essas partículas podem causar câncer, mas não podem ser medidas com um contador Geiger. Evidentemente, a população de Fukushima aspirou essas partículas em grandes quantidades. Evidentemente, há pessoas na Costa Oeste superior dos EUA que estão sendo afetadas. Essa região foi bastante afetada (pela radiação) em abril”.

Culpar os EUA?
Como reação à catástrofe de Fukushima, a Alemanha vai eliminar progressivamente todos seus reatores nucleares durante a próxima década. Em um referendo na semana passada, cerca de 95% dos italianos votou a favor de interromper a retomada da energia nuclear em seu país. Uma recente pesquisa realizada no Japão mostra que cerca de três quartos dos entrevistados estão a favor de uma eliminação progressiva da energia nuclear em seu país.

A empresa nuclear Exelon Corporation foi uma das maiores doadoras da campanha eleitoral de Barack Obama e é uma das grandes empregadoras em Illinois, Estado onde Obama foi senador. A Exelon doou até agora mais de US$ 269.000 para suas campanhas políticas. Obama também nomeou o presidente executivo da Exelon, John Rowe, para sua Comissão Faixa Azul sobre o Futuro Nuclear nos EUA.

O doutor Shoji Sawada é um físico teórico de partículas e professor emérito da Universidade Nagoya, no Japão. Os modelos de usinas nucleares no Japão o preocupam, assim como o fato de que a maioria delas foi desenhada nos EUA. “A maioria dos reatores do Japão foram desenhados por empresas que não estavam preocupadas com o efeito de terremotos”, disse Sawada a Al Jazeera. “Penso que este problema se aplica a todas as centrais de energia nuclear em todo o Japão”.

O uso de energia nuclear para produzir eletricidade no Japão é produto da política nuclear dos EUA. O doutor Sawada pensa que essa é uma parte muito importante do problema. “A maioria dos cientistas japoneses naquela época, em meados dos anos cinquenta, considerava que a tecnologia da energia nuclear estava em desenvolvimento ou não suficientemente estabelecida, e que era demasiado cedo para dar-lhe um uso prático”, explicou. “O Conselho de Cientistas do Japão recomendou ao governo japonês que não utilizasse essa tecnologia, mas o governo aceitou o uso de urânio enriquecido para alimentar centrais de energia nuclear e, assim, viu-se submetido à política do governo dos EUA”.

Quando tinha 13 anos, o doutor Sawada viveu o ataque nuclear dos EUA contra o Japão, desde sua casa, situada a apenas 1.400 metros do epicentro da bomba de Hiroshima. “Penso que o acidente de Fukushima levou a povo japonês a abandonar o mito de que as usinas de energia nuclear são seguras”, disse. “Agora, as opiniões do povo japonês mudaram rapidamente. Muito mais da metade da população acredita que o Japão deve voltar-se para a eletricidade natural”.

Um problema de infinitas proporções
O doutor Ramana espera que os reatores e os núcleos de combustível da usina estejam suficientemente frios para um fechamento dentro de dois anos. “Mas será preciso muito tempo antes que o combustível possa ser removido do reator”, acrescentou. “Não há dúvida de que será preciso enfrentar o problema das rachaduras, da estrutura da usina e da radiação na área durante vários anos”. Sawada não é tão claro sobre quanto poderia demorar um fechamento completo, mas disse que o problema serão os efeitos do césio-137 que permanece no solo e a água contaminada ao redor da planta elétrica e debaixo dela. Enfrentar esse problema levará um ano, ou mais.

Gundersen assinalou que as unidades seguem emitindo radiação. “Ainda estão emitindo gases radioativos e uma quantidade enorme de líquido radioativo. Levará pelo menos um ano até que deixe de ferver, e até que isso ocorra, estará produzindo vapor e líquidos radioativos”.

Gundersen está preocupado com possíveis réplicas do terremoto, assim como com o resfriamento de duas das unidades. “A unidade quatro é a mais perigosa e corre o risco de colapsar. Depois do terremoto em Sumatra houve uma réplica de 8,6 uns 90 dias depois, de modo que ainda não estamos a salvo. E estamos em uma situação na qual, se ocorrer algo, não existe ciência para isso, ninguém nunca imaginou que teríamos combustível nuclear quente fora do tanque. Não encontraram ainda uma maneira de esfriar as unidades três e quatro”. A avaliação de Gundersen sobre uma solução para essa crise é sombria:

“As unidades um, dois e três têm dejetos nucleares no fundo, o núcleo fundido, e contém plutônio, que levará algumas centenas de milhares de anos para ser eliminado do entorno. Além disso, terão que entrar com robôs e conseguir coloca-lo em um container para guardá-lo infinitamente, e essa tecnologia não existe. Ninguém sabe como recolher o núcleo fundido do solo, e não existe uma solução atualmente para fazê-lo”.

O doutor Sawada diz que a fissão nuclear gera materiais radioativos para os quais simplesmente não existe conhecimento necessário para nos informar sobre como lidar de modo seguro com esses dejetos radioativos. “Até que saibamos como lidar com segurança com os materiais radioativos gerados por usinas nucleares, deveríamos postergar essas atividades para não causar mais danos às futuras gerações. Fazer outra coisa é simplesmente um ato imoral, e acredito nisso tanto como cientistas quanto como sobrevivente do bombardeio atômico de Hiroshima”.

Gundersem acredita que os especialistas precisarão de pelo menos dez anos para desenhar e implementar o plano. “Assim, daqui a 10 ou 15 anos, a contar de agora, talvez possamos dizer que os reatores foram desmantelados e, neste período, se conseguirá terminar a contaminação da água. Já temos estrôncio 250 vezes acima dos limites permitidos no nível aquífero em Fukushima. Os níveis aquíferos contaminados são incrivelmente difíceis de limpar. Portanto, penso que teremos um aquífero contaminado na área da usina de Fukushima durante muito, muito tempo”.

Desgraçadamente, a história dos desastres nucleares parece respaldar a avaliação de Gundersen. “Com Three Mile Island e Chernobyl, e agora com Fukushima, pode-se precisar o dia e a hora exata em que esses desastres começam, mas nunca quando terminam”.

Tradução: Katarina Peixoto/Carta Maior

AÉCIO NEVES cai do cavalo, quebra a clavícula e cinco costelas. Veja o vídeo da assessoria.

dê UM clique no centro do vídeo:

ICANN aprova criação de novos domínios na internet

20/06/2011 03h02 – Atualizado em 20/06/2011 04h16

Iniciativa permitirá trocar ‘.com’ por domínios genéricos próprios.

Organização começará a aceitar solicitações a partir de janeiro de 2012.


As companhias, cidades e organizações poderão registrar seus próprios domínios genéricos na internet, após a decisão adotada nesta segunda-feira (20) pela ICANN, órgão internacional regulador de endereços na internet. A iniciativa permitirá que os domínios terminem com o nome da companhia ou cidade, por exemplo, em vez de “.com”, “.net” ou “.org”.

Decisão foi tomada durante encontro em Cingapura (Foto: Roslan Rahman/AFP)Decisão foi tomada durante encontro em Cingapura (Foto: Roslan Rahman/AFP)

A decisão, considerada um marco na história da internet, foi anunciada pela ICANN através de um comunicado emitido ao fim da reunião que seu conselho de administração realizou em Cingapura. Durante o encontro, 13 membros votaram a favor da medida, um contra e dois se abstiveram.

“ICANN abriu o sistema de endereços da internet às ilimitadas possibilidades da imaginação humana. Ninguém pode prever onde esta histórica decisão nos levará”, disse o presidente e chefe-executivo da organização, Rod Beckstrom.

A ICANN é a organização responsável internacionalmente por atribuir espaço de direções numéricas de protocolo de internet (IP), identificadores de protocolo e das funções de gestão do sistema de nomes de domínio de primeiro nível genéricos (gTLD) e de códigos de países (ccTLD), assim como da administração do sistema de servidores raiz.

A organização começará a aceitar aplicações de solicitação para os novos domínios gTLD a partir de janeiro de 2012. Até o momento se empregam 22 domínios gTLD e cerca de outros 250 nacionais, como é o caso do ‘.br’ para o Brasil e ‘.uk’ para o Reino Unido.

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Agencia EFE

DIANTE DA TESTEMUNHA – por zuleika dos reis / são paulo


 

 

É verdade que, todos os dias, Ana fica em frente dele alguns minutos, mas, o tempo urge para o feijão no fogo, o preparo das misturas, o rearranjo dos desarranjos diários, a lavagem das sujeiras que intrépidas se renovam, a supervisão dos exercícios dos filhos, o preparo de suas mochilas, o embarque dos meninos na perua escolar, o elevador que demora, a ladeira para os passos já cansados desde a planície, o ônibus, as esperas no Banco, o pagamento das contas, as compras no supermercado, as multidões nas calçadas, o suor, os faróis sempre muito vermelhos, as buzinas sempre mais barulhentas, as palavras por dentro gastas como as solas dos sapatos, o silêncio cada vez maior diante da TV, das músicas, dos retratos, dos livros, das ideias, do futuro. O silêncio, à mesa, na sala, na cama.

É verdade que Ana jamais fica diante dele o tempo suficiente, mas nem se dá mais conta. Os minutos galopam, a noite todas as noites chega. As novelas sempre adiam para a noite seguinte a cena decisiva na qual a personagem revela ao marido que há outro homem, a cena em que o marido a expulsará de casa ou a perdoará, desde que ela abandone o outro. Depois do jantar, a louça é lavada e os utensílios guardados cada qual em seu respectivo lugar.

A água corre pelo corpo, o corpo se enxuga, veste o roupão. Planejam-se as sequências do dia seguinte. Os corpos se envolvem nos lençóis, as crianças dormem, o sono chega para todos, com os sonhos dos quais Ana jamais se lembra na manhã seguinte.

É verdade que quando Ana olha para ele, os gestos são sempre meio inconscientes, o olhar não se detém e já se lança para o corredor, a mão abre a mesma porta com a mesma chave de todos os dias, os pés repetem os mesmos passos para o sol lá fora, que também caminha com a regularidade cotidiana, assim como a lua e as estrelas. Nenhum cataclismo à vista.

É verdade que houve um tempo em que Ana olhava para ele e havia muito o que ver. Os olhos vivenciavam a transparência, as mãos se erguiam para lhe acariciarem os cabelos, a curva do queixo, a suavidade dos ombros, a sensualidade ereta dos seios. Os sorrisos brilhavam como um Sol. Nesse tempo a vida era um Novo Continente à espera dos navios de sonho que aportavam todas as noites, no eterno presente de palavras sempre renovadas, recém-emergidas do Jardim Primordial.

Ana não se lembra bem da vez primeira em que,  olhando para ele, percebeu a pequenina fenda, quase imperceptível fenda, alteração levíssima a modificar algo na forma e na expressão do olhar, culminando neste rosto de hoje. Irreversível.

EM BUSCA DA MORTE – de alcione boaventura / rio de janeiro

 “Onde estás Oh! Morte, que näo me encontras?

Te busco vezes sem conta e me entregas à sorte.

Mata-me a sede de encontrar-te

antes que me encontre este punhal em minhas mäos,

no impulso violento da razäo

e Deus, por FIM, de mim se afaste.

Onde estás Oh! Morte, que me feres e me assombras

como morta viva em meio as sombras?

Te deleitas em saber que näo sou forte.

Estou faminto de anseios de te ver.

Traga a paz que esta vida näo me deu!

Traga as rosas que os espinhos levo eu;

levo a dor e a amargura de viver.”

Você usa óculos? Eu às vezes uso Ritalina e Rivotril – por carolina mendes / são paulo

É um descolamento de si. Como uma experiência extra corpórea em que você se desprende do seu corpo e observa o mundo de uma distância estéril. Nem é distância na verdade, é de fora. As conversas não te interessam, as pessoas não te interessam e você sofre se obrigando a ter uma vida normal. Mesmo que dentro da sua cabeça exista uma sirene avisando que um tsunami está vindo, você teima e o volume da sirene vai crescendo até ficar ensurdecedor. E aí para.

Começa com uma sensação de inadequação, de incompetência ou inabilidade para lidar com as coisas que aparentemente as outras pessoas tiram de letra. Um incômodo, mas ainda não é nada de grave. E você fica distraído, e negligente. Começa a esquecer compromissos, portas destrancadas, gavetas abertas. Fica desastrado e começa a quebrar mais copos do que jamais quebrou. E esquece as senhas do Gmail que você usa faz anos, todos os dias.

Essas falhas vão minando o dia a dia. Depois vem a sensação de solidão, e a tristeza de não pertencer. Note que isso independe da paciência ou sensibilidade daqueles que te cercam. E você percebe a preocupação, ou irritação ou os transtornos que está causando mas não vê modo de sair disto. Passa a achar que é um traço da sua personalidade, não percebe que você não necessariamente seja assim, mas esteja assim.

Aí a sensibilidade vai ficando mais e mais aguçada, e conforme você se distancia da realidade, vai criando sua percepção pessoal e fragilizada de tudo, passa a interpretar o mundo de acordo com a sua óptica distorcida, e parece que tudo conspira contra você. E nada dá certo e ninguém te entende.

Uma vez dentro da espiral paranoica, o descolamento piora e você perde entre outras coisas a noção temporal. As horas se arrastam, ou escorrem pelos dedos numa velocidade que te deixa ainda mais isolado. Como se você estivesse caindo e ao mesmo tempo que a velocidade da queda faz o ar te sufocar, cada segundo de pensamento parece durar horas. E cada coisa que acontece desencadeia uma montanha de sentimentos. E você fica exausto. Tudo passa a ser uma batalha.

Outra questão temporal é que você perde a noção pontual do momento. Seu passado e seu futuro não existem mais, vira tudo um filme daqueles que você lembra que viu, mas não lembra exatamente quando ou como termina. Tudo que você tem nesse momento da doença, é a sensação de ser um balão solto numa tempestade tropical. Você sabe que não quer cair, mas que não tem mais muito tempo.

Quando eu tinha 22 anos eu fui diagnosticada com TAG — transtorno de ansiedade generalizada. Eu sei que parece algo inventado, mas não é.

Sabe quando você está vivendo um período de estresse? No trabalho ou na vida pessoal, e isso afeta seu sono, seu apetite, sua sensibilidade? E parece que seus instintos ficam aguçados e seu corpo pronto para briga? Como se você estivesse numa selva e visse um leão, seu corpo e sua mente te colocam num estado de atenção redobrado, e potencializa sua percepção. Então, eu estou assim faz 30 anos.

Uma das manifestações do tal TAG é a depressão. Descrevi como a minha depressão começa e evolui. Existe ainda no pacote fobia social, síndrome do pânico, insônia, compulsão por comida, compulsão por sexo, compulsão por álcool. Eu não tive todos esses sintomas, mas vivo com a possibilidade de um dia ter. Porque eu fui diagnosticada. Eu cogito a possibilidade de fraquejar, ou ter uma crise porque eu fui diagnosticada. Mais que uma fraqueza, eu considero uma libertação. Sair do quadradinho de pessoas que bradam: “comigo não”. Comigo tomara que não aconteça de novo, mas pode acontecer.

Tomei uma infinidade de remédios durante alguns anos. Para frear a espiral descendente, ou tirar o nariz da poça de merda em que a doença me enfiou. Invariavelmente, depois de algum tempo os sintomas voltavam, a dose era modificada até que o remédio parava de funcionar. Next! Um comprimido mágico atrás do outro, até eu aprender a perceber a coisa desandando antes de ficar insuportável e gritar por socorro antes de começar a cair.

Uma vez que essa dinâmica pré crise se estabeleceu, eu consegui encontrar estabilidade suficiente para parar com os remédios. É verdade que a insônia aparece de vez em quando, mas tenho autorização e remedinhos para domar a danada quando passa da terceira noite.

Me considero assim, uma doente mental estabilizada e em observação. Hoje eu conheço meus demônios, e vigio eles bem de perto. Convivemos em harmonia, e quando eles falam alto, eu grito mais alto e eles voltam pro cantinho deles.

Tenho visto ultimamente uma onda de opiniões equivocadas a respeito dos chamados tarja preta, de comentários babacas e antagônicos. O povo que acha lindo estar sendo medicado, e o povo que acha que é tudo falta de um tanque de roupa para lavar. Me desculpem mas se você se encaixa em um destes grupos, você é um idiota. Pior: um idiota que deveria ser, mas não está medicado. Ou mal é cuidado, que seja.

E se de fato todo mundo precisa de uma ajuda pontual para lidar com a vida e as pessoas? Muita coisa mudou, os remédios melhoraram e a vida passou a ter um ritmo humanamente insuportável. Não é fácil para ninguém, e toda ajuda é bem vinda. Ajuda, pontual e precisa. Drogas para tratar de um pé quebrado, não uma bengala para vida. A menos que seu caso seja realmente de bengala, aí compre uma bem bonita e use sem vergonha.

Sem alarde e sem coitadismo. Não é bonito ser do clube tarja preta, mas não é nada além ou aquém de ser humano. De ainda sentir e sofrer e reagir e chorar e brigar. Você usa óculos? Eu às vezes uso Ritalina e Rivotril. Tenho bronquite também, e uso Aerolin. A dificuldade é encontrar um médico que tenha competência e sensibilidade para te tratar, da forma que for melhor para você.

Eu sei o eterno nó no peito que eu tinha antes de encontrar um médico que entendesse o que eu tinha, e principalmente me ajudasse a compreender e viver com isso. Nó era no peito e não na garganta. Não chegava na garganta. O mal estar subia do estômago e parava no peito. E a voz não saía e as explicações não eram convincentes para mim ou para os que me cercavam. E eu não conseguia nem chorar mais.

A psiquiatria, que hoje é vista como indústria da depressão, salvou minha vida. Não que eu estivesse a beira da morte, mas me fez voltar a postar os dois pezinhos no chão.

Prazer, meu nome é Carolina e meu diagnóstico final é: sou humana. Tenho angústias, incertezas, inseguranças e uma montanha de emoções intensas. E eu posso cair. Tá no meu diagnóstico: eu posso fraquejar.

Morre aos 64 anos o cantor Ravel irmão de Dom com quem foi injustiçado no período da ditadura. Vítimas das botinas e dos tanques.

Ele fazia dupla com Dom, seu irmão. Ficaram conhecidos com a música Eu te amo meu Brasil

Morreu em São Paulo, aos 64 anos, o cantor e compositor Eduardo Gomes de Faria, o Ravel, da dupla Dom e Ravel. Ele teve um enfarte fulminante na quinta-feira.

O corpo de Ravel está sendo velado no Cemitério do Araçá, na Zona Oeste. O enterro está marcado para o meio-dia.

A dupla Dom e Ravel ficou conhecida na década de 70 pela música Eu te amo meu Brasil. Além disso, também gravaram Obrigado ao homem do campo, Marcas do que se foi, Canção da fraternidade Animais irracionais.

Cantores ficaram conhecidos com a música 'Eu te amo meu Brasil'
Cantores ficaram conhecidos com a música ‘Eu te amo meu Brasil’

DOM e RAVEL foram injustiçados pela esquerda irracional

Dom foi um excelente compositor, suas músicas viraram sucessos em sua maioria. LINDAS LETRAS.
A DITADURA “encampou” a música e a letra de EU TE AMO MEU BRASIL para “virar” fundo de suas propagandas  a REVELIA de Dom e Ravel. A esquerda raivosa acusou-os de colaborarem com a ditadura militar. Os desmentidos não eram divulgados pela imprensa sob o comando da censura porque interessava a manutenção “da imagem dos jovens e sua melodia a serviço da pátria”. Era uma época em que reclamar contra o poder federal poderia dar cadeia imediata. A dupla calou-se. De um lado explorados pela ditadura, de outro difamados pela esquerda. A TV Globo fez a mesma coisa que os milicos com a música MARCAS DO QUE SE FOI, colocou como vinheta musical dos  seus anúncios de Natal e Ano Novo sem dar os devidos créditos da autoria, ficou como composição dos vinheteiros da tv, para quem não sabia e não sabe.
Compuseram e gravaram lindas melodias, como estas:

OBRIGADO AO HOMEM DO CAMPO

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MARCAS DO QUE SE FOI

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SÓ O AMOR CONSTRÓI

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CANÇÃO DA FRATERNIDADE

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EU TE AMO MEU BRASIL

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ANIMAIS IRRACIONAIS

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Dom e Ravel

Dom e Ravel – Os irmãos Eduardo Gomes de Farias, 1947- (Ravel) e Eustáquio Gomes de Farias 21/08/1944 – 10/12/2000, (Dom) nascidos em Itaiçaba, Ceará, mudaram-se, ainda pequenos, para São Paulo, na década de 1950, com os pais e a irmã caçula Eva. Foram criados na periferia de São Paulo, onde foram morar. Eduardo foi apelidado de Ravel por um professor de música, por causa de sua aptidão para a arte.
Ingressando na carreira artística por volta do início dos anos 1960, a dupla, já como Dom & Ravel, lançou em 1969 o primeiro LP, Terra boa, que trazia Você também é responsável, transformada, dois anos depois, pelo ex-ministro da Educação, Jarbas Passarinho, em hino do Mobral, o Movimento Brasileiro de Alfabetização.
Mas seria na virada dos anos 1970 que dupla atingiria seu maior sucesso, através de sua composição Eu te amo meu Brasil, gravada pelo conjunto Os Incríveis. A obra rendeu-lhes, ao mesmo tempo, sucesso e rotulações de bajuladores da direita. Tais críticas ocorreram devido ao caráter ufanista,daquela canção, que foi utilizada, no contexto político daquele momento, em pleno auge da ditadura, pelos governos militares. Somando-se à temática ufanista, também foi sucesso sua composição Obrigado, homem do campo.
O sucesso de Eu te amo meu Brasil teria levado o então governador de São Paulo, Roberto de Abreu Sodré, a sugerir ao ex-presidente da República, Emílio Garrastazu Médici, que a citada canção fosse transformada em hino nacional. Médici nada teria respondido. Mas a notícia teria sido divulgada na imprensa e os artistas começaram a ser apontados como arautos da ditadura. A música, segundo Ravel, foi composta, na verdade, para aproveitar a onda do tricampeonato da seleção de futebol. Todavia, em entrevista de 2001 à Veja, o músico declara:’Mas nossos sobrenomes Gomes de Farias ajudaram a aumentar a confusão’, lembrando a associação que as pessoas faziam com o brigadeiro Eduardo Gomes e o general Cordeiro de Farias. Falava-se, então que os irmãos eram filhos de militares. Na verdade, o pai deles era um pequeno comerciante paraibano e a mãe, uma dona-de-casa cearense.
Em 1971, tiveram a música Praia de Iracema gravada pelo grupo paulista Demônios da Garoa no LP Aguenta a mão , joão, lançado pela Chantecler. Em 1972, a dupla foi selecionada para participar do LP coletânea Os grandes sucessos, lançado pela RCA , com a música Você também é responsável.
Em 1973, Dom & Ravel gravaram Animais irracionais, falando de injustiça social. A direita não gostou e os dois sentiram uma certa má-vontade da mesma ditadura que com eles simpatizara, sendo o disco e a música afastados das rádios.
Em meados dos anos 1970, a dupla se separou, e ambos seguiram carreira solo.
Com a morte do irmão Dom, em dezembro de 2000, vítima de um câncer de estômago, Ravel, com uma vista prejudicada por um acidente, lançou, em 2001, o CD Deus é o juiz, em sua homenagem, com sucessos da dupla. “Eu te amo meu Brasil” não foi selecionada para o disco.
Obra
Eu te amo meu Brasil /Glória aos jovens (Dom) /O caminhante (Dom e Aziz) /Obrigado, homem do campo / Você também é responsável.
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AÍ TEM… – por martha medeiros / porto alegre

As coisas são como são. Se alguém diz que está calmo, é porque está calmo. Se alguém diz que te ama, é porque te ama. Se alguém diz que não vai poder sair à noite porque precisa estudar, está explicado. Mas a gente não escuta só as palavras: a gente ouve também os sinais.

Ele telefonou na hora que disse que ia ligar, mas estava frio como um iglu. Você falava, falava, e ele quieto, monossilábico. Até que você o coloca contra a parede: “O que é que está havendo?”. “Nada, tô na minha, só isso.” Só isso???? Aí tem.

Ele telefonou na hora que disse que ia ligar, mas estava exaltado demais. Não parava de tagarelar. Um entusiasmo fora do comum. Você pergunta à queima-roupa: “Que alegria é essa?” “Ué, tô feliz, só isso”. Só isso????? Aí tem.

Os tais sinais. Ansiedade fora de hora, mudez estranha, olhar perdido, mudança no jeito de se vestir, olheiras e bocejos de quem dormiu pouco à noite: aí tem. Somos doutoras em traduzir gestos, silêncios e atitudes incomuns. Se ele está calado demais, é porque está pensando na melhor maneira de nos dar uma má notícia. Se está esfuziante demais, é porque andou rolando novidades que você não está sabendo. Se ele está carinhoso demais, é porque não quer que você perceba que está com a cabeça em outra. Se manda flores, é porque está querendo que a gente facilite alguma coisa pra ele. Se vai viajar com os amigos, é porque não nos ama mais. Se parou de fumar, é uma promessa que ele não contou pra você. Enfim, o cara não pode respirar diferente que aí tem.

Às vezes não tem. O cara pode estar calado porque leu um troço que mexeu com ele, ou está falando muito porque o time dele venceu. Pode estar mais carinhoso porque conversou sobre isso na terapia e pode estar mais produzido porque teve um aumento de salário. Por que tudo o que eles fazem tem que ser um recado pra gente?

É uma generalização, mas as mulheres costumam ser mais inseguras que os homens no quesito relacionamento. Qualquer mudança de rota nos deixa em estado de alerta, qualquer outra mulher que cruze o caminho dele pode ser uma concorrente, qualquer rispidez não justificada pode ser um cartão amarelo. O que ele diz importa menos do que sua conduta. Pobres homens. Se não estão babando por nós, se tiram o dia para meditar ou para assistir um jogo de vôlei na tevê sem avisar com duas semanas de antecedência, danou-se: aí tem.

SEPULTAMENTO – de joão felinto neto / mossoró.rn

 

 

Os meus olhos pregados

no infinito

como os pregos nas tábuas

cravejados,

e de pontas viradas,

redobrados,

sustentados e fixos

numa curva.

No aconchego da madeira macia,

minhas costas

nos ossos da bacia

consolam meu corpo

tão curvado.

Pelo tempo que tenho acumulado,

a ferrugem do mundo

me comeu,

e a tampa que pregam

me prendeu

para sempre num rito consumado.

Por debaixo da terra

condenado

a ser parte da mesma

e não ser eu.

Auto retrato – de omar de la roca /são paulo

 

Certa fim de tarde,quando o vento já havia feito a curva e o sol bocejava de sono, reuniram-se no barzinho da esquina. O Sergio, o Omar e o Kevin. Só para facilitar a visualização, o Sergio era alto, com olhos da cor do mar do Nordeste e cabelos já grisalhos. O Kevin tinha cabelos de fogo e olhos da cor do mar da Irlanda,era tão alto quanto o Omar.O Omar tinha olhos escuros e insondáveis como o Mar da Tranquilidade e por pouco não batia a cabeça ao passar pela porta.O Sergio pediu leite já que seu estomago não estava bom. Imaginem a risada dos outros. O Omar queria uma bebida exótica, que não havia no local. Mas ele era assim mesmo, gostava de coisas diferentes e não hesitava em mostrar suas vontades e querer que elas prevalecessem. Mas se contentou com uma dose de arak com água e bastante gelo. Já o Kevin , brincalhão e sacana como ele só, seguia fiel a suas origens e pediu logo uma dose dupla de licor Baileys e uma cerveja Guinness. Pobre dele, se sentia na Irlanda mesmo. Era a defesa dele querer se cercar de coisas da velha Erin. Acabou tomando Caracú e dispensou o licor de ovos que o garçom achou escondido no fundo da estante. Mas riram todos  das escolhas uns dos outros. O Omar começou a falar umas coisas difíceis, com palavras que poucos conheciam. O Sergio quis falar sobre os livros que lia ( de preferência em Inglês,para manter contato com a língua ele dizia, e sempre aprendia alguma palavra ou expressão nova).Mas o Kevin interrompeu para mostrar um par de pernas que passava. Ele não perdia a piada.Na verdade era uma outra defesa dele. Na verdade ele gostava das duas pernas. O Sergio, em voz baixa, quis protestar,mas o Kevin continuava rindo. O Omar achou mais prudente ficar só olhando. O garçom veio perguntar se iriam comer alguma coisa ou se iam ficar só na conversa mole. Kevin parou de rir por um momento e caiu na gargalhada.O Sergio sorriu discreto e o Omar disse que estava com fome. Pediu um kebab,que o bar não tinha e acabou se agradando de um churrasquinho de gato que girava solitário na porta. Sergio pediu uma salada (só tinha alface ), já era de noite e se ele comesse algo pesado iria roncar ainda mais a noite toda. O Kevin queria um frango tandoori com bastante curry,que vira numa revista e achara chique. Mas o bar não tinha e ele pediu frango a passarinho mesmo. Não importava a ninguém se ele roncasse a noite toda com bafo de alho. Bom, com todas as diferenças, se davam bem. Concordavam que a loira da contabilidade era uma gostosa. Que o sistema estava melhor depois da mudança para um escritório na Paulista. O Omar fazia visitas constantes, com sua simpatia inata. O Kevin, se pudesse, encostava o corpo e ficava na Internet o dia todo,com duas paginas abertas no computador, abrindo a página da tabela de Excell assim que alguém se aproximasse.O Sergio mantinha seus registros na mais estrita ordem ,o que ocasionava comentários sobre sua organização.Achavam até estranho.Torciam para  o Timão , que ia ser campeão este ano           ( como sempre ). E combinavam em muitas coisas. Mas tinham também suas diferenças. O Sergio era caladão e sua voz era muito baixa.O Omar falava alto como um italiano e gesticulava também. Já o Kevin falava arrastado, simulando um sotaque inglês que não tinha,mas que só desaparecia quando ele estava nervoso. E todos riam. O Sergio vinha trabalhar de ônibus e metro ( o que exigia uma tremenda condição física ) , o Kevin de moto ( que dirigia como um cachorro louco ) e o Omar morava perto e, ora vinha caminhando ( quando não chovia) ora pegava um ônibus que subia a Consolação ( e pegava um trânsito danado). Um dia, apesar de toda a amizade, brigaram feio. Até hoje não sabem exatamente porque. O Sergio achava que era sobre uma borboleta amarela que passara voando rente e só ele tinha visto.O Kevin achava que era sobre uma diferença de opinião sobre o valor artístico da Spire de Dublin.O Omar achava que era sobre a interpretação de uma pintura renascentista,que haviam visto no MASP numa terça feira que a entrada é grátis. Mas continuavam a se respeitar. Se cumprimentavam, marcavam um almoço ao qual não iam dando as desculpas mais inverossímeis ( palavra que o Omar adorava ), ou esfarrapadas ( coisas do Kevin ) ou a verdade ( que o Sergio cultivava, embora o prejudicasse as vezes). Mas estavam sempre atentos um com o outro. Sempre ouviam a opinião do outro.Mesmo que não seguissem o conselho.Mesmo que achassem ridículo. Mesmo que o fizessem em segredo. O Sergio sentia falta dos dois enquanto ajeitava os óculos e os olhava de esguelha, o Omar só deixava transparecer quando coçava a orelha,num sintoma de Tourette,mas era o mais sensível deles. Já o Kevin era extremamente carente, o que procurava disfarçar fazendo os outros rirem , as vezes com piadas que só ele entendia.As vezes o Sergio e o Omar conversavam sobre o Kevin.Mesmo achando que ele jogava nos dois times, gostavam dele, e o defendiam junto aos outros que queriam tirar sarro.As vezes o Omar e o Kevin conversavam sobre o Sergio,procurando saber o motivo de tanta mutez,mas o defendiam junto aos outros quando queriam chama-lo de gramofone. As vezes o Kevin e o Sergio conversavam, quer dizer, o Kevin falava quase o tempo todo sobre o Omar e seus gostos estranhos.Mas sempre o defendiam junto a aqueles que o chamavam de gringo.Kevin sempre brincava ao passarem por um restaurante japonês dizendo “ Será que o sashimi já esta bem cozido ? E o Omar dizia que peixe cru é coisa de japonês “ E o Sergio, que já experimentara e gostara ria e se perguntava se algum dia eles iriam concordar em comer num restaurante melhorzinho ,aprendendo a experimentar coisas novas. Kevin comia qualquer porcaria. Sergio detestava gordura. Omar preferia assados. Passaram algumas semanas de cara virada. Acharam que deveriam fazer as pazes, afinal nem sabiam o porque da briga. E, por coincidência se encontraram na sala de café.Sergio tomava sem açúcar nem adoçante. Kevin tomava chá bem doce. Omar tomava café com leite e açúcar. E começaram a conversar sobre a loira, pra quebrar o gelo.Marcaram de tomar alguma coisa no barzinho da esquina.A gerência mudara e eles estavam animados para saber se as coisas haviam mesmo mudado. Lá pelas seis e pouco saíram para o bar. O Sergio, com sua mania de organização atrasou um pouco.O Kevin já estava de pasta na mão as cinco e cinquenta e cinco. O Omar não podia sair antes de ir ao banheiro. A chuva tinha passado. Entraram no bar. O garçom era o mesmo. E os recebeu rindo. Mostrou a mesma mesa e eles se sentaram. Ele trouxe a Guinness do Kevin. E a bebida do Omar ( de nome impronunciável ). E o leite de cabra para o Sergio ( que era mais forte ).Os pratos vieram do jeitinho que queriam,sem mesmo terem pedido.A salada do Sergio tinha até endívias que ele adorava.O frango do Kevin veio fervendo e picante de temperos indianos.O Kebab do Omar era de carne de carneiro com tempero suave de hortelã. Estranharam, mas sorriram satisfeitos. Outros pares de pernas, outras músicas, outros perfumes. De repente sorriram e entenderam. E deram as mãos como se fossem os três mosqueteiros separados desde a infância e reunidos como por magia, no bar da esquina.Juraram amizade eterna. Nunca iriam se separar. E nunca mesmo. As vezes os três tinham tonturas, ao mesmo tempo ou dores de cabeça memoráveis ou ficavam resfriados juntos. Como trigêmeos que compartilhassem o mesmo destino.  Sergio sempre oferecia os lenços que comprava. Omar carregava um lenço de tecido perfumado. Kevin assoava num pedaço de papel toalha que surrupiava de todos os banheiros que visitava. E riam. E por muitos anos seguiram com uma amizade de dar inveja aos outros que se aproximavam e queriam participar da sociedade. Sergio dizia que era a sociedade do Trio de um só. Kevin brincava  e chamava de Sociedade do Anel ( com uma dupla referência ao Sr dos anéis e a um Anel que tinha conotações eróticas e os outros dois não gostavam ).Já o Omar referia-se  a uma antiga e inquebrantável  relação cármica ( ele estava lendo Comer Rezar e Amar e , já na parte de Bali tinha ficado influenciado pela sabedoria do guru ) .De qualquer maneira,eram laços que nunca se romperiam. Amigos para sempre. Até que um dia estivessem caminhando juntos pela rua,se apoiando um no outro e um raio de luz os levasse para : o céu , confirmava  Sergio, a Tirnanog pensava Kevin, ao paraíso cogitava Omar.

 

“MILONGA PARA UM POBRE NEGRO” – letra e música de luiz roberto conrad / porto alegre

 

POBRE NEGRO….GESTA DO POBRERIO

      FALAM TANTO EM IGUALDADE

      MAS NAS VEIAS DA VERDADE

      NÃO É ISSO QUE SE VIU….

 

      POBRE NEGRO…..

      CAPITÃO SEM NAVIO

      Á DERIVA PELO MUNDO….

      NO BUCHO, UM BURACO FUNDO….

      A FOME TRAZ O VAZIO.

 

     ” POBRE NEGRO,,,

        VOCÊ PODIA SER EU…

        EU PODIA SER VOCÊ,

        MAS A  VIDA MELHOR ME DEU…

        POBRE NEGRO..,

 

        POBRE NEGRO…

        QUE ENTRE OS SONHOS,,,,SE PERDEU…

        EU PODIA SER  VOCÊ….

        MAS A HISTÓRIA,,,SE INVERTEU.”

 

                                     

 

N O T A S D E C O M P I L A D O R – por jorge lescano / são paulo


¿Cómo explicar la existencia de obras en colaboración?

  Borges afirma que se trata de un prodigio inverso

 al de Jeckyll y Mr. Hyde: dos se convierten en uno.

 El resultado artístico expresa una tercera entidad.

 

El último colaborador, tal vez el decisivo, es el lector. 

Alejandro Dolina

 

 

[…] numa esquina do bairro de Flores, espaço quase mítico apesar de adjacente, no sentido leste-oeste, do meu Floresta.

 

Primeira nota: escrevi a frase de cima antes de ler Crónicas del Angel Gris. Alejandro Dolina, seu autor (vide Nota à nota), era o meu colaborador secreto, presumivelmente anterior e a longa distância. Alternativa mais interessante a meu ver é a de que eu fosse o seu colaborador, deste modo ficaria na posição de duplo, não de original, satisfazendo a minha vocação de Eminência Parda. De todo o caso sobra um aporte à sua Arte en Colaboración: nenhum dos dois sabia nada de nossa parceria.

Na minha história recente (de leitor) a mais notória colaboração deste tipo foi protagonizada – a revelia, poderíamos dizer – pelo escritor argentino Jorge Luis Borges, falecido em 18 de junho de 1986 na terra do lendário Guilherme Tell e seus despojos descansam no cemitério de Painpalais, em Genebra.

 No início da década de 1990 entrou em circulação Instantes, um poema, digamos assim, com a assinatura de Borges. O texto percorreu o mundo com sucesso inédito. O nome deste escritor considerado difícil atingiu todas as camadas sociais dos cinco continentes. Sei de pessoas que diligente e impensadamente dilapidaram seus tostões xerocando o texto e o distribuindo por ruas e vielas dos mais distantes vilarejos deste novo mundo, para não falar das praças e avenidas das grandes metrópoles do velho mundo. Fontes fidedignas noticiam que foi impresso em toalhas de mesa, guardanapos, lenços e outras superfícies portáteis além de ser pregado em cardápios e vitrines para o seu melhor e maior consumo.

 O monstrinho chegou-me às mãos por um conhecido, consuetudinário leitor de poesia. Foram inúteis as minhas arrazoadas argumentações visando demonstrar que a obra não era de autoria do consagrado vate cisplatino, Instantes já se havia incorporado ao repertório das massas. Tal popularidade, aliás, valeu-lhe inclusão na Antologia Apologética do Apócrifo, inédito de minha modesta autoria.  

Das mãos de um poeta de cordel, réu confesso de haver xerocado e distribuído Instantes e conhecedor dos meus pendores de resenhista (valha o neologismo), recebi um recorte do jornal Folha de São Paulo do domingo 17 de dezembro de 1995. O escritor brasileiro Moacyr Scliar, recentemente falecido, retornando do México e baseado em confidências de Maria Kodama, viúva do escritor argentino, revelava a autora do pasticho. Trata-se da norte-americana Nadine Stair. Estampamos-lhe o nome para escárnio público e regozijo dos colecionadores de fiascos literários, antes que para lhe fornecer subsídios para os quinze minutos de fama vaticinados pelo seu compatriota Andy Warhol, fama à qual todo habitante deste planeta em extinção tem direito. Com a melhor boa vontade quero acreditar que a autora teve a generosa intenção de aumentar, se não enriquecer, a obra do festejado bardo portenho doando-lhe fruto de sua seara.

Pareceu-me suspeito tal desprendimento. Acostumados que estamos ao lucro pessoal em toda atividade, como o santo do ditado desconfiamos quando a dádiva é abundosa em demasia. Por que alguém formado na cultura que cunhou a sentença Tempo é dinheiro cederia gratuitamente o árduo produto dos seus neurônios, se não da sua emoção candente, à memória de outrem? Confesso: não via no ato propósito legível.

O surgimento de páginas póstumas sempre me deixa perplexo. Penso no mágico baú de Fernando Pessoa, cornucópia literária que não deixa de expelir textos. O português, ao dotar de vida, pela obra, os heterônimos, povoou o universo com poetas tão reais quanto Ele Mesmo. Se a importância de um escritor é sua obra, eles têm essa consistência acrescida dos dados biográficos fornecidos pelo seu criador; desse modo, hoje que Fernando Pessoa não figura mais entre os vivos, tornou-se igual às suas criaturas. Existem fotografias e documentos escritos que atestam a existência de Fernando Pessoa, dirão os adeptos do inquérito policial, tais documentos apenas se autenticam reciprocamente, respondo. O universo ficcional criado por ele autoriza a dúvida. Como dramaturgo, Pessoa incrustou seus apócrifos na realidade a ponto de competir com Ele Mesmo e nos fazer duvidar de nossa existência. Não custa muito imaginar Fernando Pessoa Ele Mesmo como criação de Álvaro de Campos ou qualquer outra de suas criaturas, ou ainda de um colaborador que por astúcia ou ironia preferiu não deixar rastro. O próprio sobrenome estimula a incredulidade, é sorte grande que ele derive da máscara latina. Se Pessoa for pseudônimo, ele sugeriu os duplos ou estes originaram o pseudônimo? Estas especulações serão ociosas para os que confundem a história com o jornalismo e a chamada ciência histórica, categoria literária enriquecida pelo gênero biografia, porém, Fernando Pessoa era adepto de diversos esoterismos que permitem estas conjecturas. O assunto é tentador, mas excede nosso tema.     

Em agosto de 1999, para comemorar o centenário de nascimento do suposto autor de Instantes, realizaram-se em São Paulo variados eventos. Foi então que tive a oportunidade de conversar rapidamente sobre o assunto com a senhora Maria Kodama. No breve colóquio, a ilustre dama participou-me que no início do infausto acontecimento – a publicação, distribuição e reprodução de Instantes –, ela optou por ignorá-lo. Porém, o jurista que trata dos seus negócios bem como do memorial que eterniza o nome do vate de quem estamos a falar, advertiu-a que a autora da obra aqui focada estaria habilitada, se assim o desejasse, a reivindicar a autoria do poema, por assim dizer, cabendo processo judicial por apropriação indébita de direitos autorais, visto a citada senhora, herdeira do espólio do supracitado Jorge Luis Borges, haver permitido a circulação da referida obra como se de autoria do seu cônjuge fosse, alternativa de todo deplorável para vossa senhoria, como é fácil coligir. Tal o motivo que a decidiu a tornar pública a falácia, esclarecendo-me, de lambuja, sobre o provável objetivo da empreitada.

 Tenho para mim que a colaboradora (ora) explícita enriquece a biografia do autor argentino. Moto-próprio resolveu acrescer menos a obra que o fato à(s) biografia(s) póstuma(s) (como deveria ser toda biografia), tanto as autorizadas quanto as outras. De algum modo este plágio por movimento contrário ilustra a teoria literária de Borges segundo a qual é o leitor quem faz a obra. Opinião mais severa ou mordaz diz que ele foi vítima póstuma do apócrifo, modalidade literária por ele mesmo praticada durante toda a vida. Se não, vejamos um exemplo, apenas um, para não fatigar nosso leitor.

Em ensaio fartamente documentado, como é do seu feitio, o autor de Evaristo Carriego, biografia dúbia deste poeta popular (no sentido político, não comercial, do epíteto) aponta os avatares sofridos pelo livro d’As mil e uma noites, obra mágica para os europeus (não para os árabes, acostumados aos prodígios) mesmo à custa de omissões e acréscimos de relatos dos tradutores (aos quais aplica, com ressalvas, o famigerado trocadilho italiano), circunstância esta que não deixa de aproveitar para impingir ao leitor displicente (categoria que incluiria Tzvetan Todorov, segundo Mariza Werneck in O livro das Noites, apud Júlio Pimentel Pinto: Uma memória do mundo) a portentosa noite 602 em que o rei Shahriar ouve da boca da rainha sua própria história (in Os tradutores d’As Mil e uma noites).

Sempre atribuí o fracasso das minhas pesquisas a respeito à deficiência das edições consultadas, mas não havia tal, Borges inventa sutilmente uma noite a mais, nos revela a mesma Mariza Werneck, ibidem. Se Kafka funda uma Novayorque pelo grafismo em sua Amérika (ortografia mais próxima do som original pré-colombiano: amerik, segundo os estudiosos) e O Marinheiro de Pessoa cria todo um país para sua origem, a noite 602 só passa a existir depois da “citação” de Borges. Deveríamos falar d’ As mil e duas noites? Deixo a solução deste enigma literário aos mestrandos de plantão.

O insigne cego revelava em entrevistas que seus últimos poemas eram escritos em colaboração, se ele os inventava (e voltava à rima para melhor lembrá-los), outro devia redigi-los. Creio que assim deveriam agir os antigos rapsodos. É de se supor que embora clássico, Homero (cego, na língua da Trácia, afirma algum acadêmico) fosse iletrado. Antes de perder totalmente a visão o argentino já havia cometido várias obras em parceria. Três colaboradores vêm-me à memória, sem que esgotem o elenco de parceiros nem a lista de obras: María Esther Vázquez (Literaturas Germánicas Medievales), Margarita Guerrero (El Martín Fierro) e o mais conhecido, Adolfo Bioy Casares (Crônicas de Bustos Domecq). 

Colaboração involuntária notória é Kafka, de Max Brod. Nesta obra, o autor de Os falsários (teatro) narra que só depois de oito anos de convivência e amizade cotidiana o autor da sátira O processo atreveu-se a revelar que escrevia. Na época Max Brod já era um escritor conhecido em Praga, Kafka apenas seu amigo. A celebridade internacional, contudo, só lhe adveio precisamente pela publicação da obra e da biografia daquele escritor oculto por modéstia ou respeito às letras (bem diverso de nós, verbi gratia). Como é de domínio público graças ao biógrafo, o autor d’ O castelo teria escrito dois bilhetes nos quais delegava ao amigo a ingrata tarefa de confiar ao fogo (mais radical que Virgílio, que Gógol, que Artaud, êmulos de Eróstrato) sua Obra (hoje) Completa. Segundo a versão de Brod é possível afirmar que a colaboração do biografado foi totalmente aleatória. Por toda sua vida Kafka teria se limitado a ser somente Franz Kafka.

Não falta quem aventure a hipótese de que Franz Kafka seja heterônimo de Max Brod. Como no caso de Fernando Pessoa, a iconografia de Kafka apenas ilustra a existência de um senhor com certas características atribuídas ao personagem em questão. Acreditamos tratar-se do autor do Informe para uma academia porque a legenda que acompanha a fotografia afirma isto. Não é impossível que o nome corresponda ao do original retratado. Ainda assim, como saber que ele é o autor da obra de Franz Kafka? Talvez não seja excessivo afirmar que Max Brod obteve a permanência nas letras pelo registro explícito da ausência do seu (suposto?) biografado.  

Gustav Janouch, filho de um colega de escritório de Kafka, escreveu o ameno Conversas com Kafka com a colaboração direta do autor de Cartas a Milena, primeira colaboradora do seu correspondente ao traduzir para o tcheco algumas de suas narrativas.

Caso pitoresco do gênero biografia é o do crítico uruguaio Emir Rodriguez Monegal, primeiro biógrafo de Jorge Luís Borges. Monegal faleceu antes de Borges, este paradoxo extra literário remata com humor macabro a biografia do argentino.

Em tempo: a colaboração do personagem tema da biografia é devidamente apontada pelo escritor de Flores.

Citei três autores sobre os quais existe vasta bibliografia que, como a poluição nas cidades, não deixará de crescer enquanto houver mundo. São três colaboradores de multidão de ensaístas, ficcionistas, cronistas e jornalistas dos mais diversos calibres e pontaria, com os quais pego carona para não perder a viagem.

No Brasil, o divertimento policial O mistério dos três MMM foi escrito por dez autores, dentre os quais, salvo lapso de minha memória, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos e Jorge Amado. Constata-se aqui que o anonimato nem sempre quer ser preservado.

Creio que estes exemplos ilustram o meu ponto de vista sobre a colaboração narrativa. Deixo de fora a “colaboração” dos editores para melhorar os originais a ser publicados, uma vez que esta participação diz menos à estética que à embalagem. Adequação do produto ao mercado desculpam-se os autores.

 

Nota à nota: Alejandro Dolina, escritor argentino inédito no Brasil (re)criou o bairro portenho de Flores como nação autônoma que cumpre a função narrativa e mítica da aldeia de Tolstoi. Em Arte en Colaboración, Dolina trata, sempre de forma bem humorada, da quase impossibilidade da criação literária em duplas. O texto também aconselha que se pratique a amizade por alguns anos antes de iniciar a colaboração. Isto vale especialmente para a biografia. Kafka, numa espécie de colaboração antecipada com Dolina, que não se esqueceu de relacionar esta categoria, valeu-se cautelosamente do conselho.

 

Nota às duas notas supra: Deseja-se constar que a publicação deste texto, sem pretender criar gêneros literários (nota ao texto inédito, colaboração involuntária), ora que os gêneros agonizam, se não estiverem mortos (tudo acontece tão rápido, sêo Aquiles, é algo que nunca diria o eleata) almeja sim o objetivo de ser auto-suficiente.

 

Nota final: saiba o prezado leitor que a crônica de nossa lavra na qual aproximamos o bairro de Flores, pelo uso poético, aos paulistanos Brás, Bexiga e Barra Funda, permanecerá inédita, trata de fatos excessivamente locais de difícil acesso ao leitor estrangeiro. O texto tem razões que nem Tolstoi compreenderia. E por ser verdade quase tudo o aqui narrado, assino embaixo.

 

O buraco da crise e o mapa do tesouro – por alceu sperança / cascavel.pr

Não são os humanos, como se diz por aí, que destroem a natureza. Os que destroem, na verdade, são desumanos.

A destruição é causada, sempre, por uma estrutura política e social cruel e injusta. Essa estrutura injusta gerou duas novas e terríveis crises.

A primeira delas é a crise imobiliária americana. Muitos americanos perderam as casas nas quais moravam. A segunda grave crise é a crise do preço dos alimentos. É aquilo que nossos avós e pais chamavam de carestia.

Mesmo com essas duas novas grandes crises criadas por essa estrutura desumana de poder, a missão dos homens de bem é fazer do limão, uma limonada. Aproveitar as crises para aprender, crescer, criar um mundo novo, mais justo e humano.

Tomara os governantes mundiais aprendam que a crise do preço dos alimentos pode ser vencida pondo para trabalhar milhares de pessoas que hoje perambulam por aí sem terra nem lar.

Sem repensar todo o sistema produtivo, os preços dos alimentos continuarão em alta. Sem mudar a mentalidade quanto à necessidade de proteger a natureza, e o ser humano, dentro dela, não haverá como produzir alimentos bons e baratos.

Sem mudar, o Brasil continuará alimentando o gado europeu com soja barata e encarecendo o preço do feijão com arroz que nosso povo come.

**

Existe um mapa do tesouro?…

Vivemos um mundo incompreensível. Nunca, antes, existiu um planeta como este de agora. Por não ter havido um anterior, precisamos sempre estudar para aprender como lidar com ele.

Quando vovô nasceu, eram só ele e mais 3 bilhões de pessoas neste planeta. Era um outro mundo. Quando eu nasci, o mundo era o dobro: mais de cinco bilhões de habitantes. É um mundo jamais visto antes.

Somos a geração que mais criou riquezas neste mundo, mas também a que mais gerou lixo. Somos os gênios do milagre, da tecnologia, do avanço, do cartão de crédito, do asfalto, de tudo o que o dinheiro pode comprar.

No entanto, toda a riqueza gerada tem produzido muito mais lixo e coisas inúteis que benefícios. Era esse o tesouro que a gente queria encontrar?

Na verdade, continuamos, ainda, na pré-história da humanidade. Pois não é humano (nem cristão como querem aqueles que se dizem religiosos) haver uma sociedade que enriquece em cima da destruição da vida, deixando na miséria milhões de pessoas.

Um dia, no futuro, com o mesmo esforço produziremos mais riquezas e menos lixo. Finalmente encontraremos o tesouro verdadeiro: uma humanidade feliz num mundo melhor.

Mas existe um mapa do tesouro? Sim, o mapa do verdadeiro tesouro é nossa consciência.

DITADURA REJEITADA, nunca esquecer!

Belo Horizonte, setembro de 1979. O general João Baptista Figueiredo – último presidente do regime militar – fazia uma viagem com cara de campanha.
Tomou cafezinho em um bar no centro, fez discurso. Estava tudo indo conforme o planejado até que uma menina de apenas cinco anos surpreendeu o presidente-general. Ela rejeitou o cumprimento do general.
A foto imediatamente virou símbolo da luta contra a ditadura. Foi publicada em vários jornais e revistas, no Brasil e no exterior.
“Aquilo ali lavou a alma da nação. Pra nós soou como uma vingança nacional”.
“É a magia da criança. Se fosse um adulto não teria, nunca teria o mesmo valor”, diz o ex-secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda.

Urda Alice Klueger, a escritora, foi usada para surrupiar dinheiro do estado. Governador e sua turma seguem fazendo pouco caso da cultura. / ilha de santa catarina

USARAM MEU NOME PARA ROUBAR O SEU DINHEIRO!!!

Ético confrade da Academia Catarinense de Letras (ACL) fez contato comigo a 29 de março deste ano de 2011 d.C., conforme segue abaixo:

Prezada Urda:

1. De 26 de maio a 05 de junho será realizada, em Ribeirão Preto, a 11ª Feira do Livro, sendo, entre outros, homenageado o Estado de Santa Catarina.

2. No dia 28, além de pronunciar palestra sobre “A Literatura Catarinense”, à tarde, após o discurso do Governador Colombo (…)

3. Indiquei o seu nome, a pedido do Secretário de Cultura, para compor uma lista dos escritores convidados (passagem, hotel e comidinha pagos).

4. Gostaria que me confirmasse o convite e eventual aceitação. Em caso positivo, é fundamental a escolha de um dia para lançamento de livros (funcionária da Secretaria de Cultura e Turismo manterá contato para adquiri-los das editoras), sem que haja coincidência.

Abraços,

Dei retorno, disse que ia, e o confrade me retornou dizendo que os organizadores manteriam contato para combinar os detalhes. Ainda bem que tenho uma vida ocupada até demais – já pensou se sou uma velhinha dessas que não têm muito o que fazer, e que talvez fosse fazer vestido novo para o evento, telefonar para os amigos lá da região de Ribeirão Preto marcando encontro, etc.? Minha vida hiper-ocupada não me deu tempo de ficar pensando no assunto, e como nunca ninguém fez o menor contato comigo nem combinou nenhum detalhe, o evento passou batido.

Foi só ontem, dia 07 de junho de 2011 d.C. – portanto, mais de dois meses depois – que comecei a me antenar para o fato de que havia algo errado. Uma ou outra pessoa se comunicou comigo para saber como tinha sido a Feira de Ribeirão Preto, pois tinha lido a respeito da minha ida para lá – ainda bem que existe São Google, infalível informador dos distraídos ou muito ocupados, e foi São Google quem me contou direitinho que eu tinha estado em Ribeirão Preto, na Feira do Livro, bem nos dias em que estava exatamente em Blumenau, cheinha de testemunhas que me viram, falaram comigo ou me visitaram naqueles dias.

Daí pergunto: se eu fui lá, devidamente noticiado pela imprensa do Estado de Santa Catarina, ao mesmo tempo em que estava aqui vendo, sendo vista e interagindo com as gentes daqui, será que sou um caso de dupla personalidade, produto de inexplicável magia ou algo assim? Como é que fui lá e sequer em sonhos consigo recordar tal coisa? Como se explica esta minha capacidade de estar cá e lá ao mesmo tempo? Duma coisa tenho certeza: não saí de Blumenau durante todos os dias da feira e da viagem dos escritores que foram. Como não acredito em alma do outro mundo e minha psicóloga me garante que não tenho dupla personalidade, alguém foi no meu lugar!

Estava certo eu ir? Estava. Sou uma escritora nascida no Estado de Santa Catarina, já publiquei 21 livros e mais umas 600 crônicas, além de artigos acadêmicos e outras e outras coisas – portanto, se Santa Catarina estava sendo homenageada literariamente, era correto eu ter ido representar o meu Estado e o meu povo. Como não fui sequer contatada para combinação de detalhes e depois se noticiou que fui, tal significa que, às custas do rico dinheiro público, alguém foi no meu lugar, e deve ter sido alguém sem o mesmo cacife que eu para representar o Estado, já que se escondeu no anonimato, escudou-se no meu nome para não fazer feio e sabe-se lá o que mais não fez por aí afora às custas do seu imposto, meu caro leitor coestaduano.

Viu só como é que some o suado dinheirinho que você recolhe aos cofres públicos? Sabe-se lá que esbórnias não fez lá em Ribeirão Preto o meu “fantasma”, aquele que era eu sem ser eu, aquele que não era eu, mas disseram que era. Garanto que aquele fantasma não era eu, mas alguém muito sem vergonha na cara que usou meu nome, alguém sem competência para usar a própria identidade para representar Santa Catarina, e que foi fazer turismo às custas do dinheirinho do trabalhador!

Posso ficar quieta? Não posso. Que as autoridades competentes me expliquem como é que o meu nome tem sido usado por aí em vão, para justificar despesinhas e despesonas de seus apaniguados!

Blumenau, 08 de junho de 2011.

 Urda Alice Klueger

Escritora, historiadora e doutoranda em Geografia

 

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leia aqui a indignação do escritor AMILCAR NEVES  sobre o mesmo fato.

 

O Futuro da Internet. Ou breve tentativa de compreender por que a internet deixará de ser internet, como a conhecemos hoje, para ser algo parecido – josé paulo cavalcanti / recife

Um mundo em mudança

O símbolo do herói moderno, para o filósofo italiano Umberto Galimberti (Il Gioco Dele Opinioni), deveria ser Ulisses, Rei de Ítaca, por ter inventado o cavalo de Troia, em cujo ventre, acreditando nos ensinamentos da escola, se esconderam soldados que à noite abriram as portas da cidade. Porque seria Ulisses portador dos valores básicos que se exigiria de uma sociedade moderna, mentira e astúcia. Retraduzindo essas palavras, para dar-lhes mínimos de dignidade, astúcia passa a ser a “capacidade de encontrar o ponto de equilíbrio entre forças contrárias“. Enquanto mentir significa “habitar a distância que separa aparência e realidade”; e, também, “escapar da ingenuidade dos que acreditam que as coisas são, sempre, o que aparentam ser”. Com Ulisses, inaugura-se a dupla consciência da realidade e sua máscara. Em certo sentido, é também o que se passa com a internet, na oposição aparentemente inconciliável entre o hoje e o amanhã. Posto que soluções dadas, atendendo ao que parece indispensável ou razoável no presente, serão capazes de comprometer irreversivelmente o futuro; enquanto a só espera plácida por esse futuro, hoje implausível, pode ser suficiente para degradar o presente a ponto de torná-lo intolerável.

O cenário desse aparente drama é que nos estamos convertendo em uma civilização impressentidamente nova, provavelmente nem pior nem melhor do que as anteriores. Apenas diferente. E talvez ainda não sejamos capazes de compreender, em toda a sua extensão, o “mito da idade da informação”, tão duramente descrito por Bill Mckibben (The Age of Missing Information). São outros os valores, outros os padrões de organização social, outros os processos de transmissão de conhecimento, alterando as bases tradicionais da economia, da religião, da história, da própria cultura. Tudo muda, continuamente. E a questão já nem é saber se as novas tecnologias da informação vão alterar nossa maneira de viver, mas como o farão. Esse desenvolvimento extraordinário se processa em duas dimensões principais. Uma técnica, que corresponde à melhoria crescente na quantidade, na qualidade e na velocidade de transmissão da informação; outra cultural, interferindo em nossos padrões de convivência, produzindo o que François Brune (A Comunicação Social Vítima dos Negociantes) chama de “mercantilização do imaginário”. Nossas cidades, não por acaso, são povoadas por cinderelas suburbanas que sonham, secretamente, com o fausto implausível de uma outra vida que nunca terão. Suspirando escondidas em seus quartos humildes, à espera do príncipe encantado em que se converte diariamente o galã da novela das oito, nas televisões; ou amigos, alguns próximos outros inatingíveis, nos orkuts da vida. Condenadas a viver vidas paralelas, como se a miséria de suas existências exigisse o contraponto desse “Eldorado” a que se chega apenas girando um botão. Ou tocando algumas teclas. Mas um desenvolvimento assim tem também uma terceira dimensão, institucional, menos óbvia e não obstante relevantíssima, com implicação no próprio modelo de organização das sociedades. Tudo conspirando para converter o discurso aparentemente tecnológico, sobre a internet, em uma escolha trágica entre angústias.

Infraestrutura

O jogo da internet se joga, hoje, em três cenários principais: infraestrutura – que corresponde razoavelmente a sua base física, o hardware; serviços – no fundo, softwares que rodam sobre essa base física; e aplicações – que correspondem aos fins determinantes para usar essa infraestrutura e esses serviços. Todos, campos envoltos em contenciosos. Com relação à infraestrutura, consenso único é a manutenção do Protocolo IP, conformando sua estrutura de rede. No fundo, um discurso de governança. Estados Unidos, em posição razoavelmente óbvia, não aceitam qualquer alteração em modelo que vem dando certo – com o controle de todos os endereços hoje existentes, no mundo, por instituição privada, técnica (até agora), o icann (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers). Uma entidade do terceiro setor, com sede em Santa Mônica e tutelada por leis da Califórnia; mas, apesar de não internacional, com um Governnment Advisory Comittee que tem membros de toda a parte (com maioria de não-americanos). Algo como uma Congregatio de Propaganda Fide das comunicações. Em posição diversa, um grupo de países europeus prefere que fique sob domínio da uit da onu, ou qualquer outro organismo internacional específico a ser criado. Esse controle é particularmente importante, por ser finito o número dos endereços; por decorrer sua distribuição de uma demanda mais econômica (privada) que social (pública); e sobretudo por permitir, em tese, interferências políticas – como tirar do ar um endereço específico, ou um conjunto inteiro de endereços (por exemplo, um país).

Serviços

Com relação a esses serviços, a internet sofre antes de tudo pela falta de um modelo básico. Alguns deles utilizam protocolos convalidados pelo W3C (World Wide Web Consortium) – como smtp (Simple Mail Transfer Protocol, que regula e-mails e correios eletrônicos), http (Hipertext Transfer Protocol, que regula páginas) ou https (mais o “s” de Secure), udp (rádios, vídeos), ftp (transferência de arquivos). Enquanto outros consideram serem suficientes protocolos privados (particulares ou estatais), funcionando só entre as partes, que podem vir a ser (ou não) convalidados pelo W3C. Nesse modelo dual, os problemas basicamente decorrem de sua (em princípio) melhor virtude, um amplíssimo grau de liberdade. Sem meios (ou desejos) visíveis de uniformização. O smtp, por exemplo, um protocolo de serviços, permite envio de e-mails como se fossem de um outro endereço, viabilizando spams que já representam 90% do total dessas mensagens.

Pequeno sermão contra os spams

Aqui, vênia para um desabafo. É que, basta passar quinze dias fora, e invariavelmente encontro o computador entulhado com spams de todo o tipo, enviados por quem não conheço e certamente não conhecerei nunca. A maioria, gente que nem existe. Internet é assim. Você pode virar outro, e os outros podem virar qualquer um. Inclusive você. Anderson e Vinicius avisam que “empresário europeu procura pessoas para oportunidade de negócio”; completando a notícia com um código ininteligível, “nrvsxshundgfwflclmfjapeunwxdsgpvvhawm”. Só aceita quem for doido. London Vick oferece financiamento “às mais baixas taxas”; tendo apenas o interessado que dar um pulinho até Miami. Era só o que faltava. Lotogames oferece “lotomania”, com um “bônus de 50%”. É fria. Já o Regions Bank oferece dinheiro e em inglês. Quem quiser ligue, para ver se ele traz. Márcio Teodoro oferece grana extra e pede “clique aqui”. Só por pirraça, não clico. Um cupim que se intitula “O Carteiro”, todo dia, pede para ver “o cartão que preparei para você”. Te enxerga, Carteiro. Martha Cramer envia mensagens enormes, em código. Uma que recebi diz – “Html. Head styletype. text/css. eys bcow. font weignt: bold. body pex-000000 – vlink – 996633 a link”. Se alguém souber do que se trata, por favor me avise. Uma “Equipe Repetetrons” lembra: “O repelyffffeq tron yfffeq tem ondas culturais yffffy 4 nicas, que você fffeajy conhece?”. Conheço não, obrigado. Pessoas que se intitulam “amigos do Rio” oferecem passeios em grupo, já convidando para o primeiro – “procurando a capivara na lagoa”. Coitada dessa pobre capivara, se for encontrada, vai ter que aguentar todos os chatos desse grupo. Robert e Zeff garantem proteção contra spam; quando tudo que quero é proteção contra gente como Robert e Zeff. E Daniela pergunta: “Seus seios te agradam?” Vai te danar, Daniela. Tudo quanto não preciso está na internet. O mesmo ocorre com todos, em toda a parte. Daí já se pronunciando na banalização desses spams, algo como um Correio sem custo dos selos, sua progressiva obsolescência como instrumento de comunicação.

Aplicações

Nesse campo, o que se vê é uma dispersão absoluta; porque as aplicações podem processar-se a partir de práticas regulamentadas ou não, e com diversas instâncias de validação. No Brasil, por exemplo, transferências bancárias se dão sob o amparo do spb (Sistema de Pagamentos Brasileiros), validado pelo Banco Central. Como imposto de renda cumpre as regras da “ReceitaNet”. No futuro, poderemos até votar sem sair de casa, sob supervisão do tse. E as demandas por essas aplicações, inevitavelmente, interferirão na infraestrutura e nos serviços. Nesse campo, (quase) tudo é possível; e por vezes, usando códigos conhecidos (como letras ou palavras), pode-se esconder o sentido real da mensagem, imitando a própria literatura – nos exemplos sendo convocados um repentista (a voz do povo) e um poeta clássico, sem que se saiba exatamente o que querem dizer:

Pra cantar Filosomia
Sobre a vida de Jesus
Canto debaixo da terra
Na Santa Filanlumia
Oceano desdobrado
No véu da Pilogamia.
Zé Limeira (Cantoria)
Tu és o quelso do pental ganírio
Saltando as rimpas do fermim calério,
Carpindo as taipas do furor salírio
Nos rúbios calos do pijóm sidérico.
És o bartólio no bocal empírio
Que ruge e passa no festão sitério
Em ticoteios no partano estírio
Rompendo as gâmbias do hartomogenérico
Teus lindos olhos que têm barlacantes,
São camençúrias que carquejam lantes
Nas duras pélias do pegal balônio.

São carmentórios de um carcê metálio
De lúrias peles, em que buza obálio
Em vertimbáceas do pental perônio.
Luis Lisboa (A uma Deusa)

Regulamentação

Para o filósofo espanhol Ferrater Mora (Dicionário de Filosofia), “o paradoxo fascina porque propõe algo que parece assombroso seja como se diz que é”. E o paradoxo, para a internet, é a pretensão de que deva ser, necessariamente, a única atividade livre desses controles democráticos. Porque relações em comunidade são, sempre, construídas a partir de controles sociais. Temos interferências na vida econômica, com a definição de cada uma das políticas setoriais – de educação, saúde, habitação; em práticas compensatórias; na definição dos preços públicos; na vedação de monopólios e oligopólios. Em todos os setores. No tráfego, por exemplo, só podemos dirigir com carteira de habilitação, o carro deve ser emplacado, o cinto de segurança é obrigatório, o sinal vermelho deve ser respeitado, temos contramão, estacionamento proibido, velocidade máxima permitida, e nunca ninguém pensou que esses limites possam violar a liberdade de locomoção, sagrada na Constituição como direito individual e cláusula pétrea (art. 5°, XV). Sendo mesmo natural que algum tipo de controle social, democrático, se opere também em relação à internet. Um controle que decorrerá de sua inevitável regulamentação.

Problemas próximos

Considerando a variável tempo, podemos dividir os problemas dessa regulamentação em dois grupos. Um primeiro é o daqueles próximos, entre os quais avulta o do direito autoral, dado que resulta serem na internet imprestáveis tanto as legislações nacionais (no Brasil, Lei no 9 610/98), quanto a Convenção de Berna. Em Besason, por exemplo, um cybercafé pôs à disposição de seus frequentadores livro com publicação vedada pela justiça francesa – Le Grand Secret, de Michel Gonod e Claude Gubler, médico particular do presidente Miterrand. E a ordem judicial, que valeu para o livro, não foi capaz de bloquear a internet. Algo assim está acontecendo inclusive agora, no Brasil, com uma biografia não-autorizada do cantor Roberto Carlos. Não obstante tantos problemas, mais evidente deles é o fim (em setembro 2009) da segunda prorrogação de um dos contratos do Departamento de Comércio dos eua com o icann, começado no distante (medido no tempo da internet) 1998 – findando o contrato principal em 2011, bom lembrar. Três variá¬veis são possíveis: mais uma prorrogação, o que provavelmente ocorrerá (em razão da ausência de consenso sobre qualquer alteração); algum tipo de acordo com outros governos, deferindo o serviço a uma entidade multilateral (da qual participariam outros países); ou a transformação da icann em uma grande entidade internacional não-governamental. Sem muitas chances de mudanças sensíveis, nos conceitos atuais do contrato – que, para ser encerrado, precisa de aprovação do Congresso norte-americano. Com todas as implicações de poder que representaria abrir mão do seu controle. Nesse caso, como na regra de São Paulo, melhor mesmo é “esperar contra toda esperança”.

Problemas de longo prazo

Neste segundo grupo, o dos problemas de longo prazo, mais importante é a tentativa de prever o futuro dessa regulamentação – como um silogismo falso, em duas premissas e uma conclusão.
Premissa 1. Hoje, simplesmente, não há como operar regulamentação – por ausência de meios técnicos para estabelecer qualquer controle a partir do atual modelo de formação da rede. Na China, por exemplo, o governo desistiu de suas ambições de intervenção total sobre o conteúdo da rede. Não por deixar de querer, mas sobretudo por não ter como dar efetividade a essa passagem da intenção ao gesto. Países como China e Rússia já dão sinais de que formarão algo como icanns autônomos, subsistemas estruturados dentro do próprio sistema icann. E esse novo modelo de redes nacionais (ou regionais) convivendo com a mundial, tenderá a se multiplicar e ganhar força; a ponto de ser capaz, algum dia, de se conectar entre si, independentemente de uma rede mais ampla. Convertendo sinais gráficos de mandarim, ideogramas, cecedilhas, til e acentos de toda natureza, em códigos que serão capazes de ser reconhecidos por todos os computadores do planeta. Ainda não haverá mudanças expressivas no curto prazo; mas haverá mudanças, com certeza.

Premissa 2. Em visão histórica, é como se houvesse uma norma não-escrita, espécie de determinante dos interesses da coletividade, que inevitavelmente levasse a reproduzir modelos que deram certo. Primeiro leis locais, depois tratados internacionais. No Brasil, já foi inclusive dada a partida nessa volúpia por regulamentação. O Congresso Nacional processa, hoje, 439 projetos de lei sobre internet, dos quais 42 regulando seu uso e seis o seu acesso. Entre eles, uma alteração na Lei dos Partidos Políticos (Lei no 9096/95) com regras que dificilmente serão efetivas, como vedação de propaganda em alguns sites ou proibição de venda de cadastros de endereços eleitorais. Os tratados virão depois. Reproduzindo a premonição do escritor indiano George Orwell (em seu livro 1984), “quem controla o futuro controla o presente, quem controla o passado controla o futuro”.

Em situação similar, começamos regulando títulos de crédito – com os Decretos nos 2 044/1908 e 2 591/1912. Até que veio a Convenção de Genebra, em 19 de março de 1931, no seu próprio Preâmbulo indicando as razões desse acordo: “Desejando evitar as dificuldades originadas pela diversidade de legislação nos vários países em que os cheques circulam, e aumentar assim a segurança das relações do comércio internacional…” Resultado é que acabamos por renunciar a nossa própria legislação (Decretos nos 57 595/1966 e 57 663/1966), em favor da ratificação de tratado sagrando uma Lei uniforme sobre Letras de Câmbio e Nota Promissória. Quando é necessário, vêm as regulamentações. Até nas guerras. Em usos generalizadamente aceitos – como não atirar em oficiais. Ou convenções: 1864 – respeito a feridos protegidos pela Cruz Vermelha (depois, também pelo Crescente Vermelho); 1929 – tratar prisioneiros humanamente e respeitar religiões; 1949 – proibição de usar escudos humanos.

Conclusão.

Tudo nos leva, então, à conclusão de que seguramente a internet vai ser mesmo regulada, em um grande consenso internacional. Quando for outra. Por ser improvável que um modelo como esse, que vem da década de 1960, possa permanecer como foi conformado por muito tempo mais. E não será diferente, nesse campo, porque foi sempre assim em situações similares. A internet vai ser regulada quando estiver pronta para ser regulada. Vai mudar, precisamente, para poder ser regulada. Em outras palavras, vai poder ser regulada porque vai mudar. Ainda mais simplesmente, será regulada porque é indispensável que seja regulada. No futuro, claro, quando estivermos todos mortos, talvez. Provavelmente, deixando de ser a internet como a conhecemos hoje, para ser algo parecido. Mantendo só o nome. Ou nem isso.

Uma visão desalentadora do futuro

Apenas para constar seja aqui dito que, no coração das pessoas, pouco a pouco foi-se dando a tragédia. Acabamos confiando nas máquinas cegamente. Primeiro no computador, claro. Depois na internet. Perdemos a razão crítica. Nos desacostumamos a questionar. Duvidar, para gente demais, acaba sendo heresia. Se Deus é onisciência, o novo deus da gurizada existe mesmo, e seu nome é Google (por enquanto). Segundo uma lenda moderna, máquinas não erram. Problema é que erram, por erro do programador ou por conta própria. Estamos desaprendendo a beleza de errar por nossos próprios erros. Tempos faz pesquisei onde estava a mesa, nos velhos romances; e era, sempre, o lugar mais importante da casa. O centro da vida familiar. Na sala de jantar de outros tempos nos olhávamos de frente, uns para os outros. Depois veio a televisão. A família passou a ficar no sofá, ombro a ombro, com a tela na frente. Depois de olhos nos olhos, orelha a orelha. Passamos a nos falar de lado. Sem mais dar importância ao brilho no rosto das pessoas queridas. Mas, na televisão, a gente ao menos está (quase) sempre acompanhado. Computador, ainda pior, é hábito de quem não gosta de olhar de frente. De quem não gosta de gente. Quantos de nós passamos noites inteiras na companhia dessas máquinas que só respondem o que lhes perguntamos? Sem mais tempo para encontrar os amigos. Para jogar dominó em fins de tarde. Para conversar na calçada. Em Blade Runner uma replicante, Rachel, se apaixona por seu caçador, o também replicante Deckard. Duas máquinas se apaixonando. Estamos começando a viver o mundo terrível do futuro. A democracia da solidão. A conclusão dessa pequena fábula aqui contada, que nem fábula é, será só a de que essa internet de hoje vai mudar. Como também o homem que a digita. Mudarão os dois, pois. Para melhor? Não sei. Ninguém sabe.

José Paulo Cavalcanti filho, 61, é advogado no Recife.

r. interesse nacional

Os BOMBEIROS e seus salários no Brasil – jornalista roberta trindade /rj

 

SALÁRIOS BRUTOS DE BOMBEIROS NO BRASIL:

01º – Brasília – R$ 4.129.73
02º – Sergipe – R$ 3.012.00
03º – Goiás – R$ 2.722.00
04º – Mato Grosso do Sul – R$ 2.176.00
05º – São Paulo – R$ 2.170.00
06º – Paraná – R$ 2.128,00 1
07º – Amapá – R$ 2.070.00
08º – Minas Gerais – R$ 2.041.00
09º – Maranhão– R$ 2.037.39
10º – Bahia – inicial – R$ 1.927.00
11º – Alagoas – R$ 1.818.56
12º – Rio Grande do Norte – R$ 1.815.00
13º – Espírito Santo – R$ 1.801.14
14º – Mato Grosso – R$ 1.779.00
15º – Santa Catarina – R$ 1.600.00
16º – Tocantins – R$ 1.572.00
17º – Amazonas – R$ 1.546.00
18º – Ceará – R$ 1.529,00
19º – Roraima – R$ 1.526.91
20º – Piauí – R$ 1.372.00
21º – Pernambuco – R$ 1.331.00
22º – Acre – R$ 1.299.81
23º – Paraíba – R$ 1.297.88
24º – Rondônia – R$ 1.251.00
25º – Pará – R$ 1.215,00
26º – Rio Grande do Sul – R$ 1.172.00
27º – Rio de Janeiro – R$ 1.134,48 (SEM VALE TRANSPORTE)

os últimos estavam em greve, até ontem, e foram perseguidos, agredidos e presos pela PM/RJ sob o comando do governador sérgio cabral que acha um absurdo as reinvidicações.


SAKURA – de omar de la roca / são paulo

Sakura

O ramo partido

da cerejeira,

aponta a sombra da Lua

no regato adormecido.

O coração, como o ramo partido

Se espelha na árvore nua.

O ramo florido

Da cerejeira,

Pesa no coração do amante

a ter distante a estrela

e não perto, como quisera.

Desperta da quimera o coração

solitário.

A última corda ainda treme,

Cai mais uma folha no vazio.

A paisagem vermelha freme.

Cai a neve alva e branca.

( Chuva mansa cai no mar.

E a maré vira a concha ).

Chovem pétalas de cerejeira

nos pinheiros,nos trigais

no samurai que dança ao vento

na gueixa que  esconde o rosto, ri e vai.

Dure o sonho enquanto durar o momento.

Artista brasileiro, DILAMAR SANTOS, reage contra a posição antinacional dos jornalistas do PIG (Partido da Imprensa Golpista) que estão a soldo do interesse maior que é a tentativa de fragilizar o governo popular – não governado pelas “elites”- e assim, atingir a Presidenta DILMA ROUSSEFF


 ponto final no assunto. O Supremo Tribunal Federal decide  Libertar Cesare Battisti e negar sua extradição para a Itália. O contra-ponto desta decisão foi encontrar na grande imprensa brasileira uma quase que unanimidade na opinião de que nossa justiça está errada! Ver vários jornalistas de uma hora para outra transformarem-se em jurisconsultos de notável saber  e condenarem publicamente o já decidido pela justiça brasileira é dose. Seria hilário se não fosse trágico, Ver Um Boris Casoy, tremendo sua papada de indignação ,a bancada da globo,da record etc, ultrajados por esta decisão, deixando claro sua subserviência a qualquer coisa que venha de fora, babando e fazendo salamaleques para a Itália e sua justiça em detrimento da nossa,e criando um clima de revanchismo tipo ´-pagaremos caro por isto!- é de fazer um Rui Barbosa revirar no túmulo. Este tipo de brasileiro bem que poderia pegar suas malas e ir morar na Itália. Aqui definitivamente não contribuem em nada.

fonte: blog do dilamar.

DILAMAR SANTOS, é artista visual, de grande talento reconhecido internacionalmente, morador da Ilha de Santa Catarina na praia do Campeche (Rio Tavares). Abaixo um dos seus recentes trabalhos em exposição no salão do BRDE  em Florianópolis:

TAINHA – acrilico sobre tela. tam: 1:18 x 0,72

“LAZANHA DA SÔNIA” ! TODO MUNDO LÁ! dia 18/6/11

na PRAIA dos INGLESES em Floripa.

Que desenvolvimento queremos? – heitor scalambrini costa / pernanbuco

No Nordeste, as referências de desenvolvimento apontam para o Sul,
Sudeste. Somos induzidos a pensar que o desenvolvimento está ligado a
eventos como à chegada de novas empresas que vêm aqui se instalar, a
vinda de capitais de fora que para cá se dirigem atraídos por diversos
fatores (recursos naturais, posição geográfica, oferta de mão de obra
barata, incentivos fiscais, frouxidão na aplicação da legislação
ambiental) ou ainda pela realização de grandes investimentos públicos
em obras ou instalações.

Atualmente, o termo desenvolvimento é usado como um sinônimo para
crescimento Mas afinal o que é crescimento? O que é desenvolvimento?

Crescimento e desenvolvimento não é a mesma coisa. Crescer significa
“aumentar naturalmente em tamanho pela adição de material através de
assimilação ou acréscimo”. Desenvolver-se significa “expandir ou
realizar os potenciais de; trazer gradualmente a um estado mais
completo, maior ou “melhor”. Quando algo cresce fica maior. Quando
algo se desenvolve torna-se diferente.

O objetivo prioritário da economia dominante é o crescimento
econômico, cujo critério de avaliação da medida do crescimento de um
país é o PIB (Produto Interno Bruto). Quanto mais produzir, quanto
mais vender, melhor é o país, melhor está sua economia. Crescimento
tornou-se sinônimo de aumento da riqueza. Dizem que precisamos ter
crescimento para sermos ricos o bastante para diminuirmos a pobreza.
Mas o crescimento não é suficiente. Nos Estados Unidos há evidência de
que o crescimento atual os torna mais pobres, aumentando os custos
mais rapidamente do que aumentando os benefícios.

Não devamos nos iludir na crença de que o crescimento é ainda possível
se apenas o rotularmos de “sustentável” ou o colorirmos de “verde”.
Apenas retardaremos a transição inevitável e a tornaremos mais
dolorosa. Crescimento, para que constitua base de um desenvolvimento
sustentável, tem de ser socialmente regulado, com o controle da
população e com a redistribuição da riqueza.

Já o conceito de desenvolvimento sustentável propõe uma maior
igualdade com justiça social e econômica, e com preservação ambiental.
Espera-se que a progressiva busca da igualdade force a ruptura do
atual padrão de consumo e produção capitalista, visto que a
perpetuação deste modelo contemporâneo não é sustentável. Pois, se
caso o padrão de consumo dos países ricos fosse difundido para toda a
humanidade, seria materialmente insustentável e impossível. Este
padrão de consumo para existir, alcançado e propagandeado pela
economia capitalista contemporânea, requer a exclusão e a profunda
desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres.

O progresso desejado não é fazer obras em detrimento de comunidades e
ecossistemas. Há que mudar o paradigma do lucro para a qualidade de
vida da população. Enquanto isso não ocorrer, nossas cidades
continuarão a serem entupidas de carros, pois a indústria automotora
paga substancial tributo ao governo, sem que seja oferecido à
população transporte coletivo de qualidade.

Pernambuco é um exemplo de que estamos caminhando na contra mão de
oferecer melhor qualidade de vida ao seu povo. A opção adotada pelo
atual governo, o chamado “crescimento predatório”, utiliza argumentos
do século passado de que o “novo ciclo de desenvolvimento (?)” é a
“redenção econômica do Estado (?)” exigindo assim “sacrifício
ambiental”.

A mais nova investida contra a natureza é a implantação do Estaleiro
Construcap S.A. Para a implantação desta planta naval, que ira ocupar
40 ha, a Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) concedeu a licença
de instalação autorizando a supressão de 28 ha de mangue (berçário
natural de centenas de espécies) na ilha de Tatuoca.  Sendo que as
atividades típicas desse tipo de empreendimento poluem em todas suas
formas, e a mão de obra necessária não é na sua grande maioria,
oriunda da comunidade, e seu entorno, com vêm falando os interessados
e o governador.

Em meio a posições conservadoras e atrasadas frente os desafios
atuais, os atuais dirigentes e gestores públicos do Estado, buscam
justificar o crescimento a qualquer custo, se utilizando do
oportunismo político e uma má fé inquestionável. O discurso do
desenvolvimento econômico nada mais é do que a negação dos direitos
fundamentais da pessoa, do meio ambiente e da natureza. Contra esta
visão devemos sim estar alertas, principalmente para aqueles que se
auto denominam de “novo”, e que dizem que estão trilhando “novos
caminhos”. Na verdade são meros representantes do antigo, do arcaico,
do conservadorismo; e ao mesmo tempo em que desrespeitam a natureza e
o meio ambiente, desmerecem a própria vida.

Logo, a estratégia escolhida ao buscarmos o desenvolvimento mais
humano, precisa responder às necessidades sociais de alimentação,
habitação, vestuário, trabalho, saúde, educação, transporte, cultura,
lazer, segurança. Não basta fazer coleta seletiva de lixo, evitar o
desperdício de água, substituir os carros a gasolina por carros
elétricos. Na verdade, o que é preciso mudar, para interromper a
destruição, é o tipo de desenvolvimento. Também o que não se pode
perder de vista são os limites da natureza e a nossa responsabilidade
em preservá-la para as gerações futuras.

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Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco

Escritor AMILCAR NEVES escreve com indignação tratamento recebido pela cultura catarinense: incompetência e desleixo do governador e seus comandados

Livros em Ribeirão

Confesso, antes mesmo de ser torturado: fui semana passada ao interior paulista em viagem inteiramente bancada pelo contribuinte. Quer dizer, quase inteiramente bancada, porque tive que pagar a média com leite e um salgado que foi meu café
da manhã no aeroporto de Viracopos, em Campinas (pois precisei sair de casa, na Ilha, por volta das seis e meia da matina), e desembolsar o custo das 37 horas em que meu carro repousou no estacionamento do aeroporto Hercílio Luz. E sim, claro, não gozei de diárias ou compensações outras.


Não se computa, nessa conta, o investimento feito durante a 11ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto: não há desgraça nem prazer maior para um escritor do que ver-se enfiado no meio de uma feira de livros: ele jamais sairá dali sem uma sacola repleta de livros.


Pois bem: o povo catarinense pagou para que eu fosse a Ribeirão, a mim e a mais oito ou nove escritores da terra, porque Santa Catarina foi o estado homenageado desta edição da Feira (como já havia acontecido em 2009 na 55ª Feira do Livro de Porto Alegre, a maior do País – esta é a segunda). A comunicação da homenagem ocorreu em fevereiro, quando a prefeita ribeirão-pretana reuniu-se aqui com o governador barriga-verde. Na oportunidade, Raimundo Colombo assegurou sua presença na abertura solene do evento.


Correm lendas por aí segundo as quais o nosso governador não consegue dormir em voo. Assim, cada viagem sua ao exterior renderia dois dias de prejuízo ao contribuinte por causa das recuperações governamentais na ida e na volta. Como ele teria chegado em São Paulo de viagem à Europa na manhã da abertura, seu deslocamento a Ribeirão ficaria inviabilizado. O fato é que ele não foi à inauguração da Feira, conforme prometera e agendara, quando daria uma palestra e uma demonstração eloquente de que, finalmente, tínhamos um governador que se interessa por livros e literatura. Não sucedeu assim, e supõe-se que haja justificativas para tal.


Se o governador não foi, decerto iria o vice, substituto legal em seus impedimentos. Mas o vice também não foi. Não indo o vice, terá ido ao menos o secretário de Turismo, Cultura e Esporte. Mas o secretário, solidário ao chefe, igualmente faltou. Sobrou o diretor geral da Secretaria. Este foi, mostrando a que nível está relegada a Cultura em Santa Catarina, mas quem defendeu as cores do Estado, numa palestra brilhante e didática, foi o jornalista Moacir Pereira, autor de diversos livros.


Mas isso não é nada. O estande especial do Estado foi montado pela Santur, do Turismo, que tem vasta experiência em feiras, e o fez muito bem. A FCC, da Cultura, omitiu-se ou foi omitida do evento e o seu presidente apareceu na abertura da Feira, e só. Sequer os livros premiados e publicados pelo Estado no bissexto Concurso Cruz e Sousa estavam disponíveis.


Pior: numa feira de livros, nenhuma obra de autor catarinense pôde ser vendida porque não havia estrutura para isso num estande forrado de belas imagens das atrações turísticas do Estado. Livros, lá, fizeram parte da decoração, como elementos coadjuvantes de uma estante, com suas lombadas viradas para o distinto público.


Com mais de 600 atrações, de palestras literárias e encontros com escritores até apresentações musicais – sem uma única dupla pseudossertaneja que fosse -, não foi programada a participação de catarinense algum nos debates.


É assim que se desperdiçam oportunidades raras, valiosíssimas, e se joga fora o rico dinheirinho do contribuinte.


STJ anula operação da PF e livra Daniel Dantas de condenação

Banqueiro Daniel Dantas foi condenado a 10 anos de prisão.
Segundo ministros, participação da ABIN na operação anulou provas.


Os ministros da 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiram nesta terça-feira (7) anular as provas produzidas na Operação Satiagraha, deflagrada pela Polícia Federal, em julho de 2008.

Cabe recurso à decisão do STJ no Supremo Tribunal Federal. Por meio de sua assessoria, a Polícia Federal informou que não irá se manifestar sobre a decisão do STJ.

Segundo a decisão do STJ, a participação irregular, segundo o entendimento do tribunal, de agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) invalidou provas produzidas por meio de quebra de sigilo telefônico e rastreamento de e-mails.

A operação foi base para o processo que condenou o banqueiro Daniel Dantas,

José Serra dá a boa notícia a Daniel Dantas – o banqueiro bandido.

do Opportunity, a dez anos de prisão, por corrupção. Para os ministros, a ilegalidade das provas invalida a ação penal contra Dantas.

Dantas foi condenado, em 2008, pelo então juiz Fausto De Sanctis, da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, por suposta tentativa de corromper integrantes da PF que atuaram na operação.

O pedido para anulação da operação foi feito pela defesa do banqueiro, alegando que a participação de agentes da Abin foi ilegal e teria comprometido a legitimidade das provas produzidas na operação.

Por três votos a dois, a 5ª Turma entendeu que a investigação foi “maculada” por irregularidades. A tese de Dantas obteve os votos do relator, desembargador Adilson Vieira Macabu, do ministro Napoleão Nunes Maia Filho. Segundo Macabu, as provas “ilegais” contaminaram todo o processo e, portanto, seria anulada a ação penal.

Durante o julgamento, foi citada ainda a suspeita de que a PF tivesse contratado uma espécie de “araponga”, um detetive particular que teria participado das investigações da operação. A prática, segundo os ministros, seria irregular por expor dados sigilosos dos investigados a terceiros.

Para o presidente da turma, ministro Jorge Mussi, não é admissível a participação da Abin em uma investigação na “clandestinidade” e de “forma oculta”. Para ele, seria possível a participação da agência na operação desde que houvesse autorização da Justiça.

“Não é possível que, esse arremedo de prova, colhido de forma impalpável, possa levar a uma condenação. Essa volúpia desenfreada pela produção de provas acaba por ferir de morte a Constituição. É preciso que se dê um basta, colocando freios nisso antes que seja tarde. Coitado do país em que seus filhos vierem a ser condenados com provas colhidas na ilegalidade”, afirmou o ministro Mussi.

Os ministros Gilson Dipp e Laurita Vaz ficaram vencidos ao defender a manutenção das provas. Eles entenderam que não havia, nos autos, fatos para sustentar a participação da Abin nas investigações.

Defesa
De acordo com o advogado de Daniel Dantas, outros inquéritos e ações penais que tiveram como base a Operação Satiagraha poderão ser afetados pela decisão do STJ.

Para isso, os juízes de primeira instância responsáveis pelos processos deverão aplicar o entendimento do tribunal. Para a defesa do banqueiro, Andrei Zenkler, a decisão do STJ reconhece “uma fraude policial”.

“Essa decisão reflete exatamente a fraude policial que montou um cenário fictício de corrupção. O crime não existiu e o STJ reconheceu uma fraude em uma investigação policial”, disse o advogado.

O julgamento do pedido da defesa de Dantas começou em março deste ano. Após o voto do relator, dois pedidos de vista adiaram a decisão. A tese de Dantas foi negada pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que não identificou ilegalidades na operação da PF, e ele recorreu ao STJ.
Débora SantosDo G1, em Brasília

foto livre. ilustração do site.

Roberto Sosa: a poesia como arma de resistência em Honduras – giorgio trucchi / tegucigalpa

Os desprovidos, os excluídos e a injustiça social que reina em Honduras foram os elementos fundamentais de sua obra. Na madrugada de 23 de maio, aos 81 anos, faleceu o grande poeta hondurenho Roberto Sosa, o primeiro latino-americano a receber o Prêmio Adonáis de Poesia, concedido anualmente na Espanha, em 1968. Três anos depois, ganhou o Prêmio Casa de las Américas, de Cuba, por sua obra Un mundo para todos dividido. Três dias antes de fechar os olhos para sempre, Sosa soube que receberia mais um reconhecimento: o prêmio espanhol Rafael Alberti pelo conjunto de sua obra.

Wikicommons

“Os pobres são muitos e por isso é impossível esquecê-los”, diz um dos poemas de Sosa 

Foi um dos intelectuais mais importantes dos últimos 60 anos de seu país e da América Latina. “Sosa sempre teve uma visão muito crítica a respeito da impressionante desigualdade de nossa sociedade hondurenha, onde a imensa maioria da população se encontra desprovida e um setor minoritário é proprietário da maior parte da riqueza”, disse ao Opera Mundi a catedrática universitária e ativista das Mujeres en Resistencia de Honduras, Anarella Vélez Osejo.

Uma desigualdade que o poeta viveu na própria carne. Natural de Yoro, norte de Honduras, vindo de uma família de recursos muito escassos, Sosa se manteve a vida inteira com o que ganhava com o trabalho literário. “Sempre esteve ao lado das pessoas à margem da sociedade e esta posição é vista em sua literatura. Entre sua vida e sua obra, nunca houve contradição. Foi uma pessoa coerente com seu afazer literário e seu posicionamento político e social”, afirmou Vélez Osejo.

O S P A P É I S D E A S P E R N – por jorge lescano / são paulo

Há semanas procuro, já sem esperanças, alguns recortes de jornais com entrevistas de Ricardo Piglia. Eles estavam guardados num exemplar de O Laboratório do escritor que emprestei a Lucas Paolo, leitor cuidadoso ao ponto de preferir não levar os recortes por temor a perdê-los. Por algum tempo eles circularam sobre o sofá-cama, o toca-discos quebrado, a escrivaninha lotada de papéis, fitas de vídeo, pacotes de bolachas. Em algum momento devo tê-los guardado para evitar que se extraviassem na confusão de minha mansarda. Eis que é justamente então que os perco de vista. Provavelmente os guardei de forma distraída, sem gravar convenientemente o local que virou esconderijo. Sei que eles se encontram aqui, mas vivo a experiência de procurar uma agulha num monte de feno, e não precisamente parecido aos pintados por Monet.    

O título desta nota reproduz o de um romance de Henry James. A ação do romance se desenrola em Veneza, num palácio mais ou menos decrépito, residência de duas velhas senhoras norte-americanas possuidoras de antigas cartas amorosas do escritor inglês Jeffrey Aspern endereçadas à atual residente do castelo, com quem teria mantido uma relação amorosa em sua longínqua juventude.

O personagem narrador é um editor interessado profissionalmente nesses despojos. Para consegui-los urde o enredo desta obra de James, começando por se estabelecer em alguns cômodos do palácio. A senhorita Bordereau não perde a oportunidade de saquear o bolso do seu hóspede. Após várias tentativas para conseguir informações sobre o paradeiro dos papéis, que incluem a sedução da senhorita Tina, a menos velha das moradoras e sobrinha da antiga (suposta) amante de Aspern, pois segundo confessa não há baixeza que eu não seria capaz de cometer por Jeffrey Aspern, decide apelar para o furto.

Na página 125 o protagonista é surpreendido na alta madrugada pela velha senhorita Bordereau no momento em que vasculha gavetas de um móvel.

– Ah, seu escritor canalha!, diz o texto.

Escritorzinho ditava a minha memória, sem o adjetivo.

Sem o risco nem a humilhação de ser surpreendido como um larápio eu, ao contrário de subtrair cartas, pretendia devolver um livro à prateleira quando senti se abrir uma pequena fenda entre os volumes. Algo bloqueava a penetração do livro que tinha em mãos na fileira excessivamente apertada. Desisti de forçar, afinal um livro é apenas um pequeno volume de folhas de papel, material frágil e sensível

Com algum esforço passei a mão por cima da fileira de livros – a prateleira estava acima da linha dos meus olhos – e senti na ponta dos dedos o corpo mole e previsivelmente retorcido de um volume. Puxeio com cuidado em direção do fundo da estante. Livre da pressão dos outros livros, como alguém que é liberado das águas quando estava prestes a se afogar, senti no pulso a vontade do pequeno objeto de retornar à superfície. Ainda atrás da fileira de livros, nas pontas dos meus dedos, compacto e eu diria com ar triunfal, como um garoto resgatado de um terremoto depois de dias soterrado sob toneladas de entulho, as letras brancas em campo verde, são e salvo, retorna à vida Os papéis de Aspern. Livre da pressão dos outros volumes, as folhas se espreguiçam como um garoto abrindo os braços em gesto de vitória.

Às vezes penso que o djim da minha mansarda troca as coisas de lugar menos por divertimento que para me obrigar a reconhecer a confusão deste espaço. Admito: sua presença não é a causa da desordem. O livro estava numa região de todo inesperada, mesmo num ambiente onde nada tem lugar definido. Por que motivo eu o havia colocado ali? O fato de estar junto com uma obra que trata de vários autores, entre eles Henry James, não me parece satisfatório. Estaria justificado se algum livro dos outros autores estudados nessa obra também estivesse ali, criando assim uma espécie de sistema, não era esta a situação.  

O acaso, ou como se chame tal coincidência de circunstancias, havia-me levado a mexer naquela região densamente povoada e ao mesmo tempo adormecida, pois pouco freqüentada nos últimos tempos.

 

Em Formas breves, outro livro de Piglia, reencontro as reportagens que já considerava perdidas. O caso se resolveu pelo óbvio, pode-se dizer. Também de maneira fortuita e em outra zona do caótico território ressuscita O papagaio de Flaubert, de Julian Barnes. Tais acontecimentos renovam a minha esperança de rever Formas simples, de autor esquecido e que como Os papéis de Aspern teima em brincar de esconde-esconde no desalinho da biblioteca.

 

OFERENDA – zuleika dos reis / são paulo

 

Falas como sempre da morte falas como sempre

desde os primórdios desde os prenúncios

das tuas falas primeiras e também dela sempre

continuam as palavras quando te calas quando

em mim se calam os sentidos e os silêncios dela

a morte sempre a morte fundamento

da tua linguagem

 

mas a vida a espreitar a espreitar-te sempre

no centro da ponte na ponta da outra ponta

da linguagem.

 

Sonhei quanto sonhei com a tua incoerência

com a tua traição ao tema da tua pena em tua boca

com os desvios de presença da morte sempre jovem

nos mares de navegar sempre este destino

de incessante a cantares. As perdas achados pérolas

as cruzes de a calares no mais fundo o teu pisar

na terra observando dela as pegadas teu mergulho

nas águas conchas desta morte sempre-viva

 

e sempre, a estreitar-te sempre,

a vida-que-não-morre, sempre a vida,

no centro mesmo da amada em teus dizeres

no centro mesmo da amada em teus calares

 

sempre a estreitar-te, no centro

da fonte da vida-linguagem

linhagens…

Edoardo, o Ele de Nós: romance/rapsódia com teor de manifesto épico ou da prática do estilhaço – por jairo pereira / quedas do iguaçu.pr

Editora 7 LETRAS

2007 – Romance

Flávio Viegas Amoreira

 

Estilhaços de signos. Enigmas num detrator. Edoardo, o Ele de Nós é romance/rapsódia. Fruto verdadeiro de sua época. Manifesto ou quase-manifesto, em vestes de ficção. Flávio V. Amoreira, desvela conflitos. Interioridades que fazem literatura de primeira. Estetização do trágico. O autor, queda-se sujeito/objeto na voragem dos ditos. Ficção-transgênero, compêndio de reflexos dos sentidos. Pouco mais de 80 páginas, bastam pra que o leitor fragmente-se. Fragmentar-se no tempo em que tudo é fugaz. Fragmentar-se para ser tantos outros. Empática entrega. As relações relâmpagos. Amores desnorteados que nascem/morrem. Insigths da des-razão. Não se pode dissociar o poeta do prosador. A prosa ágil, cheia de obtusidades, agudas geografias, explode raras significâncias.

 

1. Numa primeira visão:

 

Rapsódia pura, sem filigranas… Isso é “Edoardo, o ele de nós”.

Ser grafo, mas dotado de vida própria, o personagem Edoardo é filho do acidente… da poesia/literatura ou arte!? Edoardo ama o autor de amor carnal intenso. Um híbrido-prosopoético, este texto, de onde pingam maravilhas imagéticas como: Edoardo concedeu sua rosa: abri intumescido florete. Homoeróticas vertigens, o mar como Signo/Senhor/Supremo da tríade vida/liberdade/escritura. Todo livro escrito é um anjo em nosso ombro apascentando o indizível. Flávio Viegas Amoreira, sem enredo, mas em superdotação semiótica, faz densa e primorosa esta rapsódia contemporânea única.

 

2. Numa segunda visão:

 

Rapsódia ou prosa poética para iniciados?! O personagem Edoardo: ser grafo, filho do acidente… da poesia/literatura ou arte!? Edoardo ama o autor de amor carnal intenso. Ama e dialoga: a vida e as relações. Um texto mágico, de onde pingam maravilhas imagéticas. Edoardo, como o autor, também é refratário ao ócio. Eduardo lê o livro do autor. Homoeróticas visios, o mar como signo forte & topos da escritura. Flávio Viegas Amoreira, em labor semiótico raro, torna densa e única esta rapsódia épica.

A escrita rapsódica é pródiga nas imagens e o autor a trabalha muito bem.

 

3. Numa terceira visão:

 

“Edoardo, o ele de nós” é rapsódia e não. O personagem é de carne, ossos e nervos e não. Um ser grafo ou um signo velado, advindo da própria linguagem!? Edoardo inconstante inconteste: você é onde me retrato. Flávio Viegas Amoreira, artífice-semiota, não poupa imagens fortes. Edoardo sintetiza inúmeras contradições. Edoardo como o autor é refratário ao ócio. Edoardo dá-se consubstancialmente… Ama e agride. Ama e dá sentido à existência. Edoardo exercita percepções livres & expande consciência/conhecimento. Camaleônica, esta escritura que afronta o eu, o ele e o nós da conformação.

Escritura densa, volátil, expansiva. Esse romance estilhaça qualquer razão. Uma prova concreta: a literatura opera o milagre das sãs inaugurações imagéticas. A literatura ousa em seu tempo/espaço. A literatura pode sim nominar o indizível. Além/aquém, e no entorno da filosofia e das ciências, a literatura provoca explosões de conhecimento. E sem mexer uma lupa. Ou melhor, sem romper um nervo do cadáver putrefato da história, ou isolar vírus num laboratório.

Trabalho de rara confluência de signos. O autor carrega de sentido as frases. Frases que em sua maioria formam versos da melhor poesia ou aforismos lapidares. (Gostaria de dizer ao modo de poeta: feitura de eclipsemas que fazem pensar). E nem só do objeto ficcional, o 11 de setembro histórico, que estilhaçou consciências, vive a obra. Há grande investimento na sintaxe diferenciada. Também no léxico, quando neologismos e sobreposições de palavras saltam aos olhos, como insetos luminosos. Essa a alquimia no texto, que faz de Flávio V. Amoreira, o grande autor de sua época. O autor/crítico, antenado com o tudo que nos rodeia. Das intersemióticas relações, e de bibliotecas consumidas, é que o artista se faz. E mais que isso, da Web o cyber-cognocer & plena/imediata comunicação com o mundo. Sempre exigindo-se muito, como se exercitasse um auto-desafio existencial, de busca e apreensão da objetalidade e do conhecimento. Foi-se a era dos autores acomodados no literesco. Fenômeno que ainda se reflete na literatura portuguesa (de Portugal mesmo). Hoje, na dúvida sobre o biotipo do leitor, o autor criativo, busca o máximo que sua pena pode dar, e isso, sempre abrindo canais com o desconhecido. Em variações de postura e conquista de espaços novos ao dizer. O leitor do futuro, que entenderá realmente o autor que fomos no tempo em que vivemos, pode ser uma realidade, ou apenas uma premissa alentadora à criação.

Sinestésica apreensão do indizível. O romance Edoardo, o Ele de Nós, marca um tempo e projeta outro, que é de plena potencialidade da escritura. Flávio V. Amoreira, é sensível antena da raça, e projeta a literatura brasileira, como um desafio aos pares. Um desafio que indica possibilidades novas de exercício do código. O código que não tira, mas acrescenta ao mundo, novos conceitos e conteúdos. Nisso, acompanham todas as mídias, fatores importantes ao resultado-soma da produção.

Entendia que a literatura brasileira ia ficar só naqueles nomes. Sofria, ante a recusa de editar. Desacreditava no processo. Mas agora não. Autores como Flávio V. Amoreira, já passaram por isso, e mostram que ainda é possível se fazer literatura com independência e originalidade nesse país. Literatura que pode ser um guia seguro pra gerações de criadores que hão de vir. Contra todas correntes de negação da arte, poesia e literatura, o produto da criação individual, sobrevive com dignidade no tempo.

 

tentava Arte pela Literatura esse algébrico esporramento de sons tintas gestuália reflexivo oblongo buraco alvo: seria essa minha descoberta do amor pelo entendimento?”

 

Edoardo, o Ele de Nós, representa muito pra literatura contemporânea brasileira. Seus efeitos de romance-rapsódico, estalo de imagens tensas, reflexo de seu tempo, frustra hermetismos por hermetismos e clareia veredas novas na ficção nacional. O livro recém lançadoem São Paulo e Santos, ganha o Brasil, e certamente instigará críticos e criadores. A bem da vida e da arte que se faz com palavras, o novo não é novo apenas porque é de agora aparecido. O novo é novo porque é de acrescento de significação. O novo é novo porque é de construção prodigiosa do pensamento, levando-se em conta labor estético e versatilidade dos meios. Em tempos em que ainda se cultiva o naturo-realismo na ficção, sem vôos de imaginação, e no tranco de pangaré no que se refere à sintaxe, a prosa de Flávio V. Amoreira aparece densa e inovadora. Ousar pelo signo, é mais que simplesmente escrever. É esforço dos sentidos, a parir a obra nova, que como flor-matriz provoca múltiplas interpretações. Tenho lido. Estou lendo. Releio.

 

Morte da Internet Livre é IMINENTE – por kevin parkinson / eua

Nos últimos 15 anos ou mais, como sociedade, temos tido acesso a mais informações do que nunca na história moderna por causa da Internet. Há aproximadamente 1 bilhão de usuários de Internet no mundo e qualquer um desses usuários pode, teoricamente, se comunicar em tempo real com qualquer outro no planeta. A Internet tem sido a maior tecnologia de inclusão do século 20, de longe, e tem sido reconhecida pela da comunidade global.

A transferência de informação livre, sem censura, ilimitada, imaculada!! Ainda parece ser um sonho, quando você pensa sobre isso. Qualquer campo que é mencionado educação, comércio, governo, notícias, entretenimento, política e inúmeras outras áreas têm sido radicalmente afetados pela introdução da Internet.É uma boa notícia, excepto quando a rede é usada para crimes como pedofilia, prostituição etc. Controle e fiscalização são necessários,especialmente quando há crianças envolvidas.
No entanto, quando há lucros potenciais aberto a uma empresa, as necessidades da sociedade não contam. Vejamos o caso recente no Canadá, com os gigantes,Telus ea Rogers enviando uma avalancha de mensagens de texto sem qualquer aviso para o público. Foi uma jogada arriscada e arrogante das as telecomunicações gigantes porque saiu pela culatra. As pessoas realmente utilizaram a tecnologia da Internet para entregar uma mensagem alta e clara a estas empresas e que era sucata,uma carga extra de spams. As pessoas usaram o poder da Internet contra as empresas e ganharam.
No entanto, a questão das mensagens de texto é apenas uma mancha pequena no radar telas da Telus e outra empresa, Bell Canada, a Internet duas maiores prestadoras de internet do CANADÁ. Nosso país está sendo usado como um teste  para mudar drasticamente o fornecimento de serviços de Internet para sempre. A mudança será tão radical que ele tem o potencial para nos enviar de volta para o usar o cavalo para entreguar nossos correios e terminar com a partilha de informações.
Um relatório na revista Time, que tentou alisar as arestas, ocultar, amenizar a trama diabólica da Bell Canadá e Telus, para começar a cobrar taxas por acesso a sites, inclusive a partir de links. O plano é para converter a Internet em um sistema de cabo-like, onde os clientes pagarão para se inscrever em sites específicos, e em seguida pagar taxas para visitar os sites para além de um ponto de corte.(links)

Da minha navegação (na internet atualmente livre) eu descobri que o “Desaparecimento” da Internet livre está programado para 2011/12 no Canadá, e dois anos depois em todo o mundo. Canadá é considerado uma boa opção para implementar tais alterações vergonhosas e sinistras, uma vez que os canadenses são vistos como sendo politicamente desinformados e um alvo fácil. Os saqueadores corporativos resolverão as rusgasno Canadá e, em seguida a nova primavera: O FIM DA INTERNET LIVRE no resto do mundo.Provavelmente com pouca fanfarra, exceto por algumas terríveis advertências sobre o “mal” da Internet Livre, usando os crimes via internet como argumento e a necessidade de proteger o povo. Essas palavras normalmente funcionam muito bem.
Como será? Eu suspeito que o ISP irá fornecer um “pacote” do programa que empresas como Cogeco atualmente usam.
Os clientes pagarão por uma série de sites como o fazem agora para a sua estações de televisão. As emissoras de TV estarão disponíveis on-line como parte destes pacotes, o que tornará a rede de TV felizes e coniventes, pois elas perderam muito do mercado jovem que está navegando e conversando em seus computadores à noite. No entanto, como é o caso da TV a cabo agora, se vocêescolher algo que não faz parte do pacote, você sabe o que acontece. Pagamento extra.

E este é o lugar onde a Internet (gratuito) como a conhecemos sofrerá quase estrangulamento econômico imediato. Milhares e milhares de sites na Internet não farão parte do pacote para que os usuários tenham de pagar extra para visita-los! Em apenas uma ou duas horas é possível visitar facilmente 20-30 sites ou mais, enquanto procura informações. Imaginem quão alto estes custos serão.

Actualmente, o mundo condena a China por causa desse país restringe certos sites. “Eles são antidemocráticos, pois eles estão removendo a liberdade das pessoas, pois eles não sabem respeitar os direitos individuais, que são censurar a informação “, são alguns dos comentários que ouvimos.
Mas o que Bell Canada e Telus tem planejado para Canadenses(e o mundo) é muito pior do que isso. Eles estão planejando a morte da
Internet (gratuita)como conhecemos, e eu espero pouca reação do Canadense comum, vai ser quase um gemido … É tudo parte do plano empresarial para uma Nova Ordem Mundial e praticamente um golpe de mestre que conduzirá à criação de milhares de milhões e bilhões de dólares de lucro das empresas à custa do trabalho da classe média.

Há tantas outras implicações, como resultado dessas mudanças…Esteja ciente de que todos perderemos nossa privacidade porque todos os sites serão monitorados como parte do processo de faturamento e estarão literalmente cortadas cerca de 90% das informações que podemos acessar hoje. Bloggers e pequenas empresas operadores do Web site terão uma morte rápida, porque as pessoas não vão pagar para ir para os seus sites e ler suas páginas.

O tacão de ferro da realidade – por wladimir pomar / são paulo

Ao que parece, uma parte da esquerda brasileira esperava que fosse possível realizar uma revolução não só cultural, mas também econômica e social, através do sistema eleitoral democrático instituído após o final da ditadura militar. Supunha que um governo de esquerda, eleito pelo voto popular, teria as condições de realizar as reformas estruturais há muito reclamadas pela sociedade brasileira.
Isso é o que ela esperava do PT, de Lula e, agora, de Dilma. Como tais reformas exigem muito mais do que vontade política, Lula não conseguiu fazê-las e Dilma encontra dificuldades da mesma monta, são classificados, por essa parte da esquerda, de traidores da causa popular e do socialismo. Portanto, nada mais natural que, a partir dessa premissa, militantes desse setor apelem aos céus e à terra para que, agora, o PT e Dilma sejam combatidos como os principais inimigos.

O que os coloca numa situação esdrúxula, se examinarmos com mais atenção a realidade que nos cerca. Do ponto de vista econômico, os principais instrumentos de produção estão sob o domínio do grande capital, a maior parte subordinada à voracidade do capital financeiro. Um dos principais instrumentos com que poderia contar um governo democrático e popular para fazer frente ao poder econômico do capital, as estatais, foi brutalmente enfraquecido durante os 12 anos de governos neoliberais. E as pequenas burguesias industrial, agrária e comercial, que eventualmente poderiam se contrapor ao grande capital, também são relativamente fracas e, em grande parte, ligadas e dependentes do grande capital corporativo. Portanto, do ponto de vista da correlação de forças econômicas, a hegemonia e o domínio do grande capital é evidente. É lógico que se a correlação de forças no campo social fosse predominantemente favorável às camadas democráticas e populares, com organizações sindicais, comunitárias e associativas fortes e combativas, aquela desvantagem no campo econômico poderia ser neutralizada e superada.

No entanto, o neoliberalismo também praticou um estrago considerável nessa área, através do desemprego e das ações de segmentação produtiva das corporações, causando uma fragmentação da força social dos trabalhadores industriais, inibindo qualquer movimento dos assalariados agrícolas, reduzindo consideravelmente a força do campesinato e desbaratando os movimentos sociais urbanos.

]O decréscimo da mobilização social, iniciado em meados dos anos 1980, parece ainda não ter chegado ao fundo do poço. Só com a retomada recente do crescimento econômico, a força dos trabalhadores industriais começa a se recompor, criando as condições para uma nova retomada das lutas e para a ascensão da mobilização social, mobilização que depende fundamentalmente do amadurecimento da experiência e da consciência popular.

Portanto, bem vistas as coisas, a esquerda no Brasil chegou ao governo na contramão da mobilização social, um fenômeno que deveria ser analisado com mais atenção por todas as forças políticas democráticas, populares e socialistas. Em outras palavras, contrariando praticamente todos os manuais políticos, a esquerda democrática a popular brasileira vem crescendo quase na razão inversa da mobilização social.

Mas, também contraditoriamente, na razão direta do interesse político das camadas populares e da divisão política da burguesia. Foram essas condições especiais da realidade brasileira que firmaram, desde 1989, uma polarização política no país, deslocando imediatamente o PT para o carro chefe de um dos pólos à esquerda e, paulatinamente, a conjuração PSDB-PFL (este, depois, DEM) para cabeça do pólo à direita.

Nesses últimos 20 anos, tem havido um esforço sem par dos principais ideólogos e representantes mais sensatos da burguesia para romper essa polarização e abrir brechas para uma terceira via. Com razão, eles enxergam que a polarização radicaliza o reacionarismo da direita, empurrando a esquerda não para o compromisso, mas também para a radicalização, ao mesmo tempo também em que empurra as forças de centro para a esquerda.

Basta analisar todas as campanhas eleitorais, desde 1989, para comprovar que os setores democráticos e populares mais conciliadores acabaram sendo empurrados mais para a esquerda em função da discussão política imposta pela direita reacionária. E basta analisar, também, o fracasso e a situação a que os projetos de terceira via foram levados ao se confrontarem com o férreo tacão dessa polarização.

Assim, olhando com realismo a correlação política de forças, não é difícil notar que há um equilíbrio instável entre o pólo à esquerda e o pólo à direita da sociedade, que dificilmente permitirá à esquerda no governo fazer o que lhe der na veneta. E, em certo sentido, a disputa polarizada que ocorre na sociedade se reflete dentro do governo de coalizão.

Nessas condições, enquanto as grandes massas populares não se puserem em movimento novamente, criando condições para o governo e a sociedade avançarem mais fortemente no rumo democrático e popular, e mesmo socialista, a esquerda continuará tendo dificuldades para carregar seus aliados por aquele rumo, e para modificar profundamente a correlação entre as forças políticas.

Nesse sentido, aquelas forças que pensam se opor à suposta conciliação burguesa do PT, Lula e Dilma, e voltam suas baterias contra o governo dirigido pelo PT, correrão sempre o perigo de se aliarem, mesmo contra a vontade, aos reais principais inimigos políticos do povo brasileiro, a conjuração PSDB-DEM. Essas são as imposições do tacão de ferro da realidade brasileira polarizada. Os discursos e ações da última convenção dos tucanos estão aí para não deixarem que nos enganemos a respeito.

Devaneios de Luz – de wagner de oliveira melo / curitiba

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Ainda era cedo e, preguiçosa, Luz estendia por mais alguns minutos sua permanência na cama. Os primeiros raios de sol invadiam o quarto através de um pequeno espaço entre as cortinas, onde todas as noites ela costuma observar furtivamente as pessoas lá embaixo, imaginando vidas e destinos, enquanto toma sua caneca de chá verde; anúncio de que logo vai pra cama.
Intrigada pelos solitários raios de sol que transpunham entrecortados pela fumaça do cigarro seu observatório secreto, ela se levanta e vai até a janela – está nua – com a mão direita afasta um pouco a cortina e com a esquerda fuma. Lá fora a aurora anuncia a cidade em frenesi: Pessoas chegando e partindo transbordam de ônibus abarrotados. Apressadas, se esbarram nas calçadas e nas ruas onde os carros atropelam-se, disputando seus poucos metros quadrados num buzinar, acelerar e frear caóticos. No entanto a janela está fechada. Ela está fechada, como se o silêncio da casa, seu silêncio e a distância dela para com seu próprio corpo, fosse pouco a pouco inundando as ruas as pessoas e as coisas. De repente, como num passe de mágica tudo ficou em câmera lenta, e dentre tantas coisas, entre os invisíveis e anônimos, ela viu o olhar cuidadoso do velhinho de chapéu antes de atravessar a rua. Um grupo de pombos alçando vôo a fugir de um cachorro que os persegue, alegremente latindo para seus amigos alados e uma folha frágil e amarelada se desprender do seu galho e partir, suavemente flutuando ao sabor da brisa, para pousar com toda a delicadeza e carinho que a natureza lhe emprestou, num pequeno espelho d’água que ainda vão construir na Praça Osório. Então, ela acordou. Era segunda-feira e faltavam alguns minutos para o despertador tocar.

 

 

Anotações para a semana – de solivan brugnara / quedas do iguaçu.pr


 

– Lembrar de usar o som de pombas voando

como percussão em uma musica.

 

– Olhar a linha da vida de meu filho.

 

– Aprender a fazer arco-íris domésticos

com a mangueira ao regrar o jardim.

 

– Criar um abaixo-assinado para

mudar o nome do poeta Manuel de Barros

para Manuel de Cerâmica.

 

-Adquirir um método de piano imaginário

Para poder aprender musica no escritório.

 

-Comprar ração para o pavão.

 

-Mandar restaurar as fotos rasgadas na separação.

 

-Dobrar origamis com os extratos bancários

e notas fiscais.

 

-Pagar a prestação do telescópio.

 

-Baixar um screensavers de caleidoscópio em 3D

 

-Enviar meu currículo para um parque

de diversões itinerante.

 

-Mudar escrivaninha para perto da janela.