O poeta JAIRO PEREIRA entrevista o poeta ANTONIO THADEU WOJCIECHOWSKI / curitiba.pr

Poeta, compositor, professor e publicitário. Nascido em Curitiba em 24 de dezembro de 1950. Tem como filosofia de vida a seguinte máxima: tudo ao mesmo tempo agora já neste momento inclusive antes e depois. Boêmio e extremamente curioso com tudo que se refere a relações humanas. Livros de cabeceira: EU, do Augusto dos Anjos e Tao, o Livro, de Lao Tsé.

o poeta J B VIDAL e THADEU em Sambaqui, Floripa. foto do poeta VINÍCIUS ALVES.

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1.       Transitando por tantas linguagens o poeta é, ou pode tornar-se demiurgo?

É porque pode. O poeta tem uma certa tendência doentia (sic) a assenhorar-se do universo como espelho de si e de sua própria criação. Mas transitar entre inteligências e artes diversas é  um privilégio e pode dar a ele a capacidade de antecipação, de estar antes e poder contar. Pound o designa como antena da raça, mas atingir este estado não é pra qualquer um. A maioria se perde nos processos de racionalização e materialização do mundo.

2.       O poeta Thadeu, faz sua própria poesia, escreve a muitas mãos, traduz e se comunica com o mundo. A vida poética te exige muito?

Acho tudo muito divertido, escrever a sós ou a N mãos é a mesma coisa. As lâmpadas vão se acendendo, as idéias se multiplicando e a técnica entrando em ação. O mundo está cheio de mestres e mestres não dizem, mas mostram caminhos que vc pode trilhar para procurar.

Quando estou com o violão na mão ou quando um parceiro ao lado está, conversar é criar, compor, transgredir. A vida é movimento e é  certo que ela, viva, revela perfis inéditos através do trivial, do picaresco, do cotidiano, do fútil.

3.       Na tua visão pra onde caminha a poesia brasileira contemporânea?

Acho que para a apropriação de tudo, a perda da propriedade intelectual, fazer uso de algo existente para criar um diferente,  novo, todos os signos se inter-relacionando. As possibilidades já são quase infinitas, mas há um perigo em tudo isso: OS VENDILHÕES DO TEMPLO ESTÃO SEMPRE DE PLANTÃO. Não dá pra simplesmente eliminar a figura do mestre, daquele que veio antes. Pelo contrário, sua técnica, sua forma de arte, sua expressão, devem ser canibalizadas, deglutidas, incorporadas e só depois pode-se pensar em superação.

4.       O Tao, seria o caminho… no teu caminho Faustos vendem a alma ao diabo?

Eu traduzi as duas obras junto com o Roberto Prado, Alberto Centurião, Marcos Prado, Sérgio Viralobos. O TAO levou 14 anos pra ficar pronto, UM FAUSTO DOIS, 3 anos. Não sei se vendi a alma ao diabo ou se só a emprestei durante aquele período. Sei que caminhar dentro dessas duas obras deu a mim e à minha pena um apuramento da técnica e da musicalidade que eu considero essencial para conseguir fazer o que faço hoje em dia.

5.       Você nunca foi um poeta bem comportado, mas é um aglutinador de mentes privilegiadas, já se indispôs com muita gente?

Eu não tenho muita noção do que é ser bem comportado, eu sou feliz e vivo intensamente. Minha casa tem as portas abertas à criatividade e  à alegria. O pessoal vem pra cá porque é divertido, todos se sentem vivos e atuantes, participantes dessa maravilhosa aventura que é estar sobre o planeta Terra. A gente tem uns arranca-rabos de vez em quando, mas isso não é nada. Só expulsei um até hoje, era um poetinha, exatamente do tamanho do nada.

6.       Tua obra (vasta) traz o clássico (nas formas e conteúdos), o moderno, pós, transcontemporâneo e a construção despojada. O poema é Senhor do seu próprio destino?

Sim, mas só até eu enfiar a mão na cara dele, depois somos amparados um pelo outro. A diferença está na projeção de tempo que cada um faz.

7.        Até que ponto o poeta Thadeu W é o gestor majoritário dos signos da composição, seja na poesia ou na poesia/letra de MPB?

Não penso assim, como um cálculo a ser feito para se decidir o percentual de cada parceiro. Muitas vezes, assino um poema com mais meia dúzia, mas é só porque eles estavam lá e indiretamente participaram daquela energia criadora. Pra mim, estar de bem com a vida, me divertindo com os amigos, cantando até altas horas, ou simplesmente sentado no meu escritório escrevendo, é o que conta. E dividir com eles a autoria é um prazer enorme e justo.

8.       Música e poesia, na sua vida de poeta, convivem de que maneira?

Em tempo integral e inseparáveis. Fico o dia inteiro pensando versos e melodias. Criando, repetindo, analisando, consultando, lendo, relendo. Está cada vez mais difícil de trabalhar com propaganda, parece que estou em outro mundo. Queria chegar ao ponto de não precisar pensar em mais nada além da poesia e da música.

9.       O que mudou,  ao seu ver, com o advento da internet nas linguagens poéticas, e na sua particularmente?

Acho que nada, mas a exposição é muito maior e vc pode ter um feedback instantâneo sobre o que está fazendo. Em época nenhuma se veiculou tanta poesia, TVs, rádios tocando o dia inteiro, jornais, revistas, as mídias da internet etc. Não se fala aqui de qualidade e, sim, de quantidade. Mas o acesso leva inevitavelmente a um novo patamar de qualidade. Fazer arte é como treinar karatê, vc tem o estágio da faixa branca, amarela, laranja, alguns, infelizmente poucos, um belo dia, chegam à preta.

10.   É possível a poesia advir somente da linguagem, sem o sentir propriamente do poeta no social?

Pra mim, não. É como querer separar corpo e alma, mas tem muito poeta fazendo joguinhos de palavras, tipo monta-desmonta de terapia ocupacional, que pensa o contrário. Eu quero uma arte tão rica de imaginação, mas tão rica, que a realidade não possa mais interferir. E imaginar é criar a partir de mim, de tudo que sou,  vivo,  sei e sinto.

11.   O livro impresso, a palavra manchando a página branca, terá algum futuro… diante dos sistemas e meios eletrônicos, o e-book, blogs, facebook?

Bom, acho que o prazer táctil que um livro em sua forma impressa

me proporciona é insubstituível. Isso nunca vai acabar. Adoro livros, mas transito em outras mídias com a mesma desenvoltura. Tenho milhares de fãs que me conhecem somente através da internet, com os blogs, facebook, twitter, site, entre outros. Uma coisa não anula outra. O Tavinho Paz acaba de fazer um e-book com meus poemas e fotos. O lançamento vai ser no Rio. Veja só: ele pegou matéria da Internet e fez. O livro é meu, mas é dele também.

12.   Quantas gerações você já perdeu como poeta, ou elas podem ainda ser resgatadas no turbilhão dos signos estéreis?

Eu não perdi nada, eu encontrei muita coisa boa. Amigos excepcionalmente criativos, bons de conversa, melhor ainda de versos. Augusto dos Anjos, por exemplo, está quase sempre presente. Cruz e Sousa, Dante, Shakespeare, Rimbaud, Baudelaire, Maiakovski, Emily, Poe, Yeats, Bashô, Issa, Adam, Kliébnikov, Marcos Prado, Leminski, Machado, Dalton, Nelson Rodrigues, Noel Rosa, Nelson Cavaquinho, enfim, a companhia é grande. Tem sempre algo novo no antigo. Tem sempre algo antigo no novo. Muita gente acha que essas quinquilharias tecnológicas (espelhinhos pra enganar índio) são o novo. Vivem iludidos na matéria, trocando sua eternidade por produtinhos e artiguinhos de grifes, nem desconfiam que a novidade é uma impossibilidade matemática.

E pra terminar:

poeminha no cu da madrugada

tec

tec
tec
etc…

antonio thadeu wojciechowski

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