Arquivos Diários: 4 março, 2008

GROUXO MARX, furioso

sobre ex-mulher:

pagar pensão à ex-mulher é como servir feno fresco a um cavalo morto.

ESTABILIDADE POLÍTICA por walmor marcellino

Por que Chávez e Morales atingiram a preeminência na política da América Latina? Porque sua causa nacional é tão forte que permitiu que a trabalhassem juntamente com a unidade do povo numa “causa social”, para o isolamento do inimigo interno: das “elites” de (“cosmopolitas”) colonizados-colonialistas assumidos e de mãos-postas e mãos-de-frade das “classes médias emergentes”. “Permitiu trabalhar a unidade” é modo de expressão, porque na verdade esses líderes e os agrupamentos sociais que os apóiam (subalternos e/ou excluídos sociais  operários, artesãos, camponeses, empregados, favelados e/ou encortiçados, trabalhadores por peça, obra ou safra, grupos étnicos e civis marginalizados  e seus aliados políticos de várias classes porém também posicionados politicamente por suas diferentes contradições) operaram sua unidade não só por diversas causas “ali historicamente” confluentes (ocasião histórico-social), mas porque “os inimigos proclamavam” (vinham “proclamando”) políticas ostensivas de privilégios de estamento e como agentes de interesses antinacionais. O antagonismo se explicitou no processo da luta social.
Aqui, os inimigos estavam claros, mas os “amigos” não. Tem sido assim: não só pelas ações políticas dos demandantes sociais que marcam o cenário sociopolítico, como também pela reação capitalista-burguesa das oligarquias, do latifúndio, dos estamentos burocrático-políticos que controlam e dominam o Estado (nos aparelhos estatais e suas forças armadas, aparelhos de religião e cultura, de serviços, comércios e indústrias enclavados; em sua representação formal no Parlamento, no governo e na “Justiça”). Esse conflito de classes e grupos sociais de poder resultantes da posição e situação de cada um no sistema (e projeto-de-auto-reprodução) produtivo, bem como na hierarquia de riqueza, propriedade e força, tem sua conciliação e equilíbrio pelo pacto formal e executório de uma Constituinte; a sua vez constantemente fraudada pelos “poderes institucionais” de governo, de Parlamento e especialmente de “Justiça”. E esse pacto tende a ficar obscurecido na ação dos partidos neoliberais de direita e esquerda.
Mas se Evo Morales e Hugo Chávez têm e usaram semelhante base social para se eleger e a estão utilizando para governar, como Lula, por que este não logrou privilegiar nem a causa social nem a nacional?
Embora, aqui os genericamente oprimidos e explorados   “excluídos” e/ou não reconhecidos em seus direitos sociais e políticos   e seus setores de classe (trabalhadores em geral, pequenos empregadores e empregados, servidores públicos, profissionais et liberais, etc.   organizados em variadas entidades abertas e comprometidas com a nação-Estado tenham participado de uma grande frente popular-nacional nas duas últimas eleições do Brasil de forma a assumir o governo; por alguma razão as organizações políticas conservadoras recuperaram seus tradicionais espaços e poder político. Essa reversão política até agora não foi considerada, a não ser como constatação-proposta de um “fazer-se o que puder” pra “não fazer pior”. E com diferença apenas do peso das etnias lá e cá, muita diferença não há, esconde-se o fracasso da direção política “de esquerda” do lulismo.
Como ocorreu o enfraquecimento político de Luiz Inácio Lula da Silva, se as bases sociais que o vêm elegendo até se ampliaram no segundo pleito eleitoral? Ainda que às custas de sua “carismatização” de “self-made-man operário” e “político-bem-intencionado” (que lhe dá homenagens) e/ou pela falta de um movimento social, como de partido político, que propusesse políticas claras, o sustentasse e firmasse as ligações governo-comunidades nacionais-trabalhadores? A presença da “mão-de-frade” no PT é um “neoliberalismo de esquerda”.
Com a certeza de que o grande movimento que elegeu Lula se foi dispersando por falta de direção e de que não deixará sucessores nos próximos anos, nem legados, ressalta-se a traição social e o crime político da direção corrupta do Partido dos Trabalhadores em sua cupidez social e incompetência política.

ERAM OS DEUSES CYBERNAUTAS? por joe rocha rangel

São Francisco, Califórnia – “Chego às 8, coração. Te amo.”

Lia e conjecturava, com o desdém ultrapassado dos românticos nostálgicos, que a geração Google estava assassinando o recado manuscrito. Sim, hoje ele é fornecido de voz viva pelo celular—direto do engarrafamento. Ah, mas as conveniências do progresso, os milagres da fibra óptica, o século das maravilhas, não extraíram do recesso das minhas alegorias certas manias regressistas: sempre fico sentimental com a afeição rabiscada num papel, e a eficácia anacrônica de uma prosáica BIC. E já me aprontava para divulgar ao mundo minha última tese improvisada: tecnologia demais faz mal ao coração.

Mas eis que meu computador enguiça.

Tudo aconteceu com a progressão fulminante da tragédia: O monitor acendeu e, como de todas as outras vezes, as palavras sem sentido, misturadas `a misteriosa fileira de algarismos (códigos numéricos que resumem a história do homem) se estabeleceram na tela. Então, cravei aterrado o olho na mensagem sucinta: “Windows detectou um erro fatal no drive c”.

E tudo parou.

Desliguei a tomada; tornei a ligá-la. O procedimento, embora rudimentar, sempre lhe restaura as funções vitais. Dessa vez não. Tentei outras vezes. Nada.

Uma luz me vazou a retina, e percebi a verdade: a esferográfica e o celulóide já não bastam num povoado global entupido de informação. Havia se criado entre a minha predisposição emocional e o meu PC um relacionamento patológico. Senti um pavoroso medo da solidão.

Vi, pela janela, o crepúsculo entristecer a cidade, a memória da civilização envelhecer na vidraça, e a existência afundar-se no abismo de um inverno escuro e pessimista. O meu apartamento flutuava no vácuo infinito de um dia desolador. Por causa de um erro no disco rígido. Um erro fatal. (Deve ter sido gravíssimo. Mas quem o teria cometido? E quando?).

Foi numa artéria da inteligência artificial que a highway da superinformação incorporou-se ao nosso cotidiano. No meu convívio, o homem sem Internet é um ser primitivo, espécie em extinção. Sabe-se que há pelo menos um computador em 75 porcento dos domicílios urbanos dos Estados Unidos.

De Gutenberg a Bill Gates, dos primórdios da imprensa ao Windows XP, mais de quinhentos anos de loucura, incertezas, e instabilidade emocional nos contemplam.

O mundo encolheu, agora rodopia com a pressa de Nova Iorque; ficou ruidoso, cínico, superpovoado, nervoso. Os computadores foram elevados à categoria de semideuses, indispensáveis `a sobrevivência da raça humana. O maravilhoso mundo novo cibernético é quase uma obrigação social, um dever cívico, uma declaração implícita de que estamos integrados aos tentáculos da rede, e que fora dela adormecem as trevas de um submundo medieval.

Outro dia, na rua, alguém de boa aparência e bem vestido perguntou se havia um telefone público por perto. “Ali na esquina”. Apontei para o infinito. Mas como? O faxineiro do prédio interrompe a atividade do esfregão para falar com a namorada no telefone móvel, e o cara de Pierre Cardin e dentes perfeitos busca um orelhão? Alguém ao meu lado comentou, “telefone público é tão nojento”. Ou seja, coisa de ralé. Será que o cara era terrorista?

Não há um caminho de volta. Estamos inexoralvelmente condenados à ditadura dos célebros eletrônicos, à conversa de bolso digital, à geringonça multimídia que toca música, mostra filmes, manda/recebe/distribui comunicados de um continente a outro em dois segundos. O som, a imagem, e a palavra se deslocam em nossas vidas com a imponência sonora, visual, e verbal de todos os discursos proferidos em todos os séculos da humanidade, todas as sinfonias, sonatas, e samba-enredos, todas as telas, murais, e paineis.

Transportamos Cícero, Platão, Abraham Lincoln, Adolf Hittler, O Papa João Paulo II, Mozzart, Beethoven, os Beatles e os Rolling Stones, Van Gogh, Kandinsky, e Pablo Picasso, nos compartimentos isolados do espírito do homem multidimencional do novo milênio, e os condensamos num porvir digital.

O resultado de tudo que foi dito durante nossas pequenas vidas, hip-hops enraivecidos, favelas interligadas pela agonia comum da falta de esperança, gigabytes loucos, se convergem no calor de nossas paixões, de nossos preconceitos dissimulados. De Faluja `a Rocinha, a Internet une, separa, informa, deprime. Ela é janela e espelho; estrada e despenhadeiro.

Mesmo nos remotos labirintos de cavernas prodigiosamente interligadas na fronteira entre o Paquistão e o Afganistão, terroristas islâmicos, que abominam os excessos da tecnologia ocidental, capitularam à nossa sofisticação, e comunicam-se com laptops; jihadistas da Al Qaeda distribuem clips de decapitações no Iraque através de um web site; na paz contemplativa e gelada do Tibet, monges budistas rezam e meditam— on line..Sim, irmãos e irmãs, a redenção da alma chegará num arquivo anexado a um email sucinto; a segunda vinda do Filho do Homem, num furo de reportagem da CNN, ao vivo, da Mangueira, e o cancelamento do futuro será possível nas asas da bomba atômica, ou na função DELETE do teclado.

Estamos cercados, companheiros de sleeping bags na serra, os vultos de nossa rebeldia não carregam PDA’s, não se reunem em ‘chat rooms’, não se manifestam em blogs pessoais.

O jantar atômico rebola no microondas, cinco mil canais de tv transmitem o tédio dos horários nobres via antena parabólica, Shakespeare arrota uma versão pós-moderna do “Sonhos de uma Noite de Verão” nas ondas digitalizadas do CD-ROM. Não tem mais essa de “ser ou não ser”, a questão (eis a questão) é, “recebestes meu email?”.

E basta um crash no disco rígido para que a existência entre em colapso, e um insaciável desejo de ser pedra assuma os controles do inconsciente mórbido do homem moderno.

Desliguei a tomada e tornei a ligá-la. Nada. Estavam todos mortos: a placa mãe, o pai de santo, o placar eletrônico, os personagens do Walt Disney—minha avó, vocês.

Pois é assim que antevejo o fim da raça humana: uma epidemia de erros fatais penetrando discos rígidos; computadores definhando, micros infectados por um vírus intergalático, as luzes das cidades extinguindo-se uma a uma, de Manhatam à Cidade de Deus, de Amsterdã a Belém do Pará, da Palestina ao outro lado da rua onde moro, onde tremo de frio, com medo de ratos, sem computador, tomado de um pavoroso medo da solidão.

A POESIA das LETRAS da MPB por edu hoffmann

   Poucas culturas populares podem se orgulhar de um representante musical tão rico como a brasileira. Tão grande e magnética que a primeira associação feita no exterior ao nome do Brasil é com a nossa música, junto ao futebol, naturalmente. E as letras merecem um enfoque particular, tema do meu próximo livro, com o título ainda provisório de Frases Musicais.
 
 Tenho pesquisado e anotado as letras mais poéticas, e as mais engraçadas de tudo o que foi gravado na Música Popular brasileira. Mas isso é trabalho para toda a vida, uma vez que os compositores continuam produzindo, sinal que felizmente, e prazerosamente, terei muito o que fazer. Aí vai algumas Frases Musicais selecionadas:
 
          Coragem não está no grito
         nem riqueza na algibeira
        e os pecados de domingo,
        quem paga, morena,
        é segunda-feira
 
Paulo Vanzolini, em Capoeira do Arnaldo, na  voz do bando da Macambira
 
         
        Num relógio é quatro e vinte
        no outro é quatro e meia
        é que de um relógio pra outro
        as horas vareia
 
Adoniram Barbosa, em Tocar na Banda, na voz de Adoniram Barbosa
 
 
          Bahiano não nasce
         Bahiano estréia
 
Moraes Moreira, em Estação Bahia, na voz de Moraes Moreira
 
 
            Meu tesouro é uma viola     
            que a felicidade oculta
           se a vida não dá receita
          eu não vou pagar a consulta
 
Zeca Baleiro em Dindinha, na voz de Ceumar
 
                Esse pobre navegante
                meu coração amante
                enfrentou a tempestade
                no mar da paixão e da loucura
                fruto da minha aventura
                em busca da felicidade
 
Paulinho da Viola, em Coração Leviano, na voz de Paulinho da Viola.
 
 
                   Morena, minha morena
                tire a roupa da janela
                vendo a roupa sem a dona
                eu penso na dona sem ela
 
Popular, adaptação de Tom Zé, em Morena, na voz de Tom Zé
 
        
                  Deixe em paz meu coração
                  que ele é um pote até aqui de mágoa
                  e qualquer desatenção – faça não
                  pode ser a gota d ´água
 
Chico Buarque, em Gota D´água, na voz de Chico Buarque 
 
 
                      Hoje, eu quero a rosa mais linda que houver
                      e a primeira estrela que vier
                      para enfeitar a noite do meu bem
 
Dolores Duran em A Noite do Meu Bem, na voz de Dolores Duran
 
 
                     A esperança dança
                     na corda bamba de sombrinha
                     e em cada passo dessa linha
                     pode se machucar
 
João Bosco/Aldir Blanc em O Bêbado e o Equilibrista, na voz de Elis Regina
 
 
 
 
 
 
 
                 Queixo-me às rosas
                 mas que bobagem, as rosas não falam
                 simplesmente as rosas exalam
                 o perfume que roubam de ti
 
Cartola, em As Rosas Não Falam, na voz de Beth carvalho
 
 
                   Cheguei na beira do porto onde as ondas se espaia
                   as garças dá maia volta, e senta na beira da praia
                   e o cuitelinho não gosta, que o botão da rosa caia
                   Ai, ai
 
Tema recolhido por Paulo Vanzolini e Antonio Xandó, em Cuitelinho, na voz
de Maria Marta.
 
 
                Tire o seu sorriso do caminho
                que eu quero passar com a minha dor
                hoje pra você eu sou espinho
                espinho não machuca a flor
                 eu só errei quando juntei minh´alma à tua
                o sol não pode viver perto da lua
 
Guilherme de Brito/Alcides Caminha/Nelson Cavaquinho em A Flor e o Espinho,
na voz de Nelson Cavaquinho.
 
 
                     Morena se acaso um dia
                     a tempestade te apanhar,
                     não foge da ventania,
                     da chuva que rodopia,
                     sou eu mesmo a te abraçar
 
Toquinho/Paulo Vanzolini em Boca da Noite, na voz de Márcia
 
 
                        Ô mulata assanhada
                     que passa com graça, fazendo pirraça,
                     fingindo inocente
                     tirando o sossego da gente
 
Ataulpho Alves em Mulata Assanhada, na voz de Elizeth cardoso, com
Jacob do Bandolim e Conjunto Época de Ouro.
 
                           Sabão, um pedacinho assim
                          A água, um pinguinho assim
                          o tanque, um tanquinho assim
                          a roupa, um montão assim
                          pra lavar a roupa da minha Sinhá
                          pra lavar a roupa da minha Sinhá
 
Nilo Chagas/Monsueto Menezes/João Vieira Filho em Lamento da Lavadeira,
na voz de Marlene.  
 
                            Ai, ai, ai Izaura
                            hoje eu não posso ficar
                            se eu cair em seus braços
                            não há despertador
                            que me faça acordar
 
Herivelto Martins/Roberto Roberti, em Izaura, na voz dos Demônios da Garoa.
 
 
                            Meu Deus eu ando com o sapato furado
                           tenho a mania de andar engravatado
                           a minha cama é um pedaço de esteira
                           E uma lata velha que me serve de cadeira
 
João da Baiana, em Cabide de Molambo, na voz de João da Baiana
 
 
                           Te  chamei de querida
                           te ensinei todos os auto-reverses da vida
                           e o movimento de translação que faz a terra girar
                           te falei que o importante é competir
                           mas te mato de pancada se você não ganhar
 
Dinho/Bento Hinoto, em Uma Arlinda Mulher, com os Mamonas assassinas.
 
 
                           Amor lá no morro
                       é amor pra chuchu
                       as rimas do samba
                       não são “y love you”
                      e esse negócio de alô
                      alô boy, alô Jone
                      só pode ser conversa de telefone
 
Noel Rosa em Não tem Tradução, na voz de Aracy de Almeida
                      

                       Eu vejo as pernas de louça da moça que passa
                       e não posso pegar
                       tô me guardando pra quando o carnaval chegar

 
Chico Buarque em Pra Quando o Carnaval Chegar, na voz de Chico Buarque
 
 
                           Sonhei toda a noite e pensei
                           nos beijos de amor que te dei
                           Ioiô meu benzinho do meu coração
                           me leva contigo, não me deixa mais não
 
Luiz Peixoto/Marques Porto/Henrique Vogeler em Linda Flor(Ai, Ioiô), na voz de Isaura Garcia.
 
 
   Então, isso é só um pedacinho da boa poesia da nossa MPB.  Aguardem o livro!