Arquivos Diários: 20 março, 2008

EM NOME poema de jorge barbosa filho

do pai
do fumo                               da filha                             da grana
do álcool                 dos espíritos do mundo                 da fama
das drogas do mundo        o êxtase        das modas do mundo
a vagina                             da cama                                  o falo
do coma
dos sonhos do mundo
a foda
da trama
do palco
das máscaras do mundo
a merda
da forma
do fundo
das estruturas do mundo
a mola
da bala
da vala
dos mortos do mundo
o mudo
da muda
do mundo
das flores do imundo
amém…

SONETO da SEPARAÇÃO de vinícius de moraes

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

MÁRIO BENEDETTI: PORQUE CANTAMOS poema de

Se cada hora vem com sua morte
se o tempo é um covil de ladrões
os ares já não são tão bons ares
e a vida é nada mais que um alvo móvel
 
você perguntará por que cantamos
 
se nossos bravos ficam sem abraço
a pátria está morrendo de tristeza
e o coração do homem se fez cacos 
antes mesmo de explodir a vergonha
 
você perguntará por que cantamos
 
se estamos longe como um horizonte
se lá ficaram as árvores e céu
se cada noite é sempre alguma ausência
e cada despertar um desencontro
 
você perguntará por que cantamos
 
cantamos porque o rio esta soando
e quando soa o rio / soa o rio
cantamos porque o cruel não tem nome
embora tenha nome seu destino
 
cantamos pela infância e porque tudo
e porque algum futuro e porque o povo
cantamos porque os sobreviventes
e nossos mortos querem que cantemos
 
cantamos porque o grito só não basta
e já não basta o pranto nem a raiva
cantamos porque cremos nessa gente
e porque venceremos a derrota
 
cantamos porque o sol nos reconhece
e porque o campo cheira a primavera
e porque nesse talo e lá no fruto
cada pergunta tem a sua resposta
 
cantamos porque chove sobre o sulco
e somos militantes desta vida
e porque não podemos nem queremos
deixar que a canção se torne cinzas.

EDITOR FURIOSO, provocações por email

consulta por email:

P: Tenho 20 anos e não transei ainda porque gostaria que a primeira vez fosse com um namorado fixo. O que você acha?

R: Minha primeira  vez também foi com uma namorada fixa. Eu a amarrei na cama!!

FESTIVAL DE TEATRO DE CURITIBA – ARRIBA, CURITIBA!

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A montagem teatral de “Laranja Mecânica”, que lotou o Espaço Cultural Falec em sua estréia anteontem (18), é uma das boas opções do Fringe deste ano.
O diretor Edson Bueno preferiu se guiar pelo livro de Anthony Burgess, mantendo um distanciamento do filme inspirado por ele, de Stanley Kubrick. A escolha foi acertada e coloca em cena o final original, e não aquele que se consagrou no longa-metragem.
Mesmo assim, é nítida a influência do cinema, principalmente, na primeira parte da peça, em que Alex – o ator Dimas Bueno, em seu primeiro grande papel – e seus amigos praticam todo o tipo de violências em cenas de movimentação rápida e transição seca. Os estupros, assaltos e espancamentos, mesmo de mentirinha – os atores não chegam a se encostar – lembram o que foi feito na peça “Educação Sentimental do Vampiro”, de Felipe Hirsch, e provocam um riso constrangido do público, em dilema entre o ódio e a simpatia pelo personagem.
Dimas Bueno não decepciona. Sem nunca sair de cena, imprime em seu corpo as inúmeras emoções, por vezes contraditórias, de Alex. Algumas vezes, no entanto, é difícil distinguir algumas de suas palavras, embora, muitas delas sejam mesmo incompreensíveis, pois são expressões particulares à gangue criada por Burgess.
São méritos também a iluminação de Beto Bruel, em constante diálogo com a encenação; o figurino agressivo e feito, em boa parte, com vinil preto e vermelho, de Áldice Lopes; e as escolhas ousadas do sonoplasta Chico Nogueira.

Annalice Del Vecchio
blog do festival – por email

O LIXO na ARTE de EFIGÊNIA ROLIM

Uma casa para a arte popular

Prêmio federal propicia construção de um museu em homenagem à artista Efigênia Rolim

por ANNALICE DEL VECCHIO

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Museus de arte são uma espécie de “templo”, nos quais o público observa as obras em silêncio, certo? Não se for um museu em homenagem à artista plástica e poeta Efigênia Rolim.

A presença imaginativa e tagarela dessa senhora de 76 anos é parte integrante – e indispensável – da exibição de suas telas, bonecos, objetos e vestimentas feitas de embalagens, tecidos e outros materiais descartados. Ela precisa estar ao lado de cada obra para explicá-las por meio de um verso, uma dança, uma canção. “O pior de tudo é isso”, diz Efigênia, fingindo ser rabugenta.

Pois ela que se prepare para recitar poesia, dançar, rolar no chão, contar histórias. Em breve, a artista popular terá um museu ao seu modo, bem longe das regiões nobres ou centrais da cidade, nos fundos de sua casa, à Rua Alceu José Guadagmim, 71, na Vila Oficinas.

O feito, Efigênia atribui à sua “madrinha das artes”, a artista Kátia Horn. “Ela que pôs a batata quente na mão. Agora, vamos comê-la quentinha”, brinca. Kátia ajudou outra artista, Rejane Nóbrega, a montar o projeto do museu para inscrever, “da noite para o dia”, no Prêmio Culturas Populares, do Ministério da Cultura. Agora põe, literalmente, a mão na massa. “Considero Efigênia uma das maiores artistas da cidade, ela tem muito a dizer não só para a vizinhança, mas para o mundo todo”, diz Horn. 
O projeto foi contemplado e Efigênia recebeu R$ 10 mil para o início da reforma da casa, que será transformada não apenas em museu, mas em lojinha, ateliê, espaço para oficinas e biblioteca. A inauguração do espaço, batizado de A Vida do Papel de Bala, está prevista para o início de maio. “Mas o dinheiro já acabou”, conta Kátia, que, para finalizar a obra, recebe doações de materiais de construção, objetos de decoração e dinheiro dos amigos.

Enquanto a obra não fica pronta, Efigênia se vê louca com os pedreiros que demolem paredes e tiram seus varais do lugar. Em meio ao barulho do martelo de Kátia, que constrói um grande mosaico de azulejos no chão, tenta “bordar isopor” para as telas que serão expostas em uma vitrine, no museu.

Ela mostra a caixa com as peças que já produziu, enquanto fala, sempre em forma de versos, sobre os materiais que utiliza: “Fuxico virou cultura. Melhor do que fuxicar o nome das criaturas”. Ou: “Tudo no mundo tem valor/Você sabia que o homem já borda isopor?”.

Espécie de “câncer que nem na terra apodrece”, o isopor é transformado no suporte em que a artista aplica seus bonecos feitos de restos de materiais que ninguém mais quer. “Não é fácil carregar os restos dos outros”, filosofa a mineira de Abre Campos. Mas, é como ela mesma diz: “O que perdeu valor, põe na mão da Efigênia que vira arte”.
 
DOAÇÃO
• A artista Kátia Horn, que coordena o projeto do museu em homenagem a Efigênia Rolim, pede doações de dinheiro, materiais de construção e decoração e um computador para a biblioteca. Interessados podem entrar em contato pelo e-mail
katia@familiahorn.com.br ou pelo telefone (41) 3272-1578.

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