Arquivos Diários: 7 março, 2008

POR QUÊ? poema de jb vidal

minha tristeza tem o sabor do fim das tardes,
sinto o mundo que realmente vejo,
não o que sonhei fosse possível e nada fiz,
sonhos não tocam a alma,
a paisagem que assisto não é de giz,
se só fui sonho, então, não fui o que se diz 

calar não posso e esperar é inútil,
sinto-me abandonado pelo o quê não sei,
guerras, sangues, fomes, mortes,
mentes aleijadas podem tudo, fracassei,
arrogância, vaidade sentimentos torpes,
se só fui sonho não morri nem acordei,

sons e cores de outro tempo
a manter as ilusões,
mas esta dor que sinto  
fez-me escravo de mim próprio
o avesso de mim mesmo e não de um deus,
se só fui sonho, os sonhos não eram meus

as paisagens morreram dentro de mim,
uma após outra se desfizeram,
silêncio,
sou só silêncio,
vagueio em torno de meu corpo de longa jornada
se só fui sonho, sou nada

PÃES & ROSCAS poema de darlan cunha

até que caia de bruços
no próprio moinho

o amor será trigo
rumo a ser pão à mesa

e rebojos na cama, até

que pelos farelos se saiba
doentes os padeiros

À MEIA NOITE CHORAREI poema de bárbara lia

Por que sou poeta,
chorarei.
No sonho verei velhos amores,
pensarei no infinito finito,
e seguirei.
Vez por outra lembrarei
a voz do irmão caçula:
Esta estrela de Davi
na palma esquerda
significa – protegida pelos céus.
Eu não sou mesmo
uma folha perdida,
nem fera ferida,
nem livro esquecido na estante.
Sou uma maluca elegante
que bebe a vida
bebe a vida…
E segue sede gritante,
mochila gasta atrelada às costas,
poesia minha bagagem,
sendo apenas compreendida
pelos que fazem a mesma viagem.

(do livro A ÚLTIMA CHUVA – ME ed. alternativas, 2.007)