Arquivos Mensais: março \31\-03:00 2011

RUDI BODANESE convida para noite especial: ilha de santa catarina

TRIO FAVETTI EM FLORIPAemail

Radioatividade da usina de Fukushima atinge ao menos 7 países na Europa

A Europa detectou os primeiros traços de radiação provenientes da Usina Nuclear de Fukushima Daiichi, no Japão. O material vazou e se espalhou na água e no ar desde que os reatores nucleares foram parcialmente destruídos pelo terremoto seguido de tsunami no dia 11 de março. Alemanha, Espanha, França, Itália, Irlanda, Suécia e Noruega estão entre os países que já confirmaram ter encontrado partículas da substância radioativa iodo-131.

Ernani Lemos

Amostras de ar contaminado em Dublin pela radioatividade da usina de Fukushima Daiichi, no Japão

O Institudo de Proteção Radiológica da Irlanda (RPII, na sigla em inglês) detectou apenas 20 unidades desse material por metro cúbico de ar. “Nesse nível, o iodo radioativo não apresenta nenhum risco à saúde humana. Para ser preocupamente, o número teria que estar em dezenas de milhares.”, afirmou ao Opera Mundi Ciara McMahon, diretora de vigilância ambiental do RPII.

“Por estarem mais próximos do Japão, países como os Estados Unidos foram mais atingidos, mas mesmo nesses lugares a radiação não chega a ser preocupante. Não há motivo para alarme por aqui e essa é uma mensagem que vale para toda a Europa. Nós mantemos contato com instituições similares dos países vizinhos e as nossas medições são muito consistentes com as apresentadas por esses lugares.”, completou.

Desde o terremoto no Japão, o  instituto aumentou a frequência de testes para checar a radiação na água e no ar. A medição passou de mensal para diária. A Agência Britânica de Proteção à Saúde também intensificou as medidas de segurança. A entidade informou que chegou a encontrar 300 unidades de iodo-131 por metro cúbico de ar.

Ainda assim, as partículas detectadas agora representam menos de um milionésimo do que foi encontrado nos países europeus após o desastre de Chernobyl em 1986. O iodo-131 foi apontado como a causa de câncer da tireoide entre crianças expostas aos lugares mais próximos do acidente.

Futuro

A radioatividade se dispersa do Japão para o hemisfério norte e se dilui enquanto viaja para o leste. Isso significa que o nível de partículas nucleares no ar da Europa pode aumentar em breve, de acordo com a direção e com a velocidade do vento.

“É claro que nós esperamos o aumento na medição de radioatividade, mas, por enquanto, não temos razão para nos preocupar com esse futuro breve. Tudo indica que a quantidade de iodo-131 por aqui não vai chegar a um nível suficientemente alto para provocar riscos à saúde”, afirmou Ciara.

“Além disso, esse tipo de substância tem o que nós chamamos de meia-vida curta, ou seja, a cada oito dias ela perde metade da radiação, tornando-se menos nociva ao ser humano.”

 

OM

JANGO: o Golpe e a saudades do que ficou para trás. – por joão vicente goulart / porto alegre

Foto Evandro Teixeira
Por João Vicente Goulart
Sempre que se aproxima mais um 1° de abril, ano a ano vamos nos distanciando daquele 1964 e aproximando-nos de 2014, onde teremos nós brasileiros de fazer uma profunda reflexão histórica da lembrança dos 50 anos após, e ainda sentirmos o reflexo maligno produzido pelo Golpe de Estado, dado não contra Jango, mas contra a Constituição brasileira, contra o povo e contra as “Reformas de Base” que transformariam a economia de nosso país produzindo tal vez o maior avanço social que este país necessitava.
Como mudam os aspectos e as lembranças?
È só voltarmos um pouco na história e relembrar naquele ano a posse tumultuada do então Vice-Presidente por estar abrindo, em viagem oficial em agosto de 1961 o mercado da China para o Brasil; quase impedido constitucionalmente de assumir a presidência por estar no país comunista-Maoísta e ser recebido pelo próprio Mao quando da renúncia, ainda hoje não bem explicada, do Presidente Jânio Quadros.
Era uma ofensa aos bons costumes das elites aristocráticas do país, um vice-presidente brasileiro estar na China comunista, onde dizia a direita “comiam criancinhas” por lá, e poder assumir o cargo constitucional de Presidente da República, mesmo eleito para isto como determinava a nossa Constituição.
Nixon, o presidente americano, dez anos depois da viagem de Jango, teve que botar a cartola embaixo do braço e visitar a China, pois não podia mais ignorar o mercado consumidor e a potencialidade econômica daquele país, tendo que engolir a exigência de reconhecer Taiwan como província rebelde e estabelecer o comercio bilateral China-EUA.
Que visão teria Jango naquele momento?
A de construir para o Brasil uma alternativa comercial de independência econômica do eixo americano e dar potencialidade a economia nacional com outros parceiros no desenvolvimento de relações globais.
Tudo isto foi ignorado quando construiu-se um argumento para não lhe darem posse:
se tinha estado por lá, era por que era comunista.
Hoje o Mundo mudou.
Hoje o maior credor dos títulos públicos americanos é o Governo da China.
Hoje o maior parceiro comercial do Brasil é a China, superando inclusive o comercio bilateral BRASIL-EUA.
Não bastassem essas acusações levianas e de cunho político, sabiam as elites que Jango era um árduo defensor dos trabalhadores e assim o tinha demonstrado quando em 1953, apesar de ter que deixar o Ministério do Trabalho de Vargas, legou patente os 100% de aumento no salário mínimo, conquista até hoje refletida no atual salário mínimo nacional, pois ainda traz embutida aquela correção.
Após muita discussão a respeito da posse e depois do memorável Movimento da Legalidade produzido e conduzido pelo então governador Leonel de Moura Brizola no Rio Grande do Sul, Jango consegue assumir através da emenda adicional N° 4, tirada dos porões do Congresso Nacional o regime parlamentarista, em uma manobra casuística, para tirar poderes constitucionais das mãos do Presidente Jango que sem dúvidas assumiria o comando da Nação levando consigo o seu compromisso com a classe trabalhadora do país.
Jango não traiu seus compromissos.
Depois de algum tempo de parlamentarismo parte para o plebiscito nacional pedindo a volta do presidencialismo.
Era início de 1963 quando o povo brasileiro em memorável consulta devolve a Jango os poderes presidencialistas com mais de 83% favoráveis ao SIM.
O Presidente João Goulart parte então para a transformação da sociedade brasileira através da proposta das “Reformas de Base”.
Constituem-se elas na Reforma Agrária, na Reforma Educacional, na Reforma Urbana, na Reforma Bancaria, no controle da Remessa de Lucros das empresas estrangeiras para suas matrizes, e na desapropriação das refinarias de petróleo passando o controle da exploração e refino para as mãos da PETROBRAS, fundada pelo governo Vargas da qual Jango era herdeiro político.
“Mais uma vez” como pregava a Carta Testamento às forças da reação tornaram-se contra os interesses populares e começava então a conspiração para a derrubada do governo constitucional do Presidente Jango.
A união das forças civis e militares conservadoras de nosso país unem-se com os interesses multinacionais e exploradores do povo brasileiro e Latino-americano programando em 1964 o Golpe de Estado, financiado pela CIA e o Governo americano que posteriormente alastrou-se como dominó por todos os países democráticos da América do Sul servindo os interesses dos capitais internacionais.
Acusado mais uma vez de comunista, Jango caiu.
Mas caiu de pé, pois hoje, quase cinqüenta anos depois, vemos os exemplos comerciais que Jango queria instalados independentemente de colorações ideológicas.
Lamentavelmente  ainda pairam sobre nós os interesses das elites,  não  nos permitndo  ainda a distribuição de renda pretendida por Jango para a nossa população menos favorecida e nem tampouco permitindo o acesso ao crédito controlado pelo excessivo abuso dos banqueiros, de lucros escorchantes, encima de taxas SELIC de mais de 10% anuais sobre uma dívida interna superior ao trilhão de reais, que o Governo do Brasil tem de pagar religiosamente, suprimindo assim a sua capacidade de investir no desenvolvimento social da Nação.
Relembrar todos os 1° de abris a queda de Jango é relembrar de um patriota que morreu no exílio lutando por um país mais justo, mais solidário, mais digno para com seus cidadãos mais humildes, mais equitativo e com mais oportunidades para os mais desamparados, mais nosso, mais soberano e principalmente mais livre.
A saudade existe, quando existe a vontade de relembrar os valores perdidos, os valores a serem lembrados e reconquistados, os valores dignos dos homens que ficaram pelo caminho lutando por uma sociedade mais justa, com atitudes certas no momento histórico oportuno.
Estes valores sim são dignos de serem lembrados.
Lembro-me no exílio quando jornalistas americanos da revista “Time” perguntaram a Jango: – “O Sr. Presidente não acha que não era ainda a hora das reformas?”
Ao que Jango respondeu: “Se achasse os Srs. tenham certeza não me encontrariam aqui no exílio”.
Só sentindo estas saudades do que ainda temos a fazer é que devemos lembrar todos os primeiros de abris, para que nunca mais existam, para que nunca mais aconteçam. 

Diretor do IPG Instituto Presidente João Goulart

LULA dedica título Doutor Honoris Causa a José Alencar / coimbra.pt

O ex-presidente recebeu nesta quarta o título pela Universidade de Coimbra.
‘Perdeu-se um grande homem, que estaria muito feliz por esta distinção’, disse
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O ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva na Universidade de Coimbra (Foto: Natasha Bin/G1)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na
Universidade de Coimbra (Foto: Natasha Bin/G1)

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dedicou o título de “doutor honoris causa” pela Universidade de Coimbra ao ex-vice presidente José Alencar. Lula recebeu o título nesta quarta-feira (30).

“Perdeu-se um grande homem, que estaria muito feliz por esta distinção, que será dedicada a ele”, disse Lula durante a cerimônia.

José Alencar, 79 anos, morreu às 14h41 desta terça (29) em razão de câncer e falência múltipla de órgãos, segundo informou o hospital.

Lula afirmou que o êxito de seus dois mandatos “não teria sido possível” sem a colaboração de José Alencar. “Foi o meu parceiro de todas as horas, um dos homens mais íntegros que conheci, inequecível estadista que perdemos ontem para consternação de toda a sociedade brasileira”.

Cerimônia
A cerimônia teve início com a entrada solene dos doutores da Universidade de Coimbra e das autoridades políticas presentes. Lula iniciou seu discurso elencando o prestígio mundial da Universidade de Coimbra. Ele comentou sobre as universidades brasileiras e a importância da união dessas com instituições internacionais. Lula ainda falou sobre o êxito econômico do Brasil, obtido durante seu governo, e sobre o investimento em educação feito por ele.

O ex-presidente disse que o título “honoris causa” recebido por ele significa um reconhecimentro às causas que o Brasil tem defendido no cenário internacional. No discurso, Lula disse considerar indispensável uma nova governança global, que passa por uma mudança no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva na Universidade de Coimbra (Foto: Natasha Bin/G1)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na
Universidade de Coimbra (Foto: Natasha Bin/G1)

Após os discursos, iniciou-se o ritual de doutoramento de Lula, que recebeu as insígnias do título. Lula percorreu a Sala dos Capelos cumprimentando todos os doutores da Universidade de Coimbra presentes na cerimônia. Depois, seguiu para a Sala do Senado, onde assinou o Livro das Atas, que registra todos os doutores honoris causa da Universidade de Coimbra.

Participaram da cerimônia a presidente Dilma Rousseff; o presidente de Portugal, Cavaco Silva; o primeiro-ministro português, José Sócrates; e o presidente de Cabo Verde, Pedro Pires. Antes de de deixar a Universidade de Coimbra, Dilma disse que a cerimônia foi “muito bonita”.

Recepção
Lula foi recebido por 18 estudantes brasileiros e três estudantes portugueses. Para a estudante brasileira Luciana Lopes, do curso de Letras, o momento foi único: “é uma oportunidade de participar de uma homenagem a uma pessoa que sempre investiu em educação, principalmente para as pessoas com vulnerabilidade econômica”.

Natasha Bin Do G1, em Coimbra (Portugal)

UNIVERSIDADE do PORTO convida para a FEIRA do LIVRO NOVO e ANTIGO

 

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A 3.ª Feira do Livro Novo e Usado chega ao edifício da Reitoria da Universidade do Porto, na Praça Gomes Teixeira, nos próximos dias 1 e 2 Abril. Dez livrarias da zona envolvente mudam-se durante dois dias para as arcadas do edifício, juntando-se à Loja da Universidade do Porto, para apresentar à cidade um conjunto diversificado de publicações à venda com preços convidativos.

As livrarias Imprensa Nacional Casa da Moeda, Utopia, Vieira, Lumiére, Poetria, Varadero, João Soares, Moreira da Costa, Candelabro e Paraíso do Livro vão estar representadas no espaço da feira. A Loja da Universidade do Porto participa na iniciativa a partir do seu próprio espaço.

A feira estará aberta entre as 10h00 e as 20h00.

 

U.Porto editorial

Reitoria da Universidade do Porto

Praça Gomes Teixeira, 4099-002 PORTO

Tel.: 220 408 196  Fax: 220 408 186

URL: editorial.up.pt/

 

EX VICE-PRESIDENTE JOSÉ ALENCAR entregou, hoje, as “moedas para o barqueiro” : / são paulo

Ex-vice-presidente José Alencar morre aos 79 anos

Nos últimos 13 anos, Alencar enfrentou batalha contra o câncer.
Ele passou por diversas cirurgias e buscou tratamento alternativo nos EUA.

Do G1

José Alencar (Foto: Futura Press)
O ex-vice José Alencar (Foto: Futura Press)

O ex-vice-presidente da República José Alencar, 79 anos, morreu às 14h41 desta terça (29), no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, em razão de câncer e falência múltipla de órgãos, segundo informou o hospital.

Após conversar com Josué Alencar, filho do ex-vice, a presidente Dilma Rousseff afirmou em Portugal que o velório será no Palácio do Planalto, aberto à visitação pública e comprevisão de início às 10h30.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silvachorou ao falar sobre a morte do ex-vice. Primeiro ministro a se manifestar sobre o assunto nesta terça, Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, também se emocionou ao receber a notícia durante uma entrevista (saiba o que disseram outrospolíticos e personalidades).

Na UTI
Na última das várias internações, Alencar estava desde segunda (28) na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital Sírio Libanês, em São Paulo, com quadro de suboclusão intestinal.

O ex-vice-presidente lutava contra o câncer havia 13 anos, mas nos últimos meses, a situação se complicou.

Após passar 33 dias internado – inclusive no Natal e no Ano Novo –, o ex-vice-presidente havia deixado o hospital no último dia 25 de janeiro para ser um dos homenageados no aniversário de São Paulo.

A internação tinha sido motivada pelas sucessivas hemorragias e pela necessidade de tratamento do câncer no abdômen. No dia 26 de janeiro, recebeu autorização da equipe médica do hospital para permanecer em casa. No entanto, acabou voltando ao hospital dias depois.

Durante o período de internação, Alencar manifestou desejo de ir a Brasília para a posse da presidente Dilma Rousseff. Momentos antes da cerimônia, cogitou deixar o hospital para ir até a capital federal a fim de descer a rampa do Palácio do Planalto com Luiz Inácio Lula da Silva.

Ele desistiu após insistência da mulher, Mariza. Decidiu ficar, vestiu um terno e chamou os jornalistas para uma entrevista coletiva, na qual explicou por que não iria à posse e disse que sua missão estava “cumprida”.

Na conversa com os jornalistas, voltou a dizer que não tinha medo da morte. “Se Deus quiser que eu morra, ele não precisa de câncer para isso. Se ele não quiser que eu vá agora, não há câncer que me leve”, disse.

No mesmo dia, ele recebeu a vista de Lula, que deixou Brasília logo após a posse de Dilma.

Internações
Os últimos meses de Alencar foram de internações sucessivas. Em 9 de fevereiro, ele foi hospitalizado devido a uma perfuração no intestino.

O ex-vice-presidente já havia permanecido internado de 23 de novembro a 17 de dezembro para tratar uma obstrução intestinal decorrente dos tumores no abdômen. No dia 27 de novembro, foi submetido a uma cirurgia para retirada de parte do tumor e de parte do intestino delgado.

 

RACISMO avança na sociedade brasileira: agora é o capitão do exército JAIR BOLSONARO, raro seguidor dos “gorilas” de 1964

Deputado associa na TV namoro com negras a ‘promiscuidade’

Ele respondeu à indagação sobre como reagiria se filho namorasse negra.
Nesta terça, Jair Bolsonaro (PP) disse que não entendeu a pergunta.

Do G1, em Brasília

Dep. Jair Bolsonaro (PP-RJ)  (Foto: Diógenis Santos/Agência Câmara)
O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ).
(Foto: Diógenis Santos/Agência Câmara)

O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) afirmou que não discutiria “promiscuidade” ao ser  questionado pela cantora Preta Gil, no programa “CQC”, da TV Bandeirantes, sobre como reagiria caso o filho namorasse uma mulher negra.

A pergunta, previamente gravada, foi apresentada ao deputado na noite desta segunda-feira (28), no quadro do programa intitulado “O povo quer saber”: “Se seu filho se apaixonasse por uma negra, o que você faria?”

Bolsonaro respondeu: “Preta, não vou discutir promiscuidade com quer que seja. Eu não corro esse risco, e meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o teu.”

Após a exibição do programa, Preta Gil postou no Twitter que processaria o deputado. “Advogado acionado, sou uma mulher Negra, forte e irei até o fim contra esse Deputado, Racista, Homofobico, nojento”.

Procurado pela reportagem do G1, Bolsonaro disse por telefone nesta terça-feira (29) que não quis ofender a cantora Preta Gil, filha do ex-ministro e compositor Gilberto Gil. O deputado afirmou que não compreendeu a pergunta feita por ela e por isso respondeu daquela maneira.

“O que eu entendi, na pergunta, foi ‘o que você faria se seu filho tivesse relacionamento com um gay’. Por isso respondi daquela maneira”, disse Bolsonaro. “Não sou racista. Apesar de não aprovar o comportamento da Preta Gil, não responderia daquela maneira.” Apesar disso, o deputado disse que não vai telefonar para a cantora para explicar o mal-entendido.

A respeito de eventuais questionamentos na Câmara dos Deputados, ele afirmou que explicará o “equívoco” a qualquer parlamentar que queira questioná-lo.

Gays
Bolsonaro não retirou as demais respostas exibidas a perguntas formuladas no programa. O deputado disse que os filhos dele não são gays porque tiveram uma boa educação.

“Eles tiveram uma boa educação. Eu sou um pai presente, então não corro esse risco [de ter um filho gay]”.

Questionado no programa sobre como reagiria caso se o filho fosse usuário de drogas, Bolsonaro disse: “Daria uma porrada nele, pode ter certeza disso”.

O deputado disse ser contra as cotas raciais adotadas em várias universidades brasileiras. Bolsonaro afirmou ainda que os presidentes do período militar são seus “gurus” na política, e que, se dependesse dele, Dilma Rousseff  “jamais” seria presidente da República.

“O passado dela é de sequestros e roubos”, disse, referindo-se à participação de Dilma em organizações armadas que combateram a ditadura.

SEM TÍTULO I – de ana vidal / portugal

 

 

 

Persigo sem descanso

um horizonte estranho

alheio a tudo o que já fui ou sou

Sei que os meus passos seguem um desenho

que não alcanço

mas que algo em mim já viu ou já sonhou

Desconheço a razão de cada avanço

Só sei que tenho de ir por onde vou…

 

 

.

do livro SEDA e AÇO.

 

 

ALZHEIMER, nova pesquisa mostra que é possível identificar o mal com décadas de antecedência

Pacientes com a doença têm níveis mais baixos de utilização de glicose no cérebro do que aqueles com funções cognitivas normais, e essa queda nos níveis pode ser identificada com até 20 anos de antecedência ao primeiro sintoma

Pesquisadores da Escola de Medicina Monte Sinai, em Nova York, nos Estados Unidos, descobriram que pacientes com Alzheimer podem conseguir identificar a doença décadas antes de ela começar a manifestar os primeiros sintomas, o que dá uma nova perspectiva para os tratamentos clínicos. O estudo foi publicado nesta segunda-feira (28) no jornal especializado Translational Neuroscience.

Os médicos do centro médico descobriram que os pacientes com a doença têm níveis mais baixos de utilização de glicose no cérebro do que aqueles com funções cognitivas normais, e essa queda nos níveis pode ser identificada com até 20 anos de antecedência ao primeiro sintoma do Alzheimer.

O estudo observou cobaias animais, ratos que foram geneticamente modificados para desenvolver a doença. Os pesquisadores descobriram que as mitocôndrias desses animais – são células cerebrais tidas como as “usinas” da nossa mente -, responsáveis por transformar a glicose em energia, começavam a ficar defeituosas justamente quando conseguiam detectar a presença da proteína beta-amilóide, ligada à doença.

Passado o equivalente a 20 anos humanos, os ratos com metabolismo energético comprometido começaram a apresentar os primeiros sintomas do Alzheimer, como a perda de memória e outros problemas cognitivos.

“Essa evidência nos ratos valida a teoria de que o diagnóstico do Alzheimer pode ser resultado de uma danificação na produção energética celular no cérebro”, afirmou o autor do estudo Giulio Pasinetti. Para ele, o fato de se poder identificar a debilitação das mitocôndrias tão cedo pode ser um grande passo no tratamento da doença.

“Essa descoberta pode revolucionar a forma como nós intervimos (nos pacientes)”, disse Merina Varghese, coautora do estudo. “O estudo abre espaço para o desenvolvimento de novas prevenções e terapias para humanos visando a evitar um eventual aparecimento dos sintomas do Alzheimer, mesmo enquanto eles (os pacientes) ainda têm todas as funções cognitivas normais”, afirmou.

ÉPOCA – LH

Os perigos de biografar – por amilcar neves / ilha de santa catarina


Certa feita, em 2005, uma senhora leu no jornal vasta matéria sobre um livro que seria lançado à noite. Ficou indignada, entretanto, com duas frases que citavam seu tio. Não conseguiu o livro (posto ainda não haver sido lançado nem distribuído), constituiu advogada e requereu ao juiz que proibisse o lançamento e a venda da obra, além de pedir indenização por danos morais sofridos por ela e pelo tio. Sem poder folhear o livro (posto ainda não haver sido lançado nem distribuído), o magistrado concedeu a liminar e à noite, 40 minutos após o início do lançamento, uma oficial de Justiça adentra o Museu de Arte de Santa Catarina e manda suspender o evento.

O livro é uma peça de teatro sobre a vida, obra e padecimentos do importante e ainda pouco conhecido pintor catarinense Eduardo Dias. Um anexo reproduz em cores diversas obras do artista. A obra de ficção se baseia em pessoas reais e fatos ocorridos até a morte de Eduardo, em 1945, e visa recuperar um pouco da biografia do pintor.

A senhora injuriada, de nome Sara Regina Poyares dos Reis (assinando-se Sara Regina Silveira de Souza em seus tempos de professora no Departamento de História da UFSC), não é parente de Eduardo Dias: é sobrinha do historiador e deputado Oswaldo Rodrigues Cabral, citado brevemente no livro em uma passagem da vida do artista, de quem, como seu médico, veio a assinar o atestado de óbito.

No julgamento do mérito, outro juiz entendeu improcedentes os pedidos e cassou a liminar concedida. Como a queixosa não recorreu da decisão, o processo foi extinto – isto, em meados de 2010, mas aí os prejuízos à carreira do livro já estavam irrecuperavelmente consolidados.

A fim de coibir absurdos desse tipo – os exemplos têm sido abundantes em todo o País – e preservar a memória nacional pela publicação da história de pessoas de visibilidade pública (as “biografias autorizadas”, que nivelam os retratados à planura da santidade imaculada, retirando deles todas as contradições que os tornaram humanos em vida, continuarão sendo produzidas a soldo das respectivas famílias), os deputados Newton Lima (PT-SP) e Manuela D’Ávila (PC do B-RS) apresentaram na terça-feira passada, na Câmara dos Deputados, projetos de lei para acabar com proibições a biografias não autorizadas.

Tudo para que não se venha a ter, daqui a pouco, apenas uma “História do Brasil autorizada”.

JAPONESES e ALEMÃES pedem fim do uso de energia nuclear

Primeiros protestos em Tóquio e Nagoya pedem o encerramento de todas as centrais nucleares no Japão. Os manifestantes pediram ao governo que mude de política e adote fontes de energia renováveis em vez da energia nuclear. Exigiram também que seja divulgada mais informação sobre o acidente nuclear e que se assumam mais responsabilidades por aquilo que aconteceu desde o sismo e o tsunami que abalaram o país a 11 de Março. Nas quatro maiores cidades da Alemanha, mais de 200 mil pessoas foram às ruas protestar contra o uso da energia nuclear.

Mais de mil pessoas protestaram este domingo em Tóquio, em frente à sede da Tepco (Tokyo Electric Power Company), empresa que opera a central nuclear de Fukushima, e em Nagoya, pedindo o encerramento de todas as centrais nucleares no Japão.

Os manifestantes pediram ao governo que mude de política e adote fontes de energia renováveis em vez da energia nuclear. Exigiram também que seja divulgada mais informação sobre o acidente nuclear e que se assumam mais responsabilidades por aquilo que aconteceu desde o sismo e o tsunami que abalaram o país a 11 de Março.

Em Nagoya, 300 pessoas juntaram-se para dizer que não querem outra Fukushima, pedindo o encerramento da central de Hamaoka, situada a 120 quilômetros de Nagoya, costa sul da ilha de Honshu.

“O Japão mentiu sempre sobre os méritos das centrais nucleares”, salientou, à agência AFP, Atsuchi Fujuki, vindo de Tóquio, dizendo-se “triste e decepcionado”.

Hoje, uma sondagem da agência de notícias Kyodo, revelou que mais de 58% dos japoneses não aprovam a forma como o governo está lidando com a crise nuclear.

Os planos para construir novas centrais nucleares no Japão estão suspensos desde a catástrofe, há mais de duas semanas. Muitas centrais ainda não retomaram o seu funcionamento.

Protestos na Alemanha
Nas quatro maiores cidades da Alemanha, mais de 200 mil pessoas foram às ruas neste sábado para protestar contra o uso da energia nuclear. Nas manifestações realizadas em Berlim, Hamburgo, Munique e Colônia, os manifestantes exigiram a desativação imediata de todos os reatores nucleares do país. Os protestos foram realizados sob o lema: “Fukushima adverte: chega de centrais nucleares”.

Em Berlim, estiveram cerca de 90 mil pessoas na manifestação. Entre as organizações alemãs que chamaram à acção estão a iniciativa antinuclear Ausgestrahlt, a organização de protecção ao meio ambiente Bund, as redes Attac e Compact, informa a Deutsche Welle. Os protestos também foram apoiados pelas Igrejas Católica e Evangélica, por sindicatos, artistas como a banda Wir sind Helden, além de políticos da oposição.

Os manifestantes exigem que o governo alemão deixe de representar os interesses das empresas de energia nuclear para “ouvir a população, que não está mais disposta a assumir os riscos da energia atômica”.

Reviravolta de Merkel
Há seis meses, a chanceler Angela Merkel anunciava que iria estender mais alguns anos a vida das centrais nucleares alemãs, que, segundo um compromisso feito pelo governo SPD-Verdes (1998-2005), iriam ser desativadas até 2020. Depois do desastre de Fukushima, a chefe do governo alemão anunciou o encerramento imediato – embora sublinhasse que era uma medida temporária – de sete reatores nucleares entre os 17 do país.

A reviravolta de Merkel não teve na opinião pública o efeito que esta esperava. Segundo uma sondagem, 71% dos alemães acham que ela foi “oportunista” por causa das eleições.

Fotos: Os manifestantes exigem que o governo alemão deixe de representar os interesses das empresas de energia nuclear. Foto de cephir

esq.net

O Brasil e as usinas nucleares – por heitor scalambrini costa / recife

Eletricidade nuclear e as tarifas

 

 

Os impactos do desastre nuclear na central de Fukushima, no Japão, devem ter efeito imediato nos preços das centrais projetadas no mundo e no Brasil. A exigência de sistemas de segurança mais eficientes e uma alta no preço dos seguros tendem a encarecer ainda mais a eletricidade nuclear.

Os custos de uma usina nuclear crescem proporcionalmente com o nível de confiabilidade e segurança exigidos. Quanto menores forem os investimentos na confiabilidade e segurança do suprimento energético, maior será a exposição aos riscos das catástrofes naturais, das falhas humanas e das falhas mecânicas e elétricas que podem ocorrer na instalação. Após este acidente no Japão, especialistas confirmam a necessidade de novos esforços tecnológicos para aumentar a segurança das instalações.

No Brasil, verifica-se que as condições de financiamento de Angra 3 são controversas, já que a Eletronuclear assumiu uma taxa de retorno para o investimento entre 8% e 10% – muito abaixo das praticadas pelo mercado, que variam de 12% a 18%. Somente uma taxa de retorno tão baixa pode viabilizar a tarifa projetada de R$ 138,14/MWh anunciada pelo governo federal para essa usina. A operação a baixas taxas de juros revela o subsídio estatal à construção de Angra 3. Os subsídios governamentais ocultos no projeto dessa usina nuclear são perversos, porque serão disfarçados nas contas de luz. Se isso se verificar quem vai pagar a conta seremos nós os usuários, que já pagamos uma das mais altas tarifas de energia elétrica do mundo.

Ainda no caso de Angra 3, a estimativa de custos da obra, que era de R$ 7,2 bilhões em 2008, pulou para R$ 10,4 bilhões até o final de 2010, de acordo com a Eletronuclear. Isso sem contar os R$ 1,5 bilhão já empregado na construção e os US$ 20 milhões gastos anualmente para a manutenção dos equipamentos adquiridos há mais de 20 anos. Desde 2008, o custo de instalação por kW desta usina subiu 44%, de R$ 5.330/kW para R$ 7.700/kW.

A título de comparação, a energia da hidrelétrica de Santo Antônio, foi negociada a uma tarifa de R$ 79/MWh, a hidrelétrica de Jirau, o preço foi de R$ 91/MWh (ambas no Rio Madeira), a hidrelétrica de Belo Monte (Rio Xingu), o preço foi de R$ 78,00/MWh, e o resultado do primeiro leilão de energia eólica no Brasil deixaram o MWh em torno de R$ 148. Bem mais reduzido que o apontado pela Empresa de Planejamento Energético (EPE), que usou um preço mais alto da energia eólica para justificar a suposta viabilidade econômica da opção nuclear.

O custo das usinas nucleares que se pretende construir até 2030, duas no Nordeste e duas no Sudeste é enorme, da ordem de R$ 10 bilhões cada uma. Valor este que poderá ser acrescido de 20 a 40% até o final da obra, como tem se verificado comumente, no caso de grandes obras em realização/realizadas no Brasil. As tarifas previstas para a eletricidade nuclear gerada nestas novas instalações são incertas, de cálculos não transparentes, mas que certamente afetará de maneira crescente a tarifa da energia elétrica no país.

A história do nuclear mostra que esta sempre foi e continua a ser, mesmo com a nova geração de reatores, uma indústria altamente dependente de subsídios públicos. Isto significa que quem vai pagar a conta da imensa irresponsabilidade de se implantar estas usinas em nosso país e na nossa região, será a população de maneira geral, e em particular os consumidores, que pagarão tarifas cada vez mais caras.

Professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco

UMA CARTA – por Z / são paulo


Zuleika dos Reis (na carteira de identidade, no título de eleitor (?) na carteirinha da UBE… em outros “documentos” que tais.)

 

Ah, eu te entendo, como te entendo! Queria entender menos. Eu, no entanto, tento, desesperadamente, o mínimo do movimento inverso: ao invés de me dispersar totalmente em outro(s), como tu, tento ainda uma Z. mínima, um centro mínimo a partir do qual a(s) outra(s) saiam pelo mundo.

Tenho um amigo pessoal que todos os dias manda-me e-mails, com dois pseudônimos que se revezam. Hoje, eu lhe pedi que me escreva com seu próprio nome, S., para que eu possa, em algum lugar da vida, me sentir real, um pouco que seja.

Ele respondeu: “Mas, nós somos tantos! Como vai ser?” Eu retorqui: Apesar disso, de sermos tantos, escreva-me com o seu nome, que eu respondo como Z.,a Z. mínima que me for possível.

Isto escrevemos hoje, meu amigo e eu, esses dois cheios de labirintos, esses nós, que pertencemos, efetivamente, à estirpe dos labirínticos.

Se eu pudesse, me seria cigana, assim como tu gostarias de ser o palhaço de um desses circos de periferia; como não o posso, preciso me vestir o possível de uma Z. qualquer, que não pode, esta Z., pretender a ajuda de uma fé específica ( embora reconheça o poder de todas), nem de psicanalistas, não que os menospreze, longe disso, e ainda menos de livros ou de palavras de auto ajuda ???  (também nada tenho contra elas, fique claro).

Cigana, não das que leem mãos e adivinham futuros, mas porque as ciganas perambulam pelas ruas, o que deve ser mais suave do que se poder perambular apenas por dentro de si mesmo.

Por isso tudo te entendo, ah, como te entendo! Quisera entender menos. Só devo te dizer que desses, como nós, há uma legião, todos espalhados pelo mundo, num país chamado APÁTRIA, título de  conto que escrevi há muitos, muitos anos.

Abraço fraterno de

Z. uma desconhecida.

 

Não Me Sinto Mudar – de pablo neruda / chile


Não me sinto mudar. Ontem eu era o mesmo.
O tempo passa lento sobre os meus entusiasmos
cada dia mais raros são os meus cepticismos,
nunca fui vítima sequer de um pequeno orgasmo

mental que derrubasse a canção dos meus dias
que rompesse as minhas dúvidas que apagasse o meu nome.
Não mudei. É um pouco mais de melancolia,
um pouco de tédio que me deram os homens.

Não mudei. Não mudo. O meu pai está muito velho.

As roseiras florescem, as mulheres partem
cada dia há mais meninas para cada conselho
para cada cansaço para cada bondade.

Por isso continuo o mesmo. Nas sepulturas antigas
os vermes raivosos desfazem a dor,
todos os homens pedem de mais para amanhã
eu não peço nada nem um pouco de mundo.

Mas num dia amargo, num dia distante
sentirei a raiva de não estender as mãos
de não erguer as asas da renovação.

Será talvez um pouco mais de melancolia
mas na certeza da crise tardia
farei uma primavera para o meu coração.

Pablo Neruda, in ‘Cadernos de Temuco’
Tradução de Albano Martins

 

 

EU VIM DA GERAÇÃO DAS CRIANÇAS TRAÍDAS – de lindolfo bell / timbó.sc


Eu vim de um montão de coisas destroçadas.

Eu tentei unir células e nervos, mas o rebanho morreu.

Eu fui à tarefa num tempo de drama.

Eu cerzi o tambor da ternura, quebrado.

Eu fui às cidades destruídas para viver os soldados mortos.

Eu caminhei no caos com uma mensagem.

Eu fui lírico de granas presas à respiração.

Eu visualizei as perspectivas de cada catacumba.

Eu não levei serragem ao corpo dos ditadores.

Eu recolhi as lágrimas de todas as mães numa bacia de sombra.

Eu tive a função de porta estandarte nas revoluções.

Eu amei uma menina virgem.

Eu arranquei das pocilgas um brado.

Eu amei os amigos de pés no chão.

Eu fui a criança sem ciranda.

Eu acreditei numa igualdade total.

Eu não fui canção, mas grito de dor.

Eu tive por linguagem materna, roçar de bombas, baionetas.

Eu fechei-me numa redoma para abrir meu coração triste.

Eu fui a metamorfose de Deus.

Eu vasculhei nos lixos para descobrir a pureza.

Eu desci ao centro da terra para colher o girassol que morava no eixo.

Eu descobri que são incontáveis os grãos no fundo do mar,

Mas são raros os que sabem o caminho da pérola.

Eu tentei persistir para além e aquém do ser humano, o que foi errado.

Eu procurei um avião liquidado para fazer a casa.

Eu inventei um brinquedo das molas de um tanque enferrujado.

Eu construí uma flor de arame farpado para levar na solidão.

Eu deixei um balde no poço para salvar o resto do mundo.

Eu nasci conflito para ser amalgama.

Eu sou da geração das crianças traídas.

Eu tenho várias psicoses que não me invalidam.

Eu sou o automóvel a duzentos quilômetros por hora

Com o vento a bater-me na cara

Na disputa da ultima loucura que adoeceu.

Eu sou o antimundo na medida em que se procura o não existir.

Eu faço de tudo a fonte para alimentar a não limitação.

Eu sei que não posso afastar o corpo que não transcende.

Mas sei que posso fazer dele a catapulta para sublimar-me.

Meu coração é um prisma.

Eu sou o que constrói porque e mais difícil.

Eu sou o que não é contra, mas o que se impõe.

Eu sou o que quando destrói, destrói com ternura.

E quando arranca, arranca até a raiz.

E põe a semente no lugar.

Meu coração é um prisma.

Eu sou o grande delta dos antros.

Os amigos mais atentos são as águas que me acorrem.

Eu sou o que está com você, solitário.

Quando evito a entrega, restrinjo-me.

Quando laboro a superfície é para exaurir-me.

Quando exploro o profundo é para encontrar-me.

Quando estribo os braços e pernas na praça o não é alterável.

É para andar a galope sobre a não liberdade.

Sem bandeiras que indiquem norte qualquer

Avanço das caliças.

Sem ponte fixo a espera, nem lar de maternas mãos,

Ou rua de reencontro

Instalo os meus adeuses.

Sem credo a não ser a humanidade dos que nos amam e desamam,

Anuncio a catarse numa sintaxe de construção.

Eu escreverei para um universo sem concessões.

Eu saberei que a morte não é esterco

Mas a infinita capacidade de colher no chão menos adubado,

Que poderei sorvê-la como laranja que esqueceu de madurar,

Que serei o alimento para o verme primeiro da madrugada,

Que a vida é a face que se incorpora em forma de espasmo,

Que tudo será diferente, que tudo será diferente, tão diferente…

Eu quero um plano de vida para conviver.

Ostentarei minha loucura erudita.

Eu manterei meu ódio a todos os cetros, cifras, tiranos e exércitos,

Eu manterei meu ódio a toda a arrogante mediocridade dos covardes.

Eu manterei meu ódio contra a hecatombe do pseudo-amor entre os homens.

Eu manterei meu ódio contra os fabricantes das neuroses de paz.

Eu direi coisas sem nexo em cada crepúsculo de lua nova

Eu denunciarei todas as fraudes da nossa sobrevivência.

Eu estarei na vanguarda para conferir esplendores.

Eu me abastardarei da espécie humana.

Mas eu farei exceções a todos aqueles que souberam amar.

 

 

ÉTICA EM EDUCAÇÃO – por mônica caetano / curitiba


O trabalho no campo da ética é de singular importância para a esfera educacional. Em seu desenvolvimento, certamente a comunidade escolar, como um todo, absorverá os resultados de tal intervenção podendo com isso beneficiar-se individualmente e coletivamente das reflexões que alçarem gerar durante os trabalhos. Todavia, há que se ressaltar que, a intenção em promover um trabalho de base ética é um desafio e poderá alcançar resultados a médio e longo prazos, o que requer, permanente avaliação e acompanhamento e, com esforço coletivo dos envolvidos, permanecer com implementações e exercício contínuo de tais reflexões a fim de alcançar as ações éticas tão necessárias ao desenvolvimento estrutural do ser humano.

A importância do trabalho nessa esfera, para os processos de ensino e de aprendizagem está, dentre outras, em possibilitar a todos os sujeitos implicados no processo ,desenvolverem um coletivo que oportuniza considerar cada sujeito como parte deste e que respeita a subjetividade dos mesmos, disseminando o exercício real de respeito por si e pelo outro, tendo a possibilidade de significar o respeito por si e o respeito pelos outros, considerando o que é comum e o que é individual, possibilitando assim a auto regulagem e o domínio próprio, por todos os envolvidos, ou seja, alunos,professores e demais membros da comunidade escolar.

Considero a questão da ética como princípio implícito em toda e qualquer ação educacional, pois é condição primária para que se possa estabelecer relações entre sujeitos de ação. Sendo assim, todo dia e em todas as formas de trabalho pedagógico há que se ter, por base interna, a postura ética para consigo e para com o outro, afim de que se possa fazer conhecer a essência ética como princípio de reflexão e ação.

Há que se fazer primeiramente, a apreensão e significação interna de sua dimensão, para então, através do exercício cotidiano, devido sua incorporação interna como parte do todo, refletir através dela já integrada e assim, promover a real experiência ética nas ações subjetivadas.

Só então, tendo internalizado tal conhecimento e apropriando-se dele como seu, cada sujeito terá a real possibilidade de realizar o seu processo contínuo de ensino e de aprendizagem, ratificando seu DIREITO DE APRENDER.

 

CIDINHA CAMPOS denuncia dep. JOSÉ NADER / rio de janeiro

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UM clique no centro do vídeo:

Nada há além da Arte e do belo – por tonicato miranda / curitiba


 

Chega um momento na vida que nada mais importa. Não faz mais sentido conquistar o amor das pessoas. Muito menos conquistar territórios que jamais nos pertencerão mesmo, a Terra no tempo será dos vulcões e do Sol. Nada faz sentido além da Arte durante nossa permanência planetária. Mas alguns perguntariam, o que vem a ser exatamente Arte? Onde ela se apresenta em sua plenitude? Qual Arte importa construir ou buscar ao nos dedicarmos a alguma forma de representação da estética? Não tenho, tu não terás, ele ou ela não terá, nem todos os plurais terão respostas para tal indagação. Mas é certo de que cada um buscará alcançar alguma forma de Arte, mesmo sendo no empréstimo do olhar, na palavra pronunciada, ou no torcer de narizes.

A Política o que é se não a forma como os homens tentam impor seus conceitos próprios e suas formulações sobre a maneira como deva se dar a organização social dos povos, dos agrupamentos humanos, do gentio. Nos tempos atuais, em especial em países onde as classes populares e médias ainda não atingiram grau cultural medianamente aceitável, o povo ainda elege para se ocupar da Política indivíduos que apenas querem se locupletar das benesses ofertadas pelo poder. Poder este cujos cargos e remunerações os próprios políticos definiram para si. Por isto mesmo a Política foi diminuída ao longo do tempo pelas relações exclusivas do poder pelo poder, não mais pelas ideias e por sua intenção transformadora do coletivo e do indivíduo.

Mas se a Política não é o caminho, o que dizer da Filosofia? Ora, a Filosofia é a forma como o indivíduo se coloca no mundo e no sistema de organização social, refletindo sobre sua participação no seu interior. Ou seja, é a individualidade adaptada à formatação gestada pela política praticada pelos coletivos de todos agrupamentos. Portanto, não há Filosofia sem vinculação a um momento histórico. Embora possa se abster dos fatos históricos isoladamente, não pode prescindir do tempo no qual está inserida. Assim, a Filosofia estará sempre prisioneira da atualidade na qual se reflete, ainda que possa atravessar seus conceitos em tempos passados. Ela sempre será presente e passado, muito pouco a reflexão em direção ao futuro.

Então a História poderia ser a grande motivação humana? Não. Definitivamente, não. A História como a grande tábua das marcas do tempo, contendo a cronologia humana no planeta, prima irmã da Geografia e de outras ciências correlatas, estas capazes de explicar a História do passado da Terra, pouco pode explicar sobre nosso avanço em direção ao futuro. Nada se repete, assim como o tempo não se repete. O homem avança inexoravelmente ao desconhecido. A História, com seu foco para o retrovisor dos fatos, nem mesmo o presente consegue aprisionar. Isto porque passadas algumas décadas, logo parece faltar-lhe algum parafuso na engrenagem e na memória, principiando ela mesma a duvidar do que a alimenta. Assim, a História passa após algum tempo a ser a ciência da dúvida, ou se contenta com uma das versões mais fantasiosa.

Mas então, se não é a Política, nem a Filosofia, nem a História ou a Geografia, o que poderia impulsionar a Humanidade? A Ciência? Não, também não é ela aquela capaz de agrupar os sentimentos dos humanos, transformando-os em raptores ou pitonisas do futuro. Não, a Ciência ainda que cumpra papel de destaque na busca do conhecimento sobre o desconhecido, estaca-se quando visa a aplicabilidade da descoberta, dando ao descobrimento função prática imediata. A única vantagem que leva sobre a Religião é que se apresenta sempre como curiosa, com desconfiança permanente sobre aquilo ainda não revelado. Enquanto a Religião, formadora de dogmas e de conceitos não comprovados, coloca todos numa unidade coletiva emburrecedora, sem questionamentos, totalmente anuladora das virtudes para qual fomos gerados.

Mas depois de tudo isto o que nos sobra? Ora, diria com toda sonoridade das três ou quatro letras onde ela se abriga na maioria das línguas planetária: somente existe a Arte. A Arte é a única entre todas as formulações humanas que tende a perpetuar todos pensamentos e virtudes dos seres. Não fora ela, não haveriam os próprios mitos. Ou alguém duvida que foi graças a ela que as figuras míticas de todas as Religiões se propagaram em todos os cantos da Terra? Desde Buda a Jesus; desde o Vaticano até os templos Hindus no Vietnam, na Índia, no Japão. Pela força das obras de Miguel Ângelo, de Da Vinci, pela grandiosidade das esculturas dos elefantes deuses em Bangkoc; no gigantismo presente nas dezenas de cristos espalhados em muitas cidades mundiais; ou ainda, na força da obra de Dante Alighieri. A Arte sempre emprestou seus virtuoses e seu virtuosismo às causas da Religião. E jamais disto se arrependeu.

A Arte sempre foi a tentativa humana da busca da comparação com o criador. Mesmo nele não acreditando. Mesmo nada tendo para por no lugar de Deus. Mesmo duvidando da própria existência dele. Apesar de todas estas desconfianças, o artista sempre buscou criar imagem assemelhada com sua pretensa virtude. Sempre experimentou o poder de criar. Não é à toa que muitos mais homens há e houve na produção da Arte do que mulheres. Isto porque elas podem, e muitas já experimentaram criar um ser no seu próprio ventre. Assim, ao longo da História é pequena a contribuição da mulher na produção das Obras de Arte, em especial nas Artes Plásticas. Mas existem algumas de alta gramatura na lavra do ouro produzido.

A Arte é de fato a mola propulsora a embalar o desejo de permanência dos seres sobre a pele do planeta. Quando todas as outras motivações já foram experimentadas e não mais sobra entusiasmo para qualquer outra tarefa, eis que aparece a Arte para ser a grande incentivadora dos permanecidos. Está claro que também faz uso da palavra Arte um monte do lixo produzido por cabeças vazias, por pessoas desprovidas de habilidade, de técnica e de talento. E eles, os obtusos, são capazes de gestar experiências formais e não formais, muitas delas consumidas em grande escala na sociedade consumista dos tempos hodiernos.

Mas como toda produção humana, o lixo não sobrevive ao tempo. Este imenso lixo não chega aos museus, não resiste a duas gerações, sendo logo descartado, sobram as sobras dos instrumentos ou bases para a produção da arte besta, da arte menor, da arte um destarte. Assim ocorre com a música pobre, de rápido consumo popular; assim acontece com a literatura produzida na forma de folhetim, transformada a produção de tempos em tempos em papel reciclável no rumo do papelão; ou mesmo nas aquarelas amarelecidas pelo tempo, passando à condição de água em processo de envelhecimento.

A Arte da qual falo é aquela imorredoura enquanto durar a vida planetária e o homem nela. Ela é e sempre será a grande motivação humana. Falo da arte buscada nos museus; nos compêndios das bibliotecas; nas edições especiais das grandes músicas trazidas de tempos em tempos aos nossos ouvidos pelos grandes veículos editoriais; ou presente nos acervos especiais disponibilizados aos nossos sentidos de quando em quando por um grande produtor.

Mas se esta é uma Arte especialíssima, o que a move? Diria que a grande Arte é aquela que busca o belo. Sim, mas o que é o belo em sua concepção plena? O seu belo não é o belo de outro, nem será do seu vizinho, nem da diarista do seu imóvel, nem tampouco do gerente da sua conta bancária; ou do seu filho; do seu pai; e de quem mais quiser individualizar. É verdade. O belo é o intangível. Mas o belo é também o que medianamente fascina a maioria. Quem de pé diante das meninas de Renoir, no MASP, em São Paulo, não se encanta ou não irá ser encantado? Pode ser o mais underground dos sujeitos. Pode ser o mais roqueiro dos indivíduos, ou mesmo cantor de música sertaneja, vai se emocionar. Vai perceber pairando por ali, naquelas luzes e nos vestidos diáfanos, um quê de encantamento impossível de não levá-lo a contrair sua pele, abrir seus poros.

A Arte dita maior é capaz disto. Quem ouvindo Garota de Ipanema, Carinhoso, Samba de Verão, tocadas com flauta doce, não irá se emocionar? Ou quem ouvindo Bach, ou as Bachianas de Vila Lobos, não irá se aperceber de estar diante de uma Arte que transcende? Todas capazes de elevar o espírito. Será não entenderá a luta do artista em busca da sua própria divindade? Assim é a Arte. Assim espera-se seja ela: sublimando o belo. Não há e jamais haverá algo adiante do belo. O belo é assim como o alvo ao qual nosso dardo fura o tempo em busca da ancoragem para nele se cravar. Mas a cada aproximação percebemos faltam-nos mais espaços a percorrer. O alvo parece viajar na mesma velocidade da nossa ânsia em furar o imaginário muro onde ele está. Assim é também a constante insatisfação do artista com a sua própria arte, onde mais um retoque é sempre possível, menos uma palavra ou menos uma pincelada pode aproximá-lo do belo.

Não há saída para a Humanidade. Temos de continuar a buscar o belo. Pelo menos alguns devem continuar nesta corrida, infelizmente apenas a poucos com reta de chegada. Muitos certamente se verterão à Política, à Filosofia, à História, às Ciências e mesmo a arte pela arte. Mas aqueles capazes de se entregar ao belo, à busca da perfeição, depurando textos; pincelando telas; esculpindo um osso, uma madeira ou uma pedra; ou regravando vezes seguidas uma música; repaginando a letra de uma canção; poderá certamente beber da água da fonte do oásis, encontrar uma cacimba no meio do cerrado, ou voar qual Ícaro e Dédalo sem que o Sol queime suas asas. O belo deve ser a meta da Arte e do artista. Aquele que o procurar estará sempre acima de si mesmo, sem cair nas tentações de Santo Antonio ou nas tentações do capitalismo humano. Brincar de ser Deus muitos tentam, mas levar adiante a tarefa de com ele jogar uma partida inteira de damas, estes são poucos. E Deus sempre premia seus opositores. Que o digam os museus e a eternidade dos nossos olhares e ouvidos.

 

HERMES BAR convida: / curitiba

A próxima Nagasaki: o medo nuclear assombra o mundo / japão

Uma segunda Hiroshima poderia acontecer com o acidente nuclear no reator de Fukushima. Onde será a próxima Nagasaki? Nos EUA, com os seus 23 envelhecidos reatores de desenho idêntico aos de Fukushima? Na França, o país mais dependente de energia nuclear do mundo?Provavelmente não na Alemanha ou na Venezuela, que estão cortando os seus programas nucleares; nem no Reino Unido, o líder mundial de conversão de energia eólica captada no mar. Nem mesmo na China, um modelo em energia solar que está revendo seus planos para novas usinas nucleares. O artigo é de Yoichi Shimatsu.

Yoichi Shimatsu – Global Research



Uma segunda Hiroshima poderia acontecer com o acidente nuclear parcial no reator nuclear de Fukushima 1. Nós só podemos esperar agora que o eventual custo em vidas não chegue perto daquele da primeira catástrofe atômica mundial.

A comunidade internacional está agora perguntando: onde será a próxima Nagasaki? Nos EUA, com os seus 23 envelhecidos reatores de desenho idêntico aos Mark 1 de Fukushima, da GE, junto com uma dúzia mais de outros levemente modificados? Na França, o país mais dependente de energia nuclear do mundo?

Provavelmente não na Alemanha ou na Venezuela, que estão cortando os seus programas nucleares; nem no Reino Unido, o líder mundial de conversão de energia eólica captada no mar. Nem mesmo na China, um modelo em energia solar que agora está revendo seus planos para novas usinas nucleares.

Muitas pessoas também estão imaginando: como pode que a única nação a experimentar um bombardeio atômico possa ter se tornado tão confiante em energia nuclear? A resposta é ao mesmo tempo simples e complicada. Nas economias modernas, a energia que faz funcionar máquinas está interligada com a segurança nacional, a política externa e a guerra.

Progresso à base de urânio
A Segunda Guerra Mundial foi também uma disputa por combustíveis fósseis. Um Japão sedento de energia invadiu a China por seu carvão e a Indonésia por suas reservas de petróleo. Blitzkriegs da Alemanha nazista miraram campos de petróleo na Romênia, na Líbia e na região do mar Cáspio. Os EUA e o Reino Unido lutaram contra o Eixo para recuperar o controle que eles tinham sobre os combustíveis fósseis mundiais, e eles seguem fazendo o mesmo em conflitos com a nações da OPEC e para controlar a Ásia Central e a plataforma continental do oeste da Ásia.

Para evitar uma nova guerra no Pacífico, Washington tentou afastar o Japão pós-guerra de sua dependência de carvão e petróleo. Conforme a indústria japonesa renascia por volta das Olimpíadas de Tóquio, em 1964, os EUA empurraram ao Japão a adoção de uma energia do futuro, “segura e limpa” – a energia nuclear. À General Electric e à Westinghouse logo foi dada a chance de instalar uma rede de usinas nucleares ao redor do país, enquanto Tóquio foi incluído na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e ao Tratado de Não-Proliferação. Diferente de outros recursos combustíveis, a energia nuclear estava em completa propriedade dos EUA, que não apenas dominava a mineração de urânio como também a produção de boro, o absorvente mineral neutro necessário para reações nucleares controladas. Laboratórios dos EUA, incluindo Los Álamos, Lawrence Livermore e Oakridge são as escolas de graduação dos físicos nucleares.

No mesmo período de atração intoxicante pela tecnologia, a Feira Mundial de Nova York de 1964-65 foi o baile de debutantes do futuro “universal” brilhante baseado na divisão do átomo. O pavilhão da General Electric era chamado de “terra do progresso” com uma apresentação multimídia de uma “explosão de plasma” da fissão do plutônio dedicada a visitantes boquiabertos. O Japão serviu como modelo internacional de cooperação de poder atômico, sob a proteção norte-americana. O complexo nuclear de Fukushima, desenhado pela General Eletric (GE), foi colocado em funcionamento em 1971.

O mito moderno de energia nuclear segura foi por vezes combatido e por vezes aceito com ressalvas pelo público japonês. Em anos mais recentes, percepções uma vez negativas em relação ao provedor nuclear Tokyo Electric Power Company (Tecpo) mudaram completamente. Um jovem artista gráfico de computadores de Tóquio me disse que sua geração cresceu pensando que a Tepco “tinha uma aura divina de infalibilidade e poderes maiores que o do governo”. Minha experiência como editor na imprensa japonesa revela como essa imagem corporativa foi promovida com comerciais que faziam falsas alegações de preocupações ambientais e pesados investimentos em anúncios de televisão e mídia impressa.

Energia Atômica e a Guerra Fria
O Japão não desconhecia a energia atômica. Durante a Segunda Guerra Mundial, os Aliados e o Eixo competiam por um exótico novo recurso – o urânio. Enquanto o Projeto Manhattan foi secretamente manufaturando a bomba no Novo México, o Japão abriu minas de urânio em Konan, Coréia do Norte, que hoje são a fonte do programa de energia nuclear de Pyongyang.

Logo depois da vitória dos Aliados, a União Soviética buscava quebrar o monopólio nuclear dos americanos ao estabelecer um protetorado chamado República do Turquistão Oriental na província do noroeste da China de Xinjiang. Os ricos depósitos de Urânio próximos a Burjin, no sopé das montanhas Altai, providenciaram o material para o desenvolvimento das capacidades nucleares soviéticas.

As apuradas escavações nas minas soviéticas deixaram para trás um curso de doenças causadas pela radiação, principalmente entre uigures e cazaques que habitavam a região, assim como para comunidades rio abaixo, no oeste do Cazaquistão. Cientistas cazaques e chineses desde então passaram a tratar o solo, usando árvores com capacidade de reunir os isótopos para limpar a terra contaminada.

Para evitar que os soviéticos colocassem as mãos em um arsenal nuclear, a administração [do presidente norte-americano Henry] Truman iniciou um programa secreto para controlar todo o suprimento mundial de urânio. A operação Murray Hill se focou em sabotar as operações de mineração nas montanhas Altai. Douglas MacKiernan, operando sob a cobertura do vice cônsul dos EUA em Urumti, organizou um time de anticomunistas russos e guerrilhas cazaques para bombardear as minas soviéticas. Forçado a fugir rumo a Lassa, Tibet, MacKiernan foi baleado e morto por um guarda de fronteira tibetano e é hoje considerado o primeiro agente da CIA morto em ação.

As operações globais de Murray Hill são tocadas hoje pelo escritório de contra-proliferação da CIA. Uma ideia de suas operações clandestinas estão no livro “Fair Game” [ainda não lançado no Brasil], de Valerie Plame, a agente exposta durante a administração Bush.

Batalhas abertas e operações secretas contra inimigos nucleares foram travadas em campos tão distantes quanto Paquistão, Egito, Líbia, Argentina, Indonésia, Birmânia e Iraque – e também contra os suspeitos de sempre Irã e Coreia do Norte.

Ameaça ao público dos EUA
Os problemas de Fukushima estão colocando Washington em uma situação difícil. Se esses vazamentos de radiação tivessem acontecido na Coreia do Norte ou no Irã, Washington poderia ter convocado uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, demandando inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica e impondo duras sanções e possivelmente intervenção militar. Os derretimentos, porém, são de reatores desenhados nos EUA e operados sob protocolos criados nos EUA.

A administração [do atual presidente dos EUA Barak] Obama tem, portanto, desconsiderado a seriedade do atual drama nuclear que sacode o seu aliado Japão. Em um pouco convincente tom defensivo, o presidente dos EUA tem apoiado o uso da energia nuclear como parte de uma “mistura energética” que irá dar suporte à economia dos EUA. Sua posição pró-nuclear é irracional e irresponsável, quando países aliados, incluindo o Reino Unido, a Holanda e a Alemanha estão fazendo pesados investimentos em fazendas de energia eólica no mar do Norte para diminuir sua dependência dos combustíveis fósseis.

A comunidade internacional está bem ciente dessas políticas de duas medidas. Os EUA em silêncio aplaudiram os ataques aéreos de Israel contra a usina nuclear de Osirak, de Saddam Hussein, em 1981, e tem exigido sanções cada vez mais estritas contra Teerã e Pyongyang. Mas Washington se nega a liderar pelo exemplo, dando de ombros aos apelos do movimento antinuclear para impedir a construção de novos reatores e se fazendo de surdo aos pedidos de cidadãos de Hiroshima e de Nagasaki para desarmamento total. A campanha dos EUA para um monopólio atômico está fazendo que poderes [nações] menores busquem obter capacidade nuclear. Esses países não são parte de um “eixo do mal”, eles estão apenas jogando o jogo da sobrevivência pelas regras – e não pelas palavras – de Washington.

Nos dias e meses que virão, os próprios cidadãos norte-americanos estarão lamentando a apavorante chegada da radioatividade. Terrorismo é algo praticamente esquecido, quando uma ameaça muito maior talvez logo esteja cobrindo os EUA, dos céus aos mares. A menos que Washington passe rapidamente a repudiar seu próprio vício nuclear, o espectro de uma nova Nagasaki irá lançar sombras sobre a terra dos livres e casa dos bravos.

(*) Yoichi Shimatsu foi editor do Japan Times Weekly

Tradução: Wilson Sobrinho

 

Trinta e cinco anos após golpe, Argentina condenou 196 repressores da ditadura

“Muitos são os santos que estão entre as grades de Deus e tantos assassinos gozando deste sol”, dizia trecho da canção “Las Madres del Amor” de León Gieco, músico perseguido pela ditadura militar argentina (1976-1983), que deixou um saldo estimado de 30 mil desaparecidos.

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A música, composta em 2001, lamentava que muitos dos envolvidos em crimes atrozes cometidos no período ainda estivessem impunes, desfrutando de sua liberdade sob o sol. Dez anos depois, no entanto, a Argentina avançou significativamente em matéria de Direitos Humanos.

Efe

Acerto de contas: Videla (d) e Menendez (e) no banco dos réus em tribunal de Córdoba

No dia em que a nação lembra o aniversário de 35 anos do golpe de estado que deu início aos anos de chumbo, as organizações de Direitos Humanos, como as Mães e Avós da Praça de Maio, os H.I.J.O.S. (Filhos pela Identidade e Justiça, contra o esquecimento e o silêncio, na sigla em português), programam passeatas e atividades culturais para recordar a data e reivindicar a luta pela Memória, pela Verdade e pela Justiça, como fazem anualmente.

Apesar da efeméride dolorosa, no entanto, tais manifestações podem estar permeadas de otimismo e esperança: somente no transcurso de 2010, a justiça argentina concluiu 19 julgamentos e condenou 109 repressores. Destes, 11 já cumpriam pena por atuação como agentes de repressão e 98 foram condenados pela primeira vez.

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Os dados, publicados pela Unidade Fiscal de Coordenação e Acompanhamento dos casos de violações aos Direitos Humanos cometidos durante o terrorismo de Estado, revelam que o número de condenações é maior do que o dobro das ditadas em 2009, que chegaram a somente 36.

Segundo o informe, até dezembro de 2009, 634 pessoas estavam sendo processadas, número que passou para 820 em 2010. O número total de julgados e de condenados desde 1983, de acordo com o informe, é de 217 e 196, respectivamente. Os dados incluem, no entanto, sentenças que não foram cumpridas, devido aos decretos de anistia a militares acusados de violações dos Direitos Humanos, sancionados pelo ex-presidente argentino, Carlos Menem, em 1989 e 1990.

Wikicommons

Estela de Carlotto, presidente das Avós, e o ex-presidente Néstor Kirchner na Casa Rosada, em 2006

Fim da impunidade

A anistia foi uma entre outras travas à devida investigação dos crimes do período e punição dos acusados. Em dezembro de 1986, durante o governo de transição para a democracia de Raúl Alfonsín, foi criada a Lei de Ponto Final, que estabelecia a paralisação dos processos judiciários contra os autores das prisões arbitrárias, torturas e assassinatos durante a ditadura militar, que não tivessem sido processados até determinado prazo.

No ano seguinte, o mesmo governo decretou a Lei de Obediência Devida, com a qual, militares de patentes inferiores a Brigadeiro não poderiam ser julgados, porque estavam somente cumprindo ordens. Ambas as leis excetuavam somente os responsáveis por “substituição de estado civil e subtração e ocultação de menores”. Estima-se que, com as determinações, ao menos 1,8 mil militares tenham sido anistiados.

Finalmente, em 2005, durante a presidência de Néstor Kirchner, as leis de anistia, que já haviam sido anuladas em 2003, foram consideradas inconstitucionais pela Corte Suprema e derrogadas, o que permitiu a retomada dos julgamentos.

Luciana Taddeo

Apoiadores da ONG H.I.J.O.S. se manifestam em Córdoba, onde mais de 30 repressores enfrentaram a justiça

Queixas das organizações

Outro passo que sinalizou a aproximação desta gestão com as políticas de Direitos Humanos foi em 2004, quando após sua ordem, o então chefe do Exército, o tenente-general Roberto Bendini, tirou os quadros dos ex-ditadores Jorge Rafael Videla e de Roberto Bignone – ambos acusados e com processos em andamento –, das paredes do Colégio Militar.

O gesto determinou o caminho que seria tomado por sua gestão. A partir do fim das leis de impunidade, o Estado argentino efetivou 42 julgamentos orais com sentenças em todo o país. Entretanto, para a organização H.I.J.O.S. da cidade de La Plata, capital da província de Buenos Aires, a justiça é lenta e o número de condenados ínfimo quando comparado com a quantidade de repressores impunes.

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“Com estes julgamentos, só 10% dos repressores processados foram condenados”, afirmaram, em um comunicado. “Houve 16 absolvições de integrantes das patotas do Terrorismo de Estado e, por mais que haja uma cifra similar de presos a espera de julgamento, a maioria dos acusados se encontra em liberdade, há dezenas de foragidos e muitos morreram impunes antes de receber uma sentença”, reclamam.

Outra queixa das organizações de Direitos Humanos é a possibilidade de prisão domiciliar, da qual se beneficiam 42,2% dos condenados. Segundo o relatório da Unidade Fiscal, 51,8% deles está em unidades penitenciárias, 3,7% em dependências das forças de segurança, 1,7% em hospitais e 0,4% no exterior.

Apesar das demandas dos ativistas, o avanço dos julgamentos na Argentina é surpreendente quando comparado com a situação brasileira, onde a Lei de Anistia vigora desde 1979. Em abril de 2010, o Supremo Tribunal Federal se negou a revisar a mesma, impedindo o julgamento dos militares envolvidos em crimes durante a ditadura (1964-1985).

As expectativas atuais recaem sobre o projeto de lei para a criação da Comissão Nacional da Verdade, que pretende esclarecer violações de Direitos Humanos na ditadura brasileira.

operamundi.

Mísseis do bem!

sinfronio.

COLECIONADOR – por jorge lescano / são paulo

 

Para Carminha Favero Gongora

Às vezes, esquecendo sua origem tcharrua e seu aspecto de contrabandista turco, assume o ar de quem tem o direito de entrar numa loja de antigüidades e perguntar o preço de um (auto?) retrato anônimo do século XIX, ou de um estojo para escrita japonês laqueado, e ouvir impassível o valor e balançar a cabeça aprobativamente e passar ao exame de outro objeto sem que isso provoque o sorriso do vendedor.

No mundo de reflexos que são estes locais, o homem balança a cabeça. Aprova, talvez, o gosto do senhor de estranho sotaque – nessas oportunidades veste seu norueguês básico, casaco de veludo marrom e bigode fin de siècle –, que com dedos finos manuseia um álbum de litografias antes de cumprimentar discretamente e sair em silêncio.

Às vezes finge olhar algo na vitrina para observar o lojista. Trata-se de um connaiseur, deve estar pensando na língua dos antiquários, e a satisfação de tratar com tais indivíduos compensará um pouco a magreza dos lucros provenientes dos compradores de sua mercadoria.

A prodigiosa memória permite-lhe que, ao chegar a casa, faça o inventário detalhado de tudo o que viu, lançando na coluna do crédito o total das compras não efetuadas. Agrada-lhe este tipo de poupança e a recomenda aos seus amigos.

Não poderia dizer se seria mais feliz possuindo os objetos. Apropria-se de suas texturas, volumes, proporções, cores, brilhos, e este prazer terá toda vez que torne a visitar a loja. E se as peças tiverem sido vendidas, outras, imprevisíveis, ocuparão sua atenção.

Não é raro que saia para tais excursões estimulado pela curiosidade do que irá encontrar. Um códice asteca? Uma fíbula de prata? Uma teorba? A sentença de morte de uma figura histórica?

Uns juntam objetos, ele possui o uso dos objetos. Entre outras preciosidades, seu acervo contém: um entardecer na Praça Venceslau, em Praga; Solveig na voz de Elly Ameling; a cor e a forma e o aroma da flor de manacá; figuras eróticas da cerâmica mochica; os arabescos de um manuscrito súfi; o rosto de Leonardo da Vinci recriado pela umidade num muro branco; o sabor áspero do caqui verde; um sonho de certo mestre taoísta; o olhar provocante de uma duquesa granadina.

Às vezes lembra um personagem de Daumier. A gravura antecipara a curvatura de sua espinha e a atmosfera – não há termo mais apropriado – de sua personalidade, que aos jovens sugere “coisa de museu”. A seu modo, ele também é uma reprodução ou um esboço. Sente-se então algo a ser esquecido entre o riso mudo de uma capa de revista e comida sem sal e a pele do pêssego e o silêncio entre dois movimentos de um concerto.

 

 

DESCONHECIDOS

 

 

Os senhores Fulano e Sicrano tinham-se desconhecido acidentalmente: um não existia para o outro.

Aquele dia era, para o senhor Fulano, um dia exatamente igual a outro. Como todos os dias, pegou seu boné abandonado em cima de um móvel e saiu, corretamente vestido.

O senhor Sicrano, corretamente vestido, entrou no carro. Acendeu um cigarro. Pôs o motor em marcha e se preparou para voltar a sua casa pelo caminho de sempre.

O senhor Fulano passeava diariamente pelas mesmas ruas. Conhecia cada calçada ao ponto de saber onde havia uma laje solta ou de cor diferente. Costumava dizer que conhecia o bairro melhor que as palmas de suas mãos. Não se veja nisto qualquer singularidade de caráter. O senhor Fulano era um homem igual a outros milhares, como eles, desconhecia as palmas de suas mãos.

O senhor Sicrano era capaz de descrever todos os buracos do asfalto, as esquinas e os faróis que existiam no percurso de sua loja até sua casa.

Foi um segundo, talvez menos.

Algumas testemunhas disseram que o motorista ia distraído. Outras, pelo contrário, garantiam que o distraído fora o pedestre. Vozes anônimas afirmam que o senhor Beltrano, a quem eu, Lescano, não conheço, tirou o chapéu respeitosamente e disse: descanse em paz.

 

 

 

Arnold Schwarzenegger visita o Pará com James Cameron

Artistas conversaram com índios sobre a usina de Belo Monte, em Altamira.
Diretor de ‘Avatar’ já havia manifestado ser contrário à construção.

 

Schwarzenegger 2 (Foto: TV Liberal)Schwarzenegger e Cameron no aeroporto em Altamira (PA). (Foto: TV Liberal)

O ex-governador da Californa Arnold Schwarzenegger teve nesta quarta-feira (23) uma reunião com índios em Altamira, no sudoeste do Pará, para ouvir a comunidade local sobre a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.

O ator chegou ao local acompanhado do cineasta James Cameron, diretor de “Avatar”, que já esteve outras vezes na região do Xingu e tem apoiado os índios contrários à construção do empreendimento. Eles deixaram o Pará por volta das 14h  com destino a Manaus, onde participam de um evento sobre sustentabilidade.

Schwarzenegger (Foto: TV Liberal)Ex-governador está no Brasil para participar de fórum de sustentabilidade. (Foto: TV Liberal)

tv liberal.

MARILICE COSTI envia carta aberta à presidenta DILMA ROUSSEFF / porto alegre

Querida Presidente:

Hoje pensei numa forma de a contatar para lhe enviar a revista  O CUIDADOR. E, ao chegar em casa, uma pessoa no Facebook, sem saber disso, passa-me o seu acesso. Considero isso o movimento do coletivo, cuja forma de energia desconhecemos, onde está a solidariedade, que é onde nosso trabalho se insere. E ela, a energia, é real.

Sou cuidadora de portador de sofrimento psíquico há 39 anos e por isto é que iniciei este projeto. Há três anos, edito a revista que é para apoiar a qualquer cuidador, dar-lhe orientação, apoio e fundamentalmente, alento e partilha nas dificuldades e nas alegrias. Durante a sua criação, dei-me conta que todos somos cuidadores ou somos sociopatas! Cuidamos do amigo, do irmão, dos pais, de pacientes, de funcionários, de muitas pessoas. Existe um universo enorme de cuidadores invisíveis, os quais procuro trazer na revista, também na área pública.

A revista é também da comunidade, que tem ali seu espaço de “FALA” (e-mails e cartas) e “Depoimentos” onde conta sua história – se, ao cuidar, construiu-se, tornando-se um ser humano melhor – os quais acompanho pessoalmente por e-mail.

Seguimos com recursos próprios e muito trabalho, uma equipe mínima. Mas não abandonaremos esse projeto porque é o motivo atual da minha vida.

Como mãe e amiga de muitos familiares com problemas similares, solicito que amplie o seu olhar direcionando-o também aos cuidadores com filhos com problemas mentais. O problema é muito grave. Há pessoas mal atendidas na rede SUS (diagnósticos inadequados, logo, o medicamente está errado), consultas psiquiátricas demoram muitos meses, há CAPS em muitos pontos do país sem pessoal (apenas o prédio), há falta de leitos para internações, as moradias chamadas de residenciais terapêuticos estão sem regulamentação e sem fiscalização ou não existem, há falta de acolhimento (digo colo mesmo, abraço e empatia!) e cuidados adequados a nossos filhos que, ao morarem nessas casas ficam à mercê de cuidadores despreparados (alta rotatividade), até porque falta regulamentação, subsídio, estímulo para a criação desses lugares de cuidar. É importante quebrar paradigmas: não morar com o filho não é desassisti-lo, mas cuidar de si para ter tempo para amá-lo.

Há muitas experiências novas pelo Brasil, mas pouco se sabe. Na revista, temos espaço para contar e dizer que nossos filhos precisam de exercícios, de arteterapia, de alimentação nutricional, de escuta, sem que se tenha que pagar vários salários mínimos, o que é impossível à grande maioria da população.

Qual a diferença de saírem de manicômios e ficarem desassistidos em casas sem fiscalização? Então, os pais ou familiares, cansados do cuidado intermitente, adoecem junto no ato de cuidar, porque não têm vida social realizadora. As famílias cansam, os maridos vão embora, as mães ficam com tudo. E quando elas se forem?  Este é o maior medo dos familiares, que a mãe morra antes do filho portador, o que é muito comum.

Além disso, saber que nossos filhos são cuidados como cidadãos, é o que dá saúde à toda família.

Coloco-me à disposição, pois tenho plena certeza, que um cuidador bem cuidado, melhor cuidador será!  Este é o nosso mote na revista que está em seu Ano III, que passou a ter o subtítulo “Orgulho de Ser” para aumentar a autoestima dos cuidadores, a qualquer pessoa que exerça o cuidado em qualquer instância, pois quando ele é prolongado gera síndromes (a do Cuidador) que só é reconhecida pelo MT para os profissionais do cuidado. Nunca para as mães, cuidadoras eternas.

Certa de sua atenção,

Marilice Costi, editora-chefe, arquiteta e arteterapeuta – Porto Alegre/RS

http://www.ocuidador.com.br

 

ELIZABETH TAYLOR entregou as “moedas para o barqueiro” nesta quarta-feira em LOS ANGELES /eua

A atriz Elizabeth Taylor morreu vítima de insuficiência cardíaca aos 79 anos nesta quarta-feira (23) em Los Angeles, informou a imprensa internacional como ABC NewsCNN. Ela estava internada no hospital Cedars-Sinai Medical Center havia dois meses.

“Atriz lendária, mulher de negócios e ativista sem medo, Elizabeth Taylor morreu de maneira tranquila hoje no Hospital Cedars-Sinai de Los Angeles”, afirma um comunicado, de acordo com a agência AFP. “Ela estava cercada pelos filhos – Michael Wilding, Christopher Wilding, Liza Todd e Maria Burton”, acrescenta o texto, que também lembra que a artista tinha dez netos e quatro bisnetos.

Elizabeth Rosemond Taylor nasceu em 1932, em Londres, Inglaterra. Conhecida como Liz Taylor, iniciou a carreira artística aos dez anos, logo depois de se mudar para os Estados Unidos.

Liz participou de filmes infanto-juvenis e descobriu o amor pelos estúdios de filmagem, de onde não quis mais sair. Evoluindo como atriz talentosa e respeitada pela crítica, nos anos 50 filmou dramas, como Um lugar ao Sol, com o ator Montgomery Clift; Assim Caminha a Humanidade, com Rock Hudson. Nessa década fez ainda A Última Vez Que Vi Paris, ao lado de Van Johnson e Donna Reed.

Elizabeth foi reverenciada como uma das mulheres mais bonitas de todos os tempos. Sua marca registrada sempre foram os traços delicados e os olhos cor azul-violeta, que encantaram gerações.

A atriz também ficou famosa pelos inúmeros casamentos (oito ao todo), sendo o mais conhecido com o ator inglês Richard Burton, com quem se casou duas vezes e fez duplas em vários filmes nos anos 60, como o antológico Cleópatra e o dramático Quem tem medo de Virgínia Woolf?, em que ela ganhou o segundo Oscar. O primeiro prêmio veio em 1960 por O Número do Amor. Nessa época, Liz sagrou-se a atriz mais bem paga do mundo.

Em 1985, com a morte de seu grande amigo, o ator homossexual Rock Hudson, Elizabeth Taylor iniciou uma cruzada em favor dos portadores de aids. Em 2004, a diva passou vários meses de cama devido aos efeitos de uma grave escoliose, uma fratura na espinha, falência cardíaca congestiva, úlceras, além de episódios de bronquite aguda e pneumonia.

Em 1997, a atriz passou por uma delicada cirurgia para remover um tumor do cérebro. No passado, a estrela também já teve problemas com o vício em álcool e drogas.

Confira a filmografia:
Searching for Debra Winger (2002)
Get Bruce (1999)
The Flintstones – O Filme (1994)
Common Threads: Stories from the Quilt (1989)
Michael Jackson: The Legend Continues (1988)
Moonwalker (1988)
Genocide (1982)
A Little Night Music (1978)
Ana dos Mil Dias (1969)
A Megera Domada (1967)
O Pecado de Todos Nós (1967)
Os Farsantes (1967)
Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1966)
Adeus às Ilusões (1965)
Cleópatra (1963)
Gente Muito Importante (1963)
Disque Butterfield 8 (1960)
De Repente no Último Verão (1959)
Gata em Teto de Zinco Quente (1958)
A Árvore da Vida (1957)
Assim Caminha a Humanidade (1956)
A Última Vez que Vi Paris (1954)
No Caminho dos Elefantes (1954)
O Belo Brummel (1954)
Ivanhoé – O Vingador do Rei (1952)
Quo Vadis (1951)
Um Lugar ao Sol (1951)
O Pai da Noiva (1950)
Quatro Destinos (1949)
Príncipe Encantado (1948)
As Delícias da Vida (1947)
Nossa Vida com Papai (1947)
A Mocidade é Assim Mesmo (1944)
Evocação (1944)
Jane Eyre (1944)
A Força do Coração (1943)

 

FLORIPA 285 anos HOJE! /Brasil

Parabéns Floripa! Capital catarinense completa 285 anos nesta quarta-feira 23/03/2011.

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Qual cidade queremos para esta Ilha? – por amilcar neves

A pergunta deveria ter sido feita na década de 1950. No mais tardar, no início dos anos 1960. Aliás, deveria ter sido feita a pergunta e dada a resposta. Qual cidade queremos plantada nesta Ilha?

Talvez pergunta e respostas (nunca seria uma única resposta) tenham ocorrido. Mas aí veio 1964, o golpe militar apoiado por civis oportunistas e que derrubou o presidente democraticamente eleito, que rasgou a Constituição, que implantou uma ditadura cruel e que espalhou o terror pelo aís – terror de Estado, inadmissível sob qualquer argumento. Durante 21 anos ninguém pôde impunemente perguntar nada e, menos ainda, discutir caminhos, alternativas, opções, ideais. Não se podia viajar para o exterior e ver o que acontecia lá fora, não existia a internet pulverizada em cada computador. Não havia sequer computadores pessoais. }O que acontecia lá fora por si só já questionava o que se fazia aqui. Daí a censura ao pensamento crítico e o controle do que as pessoas liam, viam ou aonde iam. Ditaduras funcionam assim: implantam o medo como política de governo mas têm um medo terrível de ideias, de palavras, de livros e de sonhos. Estas coisas costumam ser muito perigosas.

Assim, onisciente, a ditadura se associou a empresários gananciosos, se apoiou em políticos carreiristas, seduziu com o falso (e caríssimo) milagre brasileiro a classe média deslumbrada e, aqui, neste pedaço de terra cercado de água por todos os lados, aterrou as baías e derrubou as casas velhas e abateu as árvores e permitiu a especulação desenfreada: nada de um projeto urbanístico, nada de avenidas nos bairros, nada de aproveitamento decente do mar, nada de paisagismo, nada de praças, parques e áreas verdes – o mar da Baía Sul, por exemplo, poderia continuar chegando até o Mercado Público e a Praça XV de Novembro, até o Forte Santa Bárbara, a sede dos clubes de remo e o Centro da cidade, até a Alfândega e o Miramar (nada justifica a sua demolição arbitrária) através de amplos braços de mar que possibilitassem a navegação em canais no meio de gramados frequentados pelas pessoas.

(Claro que esta redefinição urbanística ainda pode ocorrer: é bem mais barata do que construir uma Capital no centro geográfico do Estado, como querem alguns, como se a gestão pública a partir do ponto central fosse fundamental para o sucesso administrativo quando as alternativas de comunicação instantânea já estão à disposição dos mortais comuns. Fundamentais são seriedade de propósitos e honestidade de princípios, que parecem faltar a essa tese recorrente de centralização e à imensa maioria dos nossos homens públicos.)

O início simbólico de tudo o que se seguiu, o triste fim da cidade de Eduardo Dias, foi o soterramento da Ilha do Carvão, na década de 1970, e a demolição do castelinho que ali havia, o qual supria de combustível as embarcações que singravam as duas baías em função de um porto que já existiu no Centro da cidade: ali se fincaram as patas da ponte que leva o nome do governador que a implantou.

Hoje, o que nos resta é isso: o cinismo e um vício de botar tudo abaixo antes que alguém tenha a péssima ideia de tombar (uma árvore, um casarão histórico, uma área pública, um pedaço de manguezal) e uma cidade que perdeu sua identidade e todo o charme histórico. Uma cidade entupida, uma cidade/moderna igual a qualquer outra no mundo.

Hoje, só nos resta a Ilha. Mas por quanto tempo ela ainda resistirá, já tão gravemente mutilada também?

 

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foto do DC.

Retrato falado de um velho japonês – de solivan brugnara / quedas do iguaçu.pr

 

 

Seus olhos são baços e pequeninos

delicadamente colocados

sobre a renda das rugas.

Mas seu olhar tem uma imensidão que

lembra o mar.

O ar de oitenta anos de sorrisos

desgastaram seus dentes

como o vento, uma rocha.

Ele tem um chuvisco com

arco-íris cada vez que fala contra o sol

e suas palavras rodam

nos cérebros como

folhas de outono

quando entram pela janela dos ouvidos.

 

Senado divulga vídeo no qual Sarney diz que Tião Viana vazou dossiê / brasilia

Episódio faz parte da biografia de Sarney, que será lançada nesta terça.
Assessoria informou que Viana ainda não decidiu se irá se manifestar.

O presidente do Senado, José Sarney, antecipou alguns episódios de sua biografia, escrita pela jornalista Regina Echeverria. O livro de 600 páginas será lançado, às 19h, desta terça feira, 22, em Brasília, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

Em um trecho, Sarney relembra um momento marcante de sua vida: a convivência política com o então desafeto, o senador Vitorino Freire (1908-1977), que ameaçou arrancar-lhe o bigode à pinça. “No Senado havia um suspense, quanto a um encontro violento que nos dois poderíamos ter”, disse Sarney.

O presidente do Senado também comentou a crise dos atos secretos no Senado Federal, em 2009.

Regina Echeverria é jornalista, vencedora do Prêmio Esso de Jornalismo e especialista em biografias. É dela o sucesso “Só as Mães são Felizes”, que conta a história de Cazuza. Sarney, a Biografia já vendeu 15 mil exemplares, antes mesmo do lançamento

UM clique no centro do vídeo:

O SEMEADOR de ESTRELAS – kaunas.lituânia

O Semeador de Estrelas é uma estátua localizada em Kaunas, Lituânia.


Durante o dia passa desapercebida.

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Mas quando a noite chega a estátua justifica seu nome…

LIBERDADE – de miguel torga / portugal

Liberdade

 

 

— Liberdade, que estais no céu…
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

— Liberdade, que estais na terra…
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.

Miguel Torga, in ‘Diário XII’

 

MARCHA NUPCIAL – de cesar vallejo / perú

MARCHA NUPCIAL

A la cabeza de mis propios actos,
corona en mano, batallón de dioses,
el signo negativo al cuello, atroces
el fósforo y la prisa, estupefactos

el alma y el valor, con dos impactos
al pie de la mirada; dando voces;
los límites, dinámicos, feroces;
tragándome los lloros inexactos,

me encenderé, se encenderá mi hormiga,
se encenderán mi llave, la querella
en que perdí la causa de mi huella.

Luego, haciendo del átomo una espiga,
encenderé mis hoces al pie de ella
y la espiga será por fin espiga.

 

 

LIMITES – juan gelman / argentina

limites

 

¿Quién dijo alguna vez: hasta aquí la sed,

hasta aquí el agua?

 

¿Quién díjo alguna vez: hasta aquí el aire,

hasta aquí el fuego?

 

¿Quién dijo alguna vez: hasta aquí el amor,

hasta aquí el ódio?

 

¿Quién dijo alguna vez: hasta aquí el hombze,

hasta aquí no?

 

Sólo la esperanza tiene las rodillas nítidas.

Sangran.

 

 

limites

 

Quem disse alguma vez: até aqui a sede,

até aqui a água?

 

Quem disse alguma vez: até aqui o ar,

até aqui o fogo?

 

Quem disse alguma vez: até aqui o amor,

até aqui o ódio?

 

Quem disse alguma vez: até aqui o homem,

até aqui não?

 

Só a esperança tem os joelhos nítidos.

Sangram.

 

 

A inescapável pequeneza do ser ( quem dera ) – por omar de la roca / são paulo

 

Sem fazer caso da data, foi em 1975 ou 76. Ainda tenho os tíquetes, mas estão escondidos. Anos complicados. Mas tiveram seus pontos fortes. Estávamos envolvidos com a Áustria graças a alegria que A Noviça Rebelde nos transmitia. Éramos seres que se apoiavam um no outro, virgens, que tínhamos que posar como adultos e sabedores de todas as coisas. Um belo dia, vi no jornal, (que ainda não havia a internet ),que haveria apresentações dos Lippizaners ou os Cavalos de Viena no Ginásio do Ibirapuera. Lá fomos nós fanáticos e ansiosos. A agitação , o silêncio nervoso.Os primeiros acordes da musica majestosa com a entrada dos famosos cavalos.Não preciso nem dizer que foi um espetáculo inesquecível. Mas um pouco perturbador, já que os austríacos haviam trazido feno da Áustria para alimentar os cavalos, que acabou retido na Alfândega. Sem comentários. Estávamos tão contentes que depois da apresentação fomos atrás do palco e presenciamos um treinador fazer um dos cavalos refazer a rotina, já que segundo ele, não tinha sido perfeita.Uma noite ótima.Fanático como eu era, havia levado um gravador ( a grande sensação da época ) para gravar as músicas do show. E durante um tempo, ouvia a fita maravilhado com a música de abertura. E queria saber qual era a todo custo e achar o LP . O tempo foi passando, veio filho, vieram os inúmeros e inevitáveis problemas, que não cabem aqui mas que prometo contar nos mínimos detalhes num livro que nunca escreverei. De vez em quando ainda me lembrava da música, a fita, com o tempo, perdeu-se . Tinha vergonha de ir ate uma loja e cantarolar, na esperança que algum vendedor mais atento ( ou meio louco como eu ) reconhecesse e me dissesse é tal e pronto. E de vez em quando vinha a musiquinha. Comprei um livrinho com fotos dos cavalos de Viena para ver se havia alguma coisa com a música. Mais recentemente, escrevi para o site dos cavalos tentando obter o nome da danada. O ano passado tocou na abertura de um dos shows de Andre Rieu,mas quando fui a loja para ouvir o nome estava diferente e não localizei. Como os cavalos eram austríacos, procurei ouvir o máximo de Mozart e Haydn achando que seriam patriotas. Mas nada.

Confesso que andei bem descrente nestas ultimas semanas. Pedi a Deus que me desse demissão da atual encarnação e tudo.Deixei de rezar revoltado.Mas já retomei e fiz um mea culpa de joelhos. Como pedi, pode ser que ainda aconteça, a qualquer hora.

Assisti o Escritor fantasma ( Polanski ).Gostei e não gostei.Aliás , não gostei do final, quando tudo se perde, sem ninguém ficar sabendo. Mas acho que deve ser assim mesmo, quando descobrirmos tudo,ou quase tudo,ou alguma coisa, seja hora de ir embora. Sem que ninguém saiba que nossa busca teve sucesso.

Mas sofro do defeito de pensar. Quem ainda hoje daria importância a uma musica que ouviu há  trinta e seis anos atrás e que por algum motivo permaneceu colada em seu ouvido ? Hoje passei de leve pela Cultura. Achei alguns livros do escritor que procurava, que não me chamaram tanto a atenção. De repente um acorde conhecido. De onde conheço esta música? Era a própria. Perguntei no primeiro caixa que me disse para perguntar  no andar de cima. Subi com três livros na mão e três degraus por vez e encontrei o Israel, consultando livros. Perguntei qual era o CD que estava tocando. Ele procurou, ligou aqui e ligou lá, até encontrar. E não é que o bandido achou o cd de musica barroca que tinha a “minha” música ? Era o único na loja. E a ultima faixa do cd.

Bom, tudo isso prá dizer, a faixa tem 2:05 min.E aconteceu que eu estava na loja há cinco minutos,e mal ouvia a musica,e devido ao barulho,só me liguei no último minuto.Alguém pode me explicar tal coincidência? “ Procurar é estar distraído?” Quem cochichou mm meu ouvido para ir até lá naquele determinado dia e horário, milimetricamente cronometrado?Uma resposta da força superior para me garantir que eu não estou sozinho? Que de algum modo eu importo para alguém que decidiu que era hora de eu saber? Uma reconciliação?

As vezes acho que me questiono demais,mas não consigo parar.Bom, estou aberto para qualquer interpretação que você possa por ventura ter.Saí da experiência renovado.Prefiro pensar que foi uma concessão especial,uma resposta,para o meu comportamento rebelde ( e arrependido) de dias atrás.Uma confirmação de minha infinita pequenez, seja diante de uma força superior, seja uma coincidência.Mas prefiro pensar,para não enlouquecer de vez, que foi um agrado vindo dos céus.Estou ouvindo a música agora com fones.Gostaria de tocar bem alto.Por enquanto fico com o final do Escritor Fantasma. Este quebra cabeça foi resolvido. Mesmo que só eu  saiba.Mas sobram outros.Quem sabe? Pelo menos agora sei que as vezes uma solução é possível. Que existe algo que desafia a minha imaginação sobre o céu que protege a minha inegável condição de grão de areia.

 

 

O vilão da vez – por lucas de geus / tacaratu.pe

Lembro-me muito bem da minha pré-adolescência. Inundado por pensamentos radicais e de inconformidade. Para mim, a injustiça e a desigualdade por mim percebidas naquela idade eram atribuídas ao “sistema”, que eu definia como um conjunto de organizações perversas destinadas a manter o rico em seu padrão social e menosprezar o que resta.
Um pouco mais tarde, já com maior embasamento para minhas reflexões, pensava estar progredindo, quando hoje penso que, na verdade, estive regredindo. Eu tinha chegado a conclusão de que o “sistema” era, afinal, o sistema capitalista, que legitima a concentração de poder, subvertendo a autonomia do vulgo, sujeitando-o ao trabalho laborativo e explorando-o para alimentar a máquina dos meios de produção e garantir rendimentos desiguais.

O ser humano gosta de dar nome aos bois. Lidar com o desconhecido, o impensável, o inimaginável, é uma perspectiva muito assustadora. É mais fácil lidar com um inimigo que tenha um rosto. Se tem algo de errado, com certeza alguém é responsável. Provavelmente um chefe do tráfico, ou um político corrupto. Às vezes, dependendo do crime ou delito e principalmente do modo que a notícia é veiculada, um marginal ou trambiqueiro ordinário dão conta do recado. A figura do vilão pode causar temor, mas também serve para dar uma sensação de segurança.

Dessa forma, é muito mais cômodo (e em nossas cabeças, coerente) dizer que a culpa de toda a desigualdade e opressão à liberdade do cidadão comum pertence a um sistema político-econômico que privilegia poucos e explora muitos. Seguindo o mesmo raciocínio, é muito mais fácil atribuir a culpa da violência no Rio de Janeiro aos traficantes. Há ainda quem não saiba diferenciar árabes de terroristas.

A mídia influencia a opinião das pessoas. A apatia política não só cresce, como é indiretamente incentivada. A nossa democracia, na prática, não poderia ser chamada de democracia. Mas e daí? Se nossos vilões forem de fato a mídia, os marketeiros, os grande empresários e os políticos, será tirando-os da jogada que solucionará nossos problemas? Enquanto sofremos de um problema social, tendemos a individualizá-los, canalizando toda a nossa indignação na figura do vilão.

A utopia não depende inteiramente do sistema político, do soberano, do filósofo ou da pessoa influente. Depende da sociedade. Não será garantindo a autonomia a todos os indivíduos ou restringindo todas as suas ações, ou mudando constantemente as fontes de poder que trará a solução. Enquanto a sociedade não for compreendida, em seus aspectos fundamentais, tendenciosos e filosóficos, não haverá por que pensar em utopia.

E então, quem é o vilão da vez?

2ª Blitz Cultural agita a noite curitibana


Ação aconteceu neste sábado em seis estabelecimentos da cidade

21/03/2011 – Pelo segundo fim de semana consecutivo, a Blitz Cultural surpreendeu estabelecimentos noturnos de Curitiba, levando poesia e música a bares e restaurantes da cidade, neste sábado (19).

Realizada pela Fundação Cultural de Curitiba em parceria com a Abrasel (Associação Brasileira e Bares e Restaurantes no Paraná), a ação integra a programação do Curitiba(nós), evento que comemora os 318 anos da capital paranaense. Os locais visitados foram: Babilônia, Aos Democratas Pub, Casa Di Bel, Picanha Brava, Restaurante Mexicano (Chile) e O Jardineiro, onde os frequentadores tiveram uma dose de cultura com a leitura de poesias feita pelo ator Lucas Buchile e as músicas tocadas por Daniel Miranda (sax e clarinete).

De acordo com o presidente executivo da Abrasel, Luciano Bartolomeu, “Bares não se resumem a alimentos e bebidas; são também entretenimento, lazer, diversão e cultura”, diz. “Devido ao sucesso da Blitz, faremos mais ações envolvendo artes, dança e música nos bares e restaurantes curitibanos”, afirma.

O casal Felipe e Fernanda Falcão, que estavam no bar O Jardineiro, escolheu uma poesia sobre o meio ambiente, para ser declamada por Lucas Buchile. “É muito animador, deveria acontecer com mais freqüência”, disse Fernanda.

Para o gerente do Babilônia, Gladson Elesbão, “ações como esta fazem os frequentadores se sentirem valorizados e por isso são muito bem-vindas”, afirmou.

A próxima edição da Blitz Cultural será no dia 26 de março. O público também pode acompanhar e participar do projeto por meio do blog www.curitiba-nos.blogspot.com, onde cada um poderá registrar suas impressões sobre a cidade.

Serviço

Blitz Cultural

Mês de março

Apoio: Abrasel

Programação no blog www.curitiba-nos.blogspot.com

Sobre o Curitiba(nós)

O Curitiba(nós) é um projeto da Fundação Cultural de Curitiba, criado para celebrar o aniversário de 318 anos da cidade. Diversas atividades culturais serão realizadas durante todo o mês de março e a expectativa é atingir um público de 300 mil pessoas. A ação propõe uma reflexão sobre a Curitiba de hoje, por meio de diferentes abordagens.

Acompanhar e participar do projeto por meio do blog www.curitiba-nos.blogspot.com, onde cada um poderá registrar suas impressões sobre a cidade.

OS FRACASSOS DE OBAMA – por antonio luiz m. c. costa / são paulo

Os fracassos de Obama


A tragédia do homem certo a quem coube se eleger para governar o país errado, na hora errada. Foto: Pete Souza/LatinStock 


O presidente Barack Obama abandonou de vez, ao que tudo indica, o mais simbólico de seus compromissos. Na segunda-feira 7, revogou seu próprio decreto que suspendia os julgamentos dos presos de Guantánamo por tribunais militares, permitindo sua retomada. Ordenou ainda a manutenção dos muitos presos não oficialmente acusados, mas tidos como “ameaças à segurança nacional”. Ficará ao arbítrio de uma comissão militar avaliar dentro de um ano, e depois a cada três anos, se continuam a ser “ameaças”, se devem ser julgados em tribunal militar ou se devem ser liberados.

Durante a campanha eleitoral, o candidato Obama prometeu fechar a famigerada prisão de Guantánamo assim que assumisse o governo. No dia da posse, rea-firmou que a prisão estaria fechada no prazo de um ano, ou seja, até 20 de janeiro de 2010 e vetou os julgamentos pela justiça militar. Passados dois anos e um mês, volta atrás e arquiva a dupla promessa.

Em novembro passado, o tanzaniano Ahmed Ghailani, acusado de atentados às embaixadas dos EUA na Tanzânia e no Quênia, foi levado a julgamento em tribunal civil de Nova York e absolvido da maioria das 285 acusações por falta de provas. A que restou, de “conspiração”, bastou para condená-lo à prisão perpétua, mas não satisfez os republicanos, que usaram o veredicto e a pena “leve” para argumentar que não se pode confiar em civis para julgar “terroristas”. Obama, outra vez, cedeu.

Talvez não seja a concessão mais importante que já fez. Mais séria foi sua capitulação aos interesses de Wall Street, que o documentário Trabalho Interno (Inside Job) recordou e assinalou ao grande público. Mas o fato de não conseguir manter suas posições nem mesmo em questões de pouca importância material, mas simbolicamente marcantes, dá a medida da sua fraqueza. Está à mercê das chantagens da oposição até para manter o governo funcionando semana a semana, dada a recusa dos republicanos a aprovar o orçamento de 2011.

Compare-se com Lula: também enfrentou uma crise econômica e financeira no primeiro ano e o terceiro (2005) foi de crise política quase contínua. Mas, se cedia muito (talvez mais que o necessário) para acalmar o mercado financeiro, impunha sua marca com o Bolsa Família, os aumentos reais do salário mínimo e uma diplomacia independente. No início de seu terceiro ano, iniciava a desdolarização da dívida pública e completava o resgate da dívida externa com o FMI e de décadas de dependência. Seu partido, o PT, tivera um bom resultado nas eleições de “meio de mandato”, saltando de 187 para 402 prefeitos. O desemprego caía, e a renda dos mais pobres e da Região Nordeste crescia em ritmo “chinês”. Apesar do alarde da oposição e da imprensa conservadora sobre o suposto “mensalão”, Lula não perdeu a iniciativa e foi reeleito com mais de 60% dos votos válidos e 70% de aprovação.

Tudo indica que será muito mais difícil para Obama dar a volta por cima de maneira comparável. A eleição de meio de mandato foi desastrosa, com a perda de vários senadores e governos estaduais e da maioria da Câmara e a radicalização da oposição de direita. Sua vitória política mais importante, a reforma da Saúde – obtida à custa de muitas concessões e diluições, embora seu Partido Democrata tivesse a maioria absoluta das duas casas do Congresso durante os primeiros dois anos de governo –, está sob ataque cerrado no Legislativo, que lhe nega recursos, no Judiciário, onde vários juízes a declararam inconstitucional, e nos estados governados por republicanos, que reivindicam o direito de rejeitá-la em suas jurisdições.

A reforma da política nacional de imigração foi inviabilizada no Congresso e tem sido substituída por selvagens leis estaduais anti-imigrantes. A política externa só acumulou decepções e fracassos e a guerra no Afeganistão e Paquistão vai de mal a pior. Os planos de investimentos bilionários em ambiente, educação e infraestrutura foram para o lixo: tudo foi bloqueado e as administrações locais cuidam de desmantelar o ensino público, os serviços municipais e estaduais e a legislação ambiental. Sua proposta de reforma política e controle das doações foi rejeitada pelo Congresso e soterrada sob uma decisão da Suprema Corte, que, em nome da “liberdade de expressão, derrubou todas as limitações para as grandes corporações financiarem campanhas eleitorais ou fazerem propaganda política direta.

A política econômica de Obama e do Fed recuperou o setor financeiro e, até certo ponto, o crescimento do PIB. Mas a maioria não se beneficiou disso. O desemprego continua alto, a minoria beneficiada se põe entusiasticamente do lado da oposição e a enxurrada de dólares liberada pela “flexibilização quantitativa” causa ainda mais problemas para a política externa. Por um lado, ampliou os atritos com amigos e inimigos ao deflagrar uma “guerra cambial”. Por outro, ao estimular a especulação com commodities, acentuou a alta internacional dos preços de alimentos e a instabilidade política de países-chave para a estratégia dos EUA. Isso trouxe uma onda de revoltas na África e no Oriente Médio, que, por sua vez, volta a abalar a economia dos EUA pela alta do petróleo. Um efeito borboleta para Eric Bress nenhum botar defeito.

Forças irresistíveis da história, inabilidade política ou simples pé-frio? Um pouco de cada coisa. Obama assumiu os EUA em uma fase estruturalmente desfavorável, de decadência econômica e política relativa. Além disso, em um dos piores momentos possíveis em termos conjunturais, logo após o início da maior crise financeira da história do capitalismo desde 1929. Mas, além disso, Obama fracassou em entender o momento histórico e político e agir de acordo.

Fez campanha para corrigir o rumo de um país no auge da prosperidade no sentido de mais justiça social e bom senso ambiental. Não encontrou o tal país e perdeu completamente a bússola. Preparou-se para governar em um clima de negociação, respeito mútuo, argumentação sensata e racionalidade comunicativa, como diria Jürgen Habermas. Encontrou uma oposição fanatizada e preconceituosa, disposta a seduzir as massas com propaganda passional e teo-rias delirantes, mas continua a apostar em uma negociação política tradicional, como um jogador de xadrez que, lançado num ringue de luta livre, insiste em obedecer a seu próprio livro de regras.

Em nenhum momento, como se queixou repetidamente o economista e colunista liberal Paul Krugman, Obama falou ao povo ou aos próprios democratas sobre o caráter feroz e classista da luta política em curso nos EUA, como um líder disposto a enfrentar a oposição, defender seu lado e seus argumentos, propor medidas ousadas, e denunciar a má-fé dos republicanos e da elite financeira quando estas fossem bloqueadas. Se fizesse isso, talvez não evitasse a crise econômica nem as derrotas no Congresso, mas teria a seu lado um discurso consistente em torno do qual agrupar seus partidários e uma parcela significativa da opinião pública. Em vez disso, com sua disposição a ceder sistematicamente à pressão dos republicanos e defender com as melhores soluções as derrotas que não conseguiu evitar, abandonou pelo caminho uma trilha de ex-entusiastas desiludidos.

Um exemplo foi a questão ambiental: inicialmente, defendeu o investimento em fontes alternativas e a proibição da exploração do petróleo no Golfo do México. Depois, cedeu aos republicanos para liberá-la e promovê-la ao lado de um programa de biocombustíveis. Teve então a má sorte de enfrentar o pior vazamento de petróleo da história do país, voltou atrás e pediu punições à British Petroleum. Mais uma vez ficou com o pior dos dois mundos: o desprezo dos ambientalistas por ter cedido às petroleiras e o ódio dos conservadores por não liberar o capital de todas as restrições.

A razão da pior derrota dos democratas desde 1948 não foi a perda de eleitores para a direita, mas o desânimo de negros, jovens e hispânicos, que, conquistados para as urnas por Obama em 2008, desistiram de votar em 2010. Assim como eleitores anônimos, também muitas personalidades que festejaram a vitória de 2008 se tornaram críticos de Obama, embora, obviamente, não tenham se tornado adeptos do Tea Party. Entre eles, os atores Matt Damon (narrador de Trabalho Interno), Robert Redford e Angelina Jolie, os diretores Michael Moore e Spike Lee e a jornalista Maria Shriver.

Obama cercou-se de assessores identificados com interesses ligados a Wall Street e ao complexo industrial-militar, obviamente, contrários àqueles da maioria de seus eleitores. Entre eles, Lawrence Summers, Robert Rubin e Ben Bernanke – três dos principais vilões de Trabalho Interno – e os secretários da Defesa, Robert Gates, e do Tesouro, Tim Geithner. Caiu desde o início na armadilha de aceitar como técnica e consensual uma postura política conservadora e elitista – que na maioria dos países do mundo seria considerada definidamente direitista – e a partir daí negociar concessões à direita mais radical. Sem deixar, por isso, de ser execrado pelos bancos e transnacionais.

A partir de políticas formuladas por sua equipe, resgatou os grandes bancos dos EUA praticamente de graça, sem exigir contrapartida. Permitiu que seus balanços voltassem a registrar lucros bilionários e que esses fossem distribuídos a seus executi-vos. Combateu a crise com estímulos econômicos ao setor privado e gastos públicos (inclusive militares), apesar da forte queda da arrecadação. Teve de gerar fortes déficits e endividou pesadamente o orçamento da União. Apesar disso, rendeu-se à pressão dos republicanos para prorrogar o corte de impostos dos ricos herdado de Bush júnior – e, ao mesmo tempo, aceitou submeter-se aos cortes das despesas públicas exigidos por esses para “equilibrar” as contas.

Noves fora, isso significou salvar banqueiros e empresários das consequências de seus próprios erros e negociatas e forçar os usuários de serviços públicos – a parte mais necessitada da sociedade estadunidense – a pagar por isso, juntamente com os servidores do Estado. E ainda assim é acusado por grandes empresários de ser “o presidente mais antiempresarial da história”, devido a propostas como a de proteger o consumidor de serviços de saúde e financeiros por meio de regulamentos triviais, muito mais frouxos que os de qualquer outro país civilizado. Apesar de suas promessas de renovar as relações com as nações periféricas, cedeu às pressões dos lob-bies industrial, bélico e sionista, provocou governos da América Latina com pressões econômicas e militares, tentou proteger golpes e ditaduras “amigas” – e mesmo assim é taxado de “anticolonialista” (por Dinesh D’Souza na Forbes, por exemplo).

A elite econômico-financeira dos EUA foi mal-acostumada desde Ronald Rea-gan por taxas de lucro e rendimentos anuais de dois dígitos nas bolsas, resultado de brutal transferência de renda do trabalho para o capital (pela desregulamentação, novas tecnologias e globalização), do resto do mundo para o país (pela globalização dos mercados financeiros e atração de capitais), da classe média para a elite (pela redução de impostos e restrições legais a altos salários) e da elite para a superelite (pelo uso sem limites de bônus, derivativos e inovações financeiras). A concentração de renda aumentou e a mobilidade social diminuiu perigosamente. A própria classe média alta está agora em perigo: mostram as estatísticas que o desemprego trazido por inovação tecnológica e globalização, que nos anos 80 afetava principalmente os menos educados, agora atinge as profissões mais qualificadas.

Com a crise, tudo isso chegou ao limite, se é que já não o tinha ultrapassado muito antes. Como notou Michael Moore ao discursar aos manifestantes de Wisconsin, as 400 famílias mais ricas dos EUA detêm, hoje, metade da riqueza do país, tanto quanto os outros 155 milhões de famílias, somadas. Aos 60% menos ricos, cerca de 93 milhões, cabem 2,3% dos ativos totais.

Fosse uma economia promissora, não sobrecarregada por dívida pública e privada, Obama talvez soasse menos ameaçador ao propor que a elite, após décadas de contínua engorda, contenha o apetite e dê a vez às massas para que tenham sua fatia do crescimento econômico, no interesse do conjunto da sociedade e de sua prosperidade a longo prazo. Mas, na falta de perspectivas imediatas, qualquer gesto de simpatia para com os menos favorecidos soa como radicalismo perigoso. Declarou-se a luta de classes e o jogo de ganha-ganha, do qual Obama gosta de falar, acabou antes de começar. O capital sabe que, hoje, o jogo é de soma zero. Resta a Obama tentar negociar os cordeiros com um lobo que nem sequer se dispõe a esperar que engordem.

A direita Tea Party está decidida a continuar lucrando cada vez mais, haja ou não base material para isso. Na falta desta, a solução é tomar o poder no grito (transmitido pela Fox e financiado pelas transnacionais) para desmantelar os serviços públicos e a previdência social e baixar salários, mesmo que para isso se façam necessárias medidas quase fascistas de proibição da organização sindical e da negociação coletiva. Ao mesmo tempo, Wall Street, com a cumplicidade do Fed e sem nada ter aprendido com 2008, volta a tentar aspirar à poupança do mundo para financiar perigosas jogadas financeiras. Com isso, arrisca-se a matar suas três galinhas dos ovos de ouro: a classe trabalhadora, que deu à sua economia a liderança em produtividade, a classe média, que garantiu o consumo de seus produtos, e o dólar, que deu a seu sistema financeiro o controle da circulação mundial da riqueza. Mas os deuses primeiro enlouquecem a quem querem perder.

o blog CONVERSA AFIADA do jornalista Paulo Henrique Amorim, publicou esta charge do cartunista SOLDA.

Não, nós não somos racistas

Publicado em 20/03/2011

Conversa Afiada reproduz e-mail e ilustração enviados por Stanley Burburinho, implacável reparador de iniquidades:

Jornal Paraná Online publicou hoje charge racista com desenho de um macaco e com os dizeres:

“Almoço para Obama terá baião de dois, picanha, sorvete de graviola…E BANANA, MUITA BANANA”:

clique nos links abaixo, confira e veja os comentários:

http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2011/03/20/nao-nos-nao-somos-racistas/

http://www.parana-online.com.br/charges/charge/1478/


Em tempo: este post é uma singela homenagem ao Ali Kamel.

DILMA ROUSSEFF: íntegra do discurso no palácio do PLANALTO / BRASIL – 19.3.2011

“Excelentíssimo senhor Barack Obama, presidente dos Estados Unidos da América,
Senhoras e senhores integrantes das delegações dos Estados Unidos da América e do Brasil,
Senhoras e senhores jornalistas,
Senhoras e senhores,

Senhor presidente Obama,
A sua visita ao meu país me enche de alegria, desperta os melhores sentimentos de nosso povo e honra a histórica relação entre o Brasil e os Estados Unidos. Carrega também um forte valor simbólico.
Os povos de nossos países ergueram as duas maiores democracias das Américas. Ousaram também levar aos seus mais altos postos um afrodescendente e uma mulher, demonstrando que o alicerce da democracia permite o rompimento das maiores barreiras para a construção de sociedades mais generosas e harmônicas.

Aqui, senhor presidente Obama, sucedo a um homem do povo, meu querido companheiro Luiz Inácio Lula da Silva, com quem tive a honra de trabalhar. Seu legado mais nobre, Presidente, foi trazer à cena política e social milhões de homens e mulheres que viviam à margem dos mais elementares direitos de cidadania.

Dos nove chefes de Estado norte-americanos que visitaram oficialmente o Brasil, o senhor é aquele que encontra o nosso país em um momento mais vibrante. A combinação de uma política econômica séria com fundamentos sólidos e uma estratégia consistente de inclusão fez do nosso país um dos mais dinâmicos mercados do mundo. Fortalecemos o conteúdo renovável da nossa matriz energética e avançamos em políticas ambientais protetoras de nossas importantes reservas florestais e de nossa rica biodiversidade.

Todo esse esforço, presidente Obama, criou milhões de empregos e dinamizou regiões inteiras antes marginalizadas do processo econômico. Permitiu ao Brasil superar, com êxito, a mais profunda crise econômica da história recente, mantendo, até os dias atuais, níveis recordes de geração de postos de trabalho.

Mas são ainda enormes os nossos desafios. Meu governo, neste momento, se concentra nas tarefas necessárias para aperfeiçoar nosso processo de crescimento e garantir um longo período de prosperidade para o nosso povo.

Meu compromisso essencial é com a construção de uma sociedade de renda média, assegurando oportunidades educacionais e profissionais para os trabalhadores e para a nossa imensa juventude, garantindo também um ambiente institucional que impulsione o empreendedorismo e favoreça o investimento produtivo.

O meu governo trabalhará com dedicação para superar as deficiências de infraestrutura, e não pouparemos esforços para consolidar nossa energia limpa, ativo fundamental do Brasil.
Enfim, daremos os passos necessários para alcançar nosso lugar entre as nações com desenvolvimento pleno, forte democracia e ampla justiça social.

É aqui, senhor presidente Obama, que enxergo as melhores oportunidades para o avanço das relações entre nossos países. Acompanho com atenção e a melhor expectativa seus enormes esforços para recuperar a vitalidade da economia americana.

Temos assim, como o mundo todo, uma única certeza: a de que o povo americano, sob a sua liderança, saberá encontrar os melhores caminhos para o futuro dessa grande nação.

A gentileza da sua visita, logo no início do meu governo, e o longo histórico de amizade entre nossos povos me permitem avançar sobre dois temas que considero centrais nas futuras parcerias que fizermos: a educação e a inovação.

Aproximar e avançar em nossas experiências educacionais, ampliando nosso intercâmbio e construindo progresso em todas as áreas do conhecimento é uma questão chave para o futuro dos nossos países.
Na pesquisa e inovação, os Estados Unidos alcançaram as mais extraordinárias conquistas nas últimas décadas, favorecendo a produtividade em diferentes setores econômicos. O Brasil, senhor presidente Obama, está na fronteira tecnológica em algumas importantes áreas, como a genética, a biotecnologia, as fontes renováveis de energia e a exploração do petróleo em águas profundas.

Combinar as nossas mais avançadas capacidades no campo da pesquisa e da inovação certamente trará os melhores frutos para as nossas sociedades. Tomo como exemplo o pré-sal, a mais recente fronteira alcançada pela tecnologia brasileira. Acreditamos que os enormes desafios de cada etapa da exploração dessas riquezas poderão reunir uma inédita conjunção do conhecimento acumulado pelos nossos melhores centros de pesquisa.

Mas, senhor Presidente, se queremos construir uma relação de maior profundidade é preciso também, com a mesma franqueza, tratar de nossas contradições.

Preocupam-me em especial os efeitos agudos decorrentes dos desequilíbrios econômicos gerados pela crise recente. Compreendemos o contexto do esforço empreendido por seu governo para a retomada da economia americana, algo tão importante para o mundo. Porém, todos sabem que medidas de grande vulto provocam mudanças importantes nas relações entre as moedas de todo o mundo. Este processo desgasta as boas práticas econômicas e empurra países para ações protecionistas e defensivas de toda natureza.

Somos um país que se esforça por sair de anos de baixo desenvolvimento, por isso buscamos relações comerciais mais justas e equilibradas. Para nós é fundamental que sejam rompidas as barreiras que se erguem contra nossos produtos – etanol, carne bovina, algodão, suco de laranja, aço, por exemplo. Para nós é fundamental que se alarguem as parcerias tecnológicas e educacionais, portadoras de futuro.
Preocupa-me igualmente a lentidão das reformas nas instituições multilaterais que ainda refletem um mundo antigo. Trabalhamos incansavelmente pela reforma na governança do Banco Mundial e do FMI. Isso foi feito pelos Estados Unidos e pelo Brasil, em conjunto com outros países. E saudamos o início das mudanças empreendidas nestas instituições, embora ainda que limitadas e tardias, quando olhada a crise econômica. Temos propugnado por uma reforma fundamental no desenho da governança global: a ampliação do Conselho de Segurança da ONU.

Aqui, senhor Presidente, não nos move o interesse menor da ocupação burocrática de espaços de representação. O que nos mobiliza é a certeza que um mundo mais multilateral produzirá benefícios para a paz e a harmonia entre os povos.

Mais ainda, senhor Presidente, nos interessa aprender com os nossos próprios erros. Foi preciso uma gravíssima crise econômica para mover o conservadorismo que bloqueava a reforma das instituições financeiras. No caso da reforma da ONU, temos a oportunidade de nos antecipar.

Este país, o Brasil, tem compromisso com a paz, com a democracia, com o consenso. Esse compromisso não é algo conjuntural, mas é integrante dos nossos valores: tolerância, diálogo, flexibilidade. É princípio inscrito na nossa Constituição, na nossa história, na própria natureza do povo brasileiro. Temos orgulho de viver em paz com os nossos dez vizinhos há mais de um século, agora.

Há uma semana, senhor Presidente, entrou em vigor o Tratado Constitutivo da Unasul, que deverá reforçar ainda mais a unidade no nosso continente. O Brasil está empenhado na consolidação de um entorno de paz, segurança, democracia, cooperação e crescimento com justiça social. Neste ambiente é que deve frutificar as relações entre o Brasil e os Estados Unidos.

Senhor Presidente, quero dizer-lhe que vejo com muito otimismo nosso futuro comum.

No passado, esse relacionamento esteve muitas vezes encoberto por uma retórica vazia, que eludia o que estava verdadeiramente em jogo entre nós, entre Estados Unidos e Brasil.

Uma aliança entre os nossos dois países – sobretudo se ela se pretende estratégica – é uma construção. Uma construção comum, aliás, como o senhor mesmo disse no seu pronunciamento sobre o Estado da Nação.
Mas ela tem de ser uma construção entre iguais, por mais distintos que sejam esses países em território, população, capacidade produtiva ou poderio militar.

Somos países de dimensões continentais, que trilham o caminho da democracia. Somos multiétnicos e em nossos territórios convivem distintas e ricas culturas.

Cada um, a sua maneira, temos o que um poeta brasileiro chamou de “sentimento do mundo”.
Sua presença no Brasil, senhor Presidente, será de enorme valia nessa construção que queremos juntos realizar.

Uma vez mais, presidente Obama, bem-vindo ao Brasil.”

BARACK OBAMA: íntegra do discurso no palácio do PLANALTO. /BRASIL – 19.3.2011

“Obrigado, senhora presidente, pelas gentis palavras. Muito obrigado a vocês e ao povo brasileiro pela calorosa recepção e pela famosa hospitalidade brasileira com que vocês receberam Michelle, a mim e nossas filhas. ‘Muito obrigado’.

Em nossa reunião hoje, mencionei que esta é minha primeira visita à América do Sul e o Brasil é minha primeira parada, e não por acaso. A amizade entre os povos americano e brasileiro já soma mais de dois séculos. Nossos empreendedores e empresários inovam juntos, nossos cientistas e pesquisadores estão criando novas vacinas, juntos nossos alunos e professores exploram novos horizontes. Todos os dias trabalhamos para tornar nossas sociedades mais inclusivas e mais justas.

O crescimento extraordinário do Brasil, senhora Presidente, atrai a atenção do mundo todo. Graças ao sacrifício de pessoas como a presidente Dilma Roussef, o Brasil saiu da ditadura para a democracia, é uma das economias que mais crescem no mundo, tirando milhões da pobreza e levando-os à classe média. Hoje os EUA e o Brasil são as duas maiores democracias do hemisfério e as duas maiores economias. O Brasil, líder regional que promove uma cooperação maior entre todas as Américas e o Brasil é, cada vez mais, um líder mundial, passando de receptor de ajuda externa para doador, reivindicando um mundo sem armas nucleares e estando sempre adiante dos esforços globais para lutar contra a mudança climática. Como presidente, eu sempre promovo o compromisso baseado em respeito mútuo e interesses mútuos e uma parte fundamental desse compromisso é promover uma cooperação maior com centros de influência do século XXI, incluindo o Brasil. Em suma, os EUA não apenas reconhecem o crescimento do Brasil, mas apóiam esse crescimento com entusiasmo. Por isso criamos o G20, o principal fórum de cooperação econômica mundial, para ter certeza de que países como o Brasil terão mais voz ativa. Por isso aumentamos a cota de votação do Brasil e o seu papel nas instituições financeiras internacionais. Por isso que eu vim ao Brasil hoje.

A presidente Roussef e eu acreditamos que esta visita seja uma oportunidade histórica para colocar os EUA e o Brasil na rota de uma cooperação ainda maior nas décadas vindouras. Hoje estamos começando a aproveitar esta oportunidade. Senhora Presidente, gostaria de agradecê-la pelo seu compromisso pessoal em fortalecer as alianças entre as nossas duas nações. Estamos ampliando o comércio e os investimentos, criando empregos nos nossos dois países. O Brasil é um dos nossos principais parceiros comercias, mas ainda há muito que podemos fazer.

Mais tarde hoje, a presidente e eu vamos nos reunir com líderes de negócios dos nossos dois países, vamos ouvir e decidir quais serão as etapas concretas que vão expandir nossas relações econômicas. Vamos anunciar uma série de novos acordos, inclusive um diálogo financeiro e econômico que venha promover relações comerciais, expandir a colaboração na área de ciência e tecnologia e à medida que o Brasil se prepara para receber a Copa do Mundo e as Olimpíadas e, ainda me magoa tocar neste assunto, estamos assegurando que as empresas americanas terão um papel entre os projetos de infraestrutura necessários para essas competições. Estamos criando um novo diálogo estratégico sobre energia para garantir que as cúpulas dos nossos governos estão trabalhando conjuntamente para aproveitar novas oportunidades, em particular, como as novas descobertas de petróleo no Brasil, como disse a presidente Roussef, o Brasil quer ser um grande fornecedor de novas fontes estáveis de energia e eu falei para ela que os EUA também querem ser um grande cliente dessas fontes, o que traria benefícios para ambos os países.

Ao mesmo tempo, estamos expandindo nossa parceria em energia limpa, fundamental para nossa segurança em energia em longo prazo. Como líder na área de energia renovável, como biodiesel, e como parte da parceria de energia e clima entre as Américas que proponho, o Brasil está compartilhando seu conhecimento na região e no mundo. Esse novo diálogo de economia verde que estamos criando hoje aumenta ainda mais nossa cooperação construindo prédios “verdes” e desenvolvimento sustentável. Na área de segurança, nossos exércitos trabalham com proximidade ainda maior para lidar com crises humanitárias, como fizemos no Haiti. Nossas polícias trabalham em conjunto contra os narcotraficantes que ameaçam a todos nós, o Brasil se aliou ao esforço internacional para evitar o contrabando de armas nucleares por seus portos. Agradeço à presidente Roussef pela liderança do Brasil em criar um centro regional de promoção de excelência na área de segurança nuclear.

Como membro do conselho de direitos humanos, o Brasil se juntou a nós na condenação aos abusos aos direitos humanos realizados pela Líbia. Gostaria de rapidamente mencionar a situação na Líbia porque conversei sobre isso com a presidente. Ontem a comunidade internacional exigiu um cessar fogo imediato na Líbia, inclusive um fim a todos os ataques contra civis, e hoje a secretária Clinton se reuniu com uma coalizão internacional com nossos parceiros árabes e europeus em Paris para discutir como
aplicar a resolução do conselho de segurança criada pela ONU em 1973. Houve um consenso coeso e a conclusão foi clara: o povo da Líbia deve ser protegido e se não for colocado um fim imediato à violência contra civis, nossa coalizão está preparada para entrar em ação, e agirá com urgência. Conversei com a presidente Roussef sobre os passos que estão sendo tomados nesse sentido.

Finalmente, estou especialmente satisfeito pelo Brasil e os EUA estarem juntos em criar uma governança democrática para além de nossos hemisférios. O Brasil está ajudando a liderar a iniciativa global que anunciei nas Nações Unidas de promover governos abertos e novas tecnologias que capacitem os cidadãos no mundo todo. Hoje estamos lançando novos esforços para ajudar outros países a combater a corrupção e o trabalho infantil. Estamos expandindo nossos esforços para aumentar a segurança alimentar nesse movimento de desenvolvimento da agricultura na África. Acredito que este seja apenas o começo do que os dois países podem fazer juntos em todo o mundo. Por isso, os EUA continuarão se esforçando para ter certeza de que as novas realidades do século XXI serão refletidas nas instituições internacionais, como disse a senhora Presidente, incluindo as Nações Unidas onde o Brasil aspira a um assento permanente no conselho de segurança. Como falei à presidente Roussef, os EUA continuarão a trabalhar tanto com o Brasil quanto com outras nações nas reformas que vão tornar o conselho de segurança mais eficaz, eficiente e representativo para poder levar adiante nossas visões compartilhadas de um mundo mais seguro e pacífico.

Mais uma vez, com os resultados de hoje, criamos uma base para uma cooperação maior entre EUA e Brasil nas décadas vindouras. Gostaria de agradecer a presidente Roussef por sua liderança, por tornar este progresso possível. Não conheço a senhora Presidente há muito tempo, mas noto a paixão extraordinária no sentido de oferecer a oportunidade a todo povo brasileiro para que todos possam progredir e essa é uma paixão que compartilho com a senhora Presidente e aqui representando os cidadãos americanos também. Portanto, tenho certeza de que, dado esse espírito que compartilhamos, essa amizade que existe não apenas no âmbito governamental mas entre os nossos povos, que vamos continuar a progredir no futuro e aguardo ansiosamente minha passagem pelo Rio amanhã, onde terei a oportunidade de me dirigir diretamente ao povo brasileiro sobre o que nossos países podem fazer conjuntamente como parceiros globais no século XXI.

Muito obrigado.”

“Obama foi anulado pelo conservadorismo de bordel dos EUA” (MARIA DA CONCEIÇÃO TAVARES)

Em entrevista exclusiva à Carta Maior, a economista Maria da Conceição Tavares fala sobre a visita de Obama ao Brasil, a situação dos Estados Unidos e da economia mundial. Para ela, a convalescença internacional será longa e dolorosa. A razão principal é o congelamento do impasse econômico norte-americano, cujo pós-crise continua tutelado pelos interesses prevalecentes da alta finança em intercurso funcional com o moralismo republicano. ‘É um conservadorismo de bordel’, diz. E acrescenta: “a sociedade norte-americana encontra-se congelada pelo bloco conservador, por cima e por baixo. Os republicanos mandam no Congresso; os bancos tem hegemonia econômica; a tecnocracia do Estado está acuada”.

Quando estourou a crise de 2007/2008, ela desabafou ao Presidente Lula no seu linguajar espontâneo e desabrido: “Que merda, nasci numa crise, vou morrer em outra”. Perto de completar 81 anos – veio ao mundo numa aldeia portuguesa em 24 de abril de 1930 – Maria da Conceição Tavares, felizmente, errou. Continua bem viva, com a língua tão afiada quanto o seu raciocínio, ambos notáveis e notados dentro e fora da academia e esquerda brasileira. A crise perdura, mas o Brasil, ressalta com um sorriso maroto, ao contrário dos desastres anteriores nos anos 90, ‘saiu-se bem desta vez, graças às iniciativas do governo Lula’.

A convalescença internacional, porém, será longa, adverte. “E dolorosa”. A razão principal é o congelamento do impasse econômico norte-americano, cujo pós-crise continua tutelado pelos interesses prevalecentes da alta finança em intercurso funcional com o moralismo republicano. ‘É um conservadorismo de bordel’, dispara Conceição que não se deixa contagiar pelo entusiasmo da mídia nativa com a visita do Presidente Barack Obama, que chega o país neste final de semana.

Um esforço narrativo enorme tenta caracterizar essa viagem como um ponto de ruptura entre a ‘política externa de esquerda’ do Itamaraty – leia-se de Lula , Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães – e o suposto empenho da Presidenta Dilma em uma reaproximação ‘estratégica’ com o aliado do Norte. Conceição põe os pingos nos is. Obama, segundo ela, não consegue arrancar concessões do establishment americano nem para si, quanto mais para o Brasil. ‘Quase nada depende da vontade de Obama, ou dito melhor, a vontade de Obama quase não pesa nas questões cruciais. A sociedade norte-americana encontra-se congelada pelo bloco conservador, por cima e por baixo. Os republicanos mandam no Congresso; os bancos tem hegemonia econômica; a tecnocracia do Estado está acuada”. O entusiasmo inicial dos negros e dos jovens com o presidente, no entender da decana dos economistas brasileiros, não tem contrapartida nas instâncias onde se decide o poder americano. “O que esse Obama de carne e osso poderia oferecer ao Brasil se não consegue concessões nem para si próprio?”, questiona e responde em seguida: ‘Ele vem cuidar dos interesses americanos. Petróleo, certamente. No mais, fará gestos de cortesia que cabem a um visitante educado’.

O desafio maior que essa discípula de Celso Furtado enxerga é controlar “a nuvem atômica de dinheiro podre” que escapou com a desregulação neoliberal – “e agora apodrece tudo o que toca”. A economista não compartilha do otimismo de Paul Krugman que enxerga na catástrofe japonesa um ponto de fuga capaz, talvez, de exercer na etapa da reconstrução o mesmo efeito reordenador que a Segunda Guerra teve sobre o capitalismo colapsado dos anos 30. “O quadro é tão complicado que dá margem a isso: supor que uma nuvem de dinheiro atômico poderá corrigir o estrago causado por uma nuvem nuclear verdadeira. Respeito Krugman, mas é mais que isso: trata-se de devolver o dinheiro contagioso para dentro do reator, ou seja, regular a banca. Não há atalho salvador’.

Leia a seguir a entrevista exclusiva de Maria da Conceição Tavares à Carta Maior.

CM- Por que Obama se transformou num zumbi da esperança progressista norte-americana?

Conceição – Os EUA se tornaram um país politicamente complicado… o caso americano é pior que o nosso. Não adianta boas idéias. Obama até que as têm, algumas. Mas não tem o principal: não tem poder, o poder real; não tem bases sociais compatíveis com as suas idéias. A estrutura da sociedade americana hoje é muito, muito conservadora –a mais conservadora da sua história. E depois, Obama, convenhamos, não chega a ser um iluminado. Mas nem o Lula daria certo lá.

CM- Mas ele foi eleito a partir de uma mobilização real da sociedade….

Conceição – Exerce um presidencialismo muito vulnerável, descarnado de base efetiva. Obama foi eleito pela juventude e pelos negros. Na urna, cada cidadão é um voto. Mas a juventude e os negros não tem presença institucional, veja bem, institucional que digo é no desenho democrático de lá. Eles não tem assento em postos chaves onde se decide o poder americano. Na hora do vamos ver, a base de Obama não está localizada em lugar nenhum. Não está no Congresso, não tem o comando das finanças, enfim, grita, mas não decide.

CM – O deslocamento de fábricas para a China, a erosão da classe trabalhadora nos anos 80/90 inviabilizaram o surgimento de um novo Roosevelt nos EUA?

Conceição – Os EUA estão congelados por baixo. Há uma camada espessa de gelo que dissocia o poder do Presidente do poder real hoje exercido, em grande parte, pela finança. Os bancos continuam incontroláveis; o FED (o Banco Central americano) não manda, não controla. O essencial é que estamos diante de uma sociedade congelada pelo bloco conservador, por cima e por baixo. Os republicanos mandam no Congresso; os bancos tem hegemonia econômica; a tecnocracia do Estado está acuada…

CM- É uma decadência reversível?

Conceição – É forçoso lembrar, ainda que seja desagradável, que os EUA chegaram a isso guiados, uma boa parte do caminho, pelas mãos dos democratas de Obama. Foram os anos Clinton que consolidaram a desregulação dos mercados financeiros autorizando a farra que redundou em bolhas, crise e, por fim, na pasmaceira conservadora.

CM – Esse colapso foi pedagógico; o poder financeiro ficou nu, por que a reação tarda?

Conceição – A sociedade americana sofreu um golpe violento. No apogeu, vendia-se a ilusão de uma riqueza baseada no crédito e no endividamento descontrolados. Criou-se uma sensação de prosperidade sobre alicerces fundados em ‘papagaios’ e pirâmides especulativas. A reversão foi dramática do ponto de vista do imaginário social. Um despencar sem chão. A classe média teve massacrados seus sonhos do dia para noite. A resposta do desespero nunca é uma boa resposta. A resposta americana à crise não foi uma resposta progressista. Na verdade, está sendo de um conservadorismo apavorante. Forças e interesses poderosos alimentam essa regressividade. A tecnocracia do governo Obama teme tomar qualquer iniciativa que possa piorar o que já é muito ruim. Quanto vai durar essa agonia? Pode ser que a sociedade americana reaja daqui a alguns anos. Pode ser. Eles ainda são o país mais poderoso do mundo, diferente da Europa que perdeu tudo, dinheiro, poder, auto-estima… Mas vejo uma longa e penosa convalescença. Nesse vazio criado pelo dinheiro podre Obama flutua e viaja para o Brasil.

CM – Uma viagem cercada de efeitos especiais; a mídia quer demarcá-la como um divisor de águas de repactuação entre os dois países, depois do ‘estremecimento com Lula’. O que ela pode significar de fato para o futuro das relações bilaterais?

Conceição – Obama vem, sobretudo, tratar dos interesses norte-americanos. Petróleo, claramente, já que dependem de uma região rebelada, cada vez mais complexa e querem se livrar da dependência em relação ao óleo do Chávez. A política externa é um pouco o que sobrou para ele agir, ao menos simbolicamente.

CM – E o assento brasileiro no Conselho de Segurança?

Conceição – Obama poderá fazer uma cortesia de visitante, manifestar simpatia ao pleito brasileiro, mas, de novo, está acima do seu poder. Não depende dele. O Congresso republicano vetaria. Quase nada depende da vontade de Obama, ou dito melhor, a vontade de Obama quase não pesa nas questões cruciais.

CM – Lula também enfrentou essa resistência esfericamente blindada, mas ganhou espaço e poder…

Conceição – Obama não é Lula e não tem as bases sociais que permitiriam a Lula negociar uma pax acomodatícia para avançar em várias direções. A base equivalente na sociedade americana, os imigrantes, os pobres, os latinos, os negros, em sua maioria nem votam e acima de tudo estão desorganizados. Não há contraponto à altura do bloco conservador, ao contrário do caso brasileiro. O que esse Obama de carne e osso poderia oferecer ao Brasil se não consegue concessões nem para si próprio?

CM – A reconstrução japonesa, após a tragédia ainda inconclusa, poderia destravar a armadilha da liquidez que corrói a própria sociedade americana ? Sugar capitais promovendo um reordenamento capitalista, como especula Paul Krugman?

Conceição – A situação da economia mundial é tão complicada que dá margem a esse tipo de especulação. Como se uma nuvem atômica de dinheiro pudesse consertar uma nuvem atômica verdadeira. Não creio. Respeito o Krugman, mas não creio. O caminho é mais difícil. Trata-se de devolver a nuvem atômica de dinheiro para dentro do reator; é preciso regular o sistema, colocar freios na especulação, restringir o poder do dinheiro, da alta finança que hoje campeia hegemônica. É mais difícil do que um choque entre as duas nuvens. Ademais, o Japão eu conheço um pouco como funciona, sempre se reergueu com base em poupança própria; será assim também desta vez tão trágica. Os EUA por sua vez, ao contrário do que ocorreu na Segunda Guerra, quando eram os credores do mundo, hoje estão pendurados em papagaios com o resto do mundo –o Japão inclusive. O que eles poderiam fazer pela reconstrução se devem ao país devastado?

CM – Muitos economistas discordam que essa nuvem atômica de dinheiro seja responsável pela especulação, motivo de índices recordes de fome e de preços de alimentos em pleno século XXI. Qual a sua opinião?

Conceição – A economia mundial não está crescendo a ponto de justificar esses preços. Isso tem nome: o nome é especulação. Não se pode subestimar a capacidade da finança podre de engendra desordem. Não estamos falando de emissão primária de moeda por bancos centrais. Não é disso que se trata. É um avatar de moeda sem nenhum controle. Derivam de coisa nenhuma; derivativos de coisa nenhuma representam a morte da economia; uma nuvem nuclear de dinheiro contaminado e fora de controle da sociedade provoca tragédia onde toca. Isso descarnou Obama.

É o motor do conservadorismo americano atual. Semeou na America do Norte uma sociedade mais conservadora do que a própria Inglaterra, algo inimaginável para alguém da minha idade. É um conservadorismo de bordel, que não conserva coisa nenhuma. É isso a aliança entre o moralismo republicano e a farra da finança especulativa. Os EUA se tornaram um gigante de barro podre. De pé causam desastres; se tombar faz mais estrago ainda. Então a convalescença será longa, longa e longa.

CM – Esse horizonte ameaça o Brasil?

Conceição – Quando estourou a crise de 2007/2008, falei para o Lula: – Que merda, nasci numa crise mundial, vou morrer em outra… Felizmente, o Brasil, graças ao poder de iniciativa do governo saiu-se muito bem. Estou moderadamente otimista quanto ao futuro do país. Mais otimista hoje do que no começo do próprio governo Lula, que herdou condições extremas, ao contrário da Dilma. Se não houver um acidente de percurso na cena externa, podemos ter um bom ciclo adiante.

CM – A inflação é a pedra no meio do caminho da Dilma, como dizem os ortodoxos?

Conceição – Meu temor não é a inflação, é o câmbio. Aliás, eu não entendo porque o nosso Banco Central continua subindo os juros, ainda que agora acene com alguma moderação. Mas foram subindo logo de cara! Num mundo encharcado de liquidez por todos os lados, o Brasil saiu na frente do planeta… Subimos os juros antes dos ricos, eles sim, em algum momento talvez tenham que enfrentar esse dilema inflacionário. Mas nós? Por que continuam a falar em subir os juros se não temos inflação fora de controle e a prioridade número um é o câmbio? Não entendo…

CM – Seria o caso de baixar as taxas?

Conceição – Baixar agora já não é mais suficiente. Nosso problema cambial não se resolve mais só com inteligência monetária. Meu medo é que a situação favorável aqui dentro e a super oferta de liquidez externa leve a um novo ciclo de endividamento. Não endividamento do setor público, como nos anos 80. Mas do setor privado que busca lá fora os recursos fartos e baratos, aumentando sua exposição ao risco externo. E quando os EUA subirem as taxas de juros, como ficam os endividados aqui?

CM – Por que o governo hesita tanto em adotar algum controle cambial?

Conceição – Porque não é fácil. Você tem um tsunami de liquidez externa. Como impedir as empresas de pegarem dinheiro barato lá fora? Vai proibir? Isso acaba entrando por outros meios. Talvez tenhamos que implantar uma trava chilena. O ingresso de novos recursos fica vinculado a uma permanência mínima, que refreie a exposição e o endividamento. Mas isso não é matéria para discutir pelos jornais. É para ser feito. Decidir e fazer.

CM – A senhora tem conversado com a Presidenta Dilma, com Lula?

Conceição – O governo está começando; é preciso dar um tempo ao tempo. Falei com Lula recentemente quando veio ao Rio. Acho que o Instituto dele está no rumo certo. Deve se debruçar sobre dois eixos fundamentais da nossa construção: a questão da democracia e a questão das políticas públicas. Torço para que o braço das políticas públicas tenha sede no Rio. O PT local precisa desse empurrão. E fica mais perto para participar.

Dilma iguala popularidade de Lula em início de governo

Jussara Seixas

Presidente é aprovada por 47%, diz Datafolha; antecessor teve 48% em 2007

Taxa de aprovação a Dilma supera as de Collor, Itamar e FHC; para 23%, presidente favorece os políticos

A presidente Dilma Rousseff é aprovada por 47% dos brasileiros, segundo pesquisa Datafolha realizada nos dias 15 e 16 deste mês.

Com essa taxa de popularidade, iguala-se ao recorde registrado por Luiz Inácio Lula da Silva nesta mesma época no segundo mandato de seu antecessor no Planalto.
Lula teve 43% de aprovação no terceiro mês de seu primeiro mandato, em março de 2003. Depois, bateu um recorde de aprovação presidencial em início de governo em março de 2007, com 48%.
A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Ou seja, Dilma com seus 47% hoje se iguala tecnicamente aos 48% de Lula em 2007. Desta vez, o instituto entrevistou 3.767 pessoas em 179 municípios.
Dilma supera em popularidade todos os antecessores de Lula, segundo o Datafolha, quando se considera esta fase inicial do mandato.
O instituto faz pesquisas nacionais desde 1990. Em junho daquele ano (a posse então era em março), Fernando Collor tinha 36% de aprovação. Itamar Franco, que assumiu após o processo de impeachment de Collor, teve 34% depois de três meses.
Fernando Henrique Cardoso, eleito em 1994 e reeleito em 1998, no início de seus governos teve aprovação de 39% e 21%, respectivamente.
Na pesquisa divulgada hoje, o Datafolha registra 7% que consideram a gestão de Dilma ruim ou péssima. Outros 34% a classificam como regular. Há também 12% que não souberam opinar.

DIFERENÇAS
Há poucos aspectos negativos para Dilma no levantamento. Mas há alguns sinais que a diferenciam de Lula.
Quando o Datafolha indagou aos entrevistados sobre quem são os mais favorecidos no governo Dilma, no topo da lista, com 23%, aparecem os políticos -apesar de a presidente ter tido um comportamento mais duro com o Congresso em relação ao antecessor. Os trabalhadores vêm a seguir, com 17%. No mesmo patamar estão indústria (14%) e bancos (13%).
Lula, em 2003, exalava uma imagem diferente: para 31%, os mais beneficiados pelo antecessor de Dilma eram os trabalhadores. Em seguida, vinham a agricultura (20%) e os políticos (13%).
Outro aspecto diferente entre Dilma e Lula aparece quando os entrevistados são instados a dizer, de maneira espontânea, quais são os maiores problemas do país.
Há oito anos, sob Lula, os brasileiros apontavam o desemprego (31%), a fome e a miséria (22%) como os maiores problemas do país. Hoje, estão no topo da lista a saúde (31%) e a violência (16%).
Tal como Lula, Dilma tem maior taxa de aprovação no Nordeste. Mas não há a grande assimetria muitas vezes registrada no passado.
Entre os nordestinos, Dilma tem 50% de aprovação. No Sul, Norte e no Centro-Oeste, sua marca é 44%. No Sudeste, 47%. Quando o entrevistado dá uma nota de zero a dez, a média obtida por Dilma é 6,9. Mas ela tem 7,3 no Nordeste e 6,6 no Sul.
A presidente tem sempre enfatizado seu interesse em priorizar a educação. Um comercial federal na TV exaltou nas últimas semanas os feitos na área, que acabou sendo percebida como a de melhor desempenho da petista.
Primeira mulher a ocupar o Planalto, Dilma tem aprovação maior (51%) entre as brasileiras do que entre os brasileiros (43%).
A expectativa dos eleitores em relação a Dilma é grande. Para 78% ela fará um governo ótimo ou bom -uma taxa maior do que a de Lula no início do primeiro mandato (76%) e superior à de FHC no mesmo período (48%).

FERNANDO RODRIGUES

DE BRASÍLIA

Jucamaria e Casa das Máquinas convidam: (ilha de santa catarina)


ENCONTRO de  GAITAS e CORDAS

Um encontro musical inédito que reunirá seis artistas, reconhecidos pela crítica especializada nacional e internacionalmente, e que se juntam em dois  Shows de 70 min cada, onde eles estarão apresentando suas composições e a proposta pela qual se enlaçaram…unindo seus talentos e seus instrumentos:  Alessandro Kramer ( Acordeon) , Gabriel Grossi (  gaita de boca),  Alegre Correa ( Guitarra e percussão)   Guinha Ramires ( violão), Marcoliva ( violão e voz) e Tatiana Cobbett ( voz).

Com formações e experiências diferentes estes músicos compositores, se dividirão em duas apresentações, na primeira que acontecerá no dia 24 de março às 20hs na Casa das Máquinas com foco no público estudantil, Tatiana, Marcoliva, Bebê Kramer e Gabriel Grossi mesclam canções próprias com a música instrumental com o máximo aproveitamento de seus instrumentos,  veias criadoras e interpretativas.

 

No segundo Show que acontecerá  no mesmo espaço às 21hs do dia 25 de março, é a vez dos instrumentistas e compositores Guinha Ramires e Alegre Correa se juntarem à Alessandro Bebê Kramer e Gabriel Grossi para juntos delinear num repertório próprio e totalmente instrumental arranjos especialmente criados para seus instrumentos, Violão, Guitarra, Acordeon e Gaita de Boca.

Dois momentos de exuberância, inventividade  e grande qualidade do que conhecemos por música brasileira


Serviço:

Quinta – dia 24 – 20hs – Encontro de Gaitas e Cordas:  Bebê Kramer, Gabriel Grossi, Marcoliva e Tatiana Cobbett ( gratuito e fechado para escolas)

Sexta – dia 25 –21hs – Encontro Gaitas e Cordas : Bebê Kramer, Gabriel Grossi, Alegre Corrêa e Guinha Ramires ( ingressos, R$ 20,00 – à venda no local ou antecipada via depósito bancário com informações pelo fone 9107-4457 ou e-mail juamplitude@ibest.com.br)

Local: Casa da Máquinas

Henrique Veras do Nascimento nº50 – Praça Bento Silvério –Lagoa da Conceição

Florianópolis – Tel: 48 3232-1514

 

BARACK OBAMA: “o futuro chegou para o Brasil”

Obama diz que EUA apoiam ‘protagonismo’ mundial do Brasil

Presidente dos EUA falou a empresários dos dois países em Brasília.
‘Muitos dizem que o Brasil é o país do futuro, então o futuro chegou’, disse.

 

O presidente dos Estados Unidos,Barack Obama, citou neste sábado (19) o crescimento da relevância internacional do Brasil e disse que os Estados Unidos apoiam o maior protagonismo do país na economia mundial.

As afirmações foram feitas em discurso a empresários brasileiros e norte-americanos, na Cúpula Empresarial Brasil-Estados Unidos, em Brasília.

Obama foi muito aplaudido ao chegar no local do evento. Depois de agradecer aos organizadores do evento e aos membros do seu gabinete, um longo discurso sobre as relações comerciais entre os dois países.

O presidente americano disse que nos últimos dois séculos nunca houve um momento com tantas promessas futuras para o Brasil. Ele mencionou o crescimento e a força da economia brasileira.

O presidente dos EUA, Barack Obama, durante discurso a empresários brasileiros e americanos em Brasília (Foto: AFP)O presidente dos EUA, Barack Obama, durante discurso a empresários brasileiros e americanos em Brasília (Foto: AFP)

“Muitos dizem que o Brasil é o país do futuro, então o futuro chegou”, disse Obama, ressaltando que o avanço se deu por trabalho e por competência especialmente dos dois últimos governantes, mencionando os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo Obama, o Brasil conseguiu mostrar que o capitalismo pode existir junto com uma preocupação com justiça social. Ele ressaltou o papel do Brasil na formação de uma nação de imigrantes que encontra força na diversidade e que consegue se consolidar como uma das maiores democracias do mundo.

Segundo ele, os Estados Unidos apoiam o crescimento do Brasil como uma potência global, e os EUA trabalham para que o Brasil tenha um protagonismo no G20 e em outras instituiçãos, como FMI e Banco Mundial, e isso fez com que o Brasil fosse o primeiro país visitado por ele em sua viagem à América Latina.

Ele admitiu que os Estados Unidos vêem no Brasil um mercado em crescimento, que pode ser explorado pela indústria dos Estados Unidos. Ressaltou que as exportações de bens e serviços para o Brasil cresceram nas últimas décadas. As exportações, entretanto, também significam mais avanço para o Brasil, e para o aumento do padrão de vida dos brasileiros.

Ele lembrou ainda que a relação comercial tem duas vias e que os Estados Unidos importam muito da produção brasileira, gerando emprego e renda no Brasil. “Não há dúvida de que os Estados Unidos e o Brasil se beneficiam dos laços econômicos” e o fortalecimento desses laços é positivo para as duas nações.

Barreiras
Obama reclamou que ainda há muitos obstáculos para que os Estados Unidos consigam fazer negócios com a maior economia da América Latina. Segundo ele, entretanto, esta visita pode ajudar a abrir maiores oportunidades e diminuir as barreiras que ainda existem.

Obama mencionou que, no encontro com Dilma Roussef, acertaram de reforçar a relação entre os dois países, assinando um diálogo que vai promover cooperação econômica entre Brasil e Estados Unidos.

Segundo Obama, algumas das principais áreas em que os dois países precisam aumentar a cooperação são a questão energética, a educação e a infraestrutura.

O presidente americano alegou que os dois países vão gerar um trabalho de “parceria verde”, para desenvolver fontes de energia limpa e renovável, apesar de admitir que ainda há necessidade de petróleo para as duas nações.

Como todos amigos, disse Obama, os dois países nem sempre concordam em tudo, mas que os Estados Unidos não vão esquecer dos seus parceiros.

Obama disse que o Brasil está se tornando um modelo para o mundo, seguindo uma mentalidade semelhante à do sonho americano, que defende que tudo é possível.

Do G1, em São Paulo

Chefes da polícia secreta de Pinochet são condenados / santiago


A Corte de Apelações de Santiago ratificou nesta sexta-feira uma condenação de cinco anos de prisão ao general aposentado Manuel Contreras, ex-chefe da polícia secreta do ditador Augusto Pinochet.

Ele foi condenado pelo sequestro de um estudante universitário desaparecido em 1974, informaram fontes oficiais. Outros quatro repressores foram sentenciados a igual pena, mas os tribunais concederam a eles o benefício da liberdade vigiada.

O caso se refere ao estudante Mamerto Espinoza Henríquez detido em 17 de setembro de 1974 em Santiago. A ratificação de ontem foi da decisão em primeira instância, de 6 de outubro de 2009, do juiz especial Mario Carroza. Além de Contreras, ele condenou o ex-brigadeiro Miguel Krassnoff Martchentko e os coronéis aposentados Marcelo Moren Brito, César Manríquez Bravo e Ciro Torré Sáez. Os dois últimos podem cumprir pena em regime de liberdade vigiada.

Mamerto Espinoza, de 26 anos, era militante do Movimento de Esquerda Revolucionária, da cidade de Conceição. Ele foi preso durante uma viagem a Saniago, onde dormia na casa de um irmão.

Segundo um informe que certificou as violações aos direitos humanos cometidas durante a ditadura de Augusto Pinochet, Espinoza era um dos encarregados da segurança de Miguel Enríquez, líder do movimento que combateu a ditadura militar. Miguel Enríquez morreu em 5 de outubro de 1974, durante um enfrentamento com militares.

DA EFE, EM SANTIAGO

DILMA ROUSSEFF, entrevista ao VALOR ECONÔMICO:

DILMA VAI ADOTAR REGIME DE CONCESSÃO PARA AEROPORTOS

 

A presidente da Republica, Dilma Rousseff, foi afirmativa: “Não vou permitir que a inflação volte no Brasil. Não permitirei que a inflação, sob qualquer circunstância, volte”.  A declaração foi dada durante entrevista ao Valor, a primeira exclusiva a um jornal brasileiro, num momento em que as expectativas de inflação pioram e os mercados insinuam que o Banco Central não tem autonomia para agir. “Eu acredito num Banco Central extremamente profissional e autônomo. E este Banco Central será profissional e autônomo”, garantiu a presidente.

Em conversa de cerca de duas horas, Dilma não poupou ênfase a guerra antiinflacionária: “Não negocio com a inflação. Em nenhum momento eu tergiverso com inflação. E não acredito que o Banco Central o faça”, reiterou, com a ressalva de que o combate não será feito com o sacrifício do crescimento. “Tenho certeza que o Brasil vai crescer entre 4,5% e 5% este ano”, afirmou.

A presidente não concorda com a avaliação de que há excesso de demanda e de que o país cresce acima de seu potencial. “Pode ser que essa seja a divergência que nós temos com alguns segmentos”. Ela não nega que haja desequilíbrios entre oferta e demanda em alguns setores, mas argumenta: “É inequívoco que houve nos últimos tempos um crescimento dos preços dos alimentos, que já se reduziu, além dos reajustes sazonais do início do ano. E há a pressão ligada aos preços das commodities”.

Para a presidente, ver incompatibilidade em segurar a inflação e ter uma taxa de crescimento sustentável representa o retorno da velha tese “de que é preciso derrubar a economia brasileira”. A esse respeito, ela é incisiva: “Nós não vamos fazer isso”. E salienta que seu governo está adotando “medidas sérias e sóbrias”. Está controlando o gasto público e esfriando ao máximo a expansão do custeio. “Conter o gasto de custeio é como cortar as unhas”, compara. “O governo sempre terá que controlar, caso contrário ele cresce”.

Sobre as desconfianças do mercado em relação à dosagem da política monetária para controlar a inflação e as críticas sobre o uso de medidas prudenciais associadas à elevação da taxa de juros, a presidente comenta: “Não sei se não estão tentando diminuir a importância deste Banco Central porque não há gente do mercado em sua diretoria”.

Se o mercado, com suas boas ou más intenções, considera a gestão de Alexandre Tombini no Banco Central “dovish” – frouxa como um pombo, em contraposição a “hawkish”, duro como um falcão – ela ri e prontamente responde: “Eu sou uma arara”.

A presidente Dilma Rousseff anunciou que vai abrir os aeroportos do país ao regime de concessões para exploração do setor privado. Disse, também, que é preciso acabar com o incentivo fiscal dado por vários Estados que reduziram para apenas 3% a alíquota do ICMS para bens importados que chegam ao país por seus portos. “Estão entrando no Brasil produtos importados com o ICMS lá embaixo. É uma guerra fiscal que detona toda a cadeia produtiva daquele setor”, comentou a presidente, citando proposta de projeto de lei que já se encontra no Senado para acabar com essa distorção.

Dilma já definiu as propostas que enviará ao Congresso ainda neste semestre: a criação do Programa Nacional de Ensino Técnico (Pronatec) e do Programa de Erradicação da Pobreza, além de medidas específicas que alteram alguns tributos (e não uma proposta de reforma tributária). Ela admitiu, também, concluir a regulamentação da reforma da previdência do servidor público, com a aprovação da proposta que institui os fundos de pensão complementar. “Mas não vamos tirar direitos do trabalhador, não”, assegurou.

Em entrevista ao Valor, a primeira concedida a um jornal brasileiro, a presidente adiantou: “Agora nós estamos nos preparando para fazer uma forte intervenção nos aeroportos. Vamos fazer concessões, aceitar investimentos da iniciativa privada que sejam adequados aos planos de expansão necessários. Não temos preconceito contra nenhuma forma de expansão do investimento nessa área, como não tivemos nas rodovias.” Até o fim do mês ela deve enviar ao Congresso a medida provisória que cria a Secretaria de Aviação Civil com status de ministério, que agregará a Anac, a Infraero e toda a estrutura para fazer a política de aviação.

Diante da falta de mão de obra tecnicamente qualificada para atender à demanda de uma economia que cresce, o governo está concluindo o desenho do Pronatec, programa de pretende garantir que o ensino médio tenha um componente complementar profissionalizante. Promessa de campanha, o projeto de erradicação da pobreza terá como meta retirar o máximo possível dos 19 milhões de brasileiros da situação de miséria que ainda se encontram.

Desta vez, porém, o programa virá acompanhado de portas de saída, disse. A erradicação da pobreza usará o instrumental reformulado do Bolsa Família e terá tanto no Pronatec, quanto nos mecanismos do microcrédito e de novos incentivo à agricultura familiar, as portas de saída da mera assistência social. “Estamos passando as tropas em revista e mudando muita coisa”, comentou a presidente. Nada disso, porém, prescinde do crescimento da economia. A seguir, a entrevista:

Valor: Qual o impacto do desastre no Japão sobre a economia mundial e sobre o Brasil?

Dilma Rousseff: Primeiro, acho que ficamos todos muito impactados. A comunicação global em tempo real cria em nós uma sensação como se o terremoto seguido do tsunami estivessem na porta de nossas casas. Nunca vi ondas daquele tamanho, aquele barco girando no redemoinho, a quantidade de carros que pareciam de brinquedo! Inexoravelmente, a comunicação faz com que você se coloque no lugar das pessoas! Essa é a primeira reação humana. Acredito, numa reflexão mais fria depois do evento, se é que podemos chamar alguma coisa de fria no Japão, acho que um dos efeitos será sobre o petróleo.

Valor: Aumento de preço?

Dilma: Vai ampliar muito a demanda de petróleo ou de gás para substituir a energia nuclear. Pelo que li, 40% da energia de base do Japão é nuclear. Os substitutos mais rápidos e efetivos são o gás natural ou petróleo. Acredito que esse será um impacto imediato. Nós sempre esquecemos da diferença substantiva entre nós e os outros países.

Valor: Qual?

Dilma: Água. Nesse aspecto somos um país abençoado. Não tenho ideia de qual vai ser a política de substituição de energia. Não sei como a Alemanha, por exemplo, vai fazer. Os Estados Unidos já declararam que não vão interromper o programa nuclear. Nós não temos a mesma dependência. Temos um elenco de alternativas que os outros países não têm. A Europa já usou todo o seu potencial hídrico. Energia é algo que define o ritmo de crescimento dos países e o Brasil tem na energia uma diferença estratégica e competitiva.

Valor: E tem o pré-sal. O governo poderia acelerar o programa de exploração?

Dilma: Não. Vamos seguir num ritmo que não transforma o petróleo em uma maldição. Queremos ter uma indústria de petróleo, desenvolver pesquisas, produzir bens e serviços e exportar para o mundo. Não podemos apostar em ganhos fáceis. Temos que apostar que o pré-sal é um passaporte para o futuro. Não vamos explorar para usar, mas para exportar. Queremos nossa matriz energética limpa e queremos, também, ter ganhos na cadeia industrial do petróleo. Esse é um país continental com uma indústria sofisticada e uma das maiores democracias do mundo. Não somos um paisinho.

Valor: A sra. acha que a tragédia no Japão vai atrasar a recuperação da economia mundial?

Dilma: Acredito que atrasa um pouco, mas também tem um efeito recuperador, de reconstrução. O Japão vai ter que ser reconstruído. É impressionante o que é natureza. Nem nos piores pesadelos conseguimos saber o que é uma onda de dez metros.

Valor: O esforço de reconstrução de uma parte do Japão deve demandar grandes somas de recursos. Isso pode reduzir o fluxo de capitais para o Brasil?

Dilma: Pode ter um efeito desses. Acho que vai haver um maior fluxo de dinheiro para lá e isso não é maléfico. Tem dinheiro sobrando para tudo no mundo. Para a reconstrução do Japão, para investir aqui e para especular.

Valor: O governo, preocupado com a taxa de câmbio, tem mencionado a necessidade de novas medidas. Uma delas seria encarecer os empréstimos externos para frear o processo de endividamento de bancos e empresas? A sra. já aprovou essas medidas?

Dilma: Primeiro, é preciso distinguir o que é dívida para investimentos do que é dívida de curto prazo. Imagino que quem está se endividando esteja fazendo “hedge”. Todo mundo aí é adulto.

Valor: Mas o governo prepara um pacote de medidas cambiais?

Dilma: Tem uma coisa que acho fantástica. Às vezes abro o jornal e leio que a presidenta disse isso, pensa aquilo, e eu nunca abri minha santa boca para dizer nada daquilo. Tem avaliações de que um ministro subiu, outro desceu, que são absurdas. Absurdas! Falam que tais ministros estão desvalorizadíssimos na bolsa de apostas. Acho que o governo não pode se pautar por esse tipo de avaliação. Nenhum presidente avalia seus ministros dessa forma. E nenhum presidente pode fazer pacotes de acordo com o flutuar das coisas. Toma-se medidas que tem a ver com o que se está fazendo. Mas posso lhe adiantar algumas coisas.

Valor: Quais?

Dilma: Eu não vou permitir que a inflação volte no Brasil. Não permitirei que a inflação, sob qualquer circunstância, volte. Também não acredito nas regras que falam, em março, que o Brasil não crescerá este ano. Tenho certeza que o Brasil vai crescer entre 4,5% e 5% este ano. Não tem nenhuma inconsistência em cortar R$ 50 bilhões no Orçamento e repassar R$ 55 bilhões para o BNDES garantir os financiamentos do programa de sustentação do investimento. Não tem nenhuma inconsistência com o fato de que o país pode aumentar a sua oferta de bens e serviços aumentando seus investimentos. E ao fazê-lo vai contribuir para diminuir qualquer pressão de demanda. Hoje, eu acho que aquela velha discussão sobre qual é o potencial de crescimento do país tem que ser revista.

Valor: Revista como?

Dilma: Você se lembra que diziam que o PIB potencial era de 3,5%? Depois aumentou, e baixou novamente durante a crise global, pela queda dos investimentos, não? E aumentou em 2010, com crescimento de 7,5% puxado pelo aumento de bens de capital. Então, isso não é consistente.

Valor: A sra. comunga ou não da ideia de que é possível ter um pouquinho mais de inflação para obter um pouco mais de crescimento?

Dilma: Isso não funciona. É aquela velha imagem da pequena gravidez. Não tem uma pequena gravidez. Ou tem gravidez ou não tem. Agora, não farei qualquer negociação com a taxa de inflação. Não farei. E não acho que a inflação no Brasil seja de demanda.

Valor: Não?

Dilma: Pode ser que essa seja a divergência que nós temos com alguns segmentos. Nós não achamos que ela é de demanda. Achamos que há alguns desequilíbrios em alguns setores, mas é inequívoco que houve nos últimos tempos um crescimento dos preços dos alimentos, que já reduziu. Teve aumento do preço do material escolar, dos transportes urbanos, que são sazonais.

Valor: E a inflação de serviços que já passa de 8%?

Dilma: Há crescimento da inflação de serviços e isso temos que acompanhar. Mas o que não é possível é falar que o Brasil está crescendo além da sua capacidade e que, portanto, tem um crescimento pressionando a inflação. O mundo inteiro, na área dos emergentes, está passando por isso. Houve um processo de pressão inflacionária que tem componente ligado às commodities e, no Brasil, tem o fator inercial. Mas é compatível segurar a inflação e ter uma taxa de crescimento sustentável para o país. Caso contrário, é aquela velha tese: tem que derrubar a economia brasileira.

Valor: Derrubar o crescimento?

Dilma: Nós não vamos fazer isso. Não vamos e não estamos fazendo. Estamos tomando as medidas sérias e sóbrias. Estamos contendo os gastos públicos. Tanto estamos que os resultados do superávit primário de janeiro e fevereiro vão fechar de forma significativa para o que queremos. Vamos conter o custeio do governo. Estamos esfriando ao máximo a expansão do custeio. Agora, não precisamos expandir o investimento para além do maior investimento que tivemos, que foi o do ano passado. Vamos mantê-lo alto. Olhe quanto investimos em janeiro: R$ 2,5 bilhões pagos. O pessoal fala dos restos a pagar. Ninguém faz plano de investimento de longo prazo no Brasil sem fazer restos a pagar.

Valor: São mais de R$ 120 bilhões. Não está muito alto?

Dilma: Por quê? Ou nosso investimento é baixo ou é alto. Eu levei dois anos – 2007 e 2008 – brigando para fazer a BR-163, entre o Paraná e o Mato Grosso. É todo o escoamento da nossa produção e agora ela decolou. Está em regime de cruzeiro. Estamos nos preparando para ter uma forte intervenção nos aeroportos.

Valor: Intervenção como?

Dilma: Vamos fazer concessões, aceitar investimentos da iniciativa privada que sejam adequados aos planos de expansão necessários. Vamos articular a expansão de aeroportos com recursos públicos e fazer concessões ao setor privado. Não temos preconceito contra nenhuma forma de expansão do investimento nessa área, como não tivemos nas rodovias. Porque não fizemos a BR-163 quando eu era chefe da Casa Civil?

Valor: Por quê?

Dilma: Quando cheguei na Casa Civil havia um projeto para privatizá-la completamente. Esse projeto virou projeto de concessão e eu o recebi assim. Fomos olhá-lo e sabe quanto era o cálculo da tarifa média? R$ 900. Isso mostra que essa rodovia não era compatível com concessão. Talvez no futuro, quando tivesse que duplicar, fosse por concessão porque ela já teria se desenvolvido e criado fontes geradoras para si mesma. A Regis Bittencourt dá para fazer concessão, pois ela se mantém. O que não é possível é usar o mesmo remédio para todos os problemas.

Valor: E como será para os aeroportos?

Dilma: Vamos fazer concessão do que existe – fazer um novo terminal, por exemplo. Posso fazer concessão administrativa com cláusula de expansão. Posso fazer concessão onde nada existe, como a construção de um aeroporto da mesma forma que se faz numa hidrelétrica. É possível que haja necessidade de investimentos públicos em alguns aeroportos. O Brasil terá que ter aeroportos regionais. Nós vamos criar a Secretaria de Aviação Civil com status de ministério, porque queremos uma verdadeira transformação nessa área. Para ela irá a Anac, a Infraero e toda a estrutura para fazer a política.

Valor: Quando a sra. vai mandar para o Congresso a medida provisória que cria a secretaria?

Dilma: Estou pensando em mandar até o fim deste mês.

Valor: Quem vai ocupar a pasta da Aviação?

Dilma: Ainda estamos discutindo em várias esferas um nome para a aviação civil.

Valor: O nome do Rossano Maranhão não está confirmado?

Dilma: Nós sempre pensamos no Rossano para várias coisas. Não só eu. O presidente Lula também. Nós o consideramos um excepcional executivo.

Valor: Eu gostaria de voltar à questão da inflação. A sra. disse que não vai derrubar a economia e vai derrubar a inflação. É isso?

Dilma: Não é só isso. Eu não negocio com inflação.

Valor: Há quem argumente, na ponta do lápis, que não é possível reduzir a inflação de 6% para 4,5% e crescer 4,5% a 5% ao ano.

Dilma: Você pode fazer várias contas. É só fazer um modelo matemático. Agora, se ela é real…

Valor: Mesmo com o corte de R$ 50 bilhões nos gastos públicos, a política fiscal do governo não é contracionista de demanda. Ela é menos expansionista do que foi no ano passado.

Dilma: Ela é uma política de consolidação fiscal.

Valor: O que significa isso?

Dilma: É porque achamos que o que estamos fazendo não é… É como cortar as unhas. Vamos ter que fazer sempre a consolidação fiscal. Na verdade, temos que fazer isso todos os anos, pois se você não olhar alguns gastos, eles explodem. Se libera os gastos de custeio, um dia você acorda e ele está imenso. Então, você tem que cortar as unhas, sempre. Nós estamos cortando as unhas do custeio, vamos cortar mais e vamos fazer uma política de gerenciar esse governo. Estamos passando em revista tudo o que pode ser cortado e isso tem que ser feito todos os anos.

Valor: O que significa não negociar com a inflação do ponto de vista de cumprimento da meta?

Dilma: Significa que a meta é de 4,5% e nós vamos perseguir 4,5%. Tem banda para cima, banda para baixo (margem de tolerância de 2 pontos percentuais), mas nós sempre tentamos, apesar da banda, forçar a inflação para a meta até tê-la no centro.

Valor: Os mercados não estão acreditando nisso. Acham que o Banco Central foi frouxo no aumento dos juros, até porque o Palácio do Planalto teria autorizado um aumento de 0,75 ponto percentual e o presidente do BC (Alexandre Tombini) não usou essa autorização…

Dilma: Eu não vejo o Tombini há um mês, não vejo e não falo. Aproximadamente… eu lembro uma vez que ele viajou e a última vez que falei com ele foi antes dessa viagem.

Valor: O Tombini é “dovish” [neologismo inglês derivado de “dove”, pombo, que indica um defensor de juros mais baixas e com postura mais tolerante com a inflação]?

Dilma: E eu sou arara (risos).

Valor: Preocupa a descrença dos mercados na política antiinflacionária?

Dilma: O mercado todo apostou que esse país ia para o beleléu em 2009. E no fim de 2009 a economia já tinha começado a se recuperar. O mercado apostou numa taxa de juro elevadíssima quando o mundo já estava em recessão. Então eu acho que o mercado acerta, erra, acerta, erra, acerta. Não acho que temos que desconsiderar o mercado, não. A gente tem que sempre estar atento à opinião dele, que integra um dos elementos importantes da realidade. Um dos principais, mas não o único. Eu vou considerar essa história de “dovish” e “hawkish” (pombo ou falcão) uma brincadeira, um anglicismo.

Valor: Mas o BC, no seu governo, tem autonomia?

Dilma: O Banco Central tem autonomia para fazer a política dele e está fazendo. Tenho tranquilidade de dizer que em nenhum momento eu tergiverso com inflação. E não acredito que o Banco Central o faça. Eu acredito num Banco Central extremamente profissional e autônomo. E esse Banco Central será profissional e autônomo. Não sei se não estão tentando diminuir a importância desse BC.

Valor: Por quê?

Dilma: Porque não tem gente do mercado na sua diretoria.

Valor: Mas pode vir a ter?

Dilma: Pode ter, sim. Falar que tem que ser assim ou assado é um besteirol. Desde que seja um nome bom, ele pode vir de onde vier.

Valor: A opção por fazer uma política monetária diferente, mesclada de juros e medidas prudenciais, pode estar criando um mal-estar?

Dilma: O mercado tem os seus instrumentos tradicionais, mas tem também os incorporados recentemente, no pós-crise. Você tem que fazer essa combinação. Não pode ser fundamentalista, não é bom. Conte com os dois que o efeito ocorre.

Valor: A sra. reiterou a meta de inflação de 4,5%, mas não mais para este ano, não é?

Dilma: Sobre isso, tem um artigo interessante escrito pelo Delfim (na edição de terça-feira do Valor), a respeito de que não existe uma lei divina que diz que a taxa de crescimento será de 3% e que a inflação será de 6%. Eu acho que isso é adivinhação.

Valor: As condições para o ano de 2011 não estão dadas?

Dilma: Não, depende da gente. Nós mostramos que não estava dado na hora da crise e vamos mostrar que não está dado também na hora da inflação e do crescimento sustentado da economia brasileira. Quando eu digo que tenho firme convicção de que não se negocia com a inflação, é para você saber que nós passamos todo o tempo olhando isso. Por isso eu acredito no que faz o Banco Central, no que faz o Ministério da Fazenda.

Valor: Tem um elemento já dado para 2012 que preocupa os analistas: a superindexação do salário mínimo no momento em que o país estará em plena luta antiinflacionária. Não seria hora, depois de 17 anos de plano de estabilização, de se desindexar tudo?

Dilma: No futuro nós vamos ter uma menor preocupação com a valorização do salário mínimo. Quando? Quando houver um crescimento sustentado nesse país.

Valor: Isso não dificulta o combate à inflação?

Dilma: O que aconteceu com o salário mínimo ao longo do tempo? Uma baita desvalorização. Seja porque ele não ganhava sequer a correção inflacionária, seja porque vinha de patamares muito baixos. Acho que o processo de valorização do salário mínimo ainda não se esgotou. Foi isso que nós sinalizamos aquele dia na Câmara (na votação da proposta de correção pela inflação e pelo PIB até 2015). Nós não fazemos qualquer negócio. Quando a economia vai mal, nós não vamos dar reajuste, ele será zero. Vamos dar a inflação. Quando a economia vai bem, com um atraso de um ano, nós damos o que a economia ganhou ali, porque acreditamos que houve um ganho global de produtividade e de crescimento sistêmico. O prazo de um ano (o reajuste é dado pelo PIB de dois anos anteriores) amortece, mas transfere ao trabalhador um ganho que é dele, é da economia como um todo.

Valor: Esse é um assunto resolvido até 2015, portanto?

Dilma: Dar ao trabalhador o direito de receber o ganho decorrente do crescimento do país, com o cuidado de não ser automático para você poder ter acomodação necessária, é fundamental. Acho que o acordo feito entre as centrais e o governo do presidente Lula dá conta dessa época que estamos vivendo, em que estamos valorizando o salário mínimo.

Valor: E depois, negocia-se outra regra?

Dilma: É, porque esta não vai dar conta de uma época futura neste país, onde teremos mantido uma taxa de crescimento sistemática, durante um período mais longo, mais de cinco anos, por exemplo. Aí, sim, você terá tido um nível de recuperação da renda que justifica você ter outra meta. Agora, o que nós fizemos e explicamos para as centrais foi manter o acordo que tinha uma sustentação política, uma sustentação de visão econômica da questão do salário mínimo.

Valor: O reajuste de 13,9% de 2012 corrigirá também as aposentadorias?

Dilma: Esse aumento vai para 70% dos aposentados que ganham salário mínimo. Quem ganha mais do que um mínimo não tem indexação. Em 2014 nós teremos que apresentar uma política para os anos seguintes.

Valor: Nessa ocasião ele poderá ser atrelado à produtividade?

Dilma: Não sei. Não acho que isso (a regra atual) seja uma indexação e quem está falando que é uma indexação tem imensa má vontade com o trabalhador brasileiro. Temos que fazer com que algumas regiões do país e alguns setores da sociedade cresçam a uma taxa maior do que a média para reduzir as desigualdades. Isso vale para o Nordeste, para o Norte, para a metade sul do Rio Grande do Sul, para o Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais e o Vale do Ribeira, em São Paulo. O mesmo se aplica a alguns setores da sociedade. Há, aí, uma estratégia que olha para o Brasil. O país não pode ser tão desigual. Isso não é bom politicamente, socialmente, e não é bom para a economia. O que nos aproxima da Índia, da Rússia e da China, os Bric, não é tanto o fato de sermos emergentes.

Valor: O que é?

Dilma: É o fato de que países que têm a oportunidade histórica de dar um salto para a frente, países continentais com toda a sorte de riquezas, quando sua população desperta e passa a incorporar o mercado, isso acelera o crescimento. É o que explica que o nosso crescimento pode ser maior do que o crescimento dos países desenvolvidos. Outro fator é se conseguirmos criar massivamente um processo de educação em todos os níveis para a população, e formação de pessoas ligadas à ciência e tecnologia que permita que o país comece a gerar inovação. Essas três coisas explicam muito os Estados Unidos e é nelas que temos que apostar para o Brasil dar um salto. Nós temos hoje uma janela de oportunidade única. Além disso temos petróleo, biocombustível, hidrelétrica, minério e somos uma potência alimentar. Não queremos ser só “commoditizados”. Queremos agregar valor. Por isso insistimos em parcerias estratégicas com outros países. Agora mesmo vamos propor uma para os Estados Unidos.

Valor: Na visita do presidente Obama? Qual?

Dilma: Na área de satélites, especialmente para avaliação do clima, e parcerias em algumas outras áreas. Vou lhe dar um exemplo: acho fundamental o Brasil apostar na formação no exterior. Todos os países que deram um salto apostaram na formação de profissionais fora. Queremos isso nas ciências exatas – matemática, química, física, biologia e engenharia. Queremos parceria do governo americano em garantia de vagas nas melhores escolas. Nós damos bolsa. Vamos buscar fazer isso não só nos Estados Unidos, e de forma sistemática.

Valor: O que a sra. espera de fato dessa visita?

Dilma: Acho que tanto para nós quanto para os Estados Unidos o grande sumo disso tudo, o que fica, é a progressiva consciência de que o Brasil é um país que assumiu seu papel internacional e que pode, pelos seus vínculos históricos com os Estados Unidos e por estarmos na mesma região, ser um parceiro importantíssimo. Isso a gente constrói. Agora, essa consciência é importante. Nós não somos mais um país da época da “Aliança para o Progresso”, um país que precisa desse tipo de ajuda. Não que a aliança para o progresso não tenha tido seus méritos, agora não é isso mais que o Brasil é. O Brasil é um país que os EUA tem que olhar de forma muito circunstanciada.

Valor: Como assim?

Dilma: Que outro país no mundo tem a reserva de petróleo que temos, que não tem guerra, não tem conflito étnico, respeita contratos, tem princípios democráticos extremamente claros e uma forma de visão do mundo tão generosa e pró-paz? Uma questão é fundamental: um país democrático ocidental como nós tem que ser um país que tenha perfeita consciência da questão dos direitos humanos. E isso vale para todos.

Valor: Para o Irã e para os EUA?

Dilma: Se não concordo com o apedrejamento de mulheres, eu também não posso concordar com gente presa a vida inteira sem julgamento (na base de Guantânamo). Isso vale para o Irã, vale para os Estados Unidos e vale para o Brasil. Também não posso dar uma de bacana e achar que o Brasil pode ficar dando cartas e não olhar para suas próprias mazelas, para o seu sistema carcerário, por exemplo, sua política com relação aos presos. E isso chega ao direito de uma criança comer, das pessoas estudarem. Isso é direito humano. Mas é também, no sentido amplo da palavra, o respeito à liberdade, a capacidade de conviver com as diferenças, a tolerância. Um país com as raízes culturais que nós temos, que tem uma cultura tão múltipla, e que tem esse gosto pelo consenso, pela conversa, tudo isso caracteriza uma contribuição que o Brasil pode dar para a construção da paz no mundo. Acho que o mundo nos vê como um país amigável.

Valor: A sra. disse recentemente que não fará reforma da previdência social. Mas a regulamentação da reforma da previdência do setor público que está parada no Congresso, será feita?

Dilma: Isso é outra coisa. Já está no Congresso e vamos tentar ver se ele vota. Mas não vamos tirar direitos do trabalhador, não. Nem vem que não tem!.

Valor: A regulamentação da previdência pública, com a criação dos fundos de previdência complementar, não seria apenas para os novos funcionários?

Dilma: É. Mas aí temos que ver como será feito. Não estamos ainda discutindo isso.

Valor: E a reforma tributária? Há informações que a sra. enviará quatro projetos distintos, mudando determinados tributos. É isso mesmo?

Dilma: Estão entrando no Brasil produtos importados com o ICMS lá embaixo. É uma guerra fiscal que detona toda a cadeia produtiva daquele setor. Mas não vou adiantar o que vamos enviar ao Congresso porque não está maduro ainda. Vamos mandar medidas tributárias e não uma reforma. Vamos mandar várias para ter pelo menos uma parte aprovada. Mandaremos também o Programa Nacional de Ensino Técnico (Pronatec) e o programa de Erradicação da Pobreza.

Valor: Como serão esses dois?

Dilma: Não posso lhe adiantar porque também não estão fechados. O Pronatec vai garantir que o ensino médio tenha um componente complementar profissional, de um lado, e, de outro lado, garantir que tenha uma formação para os trabalhadores brasileiros de forma que não sobre trabalhador numa área e falte em uma outra. Isso é um pouco mais complicado e não posso dar todas as medidas por que elas interferem em outros setores. Já a questão do ICMS é uma regulamentação que já está no Senado.

Valor: E a desoneração de folha salarial sai?

Dilma: Não posso lhe falar sobre as medidas tributárias.

Valor: São para este ano?

Dilma: Na nossa agenda é para este semestre.

Valor: Qual a proposta para a erradicação da pobreza?

Dilma: É chegar ao fim de quatro anos mais próximo de retirar da pobreza os 19 milhões de brasileiros que ainda faltam.

Valor: O instrumental é o Bolsa Família?

Dilma: Nos já começamos a mexer no Bolsa Família, aumentando a parte de crianças. É com isso, com uma parte do Pronatec, que vai ajudar, é com microcrédito, incentivo à agricultura familiar de uma outra forma. Estamos passando as tropas em revista e mudando muita coisa. E tem que ter sintonia fina. Há profissionais dedicados ao estudo da pobreza que diz que se você não focar, olhando a cara dela, você não consegue tirar as pessoas. E nós queremos, desta vez, estruturar portas de saída.

Valor: Para todos e não só para os 19 milhões a que a sra se referiu?

Dilma: Para todo mundo.

Valor: Uma porta de saída será o Pronatec?

Dilma: Também. As saídas estão aí e estão em manter a economia crescendo.

Valor: A reunião anual da Assembleia de Acionistas da Vale será dia 19 de abril. Nessa reunião deve se decidir sobre a permanência ou não do presidente Roger Agnelli, cujo contrato de trabalho termina dia 30 de abril. Ele será substituído ou pode ser reconduzido?

Dilma: Não sei.

Valor: A sra. não sabe?

Dilma: Você vai ficar estarrecida, mas não sei.

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Autor(es): Claudia Safatle | De Brasília
Valor Econômico – 17/03/2011

 

Roda de Choro com “GINGA DO MANÉ”, convida para hoje (17/3/11) e demais quintas:

O TERROR E BESTIALIDADE DA ENERGIA NUCLEAR – por richard jakubaszko /são paulo

O desastre é iminente, lamentavelmente.

Provavelmente menos de 48 horas nos separam de uma quase inevitável tragédia. Ou menos.
Queira Deus que algo possa ser feito e que os japoneses consigam reverter o quadro de crise do excessivo aquecimento no reator da usina nuclear de Fukushima, na região nordeste do Japão.
Queira Deus que sejam poucas as vítimas. Houve tempo para evacuação. Fica o medo nessas pessoas, e em todos nós, do pavor sequencial de um terremoto de 7 graus na escala Richter, um dos quatro maiores da história, depois um tenebroso e avassalador tsunami, que levou tudo o que estava à sua frente, e agora a ameaça nuclear, a espada de Dâmocles sobre a cabeça de muitos seres humanos.

Se nos lembrarmos de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, teremos a exata noção do horror que significa um vazamento de material radioativo de uma usina nuclear. Até hoje, 25 anos depois, muitas pessoas morrem em consequência de doenças provocadas pelo desastre nuclear na Ucrânia. Perdas de vidas, sofrimento humano incomparável, crianças que nasceram com deformidades indescritíveis.
Desnecessário lembrar as perdas materiais. Até hoje a região está desabitada, casas, prédios, fazendas, nenhum valor comercial.

Até recentemente Chernobyl era um paradigma dos ativistas contra as usinas nucleares, mas a massificada campanha midiática de divulgação do aquecimento do planeta, a partir de 2007, com o total apoio dos ambientalistas, colocando culpa no CO2 e outros gases de efeito estufa, os GEE, todos de origem fóssil, fez retornar as usinas nucleares como salvação “limpa e segura” de fornecimento de energia elétrica.

Até hoje a Europa discute de forma hipócrita o uso do etanol como combustível em substituição ao diesel e à gasolina, ao mesmo tempo em que impõe barreiras alfandegárias para importação do nosso etanol de cana-de-açúcar. Uma demonstração de que não estão preocupados com as questões ambientais, e tampouco com o aquecimento.

Mas o terror continua
O imperador do Japão, Akihito, afirmou que está “profundamente preocupado” com a possibilidade de um acidente nuclear no país, que tenta conter a crise provocada por um terremoto seguido de tsunami. “O acidente na usina me causa profunda preocupação e espero que os esforços dos funcionários possam evitar que a situação piore”, disse ele, em um pronunciamento na televisão japonesa. Uma rara aparição do monarca japonês, que demonstra de forma pálida o pavor que passa neste momento o governo e o povo japonês.

Milhares de pessoas ainda estão desaparecidas entre os escombros da costa nordeste do país. O governo já confirmou a morte de mais de 4,2 mil pessoas, mas teme-se que seja superior a 10 mil pessoas, este o número aproximado dos desaparecidos.

A situação é complicada pelas temperaturas abaixo de zero e a falta de suprimentos em diversas áreas. Cerca de 500 mil pessoas estão em abrigos temporários, e estão sem comida, água, eletricidade e combustível.

E o Brasil, vai entrar nessa?
Vai, lamentavelmente, vai entrar de cabeça nisso.

Leio hoje na Internet que o “Brasil necessita da energia nuclear para crescer, avalia engenheiro da Eletronuclear”, em matéria da repórter Alana Gandra, da Agência Brasil. Relata que “a questão da energia nuclear no Brasil está relacionada à necessidade do país de energia para o seu crescimento”, afirmou o supervisor de Novas Usinas da Eletronuclear, Dráuzio Lima Atalla. “Nós somos subconsumidores de energia elétrica. Nós somos imensamente pobres em energia elétrica”, disse ele.

A matéria relata ainda que “com um consumo de energia elétrica per capita, isto é, por habitante, da ordem de 2,4 mil quilowatts-hora (kWh) por ano, o Brasil está distante de países desenvolvidos, como a Alemanha, Suíça e os Estados Unidos, cujo consumo por pessoa alcança até 15 mil kWh por ano.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o limite do consumo de energia por pessoa para um país entrar no rol das nações desenvolvidas é de 5 mil kWh por ano. “Mesmo considerando esse patamar de entrada, nós ainda [o Brasil] consumimos a metade disso”.

Segundo Atalla, a energia elétrica se manifesta em todas as atividades da vida, englobando áreas como a saúde, o transporte, a segurança, educação, entre outras. A eletricidade é um dos insumos mais vitais com que a sociedade moderna conta para obter um índice de desenvolvimento razoável, disse. “Não tem como nosso povo avançar sem que o consumo de eletricidade aumente”.

Engenheiro da Eletronuclear, onde atua há mais de 30 anos, Dráuzio Atalla informou que não existe fonte de energia elétrica que seja totalmente isenta de problemas. “Como o Brasil necessita dobrar, no mínimo, o consumo, nós precisamos de todas as energias. Existe espaço para todas elas. Só que cada energia tem um aspecto mais positivo ou mais negativo”.

No caso da energia eólica, por exemplo, disse que seriam necessárias 1,5 mil turbinas para gerar a mesma quantidade de energia da Usina Nuclear Angra 2 (1.350 megawatts). “O vento é descontínuo e pouco previsível. Existe espaço para eólica. Mas nós não vamos ter um país de 200 milhões de habitantes, com a nossa extensão, só em cima de eólica. É um sonho”. O mesmo ocorre em relação à energia solar. Também as fontes hidráulicas têm seus problemas, disse. “Você imagina um abalo sísmico desses [no Japão] perto de uma represa? O que iria acontecer?

Os perigos que virão
Atalla esqueceu-se, convenientemente, de esclarecer que no hemisfério norte usa-se a energia elétrica, de fonte nuclear ou termoelétrica, para aquecimento dos ambientes, e é essa a causa deles consumirem mais, além do fato de serem proporcionalmente mais ricos.

Ora, o Brasil tem duas usinas nucleares em operação: Angra 1 e Angra 2. Representam menos de 4% do nosso consumo de energia elétrica. Angra 3 deve ser inaugurada em 2014 ou 2015, mas o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, declarou que o governo não pretende rever os projetos de construção de novas usinas nucleares no país. E os projetos do governo são de definir, ainda este ano, as diretrizes para a construção de pelo menos mais quatro novas usinas: duas no Nordeste e mais duas na Região Sudeste.

É isto, o Brasil vai, o Brasil já está comprometido com os trustes das usinas nucleares. Terminei de ler a matéria, já horrorizado, por constatar os perigos das futuras gerações, dos meus netos, dos seus filhos e netos, caros leitores, e de todos os nossos descendentes.
Já virei um ativista anti-usina nuclear.

Os biodesagradáveis empurram o Brasil nessa direção, sejam pelas constantes reclamações midiáticas contra a construção de usinas hidroelétricas, sejam pelas dezenas de processos judiciais, as famosas liminares, que impedem a construção de Belo Monte, por exemplo, já aprovada pelo governo e pelo Congresso. Com isso, forçam o governo a procurar alternativas. E a única alternativa, hoje em moda novamente, no Brasil e no mundo são as usinas nucleares.

Os ambientalistas fanáticos deveriam colocar a mão na consciência, não apenas na questão das hidroelétricas e usinas nucleares, mas também na questão do Código Florestal, pois vão engessar com leis a produção futura de alimentos. Leis que, depois, no futuro, serão difíceis de serem ajustadas.

Já escrevi dezenas de vezes, propondo debates, de que os problemas ambientais e da fome se devem ao excesso do contingente populacional. A grande maioria dos leitores concorda com isso, mas ninguém faz nada. Os 7 bilhões de bocas hoje no planeta serão 9 bilhões dentro de 30 anos. Não haverá sustentabilidade, como apregoam os ambientalistas.

Devemos aplicar, com urgência, algum método para reduzir o crescimento demográfico, quase zerar isso, como faz a China. Caso contrário vamos para o vinagre, com ou sem usinas nucleares.

Desculpem-me, isso não é pessimismo, é realismo, uma simples projeção do que vivemos hoje, com os problemas que já temos.
Que Deus tenha piedade de todos nós, mas que não perdoe os ambientalistas pelo que estão fazendo, pois eles até poderiam não saber o que faziam, mas agora sabem.

o autor é jornalista e escritor.

ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE! editoria

é isso…

Leptis Magna, a cidade do primeiro africano a ser imperador romano – por haroldo castro / são paulo

Durante os últimos dez dias, a situação política na Líbia tornou-se ainda mais complicada. Qhadafi resolveu revidar e atacou as cidades e vilas tomadas pelos insurgentes. O ditador usou caças e helicópteros para matar sua própria gente. Esta atrocidade impeliu a Liga de Estados Árabes a solicitar ao Conselho de Segurança das Nações Unidas a imposição de uma zona no-fly, de exclusão aérea no país. O tema ainda divide os países árabes e africanos e até mesmo as potências ocidentais.O perigo de que o tiro possa sair pela culatra é grande. O custo de tal operação é alto e obrigaria as forças internacionais a desmantelar o parque aéreo líbio, o que transformaria o conflito local em internacional. Os Estados Unidos não precisam de mais um abacaxi com países muçulmanos.

Enquanto os insurgentes conseguem ganhar espaço, eles também perderam outros. Al Zawiya, cidade a 50 km a oeste da capital Trípoli – que menciono na crônica anterior – foi retomada pelas forças de Qhadafi, infligindo um “banho de sangue” ao povo. A cidade de Al-Khums que também estava nas mãos dos revolucuonários, teria sido retomada na última sexta-feira pelas tropas leais ao ditador. E porque menciono Al-Khums?

Al-Khums, situada a 120 km a leste de Tripoli, é a cidade que abriga Leptis Magna, considerada a mais bela ruína romana no mar Mediterrâneo. Construída com pedras calcáreas, Leptis Magna resistiu aos séculos e mostra, ainda hoje, com suas avenidas planejadas, o modelo urbano da civilização romana. Os edifícios monumentais são os melhores exemplos de sua opulência. A cidade floresceu quando um de seus filhos, Septímio Severo, ascendeu ao trono de Roma.

O Arco de Septímio Severo foi construído no ano 203 para comemorar a visita do imperador a sua cidade natal.

Septímio Severo foi o primeiro imperador a não descender de uma família romana. Seu sangue berbere –povo original da África do Norte – pode ter trazido alguma ordem ao Império que se esfacelava, mas foi considerado como um militar cruel, característica que compartilhava com praticamente todos os imperadores que o antecederam ou sucederam naqueles séculos.

Mas o Imperador Severo foi extremamente generoso com a cidade onde ele nasceu e passou sua infância. Foi em Leptis que ele entrou na carreira militar e sua astúcia fez com que ele galgasse os degraus rapidamente. Uma vez imperador, ele embelezou sua cidade, reconstruindo o mercado, o fórum, a basílica e o porto.

O mercado de Leptis Magna tem duas alas octogonais e uma sala central circular. Foi erigido no ano 8 a.C. e reconstruído no reino de Septímio Severo.

Depois de um café-da-manhã com deliciosas tâmaras no hotel em Trípoli, sigo em direção a Al-Khums com Ali Mahfud, meu guia tradutor, em seu carro próprio. Tanto ele como todos os motoristas que me rodeiam parecem loucos, com ultrapassagens insensatas de qualquer lado da estrada. Não é acaso que exista um grande número de atropelamentos na Líbia.

Depois de hora e meia de adrenalina no sangue, chego a Leptis Magna. A regra é que preciso de um guia local – uma medida justa, para dar emprego aos habitantes da região. Khalifa, 66 anos, fala bem francês e inglês, é pai de oito filhos e avô de cinco. Todos nasceram em Al-Khums, a 2 km de Leptis Magna. Ele conheceu as ruínas ainda criança, quando era pastor. “Eu não dava nenhuma atenção às pedras. Para nós, o mais importante era a vegetação ao redor, que minhas ovelhas precisavam comer”, afirma Khalifa. Hoje, sua família depende dessas pedras.

Uma vasta esplanada de 100 metros abriga o Fórum de Septímio Severo, o qual continha dezenas de pórticos e colunas. Alguns medalhões mostram rostos de Medusa, o monstro feminino que transformava humanos em pedra.

O teatro da cidade é quase tão belo como o de Sabratha – mencionado na crônica anterior. Entretanto, o anfiteatro ovalado, onde ocorriam competições e atividades esportivas, é espetacular.  Situado a 3 km de distância, eu estava pronto para uma boa caminhada, quando Ali fez questão de ir de carro. O anfiteatro foi construído no século I, antes mesmo do nascimento de Septímio Severo, que ocorreu no ano 145 d.C.,  e os engenheiros romanos aproveitaram uma elevação do terreno para cavar o espaço.

O anfiteatro de Leptis Magna comportava 16 mil espectadores, um dos maiores de todo o Império Romano.

Leptis Magna foi declarada Patrimônio Mundial pela Unesco em 1982. Esse título faz com que a organização internacional responsável pela cultura e educação no planeta esteja ainda mais atenta aos acontecimentos na Líbia.

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NOCTURNAS PALAVRAS – por zênite / portugal

Escrevo sob a alpendrada, por entre as colunas. De um universo de centenas de milhares de vocábulos, procuro as palavras certas, as que devorem a escuridão abismal que me vai na alma. Onde as demandarei? Na lua incerta oculta pelas nuvens de incêndio e sangue que espelham o clarão suspeito da grande cidade, na outra margem? Não! Nas folhas da minha figueira mansa? Não! Antes fora brava, e provavelmente nela as encontraria. Nas laranjas verdes que, vacilantes, oscilam ao sabor da brisa, e que há muito olvidaram os aromas das flores? Também não. No rumorejante canavial do campo defronte, convertido em negro avejão de asas laceradas a partir do lusco-fusco? Porventura, mas não vou sair da prudente placidez do meu território para o saber.
Será que é esta luz de néon branca e fria que vem do alto do madeirame, como se este fora o cavername de um navio fantasma, que queima as raízes da noite sem margens e as minhas e me sufoca a mente, que não me deixa alcançar as palavras? Ou será a claridade asfixiante que ressalta da frígida indiferença do cristal de vídeo que tenho à frente? Talvez.

Na madrugada da noite que avança sem âncoras, como encontrar a medula grega do verbo, a genuína essência da seiva que corre ao longo das linhas oblíquas e labirínticas da história, que há muito partiu de Knossos nas asas estranhas de um vento pós-equinócio?

Apago todas as luzes e saio para a terra nua. Encosto-me ao tronco esguio de um choupo que num anúncio prematuro de Outono, quiçá de Inverno, a pouco e pouco se vai despindo.
Um sopro oloroso e húmido de sudoeste desliza continuamente pelo meu corpo. Tento agarrá-lo com as mãos e depois com os lábios, sorvendo-o, sedento, a longos haustos. Não corro risco de ser surpreendido na loucura do gesto, pois não há vivalma por aqui. Estou tão só como a lua silente lá no alto. Apenas o latido doloroso de um cão perfura de vez em quando a estranha quietude que me cerca.

Pergunto então à noite: “onde escondeste as palavras, que as não encontro?”
Taciturna, a escuridão devolve-me o seu eco silencioso, envolve-me no seu manto viscoso e sombrio e cinge-me com as suas algemas de orvalho, enquanto desprendida a lua se esconde por detrás de um algodão vermelho-vulcânico.

Hesitante, saio de onde estou e caminho por entre as árvores. O ritmo dos meus passos conjuga-se com a métrica da entoação muda da respiração da terra.
A rainha da noite volta a aparecer e a flutuar nos espelhos indistintos do pequeno lago ali perto. Cintila graciosa como se ensaiasse uma dança de nenúfares. É uma “lua sobre a água”. E porque a expressão é de García Lorca, peço encarecidamente a este que me ajude.

Distante e impassível, Lorca diz-me que não me apoia porque não gostou dos versos que um dia lhe dediquei. E acrescentou: “Todo o mundo que ser poeta. No entanto, é mais fácil ser farmacêutico… E ser farmacêutico até é bem difícil.” E afastava-se já, quando ouvi a sua voz em surdina: “Porque simplesmente não desistes?”

Não lhe respondi, mas pensei para dentro de mim: “fossem minóicas como as de Knossos estas colunas e de pedra antiga o madeirame da abóbada, e as palavras fluiriam como se provenientes da liquidez da fonte de Clepsidra, a que é alimentada pelas águas puras e cristalinas que escorrem das altas fragas e aclives da longínqua Messénia, na qual as ninfas davam banho a Zeus-menino.

Por entre os destroços e ruínas que povoam o meu espírito, as sílabas assemelham-se a fantasmas baços dançando sobre o silêncio indeterminado que paira sobre a lua do lago. Desisto então de procurar as palavras certas nesta noite de silêncio opressivo entrecortado pelos latidos magoados de um cão triste e pelos raios de luz imprecisa derramados por uma lua vaga-lume de novo oculta por nuvens opacas.

O lago está agora escuro como breu. Reacendo as luzes e volto ao cristal de vídeo. As claves mudas alinhavam sozinhas as palavras que não encontrei.
Vou apagar de novo todas as luzes, e talvez as palavras, e sentar-me tranquilamente a um canto a fumar. Não, não apagarei as palavras.

Descrevendo luminosas parábolas, só o meu cigarro incendeia a escuridão. Por entre os balaústres e as colunas vermelhas que constituem a minha única protecção contra o insustentável cavername que segura noite, apenas a minha solidão e a do meu cigarro existem e permanecem. Estou em Knossos. Na última curva da madrugada.

 

 

SÍNDROME DO PÂNICO – por osvaldo shimoda / são paulo



Faz parte dos transtornos de ansiedade, onde os sintomas aparecem súbita e inesperadamente -sem nenhuma causa aparente- e podem incluir palpitação, taquicardia, dores no peito, tontura, náusea, atordoamento, falta de ar, sensação de formigamento nas mãos; calafrios ou ondas de calor, distorção da percepção da realidade, medo de perder o controle, sensação de morte iminente.

A crise de pânico dura alguns minutos e, para quem já teve, é uma das experiências mais angustiantes que um ser humano pode sentir. O paciente pode desenvolver medos irracionais de que a crise se repita em situações que já aconteceram anteriormente e começa a evitar essas situações.

É comum que com o transtorno de pânico, ele desenvolva também a agorafobia, que é o medo de estar em espaços abertos ou no meio de aglomerações. Na realidade, o agorafóbico teme a multidão pelo medo de que não possa sair dela, caso se sinta mal, e não pelo medo da multidão em si. Desta forma, a agorafobia se caracteriza por um estado de ansiedade exarcebado, que se manifesta sempre que o paciente se encontra em locais ou situações dos quais seria difícil sair, se vier a se sentir mal (túneis, pontes, grandes avenidas, ônibus lotados, trens, barcos, festas, ajuntamentos de pessoas, etc.).

Quando um paciente com Síndrome de Pânico e Agorafobia vem ao meu consultório em busca de sua cura, normalmente, vem acompanhado de alguém, de algum parente, pois tem um medo antecipatório de que possa vir a passar mal e não poder chegar a um hospital ou obter socorro com facilidade. Essa preocupação é tão intensa que pode originar uma crise de pânico. Ele tende a raciocinar da seguinte forma: Se eu me sentir mal, quem vai me ajudar?

Na minha experiência clínica com esses pacientes, após ter conduzido mais de 8000 sessões de regressão em TRE (Terapia Regressiva Evolutiva) – A Terapia do Mentor Espiritual – Abordagem psicológica e espiritual breve, criada por mim, constatei que existem três causas que levam o paciente a desenvolver o Transtorno de Pânico:

a) Causa psicológica – oriunda de experiências traumáticas da vida atual (infância, nascimento ou útero materno) ou de outras vidas -em sua maioria- de experiências dolorosas de como o paciente veio a morrer na existência passada.
É o caso de um paciente que veio ao meu consultório acompanhado de seu filho. Sua 1ª crise de pânico ocorreu quando ele pediu uma carona no carro da empresa onde trabalhava. Como o veículo estava lotado, acabou viajando no porta-malas (era uma Van).
Quando o motorista pegou a rodovia, o paciente começou a ter os primeiros sintomas de pânico (taquicardia, falta de ar, sudorese, mal estar, sensação de morte iminente, etc.), pois se sentiu sufocado no meio das caixas de papelão de remédios (ele trabalhava numa indústria farmacêutica).
Angustiado, começou a gritar e esmurrar o porta-malas. Ao parar o carro no acostamento, o motorista e todos os passageiros saíram para ver o que estava acontecendo com o paciente. Ele estava pálido, suando muito, assustado falou que não iria mais prosseguir a viagem. Acabou voltando para casa, pegando um ônibus na rodovia. Após o incidente, começou a ter, com freqüência, crises de pânico. Na regressão de memória, revivenciou uma cena de uma vida passada onde sofrera uma parada cardio-respiratória e veio a falecer. No entanto, dentro do caixão -já enterrado- seu coração voltou a bater e ele veio a morrer por asfixia.
Após ter revivenciado essa experiência bastante dolorosa de morte por asfixia, na existência passada, o paciente nunca mais teve as crises de pânico. Compreendeu que o incidente acontecido no porta-malas, o espaço apertado em que se encontrava, no meio daqueles caixotes, foi um gatilho que desencadeou, disparou a lembrança da experiência de morte naquele caixão apertado, naquela vida pretérita. Entendeu também que os sintomas de pânico eram os mesmos que sentira ao morrer por asfixia.

b) Causa espiritual – A origem da Síndrome do Pânico pode advir também de uma causa espiritual, isto é, de uma interferência espiritual obsessora (desafeto do paciente -seja desta ou de outras vidas- prejudicado por ele).
Nesse caso, o transtorno do pânico é fruto do desequilíbrio mediúnico do paciente, ocasionado pelo seu obsessor espiritual, que movido pelo ódio e vingança, ataca-o provocando suas crises de pânico;

c) Causa mista: é a experiência traumática de como o paciente morreu na vida passada, agravada pela ação de seu obsessor espiritual. Nesse caso, o ser espiritual obsessor potencializa suas crises de pânico, atacando-o, assediando-o.

Síndrome do Pânico e Agorafobia
Mulher de 29 anos, solteira.

A paciente veio ao consultório com a seguinte queixa: Tenho muito medo, medo até de sentir medo; por isso, não ando mais só, pois posso ter uma crise de pânico e não ter ninguém para me ajudar. Não tenho muito o que dizer, só sei que esse medo me acompanha desde o dia em que quase fui violentada pelo meu vizinho: eu tinha 9 anos… só não aconteceu porque o filho dele de 11 anos nos viu e gritou. Então, ele me dizia que se contasse pra alguém me mataria, colocaria um saco plástico em minha cabeça, e eu morreria sem ar. Até hoje tenho essa sensação de não conseguir respirar. Essa tentativa de abuso sexual ainda me atormenta, apesar de ter passado 20 anos. Hoje, com 29 anos, dependo ainda dos meus pais, não consigo trabalhar, fazer nada sozinha; por isso, resolvi, com a ajuda de minha família, fazer a TRE (Terapia Regressiva Evolutiva)- A Terapia do Mentor Espiritual para entender o porquê de tudo isso.

A paciente, acompanhada de seus pais, veio então se submeter a 1ª sessão, e me relatou o seguinte: Estou correndo, parece que fujo de alguém ou de alguma coisa… Não consigo identificar, está muito escuro e sinto muito frio; meus pés doem, parece que estão cortados, sinto muita dor, meu corpo todo dói; escuto passos, tem alguém correndo atrás de mim, estou cansada, não agüento mais….
Ela não conseguiu trazer mais nada nessa sessão, pois, devido ao seu medo, não quis mais continuar a sessão de regressão. Desta forma, marcamos, então, para a semana seguinte sua 2ª sessão.

Nesta sessão, ela trouxe novamente a sensação de estar sendo perseguida; porém, a paciente viu algo diferente: uma mulher de manto azul, sua mentora espiritual, que com os olhos dizia para que ela confiasse, e que deixasse a experiência traumática de seu passado vir para que pudesse se livrar definitivamente de seu problema.
Após o relaxamento progressivo, assim ela me relatou nessa sessão de regressão: “Não agüento mais correr, estou fraca… Eu me vejo desmaiando e um homem me pega e me arrasta; ele me mantém presa, tem uma barba muito grande e diz de forma autoritária que eu tinha que seguir o que ele dizia. Na verdade, ele é o meu pai dessa vida passada… Vejo mais dois homens, são meus irmãos, e uma mulher, minha mãe; não entendo bem, vivíamos isolados, éramos somente nós ali. Meu pai era muito violento, batia sempre na gente e, minha mãe, de tanto levar tapa dele, acabou ficando surda. Por isso, eu tinha muito medo dele.

Numa noite, meus dois irmãos fugiram… e acordei com o meu pai espancando a minha mãe e a mim. Foi horrível! Disse pra minha mãe que precisávamos matá-lo, senão ele nos mataria. Como ele bebia, às vezes, desmaiava de tanto beber. Então, num desses dias que ele tinha bebido e estava dormindo profundamente, abri sua boca e coloquei um pano dentro e, em seguida, o asfixiei com um saco. Ele acabou morrendo. Eu matei aquele pai desgraçado! (paciente fala com ódio). (pausa).

Estou sentindo… Ele está aqui no consultório, em espírito. Dr. Osvaldo, intuo que é ele que fez aquele vizinho querer me abusar sexualmente; por isso, o vizinho dizia que me mataria com o saco plástico… É ele que me amedronta desde que eu tinha nove anos.
A mulher de manto azul, a minha mentora espiritual, era a minha mãe daquela vida passada. Ela diz que eu tenho que perdoá-lo, mas eu lhe digo que foi ele que fez mal a mim e a minha família… Desgraçado, bêbado nojento! (pausa).

A minha mentora me diz que se eu não perdoá-lo, ele não irá embora de minha vida. Não acho justo isso, Dr. Osvaldo!”
A paciente não conseguia perdoar seu obsessor espiritual, seu pai daquela vida passada. Mas como faltava ainda a última sessão, pedi que ela fizesse a oração do perdão para ele (essa oração, impressa num papel, entrego sempre para os meus pacientes no final da sessão, após conversarem com o seu obsessor espiritual), e quando sentisse que estava pronta, voltasse para a sua última sessão.
Nesse intervalo de tempo, ela me mandou um e-mail dizendo que suas crises de pânico se intensificaram e, por isso, alegou que não conseguia fazer a oração do perdão. Seus pais que acompanharam às sessões de regressão pediram também para que ela pedisse perdão para aquele ser espiritual, pois assim ela poderia ter sua vida de volta. Mas a paciente estava irredutível.

Ao voltar ao meu consultório para fazer a última sessão, depois de passados 30 dias da 2ª sessão, por estar sofrendo muito por causa das crises de pânico, finalmente, entendeu o que precisava fazer… E, assim, quando pediu perdão do fundo de seu coração para o seu obsessor, sua mentora espiritual o levou para a luz. Desde então, ela me enviou outro e-mail me informando, bastante feliz, que nunca mais sentira as crises de pânico.

Osvaldo Shimoda é colaborador do Site, terapeuta, criador da Terapia Regressiva Evolutiva (TRE), a Terapia do Mentor Espiritual – Abordagem psicológica e espiritual breve canalizada por ele através dos Espíritos Superiores do Astral. Ministra palestras e cursos de formação de terapeutas nessa abordagem. Ele atende em seu consultório em São Paulo. Fone:             (11) 5078-9051 , ou acesse seu Site.
Email: osvaldo.shimoda@uol.com.br

LIVRARIA CULTURA e ATELIÊ EDITORIAL convidam: /são paulo

PROFESSOR de MATEMÁTICA no CARNAVAL CURITIBANO – por josé alexandre saraiva – curitiba

O cliente A, atendido pelo garçom Palitinho, gastou o dobro da despesa do cliente B, atendido pelo garçom Guardanapo. O cliente B deu de gorjeta ao garçom Palitinho importância correspondente a 10% da conta do cliente A.

O cliente C, representante de uma marca de charutos, foi atendido pelo garçom Azeitona. Como o Bientinez e o Cuca não estavam tocando naquela noite, bebeu apenas uma cerveja, pagou a conta e se retirou. Antes, presenteou Azeitona com um charuto dominicano.

Cada cerveja foi vendida a um preço igual a 8% do valor das contas dos clientes A e B.

Lambari, gerente do bar, contente com a beberrama, ofertou aos clientes A e B uma cerveja de saideira, por ele próprio servida.

A gorjeta que o cliente A deu ao garçom Guardanapo foi igual a12% da soma da sua conta com a conta do cliente B.

A noite já ia alta, com a neblina dificultando a visibilidade e o fluxo do trânsito. Azeitona, atento ao elevadíssimo estado alcoólico dos clientes A e B, atravessou a rua e providenciou um taxista de confiança para levar os bebuns até suas casas. Ganhou R$ 1,00 de gorjeta.

A cervejada aconteceu em Curitiba, no Bar Estuário.

DISCÓRDIA

Fechadas as portas do Estuário, Palitinho e Guardanapo iniciaram acirrada discussão por conta de gorjetas trocadas. Palitinho, que, como já disse, atendeu o cliente A, insistia em trocar sua gorjeta pela gorjeta recebida por Guardanapo, que atendeu o cliente B. Guardanapo reagiu ao desaforo. Houve bate-boca e bofetadas recíprocas. O pau cantou de verdade.

O pacato Lambari, grudado atrás do caixa, pensou em chamar a polícia mas, temendo expor a secular imagem do Estuário, optou por uma saída caseira, capaz de impedir outros prejuízos, além das seis cadeiras que viraram caco. Após telefonema para o dono do bar, Ferroso, que participava da famosa corrida de jericos em Panelas, nomeou Azeitona árbitro ad hoc para solucionar o litígio, com direito a honorários pelos serviços prestados.

Azeitona era garçom experiente e conceituado. Perspicaz, em outra ocasião exercera semelhante missão numa reclamação vitoriosa formulada pelos clientes Mazzinha e Rose, de cujo extenso rol de testemunhas da acusação constaram nomes proeminentes, como Hatsuo, Áureo, Gegê, Áttila, Tarzan, Fernando Loko, Jota, Reta, Kambé, Quaquá e Álvaro.

Naquele rumoroso caso, envolvendo os mesmos garçons, Azeitona foi indicado pelo irreverente Walmor para atuar como juiz arbitral graças à sua fama de expert na apuração de manipulações numéricas em comandas suspeitas das bocas da Cruz Machado. O Seideler foi seu assistente para assuntos etílicos.

Voltemos ao nosso litígio.

Investido no cargo, Azeitona assumiu o compromisso de apresentar ali mesmo, de forma imparcial, um veredicto, em instância única, definitivo e inapelável, para a vexata questio. Antes, deixou claro que não entraria no mérito da destruição das cadeiras. Voltando-se para Lambari, falou: “Vocês são brancos, e essa questão foge da minha especialidade.”

Para aquecer os neurônios de Azeitona, Ferroso autorizou Lambari, durante o telefonema, a ofertar-lhe uma dose de whisky, cujo preço de custo correspondia ao valor de venda de duas cervejas.

O VEREDICTO

Azeitona afrouxou o nó da sua gravata borboleta, acendeu o charuto recebido do cliente C e, ato contínuo, concedeu dois minutos a cada um dos garçons para os argumentos de defesa.

Além das razões de mérito, foi levantada por ambos os litigantes uma preliminar manifestamente casuística: Palitinho ponderou que os cálculos deveriam ser feitos em sua calculadora, e Guardanapo deduziu idêntica pretensão em relação à sua maquinota.

Relatados os fatos, Azeitona passou a decidir a demanda.

De plano, rejeitou as preliminares. Julgando-as temerárias, ressaltou que para os cálculos utilizaria a sua própria calculadora, pois, “a considerar o preço de venda da cerveja, nenhuma das contas está correta.” E completou:

“Para chegar com precisão à conta do cliente B, sem a gorjeta, tem-se que ele teria bebido um número xis de garrafa de cerveja mais 1/6 de uma garrafa; já o cliente A teria bebido o dobro desse xis de cerveja mais 1/3 de uma garrafa. Disso resulta que estão sobrando R$ 3,00 nas contas desses clientes, grana essa que não entrou no caixa do bar. A disparidade por si só me leva a descartar a utilização de ambas as calculadoras.”

No mérito, Azeitona houve por bem acolher em parte a reclamação de Palitinho.

Justificou que a legislação sobre o assunto era muito capenga do ponto de vista constitucional e que, “a rigor, gorjeta é um presente que o cliente dá se quiser e a quem quiser, ainda mais se em valor acima de 10% da consumação, como fez o cliente A.”

Prosseguiu:

“Veja-se o exemplo do cliente C, que bebeu apenas uma cerveja e me agraciou com um regalo cujo preço é igual a três vezes o valor da gorjeta que Palitinho recebeu do cliente B! Em outras palavras, gorjeta é simples gesto espontâneo a revelar satisfação do cliente pela forma como ele foi atendido. Todavia, tenho que, neste caso, a gorjeta recebida por Guardanapo foi no mínimo movida a álcool.”

Em seguida, concluindo suas razões de decidir, ponderou que, na verdade, na verdade,  para resolver bem resolvido o imbróglio, “colocando um pingo em cada i”, fazia-se necessário saber a real intenção do cliente A, pivô da confusão.

“Não há certeza se o cliente A quis mesmo ou foi induzido a dar gorjeta naquele valor a um garçom que não o atendeu. Além desse lado excêntrico, a gorjeta recebida por Guardanapo corresponde a um porcentual redondo sobre a soma das duas contas!” – exclamou Azeitona.

(Nesse momento, fez-se severo silêncio no ambiente! Podia-se ouvir lá fora o Nuvem Negra oferecendo a Cabeleira, que recusava, um toca CD, tinindo de novo, por vintão.)

Impossibilitado de investigar concretamente o âmago dos fatos e suas motivações, Azeitona decidiu a demanda à luz dos costumes e da jurisprudência do bar. Levou em contam ainda os antecedentes dos litigantes, além de importantíssima pista: a quantidade de todas as cervejas servidas – 14 .

Proclamado o veredicto, a gorjeta de R$ 9,00 recebida por Guardanapo foi reduzida para o mesmo valor da gorjeta recebida por Palitinho. Com a diferença, Lambari pagou os honorários de Azeitona, conforme o avençado. Dentro dos critérios da proporcionalidade, no final das contas, Palitinho, que tinha servido o dobro das cervejas servidas por Guardanapo, embolsou R$ 1,00 a mais do valor atribuído ao colega de ofício e de bofetadas.

Ganhará uma porção de testículo de touro, servida por Azeitona no tradicional Estuário, quem responder: (a) qual o valor cobrado a maior na conta do cliente A e qual o valor também cobrado indevidamente na conta do cliente B, conforme o apurado na sábia decisão de Azeitona; (b) quanto faturou, em definitivo, cada garçom, incluindo o charuto e o whisky ofertados a Azeitona;  (c) quanto custou a Nuvem Negra o toca-cd e quem é de direito o seu provável proprietário.

As respostas completas devem ser entregues pessoalmente ao Vidal, em envelope lacrado. O prazo de apresentação vence impreterivelmente à meia-noite da próxima condicional de Nuvem Negra. Informa-se que a última condicional de Nuvem – a 25ª – foi interrompida minutos após os fatos acima narrados, quando ele se disfarçava de tronco de araucária, na Praça Osório, em meio à densa neblina. A ação da polícia contou com o auxílio de um quero-quero e do cliente C.

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parte dos personagens encontra-se nesta foto, inclusive o autor (primeiro a esquerda). 02/2008.  ilustração do site.

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José Alexandre Saraiva tem diversos livros editados e é membro do CENTRO DE LETRAS DO PARANÁ.

Brasil, Estados Unidos e a agenda comercial necessária – por carlos a. cavalcanti / são paulo

A participação dos produtos básicos saltou de 6% em 2001 para 31% em 2010.

Brasil e EUA vivem um paradoxo: consolidaram relações políticas em patamar elevado, mas permitiram que seu fluxo comercial se deteriorasse. Diante desse cenário, que fazer?

No campo político, a relação evoluiu rapidamente. Na última década, foram realizadas diversas cúpulas presidenciais e visitas de funcionários de primeiro escalão; e criadas mais de duas dezenas de diálogos bilaterais. Além disso, os governos prestigiaram-se: Tom Shannon veio representar os EUA em Brasília; e Antonio Patriota representou o Brasil em Washington. Apesar das naturais fricções, a relação política demonstra-se sólida, como atestará a vinda do presidente Obama ao país.

Já no campo comercial, a qualidade da relação deteriorou-se, sobretudo da perspectiva brasileira. O pior déficit do Brasil é com os EUA, embora o quinto melhor superávit dos EUA seja conosco. Em 2010, as exportações americanas atingiram mais de US$ 27 bilhões – o maior valor registrado na série histórica bilateral. Já as exportações brasileiras, de cerca de US$ 19 bilhões, mantém-se em nível pré-2004. Além disso, a pauta exportadora do Brasil para os EUA se reprimarizou: a participação dos produtos básicos saltou de 6% em 2001 para 31% em 2010.

No passado, os dois países buscaram soluções distintas para aprofundar sua relação comercial, todas sem grande sucesso.

Do lado americano, foram propostos grandes projetos para o continente, seja na forma de uma rede de acordos de livre comércio, seja por meio da criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Ambos foram rejeitados pelo Brasil, pois, corretamente, enxergamos neles a consolidação da assimetria de poder vis-à-vis os EUA, além de ameaça à nossa indústria, que ainda digeria os efeitos da abertura unilateral e das crises financeiras dos anos 1990.

Já do lado brasileiro, propôs-se a multilateralização da relação comercial por meio do tratamento dos principais temas no âmbito da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). Em paralelo, contudo, Brasil e EUA criaram suas próprias redes de acordos de livre comércio com os demais países do continente – sem, no entanto, conseguirem isolar um ao outro. Desde então, os dois países estabeleceram agenda de baixa intensidade centrada na facilitação de comércio.

Agora, estamos diante de duas únicas opções: planejar o futuro ou lamentar o passado. Se optarem por enfrentar os desafios da relação bilateral, Brasil e EUA deverão iniciar negociações comerciais em dois trilhos, com barganhas cruzadas entre eles.

O primeiro é o trilho multilateral. Nele, devem liderar a conclusão da Rodada Doha. Aos EUA cabem tanto aceitar redução ambiciosa de seus subsídios agrícolas e reformas nas regras antidumping, concessões só possíveis na OMC; quanto diminuir seu apetite por acordos setoriais na área industrial. Além disso, o país deve, junto com o Brasil, buscar a redução das elevadas tarifas agrícolas de europeus e asiáticos.

Ambos deverão, ainda, impulsionar negociação para ampla liberalização do comércio de bens ambientais, com ênfase na abertura de mercado tanto de equipamentos para geração de energia elétrica a partir de fontes renováveis ou de baixa intensidade de emissão de CO2 (eólica, solar, hidrelétrica, nuclear, geotérmica e biomassa); quanto de biocombustíveis, como etanol. Esse é o único caminho à disposição da administração Obama para recolocar os EUA no centro da negociação sobre mudança do clima – e, ao mesmo tempo, criar maior coerência entre os compromissos no âmbito da OMC e da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.

O segundo é o trilho bilateral. Nele, devem relançar-se à negociação de acordo de livre comércio no formato 4+1 Mercosul-EUA. Por meio dele, o Brasil poderá oferecer maior acesso ao seu mercado industrial (e compensar os EUA pela diminuição da ambição por setoriais na Rodada Doha) sem temer abertura para importações da China. Poderá assegurar, também, acesso preferencial ao mercado americano para seus produtos industriais, além de reduzir tarifas, ampliar quotas e eliminar barreiras sanitárias e fitossanitárias na área agrícola. Por fim, o acordo deve refletir novo formato, incorporando compromissos em acesso a mercados (bens, serviços e investimentos), regras (propriedade intelectual, concorrência, barreiras técnicas e medidas sanitárias e fitossanitárias) e novos temas (clima, energia e infraestrutura).

Quando o então ministro Celso Amorim propôs o 4+1 como alternativa à paralisação da negociação da Alca, não se previa a crise de 2008-2009 e a China não era ainda essa potência comercial. Como se percebe, o cenário econômico mundial mudou de forma radical.

Ao Brasil e aos EUA essa estratégia pode interessar, porque reúne virtudes ao criar, simultaneamente, solução para ampliar a relação comercial bilateral e alternativa para lidar com a concorrência chinesa. Tarifas altas, subsídios e defesa comercial não são instrumentos perenes para lidar com a China. O único caminho é a cooperação multilateral para pressionar pelo fim da manipulação cambial chinesa aliada ao aprofundamento da relação comercial bilateral.

Aos EUA, o modelo interessa porque o Brasil é peça-chave no esforço de transformação da economia norte-americana, tanto no que diz respeito a sua reorientação exportadora, quanto à adaptação da matriz energética e do parque produtivo para cenário de baixo carbono.

Ao Brasil, o modelo também interessa porque os EUA são, entre as grandes economias, a única que apresenta alto grau de complementariedade com a brasileira. Para nós, a solução para a questão chinesa requer reformas domésticas e aumento da produtividade – que, no nível internacional, exige maior integração com as economias norte-americana e continental.

Para além do valor político da próxima cúpula presidencial, seria fundamental que, como resultado da visita, os dois governos relançassem as bases da agenda comercial comum. Não a possível, mas a necessária.

Carlos A. Cavalcanti é vice-presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior e diretor do departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

itamaraty.

AMOR e REVOLUÇÃO: novela vai mostrar os porões dos anos de chumbo do Brasil

Novela do SBT: Amor e Revolução vai mostrar os porões dos anos de chumbo do Brasil

Quando o assunto é Ditadura Militar, é impossível não pensar em violência, morte e censura. Mas o escritor Tiago Santiago, autor de “Amor e Revolução”, próxima novela do SBT, que estreia no dia 4 de abril, está indo além da simples imaginação para mostrar a realidade do que aconteceu nos porões dos órgãos do governo após o golpe de 1964. Baseado em fatos reais, ele não poupará o público de nenhum detalhe. E, pelas cenas de tortura que vazaram na internet em fevereiro, fortes emoções vêm por aí. A veracidade das imagens é de deixar qualquer um impressionado. “Estou contando uma história que aconteceu. Então me inspiro nos depoimentos das pessoas que passaram por esse terror. Está sendo difícil constatar o quão baixo a humanidade pode chegar, mas também bonito, por mostrar o heroísmo daqueles que sofreram por seus companheiros”, conta Santiago. Apesar de já ter trabalhado com dramas verdadeiros como roteirista do “Linha Direta”, na Globo, ele afirma nunca ter tido contato com enredos tão densos e confessa: está difícil segurar a emoção.

“Já fui às lágrimas muitas vezes. Só de falar tenho vontade de chorar, porque me vem tudo à cabeça”, diz. Sobre a “divulgação” das sequências na internet, Santiago lamenta, mas reconhece que o incidente ajudou a promover “Amor e Revolução”. “Recebi muitos elogios sobre a edição, a luz e a qualidade do elenco. O lado negativo é que só vazaram cenas de violência, e a novela não tratará apenas disso”, ressalta. Gabriela Alves, protagonista da maioria dessas cenas, interpreta uma revolucionária que sofre nas mãos dos militares. As sequências da artista são chocantes. “Odete é afogada, estuprada, leva choque e apanha. Tentamos fazer da maneira mais técnica possível. No entanto, na hora, rompemos a ponte entre realidade e ficção, a atuação ficou mais intensa e não senti a dor”, lembra.

desaparecidos.

CHEGA DE ESCOLA – por andré forestieri / são paulo



Eu detesto escola. É uma perda de tempo miserável. Minha mãe me ensinou a ler, escrever e fazer as quatro operações. O resto foi aos trancos e barrancos.

Fui bem na escola até o momento em que precisei começar a estudar ― dali para frente foi só o mínimo de nota para passar de ano (duas vezes, raspando).

Meu colegial ensinou a dar sinal de sete-copas, beber e fumar. O papel que gastei jogando batalha naval no fundão dava para reflorestar o deserto de Atacama. A besta do professor de português, em três anos, recomendou um único livro decente: O Apanhador no Campo de Centeio.

Detesto tanto escola que abandonei a faculdade na primeira semana. Cinco dias de recepção aos calouros por parte dos veteranos Libelu da ECA-USP e deu. Fui e voltei várias vezes. Assim que comecei a trabalhar, abandonei definitivamente. Voltei depois à ECA ― para dar palestra para os calouros, já tive até convite pra ser banca, quá-quá-quá.

No Yazigi foram sete anos e foi útil. Mas o inglês só deslanchou lendo Avengers e traduzindo o encarte do Sgt. Pepper’s. Foi bom também para cantar bem alto aquele clássico do Alice Cooper, “School’s out for summer, school’s out forever, school’s been blown to pieces”.

Nada contra praticamente nenhum professor. Imagina, a maioria tinha muito boas intenções. Eu podia até estar naqueles anúncios da Fundação Victor Civita, ao lado de algum mestre bacana: dona Zélia, dona Aparecida, o carrasco do seu Salles. Mas é como você estar na cadeia e trombar um carcereiro gente fina: não refresca.

Pelo que percebia na minha época e percebo mais ainda agora, as melhores escolas do Brasil formam uma legião de cretinos semianalfa. As exceções se devem à influência de pais e amigos, uma ou outra escola, um ou outro professor, ou acidentes genéticos. Ninguém sabe de nada, ninguém lê, ninguém escreve direito, ninguém fala inglês, e pior: ninguém é curioso. As piores escolas, não quero nem imaginar, mas deve ser a mesma porcaria e com balas voando pra todo lado.

Minha teoria é que toda escola serve para esmagar o espírito e a imaginação do ser humano para que ele se torne um escravo zumbi da sociedade. É também um lugar para os pais estacionarem os filhos durante o horário comercial. Chega dessa idiotice.

A educação básica em qualquer lugar do mundo devia se limitar ao domínio da língua materna, da língua global (inglês!) e um mínimo da matemática. Dá pra resolver em, no máximo, quatro anos ― digamos, dos 8 aos 12 anos (antes dos 8 deixa os caras brincarem, pô).

Claro, é superlegal que a garotada aprenda física, química, geografia. Também é bacana ensinar a empinar pipa, andar de skate, nadar, reconhecer as constelações e plantar jabuticabeiras. Mas as escolas ensinam isso? Não. As escolas ensinam a decorar informações para a próxima prova. Então, chega de escola. Delenda magister (opa, ninguém me ensinou latim).

Dos 12 anos pra frente é sacanagem trancar a molecada nas salas de aula. Porque aí já é hora de enfrentar as questões fundamentais da existência. Aprender a transar, dirigir, ganhar dinheiro, cozinhar, ajudar o vizinho, se dar bem com a sogra e reconfigurar o acesso à Internet.

E o principal: aprender a se manter curioso. Quem é curioso lê e experimenta, pula muro, tem conversas estranhas, faz conexões, cria universos. Pensa com a própria cabeça. É o que interessa.

OK, existem escolas diferentes, mais experimentais, moderninhas e carinhas. Mas não comemore ainda, caro amigo de classe média alta. As alternativas ao sistema decoreba imbecilizante são tão preocupantes quanto. Domina aquele papo hippie de contato com a natureza, de isolar ao máximo a criançada da tecnologia, da mídia e da cultura pop.

Me arrepia os cabelinhos da nuca. Até porque sou da turma que aprendeu a desconfiar das “manipulações da mídia” lendo os infames e invejosos ataques de J. Jonah Jameson ao Homem-Aranha. E outro dia um amigo contou que virou roqueiro por causa daquele verso do Supla, “mas eu não sou nem quero ser igual a quem me diz que sendo igual eu posso ser feliz”.

Por essas e por outras que mudei de opinião sobre o Guns N’Roses e outras bandas detestáveis. Qualquer um que escancarar para a molecada que o bacana é ser esquisito e encrenqueiro tem o meu apoio (aprendi isso com o Clash e os X-Men).

A tecnologia e a cultura pop são as grandes equalizadoras. Graças a elas é que vamos ficando mais iguais que diferentes, em cada canto do planeta, em cada ponta das classes sociais. Você já reparou que o conjunto de coisas que a gente tem que saber em 2011 é absurdamente maior que na juventude da sua avó? E quem foi que te ensinou a tirar dinheiro no caixa automático, programar o videocassete e reformatar ohard disk?

Está totalmente na cara que a rapaziada de todas as classes sociais está igualmente equipada para lidar com o mundo moderno. Especialmente no Brasil. Afinal, todo mundo por aqui vive a mesma experiência audiovisual/interativa. O moleque da periferia ouve música, assiste à televisão e joga videogame tanto quanto o filhinho de papai do condomínio. Ambos já estão com um pé dentro da economia digital. Em qualquer lugar do mundo é assim. E brasileiro, para completar, adora uma novidade e é apaixonado por televisão.

Se for para investir uma grana ensinando a rapaziada a lidar com tecnologia, recomendo subsidiar a compra de gameboys e distribuir para a juventude carente. Qualquer mestre Pokémon está pronto para ser estagiário da Microsoft.

E a formação clássica, uma base geral de ciências, artes e humanidades, não faz falta para lidar com o mundo moderno? Não, não faz nenhuma. Talvez faça para lidar com o mundo eterno ― mas aí, como dizia uma professora pernóstica que eu tive, estamos invadindo os limites do imponderável.

Não precisa saber tudo sobre tudo. Nem dá. O conhecimento total da humanidade, no momento, dobra a cada seis meses. O ritmo acelera loucamente. Um desses gênios do MIT garante que vai dobrar a cada segundo a partir de 2017. Num mundo desses, o que é formação clássica, o mínimo indispensável? Virgílio? Física de partículas?

O fato é que qualquer um que passe o fim de semana assistindo à Globo vai aprender mais sobre o mundo do que 99 por cento dos seres humanos que já viveram neste lindo planetinha. Enquanto isso, sociólogos e pedagogas garantem sua graninha com projetos paternalistas e esse punhetol de “resgatar a cidadania”.

Li metade da Pedagogia do Oprimido aos 18 anos, não entendi um quarto, mas gostei. Aprendi que a educação tem de ser feita em cima da vida, dos interesses, sonhos e necessidades de cada um; que ninguém ensina nada, a gente é que aprende ou não; e que educação é uma ferramenta para você descobrir qual seu lugar no mundo, descobrir quem está te fodendo e reagir.

Ouvi falar que tem uma ONG usando o método do Paulo Freire para ensinar informática para favelados, com dinheiro de multinacionais da pesada. Parece ótimo, divertido e vai acabar dando uma boa briga. Vou descobrir mais ― se por acaso encontrar uma escola que presta para alguma coisa, aviso.

 

 

ilustração do site .

caros amigos.

Necessidade vs. ganância: o planeta está no limite – por jeffrey sachs /eua

O mundo está rompendo os limites no uso de recursos. Com a economia mundial crescendo a 4-5% ao ano, estará num caminho para dobrar de tamanho em menos de vinte anos. Os 70 trilhões de dólares da economia mundial serão 140 trilhões, antes de 2030, e 280 trilhões antes de 2050, em caso de extrapolarmos as taxas de crescimento de hoje. Nosso planeta não suportará fisicamente esse crescimento econômico exponencial, se deixarmos a ganância levar vantagem. O crescimento da economia mundial já está esmagando a natureza.

O maior líder moral da Índia, Mahatma Gandhi tem a famosa máxima segundo a qual há o suficiente na Terra para suprir as necessidades de todo mundo, mas não para as ganâncias de todo mundo. Hoje, o insight de Gandhi está sendo posto em teste mais do que nunca.

O mundo está rompendo os limites no uso de recursos. Estamos sentindo diariamente o impacto de enchentes, tempestades e secas – e os resultados aparecem nos preços no mercado. Agora nosso destino depende de se cooperamos ou ficamos vítimas da ganância autodestrutiva.

Os limites da economia global são novos, resultam do tamanho sem precedentes da população mundial e da disseminação sem precedentes do crescimento econômico em quase todo o mundo. Há no momento sete bilhões de pessoas no planeta; há meio século, eram três bilhões. Hoje, a renda média per capita está em torno de 10 mil dólares; no mundo rico, em torno de 40 mil dólares, e no mundo em desenvolvimento, em torno de 4 mil. Isso significa que a economia mundial está agora produzindo em média 70 trilhões de dólares em rendimentos totais por ano, comparados a algo como 10 trilhões, em 1960.

A economia da China está crescendo em torno de 10% ao ano. O crescimento da Índia está próximo do mesmo índice. A África, a região com o crescimento mais lento, está batendo a casa dos 5% no crescimento anual do PIB. Sobretudo os países em desenvolvimento estão crescendo em torno de 7% ao ano, e as economias desenvolvidas em torno de 2%, mantendo o crescimento global em algo como 4,5%.

Ganância ou crescimento
Essas são boas notícias em vários aspectos. O rápido crescimento econômico nos países em desenvolvimento está aliviando a pobreza. Na China, por exemplo, a pobreza extrema diminuiu bem mais da metade da população, e hoje atinge 10% ou menos da população.

Há no entanto um outro lado da história do crescimento global que devemos entender claramente. Com a economia mundial crescendo a 4-5% ao ano, estará num caminho para dobrar de tamanho em menos de vinte anos. Os 70 trilhões de dólares da economia mundial serão 140 trilhões, antes de 2030, e 280 trilhões antes de 2050, em caso de extrapolarmos as taxas de crescimento de hoje.

Nosso planeta não suportará fisicamente esse crescimento econômico exponencial, se deixarmos a ganância levar vantagem. O crescimento da economia mundial já está esmagando a natureza hoje, depredando rapidamente as fontes de combustível fóssil que a natureza levou milhões de anos para criar, enquanto o clima resultante da mudança climática tem gerado instabilidades massivas em termos de regime de chuvas, de temperatura e de tempestades extremas.

Vemos diariamente essas pressões no mercado. O preço do petróleo chegou a mais de 100 dólares o barril, enquanto China, Índia e outros países importadores se juntam aos EUA, num negócio massivo, para comprar combustível, especialmente do Oriente Médio. O preço dos alimentos também está em patamares históricos, contribuindo com a pobreza e a instabilidade política.

Esgotamento ambiental
Por um lado, há mais bocas para alimentar e, em geral, com maior poder aquisitivo. Por outro, ondas de calor, secas, enchentes e outros desastres induzidos pela mudança climática estão destruindo safras e reduzindo os estoques de grãos nos mercados mundiais. Nos últimos meses, várias secas atingiram a produção de grãos de regiões da Rússia e da Ucrânia, e enchentes enormes ocorreram no Brasil e na Austrália; agora, outra seca está ameaçando o cinturão de grãos da China.

Há algo mais do que a visão de que isso é muito perigoso. Em muitas partes populosas do mundo, inclusive em regiões de produção de grãos no nordeste da Índia, da China e no Meio Oeste dos EUA fazendeiros estão cavando cada vez mais fundo para irrigar suas lavouras.

Os grandes aquíferos que forneciam água para irrigação estão sendo esvaziados. Em alguns lugares da Índia, o nível das águas está baixando vários metros anualmente nos últimos anos. Alguns poços estão próximos da exaustão, com uma salinidade tão alta que parece que infiltraram águas oceânicas no aquífero.

Se não mudarmos, uma calamidade é inevitável. E é aqui que entra Gandhi. Se nossas sociedades estão correndo segundo o princípio da ganância, com os ricos fazendo de tudo para ficarem mais ricos, a crescente crise de recursos levará a uma ampla divisão entre ricos e pobres – e muito possivelmente a uma crescente luta por sobrevivência.

Conflito de classes
Os ricos tentarão usar seu poder para dominar mais terra, mais água e mais energia para si mesmos, e muitos vão dispor de meios violentos para fazê-lo, se necessário. Os EUA já seguiram a estratégia de militarização no Oriente Médio, na esperança ingênua de que esse tipo de abordagem pode assegurar fornecimento de energia. Agora, a competição por esses suprimentos está se intensificando com a China, Índia e outros, na corrida pelos mesmos (em vias de esgotamento) recursos.

Um poder análogo de captura de recursos está sendo tentado na África. O aumento dos preços de alimentos está levando a um aumento do preço das terras, enquanto políticos poderosos vendem a investidores estrangeiros vastas fazendas, varrendo do mapa as agriculturas tradicionais e os direitos dos pequenos agricultores. Investidores estrangeiros esperam usar grandes fazendas mecanizadas para produzir para exportação, deixando pouco ou nada para as populações locais.

Em toda parte nos grandes países – EUA, Reino Unido, China, Índia e outros – os ricos têm desfrutado de renda elevada e do aumento de poder político. A economia dos EUA foi sequestrada por bilionários, pela indústria do petróleo e outros setores chave. A mesma tendência ameaça as economias emergentes, onde a riqueza e a corrupção estão em alta.

Se a ganância vencer, a máquina do crescimento econômico depredará os recursos, deixará os pobres de lado e nos conduzirá a uma profunda crise social, política e econômica. A alternativa é um paradigma de cooperação social e política, tanto no interior dos países, como internacionalmente. Haverá recursos suficientes e prosperidade para seguir em frente, se convertermos nossas economias em fontes renováveis de energia, em práticas agrícolas sustentáveis e numa taxação razoável dos ricos. Este é o caminho da prosperidade compartilhada, por meio do avanço tecnológico, da justiça política e da consciência ética.

(*) Jeffrey D. Sachs é professor de Economia e diretor do Instituto Terra da Universidade Columbia. Ele também é conselheiro especial da Secretaria Geral das Nações Unidas para as Metas do MIlênio.

Tradução: Katarina Peixoto

SILPHIS, UM HÍBRIDO ENTRE NÓS de jairo pereira / quedas do iguaçu

Híbrido, demiurgo, espacial… o ser viveu anos entre nós. Nunca deu pra conhece-lo completamente. Onde nasceu, viveu, cresceu, formou-se.  Sabia de pesca, caça, poesia, artes em geral. Em filosofia, avançava muito. Nós o tratávamos por Silphis, quase carinhosamente.

Não haviam trevas para ele, nós, enliados do tempo. Só desvelo, luz, clareanças do pensamento. As pedras silenciam, as águas cantam, os céus estalam sagrações novas.

Numa pescaria no rio Iguaçu. Noite alta. A luz por trás da mata, aureolada, previa chuva intensa. Meu amigo Sete. O sete varas (Sr. Orlando) pediu que Silphis cuidasse do acampamento, enquanto armávamos uns anzóis de galho pra pegar traíra. Silphis, subiu numa árvore e lá ficou horas a fio. Não quis falar nada, mas vi que uma luz tênue, contornava o rapazinho. A velha canafístula, balançava ao vento e ele lá trepado, como um macaco prego. Horas mortas. A urutu em que quase pisamos encima. A carpa grande que saltou sob os sarandis. O grito do urutago no pau podre. Urutago. Urutau. Preguiça. Mão da lua. Manda lua. Abijaí-guaçu… Alguns peixes pescados e o retorno ao acampamento. Silphis ainda pairava na meia altura da árvore centenária. Ao nos ver chegar ao barraco, desceu, esgueirando-se por entre os cipós. Não sei, se o Sr. Orlando via, mas eu nitidamente enxergava o contorno de luz no garoto esguio, de aproximadamente 13 anos. Nos deixaram mais de ano a criança, com a alegação de que seus pais foram trabalhar numa barragem ou parque de diversões em Goiás. O guri. Limpava peixe, capinava, lavava cavalo, cortava lenha, ajudava matar e pelar porcos. Sempre solícito, não negava mando. Nunca procuramos saber de seus pais, mais do que o necessário a justificar sua estada entre nós. Um pouco lá em casa, outro tanto com meu companheirão Sete, o guri foi luzindo e vivendo entre nós. Por mais de ano, ou dois, ou três… Tudo se confunde em nossa mente quando lembramos de Silphis e seus mergulhos longos no Iguaçu. Nadava, entrava em toca de tateto, subia em árvores altas. Esculturava com cipós, as mais lindas mulheres. Tinha conhecimento profundo das coisas terrenas, muito além do que se podia esperar de um garoto de 13 anos. Fazia flautas de taquarinha do mato e chamava pássaros. O sobrevivente surucuá, era sua companhia predileta. No rio, mergulhava fundo entre os peixes maiores e custava emergir. No espaço, elevava-se a mais de quatro metros de altura, num simples pular de cerca. A gente via, aquilo, só nós (eu e o Sr. Orlando, o Sete) e ficávamos quietos, só pra nós. Abestalhados. Com o tempo algumas pessoas mais observadoras, notavam algo diferente no guri. Disfarçávamos, o talento da criança, com uma história de circo. De que era egresso dum circo que há tempos atrás o esqueceu com os pais em Guarapuava. E a vida ia correndo e Silphis, conosco aventurando pescarias, cavalgadas, construções artísticas e pensamentos filosóficos. Certa vez me disse que o espaço é um só, a substância universal a mesma, o sonho, o mesmo terreno e de todas as tribos do Cosmo. Num grão de areia da beira do rio, via o transfinito. Sinalizava aos orbes, estrelas… e parece recebia respostas. Em cavalos, tanto os adorava, andava quase deitado em cima, em galopes cancha reta. A luz em noites, de longas andadas tomava todo o dorso do animal e elevava-se também um pouco acima da cabeça. Eu só ficava vendo aquilo, abduzido, no lombo do meu Tigre paint. Minhas crianças, observavam que o piá era esquisitinho, dormia em qualquer lugar, a qualquer hora do dia ou da noite. Bastava, afastar-se um pouco das companhias e no encosto de um móvel, sobre um soalho, ou mesmo embaixo de uma cama, dormia. Uma noite o peguei, mentalizando algo, olhar fixo pela janela do sobrado de minha casa. A luz transpassava as árvores exóticas lá fora, e perdia-se no espaço. Percebi que havia um retorno de focos luminosos. Estabelecia-se ali comunicação entre seres de espaços diversos. Silphis jamais tocou no assunto de ter qualquer comunicação com o desconhecido. Seres cósmicos, ele mesmo podendo ser um híbrido, coisas assim… nunca fora sequer cogitado. Apenas eu e Sr. Orlando (o Sete) admitíamos, no nosso pobre entendimento dos transmundos a possibilidade do guri ser extraterreno, ou meio. Contava milhões de estrelas de cabeça, conjugava palavras novas, signos, símbolos. Eram vários guris num só. Várias cabeças pensantes. A gente via um e falava com outro, outro ser, outra psique na dialética cotidiana de hora em hora. Acostumamos assim na sadia relação. Aquela vez que trepou no jaracatiá, ficou três dias, no encosto com o monjoleiro vermelho. A boca amarela da polpa do fruto carnudo. Só desceu da árvore quando uma tempestade estalou madeira na mata.

Os cavalos quando Silphis chegava na Fazenda Poema relinchavam, abusivamente. Os cachorros latiam, os gansos, os patos, alariam. As ovelhas baliam. Uma égua prenha, o seguia pelos aramados por longas distâncias. Parece mantinha comunicação telepática com os bichos. Tinha alto poder de cura. Noutra vez em que um ferrão de mandiguaçu me acertou o peito do pé, num toque Silphis tirou a dor. Noutra, a inflamação na garganta passou, quando ele tocou-me o pescoço, com um ramo de gervão. Quando as abelhas africanas invadiram a casa na fazenda e todos puseram-se a correr, Silphis ergueu a mão (pude ver uma luz nas pontas dos dedos) e as pequenas asadas retornaram à colméia, sem ferir ninguém. Silphis fez muita falta quando partiu. Partiu, desapareceu, saiu pra comprar umas coisas na mercearia da esquina da Guajuvira com a Pinheirais na nossa Kedas do Iguaçu, e nunca mais retornou. Como não tinha família presente, sendo só nós os seus de vida e presença, nada aconteceu, além da imensa saudade que quase nos mata. Olho os céus detidamente, todas as noites. Estrelas sinalizam Silphis, em alguma via intergaláctica, mentalizando seus pobres amigos do Iguaçu. Cipós de pensamentos costuram tecidos de significação, sonhos, amizade. Uma vez Silphis acelerou minha mente, num processo telepático. Alguma coisa travou no desvelo de equações perigosas. Um caso de amor irresolvido!? Ou eram, sonhos sem finalização!? Sei que a solução ocorreu nathuralmente… Gostava de bifes de fígado e cáquis de sobremesa. Ensinou meus filhos a concentrar o tempo, atenção, mentalizar para o bem e o certo. Ensinou-os a expandir o conhecimento das coisas, em observando-as atentamente. Cresceu em nós como ser híbrido, espacial, deixando grandes lições. Há poucos dias um estranho homem, alto e forte, chegou em nossa casa e pediu pra mulher sobre Silphis. Disse que tinha uma mensagem de seus pais pro garoto. Em síntese: que era pro pequeno ir à Porto Alegre, perto de Praia de Belas, que seria encontrado pela família. Havia um brilho diferente nos olhos do homem. Um brilho, uma cor radiante na tez morena. A Mari, disfarçou que não sabia mais do garoto… que eu e o Sr. Orlando já o tínhamos encaminhado aos pais em Goiás… parece que a algum circo. Mal sabia ela, que Silphis partiu quando e como quis, sem nos dizer nada. É (sua passagem) uma fábula que se realizou, uma lenda em ser, que não tem fim e projeta aos tempos futuros. Silphis gostava de me ver escrevendo coisas. Ficava perdido, em noites altas, atento as minhas elaborações do pensamento. Poesia, arte, filosofia, direito, lógica, linguística, semiótica e misticismo. Tudo lhe chamava a atenção. Palavras não dizem tudo. Sentidos podem… mas nem sempre alcançam. Dizia. Senti, que nunca mais fui o mesmo como poeta e escritor, depois que Silphis se foi. Aquela luz, emanada do guri, o olhar atento, a sã comunicação interespacial que operava, deixaram em mim solitude, isolamento involuntário. A essa estrela nova que aqui passou consagro este texto de vento e brasa, saudade, conhecimento, além do terreno e do carnal. mvcxzn,mvn,mnv,mc1v euiondhSHdjjlkjdncxxvczzczcvzzsgzrk Expanda-se essa luz juvenil nos amplos espaços do Cosmo, vivendo e ensinando, o simples de pés no chão, que todos devemos ser. SIMPLES. Fui, sou, serei, à revelia do complexo. JARACATIÁ!

AULA DE DESENHO de maria esther maciel / belo horizonte

Estou lá onde me invento e me faço:

De giz é meu traço.

De aço, o papel.

Esboço uma face a régua e compasso: É falsa.

Desfaço o que fiz.

Retraço o retrato. Evoco o abstrato

Faço da sombra minha raiz.

Farta de mim, afasto-me

E constato: na arte ou na vida,

Em carne, osso, lápis ou giz

Onde estou não é sempre

E o que sou é por um triz.

Morre MADRE MAURINA BORGES DA SILVEIRA que foi torturada e banida do País na ditadura militar

Madre Maurina marcou a luta da Igreja Católica em defesa dos direitos humanos; delegados que a prenderam foram excomungados à época

Madre Maurina Borges da Silveira, a freira que foi presa, acusada de subversão, torturada e banida do País durante a ditadura militar, morreu no último sábado, dia 5, em Araraquara, interior de São Paulo, onde vivia num convento de sua comunidade, a Congregação das Irmãs Franciscanas da Imaculada Conceição. A freira tinha 84 anos e sofria do Mal de Alzheimer.

A história de Madre Maurina marcou a luta da Igreja Católica em defesa dos direitos humanos, nos anos mais difíceis do regime de 1964. Começou com sua prisão, em outubro de 1969, quando ela foi levada num camburão para uma delegacia de Ribeirão Preto, onde era a superiora do Lar Santana, um orfanato para meninas, na Vila Tibério.

Acusação: acobertar militantes da Frente Armada de Libertação Nacional (FALN), que se reuniam e imprimiam material subversivo no porão do Lar Santana. Segundo testemunhos posteriores, Madre Maurina cedeu o espaço sem saber o que os jovens que abrigou discutiam em suas reuniões. Ao descobrir, mandou queimar exemplares do jornalzinho O Berrro, encontrado no porão.

“Madre Maurina foi uma grande vítima da ditadura militar, porque não tinha nenhuma participação política e jamais participou de organização que pregava a luta armada”, disse ontem d. Angélico Sandro Bernardino, bispo emérito (aposentado) de Blumenau – SC, na época padre em Ribeirão Preto, onde dirigia o jornal Diário de Notícias.

José Maria Mayrink, de O Estado

STF facilita a corrupção, diz ministro da CGU / brasilia

Hage diz que STF facilita corrupção. Gilmar vestiu a carapuça

Na posse de Luiz Fux como novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage, acusou a Corte de, indiretamente, acabar por beneficiar criminosos de colarinho branco.


“O STF tem alguns entendimentos a meu ver extremamente conservadores na linha de um garantismo exagerado que facilita a vida dos réus de colarinho branco. Espero que o STF evolua em alguns entendimentos, especialmente naqueles relacionados ao princípio da presunção da inocência… Não pode ser a presunção da inocência a presunção da versão do réu. Depois de duas versões dadas pelo Poder Judiciário (…) ainda assim prevalece a versão do réu”


Hage deposita esperança em Fux,
indicação da presidenta Dilma, como defensor da diminuição de recursos e sobre a celeridade em condenações judiciais:


“É um magistrado de carreira que sabe da importância de se reduzirem os obstáculos para os processos chegarem ao final para que os corruptos possam afinal ir para a cadeia”, declarou.


Gilmar Mendes destoa e diz que tribunal é “garantista” com os corruptos


“Sempre há esse juízo sobre tal ou qual tema. Não estou seguro que o Tribunal seja bonzinho com o réu de colarinho branco. O Tribunal é garantista. O Tribunal não permite terrorismo, não permite um Estado policial” – disse Gilmar Mendes, na contra-mão das críticas.


Mendes foi “garantista” ao extremo quando fez cerão até meia-noite no STF para garantir, no mesmo dia, um habeas-corpus de soltura do banqueiro Daniel Dantas da prisão.

(Com informações do Terra)

ilustraçõs do site.

Carta do Zé agricultor para Luis morador da cidade – por “netuno” / belo horizonte

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Prezado Luis, quanto tempo.

Eu sou o Zé, teu colega de ginásio noturno, que chegava atrasado, porque o transporte escolar do sítio sempre atrasava, lembra né? O Zé do sapato sujo? Tinha professor e colega que nunca entenderam que eu tinha de andar a pé mais de meia légua para pegar o caminhão por isso o sapato sujava.

Se não lembrou ainda eu te ajudo. Lembra do Zé Cochilo… hehehe, era eu. Quando eu descia do caminhão de volta pra casa, já era onze e meia da noite, e com a caminhada até em casa, quando eu ia dormi já era mais de meia-noite. De madrugada o pai precisava de ajuda pra tirar leite das vacas. Por isso eu só vivia com sono. Do Zé Cochilo você lembra né Luis?

Pois é. Estou pensando em mudar para viver ai na cidade que nem vocês. Não que seja ruim o sítio, aqui é bom. Muito mato, passarinho, ar puro… Só que acho que estou estragando muito a tua vida e a de teus amigos ai da cidade. To vendo todo mundo falar que nós da agricultura familiar estamos destruindo o meio ambiente.

Veja só. O sítio de pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e tive que parar de estudar) fica só a uma hora de distância da cidade. Todos os matutos daqui já têm luz em casa, mas eu continuo sem ter porque não se pode fincar os postes por dentro uma tal de APPA que criaram aqui na vizinhança.

Minha água é de um poço que meu avô cavou há muitos anos, uma maravilha, mas um homem do governo veio aqui e falou que tenho que fazer uma outorga da água e pagar uma taxa de uso, porque a água vai se acabar. Se ele falou deve ser verdade, né Luis?

Pra ajudar com as vacas de leite (o pai se foi, né ..) contratei Juca, filho de um vizinho muito pobre aqui do lado. Carteira assinada, salário mínimo, tudo direitinho como o contador mandou. Ele morava aqui com nós num quarto dos fundos de casa. Comia com a gente, que nem da família. Mas vieram umas pessoas aqui, do sindicato e da Delegacia do Trabalho, elas falaram que se o Juca fosse tirar leite das vacas às 5 horas tinha que receber hora extra noturna, e que não podia trabalhar nem sábado nem domingo, mas as vacas daqui não sabem os dias da semana ai não param de fazer leite. Ô, bichos aí da cidade sabem se guiar pelo calendário?

Essas pessoas ainda foram ver o quarto de Juca, e disseram que o beliche tava 2 cm menor do que devia. Nossa! Eu não sei como encumpridar uma cama, só comprando outra né Luis? O candeeiro eles disseram que não podia acender no quarto, que tem que ser luz elétrica, que eu tenho que ter um gerador pra ter luz boa no quarto do Juca.

Disseram ainda que a comida que a gente fazia e comia juntos tinha que fazer parte do salário dele. Bom Luis, tive que pedir ao Juca pra voltar pra casa, desempregado, mas muito bem protegido pelos sindicatos, pelo fiscais e pelas leis. Mas eu acho que não deu muito certo. Semana passada me disseram que ele foi preso na cidade porque botou um chocolate no bolso no supermercado. Levaram ele pra delegacia, bateram nele e não apareceu nem sindicato nem fiscal do trabalho para acudi-lo.

Depois que o Juca saiu eu e Marina (lembra dela, né? casei) tiramos o leite às 5 e meia, ai eu levo o leite de carroça até a beira da estrada onde o carro da cooperativa pega todo dia, isso se não chover. Se chover, perco o leite e dou aos porcos, ou melhor, eu dava, hoje eu jogo fora.

Os porcos eu não tenho mais, pois veio outro homem e disse que a distância do chiqueiro para o riacho não podia ser só 20 metros. Disse que eu tinha que derrubar tudo e só fazer chiqueiro depois dos 30 metros de distância do rio, e ainda tinha que fazer umas coisas pra proteger o rio, um tal de digestor. Achei que ele tava certo e disse que ia fazer, mas só que eu sozinho ia demorar uns trinta dia pra fazer, mesmo assim ele ainda me multou, e pra poder pagar eu tive que vender os porcos as madeiras e as telhas do chiqueiro, fiquei só com as vacas. O promotor disse que desta vez, por esse crime, ele não ai mandar me prender, mas me obrigou a dar 6 cestas básicas pro orfanato da cidade. Ô Luis, ai quando vocês sujam o rio também pagam multa grande né?

Agora pela água do meu poço eu até posso pagar, mas tô preocupado com a água do rio. Aqui agora o rio todo deve ser como o rio da capital, todo protegido, com mata ciliar dos dois lados. As vacas agora não podem chegar no rio pra não sujar, nem fazer erosão. Tudo vai ficar limpinho como os rios ai da cidade. A pocilga já acabou, as vacas não podem chegar perto. Só que alguma coisa tá errada, quando vou na capital nem vejo mata ciliar, nem rio limpo. Só vejo água fedida e lixo boiando pra todo lado.

Mas não é o povo da cidade que suja o rio, né Luis? Quem será? Aqui no mato agora quem sujar tem multa grande, e dá até prisão. Cortar árvore então, Nossa Senhora!. Tinha uma árvore grande ao lado de casa que murchou e tava morrendo, então resolvi derrubá-la para aproveitar a madeira antes dela cair por cima da casa.

Fui no escritório daqui pedir autorização, como não tinha ninguém, fui no Ibama da capital, preenchi uns papéis e voltei para esperar o fiscal vim fazer um laudo, para ver se depois podia autorizar. Passaram 8 meses e ninguém apareceu pra fazer o tal laudo ai eu vi que o pau ia cair em cima da casa e derrubei. Pronto! No outro dia chegou o fiscal e me multou. Já recebi uma intimação do

Promotor porque virei criminoso reincidente. Primeiro foi os porcos, e agora foi o pau. Acho que desta vez vou ficar preso.

Tô preocupado Luis, pois no rádio deu que a nova lei vai dá multa de 500 a 20 mil reais por hectare e por dia. Calculei que se eu for multado eu perco o sítio numa semana. Então é melhor vender, e ir morar onde todo mundo cuida da ecologia. Vou para a cidade, ai tem luz, carro, comida, rio limpo. Olha, não quero fazer nada errado, só falei dessas coisas porque tenho certeza que a lei é pra todos.

Eu vou morar ai com vocês, Luis. Mais fique tranqüilo, vou usar o dinheiro da venda do sítio primeiro pra comprar essa tal de geladeira. Aqui no sitio eu tenho que pegar tudo na roça. Primeiro a gente planta, cultiva, limpa e só depois colhe pra levar pra casa. Ai é bom que vocês e só abrir a geladeira que tem tudo. Nem dá trabalho, nem planta, nem cuida de galinha, nem porco, nem vaca é só abri a geladeira que a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de nós, os criminosos aqui da roça.

Até mais Luis.

Ah, desculpe Luis, não pude mandar a carta com papel reciclado pois não existe por aqui, mas me aguarde até eu vender o sítio.

(Todos os fatos e situações de multas e exigências são baseados em dados verdadeiros. A sátira não visa atenuar responsabilidades, mas alertar o quanto o tratamento ambiental é desigual e discricionário entre o meio rural e o meio urbano.)

 

JAVIER HERAUD: a poesia e a vida por um sonho. [1] – por manoel de andrade/ curitiba




 

“La poesía es

un relánpago maravilloso,

una lluvia de palabras silenciosas,

un bosque de latidos y esperanza,

el canto de los pueblos oprimidos,

el nuevo canto de los pueblos liberados”.

J.H.

1. Os poetas revolucionários.

Que sublime herança, ter vivido num tempo semeado de esperanças, de ideais que prometiam a redenção dos oprimidos e a solidariedade entre os povos do mundo!

Vivíamos, na América Latina, durante um período em que as contradições entre o sonho libertário e a realidade opressiva geraram os grandes impasses da nossa história. Nas décadas de 60/70 as utopias anunciavam, pelas trincheiras de luta e pelos versos dos poetas, uma pátria de homens livres, uma aldeia global onde em cada coração palpitaria o amor, a liberdade e a justiça. Livros, revistas, cartazes, poemas panfletados, recitais e debates compartilhados, encontros clandestinos, reuniões secretas, diálogos luminosos… quantos nomes, quantos abraços, chegadas e despedidas, quantas cartas e quantas vozes ecoam ainda em minhas lembranças de poeta e viandante.

Contudo, neste trecho de minhas memórias, não contarei dos tantos poetas que estreitei em meus braços. Evoco aqui apenas a imagem dos caídos, daqueles que ficaram na saudade do seu povo e, como os poetas não morrem, por certo, continuarão vivos nos versos que escreveram, ou cantando em outras possíveis dimensões da vida. Alguns, como Otto René Castillo, — martirizado até a morte no suplício mais cruel — caíram no campo de batalha e tiveram seus cantos libertários escritos na história da pátria agradecida. Outros foram sepultados nos arquivos do silêncio oficial, mas um dia terão seus nomes ressuscitados pelo tempo, num tempo muito além deste tempo cruel em que a poesia já não palpita no coração dos homens. Seus poemas não puderam mudar o mundo, mas anunciaram um amanhecer. Seus versos deram nomes aos tiranos e convocaram os homens para o bom combate.

E por isso volto a falar de ti, Ariel Santibañez, meu irmão chileno no sonho e na poesia e são para ti essa memória e essa saudade. Ficou de ti a lembrança do nosso primeiro encontro numa manhã ensolarada de Arica. Da carta fraterna que te trazia de Santiago. De tua porta e teu sorriso se abrindo ao te falar do nosso querido Arimatéia. Atrás desses quarenta anos ainda ecoam as palavras e os versos que acompanharam nossos poucos dias e as cartas trocadas da Bolívia. E depois…, depois o teu tempo clandestino, tua visita a Cuba, tua volta a uma pátria que seria banhada em sangue, a tua militância e teu trágico silêncio. E agora, que teu nome ressurge depois da imensa noite dos terrores, agora que teu carrasco é levado ao patíbulo dos culpados, só agora venho escrever teu nome nas memórias tardias dos meus passos, relendo teus poemas, folheando teu talento de editor nas páginas de Tebaida, lembrando da tua imagem lúcida e fraterna, imaginando a extensão do teu martírio nos porões assassinos de Villa Grimaldi e sentindo-te na perene saudade de minhas lágrimas.

Quanto a ti, Javier, no tempo em que cheguei, tu já não estavas. Falaram-me de ti, não só pela candura dos teus versos, mas porque foram em busca do teu rastro sobre as águas, “entre pássaros e árvores” e sobre as folhas do outono. Eram três estudantes de Arequipa e durante algumas noites eles estiveram na “Rosa de los ventos”, naquela pracinha tão íntima chamada “Las Nazarenas”, na quadra posterior à Catedral de Cusco. Eu trabalhava ali, no número 199, naquele Café romântico que se abria ao entardecer e onde a poesia, a música e a história recebiam os caminhantes de tantas pátrias. Uma noite eles me contaram a história do teu sonho, das balas que cruzaram teu destino e das águas que levaram o teu sangue para a imensidão do mar. Na noite seguinte eu voltei a perguntar por ti e no terceiro dia eles me trouxeram a primeira edição de El Rio. Naquelas páginas eu bebi os teus primeiros versos e em Lima tu nasceste em minha poesia.

2. O poeta de Miraflores.

Eu conheci Miraflores, o bairro onde nasceu e viveu o poeta Javier Heraud. Como eram lindas suas ruas, praças e parques naquela primavera de 1969, e muitas vezes misturei meus passos com os elegantes transeuntes da Avenida Larco. No número 656 moravam Francisco e Mario Rojas, meus amigos costarriquenses, e lá nos reuníamos toda semana, com seus colegas de arquitetura da Universidade de São Marcos. Também era ali, nas mesas dos bares, que eu trocava idéias com tantos jovens intelectuais latinoamericanos. Tínhamos a mesma faixa de idade e os mesmos sonhos libertários. Lembro-me, sobretudo, do equatoriano Simón Pachano, saudoso amigo desde Cusco, hoje respeitado sociólogo, escritor fecundo, professor da FLACSO e da Universidade de Salamanca. Miraflores era um encantamento.

Quantas vezes vi o sol despedir-se atrás das águas do Pacífico, naqueles crepúsculos deslumbrantes que iluminavam as praças e as calçadas no “Malecón de Miraflores”. Havia um mágico suspiro naquelas ruínas do passado pré-incaico. Eu frequentava suas livrarias, galerias de arte e respirava aquele romantismo no esnobe vozerio dos bares e — com exceção da “Zona Rosa”, na Cidade do México, também daqueles anos — não creio que tenha conhecido, nos meus caminhos pela América, uma região urbana tão atraente, embora socialmente tão exclusiva. Árvores frondosamente grandes, jardins tão bem cuidados, as pétalas multicores desenhando-se nos canteiros, o aroma das flores e os botões desabrochando. – “En Europa no hay nada más bello que Miraflores”, escreve Javier de Paris ao seu pai. — Cafés literários, estrangeiros exóticos, latinoamericanos do sul, franceses e estadunidenses, as melodias dedilhadas no charango e a voz telúrica das zampoñas, o desenho policrômico dos ponchos indígenas rivalizando com as mais variadas grifes europeias. Crianças graciosas, peruanas lindas, uma pequena aldeia de seduções no coração da orgulhosa Lima, marcada em parte por sua legítima beleza, histórica e cultural e em parte por um desfile de aparências que somente a vaidade e o desperdício proporcionam.

Foi nessa passarela de encantos que o poeta passou a infância e a juventude, filho de uma família de classe média, que marcou sua vida e sua poesia com um imenso e reconhecido carinho. Começa a escrever aos quinze anos e em 1960, aos dezoito, publica sua primeira obra: “El Rio”. Nesse mesmo ano, com seu segundo livro “El viaje” participa do concurso “El Joven Poeta del Peru”, dividindo o primeiro prêmio com aquele que seria o grande poeta e revolucionário César Calvo. Em 1963, seu livro Estación Reunida, recebe o primeiro prêmio de poesia nos Jogos Florais da Universidade de San Marcos, chamando a atenção da comissão julgadora pela beleza dos seus versos, apresentados com o pseudônimo de O Lenhador. Mas naqueles dias o poeta já estava morto.

Os vinte e um anos da vida de Javier Heraud Pérez é parte da história da literatura política da América Latina nas décadas de 60-70, e que ainda está por ser escrita. Nessa memória, a poesia rebelde ocupa uma mágica galeria de mártires e sobreviventes, lembrando dezenas de poetas que empenharam suas vidas, seus sonhos e o encanto de suas metáforas para cantar a mística revolucionária pela lírica dimensão da poesia.

Javier Heraud foi a poética expressão do espanto ao testemunhar sua esperança e sua angústia numa sociedade cruel. O Peru era um país marcado pela mais descarada opressão e o desprezo por um povo indígena com o mais belo passado de glória do continente americano e que desde a conquista galga um longo calvário em seu destino.

Nascido em Lima, em 19 de janeiro de 1942, conheceu na juventude uma pátria convulsionada pelo domínio estrangeiro sobre as comunidades quéchuas dos Andes Centrais, pelas mais perversas práticas de servidão no trabalho agrícola, e por uma infindável injustiça, cuja impunidade precipitava a nação num perigoso abismo social. Começava a década de 60 e, pelo país inteiro os trabalhadores, há anos sugados pelo trabalho das minas e do campo, faziam suas primeiras marchas, sangrados pela repressão. Os camponeses, literalmente, para não morrer de fome, preferiam cair lutando para retomar as terras que lhes foram usurpadas. Nas grandes fazendas de açúcar, os trabalhadores estavam na vanguarda dessa luta. As grandes empresas norteamericanas ditavam suas ordens e o governo peruano as cumpria com o dedo no gatilho e lotando as prisões.

Os primeiros contatos com a vida acadêmica em San Marcos trouxeram a Heraud novas concepções sociais e políticas e houve um dia, um momento, em que ele começou a trocar os encantos de Miraflores pelas solitárias trilhas andinas de seu país, e as paisagens humanas que encontrou encheram-lhe a alma de assombro e amargura:

(…)”E lembrei de minha pátria triste

meu povo amordaçado

suas crianças tristes, suas ruas

despovoadas de alegria.

Lembrei, pensei, entrevi suas

praças vazias, sua fome,

sua miséria em cada porta.

Todos recordamos o mesmo

triste Peru, dissemos, ainda é tempo

de recuperar a primavera,

de semear de novo os campos, (…)

Triste Peru, aguarda,

nascerão de novos rios,

novas primaveras serão

devastadas por novos outonos,

e em cada face brilhará

uma alegria transbordante

e no povo, com sua força,

reunido e santo ” [2]

3. O engajamento político, as viagens pelo mundo e a Cuba.

Em 1961, vários fatos irão marcar sua vida política. Filia-se ao Movimento Social Progressista (MSP), de tendência social democrata, integra uma ampla manifestação de repúdio à visita de Richard Nixon ao Peru e participa de um confronto entre simpatizantes da Revolução Cubana e exilados anti-castristas. Ainda em 1961 é nomeado professor de Literatura em importante colégio de Lima e, em julho daquele ano, a convite do Fórum Mundial da Juventude, viaja à União Soviética. Em Moscou visita a tumba de Lênin e escreve os poemas “Plaza Roja 1961” e “En La Plaza Roja”. Viaja por alguns países da Ásia e depois para a França, onde conhece o túmulo do poeta peruano Cesar Vallejo, dedicando-lhe o poema “En Montrouge”. Na capital francesa encontra-se com vários artistas e intelectuais peruanos, entre eles o jovem escritor Mario Vargas Llosa. E antes de deixar Paris, foi conhecer o povoado de Illers onde vivera Marcel Proust, a quem admirava e a quem dedicou, na época, um poema. Depois de cogitar ficar em Paris para estudar cinema, resolve voltar ao Peru e passa, em outubro, pela Espanha:

(…) Esta é Madrid,

este é o meu coração

sangrando,

este é o nosso caminho,

e seguirei gritando a

verdade dos

bosques apagados,

A verdade das rosas

caídas,

a verdade de Espanha

e suas histórias.[3]

Em princípios de 1962 renuncia ao MSP com uma carta, onde expressa:

(…) “É uma posição falsa este chamado “socialismo humanista” que condiciona toda a marcha do Movimento e o leva a uma práxis equivocada. Eu não creio que seja suficiente chamar-se revolucionário para sê-lo…” Logo depois dirá: “De agora em diante, rumarei pela rota definitiva onde brilha esplendorosa a aurora da humanidade”.[4]

Em março recebe uma bolsa para estudar cinema em Cuba e parte, com escala de cinco dias em Arica, onde encontra militantes do Partido Comunista Chileno e Salvador Allende, embarcando num avião da Cubana de Aviación e, junto com outros bolsistas, chega a Havana em 4 de abril. Dias depois, com outros companheiros, tem um encontro com Fidel Castro:

(…)“Vi a Fidel de piedra movediza,

escuché su voz de furia incontenible

hacia los enemigos.” (…)

Percorre as cidades cubanas e conhece Santa Clara, a legendária cidade onde o Che Guevara definiu a vitória da Revolução. Já se encontravam na ilha os peruanos Guillermo Lobatón e Fernández Gasco, que iriam liderar dois importantes grupos guerrilheiros em 1965, na região central do Peru. Encontrava-se também em Havana um grupo de 300 peruanos, operários e camponeses. Eram os quadros dissidentes do APRA (Aliança Popular Revolucionária Americana), integrantes do APRA Rebelde, comandada por Luiz de La Puente Uceda. Lá chegaram outros militantes da esquerda peruana e entre eles Héctor Béjar. Atraídos pelo recente sucesso da Revolução Socialista, ali estavam para preparar-se militarmente, trazer ao Peru a experiência guerrilheira cubana e a esperança de mais uma pátria socialista no Continente. O poeta integra o grupo de 40 bolsistas que por três semanas percorrem em Sierra Maestra os lugares por onde transitaram os heróis da Revolução Cubana e, num rápido processo de transformação todos optam por preparar-se militarmente, lutar pela justiça e redenção social do Peru. Integrado ao grupo dos 40 bolsistas, Javier , em novembro volta ao Peru para dar apoio armado a Hugo Blanco, que à frente das massas camponeses do Valle de La Convención, lutava pela implantação da Reforma Agrária na província de Cusco.

4. A opção pela luta armada

Ser jovem, naqueles anos, significava fazer uma opção. O mundo na década de 60 passava por grandes transformações e novos paradigmas comandavam o comportamento da juventude. No campo ideológico tínhamos que fazer uma escolha: engajar-se na luta a favor dos oprimidos e contra a repressão e o imperialismo ou permanecer na contramão da história, defendendo os interesses inconfessáveis do poder ou, pior ainda, manter-se inconsciente da sua própria inconsciência, um espectador alienado ao que estava acontecendo no seu país, na América Latina e no mundo.

Caminhando pelo continente naqueles anos, convivi com intelectuais de várias vertentes de esquerda e me contagiei com a paixão revolucionária que caldeava a história recrutando o coração da juventude. A leitura e a discussão dos importantes pensadores de esquerda disseminavam-se na cultura estudantil de todas as grandes universidades. O marxismo, com seu caráter científico e analítico da sociedade, sua mística ideológica, sua dimensão moral do “homem novo”, seu legítimo romantismo semeado pela aventura da Sierra Maestra e a saga de Che Guevara, transformou-se numa mágica convocação, numa cartilha de sonhos que, iluminada pela imagem da justiça social e da solidariedade com os pobres e oprimidos, unia, num gesto plural e despojado, intelectuais, estudantes e trabalhadores. Javier Heraud foi um exemplo eloquente dessa opção. Consciente de que somente a insurreição armada poderia banir a dominação oligárquica e o indisfarçável colonialismo que ainda predominava no Peru, escolheu colocar sua vida na balança do destino, embora sabendo que poderia encontrar a morte na travessia do seu sonho. Renunciando a uma grandeza literária que já se anunciava nas letras peruanas como um provável sucessor do grande Cesar Vallejo, não vacilou em despedir-se de si mesmo e assumir, com o codinome de Rodrigo Machado, a sublime missão de defender os oprimidos.

No início de 1963, o grupo, chefiado por Héctor Béjar, deixa Havana e, em vista do bloqueio continental e o controle imperial contra Cuba, seguem para Praga e, através de Paris, chegam ao Rio de Janeiro para atravessar clandestinamente o Brasil. Em 19 de janeiro, o poeta-guerrilheiro celebra seus 21 anos, na passagem por São Paulo rumo à Bolívia. Armados e guiados por esquerdistas bolivianos, os 40 quadros militares entram no Peru por Riberalta, tendo pela frente 300 quilômetros de selva, numa caminhada de cinco meses até Porto Maldonado, onde o grupo deveria dividir-se em duas colunas, sendo que a integrada por Heraud, seguiria para o Vale de La Convención, para unir-se às forças de Hugo Blanco.

Durante todo esse trajeto, contam os depoimentos dos que sobreviveram, que Heraud escrevia muito e que falava da sua entrega incondicional em favor dos camponeses explorados, dos expulsos de suas terras e dos anos que os esperavam nos longos caminhos da luta. Em seu poema Palavras de Guerrilheiro, ele fala do seu amor à pátria e à natureza:

Porque minha pátria é formosa

como uma espada no ar

e tão grande agora e ainda

mais bela

eu canto e a defendo

com minha vida.

II

Não me importa o que digam

os traidores

nós fechamos o passado

com grossas lágrimas de aço.

III

O céu é nosso

nosso é o pão de cada dia

temos semeado e colhido

o trigo e a terra

são nossos

e para sempre nos pertencem

o mar

as montanhas e os pássaros.[5]

Esses versos dizem de sua abnegada entrega, testemunhando que trazia na alma o estandarte veemente da justiça, quem sabe esperando um dia entregá-lo à pátria na forma poética de um epinício, celebrando em versos a vitória dos vencidos. Que maior pendão pode existir para um poeta do que cantar e lutar pelos humilhados e esquecidos? Que caminhos são mais belos que os caminhos da liberdade quando são balizados entre o sonho de um combatente e a esperança dos oprimidos?

5. A marcha na selva, a escaramuça e a travessia para a morte.

Nos primeiros dias de maio a coluna expedicionária, já em marcha pela selva oriental do território peruano, destaca seis combatentes que são enviados como batedores para avaliar a segurança da rota que levariam os outros até as zonas de conflito. Em 14 de maio, depois de vários dias por trilhas amazônicas, essa vanguarda tática, da qual fazia parte Javier Heraud, chega a Porto Maldonado, uma pequena cidade, capital do departamento de Madre de Dios, a uns 40 quilômetros da fronteira boliviana, onde ficaram os demais. Entram na cidade, e o chefe do grupo, Alaín Elías, com 24 anos, é confundido com o guerrilheiro Hugo Blanco. Ao anoitecer daquele dia, buscavam se hospedar no Hotel Chávez, quando são abordados por um grupo de policiais que os intimam a apresentar-se na delegacia local. No caminho os guerrilheiros resolvem reagir, há um enfrentamento com tiros, um sargento cai morto e os guerrilheiros se dispersam em várias direções. Alaín e Javier passam a noite escondidos na floresta, mas no dia seguinte são vistos por um camponês que os denuncia, passando a ser perseguidos por policiais e pelos fazendeiros da região, munidos com armas de caça. Fogem para o rio Madre de Dios e tentam escapar em uma canoa, contudo a polícia chega nas margens e começa a atirar. Elías atira primeiro, mas depois ambos decidem entregar-se. Neste momento aproxima-se uma lancha cheia de policiais e civis que chegam atirando. Os dois jovens pedem que não atirem e agitam uma camiseta acenando a rendição, mas os tiros continuam. Alaín é ferido e se deita. Javier de pé grita que não disparem mais, mas recebe um tiro na clavícula e volta a gritar que não atirem. Alain embora baleado agita a pequena “bandeira” numa desesperada súplica de paz e compaixão. Javier ferido se recosta e todos os tiros concentram-se no seu corpo. Os estampidos se sucederam das onze e meia à uma da tarde como um sádico tiro ao alvo. É um tempo irreal, apavorante para duas vítimas indefesas, porque marca o supremo desespero da sobrevivência. As explosões ecoavam como mágicos relâmpagos explodindo o sacrário da esperança de dois jovens sonhadores. De repente, o silêncio. Uma canoa que se mantém imóvel sobre as águas. A missão estava cumprida, a dignidade humana ultrajada, o massacre consumado por militares treinados para matar e por fazendeiros treinados pela ambição e pelo ódio. Estirado sobre o tronco flutuante, os olhos do poeta buscam ainda o azul, despedindo-se do querido céu da pátria. Quem sabe, no derradeiro alento, Javier Heraud tenha-se lembrado das palavras que alguma vez escreveu àquela que lhe embalou a infância:

“Recorda tu, recordem todos que meu carinho e meu amor crescerão sempre, que nada nem ninguém nos poderão separar, ainda que estejamos distantes, e que algum dia nos reuniremos para cantar e chorar juntos, para abraçar-nos e querer-nos mais. E que eu sempre serei o menino a quem tu tiveste nos braços ainda que haja crescido por este tempo que avança e destroça os anos, mas não as recordações.”[6]

6. Javier Heraud: a vida e a poesia por um ideal

No momento em que escrevo estes relatos, 47 anos depois de sua morte, sua obra poética, reeditada muitas vezes tanto no Peru como em Cuba, é uma das mais estudadas em seu país, tanto pelo seu significado histórico na saga guerrilheira daqueles anos, como por sua precocidade literária marcada por refinado lirismo, concisão e transparência. Muitos perguntarão: o que leva um jovem intelectual de 20 anos, privilegiado por uma invejável estruturação familiar, a alistar-se numa missão tão imprevisível para defender uma causa sem interesses pessoais e onde a morte o espreitaria a cada passo? José Ingenieros ao expressar a emoção do ideal nos fala de sua ‘força misteriosa qual uma áscua sagrada capaz de nos preparar para as grandes ações e que se a deixarmos apagar, jamais se reacenderá em nós e uma vez morta nada mais seremos que fria bazófia humana’. [7] Foi essa “força misteriosa”, esse gesto de renúncia e de coragem que fez de sua vida uma paixão constante marcada em seus versos pelo persistente tema da morte, uma presença imanente em sua poesia:

“Não desejo a vitória nem a morte,

não desejo a derrota nem a vida,

somente desejo a árvore e sua sombra,

a vida com sua morte.”[8]

Em seus poemas, o rio é, também, sempre uma ideia forte e recorrente, como uma metáfora da vida. O rio, na poesia de Heraud, é o rio da própria vida, expressa em seu longo e belíssimo poema El Rio. O poeta desnuda-se em emoção e lirismo nos seus versos, semelhante ao místico significado do rio de Sidarta, no romance de Hermann Hesse. Para o poeta peruano o rio é sua própria imagem, um corpo que caminha angustiosamente em busca do destino. É o movimento incessante por onde escorre o tempo e navega o seu espírito de poeta, fluindo às vezes em desatada emoção e envolvendo a natureza em todo o seu entorno. Mas é também e, paradoxalmente, em muitos versos, como uma premonição do lugar onde ocorreria sua morte.

Eu sou um rio,

vou descendo

pelas largas pedras,

vou descendo

pelas rochas duras,

pelo caminho

desenhado pelo

vento.

Há árvores em minha

volta, sombreadas

pela chuva.

Eu sou um rio,

desço sempre mais

furiosamente,

mais violentamente

eu desço

cada vez que

uma ponte me reflete

em seus arcos.

Eu sou um rio

um rio

um rio

cristalino no

amanhecer.

Às vezes sou

terno e

bondoso.

Deslizo suavemente

pelos vales férteis,

dou de beber mil vezes

ao gado, à gente dócil.

As crianças se acercam de mim

de dia

e

de noite trêmulos amantes

apoiam seus olhos nos meus

e fundem seus braços

na escura claridade

de minhas águas fantasmagóricas.(…) [9]

7. O intelectual brilhante

Aos 16 anos Javier Heraud ingressa, em primeiro lugar, no curso de Letras na Universidade Católica do Peru e começa a dar aulas de espanhol e inglês em colégios secundários. Aos 19 anos entra na Faculdade de Direito da Universidade de San Marcos em cujo ambiente oferece seus primeiros recitais e relaciona-se com os principais poetas da época: Washing¬ton Del¬gado, Cesar Calvo, Javier Sologuren, Arturo Corcuera entre outros. José Miguel Oviedo, considerado um dos maiores críticos literários peruanos, ao resenhar seu livro El viaje, em 1960, afirma sobre o poeta que ainda não completara 20 anos:

“Javier Heraud — ya no cabe duda — es la mejor esperanza que la poesia peruana tiene dentro de las novísimas generaciones”[10]

Nessa idade, já com uma grande cultura literária, estuda Marx e Lênin, penetra na historicidade do Peru, estudando suas profundas contradições sociais na década de 60 e transforma todo esse conhecimento em consciência revolucionária. Tudo, na pessoa de Javier Heraud era uma luminosa promessa. Quer como poeta, quer como revolucionário. Em Heraud projetava-se, potencialmente, a imagem do grande intelectual engajado, assim como foi José Carlos Mariátegui (1895-1930) como homem de ideias e tido como o maior e mais original pensador marxista latinoamericano. Semelhante a Mariátegui, pela precocidade e pela abrangência de sua intelectualidade, Javier Heraud era, relativamente, aos 21 anos, um intelectual completo, orgânico, poeticamente voltado para o profundo significado da vida (e da morte) e politicamente comprometido com os movimentos sociais do seu tempo. Isso para fazermos um paralelo apenas com intelectuais marxistas, como eram também, pela sua abrangência, Neruda e Vallejo.

Quando esteve em Paris, de volta da União Soviética, em julho de 1961, seu período na capital francesa foi aproveitado ao máximo. Em carta à família ele escreve:

(…) “Aqui não posso desperdiçar uma hora. Há muitas coisas, insisto, que tenho que aprender. Música, pintura, teatro, museus, ciências, livros, etc. Quero formar-me bem para depois ser útil à revolução e ao meu país.”(…) [11]

Em Paris, teve um curto período de convivência com Mario Vargas Llosa, na época com 25 anos. Em um longo depoimento em 1981 para Cecília Heraud Perez, irmã do poeta, o laureado escritor peruano relata:

(…) Nesses dias, nos víamos muito, praticamente todos os dias, conversávamos por longo tempo e muito identificados. Nasceu uma relação muito cordial, muito próxima, porque ele era uma pessoa sumamente afetuosa, sumamente simples, com uma coisa muito pura, ingênua, uma imensa candura no melhor sentido da palavra.

(…) A viagem tinha sido um fator de radicalização para ele. Creio que naqueles momentos militava no Social Progressismo e no retorno da União Soviética, já em Paris, todos vivíamos nesse momento uma radicalização. Eu também estava bastante radicalizado, sobretudo com o entusiasmo que despertou em todos nós a revolução cubana.

Javier participava absolutamente desse sentimento, dessa atividade e esse foi um dos longos temas de nossas conversações. Falamos muito de política, da impressão que lhe causara a viagem, de sua radicalização, da problemática peruana, mas também muito de literatura, porque a vocação literária de Javier era enorme, uma vocação realmente muito forte, evidente, ou seja, era algo que ele sentia à flor da pele. Ele me falou de um projeto de escrever baladas, uma série de baladas sobre temas despojados, muito simples, uma poesia narrativa, quase didática. (…) uma poesia para o povo, no melhor sentido da palavra, mas escrita com qualidade literária.

(…) Ele tinha 19 anos, era grande, alto, bastante forte, com olhos claros, ao mesmo tempo com uma transparência que imediatamente seduzia. A mim me seduziu fortemente sua personalidade e realmente tive com ele uma comunicação muito próxima, uma boa amizade, apesar de um contato rápido e passageiro.

Depois ele foi passar alguns dias em Madrid, onde recebi um cartão postal. Retornou ao Peru, e me escreveu uma carta bastante atormentada onde me fala de uma crise muito profunda, que por um lado é uma crise política, a crise em que vivia o país, num clima de repressão e bastante desesperançada politicamente (…)

(…) Quando Javier esteve em Paris eu acabava de escrever La ciudade e los perros. Eu li para ele alguns capítulos do romance, a descrição de La Victoria, de um personagem que vai à rua Huatica frequentada pelas prostitutas , lembro de ter-lhe lido sobre isso e lhe perguntado se sua geração ainda tinha aqueles costumes, como a minha, ou foi uma geração que mudou seus ritos.. “Essa descrição – disse-me – incomoda-me um pouco.”. [12]

O que certamente Javier Heraud jamais poderia imaginar é que, como um jovem poeta de 19 anos, pudesse ser entrevistado, em Paris, por um peruano que um dia seria distinguido com o Prêmio Nobel de Literatura? É que Vargas Llosa naqueles anos trabalhava na Radiodifusão-Televisão Francesa onde tinha um programa cultural emitido para toda a América Latina. No dia 1º de setembro de 1961 ele entrevistou o poeta Javier Heraud transmitindo suas opiniões e seus versos para o continente, causando profunda emoção à família e aos muitos amigos que o ouviram em Lima. Javier falou sobre a poesia peruana e citou os poetas que influenciaram sua formação nomeando Vallejo, Neruda, os espanhóis Antonio Machado, García Lorca, Miguel Hernandez e o inglês Dylan Thomas. É um diálogo rico e inteligente entre dois jovens escritores cujos passos seriam marcados por destinos radicalmente diferentes. Javier morreria como guerrilheiro dali há dois anos nas selvas peruanas e Vargas Llosa seguiria sua grande carreira de escritor, recebendo em Estocolmo, quase que exatamente 49 anos depois, o mais cobiçado prêmio literário do planeta.

Este pequeno convívio de Javier com Vargas Llosa deixou em ambos fortes sentimentos de amizade. Cerca de um ano depois do encontro em Paris, Vargas Llosa foi a Cuba e procurou por Javier. O ex-guerrilheiro peruano Alfonso Imaña, na época em Havana, relata o fato:

“Eu saí alguns dias de Havana, para cumprir um encargo e um membro do Governo cubano, das Relações Exteriores, me disse:

– Há um peruano, um amigo de vocês procurando por Javier, já faz alguns dias que deseja falar com ele. É um escritor que vem da Europa.

Cheguei a falar com ele, era Vargas Llosa, e conversando com ele no hotel Riviera perguntei-lhe por que queria ver Javier .(…)

Acontece que Javier estava em treinamento militar, longe de Havana e isso não podia ser revelado a Vargas Llosa, que não ficou satisfeito com a explicação evasiva de Alfonso. Mas alguns dias depois Javier retorna à capital e recebe o recado.

(…) Eu me lembro claramente que estava no lobby do Hotel Riviera, em Havana, onde fomos à procura de algumas pessoas, e também de Mario Vargas Llosa pois haviam dito a Javier que ele o estava procurando. Chamam-no e Vargas Llosa aparece, cumprimenta-me rapidamente e se abraça com ele, lembro-me perfeitamente. “(…)[13]

Muitos depoimentos creditam o precoce brilhantismo intelectual de Javier Heraud. Julio Dagnino, jornalista e educador peruano, que participou do mesmo grupo de Javier que voltou de Cuba para o Peru, comenta a precocidade intelectual do poeta: [14]

“De Havana para a Bolívia tínhamos viajado por rotas diferentes para alcançar nosso objetivo de entrar armados no país. Com Javier Heraud me avistei novamente em La Paz. Nos cruzamos sem falar pois viajávamos clandestinos. Quando sulcávamos o rio Chapare, em Cochabamba, nos voltamos a ver; a propósito do círculo que se formou com ele, Héctor Béjar, Abraham Lama (Junco) e eu. Nas margens do rio, entre outras coisas, discutimos sobre o realismo socialista e a presença “canônica” de Joyce e Proust. Nesse debate Javier, que era muitos anos mais jovem do que nós, se destacou. A maneira de colocar o problema e o desenvolvimento não esquemático que deu ao papel da literatura no processo da revolução socialista foi convincente no círculo que era conhecido, por suas críticas ao rumo que então vinha tomando o realismo socialista “.[15]

Nas três semanas em que o poeta percorreu Sierra Maestra, em meados de 1962, junto com o grupo de bolsistas peruanos, estava Ricardo Gadea — irmão da peruana Hilda Gadea, primeira esposa de Ernesto Che Guevara –. Conta Ricardo:

(…) “Conversei muito com Heraud. Um jovem com uma procedência diferente da média. Um verdadeiro intelectual, apesar de sua juventude. Uma promessa. Tinha a possibilidade de ir para a Europa, mas estava ali, na Sierra Maestra. Hesitava. Tinha dúvidas”. Quando de retorno a Havana, no entanto, Fidel confrontou o grupo com a escolha final – profissão ou revolução? – O poeta cruzou o Rubicão para a luta armada. Havia nascido Rodrigo Machado. Ninguém como ele expressaria o espírito com que aquele compromisso era assumido:”

“Rodrigo Machado nasceu num dia de julho, em Havana, no ano de 1962. (Sua idade não se sabe ainda, pois tem a idade da luta de seu povo.) A guerra contra o imperialismo, à que irá junto com 40 companheiros, vai dizer ou calar os anos que ele haverá de cumprir. Cairá em alguma montanha perfurado com uma bala no corpo? Seguirá na viagem da esperança ou será enterrado no leito de um rio, então completamente seco? Não, os rios da vida, da esperança, continuarão fluindo em torrentes cristalinas. Porque no rio está a vida de um homem de muitos homens, de um povo de muitos povos. E Rodrigo Machado, de pé ou deitado, seguirá cantando ao homem, com um fuzil, porque o fuzil será um dos meios para alcançar a liberdade. E uma vez livres, os homens dignos e honrados dirão ao mundo a verdade sobre o nosso povo, sobre suas lutas e a vida futura. Só então, Rodrigo Machado e com ele os 40 que partiram para a vida (de pé ou debaixo da terra) se sentirão felizes e ditosos.”[16]

8. O herói de sua geração

Em dezembro de 69 escrevi em Lima três poemas em espanhol: “El marinero y su barco”, “El caminante y su tiempo” e “Réquiem para un poeta guerrillero”,[17] este dedicado à memória de Javier Heraud:

Com trinta balaços de ódio

seus doces olhos tombaram

crime tão grande, senhores

árvores e pássaros choraram.

E caiu morto o poeta

alma imensa, iluminada

como ele caíram outros

Lord Byron caiu na Grécia

Garcia Lorca em Granada.

– Diga-me, irmão camponês…

por quem morreu Javier?

– Por seu sonho, viajante!

porque há homens que nascem

com o sangue predestinado;

Javier morreu de justo

pelo pão de cada dia,

morreu pela gente pobre

por sua fome e agonia.

Ai poeta, hermano mio

verde cigarra de espanto

em teu corpo metralhado

o sangue escorreu teu canto.

E a noite comemorou

a vitória dos generais.

O povo amanhã virá

com sua voz de mil punhais.

Me contaram de um lugar

onde um rio canta dolente

e que suas águas choram

pela morte de um valente.

Quando em janeiro de 1970 os estudantes de Arequipa publicaram uma coletânea de meus versos com o nome de Poemas de América Latina, — onde constava este poema a Heraud — um trecho, com uma referência ao poeta, colocado na contracapa do livreto, atestava, há menos de seis anos de sua morte, que seu nome já era uma legenda entre a combativa classe dos estudantes peruanos. O texto, com a característica linguagem política da época, expressava que:

“A revolução não é uma palavra. É uma tarefa heroica que deve ser iniciada sem demora, aqui e agora. Isso deverá ser compreendido por todos nós. Também deveríamos compreender que a revolução é modelo de conduta a seguir, para que depois possamos dizer com plenitude como Javier Heraud: “Soube viver e soube morrer como homem digno”. [18]

Javier foi o herói poético de sua geração. Para mim, um estrangeiro recém-chegado no país, todo aquele reconhecimento pela imagem de um poeta — morto entre tantos outros jovens combatentes naqueles anos de grandes confrontos guerrilheiros no Peru — era um fato novo no solitário mundo dos poetas, esses seres tão desgarrados do mundo. Muitos relatos da época mostram que não se dava importância à poesia e aos poetas nos meios políticos e guerrilheiros das organizações que lutavam no Peru e em outras partes do continente. Eu senti tantas vezes este desprezo pelos poetas por parte dos revolucionários, em parte justificada pelo excessivo intelectualismo com que a maioria dos poetas escreve seus poemas, sem aquela linguagem simples e sincera com que Javier escreveu seus versos. Em 1960 ele renuncia à influência surrealista, predominante no ambiente de elitismo literário que predominava nos meios universitários da Universidade de San Marcus e quando em janeiro de 1961 é convidado a participar do ciclo de eventos culturais “El Artista y La Época” no Instituto José Carlos Mariátegui, ao oferecer um recital com poemas de seu livro “El viaje”, declara :

“(…) que a poesia, longe de ser uma isolada e solitária criação do artista,”é um testemunho da grandeza e da miséria dos homens, uma voz que denuncia o horror e clama por solidariedade e por justiça;”(…) [19]

Estranhamente, nós, os poetas engajados, também éramos vistos com indiferença e até desprezo pelos próprios poetas não comprometidos com a história do seu tempo, um pouco semelhantes àqueles “poetas celestes” ironizados por Neruda em seu “Canto Geral”:

(…) “que fizeste

ante o reinado da angústia,

frente a este escuro ser humano,

a esta escarnecida compostura,

a esta cabeça submersa

no esterco, a esta essência

de ásperas vidas pisoteadas?” (…) [20]

Eu, contudo, considero todos os poetas meus irmãos nesta busca pelos tantos caminhos que levam ao encanto, à “beleza pura”, mas também à justiça e à liberdade. Em outubro de 1969, em Cochabamba, participando de um Congresso Nacional de Poetas, embora tenha sentido essa frieza por parte de alguns poetas participantes, — quem sabe “maculados” com o caráter político dos meus versos — resolvi “convocá-los”, e a todos os poetas da América, escrevendo, naqueles dias, o poema “ O sonho do semeador” :

(…) Poetas da América…

mais que nunca é preciso cantar

é preciso fazer com que as palavras sejam uvas

é preciso embriagar os homens

para que todos conheçam o sabor da vida.

É preciso alistar nosso lirismo

desertado das fileiras dessa luta.

Desertado pelos que não comprometem a estesia do seu canto…

que falam de flores

indiferentes aos campos calcinados da pátria,

que declamam seus versos de amor

cegos aos transeuntes da fome e do abandono

e é missão dos poetas cantar seus olhos de súplica

denunciar que a morte ronda seus ventres

e que eles são milhares nas barriadas

tugúrios e calhampas das vossas cidades

nas favelas do meu país

na verdade eles são milhares em todas as nacionalidades

e é preciso que eles sejam celebrados na beleza da poesia

é preciso decantar seu desencanto

e reconstruir, para eles, a esperança.

E por isso,

quando me perguntam de que vale um poeta no mundo

eu respondo com meu canto de filho proletário

com minha infância descalça e sem brinquedos

com todas as crianças do mundo que fui em meu estômago de água…

e só assim posso ouvir meu coração de povo

sentir meu canto nascer como um grito de combate

e eis porque deve nascer uma canção na América

para que possamos semear o sonho no coração dos homens

para que possamos metralhar com um punhado de palavras.(…)[21]

Javier Heraud sentiu também essa estranheza por parte de alguns militantes com quem compartilhou as fileiras guerrilheiras, já que ele sempre escrevia e falava de poesia durante suas atividades como combatente. Muitos de seus companheiros somente compreenderam a sua dimensão como poeta depois de sua morte. Alguns deles deram depoimentos nesse sentido, relembrando seu desprezo pela poesia e penitenciando-se, posteriormente, com uma sincera “mea culpa”. Muitos revolucionários latinoamericanos e brasileiros achavam muito estranho que eu tivesse que fugir do Brasil em função da minha poesia. Contudo o caso de Heraud era um fato isolado, porque pude constatar pelos caminhos que, depois de sua morte, tudo mudou e sua imagem de poeta renascia a cada dia. Renascia na voz e nas tantas canções que lhe fez a extraordinária cantora peruana Chabuca Granda. Renasceu nos monumentos que se erguem em seu nome, nas tantas edições de sua obra reunida e, projetando-se na história literária do continente. O escritor italiano Giuseppe Bellini, considerado o principal crítico e estudioso da literatura hispanoamericana na Europa, cita duas vezes Javier Heraud em sua abrangente Historia de la literatura hispanoamericana. Numa delas, ao referir-se ao grande poeta salvadorenho Roque Dalton García (1935-1975), comenta seu assassinato dentro da própria organização em que militava, afirmando que:

“se converteu em símbolo — como o peruano Heraud e o argentino Urondo — do compromisso da poesia latinoamericana ante a história” [22].

A poesia de Heraud tem aparecido em importantes antologias poéticas latinoamericanas, e já desde aqueles anos, como na “Poesia Rebelde de América” organizada pelo escritor equatoriano Miguel Donoso Pareja e lançada em 1971 na Cidade do México, [23] onde aparece publicado seu conhecido poema Yo no me rio de la muerte :[24]

Eu nunca rio

da morte.

Simplesmente

acontece que

não tenho

medo

de

morrer

entre

pássaros e árvores.

Eu não rio da morte.

Mas às vezes tenho sede

e peço um pouco de vida,

às vezes tenho sede e pergunto

diariamente e, como sempre

acontece, não encontro respostas

mas sim uma gargalhada profunda

e negra. Já disse que nunca

costumo rir da morte

mas conheço sua branca

face, sua tétrica vestimenta.

Eu não rio da morte.

Contudo, conheço sua

branca casa, conheço sua

branca vestimenta , conheço

sua umidade e seu silêncio.

É claro, a morte não

me visitou ainda,

e voces perguntarão: o que

sabes dela? Eu não sei nada.

Também isso é verdade.

Mas sei que quando ela chegar

eu a estarei esperando

eu a estarei esperando de pé

ou talvez tomando o café da manhã.

Eu a olharei brandamente

(Não irei me assustar!)

e como eu nunca ri

de seu manto, eu a acompanharei,

sozinho e solitário.

9. Nos passos da posteridade

Depois de sua morte o Exército de Liberacão Nacional do Peru (ELN), em que militava, retomou a luta, em 1965, sob o comando de Héctor Béjar, e em sua memória a Organização passou a chamar-se Guerrilha Javier Heraud. Béjar, seu companheiro de armas desde os treinamentos militares no quartel Camilo Cienfuegos, em Cuba, — um dos poucos comandantes da guerrilha peruana que sobreviveu e posteriormente laureado com o Prêmio Literário Casa de Las Américas — referindo-se anos mais tarde ao poeta, testemunhou:

(…)”Creio que Javier é um caso extraordinário em que a poesia e a revolução se entrelaçam com uma força sem precedentes na nossa história. Javier continuou a escrever até mesmo na guerrilha (…) É evidente que também sua poesia mostra um desenvolvimento que infelizmente não é muito conhecido, porque grande parte de seus poemas foram perdidos com a sua morte. Mas, acredito que ele, embora seja difícil dizer isso, e sempre é muito arriscado dizer o que se possa pensar — de alguém que morreu –, que tenha decidido ser sobretudo um combatente, um revolucionário. Essa era a sua atitude” (…)[25]

Um mês depois do seu assassinato em Puerto Maldonado, realizou-se em Lima, na Universidade Nacional de Engenharia, uma homenagem à sua memória, na qual estava presente uma das maiores expressões da literatura peruana da época: José Maria Arguedas. O autor de Rios Profundos, entre outras verdades, disse:

(…) “E agora me permitam dizer algumas palavras sobre o puríssimo poeta Javier Heraud cuja afeição ganhei honestamente.

Tendo em conta a personalidade de Javier Heraud, apenas duas possibilidades lhe foram oferecidas no Peru: a glória literária, ou o martírio. Preferiu a mais árdua, a que não oferece as recompensas a que humanamente aspiram quase todos os homens. É raro que num país como o nosso se apresentem exemplos como este.

Até o dia de hoje, os que têm a responsabilidade do governo e do destino do Peru, não permitiram um único campo de ação sequer para aqueles que anseiam a verdadeira justiça, ou seja, o caminho aberto para a igualdade econômica e social que corresponda à igualdade da natureza humana; esse caminho é o da rebelião, do assédio e o da morte. Javier o escolheu, mas não nos esqueçamos que ele foi forçado a escolher. Talvez tivesse agido de forma diferente em um país sem tanta crueldade para os despossuídos, sem a crueldade que se requer para manter as crianças escravas, “colonos” escravos e “barriadas” onde o cão sem dono e a criança abandonada comem o lixo, juntos.

Para aqueles que estão cegos pelo egoísmo e furiosos contra os que clamam por um pouco de justiça, a morte de Javier, por mais que pretendam desfigurá-la, é uma advertência suficientemente eloquente, talvez a única eficaz, para os outros egoístas de todo tipo; estudantes ou não, escritores que tratam apenas de lavrar sua “glória” e não expressam a vida com maior pureza, o caso de Heraud é também uma advertência. Acho que Javier encontrou a imortalidade verdadeira, aquela que a poesia, por si só, quem sabe não lhe teria dado. Não o esqueçamos.” (…) [26]

Quando em 1989, Cecilia Heraud Perez , irmã do poeta, editou, em Lima, seu livro Vida y muerte de Javier Heraud (Recuerdos, testimonios y documentos), revelou cartas e poemas inéditos, bem como muitos depoimentos de poetas, amigos e sobreviventes das guerrilhas. Há relatos emocionantes sobre o caráter cristalino de Javier e os sentimentos de solidariedade e a imensa compaixão que ele tinha pelos que sofriam necessidades e injustiças. Numa passagem, na página 198, o ex-guerrilheiro Manuel Cabrera conta que chegando a La Paz, a caminho do Peru, estavam ambos hospedados no hotel Ferrocarril, quando numa noite ouviram os gritos desesperados de uma mulher sendo agredida. — Vamos interverir –disse ele. Cabrera respondeu que não, já que poderiam ter problemas com a polícia. – Mas como, — respondeu ele indignado –vamos deixar que matem essa mulher? Não podemos pôr a missão em risco, respondeu Cabrera. Na manhã seguinte, viram o sangue no corredor e souberam que quem estava espancando a mulher era um agente da PIP, a Policia de Investigações. Cabrera conclui o episódio expressando: “Así era Javier de sensible”. O livro traz outros depoimentos destacando seu caráter fraterno e compassivo, mas nosso espaço não comporta tantas informações. Cecilia Heraud revelou também, entre os versos inéditos do Javier, um de seus mais belos e longos poemas: Oda a Pablo Neruda. São 20 cantos, onde ao longo de 265 versos ele evoca, com refinado lirismo, partes da temática do Canto Geral e outras obras de Neruda. Reproduzimos aqui, pelas mesmas limitações de espaço, apenas os três primeiros cantos:

I

Vieste a mim como um

rápido corcel. Me trazias

unhas duras e douradas

e uvas secas e

invisíveis.

Eras erva enredada em

teu cabelo, entrelaçada

árvore, te fizeste

ouro, alma te tornaste

em minha alma.

II

Agora és a rosa

que hoje se anuncia.

E então foste a voz

seca do carvalho

endurecido.

E novamente és

a luz e a luz

iluminada.

III

Tu eras canto

num mundo de oferendas.

Eras pão e pedra

perfurada. Eras

frescor, inumerável,

escrevendo no

coração, no

pássaro, na

água enrugada.” (…)[27]

No mês seguinte da morte do poeta, Neruda enviou esta carta à familia Heraud:

Universidade do Chile

Ilha Negra, junho de 1963

Li com grande emoção as palavras de Alejandro Romualdo sobre Javier Heraud. Também o valioso exame de Washigton Delgado, os protestos de Cesar Calvo, de Reinaldo Naranjo, de Arturo Corcuera, de Gustavo Valcárcel. Também li o comovente relato de Jorge A. Heraud, pai do poeta Javier.

Sinto que uma grande ferida foi aberta no coração do Peru e que a poesia e o sangue do jovem caído seguem resplandecentes, inesquecíveis.

Morrer aos vinte anos crivado de balas “desnudos e sem armas no meio do rio Madre de Dios, quando estava à deriva sem remos …” o jovem poeta morto ali, esmagado ali naquelas solidões pelas forças das trevas. Nossa América escura, nosso tempo escuro.

Não tive a ventura de conhecê-lo. Pelo que vocês contam, pelo que choram, pelo que recordam, sua curta vida foi um deslumbrante relâmpago de energia e de alegria.

Honra à sua memória luminosa. Guardaremos seu nome bem escrito. Bem gravado no mais alto e no mais profundo para que continue resplandecendo. Todos o verão, todos o amarão no amanhã, na hora da luz.

Pablo Neruda [28]

Além da mensagem de Neruda chegou de Havana, em Julho de 1963, uma carta do premiado poeta cubano Nicolás Guillén, dirigida ao poeta Gustavo Valcárcel, lamentando a morte de Heraud e comentando que os (…)“jóvenes cubanos que hoy lo lloran,  lo quisieron como hermano, pues fraternal era su corazón tanto como lúcida su inteligencia.”(…)

E entre os documentos inéditos, o livro de Cecília Heraud revelou também esta carta:

Nov. 62. Havana, Cuba

Querida mãe:

“Não sei quando poderás ler esta carta. Se a leres significa que algo aconteceu na Serra e que já não poderei saudar-te e abraçar-te como sempre. Se soubesses quanto te amo! Se soubesses que agora que me disponho a sair de Cuba para entrar em minha pátria e abrir uma frente guerrilheira penso mais que nunca em ti, em meu pai, em meus irmãos tão queridos!

Vou à guerra pela alegria, por minha pátria, pelo amor que tenho, por tudo enfim. Não me guardes mágoa se algo me acontecer. Eu quisera viver para agradecer o que fizeste por mim, mas não poderia viver sem servir ao meu povo e a minha pátria. Isso tu bem sabes, pois me criaste honrado e justo, amante da verdade e da justiça.

Porque sei que minha pátria mudará, sei que tu também te acharás ditosa e feliz, em companhia de meu pai amado e de meus irmãos. E que minha ausência logo será preenchida com a alegria e a esperança da pátria.

Te beija, teu filho,

Javier.” [29]

No dia 2 de maio de 2008 os restos mortais de Javier Heraud são trasladados de Puerto Maldonado para Lima. A cada ano, no dia 15 de maio, crescem as manifestações em sua homenagem por todo o Peru. Poetas declamam seus versos, conferências e palestras são proferidas por escritores, intelectuais e ex-guerrilheiros. Cantores entoam as tantas canções feitas em sua memória e novos artigos e ensaios são publicados sobre sua poesia. As organizações de esquerda relembram a bandeira que empunhou, seu heroísmo e seu martírio e o Governo peruano, através da Secretaria Nacional da Juventude, promove nacionalmente o Prêmio Juvenil de Poesia “Javier Heraud”, para jovens poetas entre 15 e 28 anos. Além dos três livros já citados, sua produção sempre foi incessante seguindo-se as obras Poemas de la tierra, Viajes Imaginários e Ensayo a dos voces (Escrito com César Calvo). Postumamente foram publicados seus Poemas de Rodrigo Machado e Otros poemas dispersos de Javier Heraud.

Quantos sonhos se aninharam em seus breves anos! Quanta beleza ansiava florescer na aldeia de sua alma! Morrer aos 21 anos quando se é poeta!!! — Temos célebres exemplos em nosso Romantismo: Álvares de Azevedo, aos 20, Casimiro de Abreu, aos 21 e Castro Alves, aos 24. — Deixar, com tão poucos anos, oito livros e quando os mais belos versos certamente ainda moravam no amanhã. Morrer infante, quando todas as flores e frutos ainda são promessas e a vida transita entre a seiva e a semente. Morrer poeta com uma lira apenas dedilhada, quando suas palavras cantavam novos hinos libertários. Morrer guerrilheiro, com uma trincheira apenas entreaberta nos seus passos, e morrer assim, abatido no primeiro embate, interrompendo uma alvorada, abortando a esperança. Mas, se a morte surge como um gesto de resistência e de renúncia, na encruzilhada dessa luta milenar entre opressores e oprimidos, o guerreiro cai para erguer-se na memória luminosa da posteridade, na saudade imperecível dos amores e nos anais da história e da pátria agradecida.

Leitor amigo, se um dia fores a Lima, visite o túmulo do poeta peruano Javier Heraud no Cemitério Los Jardines de La Paz. Ali jaz o que de mortal ficou de um coração nobre, valente e compassivo. Um ser humano que deu tudo sem nada pedir. Deu sua imensa pureza no lírico sabor de sua poesia e deu sua vida, ainda em botão, por um sonho de amor e de justiça. Pediu apenas que, sobre seus restos, a vida continuasse a florescer:

Quero que saiam dois gerânios dos meus olhos,

de minha fronte duas rosas brancas,

e de minha boca, (por onde saem minhas palavras)

um cedro forte e perene

que me dê sombra

quando arder dentro e fora,

que me dê vento

quando a chuva dispersar meus ossos.

Jogem-me água, todas as manhãs,

fresca e de um rio próximo

que eu serei o adubo

das minhas próprias plantas.[30]

Referências, notas e traduções:

[1] Esse artigo integra o texto de um livro que o autor está escrevendo sobre os anos que passou na América Latina , nas décadas de 60/70. As notas e traduções são do autor.

[2] HERAUD,.Javier. Poesías Completas, in: “Vida y muerte en la poesía de Javier Heraud” Lima, Campodónico Ediciones, 1975.

(…) “Y recordé mi triste pátria /mi pueblo amordazado /sus tristes niños, sus calles /desplobadas de alegría. /Recordé, pensé, entreví sus /plazas vacías, su hambre /su miseria en cada puerta. /Todos recordamos lo mismo /triste Peru, dijimos, aún es tiempo /de recuperar la primavera”,/ de sembrar de nuevo los campos, // Triste Peru, aguarda, /nacerán nuevos ríos, / primaveras nuevas serán / devastadas por nuevos otoños / y en cada rostro brillará /la alegría rebosante /y la fortaleza del pueblo /reunido y santo.”

[3] HERAUD, Javier. Obra citada..

(…) Esta es Madrid, /éste es mi corazón /sangrando, /éste es nuestro camino, /y seguiré gritando la /verdad de los /bosques apagados, /La verdad de las rosas /caídas,/la verdad de Espana / y sus historias.”

[4] PEREZ, Cecília Heraud. Vida y muerte de Javier Heraud. Lima, Mosca Azul Editores, 1989, p.142.

(…) “Es el planteamiento falso de este llamado “socialismo humanista” lo que esta condicionando toda la marcha del Movimiento y que lo lleva a una praxis equivocada. Yo no creo que sea suficiente llamarse revolucionario para serlo…”. Luego diría: “De ahora en adelante , me enrumbaré por la ruta definitiva donde brilla esplendorosa el alba de la humanidad.”

[5] HERAUD, Javier. Op. Cit.

Porque mi patria es hermosa / como una espada en el aire / y mas grande ahora y aún mas hermosa todavía / yo hablo y la defiendo / con mi vida. // No me importa lo que digan /los traidores, / hemos cerrado el pasado. / Con gruesas lagrimas de acero. //El cielo es nuestro, /nuestro el pan de cada día, / hemos sembrado y cosechado / el trigo y la tierra /son nuestros /y para siempre nos pertenecen / el mar /las montañas y los pajaros.

[6] Idem.

“Recuerda tú, recuerden todos que mi cariño y mi amor crecerán siempre, que nada ni nadie nos podrá separar aunque estemos lejos, y que algún día nos reuniremos para cantar y llorar juntos, para abrazarnos y querernos más. Y que yo siempre seré el niño a quien tú tuviste en brazos aunque haya crecido por este tiempo que avanza y destroza los años, pero no los recuerdos”.

[7] INGENIEROS, José. O homem medíocre. Rio de Janeiro. Tupã Editora. 9ª ed., s/d

[8] HERAUD, Javier. Op. cit., in “Vida y muerte en la poesía de Javier Heraud”

“No deseo la victoria ni la muerte, / no deseo la derrota ni la vida, /sólo deseo el árbol y su sombra,

la vida con su muerte”.

[9] .HERAUD, Javier, El Río. Colección Cuadernos del Hontanar, Lima, 1960

Yo soy un río, /voy bajando por /las piedras anchas,/ voy bajando por /las rocas duras, /por el sendero /

dibujado por el /viento./ Hay árboles a mi /alrededor sombreados /por la lluvia./Yo soy un río, /bajo cada vez más / furiosamente, /más violentamente /bajo /cada vez que /un puente me refleja / en sus arcos.// Yo soy un rio / un rio / un rio / cristalino en la /mañana. / A veces soy / tierno y / bondadoso. Me / deslizo suavemente / por los valles fértiles, / doy de beber miles de veces / al ganado, a la gente dócil. Los niños se me acercan de / día, / y / de noche trémulos amantes / apoyan sus ojos en los míos, / y hunden sus brazos / en la oscura claridad / de mis aguas fantasmales.

[10] PEREZ, Cecília Heraud. Opus cit., p.84.

[11] Idem, p. 98.

(…) “Aqui no puedo desperdiciar una hora. Hay muchas cosas, insisto, que tengo que aprender: Música, pintura, teatro, museos, ciencias, libros, etc. Quiero formarme bien para después ser útil a mi revolución y a mi país.” (…)

[12] Idem, p. 96-97.

(…) En esos días nos vimos mucho, prácticamente todos los días, conversamos largo y parejo. Se estableció una relación muy cordial, muy estrecha porque él era una persona sumamente afectuosa, sumamente sencilla, con una cosa muy pura, ingenua, tenía algo candoroso en el mejor sentido de la palabra.

(…) El viaje había sido un factor de radicalización para él. Estava en esos momentos creo, militando en el Social Progresismo y al regreso de la Unión Soviética, ya en París, todos vivíamos en esse momento una radicalización. Yo también estaba bastante redicalizado, sobre todo con el entusiasmo que había despertado en todos nosotros la revolución cubana.

Javier participaba absolutamente de esse sentimiento, de esa actividad y esse fue uno de los temas largos de conversasión. Hablamos mucho de política, de esta impresión que le había hecho el viaje, de esa radicalización suya, de la problemática peruana, pero también mucho de literatura, porque la vocación literária de Javier era enorme, una vocación realmente muy fuerte, evidente, es decir, era una cosa que estaba en él a flor de piel. Me habló de un proyeto de escribir baladas, una serie de baladas sobre temas muy sencillos, muy simples, una poesia narrativa, casi didáctica. (…) una poesia popular en el buen sentido de la palabra, acompañada de una exigencia literaria .

(…) Tenía 19 años, era grande, alto, más bien fuerte, con unos ojos claros y al mismo tiempo con una transparencia que inmediatamente seducía. A mí me sedujo muchísimo la personalidad de él y me senti realmente en una comunicación muy estrecha, en una buena amistad con él, a pesar de que fue un contacto rápido y pasajero.

Después, él se fue a Madrid por unos dias, de donde recibí una postal. Regresó al Peru y me escribió, carta bastante atormentada donde me habla de una crisis muy profunda que por una parte es una crisis política, por la crisis que vivía el país, por la atmósfera represiva, bastante desesperanzada politicamente (…)

Quando Javier estuvo en Paris, acabava de escribir La ciudad y los perros. Yo le leí a Javier capítulos de la novela, la descripción de La Victoria, de un personaje que va al jirón Huatica donde andan las prostitutas, recuerdo haberle leído eso y haberle preguntado si su generación todavía tenía esos ritos, como la mía, o era una generación que ya cambió de ritos. “Esa descripción — me dijo — me molesta um poco”.

[13] Idem.,. p. 177-178

“Yo salí unos días a La Habana por un encargo que tenía que cumplir y un miembro del Gobierno Cubano, de Relaciones Exteriores me dijo:

– Hay un peruano, un amigo de ustedes que busca a Javier, hace varios días que quiere hablar con él. Es un escritor que viene de Europa.

Llegué a hablar con él, era Vargas Llosa, y he conversado con él en el hotel Riviera preguntádole el motivo por el que queria ver Javier.(…)

(…) Yo recuerdo claramente, estoy en el hall del hotel Riviera de La Habana a donde hemos ido buscar a algunas personas y también a Mario Vargas Llosa pues le habían dicho a Javier que lo estaba buscando. Lo llaman y Vargas Llosa sale, me saluda brevemente a mí y se abraza con él, lo recuerdo perfectamente.” (…).

[14] http://elgatodescalzo.wordpress.com/2009/11/12/rosina-valcarcel-aun-es-tiempo-de-recuperar-la-primavera/

“De La Habana a Bolivia habíamos viajado por diferentes rutas para lograr nuestra finalidad de entrar armados al país. Con Javier Heraud me vi nuevamente en La Paz. “Nos cruzamos sin dirigirnos la palabra pues viajábamos clandestinos. Cuando surcábamos el río Chapare, en Cochabamba, nos volvimos a ver; a propósito de un círculo que se organizó con él, Héctor Béjar, Abraham Lama (Junco) y yo. En las orillas del río, entre otros puntos, tratamos sobre el realismo socialista y la presencia canónica de Joyce y Proust. En ese debate Javier, que era muchos años menor que nosotros, destacó. La forma de plantear el problema y el desarrollo no esquemático que le dio al papel de la literatura en el proceso de la revolución socialista fue convincente en el círculo que se caracterizaba por su posición crítica a los sesgos que entonces iba tomando el realismo socialista.” (Tradução e nota do autor)

[15] Certamente a visão crítica que Javier Heraud tinha do realismo socialista, que ainda vigorava naqueles anos, referia-se, não a legítima opção política que a arte poderia (ou deveria) ter, retratando o papel cultural e singelo das classes operária e camponesa numa sociedade socialista em construção, como propôs Máximo Gorki em 1934 — e como foi notavelmente colocada por Georg Lukács, enfatizando a importância do realismo socialista na arte e literatura e repudiando as abstrações do modernismo — mas ao papel castrador que o stalinismo vinha tomando em relação à liberdade da arte, no endeusamento pessoal do próprio Stalin, na glorificação do regime soviético, e na dependência política da arte e da literatura ao partido e ao poder.

[16] http://www.cedema.org/uploads/JosLuisRnique.doc

(…) “Conversé mucho con Heraud. Un joven de extracción distinta a la del promedio. Un verdadero intelectual a pesar de su juventud. Una promesa. Tenía posibilidad de ir a Europa pero estaba ahí, en la Sierra Maestra. Vacilaba. Tenía dudas.” Cuando, de retorno a La Habana, sin embargo, Fidel confrontó al grupo con la opción definitiva –¿profesión o revolución?— el poeta cruzó el Rubicón hacia la lucha armada. Había nacido Rodrigo Machado. Nadie como él expresaría el ánimo con que dicho compromiso se asumía:

“Rodrigo Machado nació un día del mes de julio en La Habana, el año de 1962. (Su edad no se sabe aún pues tiene la edad de la lucha de su pueblo). La guerra contra el imperialismo a la que irá conjuntamente con 40 camaradas, dirá o callará los años que él ha de cumplir. ¿Se quedará en algún monte regado con una bala en el cuerpo? ¿Seguirá de viaje a la esperanza o lo enterrarán en el lecho de algún río, entonces enteramente seco? No, pero los ríos de la vida, de la esperanza, seguirán afluyendo con torrentes cristalinos. Porque en el río está la vida de un hombre de muchos hombres, de un pueblo de muchos pueblos. Y Rodrigo Machado, de pie o acostado, seguirá cantando con un fusil al hombre, porque el fusil será uno de los medios para lograr la liberación. Y una vez liberados, los hombres dignos y honrados dirán la verdad a todo el mundo sobre nuestro pueblo, sobre sus luchas y su futura vida. Sólo entonces, Rodrigo Machado y con él los 40 que partieron hacia la vida (de pie o debajo de la tierra) se sentirán felices y dichosos.”

[17] . ANDRADE, Manoel de. Poemas para a liberdade. Escrituras, São Paulo, ed. Bilíngue, 2009, p .96-99.

Con treinta balazos de ódio / sus dulces ojos temblaron /crimen tan grande señores /árboles y pájaros lloraron. // Y cayó muerto el poeta /inmensa alma alumbrada. / Como él cayeron otros / Byron cayó en la Grecia / García Lorca en Granada. // — Díme hermano campesino…/ ¿por qué murió Javier?— ¡/Por su sueño, viajero! / porque hay hombres que nacen / con sangre predestinada. / Javier murió de justo / por el pan de cada dia / murió por la gente pobre / por su hambre y su agonía. // Ay poeta, hermano mio /verde cigarra de espanto / en tu cuerpo acribillado / la sangre escurrió tu canto. // Y la noche conmemoró // la victoria de los generales /el pueblo vendrá mañana /con su voz de mil puñales. //Me contaron que hay un sitio /donde un río canta doliente /dicen que sus aguas lloran /por la muerte de un valiente.

[18] ANDRADE, Manoel de. Poemas de América Latina. Arequipa, Centro Federado de Letras e Federación Universitária de Arequipa, 1970.

“La revolución no es una palabra. Es una tarea heroica que deve ser iniciada sin demora, aqui y ahora. Esto debiera ser comprendido por todos nosotros. También debieramos comprender que la revolución es modelo de conducta a seguir, para que después podamos decir con plenitud como Javier Heraud: “Supe vivir y supe morir como hombre digno”.

[19] PEREZ, Cecília Heraud. Op. cit., p. 121.

“(…) que la poesia, lejos de ser una aislada y solitária creación del artista, es un testimonio de la grandeza y la miséria de los hombres, una voz que denuncia el horror y clama la solidariedad e la justicia; (…)

[20] NERUDA,Pablo. Canto Geral. Trad. Paulo Mendes Campos. São Paulo: Difel, 1979, p. 180.

[21] ANDRADE, Manoel de. Poemas para a liberdade. p. 73.

[22] BELLINI,Giuseppe. Historia de la literatura hispanoamericana. Madrid, Editorial Castalia, 1986, p. 443.

“se ha convertido en símbolo — como el peruano Heraud y el argentino Urondo –del compromiso de la poesía latinoamericana frente a la historia”

[23] Donoso Pareja, na época exilado na capital mexicana, presenteou-me a excelente antologia que selecionou e prefaciou, num dos encontros que lá tivemos em meados de 1971. Apesar de Javier Heraud ainda não ser conhecido fora de seu próprio país, seus versos já partilhavam aquelas páginas com grandes poetas latinoamericanos como Neruda, Vallejo, Gelman, Guillén, Adoum, Cardenal, Benedetti, e os brasileiros Drummond, Bandeira, Vinicius, Gullar, Romano e outros.

[24] PAREJA, Miguel Donoso. Poesia Rebelde de América, Ciudad de México, Extemporáneos, 1971, p. 345.

Yo nunca me rio /de la muerte. / Simplemente / sucede que / no tengo / miedo /de /morir /entre /pájaros y arboles //Yo no me río de la muerte. /Pero a veces tengo sed /y pido un poco de vida, /a veces tengo sed y pregunto/ diariamente, y como siempre /sucede que no hallo respuestas / sino una carcajada profunda /y negra. Ya lo dije, nunca / suelo reir de la muerte, / pero sí conozco su blanco /rostro, su tétrica vestimenta. // Yo no me río de la muerte. / Sin embargo, conozco su / blanca casa, conozco su / blanca vestimenta, conozco / su humedad y su silencio. // Claro está, la muerte no //me ha visitado todavía, //y Uds. preguntarán: ¿qué // conoces? No conozco nada. // Es cierto también eso. /Empero, sé que al llegar /ella yo estaré esperando, / yo estaré esperando de pie /o tal vez desayunando. /La miraré blandamente/ (no se vaya a asustar) / y como jamás he reído / de su túnica, la acompañaré, / solitario y solitario.

[25] BÉJAR, Héctor.Rivera. Perú 1965: apuntes sobre una experiencia guerrillera. La Habana: Casa de las Américas, 1969.

(…) “Yo creo que Javier es un caso extraordinario en el que la poesía y la revolución se entrecruzan con una fuerza inédita en nuestra historia. Javier siguió escribiendo incluso en la guerrilla (…) Es evidente que también su poesía, acusa una evolución que desgraciadamente no es muy conocida porque gran número de sus poemas se perdieron con su muerte. Pero, creo que él, aunque sea difícil decir esto, y siempre es tan riesgoso decir lo que ha podido pensar –de alguien que ha muerto – había decidido ser sobre todo un combatiente, un revolucionario. Esa era su actitud (…)”

[26] PEREZ, Cecília Heraud. Op. cit., p. 130-1.

(…) Y ahora permítanme decir unas palabras sobre el purísimo poeta Javier Heraud cuyo afecto gané honestamente.

Dada la personalidad de Javier Heraud, sólo dos posibilidades se le ofrecían en el Perú: la gloria literaria o el martirio. Prefirió la más ardua, la que no ofrece recompensas a las que humanamente aspiran casi todos los hombres. Es raro que en un país como el nuestro se presenten ejemplos como éste.

Hasta el día de hoy, quienes tienen la responsabilidad del gobierno y del destino del Perú no han permitido sino un solo campo de acción para quienes anhelan la justicia verdadera, es decir, el camino abierto hacia la igualdad económica y social que a la igualdad de la naturaleza humana corresponde; ese camino es el de la rebelión, el de acoso y el de la muerte. Javier lo eligió; pero no olvidemos que lo obligaron a elegir. Quizá habría procedido de otro modo en un país sin tanta crueldad para los desposeídos, sin la crueldad que se requiere para mantener niños esclavos, “colonos” esclavos y barriadas en que el perro vagabundo y el niño sin padre comen la basura, juntos.

Para los que están ciegos de egoismo y de furor contra los que claman por un poco de justicia, la muerte de Javier, por mucho que pretendan desfigurarla, es una advertencia suficientemente elocuente, quizá la única eficaz, para los otros egoístas de todo tipo; estudiantes o no, escritores que únicamente se ocupan de lavrar “su gloria” y no de expresar la vida con la mayor pureza, el caso de Heraud es también una advertencia. Creo que Javier ha encontrado la inmortalidad verdadera que la poesía por sí sola acaso no le habría dado. No lo olvidemos.” (…)

[27] Idem., p. 125-6

I- Viniste a mí como un/ rápido corcel. Me traías/ uñas duras y doradas,/ uvas secas e/ invisibles./ Eras enredadera en/ tu pelo, te mezclaste/ árbol, te volviste/ oro, alma te tornaste/ en mi alma. // II- Ahora eres la rosa/ de hoy en el anuncio./ Luego fuiste la voz/ seca del roble/ endurecido./De nuevo eres la/ luz y la luz/ esclarecida. // III- Tú eras canto en el/ mundo ofrendado. Tu/ eras pan y piedra/ agujereado. Eras/ fresco, innumerable,/ escribiendo en el/ corazón, en el/ pájaro, en el/ agua rugosa.(…)

[28]http://www.muladarnews.com/2011/01/correspondencia-sobre-el-poeta-javier-heraud/

Uni¬ver¬si¬dad de Chile

ISLA NEGRA, Julio de 1963

He leído con gran emo¬ción las pala¬bras de Ale¬jan¬dro Romualdo sobre Javier Haraud. Tam¬bién el vale¬roso exa¬men de Washig¬ton Del¬gado, las pro¬tes¬tas de Cesar Calvo, de Reinaldo Naranjo, de Arturo Cor¬cuera, de Gus¬tavo Val¬cár¬cel. Tam¬bién leí la des¬ga¬rra¬dora rela¬ción de Jorge A. Heraud, padre del poeta Javier.

Me doy cuenta de que una gran herida ha que¬dado abierta en el cora¬zón del Perú y que la poe¬sía y la san¬gre del joven caído siguen res¬plan¬de¬cien¬tes, inolvidables.

Morir a los veinte años acri¬bi¬llado a bala¬zos “des¬nudo y sin armas en medio del río Madre de Dios, cuando iba a la deriva, sin remos…” el joven poeta muerto allí, aplas¬tado allí en aque¬llas sole¬da¬des por las fuer¬zas oscu¬ras. Nues¬tra Amé¬rica oscura, nues¬tra edad oscura.

No tuve la dicha de cono¬cerlo. Por cuando uste¬des lo cuen¬tan, lo llo¬ran, lo recuer¬dan, su corta vida fue un des¬lum-brante relám¬pago de ener¬gía y de alegría.

Honor a su memo¬ria lumi¬nosa. Guar¬da¬re¬mos su nom¬bre bien escrito. Bien gra¬bado en lo más alto y en los más pro-fundo para que siga res¬plan¬de¬ciendo. Todos lo verán, todos lo ama¬rán mañana, en la hora de la luz.

Pablo Neruda

[29] PEREZ, Cecília Heraud. Op. Cit., p. 220.

Nov 62. La Habana. Cuba./

Que¬rida madre: /No sé cuándo podrás leer esta carta. Si la lees quiere decir que algo ha suce¬dido en la Sie¬rra y que ya no podré salu¬darte y abra¬zarte como siem¬pre. ¡si supie¬ras cuánto te amo!, ¡si supie¬ras que ahora que me dis¬pongo a salir de Cuba para entrar en mi patria y ab¬rir un frente gue¬rri¬llero pienso más que nunca en ti, en mi padre, en mis her-mano tan queridos!

Voy a la gue¬rra por la ale¬gría, por mi patria, por el amor que te tengo, por todo en fin. No me guar¬des ren¬cor si algo me pasa. Yo hubiese que¬rido vivir para agra¬de¬certe lo que has hecho por mí, pero no podría vivir sin ser¬vir a mi pue¬blo y a mi patria. Eso tú bien lo sabes, y tu me criaste hon¬rado y justo, amante de la ver¬dad, de la justicia.

Por¬que sé que mi patria cam¬biará, sé que tú tam¬bién te halla¬rás dichosa y feliz, en com¬pa¬ñía de mi padre amado y de mis her¬ma¬nos. Y que mi vacío se lle¬nará pronto con la ale¬gría y la espe¬ranza de la patria.

Te besa/ Tu hijo/ Javier

[30] Idem, p. 218.

Quiero que salgan dos/ geranios de mis ojos, de/ mi frente dos rosas blancas, /y de mi boca,/ (por donde salen mis palabras)/ un cedro fuerte y peremne,/ que me dé sombra cuando/ arda por dentro y por fuera,/ que me dé viento cuando la lluvia/ desparrame mis huesos./Echadme agua, todas las/ mañanas,fresca y del rio/ cercano, que yo seré el abono de/ mis propios vegetales.

 

JOÃO FELINTO NETO e sua poesia I – apodi/rn

APELO À MISÉRIA

 

Quem me dera, miséria,

eu fosse parte

de um baluarte de sonho e de quimera.

Pela boca mantém-se assim o povo,

a lavagem é a comida que a si, dera.

Na vergonha de reconhecer-se porco,

ter o rosto metido na sujeira,

enlameado atrás de uma porteira

seu anseio é mantido na espera.

 

Quem me dera, miséria,

eu me calasse

e ocultasse o meu rosto na janela.

Meus princípios mantêm-me assim exposto.

Sou mau gosto travado na goela.

Quem engole as palavras que eu digo

traz de volta a vontade de lutar,

elas tocam a ferida no umbigo

que o conformismo já ia cicatrizar.

 

Quem me dera, miséria,

quem me dera,

que de ti eu pudesse me livrar.

 

 

.

O POEMA QUE EU DEIXEI DE ESCREVER

 

O poema que eu deixei de escrever,

Falaria de você,

De nosso tempo,

De angústia, de tormento,

De alegria e de prazer.

Iria contradizer

Cada palavra

Que as nossas falas

Tinham pouco a dizer.

 

O poema que eu deixei de escrever,

Seria na verdade,

Uma ameaça.

Calaria minha boca,

Qual mordaça.

Não seria uma desgraça,

Por não ser.

Os meus versos,

Talvez fossem sem querer,

Uma ofensa

A sua crença,

Que eu acreditava

Ter.

 

O poema que eu deixei de escrever,

Não seria

De valia.

Sem valia,

O deixei de escrever.

 

 

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Brasil comemora o primeiro Dia Internacional da Mulher com uma mulher na Presidência

 

 

Da primeira mulher a ser eleita para um cargo político, a deputada federal Carlota Pereira de Queirós, até a primeira presidente do país, Dilma Rousseff, passaram-se 76 anos. Dilma nem sequer tinha nascido quando Carlota dava um dos mais importantes passos da luta da mulher brasileira por um cantinho que pudesse chamar de seu na política, no mercado de trabalho, nos bancos das universidades, dentro de casa…

Essa batalha não foi Carlota a primeira a comprar — nem sabemos quem será a última. Mas ela está descrita ponto a ponto em milhares de livros espalhados por prateleiras empoeiradas das bibliotecas brasileiras. Briga de Carlotas, Anas, Marias e Madalenas às quais, de alguma forma, Dilma, que hoje fala em nome não das mulheres, mas de 190 milhões de pessoas, deve alguma coisa.

São mulheres que arrumaram uma forma, por vezes sutil, outras nem tanto, de desafiar valores culturais e enfrentar paradigmas numa época em que mal cabia a elas o direito à voz e às letras. Algumas conhecemos de nomes de escolas, ruas, praças, museus. Outras deixaram seu legado às conquistas femininas, não só as políticas, e retiraram-se pelas portas dos fundos, sem fazer alarde nem colecionar homenagens ou fotografias em livros e jornais.

Todas, no entanto, deram a sua contribuição para que Dilma chegasse onde está hoje. E, ainda assim, a trajetória até uma igualdade que vá além daquela escrita em leis deve render uma boa caminhada, garantem historiadoras, cientistas políticas e sociólogas.

— O fato de termos uma presidente mulher não significa que a sociedade deixou de ser centrada em valores sexistas fortes. E isso não é explícito, porque faz parte do imaginário social — opina a professora de ciências sociais da Universidade de Brasília (UnB) Lourdes Bandeira, especialista em questões de gênero. — Há uma resistência enorme até para se escrever ou dizer ‘presidenta’ no lugar de ‘presidente’. Ou seja, é difícil mesmo feminilizar o cargo — completa a professora de história também da UnB Tânia Navarro.

dc/sc

VALORES ( lágrimas amargas na água turva) – por omar de la roca / são paulo

 

Costumo dizer para uma amiga (de adolescência, como ela gosta de dizer – se bem que nos conhecemos em 19-5 um pouco depois da adolescência . Desculpe-me, amiga.Alias pedi permissão a ela para enviar este texto ao Vidal e ela me pediu para tirar o 7 da data. Assim o fiz. ), que não nascemos para ser pessoas normais.E ela ri ( ou quase ). Numa época em que os valores estão distorcidos ( ainda existem ?),costumo me questionar. O seguinte : sabe quando aquelas pessoas intocáveis ( costumo chamar assim as pessoas que não se tocam),quando você esta atravessando a faixa e ela vem com o carro forçando você a correr? Ou quando param de repente no meio da calçada para atender celular,sem ao menos procurar um canto onde não irá atrapalhar ? Ou alguém que teima em andar debaixo da marquise com o guarda chuva aberto, num dia de chuva, enquanto as outras desprevenidas tem que andar na chuva?São muitos exemplos do dia a dia.Um vizinho que faz uma festa de aniversário com pagode ao vivo ate as três da manhã?Ou o vizinho de cima que parece montar e desmontar os móveis todos os dias deixando cair apenas os mais pesados com estrondo ? Ou aquele amigo, que por mais que você envie e mails, não te responde e quando o faz diz que o computador quebrou? Quantos de nos já nos encontramos numa situação comum as descritas ou muitas outras particulares? E de que lado ?

Pois é, mas talvez sejamos nós os errados, não é ? Talvez caiba a nós perdoar.Claro, quem vem dirigindo tem pressa.Uma vitrine atrai uma pessoa alem de seu controle.Alguém que atende o celular e fica falando em voz alta dentro do ônibus,coitado, tem um problema sério a resolver.E as crianças que ficam no pleigraunde  ( debaixo da janela de alguém )até as duas da manhã correndo,batendo e gritando,não são senão crianças.Já os pais devem ficar aliviados por  poderem se dedicar a diversões mais adultas.Ou os namorados que ficam discutindo relação no banco da pracinha, ao alcance dos ouvidos alheios. Boa sorte para eles não é?Ele tem que se acertar para poder continuar ( não importa se gritarem um com o outro até o galo cantar). Temos que perdoa los.E colocar algodão nos ouvidos.Senão, um bom remédio para dormir resolve né ? Pra que achar que cada um tem que cuidar de si e de seus filhos?Sempre tem alguém que ajuda,não é ? Afinal o parquinho é uma extensão da sala de visitas, esta  lá para ser usado ate sei lá que horas.Não importa se alguém quer ouvir televisão ou uma musica calma.

Pois é,são como lágrimas que caem nas águas turvas. Ninguem vê, ninguém se importa.Cada um só quer a sua conveniência.Os outros são os outros.Mas temos que perdoa los, não ? Como perdoamos os inúmeros descalabros ( achei que nunca usaria esta palavra ) que vemos por ai. Mas o que preocupa são aqueles que não sabemos. Ou não podemos evitar. Ou não entendemos o por que.Ou aqueles particulares pelos quais choramos lágrimas amargas ( que não são de Petra, mas as vezes de Phaedra ).Mas precisamos perdoar.Como seguir em frente se não o fizermos ?

De qualquer forma foi bom ter escrito este texto. Serviu também  para que eu revisse minhas atitudes e se eu não sou ou fui intocável. Reforçou minha autocrítica e irei me vigiar mais.

Serviu ainda para faze-la rir e ser presenteado de volta com dois textos que minha amiga me enviou de presente.Muito sensoriais,falando de autoconhecimento e de adaptações ao momento presente.Pelo menos assim o li.Com a argila fresca fazendo as vezes de fotografia.Sabe quando mexemos naquela caixa escondida lá em cima do guarda roupa,bem la no fundo e encontramos fotos antigas? As pessoas são diferentes agora.Especialmente se passamos um tempo sem vê-las.Temos que adaptar nossa memória para o que elas são neste momento.As esculturas do passado já não correspondem.Seria interessante termos esculturas que fossem se adaptando a passagem do tempo e mostrassem nosso rosto sempre atual.Como um retrato de Dorian Gray.Mas que mostrasse apenas as boas mudanças.

As palavras se atropelam,a poesia de alguém foi parar no parque Dom Pedro.Mas não as minhas que são mais recatadas. Pobres delas. Alguém as lê ? Mas é preciso perdoá-las. Ainda não sabemos o que fazemos. É preciso que nos perdoemos. Por esperar demais dos outros, por achar que ainda temos direito a alguma coisa..

 

 

 

 

AERONÁUTICA DESMENTE O GLOBO:


 

Base militar

 

Em relação à reportagem “Em base militar com praia deserta, Dilma passará carnaval em família” (4/3), o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica esclarece que há equívocos nos dados que podem levar o leitor a uma interpretação errônea dos fatos.

A reportagem erra ao afirmar que ocorreram despesas no valor de R$ 8 milhões tendo em vista a visita da presidente da República. O valor que a reportagem alude possivelmente refere-se aos R$ 7.830.599,10 correspondentes a todo o volume de empenhos emitidos pelo Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI) em 2010, de acordo com dados disponíveis no Siafi.

Este valor refere-se às despesas de custeio administrativo de todas as atividades do CLBI em 2010, dentre os quais R$ 2,36 milhões de investimentos realizados para atender às demandas do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), como o lançamento do foguete Improved Orion, previsto para ocorrer em abril deste ano.

As melhorias envolvem reforma do lançador principal, ampliação da casamata, além de construções, como o prédio de montagem de motores e um laboratório para experimentos científicos.

CORONEL AVIADOR MARCELO KANITZ DAMASCENO Centro de Comunicação Social da Aeronáutica.


Revelações no crepúsculo – de tonicato miranda / curitiba





a tarde cai de mansinho

saiba caem folhas de mim

vou me desfolhando no jardim

sou as folhas presas no ancinho

.

confesso jamais estive em Teerã

estou nas tristes folhas do galho

voando vou até mais um orvalho

quando a noite pousar na manhã

.

preso estou nesta janela e na dela

a esperar telefonemas ao meio dia

pois me encontre lá na chuva fria

serei o dedo esfregando a remela

.

a tarde vai, nada há mais para ver

o Sol foi brilhar outro lado do fim

deixou brotos de tristezas em mim

sou sorvete demorando a derreter

.

a tarde vai, morrerei no escurecer

serei na noite prisioneiro da ferida

terei aqui apenas palavras e bebida

pode até a luz não mais aparecer

.

a tarde se foi, é imensa a tristeza

rezo, não rezo, rezo por ninguém

darei de graça meu último vintém

comprarei com milhões sua leveza

.

Tarde! Demore-se mais por aqui

queria parir este último poema

dizer a ela da caçada a seriema

após tê-la nas mãos deixei-a fugir

.

Tarde esta foi mais uma bobagem

precisava revelar o novo dilema

amo a vela, não é tolice de cinema

tola é a vida, mas bela a viagem

.

Ah tarde, agora pode ir embora

já disse tudo, chutei muitos baldes

disse coisas na sala, nos arrabaldes

no quarto do olhar e até porta afora

Curitiba, 10/Fev/2011.

TM

DO SENTIMENTO DA INUTILIDADE; DA ONIPOTÊNCIA DO ACASO – por zuleika dos reis / são paulo


O sentimento mais terrível de todos, o mais insuportável de viver é o da inutilidade dos fatos, do sofrimento, da Dor. A necessidade, que de terrível toca o abominável, de se precisar encarar a ausência de finalidade e de Finalidade, a presença e a certeza do Acaso no Ocaso de todas as coisas.

Entrar na vida das pessoas, mover-lhes os sentimentos, sentir-se alterado até a medula dos ossos pelos sentimentos por elas despertados. Sofrer o Inexplicável, morrer de Silêncio. Causar o mal sem jamais se ter pretendido isto; agonizar cotidianamente pelo mal a nós causado, mal inocente de si mesmo. Saber-se e saber outros seres presas de equívocos sem mais tempo nem direito algum a Esclarecimento.

Ir-se em direção ao inexorável Fim do tempo, sabendo-se desprezado, até mesmo odiado, sem remissão possível, sem tempo para resgate, sem ouvidos quaisquer até mesmo para um pedido de perdão. Saber-se julgado e condenado, irremediavelmente, sem nenhum direito a apelação: personagem kafkiano.

Saber desperdiçados os tesouros do próprio ser e os tesouros dos outros seres no interior deles próprios. O horror de ser-se eternamente acusado por tal crime, o de ter posto a perder todos esses tesouros, em si e nos outros.  O horror supremo de não se poder ver o rosto do próprio crime, nem tampouco o rosto da própria inocência. O horror de ver a própria vida e a vida de seus parceiros-cúmplices passarem ao largo de si mesmas.

Saber irremediavelmente perdidas as Dádivas do Tempo Mágico. Perdidas, sem resgate à vista, ainda que no tempo mais longínquo, ainda que no tempo fora-do-tempo. As Dádivas do Tempo Mágico seguindo apenas em direção ao Esquecimento.

 

No fim da manhã de 11 de fevereiro de 2011.

 

Lei Rouanet, direito autoral, o debate cultural que interessa ao país

Tenho procurado não me manifestar publicamente sobre os dois temas mais polêmicos e complexos que emergiram na transição no Ministério da Cultura, ainda que tenha posição sobre ambos – direitos autorais e Lei Rouanet.
Acredito que a indicação do cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, para substituir a escolha do sociólogo Emir Sader (que agora vai trabalhar no futuro Instituto Lula, do ex-presidente da República, em fase de montagem), na direção da Casa de Rui Barbosa é um gesto da ministra Ana de Hollanda que não deve passar despercebido.
Pelo contrário, deve ser tomado como um efetivo chamado ao diálogo e à busca de consensos para atualizar essas legislações à nova época que estamos vivendo. Não devemos e não podemos simplesmente jogar fora a contribuição importante que as gestões Gilberto Gil-Juca Ferreira à frente da pasta nos legaram. Inclusive e, principalmente, nestas áreas de direitos autorais e Lei Rouanet.
Vamos todos entrar nesse debate
Devemos, assim, abrir mais o debate e torná-lo público nos partidos, no Congresso Nacional e na sociedade. Vamos travar uma discussão não apenas com e entre os artistas, mas também com os intelectuais, os produtores de cultura, com toda a cadeia industrial cultural, incluindo as redes sociais, os pontos de cultura, a juventude e o conjunto das universidades.
É o caminho para fazer o melhor para que a cultura não apenas seja produzida, mas chegue ao povo, porque essa é a questão central: como incentivar e promover nossa cultura e a cultura universal, democratizar o acesso às mais amplas manifestações culturais, abrir espaços para a fantástica democratização que representa a Internet. Enfim, como democratizar não apenas o acesso, mas a produção cultural.
Vamos todos participar deste grande debate. A propósito, não deixem de ler a entrevista sobre direito autoral e outras questões interligadas à esta discussão, do Marcelo D’Elia Branco, ex-diretor da Campus Party Brasil (maior reunião anual de internautas no país). A entrevista foi concedida ao site do Instituto Humanitas da UNISINOS – Universidade do Vale do Rio dos Sinos (RS). Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

Fonte: Zé Dirceu.

UNESCO premia Avós da Praça de Maio por ações em busca da paz / paris

Criação de banco de dados genéticos, que ajudou a localizar 102 bebês ‘sequestrados’ na ditadura, foi crucial na decisão, diz chanceler argentino.

A presidente Cristina Kirchner acompanhará a premiação das Avós, em Paris

A Unesco (Organização da ONU para Educação, Ciência e Cultura) anunciou, nesta quinta-feira, a entrega da edição de 2010 do prêmio Félix Houphouet-Boigny pela Busca da Paz à entidade argentina Avós da Praça de Maio.

A organização reúne as mães e as avós que tiveram filhos mortos ou desaparecidos na ditadura no país (1976-1983), além de manter buscas pelos netos nascidos em cadeias clandestinas e entregues a outras famílias durante os anos de chumbo.

“As avós foram premiadas porque a persistente busca de seus netos é um exemplo para todo o mundo e reafirma a vontade de se construir um futuro com memória, verdade e justiça”, disse o ministro argentino das Relações Exteriores, Héctor Timerman, ao comentar a premiação.

A Unesco entregará o prêmio à presidente da entidade, Estela de Carlotto, que ainda procura o neto, em uma cerimônia que deve ocorrer em maio, em Paris.

A presidente Argentina, Cristina Kirchner, deverá estar presente à cerimônia, de acordo com a imprensa local.

“Esta é a homenagem máxima que a Unesco rende a personalidades e institucionais comprometidas com a luta pela paz, pelos direitos humanos e a não discriminação”, afirmou o ex-ministro da Educação, o senador da base governista Daniel Filmus, que integra o comitê executivo da Unesco e apoiou a iniciativa.

Filmus disse ainda que, ‘graças à luta das Avós, foram incorporados novos artigos na legislação internacional”, especialmente na Declaração pelo Direitos das Crianças, que incluiu o direito à identidade como direito ‘inadiável”.

Dados genéticos

Segundo o chanceler, a criação do banco de dados genéticos, em 1987, foi decisiva para a premiação.

Por meio desse arquivo, foram localizados 102 dos cerca 500 bebês que teriam sido seqüestrados na ditadura argentina. Eles comprovaram quem eram seus verdadeiros pais por meio de exames de DNA.

A entidade é responsável pela criação de um banco de dados de DNA que permite a reconstrução da identidade das vítimas da ditadura. O modelo deste banco costuma ser apontado como exemplo por outras entidades de direitos humanos no exterior.

Em 2009, a Unesco entregou o premio ao então presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. Outros líderes que receberam o mesmo reconhecimento foram o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, o rei da Espanha, Juan Carlos I, e o ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter.

No ano passado, surgiram campanhas na Argentina propondo a entidade e Carlotto para o Premio Nobel da Paz. O ativista de esquerda Adolfo Perez Esquivel recebeu o Premio Nobel da Paz nos anos setenta por sua luta contra a ditadura no país, nos anos 70.

BBC Brasil

WONKA BAR: programação para a semana do carnaval / curitiba

 

 

Wonkarnival:

SEXTA 04 março

 


Duas grandes bandas, uma grande noite indie para abrir o carnaval que tem a cara de Curitiba.
O Wonka abre às 22h
Promoção, pague R$20 e beba à vontade cerveja, vodca e xiboquinha até a meia-noite.
Após a meia-noite R$10

 

SABADO 05 março

ROCK2ROCK

Pra dançar, pra encontrar os amigos, pra curtir um rock cercado de gente bonita, sob o comando dos Djs Claudinha, Bernardo & Georgia.
É ROCK2ROCK!!!
O bar abre às 22h
até meia-noite, garotas FREE, garotos consumação mínima R$8, após todos pagam R$12 de entrada.

DOMINGO 06 março


WOW! POSH! especial de carnaval

Brique, Lúdica, Ledux, Ponnei.com, Lolitas, e deluxe convidam para a maior festa de curitiba,

com os DJs Alexandre Bogus (WOW!), Neto Niggaz (POSH! SP), Gil Riquerme (POSH! SP), André Laface (POSH! SP) eSoundman Pako (Rolldabeetz).

Pix by Ledux CWB

Hostess Anni Barros

O Wonka abre às 22h

Entrada R$8 até meia-noite, após R$12.

SEGUNDA 07 março

Fast Fashion

Aproveite o clima de Carnaval para se montar.

Line up: Karla Gironda (revedemode.blogspot), Giuliana Nunes (like U Like), Débora Mello (Galeria Lúdica), Gil Preto (Gummy) eLuízo Cavet (ivegotyoudancing.com)

Hostess Gabriel Andrade

O Wonka abre às 22h

Entrada R$8 até meia-noite, após R$12.

TERÇA 08 março – FECHADO

QUARTA 09 março – FECHADO

QUINTA 10 março

WONKA JAZZ PROJECT

Jam como nos melhores clubes de jazz do mundo, o Wonka Jazz Project é formado pelo baterista Fernando Rivabem, o baixista Cris Julian e o guitarrista Oliver Pellet.

O Wonka abre às 21h

Entrada R$5 até meia-noite, após R$8

SEXTA 11 março

SubburbiaAudac

ARACY GUIMARÃES ROSA, entrega as moedas ao “barqueiro” aos 102 anos!

O livro ‘Grande Sertão: Veredas’ foi dedicado a Aracy, que detém seus direitos integrais

A segunda mulher do escritor João Guimarães Rosa, Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, morreu nesta quinta-feira. Ela tinha 102 anos e sofria do Mal de Alzheimer. Dona Aracy prestou serviços ao Itamaraty, ao trabalhar no Consulado Brasileiro em Hamburgo, e é conhecida por ter ajudado muitos judeus, que fugiam do Holocausto, a entrarem ilegalmente no Brasil durante o governo de Getúlio Vargas. Ela tem o nome escrito no Jardim dos Justos entre as Nações, no Museu do Holocausto (Yad Vashem), em Israel e também é homenageada no Museu do Holocausto de Washington (EUA).

Reprodução
Aracy ao lado do escritor Guimarães Rosa

“Sem dúvida nenhuma ela foi um exemplo de vida para todos nós, uma mulher lutadora, que nos ensinou muito com sua história de vida”, afirmou o neto Eduardo Carvalho Tess Filho. Aracy teve um único filho, fruto do primeiro casamento dela. Quando ela conheceu Rosa, na Alemanha, era desquitada.

“Ficamos em Hamburgo até 1942, quando o Brasil rompeu relações com a Alemanha, por causa da guerra. Estivemos internados em ‘Baden Baden’, lembra, contou Dona Aracy, com os olhos molhados, em entrevista ao Jornal da Tarde, em 1968.

Rosa quando foi para a Alemanha, deixou mulher e duas filhas no Brasil. Conheceu Aracy e se apaixonaram. Quando voltaram juntos ao Brasil, em 1942, Rosa e Aracy casaram-se por procuração, no México, já que ainda não era permitido o divórcio aqui. Eles ficaram juntos até a morte dele em 1967. Durante os quase 30 anos de romance, o escritor publicou toda a sua obra. O livro Grande Sertão: Veredas foi dedicado a Aracy, que detém os direitos integrais da obra.

Veja também:

link Uma história de amor

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-ministro José Gregori compareceram ao velório, no Hospital Albert Einstein. Aracy já foi cremada no Crematório Horto da Paz. Dona Aracy ia completar 103 anos no dia 20 de abril.

Velhas amigas

Segundo informações de uma representante da família, Dona Aracy ficou muito próxima de uma das famílias que ajudou a resgatar da Alemanha. Quando voltaram ao Brasil ela e Maria Margareth Bertel Levy, ou Dona Margarida – como era conhecida, se tornaram quase inseparáveis. A amiga alemã ficou viúva cedo e acabou sendo ‘adotada’ pelos Tess. “Quando uma ficava doente, a outra também ficava. Parecia que eles sentiam as mesmas coisas. Em 2003 as duas caíram, uma em casa, outra na rua, e acabaram ficando de cama até hoje”, afirmou a fonte.

Dona Margarida faleceu no último dia 21 de falência múltipla dos órgãos e, três dias após o ocorrido, Dona Aracy começou a passar mal e foi internada novamente. De acordo com a representante da família, é evidente que ela não tinha conhecimento do falecimento da amiga, mas é curioso como elas passaram por muitos problemas semelhantes em períodos próximos.

Carla Sasso Laki e Débora Nogueira, do estadao.com.br

Marco Lucchesi é o novo membro da Academia Brasileira de Letras

Com 47 anos, é poeta e ensaísta é o membro mais jovem da instituição.

Ele substitui o Padre Fernando Bastos de Ávila, morto em novembro de 2010.

 

A Academia Brasileira de Letras (ABL) elegeu, nesta quinta-feira (3), o professor, ensaísta e poeta carioca Marco Lucchesi para a Cadeira Número 15 da instituição. Com 47 anos, Lucchesi, que passou a ser o integrante mais jovem da ABL, substitui o Padre Fernando Bastos de Ávila, falecido em 6 de novembro do ano passado.

O professor, ensaísta e poeta carioca Marco Lucchesi, que foi eleito para a Cadeira Número 15 da Academia Brasileira de Letras nesta quinta-feira (3) (Foto: Divulgação)O professor, ensaísta e poeta carioca Marco Lucchesi, que foi eleito para a Cadeira Número 15 da Academia Brasileira de Letras nesta quinta-feira (3) (Foto: Divulgação)

O poeta recebeu 34 dos 38 votos possíveis (tendo sido três abstenções e um voto em branco).  Compareceram à sessão 26 acadêmicos, 9 dos quais votarem presencialmente. Houve 27 votos por carta.

“A chegada do escritor Marco Lucchesi constitui uma contribuição das mais valiosas para o quadro da Academia. Jovem e brilhante, certamente será de muita valia para os projetos e propostas que nossa Casa deseja implementar nos próximos anos”, afirmou em comunicado o Presidente da ABL, Marcos Vinicios Vilaça.

Formado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), doutor em Ciência da Literatura pela UFRJ e pós-doutor em filosofia da Renascença na Universidade de Colônia, na Alemanha, Lucchesi tem, entre suas publicações, os livros “Meridiano celeste & bestiário”, premiado com o Prêmio Alphonsus de Guimarães 2006 da Biblioteca Nacional e finalista do Prêmio Jabuti 2007; “Sphera”, que recebeu Menção Honrosa do Prêmio Jabuti 2004, além do Prêmio UBE de Poesia Da Costa e Silva 2004; “Os olhos do deserto”; “Saudades do paraíso” e “O sorriso do caos”.

Também teve algumas de suas obras publicadas em italiano, como “Poesie” e “La gioia del dolor”.

A Cadeira Número 15 tem como patrono o poeta e teatrólogo Gonçalves Dias e seu primeiro ocupante foi Olavo Bilac. Além de Bilac e do Padre Ávila, ocuparam a Cadeira Amadeu Amaral (1875-1929); Guilherme de Almeida (1890-1969); Odylo Costa, filho (1914-1969); e Dom Marcos Barbosa (1915-1997).

 

Do G1 RJ

 

De Ofélia tenho a lembrança – por omar de la roca / são paulo

Joguei uma moeda para o homem que tocava o violino,ja que eu gostava da musica.A mulher passou e disse ” Que desperdício.”Passei rápido pelas máquinas que insistiam em perfurar cada vez mais fundo.Quando passei Peter e Wendy ja tinham voado pra Terra do Nunca de onde nunca escaparão.Melhor assim.Entrei antes do homem no Franz e pedi  um chá gelado.Que gelado eu estava e não queria contrastes naquele dia.Entra e pede o café e os garçons com pés presos por pregos de preguiça,realmente se parecem com marionetes estáticas.
O céu agora levanta umas dobras,como a se acomodar na imensa cama,e puxa uma nuvem daqui,outra dali.Na certa a companhia não o deixou dormir como queria.A biblioteca espanta de suas roupas os vestígios do tempo.Apenas ela não ve que tem as roupas rotas e os livros comidos pelos ratos pardos.
Vi o palhaço e pensei,se tivesse pernas assim corria o mundo.Queneau e seu papagaio haviam partido para alguma ilha do Caribe ou para a Polinésia para visitar o pintor.Mas não tem problema,eu não o reconheceria se o visse.
È verdade,Pessoa,isso tambem passou.Como a mulher passa e  ve,como o tempo passa e só as pedras permanecem.O gatinho era amarelo,que vi o poeta abaixar-se ,dando trabalho aos seus suspensórios que estavam meio cansados de tanta poesia e tanta prosa.Acabei o chá,saí do Franz antes do homem se coser a parede a passagem dos mendigos.O violino descansa agora contando as poucas moedas.Os brancos e robóticos garçons repetem os movimentos programados,com um sorriso tosco mal rabiscado em seus rostos.O palhaço chega a Praça da Sé.Com aquelas pernas eu ja estaria em Londres.O rato pintado,com seus olhos de queijo suiço,se esconde na Universal ,que não tem nada de metafísico.
Fui o primeiro a correr para pegar o gatinho que o poeta pos ao chão.Temia que corresse atras do rato pardo e se tornasse pardo também.Ele que tão amarelo era.Amarelo e obediente, compreendendo que o poeta precisava daquele momento de liberdade,que ele escapava por um momento de seus livros.Segurei o casaco para ele e me pus num canto,que não queria atrapalhar seus amplos movimentos.Ofélia ouve o chamado, mas se faz de difícil,colhendo distraída as uvas de pedra na parede. Mas cede,como todos cedemos,levanta seus braços para o ar,livre e inicia a dança com um rodopio de vento.E na praça molhada de chuva e suor se junta a ele,se junta a multidão que passa, de terno e gravata, de trapos sujos,vestidos curtos,camisetas gritando.Ofélia  agora dança nua.Como danço em frente ao espelho,quando estamos só eu e ele.E ela mostra contornos que já foram mais belos,mas que ainda o são,formas generosas e ainda esbeltas.Seus sete véus coloridos como arco iris,continuam no chão e ela pisa neles .Pessoa,cansado,me pede o casaco .Eu ajudo a vesti-lo segurando as mangas.O chapéu com o gato dentro,eu havia posto no chão,se não não poderia ajuda-lo e ele com um movimento de mão disse que eu podia deixar,já havia ajudado bastante,se abaixa e pega o gato de chapéu.Ofélia,com seus olhos tristes,ou assim me pareceram sorri e responde : Até mais poeta,que de mim não te escondes.Te encontro no livro mais proximo,ou em meu coração repetindo teus poemas.
E ela pensa que eu a esqueci,a mulher que passa e tudo observa atenta.Mas eu a sigo com os olhos enquanto ela olha sorrateira e vira a esquina.

 

EDUCATIVA FM ABANDONA A MÚSICA PARANAENSE – por luiz claudio oliveira / curitiba

Kraw Penas / Divulgação 

Kraw Penas / Divulgação / O secretário de Cultura, Paulino Viapiana, e o diretor-presidente da Educativa, Paulo Vítola: traidores da música paranaense?

O secretário de Cultura, Paulino Viapiana, e o diretor-presidente da Educativa, Paulo Vítola: traidores da música paranaense?

Os músicos paranaenses devem adotar o luto. Um sonho bebê, uma revolução ainda criança, que começava a engatinhar, foi assassinada dentro da Rádio Educativa do Paraná, agora chamada E-Paraná. No dia em que Ivo Rodrigues faria aniversário, a música paranaense recebe mais uma punhalada. Após um período de euforia, a emissora voltou ao passado e abandonou novamente a música paranaense.

Morreu a revolução de verão – que não durou nem um verão. Ela se iniciou quando o governador Beto Richa e o secretário da Cultura, Paulino Viapiana, indicaram o jornalistaFernando Tu pan para a direção da rádio. Era um sonho jovem, de um mês de existência, ainda em fase de implantação e de estruturação. Era simples, colocar a música paranaense na programação normal da emissora. Vinha sendo ajustado, mas já dava sinais de vitalidade, tanto na proposta cultural quanto no aumento e diversificação da audiência da rádio pública do Paraná.

Fernando Tupan foi afastado da direção da rádio. Junto com ele, saiu o programador José Crespo. Eles formavam a dupla que iniciou a revolução do bem e mais uma vez fez história no rádio paranaense – a outra tinha sido na Estação Primeira FM.

Não podem acusar a natimorta revolução de querer acabar com o passado. Não, ela estava se ajustando e abria espaços para todas as manifestações. Mas eis que a bota assassina vem e esmaga a cabeça da criança, preferindo matá-la antes que ela crescesse e ficasse forte.

A revolução, o projeto e o sonho foram assassinados por alguém. O nome do assassino desse projeto musical paranaense ainda não foi descoberto, mas o sangue respinga nos sapatos do governador Beto, nas barras das calças do secretário Viapiana e nas mangas da camisa do diretor-presidente da RTVE, o compositor Paulo Vítola. Do primeiro, pouco se esperava – como sempre devemos fazer com políticos. O segundo, que deveria proteger e promover a música paranaense, não o fez. Do terceiro, esperava-se mais. Afinal, ele próprio é um compositor paranaense, talentoso, mas dele só veio a traição. Por ação ou omissão, todos são culpados.

Ao que parece, nenhum se esforçou para apoiar o projeto de mudança de programação da Educativa implantado por Tupan. De um deles partiu a ordem de execução. A troca de nomes é normal em uma administração pública, mas o que dói nos ouvidos, nos corações e nos bolsos dos músicos paranaenses é o fim de um projeto ousado e que tinha tudo para dar certo. Deveria fazer parte do programa cultural do governo Richa. Mas foi assassinado.

Gostaria de apontar os motivos do assassinato, mas não consegui conversar diretamente com os envolvidos. Ouvi agentes periféricos que encontrei casualmente e outros que entraram em contato comigo preocupados com o fim do sonho de ter uma rádio pública apoiando a produção musical do estado.

Reproduzo algumas mensagens postadas no Twitter, todas de músicos:

Carlos Careqa: “A saída do Tupan é uma perda para a Rádio Educativa!”

Raphael Moraes (Banda Nu vens): “A maior perda para a música paranaense dos últimos tempos é a saída do Tupan da rádio educativa! Absurdo!.”

Fábio Elias (cantor e compositor): “Fernando Tupan mal entrou e já saiu da Educativa. É, difícil mesmo a situação das rádios e da música paranaense. Sempre foi, na real. Parei!”

Vladimir Urban (compositor, guitarrista da banda Sick Sick Sinners e produtor do Festival Psycho Carnival): “La mento profundamente a saída do Fernando Tupan da programação da rádio educativa do Paraná…

Ivan Rodrigues (baterista das bandas Mordida e Magaivers – filho de Ivo Rodrigues): “Sobre a saída do Tupan da Radio Educativa, acho uma pena, sei que havia uma frente conservadora que era contra a mudança na programação, será que foi esse o motivo da saída? Ja dava pra notar a mudança na programação alguns dias, será que os conservadores de Curitiba ganharam mais essa?”

Banda Anacrônica: “Quando tinha alguém com FERRAMENTAS para trabalhar pela cultura local, derrubam. Parece que nunca vai mudar.”

luiz claudio oliveira tem um blog na Gazeta do Povo do Paraná: blog/sobretudo/

Suecos criam notebook controlado pelo olhar / hannover

Diógenes Muniz Enviado especial a Hannover

Movimentar objetos com o poder dos olhos. É esse o diferencial dos produtos da companhia sueca Tobii Technology, cujo protótipo mais popular foi revelado na feira de tecnologia Cebit, em Hannover (norte da Alemanha).

Em parceria com a fabricante de computadores pessoais Lenovo, a empresa produziu um notebook que não precisa teclado ou trackpad (retângulo usado em laptops para fazer as vezes do mouse). É o primeiro laptop do mundo a funcionar a partir de rastreamento do olhar.

Folhapress
Visitante da Cebit testa notebook Tobii
Visitante testa notebook Tobii

Basta calibrar a velocidade do seu olho (o processo leva menos de 10 segundos) e começar a acessar pastas e movimentar janelas sem usar as mãos.

A reportagem testou duas aplicações do laptop: um game parecido com o clássico “Space Invaders”, em que é preciso atirar em meteoritos que ameaçam a Terra, e o controle de um mapa virtual. Em ambos os casos, a resposta da máquina foi imediata e o uso, intuitivo.

No caso do jogo, após algum tempo de partida fica cansativo não poder mirar outro lugar que não a tela (e ao fazer isso, você invariavelmente estará perdendo a partida e condenando a raça humana ao Juízo Final).

RUMO AO MERCADO

A empresa não descarta o uso deste tipo de aplicação com periféricos já existentes, como o teclado.

“Agora, precisamos fazer modelos mais baratos e menores. Acredito que isso pode ser atingido em dois anos”, diz Henrik Eskilsson, diretora-executiva da Tobii. Cerca de US$ 2 milhões foram gastos no desenvolvimento da tecnologia desde 2006. Por enquanto, só existem 20 exemplares deste notebook no mundo.

“Este protótipo é a prova de que a tecnologia de rastreamento de olhar é madura o bastante para ser usada em computadores com interface padrão”, diz Eskilsson.

Seth Wenig/AP
Barbara Barclay, gerente geral da empresa Tobii nos EUA, testa jogo na plataforma controlada pelo olhar
Barbara Barclay, gerente geral da empresa Tobii nos EUA, testa jogo na plataforma controlada pelo olhar

O jornalista viajou a convite da Hannover Fairs do Brasil

PAIXÃO e NOVISKI em: “bate papo de cartunista”

noviski, que homenageia PAIXÃO

e

paixão, que homenageia NOVISKI


CHARLES BUKOWSKI: um beat entre os nobres – por fernanda ezabella / los angeles.eua

“Hank? Hank, posso entrar?”

Linda Lee Bukowski bate delicadamente na porta. Abre um pouquinho e se volta para trás. “Ele disse que não podemos entrar”, diz para a reportagem, dando uma risadinha.

O pequeno escritório continua intacto, ela conta, desde que Hank, ou Charles Bukowski, morreu aos 73 anos, em 1994.

Há um cheiro no ar, roupas usadas penduradas numa bicicleta ergométrica, tintas abertas jogadas numa prateleira. Mas logo Linda abre as duas grandes janelas e o sol do fim de tarde entra, trazendo um vento gelado das águas do Pacífico.

Uma toalha cobre o Macintosh Classic, primeiro e único computador de Bukowski, usado a partir de 1991. Uma faca descansa ao lado de canetas e marcadores de texto. Também na escrivaninha de madeira, um enorme dicionário empoeirado.

“Venho aqui todas as noites, às vezes conversamos”, diz Linda, que casou com o escritor em 1985 e ficou conhecida nos livros do marido como “a mulher que me deu mais 10 anos de vida”.

Baixinha e magra, de cabelos lisos pretos, Linda tem cerca de 65 anos. Ela introduziu vitaminas na dieta de Bukowski, cortou carne vermelha, incluiu bebidas de qualidade e o ensinou a meditar no último ano de vida, quando lutava contra leucemia.

Linda Lee Bukowski- foto de Fernanda Ezabella
Linda Lee Bukowski, ex-mulher do poeta beat, em sua casa na Califórnia
Linda Lee Bukowski, ex-mulher do poeta beat, em sua casa na Califórnia

JACUZZI A cadeira estofada do escritório, judiada pelos arranhões dos gatos, é a mesma de quando ele ainda morava num cafofo em East Hollywood e arranjou a fama de “velho louco e safado”.

Foi sentado ali que escreveu os poemas marginais de “O Amor é um Cão dos Diabos” e o romance “Mulheres”, sobre suas experiências com o sexo oposto e suas bebedeiras monumentais.

A cadeira está agora no segundo andar de um casarão em San Pedro, uma tranquila comunidade no porto de Los Angeles, para onde o casal se mudou em 1978. Da janela, dá para ver ao longe as montanhas de Hollywood Hills, navios cargueiros e também uma jacuzzi instalada no andar térreo.

“Hank vinha das corridas de cavalo e ia para a jacuzzi. Eu fazia uma janta, assistíamos ‘Jeopardy’ na TV e depois ele subia para escrever, com uma garrafa de vinho ou uma cerveja”, conta Linda.

“Ele gostava das cervejas japonesas importadas”, continua, ela mesmo tomando uma Ichiban Shibori.

Debaixo da mesa, outro detalhe: um massageador de pés elétrico.

Mas o escritório não está assim tão “intacto”. Falta o rádio em cima da mesa que ele ligava todas as noites para escrever seus poemas brutos, batendo nas teclas com violência, no estilo que ele mesmo apelidou de “machine gun action”, algo como “ação da metralhadora”. Faltam também a taça de vinho e seus óculos.

Os objetos foram emprestados para uma mostra que começou no final de 2010, ano em que ele completaria 90 anos, chamada “Poet on the Edge”.

A exposição termina neste mês e também celebra a parceira de Linda Lee, dona do patrimônio Bukowski, com a Huntington Library.

MEDALHÕES Em 2006, Linda doou 2.700 itens dos arquivos do escritor para a biblioteca, incluindo manuscritos corrigidos de poemas, centenas de livros, o roteiro do filme “Barfly – Condenados pelo Vício” e os rascunhos de “Misto Quente”, um de seus romances mais elogiados, sobre sua juventude traumatizante, quando apanhava sistematicamente do pai e era zoado na escola. No pacote também tem cartas de amigos e fãs, algumas com fotos de mulheres nuas.

Foi um casamento estranho no mundo literário, uma vez que a coleção, avaliada em mais de US$ 1 milhão, de um dos autores mais bêbados e obscuros dos EUA, fará companhia a medalhões da literatura inglesa e americana, num dos lugares mais burgueses da Califórnia. “Hank deve ter se revirado na cova”, diz Linda, rindo. “Mas ele ficaria orgulhoso [da exposição]. Não consigo vê-lo infeliz com uma coisa tão incrível que eles fizeram.”

A Huntington Library fica em San Marino, a 30 minutos do centro de Los Angeles, numa casa que perteceu a um magnata das ferrovias e colecionador de arte e livros raros.
Aberto ao público nos anos 1920, o local é rodeado por um parque de 5 mil km2 (o Parque Ibirapuera tem 1,6 mil km2) que engloba cinco mil espécies de cactus num deserto artificial, árvores numa floresta tropical e carpas num lago de jardim japonês.

Na biblioteca, numa sala reservada aos tesouros da casa, o rosto de Bukowski aparece ao lado do de Jack London. Em frente, há uma vitrine dedicada a Shakespeare e outra com um dos dois volumes da bíblia de Gutenberg. A coleção também inclui manuscritos de Chaucer, Thoreau, William Blake, Benjamin Franklin e pinturas de Gainsborough.

MÚSICA CLÁSSICA Sue Hodson, que trabalha há 30 anos na Huntington Library e é a curadora da exposição, cochicha enquanto caminha pela sala com iluminação controlada e carpete azul: “Linda Lee chorou quando viu Hank ao lado desta gente toda”.

Ao chegarmos à mostra de Bukowski, música clássica nos recebe, Mahler e Beethoven. E logo na primeira vitrine, estão lá o rádio, os óculos, a taça de vinho e uma antiga máquina de escrever, usada entre 1975 e 1983, até ser trocada por um processador de texto IBM Selectric.

“Ele sabia muito sobre música clássica. Está em seus poemas, ele nunca escondeu isso. Mas também não ficava fazendo propaganda”, explica Sue. “Ele tinha essa cara durão. Você esperaria que ele gostasse de rap ou rock. Ele odiava tudo isto, não gostava nem mesmo de jazz. Amava mesmo Sibelius, Cesar Franck, Christopher Moeller, Shostakovich.”

Neste momento, o visitante iniciado nas desventuras de Henry Chinaski, o alter ego tarado e pobretão de Bukowski, tão trágico quanto cômico, começa a procurar por algum vestígio daquela atmosfera esfumaçada de seus contos. Mas um segurança sorridente, na porta da biblioteca, nos faz lembrar que estamos num museu.

“Não queria censurar Bukowski, mas talvez eu tenha feito de alguma maneira. Não deu para colocar, por exemplo, fotos das fãs peladas ou capas das revistas para as quais ele escreveu, como a Hustler, Penthouse”, conta Sue. “O Huntington é frequentado por famílias. Colocamos um pequeno aviso lá fora dizendo que a exposição contém linguagem forte.”

JOIAS Na vitrine dedicada às cartas dos fãs, uma moça da Austrália aparece de biquíni. Em outra, vem um beijo de batom. Tem até mesmo um recado em forma de poema: “Caro Sr. Bukowski, você é o único poeta do século 20 cujos livros eu consigo ler com prazer. Eu já vi suas fotos e não acredito em uma só palavra sobre sua vida sexual.”

“Ele era um ímã de mulheres. Claro, isso depois que ficou famoso, já com uns 50 anos”, conta Sue.

Em outra vitrine, ao lado das revistas “The Outsider” e “High Times”, mídia alternativa para qual ele passou a escrever nos anos 60 após ser recusado pelas refinadas “Atlantic Monthly” e “Harper’s”, está um certificado de “Licença Poética”, assinado por Allen Ginsberg. O documento não está datado, e ninguém sabe o contexto da história. Provavelmente aconteceu numa das muitas leituras de poemas que Bukowski fazia em livrarias de Los Angeles para ganhar uns trocados. “Existia um respeito mútuo entre os dois. Mas Ginsberg achava que os Beats haviam escolhido ser daquele jeito, era uma decisão consciente de vida. Enquanto Bukowski não podia mudar, era assim.”

As paredes da exposição são cobertas de desenhos feitos pelo próprio autor, como cavalos correndo e apostadores no jóquei. Um bonequinho de traços simples ao lado de uma jarra de vinho é uma espécie de assinatura sua, que se repete ao fim de cartas, recados e documentos.

CRÍTICA É verdade que a ala conservadora da Huntington Library ficou com o pé atrás com a exposição. “Algumas pessoas ficaram ofendidas, mas tudo bem, elas não precisam vir”, conta Sue. “Há coisas sobre Bukowski que é bem difícil de gostar. Você nunca é neutro quando se trata dele.”

Apesar do reconhecimento da instituição, Sue acredita que ainda falta uma biografia de peso, assinada por um acadêmico de primeira linha, para colocar, de verdade, Bukowski entre os grandes da literatura. “E isto vai acontecer”, diz.

Para Thomas Gustafson, professor de literatura americana na University of Southern California (USC), o problema com Bukowski é o mesmo de vários outros escritores da Califórnia, como Chester Himes, Mary Austin e John Fante. “Eles viraram autores regionais, muito respeitados como parte dessa literatura californiana, mas não fora dela. Talvez se eles fossem de Nova York ou Chicago a história fosse diferente”, diz Gustafson.

A poesia simples, sem artifícios, estrutura e, muitas vezes, sem rima, também não ajuda na imagem acadêmica. “Kerouac, com um livro só, influenciou muito mais gente. Mas os estudantes gostam de Bukowski porque ele fala contra a hipocrisia, contra os valores burgueses. Sua poesia é fácil de ler, é autêntica, não é bonitinha, nem graciosa.”

DALAI LAMA A Huntington Library fica a dez minutos do jóquei de Santa Anita, que o escritor frequentava. Um vez por mês, Linda Lee e Bukowski saíam juntos de carro e cada um ia para seu “santuário”. Ela gostava de passear pelos jardins da instiuição.

Sua ideia original era transformar a casa em San Pedro num museu e centro de pesquisa, mas percebeu que não daria conta de tanto material. “A quantidade de papel que ele tem é assombrosa, ninguém acredita”, diz, mostrando um quartinho da casa com ar condicionado onde mantém ainda alguns arquivos. “Ele não era só um escritor prolífico, todos os textos que eu encontrei, muitos dos quais ainda não foram publicados, são coisas incríveis.”

Em 2004, ao ligar para a biblioteca para pedir conselhos, Linda conheceu Sue Hodson. Com o tempo, percebeu que não teria lugar melhor para cuidar de Hank. Pesquisadores com projetos para publicação podem ter acesso aos arquivos no local.

“Não queria fazer com as universidades. Fodam-se as universidades, não tenho o menor respeito por elas. É muita politicagem”, dispara Linda.

É ela quem cuida dos jardins da casa de San Pedro, assim como da piscina. Há um roseiral abandonado, e ela se desculpa por conta de uma forte dor nas costas. Pelos cômodos do térreo, muita pinturas de Bukowski penduradas, estantes de livros e fotos de Dalai Lama ao lado de outras do falecido.

“São meus dois garotos. Depois de Hank, qual homem, qual mortal, poderia ter em minha vida?”, ela diz.

Linda e Bukowski se conheceram quando ele fazia uma leitura no clube Troubadour, em 1976. Ela era celibatária havia nove anos, dona de um restaurante de comidas naturais e seguidora de um mestre indiano.

“Virei sua ouvinte. Ele estava fazendo suas experiências com mulheres para seu livro e eu não queria ser mais uma. Éramos um casal bem estranho de amigos.”

BMW Mas nem tudo eram flores na vida do casal, como ficou escancarado no documentário de 2003 “Born Into This”, numa cena em que os dois discutem no sofá e ele dá uns chutes nela.

“Era uma relação de amor e ódio”, diz John Martin, que criou a editora Black Sparrow Press em 1966 para publicar os trabalhos do então poeta underground Bukowski. “Ela deu uma base para ele, conseguiu minimizar a bebedeira, tomava conta. Podiam brigar de manhã, mas ele sempre tinha um lugar para voltar e uma janta à espera.”

Martin, que chegou a criticar o amigo quando ele comprou uma BMW nova, em 1979, não viu a exposição na Huntington Library, mas ficou impressionado e feliz com a notícia.

“Vinte e cinco anos antes de morrer, sua vida foi ficando melhor a cada dia, principalmente se comparado à infância terrível que teve. Ele era esperto o suficiente para saber disso.”

Para Martin, o autor sempre terá seus detratores, sejam os que criticam sua vida fora dos guetos ou os acadêmicos que não compreendem sua poesia, “direta, como uma bala no coração”.

“William Blanke, Walt Whitman, James Joyce, muitas figuras importantes foram outsiders a vida inteira, só foram reconhecidos muitos anos depois de mortos”, disse Martin, responsável por tirar Bukowski do emprego de 12 anos nos Correios e dar-lhe uma mesada de US$ 100. “Hank teve mais sorte, não teve que esperar tanto.”

Horror e glória de um time azul e branco – por amilcar neves / ilha de santa catarina

Foi um jogo eletrizante, aquele último na Ressacada, contra o Santos. Precisando ganhar, focado em ganhar e jogando melhor, de repente lá estava o horror de um resultado parcial adverso de 2 a 0. Só isso, 2 a 0, e então seriam necessários três gols – mas a torcida, alucinada, acreditava que era possível. Lotou o estádio e não parava de aplaudir, de gritar e de incentivar o time – contra todas as evidências (se futebol tivesse lógica). Na arquibancada, ali ao lado, o Márcio declarou: “Vou embora! Agora não tem mais jeito, vamos levar uma goleada vexaminosa!”. Mas não foi, claro, e nem falou alto essas palavras. Talvez não acreditasse no que ele próprio dizia.


Golaço deveria valer o dobro.


De repente, aparece um Caio, o incansável (como em todo o ano, como em todos os jogos), dribla um, dribla outro, e a gente ali, esperando ele ser desarmado ou atropelado, e vai driblando meio time do Santos até fuzilar inapelavelmente. O primeiro tinha entrado, e já deveria ser o empate, pelo que o Avaí vinha jogando e pelo golaço que foi, um primor. E então, antes ainda do intervalo, vem um Caio, incansável sempre, e carimba de novo.


O segundo tempo foi apenas uma questão de tempo: ninguém mais tinha dúvida, nem mesmo o técnico do Santos, nem mesmo todos os jogadores do Santos, de que a virada iria coroar a Ressacada de estupefação. Só ninguém desconfiava é que a glória levaria a assinatura daquele endiabrado número 10, o incansável Caio, com novo golaço: 6 a 2 para o Avaí, mas que o árbitro só contou 3 a 2, e a garantia matemática de permanência na Série A de 2011. Ao lado, o Márcio derramava lágrimas de paixão azul e branca.


O jogo contra o Santos, o último do ano na Ressacada, foi um retrato da campanha do Avaí no Brasileirão 2010: após iniciar o campeonato em primeiro lugar isolado (só outras três equipes estiveram na ponta da tabela ao longo das 38 rodadas), escorregou para 13º, subiu de maneira fulminante ao terceiro e, em 10 misteriosas partidas em que o time não ganhou uma e jogou muito mal, atingiu o horror da zona de rebaixamento. Com três vitórias seguidas no finalzinho, nas quais marcou 9 vezes (3 gols em cada jogo, um despropósito para um time que penava para fazer um golzinho aqui, outro ali), atingiu a glória de não cair.


Cá entre nós: uma glória modesta demais para o nosso time azul e branco. No entanto, como o Fluminense por pouquíssimo não caiu em 2009 e sagrou-se campeão em 2010…



Amilcar Neves é avaiano e escritor de crônicas, contos e romances, com oito livros publicados.
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escudo enviado pelo autor.