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COMÉ QUE FICA MEU PREJUÍZO? conto de marilda confortin

Me dá um misto frio e um pingado.

 

Encostados no balcão de uma lanchonete da rodoferroviária de Curitiba, Dionísio e Abreu tomam o costumeiro café da manhã.  Trabalham na redondeza  e divertem-se ouvindo trechos de conversas de pessoas desconhecidas que passam pela estação. Quando elas partem, os dois continuam o trecho do diálogo que ouviram, colocando-o no contexto de suas próprias vidas.  

O viajante que pediu o misto frio, dá uma mordida no sanduíche, mastiga, faz uma expressão de quem está experimentando um sabor inesperado e olha intrigado para o lanche.  Toma um gole do pingado, dá uma abocanhada maior, mastiga, mastiga, franze a testa, morde de novo, engole e olha interrogativo para sanduíche esperando uma explicação. Repete isso várias vezes, até restar somente um terço do pão.

 

    Moça, não tem queijo aqui nesse misto!

 

A garçonete pega o resto do sanduíche que sobrou na mão dele, abre-o e constata que não tem queijo. Mostra para as outras moças. Cochicha no ouvido da amiga, dizendo que talvez o sujeito já tenha comido todo o queijo. Uma delas cheira o sanduíche e confirma que não tem cheiro de queijo. A outra sugere dar uma fatia de queijo para o freguês ficar quieto.

 

     Não quero uma fatia de queijo. Eu pedi um misto: pão, presunto e queijo.

A moça, tentando evitar discussões constrangedoras, lhe oferece mais um misto frio de graça.

 

  Não quero outro. Quero esse que pedi. Comé que fica meu prejuízo!

 

Sem saber mais o que fazer, a garçonete chama o gerente e explica a situação. Ele propõe descontar o valor da fatia de queijo. O passageiro com expressão de descontentamento fala: 

 

   Não quero desconto, já perdi a fome. Quero saber comé que fica meu prejuízo!

 

O gerente, sem saber o que responder para o freguês, tenta acalmá-lo e propõe devolver todo o dinheiro que ele pagara pelo sanduíche.

 

   Não quero restituição. Não quero dinheiro!  Você não entende? Você não pode me restituir o que eu nunca tive. Você não pode me dar o que não tem. Você não pode fazer nada.  Nada!  Eu só quero saber COMÉ QUE FICA MEU PREJUÍZO! 

 

         Dionísio e Abreu retiraram-se calados. A pergunta do passageiro martelava em suas mentes.  

Como é que fica meu prejuízo? Quem vai nos restituir o apetite depois de enganada a fome?  Como preencher a ausência daquilo que nunca existiu? Como explicar a frustração de algo que nem aconteceu? A quem explicar? Por que explicar? Como cobrar uma dívida de alguém que nem sabe que é devedor? Como consolar quem passou dois terços da vida esperando encontrar a “fatia de queijo”, que nuca existiu? Como ressarcir o tempo, o gosto, a vontade, o prazer? Quem vai nos restituir a vida que tínhamos direito de viver? Quem? Comé que fica meu prejuízo? 

 

COMÉ QUE FICA MEU PREJUÍZO? VOCÊ NÃO ENTENDE?

 

VOCÊS NÃO ENTENDEM?

 

rodoviária. ilustração do site.

GÊNESE da MORTE poema do joão batista do lago

Ó criatura iluminada da minha existência

Vens a mim com tua soberania imaculada (e)

Viajemos pelos túneis diversos dos tempos

Que nos revelam o espaço de novas moradas

 

 

Vens, ó doce criatura, em majestosa carruagem

Traze contigo as jovens filhas do Sol

Para podermos atravessar o mágico portal

Que nos levará à eqüidade voluptuosa do fogo eterno

 

 

Vens e traze contigo o fogo do deus Sol

Para queimarmos nosso tempo invernoso

Para que eu não retorne às casas noturnas

Onde só a escuridão e o sono são companheiros

 

 

Vens, ó santa criatura, e atravessemos os umbrais

Ainda que eles nos queiram impingir as dores

Dores do parto que haveremos de fazer (e assim)

Quebremos os grilhões de amores infaustos

 

 

Vens, ó irmã gémea, vida e morte do meu ser

Filha, como eu, do Oráculo do Saber

Templo que tudo principia – e finda! –

Casa do instante, senhor de toda democracia

 

 

Vens, ó espírito do minha alma,

Viver, não é preciso não!… Morrer toda Necessidade!…

Necessidade do Princípio sem início… sem fim

Sem as correntes que sufocam toda Verdade

 

 

Vens, enfim, ó bela e santa Morte!

Gruda-me ao peito e me carregas ao seio

Quero contigo sorver do vinho da Virtude

Quero contigo embriagar-me nas vinhas da Justiça

HIROSHIMA poema de manoel de andrade

              

Hiroshima, Hiroshima
rosa rubra do oriente
fragrância de cerejeira
céu de anil no sol nascente.

Farol de luz no estuário
remanso dos vendavais
porto e escala dos juncos
roteiro dos samurais.

Verão de quarenta e cinco
no dia seis de agosto.
Clareando as águas do delta
a aurora beija o teu rosto.

Surge o Sol, se abre o dia
na luz e no movimento.
Tudo era paz e alegria
e nenhum pressentimento.

Teus colibris revoavam
no fresco azul dos teus ares
eram os casais, eram os ninhos
carícias, trino e cantares.

O arroz na água e na espiga
talo e seiva a palpitar
os rosais desabrochando
e os girassóis a girar.

Vidas…teu rosto eram vidas
nos campos e nos quintais
nos jardins, na verde relva
na algazarra dos pardais.

Folguedos, danças, cantigas
tua infância sem receios
teus escolares em flor
correndo pelos recreios.

As horas cruzavam o dia
os pais e os filhos na praça
o povo cruzava as ruas
cruzava o céu a desgraça.

De repente nos teus ares
a Águia do Norte, o Falcão
e num segundo, em teus lares,
gritos, fogo, turbilhão.

O beijo carbonizando
a luz devorando o dia
a carne viva queimando
na instantânea agonia.

No céu… um avião se afasta
na voz… a missão cumprida
no chão… a dor que se arrasta
e  a  cidade  destruída. 

Quem eras tu, Hiroshima
naquele dia distante…?
Eras sonhos e  esperanças
incendiados num instante…

Quantos projetos de vida
mil sonhos acalentados
quantas mil juras de amor
nos lábios dos namorados.

Eras  filhote no ninho
eras fruto no pomar                                        
canteiro de brancas rosas                                
e toda a vida a cantar.

Eras mãe, eras criança
e no útero eras semente
ontem eras a esperança
e agora o braseiro ardente

Por que Hiroshima, por quê…?             
o punhal de fogo, a explosão…?           
Por que cem  mil corações
ardendo sem compaixão…?

Tua inocência  cremada
na fogueira do delírio.
Tua imagem retratada
na estampa do martírio.

Teu sangue vive na história
nas cicatrizes ardentes
nas lágrimas,  na memória
na dor dos sobreviventes.

Quem previu tua agonia ?
Quem explodiu tua paz ?
Quem tatuou nos teus  lábios
as palavras: nunca mais!?

Comandantes, comandados…
quem são os donos da guerra…?
e em que tribunal se julgam,
os genocídios da Terra…?

Por tanta dor, rogo a Deus
na minha prece tardia
que guarde no seu amor
os mártires daquele dia.

Hiroshima, flor da vida,
semente, ressurreição.
Fênix, face  renascida.
PAZ, santuário, canção.
                                                                       

Curitiba, agosto de 2005

Este poema consta do livro “CANTARES” publicado por  Escrituras.

      com todos os créditos. ilustração do site.

ESCREVER & EDITAR: O TRIUMPHO DO GUERREIRO – por jairo pereira

O q. nos leva a editar livro de poesia hoje? Amor q. temos ao ofício?! Ato de materialização/exteriorização do ego?! Necessidade de aplauso e amostragem de talento!? Mero exercício de profissionalismo, de quem escreve?! Creio q. tudo isso ao mesmo tempo. Além de reagir o poeta, a um estado de coisas q. o oprime. A poesia não tem o merecido valor. Os editores (vendedores de livros e na acepção plena dessa palavra “livro” cabe todo tipo de lixo subliterário e literesseiro) tão nem aí, com a melhor poesia brasileira contemporânea, editada por conta e risco dos próprios poetas. Muitos vendem o carro, a velha bicicleta & outras tralhas, pra ver seu livro publicado. Comigo, isso cansou de acontecer. Quem sabe, se nada tivesse editado, não amargasse a situação q. vivo hoje?! Bem q. aquele dinheirinho investido ali, no meu, digamos assim, projeto ético-estético-existencial, me quebraria agora aquele galho. Foram sete livros editados de edição do autor, com alguma parceria parcial, num q. outro. Conheci muitos gráficos beberrões e altaneiros. Meu novo livro de poemas Anemoria, pacote de biscoito protonathural, 180 pgs. de pura vertigem, esforço e acidente dos sentidos, jaz na cabeceira da cama, como ser natimorto em sua palidez de ofício 4. Contemplo-o no todo dia, e fico imaginando qual a alma ediográphica a bancá-lo um dia!? Não tenho mais carro, nem bicicleta, nem outras tralhas. Os horizontes são de névoa densa, e nada vejo. Um mecenas pra poesia. Um louco, anárquico em ato, transgressor no mercado ordinathural de livros, é o q. todos esperamos, baixe por aí um dia, e ilumine as trevas. Escrever & editar, publicar: o triumpho do guerreiro. Assim é como vejo a sanha desses poetas insubservientes ao sistemão castrador. Um brinde à imaginação companheiro. Um brinde ao prazer. Logótica, concepção: fazer e mostrar. Fazer e empurrar goela abaixo, ante toda torpeza dos tiranos. A crítica destruidora. As “igrejas poéticas” com seus bispos consagrados, aliados a mídia lacaia, operando a exclusão do talento. Contra tudo isso e mais um pouco os jovens poetas e a poesia lutam, insurgem-se, com as catanas afiadas a dente.  Nem aí estou, com a corja q. sacrifica o talento alheio. Cuidem-se os meninos com os falsos mestres. Em poesia o superlux, está em ti mesmo poeta, teu imaginário, projeção de ser, ideovisão de mundo, etc e tal. Abaixo os diluidores. Afaste de mim Senhor, a forma q. atravessa o tempo e cala no conteúdo do viver/hoje. Maestro de seus ritmos dissolutos, o poeta, impõe sua própria presença (ideophilotética). Entenda como quiser, q. essa tirei do fundo mais fundo da alma. Alma de poeta é thurva. Disso é bom q. todos saibam. Poeta suja e confunde, embaralha as coisas, por mero deleite. O signo trai significante e significado, na busca do outro eu, q. está em outra linguagem/linguagens, e um dizer no tempo, revoluciona todos os modos de ver e apreender as coisas. A poesia deixa de ser ingênua. Abaixo os líricos. O poeta não é mais o otário dos signos. Otário, ante os poderosos. Otário entre editores e livreiros desclassificados. O poeta erigir seu próprio mundo: compra, venda, transações afins, edições, publicações, prêmios, contidos no gesto ecumênico, de reação aos falhos atos dos pulhas. Um mundo poético há de ser erigido, com seu pequeno livro, meu amigo. Seu pequeno volume de poemas, sustenta uma coluna importante, nesse coliseum q. construímos da noite pro dia. Depois, da saída do boteco aquela noite, foi q. deliberamos revolutear o tudo. Linda aquela poeta, na manhã singela, dizendo poemas aos motoristas no sinaleiro. Um caos, o q. o poeta provocou na missa de sétimo dia do terceiro Drummond. Febre, vertigem do dizer e ser dito. Meu cavalo no vendaval. Meu cavalo (eu) meu corpo, oferecido ao tempo e ao vento. É isso menino, de um poema frágil alma lêtrica, enlevar a vida, como pode-se, e deve-se. Q. a força de minhas palavras, arem essas terras secas. Q. a força de tuas palavras, configurem a nova vida. Q. a força de nossa action poétic, invada todos os estádios do conhecimento. Poeta é de saber resistir, resiste a todas as realidades. AMOR é de se ter amor. Amor deixa tudo lindo. Pra ficar bonito, deve se ganhar amor. Amor q. anima e ilumina em amor as coisas e os seres. É de se ter amor, meu filho, minha menina de operações nathurais do viver e amar (POESIA). Um pai merece mais q. dois beijos por dia. Um pai de amor imensurável, convolar vontades de só amar. Amar na palavra q. encanta e ilumina. A poesia veste-se com roupas simples (palavras perdidas no dicionário). Anima e revoluciona o dizer. Tua consciência torpe, refratária à poesia, silencia ante o poder da palavra em estado de graça. No ritmo dessa nova música, um novo poeta se enleva como gram nominador das coisas. Pra q. poesia, se o povo não lê? Pra q. pão se o povo não come? Pra q. revolução dos ditos, se o sol continua o mesmo? Pra q. crescer, vituperar, no mesmo santo lugar? Perguntam os deuses aos seus filhos, das palavras e dos pensamentos. Enganam as imagens, pra um mesmo fim, de exercitar as linguagens. Espiritho santo da poesia, baixe sobre nós, no primeiro evangelho dos tempos novos q. tudo se renova na face dessa terra dura. Meus filhos pastoreiam signos difusos, só por prazer, e outras linguagens nascem de seu viver, estar no mundo. Tá vendo, não consigo manter o pensamento numa só linha. Os empeços, emoções desenfreadas, golpeiam meus ditos no transespaçotempo. Outro texto, a compor um livro, onde botei tudo pra fora, com a ira santa de poeta convulso. Foda Sr. dos Precipícios, com suas ofertas de consumo, dinheiro e poder. Minhas palavras sempre as mesmas, renovadas nas energias cósmicas. Minhas palavras pastoreadas, como vespas límias, dos pântanos (escrever, viver, editar) aos céus da lira entusiasmada. Minhas palavras, minha serventia e meu deus. Carne de minha carne, nervo de meus nervos, vida de minha vida. Onde andam as inaugurações?! Espaços no espaço, das novas gerações?! Onde os princípios alentados do futuro?! Poeta q. é poeta sabe disso: como um mar as linguagens existirem em fluxos/refluxos. Pela primeira vez, enganei-me com meus livros. Enganei, menti pra mim mesmo, q. o q. fiz, sonhei, realizei era poesia. Pela primeira e última vez, não senti os golpes da sorte, os chega-pra-lá dos insanos. Toda loucura-boa, é de ter futuro, construir no tempo. Meu são desiquilíbrio-construtivo. Animar o inanimado. Porfiar, no escuro de noites azeviches. Prata minha espada poética. Não tem futuro a não-convicção dos ditos. Não tem futuro, não expande, não progride… uma alma fleme no mundo. Escrever & editar, o triumpho do guerreiro, sói armado, com suas palavras de luz e sombra. Ninguém nos irá conter, meninos. Este SOL intenso. Este mar aberto em azul. Horizontes de luz extensa. Veredas de poemas, palavras, inscritos na memória, levantes de signos, semeaduras, hígidas inaugurações com os signos. Adiante, poeta, uma luz particular te ofusca. Uma luz um bólido transluzente, incendeia tua alma. Das estrelas longínquas o lux-singular desafia teu talento. Em muitas estrelas passei com minhas variações do dizer. Abduzi sentenças, naquelas espheras cósmicas. Quando peguei a esphera positrônica, q. emitia linguagens raras, em minhas mãos, percebi no Asteróide Azqhiph’tz 8800, a confluência universal das matrizes sígnicas. É dali amigo, q. tudo provém. Tudo emana, em luzes cálidas. Tudo, lança conceitos, atos, projeções, reflexos, de seres e coisas, espectros diluidores de imagens matriciais. E, foi só de colocar minhas mãos ali, tocar as espheras de ditos, detratoras almas contritas, q. assimilei linguagens novas, invasoras de meus ditos. Vou te dar no favo protonathural, menino uma pequena mostra do q. vivo. Vivo bem, com meus conflitos. Penso, logo insisto, persigo a mônada passageira no meu dia de domingo. O pai, meu pai, dispensou-me da marcenaria um dia, porque a serra circular quase me atora as mãos. Naquele exato momento, me nascia o primeiro poema estroncho q. quase me decepa. Lembro até hoje, a circular rangendo seu grito-trabalho, nas tábuas planas. Longos anos de ofício, de mascar pau, destinados a meu pai, q. assim dizia: mascar pau… mascar pau. Sete filhos, pro sustento: seus livros escritos pro futuro. Cada qual com seu ofício. Meu destino, minha fé, meu espaço no tempo do superespaço. O pai me tocou pra fora da oficina, e depois daquele dia, nos irreconhecemos nas pretensões megacósmicas, embora, nos reconhecêssemos em tudo mais q. era aventura de viver e amar a nathureza. Pro pai, o seu louquinho-bom, não iria dar certo nunca. Mas uma grande alegria (pensou) é vê-lo em debate, no viver sem precedentes, vestido de poema para o futuro. O futuro esse pássaro de asas de prata ou carbono, q. dá rasantes vôos sobre as pitangueiras em flor.

Adios minhas almas noctâmbulas, olhares de asco & indiferença, adeus centauros gordos dos gabinetes dos maus espírithos, adeus céu e adeus amar de minha solitude: abandono-me no dentro de um poema em sendo, áspero como uma pinha.

 

 

jAirO pEreIrA

Autor de O antilugar da poesia,

O abduzido e outros.

 

 

 

                                          ilustração do site. 

MPB – UMA EXPRESSÃO AMBÍGUA (IV) – por alberto moby

Aparentemente, é por mera coincidência que, ao mesmo tempo em que os compositores da MPB são empurrados para o hermetismo de canções de difícil compreensão até para o público intelectualizado e admirador da música “universitária”, comece a surgir no país uma preocupação com o resgate da memória musical brasileira. Essa coincidência, no entanto, não seria senão resultado de uma tática cuja estratégia visa à sobrevivência profissional de cantores, compositores (no Brasil, é comum que ambos se encontrem em uma só pessoa, embora não tenhamos, como na língua espanhola, uma palavra – cantautor – para designá-la) e da própria MPB. No entanto, entre o quebra-cabeças e o jogo da memória, “ludicamente”, a indústria fonográfica optaria por ambos. Já nos shows, nem sempre era de trânsito fácil o primeiro. Paralelamente à onda de regravações dos antigos, velhos compositores ainda vivos àquela época e já praticamente esquecidos pelo mercado musical e fonográfico começam a ressurgir: Cartola, Nelson Cavaquinho, Ismael Silva e outros são alçados de seu quase total ostracismo para “reiluminar” o cenário musical brasileiro. O ressurgimento dessas “vozes que nos chegam do passado”, para usarmos uma expressão, ainda que impropriamente, de Phillipe Joutard[1] , parece estar mais ligado à invenção de uma tradição, nos termos em que Eric Hobsbawm a utiliza[2] do que a uma coincidência. Hobsbawm lembra que “inventam-se novas tradições quando ocorrem transformações suficientemente amplas e rápidas tanto do lado da demanda quanto da oferta”[3] . Ele afirma ainda que as tradições inventadas podem ser de três tipos: as que estabelecem ou simbolizam a coesão social ou as condições de admissão de um grupo ou de comunidades reais ou artificiais; as que estabelecem ou legitimam instituições, status ou relações de autoridade; ou as que têm como objetivo a socialização, a inculcação de idéias, sistemas de valores e padrões de comportamento[4].

Dado o quadro que tentei traçar acima, parece que a invenção da tradição no sentido da reincorporação de compositores mais antigos no cenário musical dos anos 70, seja resgatando os ainda vivos, seja através da regravação de antigos sucessos na voz de cantores novos, tinha como objetivo, além de produzir condições de coesão social – principalmente entre o público ouvinte das grandes cidades, de classe média e nível universitário – na luta contra a ditadura militar, tam-bém ocupar uma lacuna criada pela forte censura às letras de canções que fez com que caísse tanto em termos quantitativos quanto em qualidade (apesar dos defensores descabelados da qualidade intrínseca do texto musical sob censura) o padrão da MPB em relação à década anterior.
O cantor, talvez mais nesse momento do que em qualquer outro, é, sem dúvida, um agente da memória. Movidos talvez não apenas péla necessidade de furar o bloqueio da Censura, mas também pelo sentimento de que era necessário resgatar do passado uma tradição de beleza e criatividade da MPB, ou ainda pelo desejo de implodir, através de um discurso produzido pelos que já não faziam parte do presente – e, portanto, praticamente imunes à tesoura da Censura -, o bloqueio do discurso interdito, os cantores dos anos 70 viam no repertório de compositores de outras décadas uma opção bastante eficaz. Não é por outra razão que o compositor, mas também (e principalmente, nesse momento) cantor Paulinho da Viola declara à revista Veja, a respeito de seu disco Nervos de aço, de fins de 1973: “O disco ficou meio nostálgico porque a gente acaba se voltando para uma época onde as coisas eram melhores, mais abertas”[5].

Ironicamente, Paulinho da Viola consolidaria seu repertório de cantor gravando, ao lado de composições suas e de parceiros, canções de compositores como Ismael Silva e Wilson Batista, que também viveram período de censura rigorosíssima, mesmo que de caráter bastante diverso.

A onda de nostalgia era reconhecida até pela imprensa da época. Embora fosse “presença inevitável nos discos de cantores de prestígio no Brasil”[6], a revista Veja chamava a atenção para o fato e que “impacto brusco de um vagalhão e a extensão de uma epidemia, a nostalgia, que já foi até capa de revista, invadiu também o mercado musical”[7], apontando para estratégias semelhantes talvez em outras manifestações culturais do país. E continua: “Regravam-se canções que o mais ferrenho colecionador tinha esquecido”[8]. Só em 1973 foram lançados, entre outros, os discos Elis, de Elis Regina, Nervos de aço, de Paulinho da Viola, Caminhada, de Marília Medalha, Canto por um novo dia, de Beth Carvalho, Alaíde Costa & Oscar Castro Neves, todos contendo duas canções de compositores antigos cada um.

Ao mesmo tempo, shows como o da ex-“jovem-guarda” Wanderléa (Maravilhosa, no Teatro Tereza Raquel, em fevereiro) traziam em sua maioria sucessos dos anos 40 e 50[9], como também foi o caso do show Drama, de Maria Bethânia, em outubro.

Ao mesmo tempo, cantores/compositores praticamente esquecidos voltavam à cena musical. É o caso, por exemplo, do cantor e compositor Synval Silva que, aos 61 anos de idade, gravava o seu primeiro LP, de Lupiscínio Rodrigues, que aos 55 anos gravava o LP Dor de cotovelo, depois de 21 anos sem gravar, e de Moreira da Silva (dois LPs, por gravadoras diferentes, no mesmo mês – novembro de 1973), com 71 anos de idade. Além disso, cantores/compositores não tão antigos no cenário musical brasileiro, mas com obras relativamente consolidadas, gravaram também discos retrospectivos, como Zé Kétti (um LP e um compacto simples) e Jorge Ben (LP com pout pourris contendo 21 de suas canções lançadas nos anos 60).

No ano seguinte, o quadro não se modificaria. O LP Aprender a nadar, de Jards Macalé, lançado em maio, continha nada menos que seis composições já consagradas de compositores antigos. Aliás, o próprio título do LP, se estou certo, era já sintomático, numa época em que a censura “afogava” a criatividade desse e de vários outros compositores. O LP Temporada de verão, com Caetano Veloso, Gal Costa e Gilberto Gil, continha também três canções antigas, cada um dos cantores interpretando uma delas. Elis Regina, que no disco anterior já comparecia com canções de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, da velha-guarda da Escola de Samba Mangueira, e de Pedro Caetano (É com esse que eu vou, lançada no ano de 1948 pelos Quatro Ases e Um Curinga)[10], em 1974 grava um LP retrospectivo da obra de Tom Jobim. Aliás, outra cantora, também em 1974, gravava LP retrospectivo de Tom Jobim: Eliseth Cardoso. São também daquele ano discos de Cartola e de Adoniram Barbosa, representantes do que o jornal Opinião chamava de “bloco de discos-documentário, um inventário de uma cultura que parece estratificada” em meio a uma “coleção que documenta o folclore do centro-sul, discos de cantores, repentistas e outros ativos exemplos de cultura popular não intelectualizada”, o que leva o articulista a perguntar, ironicamente: “Teria a música popular brasileira parado de pensar?”[11]
Fosse qual fosse a resposta – e o Opinião sabia certamente qual era –, a verdade é que crescia o número de cantores (independentemente de serem também compositores), como é o caso de Paulinho da Viola e, particularmente, de Chico Buarque, com o LP Sinal fechado, apenas com canções de outros compositores, quase todos antigos (à exceção de uma, Chame o ladrão, que Chico atribuía à dupla fictícia Julinho de Adelaide e Leonel Paiva), que incorporavam a seus repertórios de discos e apresentações em público os nomes consagrados da música popular brasileira. Esse movimento, que continuou forte até meados dos anos 80 e que ainda sobrevive no mercado musical brasileiro, além de haver inventado a tradição de se incorporar aos discos e shows compositores antigos do chamado “cancioneiro popular”, foi ainda o responsável por outra invenção mais sutil: a de que a MPB – na verdade um segmento da música popular brasileira ligado à classe média, intelectualizada, universitária, como tentei demonstrar – era a herdeira legítima e exclusiva dos compositores populares surgidos nos cerca de 40 anos compreendidos entre as décadas de 1920 e 1960.

É importante lembrar, com Pierre Nora: “Porque é afetiva e mágica, a memória não se acomoda a detalhes que a confortam; ela se alimenta de lembranças vagas, telescópicas, globais ou flutuantes, particulares ou simbólicas, sensível a todas as transferências, cenas, censura ou projeções”[12].

Ao cruzarmos a observação de Nora com a de Hobsbawm sobre as tradições inventadas, teremos claramente o surgimento de um movimento, ainda que não planejado – já que as tradições inventadas “são reações a situações novas que ou assumem a forma de referência a situações anteriores, ou estabelecem seu próprio passado através da repetição quase que obrigatória”[13] –, cujo principal objetivo é o combate ou, no mínimo, a resistência dos cantores à ditadura militar.

Obviamente, a indústria cultural (fonográfica, de espetáculos, rádio, TV, etc.) soube tirar proveito da nova situação, perpetuando-a praticamente até os dias de hoje.

De qualquer forma, a estratégia parece ter tido os resultados esperados. Cantores como Gal Costa, Maria Bethânia e Elis Regina, por exemplo, ou Ney Matogrosso, Simone, a partir dos anos imediatamente posteriores a 1973-74, tiveram suas carreiras consolidadas devido, em grande parte, a essa estratégia. Ao inventarem a tradição de uma MPB herdeira de uma música popular rica e criativa – uma verdade, mas pela metade – os intérpretes dos anos 70 parecem ter se esquecido (porque a memória é seletiva…), não se sabe até que ponto propositalmente, que em outros períodos, com ênfase para o Estado Novo, a música popular, também sob censura, teve que se adequar às regras do jogo – e quase nunca pela via da resistência. E aí a invenção da tradição, dialeticamente, transforma em elemento de sua estratégia de combate o que antes pôde estar vinculado à capitulação ante a própria Censura.

A invenção dessa tradição foi algo tão importante que, além de demarcar, no mercado, o segmento MPB, na luta contra o regime, um grupo significativo de cantores e compositores identificados com a classe média urbana intelectualizada, conseguiu consolidar-se como representação do real que até hoje é aceita e reproduzida pelos grupos sociais urbanos brasileiros. Em 1991, quando de sua estréia tardia como cantor, aos 44 anos, o compositor Péricles Cavalcanti, autor de vários sucessos gravados por Gal Costa, Caetano Veloso, Miúcha, Fafá de Belém e outros, afirmava, com convicção, no samba Dos prazeres das canções: “Eu sou um mero sucessor/a minha estirpe sempre esteve/ao seu dispor”, citando na canção “Herivelto [Martins], [Dorival] Caymmi, Sinhô, [Assis] Valente, [Wilson] Batista, Noel [Rosa] e Heitor [dos Prazeres]”. Segundo Tárik de Souza, autor de uma resenha do disco para o Jornal do Brasil[14], “a linha evolutiva” retomava “o fio da meada”…

É claro que todas estas reflexões foram construídas apenas sobre indícios. “Quando as causas não são reproduzíveis, só resta inferi-las a partir dos efeitos”[15]. É praticamente impossível sabermos com certeza até aonde ia a estratégia deliberada, até aonde se configurava um processo meramente intuitivo. De qualquer forma, até mesmo a intuição é social e histórica. Não existe consciência solta no espaço e no tempo. “A consciência adquire forma e existência nos signos criados por um grupo organizado no curso de suas relações sociais”[16]. Assim, guio-me apenas por algumas poucas entrevistas em que alguns cantores foram instados a explicar suas escolhas de repertório baseadas em compositores tradicionais do cancioneiro popular brasileiro, ou nos “sinais” fornecidos pelo próprio material gravado ou apresentado nos shows realizados naquele período. Nesse sentido, parece-me que o depoimento mais significativo a esse respeito foi o de Elis Regina, nas “páginas amarelas” da revista Veja, em 01/05/1974. Na entrevista, Elis é questionada sobre a validade/necessidade de apoiar-se em Tom Jobim para realizar um disco, ao que responde:

Veja bem, para não fazer uma retrospectiva convencional, eu só rinha duas saídas. Apoiar a LP na obra de um compositor como o Tom, pois o Chico, Caetano e Edu Lobo, por exemplo, começaram comigo. Ou tentar fazer um trabalho baseado em gente nova. Lamentavelmente, porém, por uma série de razões, algumas delas muito conhecidas, nos últimos anos um imenso vazio vem sufocando a música brasileira. A partir dessa triste constatação, estou procurando coisas antigas que possam ser apresentadas, com arranjos de agora, como se fossem atuais ou mesmo inéditas. Redescobrindo Ary Barroso, por exemplo. Não se trata de nostalgia. Há músicas que duram séculos e não são superadas.[17]

Nessa entrevista, três pontos me parecem fundamentais: 1) há razões conhecidas, ainda que não ditas, para um “imenso vazio” na música popular brasileira; 2) Elis fala em redescobrir Ary Barroso, embora a entrevista trate de uma retrospectiva baseada em Tom Jobim, demonstrando uma preocupação mais geral da cantora com um repertório de outros tempos; 3) Elis não admite que sua escolha seja nostálgica, apontando mais (como eu defendo) para uma estratégia de resistência.

No final de 1974, o então ministro da Educação e Cultura, Ney Braga, “ingenuamente” recomendava ao Departamento de Assuntos Culturais, órgão do MEC, iniciar “uma sondagem entre compositores, pesquisadores e órgãos de produção e divulgação a fim de descobrir as causas da aparente decadência da música popular brasileira e, se possível saná-las”, a propósito de que a jornalista Ana Maria Bahiana retruca: “Quanto ao processo criativo propriamente dito, o ministro por certo não ignora que o cerceamento constante e sistemático da expressão artística não pode trazer nenhum proveito à evolução da vida musical brasileira”[18].

A preocupação de Ney Braga com a “decadência” da música popular brasileira não era exclusivamente sua. Tampouco se referia exclusivamente à música popular. E resultaria na primeira tentativa “séria”, durante o regime militar, a partir do governo Geisel, de contrapor ao rigor da Censura a utilização da cultura como um espaço para a construção de um projeto de hegemonia[19]. Roberto Schwarz apontava, ainda em 1969, que, “apesar da ditadura de direita, há relativa hegemonia cultural da esquerda no país”[20]. A essa hegemonia cultural, o Estado iria contrapor, em 1973, através do então ministro Jarbas Passarinho, o documento Diretrizes para uma Política Nacional de Cultura, que após a sua divulgação foi “misteriosamente” retirado de circulação, demonstrando, ao que parece, não ser aquele ainda o momento. Só em 1975, como resultado da “sondagem” do novo ministro, aparece o documento Política Nacional de Cultura, preparado sob a coordenação de Afonso Arinos de Melo Franco[21]. Mas aí já estamos falando da “distensão lenta, gradual e segura” de Geisel, primórdios de sinais de esgotamento do modelo militar.

O importante é destacar que: a) a expressão MPB não se refere a toda e qualquer manifestação da música popular brasileira, mas à música urbana, produzida e consumida prioritariamente pela classe média intelectualizada; b) diante do rigor do regime militar, cujo auge ocorreu entre 1973 e 1974, a invenção dessa tradição na música popular brasileira pode ter contribuído para que cantores e compositores, paralelamente à luta pela liberalização do regime, sobrevivessem minimamente sem a necessidade de capitulação frente ao autoritarismo, contribuindo, talvez, com sua resistência, para os tímidos passos que, nos anos posteriores, o Estado daria nesse sentido; c) que, contrariamente ao Estado Novo, no período do regime militar estudado nunca houve, efetivamente, uma política de capitalizar as manifestações culturais para seu projeto de hegemonia, nem através da AERP, no governo Médici, nem através do SCDP da Polícia Federal[22], tendo a censura papel apenas silenciador, ao contrário do DIP, responsável principalmente pela propaganda do regime de Vargas.


[1] JOUTARD, Phillipe. Esas voces que nos llegan del pasado. Trad. Nora Pasternac. México: Fondo de Cultura Económica, 1986.

[2] HOBSBAWM, Eric J. “A invenção das tradições”. In: HOBSBAWM, Eric J. & RANGER, Terence. A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.

[3] Idem, p. 13.

[4] Idem, p. 17.

[5] “Comprimido”. Veja, 03/10/1973, p. 92.

[6] “Afinada frieza”. Veja, 08/08/1973, p. 84.

[7] “Naquele tempo…” Veja, 23/05/1973, p. 74.

[8] Ibidem.

[9] Cf. “Para entendidos”. Veja, 07/02/1973, p. 74.

[10] CAETANO, Pedro. Meio século de música popular brasileira: o que fiz, o que vi. Rio de Janeiro: Vida Doméstica, 1984, p. 64.

[11] “Pensamento em crise”. Opinião, n. 92, p. 18, 12/08/1974.

[12] NORA, Pierre Nora. “Entre memória e história: a problemática dos lugares”. Trad. Yara Aun Khoury. Projeto História, São Paulo, n. 10, dez. 1993, p. 7.

[13] HOBSBAWM, “A invenção das tradições”, cit., p. 10.

[14] “Um tropicalista sai dos sombras com 14 ‘canções’”. Jornal do Brasil – Caderno B, 18/08/1991, p. 2.

[15] GINSBURG, Carlo. “Sinais – raízes de um paradigma indiciário”. In: GINSBURG, Mitos, emblemas, sinais, cit., p. 169.

[16] BAKHTIN, Mikhail Bakhtin. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1988, p. 35.

[17] “Quero apenas cantar”. Veja, 01/05/1974, p. 6. Grifos meus.

[18] BAHIANA, Ana Maria. “O ministro e a música”. Opinião, n. 111, p. 20, 20/12/1974.

[19] OLIVEN, Ruben George. “A relação Estado e cultura no Brasil: cortes ou continuidade?” In: MICELI, Sergio (org.). Estado e cultura no Brasil. São Paulo: DIFEL, 1984, p. 51.

[20] COHN, Gabriel. “A concepção oficial da política cultural nos anos 70”. In: MICELI (org.). Estado e cultura no Brasil, cit. p. 88.

[21] Idem, p. 92.

[22] Foram raras as tentativas de cooptação de compositores de que se tem notícia. Mesmo assim, não eram bem recebidas. Em 1971, por exemplo, Chico Buarque desautorizou o governo a utilizar A banda como peça de propaganda oficial, sobre o Dia do Reservista, do Estado-Maior das Forças Armadas, o que lhe valeu, certamente, o acirramento da perseguição da Censura que o compositor iria amargar por toda a década de 1970. Sobre isso, ver “Chico põe nossa música na linha”. Realidade, v. 6, n. 71, p. 78-20, fev. 1972, e “Gente”. Veja, 22/12/71, p. 35.

                  sem credito. ilustração do site. raíssa oliveira.

AS MUITAS VIDAS DE ANNA AKHAMÁTOVA por affonso romano de sant’anna

Anna, a Voz da Rússia – Vida e Obra de Anna Akhmátova (Algol Editora) é o produto  de uma paixão literária  que dura já quatro décadas, surgida quando Lauro Machado Coelho aos dezoito anos adolescia em Belo Horizonte. Mas, sendo obra de  “amante”,  não é coisa de “amador”. Anteriormente, Lauro havia publicado Akhmátova: Poesia 1912-1964 (L&PM, 1991), uma antologia daquela que foi qualificada, pela também poeta   Marina Tsvietáieva, como “Anna de todas as Rússias”.  E, recentemente, ele nos deu a reveladora Poesia Soviética (Algol, 2007), cerca de 600 páginas com uma série de poemas  de autores desconhecidos do grande público, e por ele traduzidos diretamente do russo.

Anna, a Voz da Rússia é não só uma monumental biografia, mas uma requintada façanha editorial, com a capa e    gravuras em preto e branco de Klara Kaiser Mori, um dossiê de fotos sobre a poeta  e seu tempo, a partitura de uma composição de Gilberto Mendes sobre um dos poemas de Anna e um CD com  a voz da poeta e poemas  declamados em português por Beatriz Segal. E, no momento em que este livro está sendo lançado, o compositor Rodolfo Coelho de Souza está terminando a partitura do monodrama Visita  Noturna para a Senhora Akhmátova, cujo libreto foi escrito para ele por Lauro. Ocorre assim a confluência do trabalho do Lauro Machado Coelho tradutor com o do crítico e historiador de música, que tem-nos dado uma enciclopédica História da Ópera  em vários volumes. Mais do que um livro esta edição é um acontecimento.

 

VIDAS E SOBREVIDA

 

             Quantas vidas cabem numa vida? Na de Anna Akhmátova, pelo menos três. Há uma primeira Anna, feliz na infância e parte da juventude. É aquela que vivia  em Pávloski e depois em Tsárskoie Seló, a “aldeia do tsar”, onde  o  arquiteto italiano Rastrelli  erguera,  para Catarina a Grande, um esplêndido palácio.  Ali, ela passeava nos bosques, visitava a coleção de arte do Museu Alexandre III, assistia a concertos e vivia como uma moça culta e bem educada. Aos 13 anos, descobriu a poesia de Aleksandr  Blok, mas quando escreveu seus primeiros versos, o pai advertiu: “Vê se, pelo menos, não envergonha o nome da família”.

            Não envergonhou. Essa descendente longínqua do clã da “Horda Dourada” do Grande Cã conheceria a glória em vida, e compartilharia sua dramática vida  com uma geração de artistas excepcionais como Erenbúrg, Khlébnikov, Maiakóvski, Mandelshtám, Shostakóvitch, Isaac Bábel, Pasternák, Prokófiev, Anna Pávlova, Nijínski, Modigliani. E Iósif Bródski, o Nobel de 1987, cujo talento ela estimulou desde o princípio, foi o encarregado de  escolher onde seria sua sepultura, quando ela morreu, em 1965.

            Enquanto ia se transformando em  um  ícone da poesia russa moderna, Anna experimentou, na carne e no espírito, os círculos dantescos do inferno stalinista, acrescidos do inferno hitlerista. Sua vida sofreria uma abrupta transformação: “Eu como um rio,/fui desviada por esses duros tempos./Deram-me uma vida interina./E ela pôs-se a fluir num curso diferente, /passando pela minha outra vida/ e eu já não reconhecia mais as minhas margens.”

 

            Assim é que o seu biógrafo brasileiro rastreia pormenorizadamente a trajetória da segunda vida de Anna Akhmátova, desde a eclosão da Revolução de 1917, até a implantação dos “gulags” siberianos, à resistência durante o cerco nazista de Leningrado, ao horror da repressão durante a Guerra Fria até que, a partir de 1956, Khrushtchóv iniciasse a abertura que só se consumaria quarenta anos mais tarde.

            Essa é, por consequência, também a Anna de todos os dramas e tragédias. Seu marido, o poeta Gumilióv, foi preso e fuzilado; o filho, Liev, mandado para a Sibéria, enquanto ela era acusada pelos stalinistas de  fazer ” uma poesia  prejudicial e alheia aos interesses do povo” . Expulsa da União de Escritores, ora acometida de tifo, ora  vítima de tuberculose, sendo a “tricentésima da fila” para visitar o filho na cadeia, vendo seus amigos escritores se suicidarem e desaparecerem, mesmo assim, durante o cerco hitlerista a Leningrado, ela lia diariamente, na rádio, poemas que ajudavam a manter o ânimo dos resistentes.  Poderia ter, como outros, abandonado seu país, mas preferiu resistir: “Não , não foi sob um céu estrangeiro,/ nem ao abrigo de asas estrangeiras – eu estava bem no meio de meu povo,/ lá onde o meu povo infelizmente estava”.

            Inacreditáveis e aviltantes  tempos aqueles  em que, “até 1938,  10% da população masculina da URSS foi executada”.  Tempos em que, por causa da morte de uma personalidade como Serguêi Kírov, 40 mil foram deportados, 400 mil se  suicidaram e, só no ano de  1934,  houve 6.501 fuzilamentos: “Esta terra russa gosta,/ gosta do gosto de sangue”.

            Por causa  dessas tragédias, introduz-se na literatura russa um personagem que Akhmátova chama de “o viajante aleijado”, uma metáfora de todos os destroçados pelo  regime comunista e pelas guerras, discursando  melancolicamente sobre os sofrimentos do país, como se fosse um  irremissível ” velho do Restelo” da tradição lusa.

            A poesia de Anna está tão pontuada pela morte quanto pelo amor. Em sua vida tempestuosa, ela casou-se várias vezes e teve trocas afetivas e amorosas com Gumilióv, Modigliani, Nikolái Niedobrovô, Borís Anrep, Shilêiko, Luriê, Púnin, Isaiah Berlin.

            A terceira vida de Anna Akhmátova começa a surgir com o degelo, após a morte de Stalin. Suas obras interditadas começariam a ser republicadas e ela pôde viver numa pequena “dátcha”. Começando a ser reconhecida no exterior, acabou recebendo o  Prêmio Etna Taormina (1960), o título de  doutora “Honoris Causa” pela Universidade de Oxford (1965) e a Unesco decretou 1989 como “o  Ano  Akhmátova”.  Nessa época, os astrônomos russos deram seu nome a uma estrela recém descoberta.

           

ESTRATÉGIAS DA TRADUÇÃO

 

            Lauro Machado Coelho optou por fazer uma biografia em que os fatos e os poemas se explicam e se complementam . Pode-se dizer que é, ao mesmo tempo, uma biografia antológica  e uma antologia biográfica. É uma opção que afasta o vezo formalista que tem afetado tantas vezes a tradução de autores russos para o português. Até porque Akhmátova pertencia ao grupo de poetas de São Petersburgo chamado de  acmeistas, que achavam imprescindível dialogar com a tradição e  não exercitavam o furor vanguardista do grupo de Moscou, a que pertenciam poetas como Maiakóvski e Khlébnikov, siderados pela velocidade das máquinas conforme a ideologia futurista.

 Em Anna Akhmátova, poesia e vida são uma só unidade. Como disse Mandelshtám, antes de ser eliminado pelo regime comunista: “Não sei como é em outros lugares, mas aqui, neste país, a poesia é algo que cura e devolve a vida…Aqui pode-se matar as pessoas por causa da poesia”. 

            Contextualizando os poemas, o biógrafo também recompõe a trágica história dos intelectuais russos no século 20, e nos obriga a repensar a obnubilação ideológica, que fez com que  muitos intelectuais no Ocidente, em sua ingenuidade e alucinação,  fingissem desconhecer o holocausto atrás da “Cortina de Ferro”, mesmo quando, a partir dos anos 30, tornou-se pública e  evidente a política de terror.

            Traduzir é sempre um problema que se procura enfrentar de formas diversas. Há quem queira pretensiosamente recriar e melhorar o original, e  há quem queira ser fiel e transparente ao primeiro texto. No presente caso, o tradutor e biógrafo desobrigou-se de preservar  rimas e métricas que lembrassem o original russo, mas disponibiliza para o leitor o texto original em sua versão fonética.  Cuidou de guarnecer o livro com “anexos” que trazem dados biográficos sobre alguns homens importantes na vida de Anna.

            Em seu acurado trabalho,  Lauro Machado Coelho aceitou o desafio  de fazer um comentário detalhado do longo e  difícil Poema sem Herói de Akhmátova, texto hermético, definido pela autora como mascarada arlequinal  e fantástica,  ocorrida na São Petersburgo de 1913.

            Hoje, quando alguns se espostejam na chamada pós-modernidade, rejubilando-se com a ideologia dominante, é  relevante lembrar  uma poeta da resistência. Nesse sentido, o romancista Valientin Fadêiev escreveria a um comissário do povo, rogando que amenizassem os sofrimentos  da poeta, pois “apesar da incompatibilidade de seu talento com o nosso  tempo, ela permanece a maior poeta da era pré-revolucionária”.

            É isso: para o artista autêntico sempre há uma incompatibilidade entre seu talento e seu tempo.

(*) Poeta, professor, ensaista autor de “Barroco, do quadrado  à elipse” e “Drummond, o gauche no tempo”

 

RETIRANTE poema de zuleika dos reis

Impossível descer mais

morrer mais

debaixo deste Sol

debaixo deste Azul.

 

Retirante secando

sob os sepultados sonhos.

Sob os olhos sucessão

de ossos sobre os campos

tão secos, sob o Sol só olho.

 

Impossível morrer mais

sob estas gretas

esconderijo

de bichos esturricados,

companheiros de tumba.

 

Retirante. Só mais uma

entre os infinitos

fugitivos cada qual

de um Sol diverso

os pés nus sobre os campos gretados

sob os campos minados de si mesmos.

 

Apenas mais uma quase sem lembranças

de pretéritos céus de águas

do que águas possam ser.

A TORTURA é a VERDADEIRA herança MALDITA – por elio gaspari

O ministro da Justiça, Tarso Genro, teve a sua hora como guardião dos direitos humanos e amarelou. Em agosto do ano passado ele deportou os boxeadores cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, que abandonaram a delegação do seu país durante os jogos do Pan.

Rigondeaux, bicampeão olímpico, foi excluído da equipe enviada Pequim. Erislandy fugiu de novo, está na Alemanha e de lá informou:

“Não tivemos nenhum apoio e, sem ninguém para contactar, fomos obrigados a pedir para voltar para Cuba”.

Há algo de oportunismo e de caça ao evento na auto-investidura do comissário Genro como perseguidor de torturadores. Sua estatura como ocupante da cadeira onde sentou-se Diogo Feijó (1831-1832) cabe numa frase dita por ele: “O presidente pode dar um puxão de orelha em qualquer ministro. Isso é da sua competência, mas eu não levei puxão de orelha.” Mesmo assim, Tarso Genro esteve certo em relação aos torturadores.

A tortura foi uma política de Estado durante a ditadura, particularmente entre 1969 e 1977. Como disse o general Vicente de Paulo Dale Coutinho às vesperas de assumir o Ministério do Exército, em 1974: “Ah, o negócio melhorou muito. Agora, melhorou, aqui entre nós, quando começamos a matar.” Como reconheceu um estudo do Centro de Informações do Exército, praticaram-se “ações que qualquer justiça do mundo qualificaria de crime”. Os torturadores cumpriam determinações de seus superiores. Prova disso foi a concessão da Medalha do Pacificador ao delegado Sérgio Fleury, ícone do Esquadrão da Morte e do porão paulista.

A história segundo a qual a tortura e a prática sistemática de assassinatos foi produto de excessos, indisciplina ou deformação moral de subalternos é uma patranha destinada a polir a biografia dos comandantes militares e dos presidentes da República da ocasião.

Se a família de uma vítima da máquina repressiva dos generais, almirantes e brigadeiros, vai à Justiça em busca da responsabilização dos oficiais que comandavam o porão, esse é seu direito. Caberá ao Judiciário decidir se a anistia ampara a outra parte. Pena que fiquem de fora os finados comandantes que mandaram capitães e majores torturar e matar brasileiros.

Há um aspecto relevante nesse debate. É a postura dos atuais comandantes diante da herança maldita da ditadura. Em vez de exorcizá-la, reconhecendo um erro cometido há mais de trinta anos, cavam duas trincheiras. Uma é a do debate inoportuno. Outra é a da negativa da responsabilidade dos hierarcas. Ambas são falsas e o debate é necessário. O desconforto e irritação dos comandantes militares com a tortura é o único tema dos anos 60 e 70 que não desaparece da agenda política nacional. O país já se livrou da inflação e da Telerj, mas a sombra soberba dos DOI-Codi continua aí.

Algo como se o doutor Henrique Meirelles fosse obrigado, hoje, a defender a inflação dos seus antecessores remotos no Banco Central.

Quem vive preso ao passado não são os órfãos do DOI, são os protetores de sua memória.

Os comandantes militares carregam na mochila crimes alheios. (A tortura, assim como o seqüestro, pode ter sido coberta pela anistia, mas crime foi.) Não são as vítimas nem seus parentes que devem calar. São os comandantes que devem se acostumar ao convívio com a História.

CORPORATIVISMO, BRASILIA, CORRUPÇÃO, CEILÂNDIA e CASA DA MÃE JOANA – carta de ánton passaredo

Meu Caro Vidal,

 

Como estão os ares do sul e os ares de Curitiba? Espero que, embora fria como sempre, a cidade esteja vivendo bom astral, mesmo em tempo de eleições.

 

Sobre eleições considero este o momento mais desprestigiado do País. Aliás, por “bom” costume ainda escrevo País com caixa alta. Bobagem, não existe mais países. O planeta está ferrado e países são ficções mantidas para iludir os incautos. Hoje o predomínio é dos blocos. São blocos de nações, algumas nem isto são. Blocos de continentes; blocos de interesses econômicos fortes, capazes de juntar inimigos figadais; blocos de sem terras; blocos de juízes; blocos de favelados. Parece que o corporativismo se instalou em todos os setores. Marx ensinou ao trabalhador e estes ensinaram aos patrões. Ferrou. Agora todo mundo sabe que aliados são ocasionais. Mas e as eleições, o que têm a ver com tudo isto? Tudo meu caro. Este pascácio barbudo que vos fala insiste na tese, vivemos num paiseco que vota porque a lei impede o cidadão de não votar. Se por um ato sonolento qualquer passasse no congresso uma lei deixando ao livre arbítrio do brasileiro a escolha de votar ou não votar, teríamos certamente mais de 50% de abstenções nas capitais e um bom percentual no interior. Assustaria aos mais assustados dos parlamentares. Se vivo estivesse, Enéas esbugalharia os olhos, cofiaria a barba e iria vociferar para as câmeras de TV toda sua indignação, carregada de perdigotos e palavras deletérias de baixíssima compreensão ao cidadão comum. Mas eles não dormem para estas questões, Caro Vidal. Ali no congresso reside o maior de todos os corporativismos. É questão de sobrevivência. Para eles e para os cartórios eleitorais. Se eleições não houvesse onde empregar tantos juízes que trabalham apenas de dois em dois anos? Uma corporação puxa a outra. Assim, como já disse Fellini – “La nave va”.

 

Mas estes são assuntos mundanos desinteressantes, volto a perguntar: como está passando, meu amigo? Pela sua última missiva percebo que anda um tanto indignado com esta Lei Seca.

 

É verdade, ela nos afastou dos bares e lugares onde um copo e outro podiam nos levar a viagens muito mais perigosas do que aquelas nas vias e rodovias. A lei de fato não é burra, ela é idiota. Digo isto porque a lei anterior já era por demais severa. A diferença é que agora fazem fiscalização. “Pero non tanto”, não é mesmo? Dias atrás deu na TV que a autoridade maior de uma capital de um dos estados do Norte do Brasil – que não cito para não ser injusto com a cidade – atropelou e matou o garupa de uma moto e seu estado etílico estava para lá de Marackech. Está claro, algum advogado impetrou “habeas corpus” e o “cidadão” foi solto. Pobres bebuns nós, que jamais atropelamos a lingüiça dos nossos cachorros nas garagens. Passei a beber mais em casa. Acho que muita gente aderiu a isto. Mas parece que não tem o mesmo prazer. Tomamos uma e logo desistimos. Vamos dormir ou fazer outra coisa. Um terço do prazer da bebida está na conversa; o outro terço está no prazer em pedir mais uma e se quem nos está servindo for amigo, encaixar um tira-gosto ou um comentário pueril; o terço final está em pedir a saideira, que jamais acaba e vai se prolongando até quando não há mais desculpas para o adiantado da hora.

 

Aqui no Planalto continuam roubando muito bem. Para todos os lados e em todos os poderes há uma precatória, uma liminar, uma contenda judicial etc.

 

Apenas quero fazer uma correção, meu Caro Vidal. Brasília não é de forma alguma apenas uma Brasília. Não sei se você sabia, mas existem aqui vinte e três cidades. O território do Distrito Federal tem Taguatinga, Ceilândia, Gama, Paranoá, Sobradinho, Planaltina e tantas outras que iria preencher mais três linhas para citá-las. E nestas cidades florescem vidas, se produz economia, artesanato, serviços e até mesmo um pouco de ciência. É claro que o resto do Brasil vê Brasília como uma ilha. Vê o congresso e suas duas casas legislativas, ou os ministérios e o planalto como casa de mãe Joana. Afirmo peremptoriamente: esta turma é temporária. Mais do que isto, noventa e nove por cento do congresso é constituído de gente que não é daqui. Para cá,  pelo famigerado voto, comprado ou barganhado, todos estados mandam seus representantes. A cácá que eles produzem e espalham pelo país é produzida aqui, mas por cidadãos daí e de todos os lugares. As outras Brasílias se envergonham da lamaceira, mas resiste. Fazer o quê? Tem gente que se aferra ao lugar e dele não sai, nem com reza braba. Torna-se refém, vira pedra. Até um dia quando viram pó, em meio as minhocas, debaixo da terra.

Deixemos os políticos e Brasília de lado, falemos de amenidades, sejamos mais terrais. Como vai passando Dona Beatriz? Espero que muitíssimo bem. Caso encontre uma peça boa para o próximo fim de semana me avise, pois estou voltando e pretendo levar a “frau” para passear.

 

Lembro do nosso último encontro dominical e da peça teatral que assistimos. Eu fiquei totalmente apartado, por força das contingências da venda dos ingressos. Assisti a peça num balcão do Teatro Positivo. Certamente ali é o pior lugar para ver qualquer coisa naquela casa de espetáculo. Muito tempo depois arrisco a comentar a peça. Acho que ela é uma paródia bíblica interessante, com montagem estudada e alguns personagens hilários. Mas não precisava ir tão distante para traçar paródias da nossa desgraça cultural e política. Qualquer fábula gaudéria ou mesmo um cordel nordestino, consegue ter tanto ou mais graça do que as histórias bíblicas apresentadas.

 

Também já vou passando deste para outro assunto. Como vai nosso “blog” e desculpe-me por minha possessividade, ao me arvorar em proprietário do alheio. E logo no alheio que pertence ao amigo.

 

Ocorre, Vidal, que a linguagem tem sido companheira de muitos momentos em minha vida. O gosto pela literatura não somente vem do conteúdo dos textos, muitas vezes vêm como na música, do arranjo da frase ou do improviso na interpretação. Esta minha queda, ou cachoeira despregada do paredão para o poço musical é tão forte que a maioria dos meus poemas foram feitos ouvindo canções, a maior parte jazz. Como é o caso agora, que ouço Winton Marsallis tocando “Round About Midnight”. É um sax barítono entrando dentro dos ouvidos e dos sentimentos, como lêndea invisível gerando coceiras as quais não há remédio ou creolina capaz de aplacar o incômodo. Mas qual o quê, bobagem cheia, besteira de mais para tanta conversa que poderia ser.

 

Vou fechando a conversa Vidal, como sempre prometo novo encontro em breve, acompanhado de uma garrafa de vinho. Levarei a garrafa na minha bicicleta, com certeza. Levarei o vinho, o saca-rolhas, o pão e a vontade. Somente não levarei o azeite, o prato e o sal. Mas que isto seria bom, com certeza seria. Não deixe de ir porque tenho tantas novidades que até as moscas parariam de voar para escutar. Conversa para boi e mateiro dormir. No entanto, tem conversas mais, de boa prosa. Certamente convidados mais viriam, se soubessem deste meu retorno. Mas caso queira, marque encontro na feirinha no próximo domingo. Leve a Marisa, o Lago e outros que faltaram aos últimos encontros.

 

Grande Abraço.

Ánton Passaredo

 

Brasília, 5 de Agosto de 2008.

ilustração do site. “boteco ambulante” pega, leva e traz.

COMO INTERVIR NOS CASOS DE DISLEXIA ESCOLAR – por vicente martins

 

 

Para uma eficaz intervenção psicopedagógica nos casos de dislexia, disgrafia e disortografia, há necessidade de o profissional descrever a situação para poder explicar perante aos pais e à escola o que ocorre no cérebro das crianças com necessidades educacionais específicas. Isto significa dizer que terá a missão de  representar fielmente o caso do disléxico em seu plano de trabalho, por escrito ou oralmente, no seu todo ou em detalhes. É através da descrição que o Profissional  fará relato circunstanciado das dificuldades lectoescritoras, de  modo a explicar, em seguida, as dificuldades lectoescritoras caracterizadas na anamnese. 

Uma descrição rica de detalhes historiais dos educandos com necessidades educacionais permitirá uma melhor elucidação das dificuldades de aprendizagem lectoescritoras e, também, justificará medidas mais seguras e eficientes no momento da avaliação e da intervenção psicopedagógica.
 
 
 

 

Outro verbo a ser conjugado pelo psicopedagogo é o de avaliar para intervir e a partir solucionar ou compensar a dificuldade do educando.  Assim, descrito e explicado o caso psicopedagógico, o profissional que atua com as crianças, jovens ou adultos com dislexia, disgrafia ou disortografia poderá verificar, objetivamente, os dados das dificuldades levantados junto aos professores, pais dos alunos e os próprios alunos. A pauta, protocolo ou ficha de observação quanto mais ampla mais eficaz. As avaliações escolares tradicionais também não podem ser descartas ou negligenciadas uma vez que são verificações que objetivam determinar a competência do educando.
 
 
 
 

 

A intervenção psicopedagógica deve ocorrer quando o profissional se sente seguro teoricamente para praticar atividades que atuem diretamente nas dificuldades dos educandos disléxicos, disgráficos e disortográficos. A intervenção psicopedagógica é uma capacidade, advinda da experiência, de fazer algo com eficiência. Em geral, é um período em que alunos deixam, em algumas horas do seu tempo regular de estudo escolar, na própria instituição de ensino, a sala de aula e passam a receber treinamento específico para a superação de suas dificuldades. 

 

Para ilustrar no artigo com exemplos reais de casos de dislexia, vamos expor, de forma sintética, relatos de pais, profissionais de educação da fala e educadores sobre dificuldades específicas na linguagem escrita de seus filhos e educandos:

 

 1º caso –  Fui chamada na escola de meu filho porque ele tem problemas com a escrita, faz trocas de letras como v/f, d/t, ele tem 9 anos está na terceira serie, pediram para que o leve para fazer uma avaliação com uma fono, queria saber se este caminho que devo seguir, ou o que devo fazer grata “

 

 

2º caso

– “Tenho uma paciente de 27 anos que apresenta algumas dificuldades na escrita e na fala. Em uma das atividades que realizei com ela, a mesma apresentou-se nervosa ao ler,trocando algumas letras. Ao pedir para ela falasse qual o número que estava no dado, a mesma teve dificuldades; tendo dificuldade também em distinguir letras aleatórias, trocando principalmente as letras F e V. A paciente relata ser muito agressiva querendo bater nas pessoas e não gosta de “conviver” com elas. Sente ódio de todos.Gostaria de saber como faço para verificar se ela pode ter Dislexia?.”
 
 
 

 

 

3º caso – “ Tenho uma filha de 8 anos e meio diagnosticada com dislexia, além de ter disgrafia e disortografia. A Fono disse que a dislexia dele é bem leve. Ela lê razoavelmente bem, apesar de soletrar muitas vezes, principalmente as palavras pouco freqüentes, mas eu acredito que a disgrafia e a disortografia nela sejam um pouco mais severas que a dificuldade de leitura propriamente dita. Ela não consegue escrever uma frase sem cometer vários erros, em palavras que já escreveu várias vezes (sempre escreve valar ao invés de falar, xegou ao invés de chegou, soldade ao invés de saudade entre outras coisas) e a aparência gráfica de sua letra é muito franca, parece de criança ensaiando as primeiras letras. No entanto ela gosta muito de escrever, tem um diário, escreve historinhas, só que é uma luta conseguirmos decifrar o que ela quis dizer.Gostaria de saber, se poderia indicar alguma literatura, que contivesse exercícios  especificamente para disgrafia e disortografia .”

 

Tomando, para a rápida análise e sistematização dos relatos de casos de dislexia acima, muito comuns nas queixas de crianças, pais e docentes, observaremos que, em geral, são estes indícios típicos  de dificuldades em leitura, escrita e disortografia:

 

 (1) progresso muito lento na aquisição das habilidades de leitura;

(2) problemas ao ler palavras desconhecidas (novas, não-familiares), que devem ser pronunciadas em voz alta;

 (3) tropeços ao ler palavras polissilábicas, ou deficiências o ter de pronunciar a palavra inteira;

(4) A leitura em voz alta é contaminada por substituições, omissões e palavras malpronunciadas;

(5) Leitura muito lenta e cansativa;

(6) Dificuldades para lembrar nomes de pessoas e de lugares e confusão quando os nomes se parecem;

 (7) Falta de vontade de ler por prazer;

  8 – Ortografia que permanece problemática e preferência por palavras menos complexas ao escrever;

(9) Substituição de palavras que não consegue ler por palavras inventadas e (10) Problemas ao ler e pronunciar palavras incomuns, estranhas ou singulares, tais como o nome de pessoas, de ruas e de locais, nomes dos pratos de um menu.

 

 

Vicente Martins é professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), em Sobral, Estado do Ceará.

 

TIO SAM nos pagos de STALIN – por helio de freitas

 

São atualmente tão bons e eficientes os meios de comunicação que há muita dificuldade para obter informação realmente objetiva e menos superficial sobre o que se passa em nosso próprio país. Dificuldade que é elevada à enésima potência quando se trata de uma pequena nação encravada no gelo do Cáucaso, independente depois da queda da URSS e pátria de Iossip Vissarionovich Djugashvili (com tão pouca informação sobre o que acontece e o que aconteceu, é bom esclarecer que este era o nome civil do camarada Stalin).

Lá, na Geórgia, nasceu quem viria a ser o mais implacável e obstinado condutor da União Soviética e que, apesar do imenso poder que tinha, jamais fez qualquer gesto (pelo menos nenhum historiador registra) para favorecer ou privilegiar o rincão natal. Os georgianos foram totalmente ignorados pelo compatriota, inteiramente convertido à língua e à mentalidade russas. Mesmo assim, consta que erigiram muitas estátuas ao filho ingrato, eufóricos com o culto da personalidade, e não as derrubaram quando o stalinismo foi banido por Kruschev e seus sucessores no Krêmlin.

Pois bem. Quando a União Soviética caiu e a Geórgia emancipou-se, digladiaram-se dois líderes. Por um lado, Gamsakhurdia e por outro o ex-Ministro do Exterior da URSS, Eduard Shevarnadze, (georgiano de nascimento). Depois de luta sangrenta e algumas reviravoltas, morto Gamsakhurdia (sobre quem tão pouco se sabe), Shevarnadze consolidou-se no poder, de onde foi apeado alguns anos depois por pressão americana, ao que se diz.

 

O fato real é que o atual dirigente da Geórgia, formado em Harvard, apoia os EUA e a Otan, confrontando-se com a Rússia, que por sua vez defende com seu poder militar as minorias russas em território georgiano. Simplificando a questão: os EUA lançaram uma cabeça de ponte no Cáucaso, para contrabalançar o poder russo, de acordo com o clássico e secular modelo das esferas de influência. E aí se vê a ironia da história: tudo isso se passa na terra de Stalin. Ali, onde nasceu e viveu o menino Iossip, estudante de seminário até aderir à militância comunista e atravessar as fronteiras georgianas para fazer História com agá maiúsculo, protagonizando um dos papéis mais controversos do século vinte.

 

A situação deve estar fazendo o ex-ditador se remexer no túmulo, que sabe-se lá onde atualmente se localiza, visto que o próprio Lênin está ameaçado de ser removido de seu mausoléu, se é que já não foi.

Ironia amarga desse gênero, na História, também é a passagem à França, no século dezenove, da cidade italiana de Nizza, onde nasceu o herói da libertação da península, Giuseppe Garibaldi. O pior é Garibaldi ainda estar vivo quando Nizza se transformou na francesa Nice, tendo, depois de tantas lutas, o desprazer de ver sua cidade natal arrancada do território italiano, por artes de arreglo entre um imperador máu caráter, justamente apodado de Napoleão, o Pequeno, e um rei da Savóia não menos velhaco.

“Sic transit gloria mundi” (como os mais jovens não estão afeiçoados a latinório, é bom traduzir: “assim passa a glória mundana”. E nosso tiozinho Sam, quando passará?

DADAISMO – pela editoria

O dadaísmo surgiu no ano de 1916, por iniciativa de um grupo de artistas que, descrentes de uma sociedade que consideravam responsável pelos estragos da Primeira Guerra Mundial, decidiram romper deliberadamente com todos os valores e princípios estabelecidos por ela anteriormente, inclusive os artísticos. A própria palavra dadá não tem outro significado senão a própria falta de significado, sendo um exemplo da essência desse movimento iconoclasta.

O principal foco de difusão desta nova corrente artística foi o Café Voltaire, fundado na cidade de Zurique pelo poeta Hugo Ball e ao qual se uniram os artistas Hans Arp e Marcel Janco e o poeta romeno Tristan Tzara. Suas atuações provocativas e a publicação de inúmeros manifestos fizeram que o dadaísmo logo ficasse conhecido em toda a Europa, obtendo a adesão de artistas como Marcel Duchamp, ou Francis Picabia.

Não se deve estranhar o fato de artistas plásticos e poetas trabalharem juntos – o dadaísmo propunha a atuação interdisciplinar como única maneira possível de renovar a linguagem criativa. Dessa forma, todos podiam ter vivência de vários campos ao mesmo tempo, trocando técnicas ou combinando-as. Nihilistas, irracionais e, às vezes, subversivos, os dadaístas não romperam somente com as formas da arte, mas também com o conceito da própria arte.

Não são questionados apenas os princípios estéticos, como fizeram expressionistas ou cubistas, mas o próprio núcleo da questão artística.Negando toda possibilidade de autoridade crítica ou acadêmica, consideram válida qualquer expressão humana, inclusive a involuntária, elevando-a à categoria de obra de arte.Efêmera, mas eficaz, a arte dadaísta preparou o terreno para movimentos vanguardistas tão importantes como o surrealismo e a arte pop, entre outros.

PINTURA NO DADAÍSMO

A pintura dadaísta foi um dos grandes mistérios da história da arte do século XX. Os pintores deste movimento, guiados por uma anarquia instintiva e um forte nihilismo, não hesitaram em anular as formas, técnicas e temas da pintura, tal como tinham sido entendidos até aquele momento. Um exemplo disso eram os quadros dos antimecanismos ou máquinas de nada, nos quais o tema central era totalmente inédito para aqueles tempos.

Representavam artefatos de aparência mais poética do que mecânica, cuja função era totalmente desconhecida. Para dificultar ainda mais sua análise, os títulos escolhidos jamais tinham qualquer relação com o objeto central do quadro. Não é difícil deduzir que, exatamente através desses antitemas, os pintores expressavam sua repulsa em relação à sociedade, que com a mecanização estava causando a destruição do mundo.

Um capítulo à parte merecem as colagens, que logo se transformaram no meio ideal de expressão do sentimento dadaísta. Tratava-se da reunião de materiais aparentemente escolhidos ao acaso, nos quais sempre se podiam ler textos elaborados com recortes de jornais de diferente feição gráfica. A mistura de todo tipo de imagens extraídas da imprensa da época faz desse tipo de trabalho uma antecipação precoce da idealização dos meios de comunicação de massa, que mais tarde viria a ser a artepop.

ESCULTURA NO DADAÍSMO

A escultura dadaísta nasceu sob a influência de um forte espírito iconoclasta. Uma vez suprimidos todos os valores estéticos adquiridos e conservados até o momento pelas academias, os dadaístas se dedicaram por completo à experimentação, improvisação e desordem. Os ready mades de Marcel Duchamp não pretendiam outra coisa que não dessacralizar os conceitos de arte e artista, expondo objetos do dia-a-dia como esculturas.

Um dos mais escandalosos foi, sem dúvida, o urinol que este artista francês se atreveu a apresentar no Salão dos Independentes, competindo com as obras de outros escultores. Sua intenção foi tão-somente demonstrar até que ponto o critério subjetivo do artista podia transformar qualquer objeto em obra de arte. Com exemplos desse tipo e outros, pode-se afirmar que Marcel Duchamp é sem dúvida o primeiro pai da arte conceitual.

Apareceram também, como na pintura, os primeiros antimecanismos, máquinas construídas com os elementos mais estapafúrdios e com o único objetivo de serem expostas para desconcertar e provocar o público. Os críticos não foram muito condescendentes com essas obras, que não conseguiam compreender nem classificar. Tais manifestações, por mais absurdas e insolentes que possam parecer, começaram a definir a plástica que surgiria nos anos seguintes.

FOTOGRAFIA E CINEMA DADAÍSTA

Artistas de seu tempo, os dadaístas foram sem dúvida os primeiros a incorporar o cinema e a fotografia à sua expressão plástica. E fizeram isso de uma maneira totalmente experimental e guiados por uma espontaneidade inata. O resultado desse novo materialismo foi um cinema completamente abstrato e absurdo, por exemplo, o de diretores como Hans Richter e a fotografia experimental de Man Ray e seus seguidores.

Foi exatamente Man Ray o inventor da conhecida técnica do raiograma, que consistia em tirar a fotografia sem a câmara fotográfica, ou seja, colocando o objeto perto de um filme altamente sensível e diante de uma fonte de luz. Apesar de seu caráter totalmente experimental, as obras assim concebidas conseguiram se manter no topo da modernidade tempo suficiente para passar a fazer parte dos anais da história da fotografia e do cinema artísticos.

 fonte: internet livre.

DEDILHADOS NA MADRUGADA poema de tonicato miranda

homenagens de pianistas sempre são baristas

sempre atendem a um pedido de cliente

alô man”, uma canção especial para lembrar dela

daqueles encontros anos 80, no Karina

ela um pouco mais do que menina

flutuando no gim meu olhar de álcool aquarela

queria ouvir “Tenderly”, a canção antiga

para mostrar o meu tacho doce e agreste

algo dela que ainda em mim reste

mas navega em outros mares o pianista

a vontade dele não consigo torcer

tamborila ao piano outra toada pra você

desconfio que ele está por ela enamorado

go back man” meu dinheiro e a taça

não me rouba o amor e a felicidade dela

afasta pra lá este seu piano e o teclado

não a caça, e não me venha com ameaça

é minha e somente minha a porca e a ruela

mas que cara confuso diriam muitos

mistura piano, canções e peças do parafuso

não importa quanto seja, beba gim ou cerveja

ele é assim mesmo pelo amor de uma mulher

apenas não pode mais conter tanta ausência

morre de piano lento, é nostálgico na essência

madrugada já vai alta e ele aqui na mesa sem bar

a misturar o gim com desejos e lembranças

ainda querendo ouvir “Tenderly” na voz da Maísa

até já serve um Dindi e esta vontade que pisa

aperta e arranca um ai de saudade do pescoço

queria ser novamente dela, mais uma vez velho e moço

NIEMEYER poema de deborah o’lins de barros

 

Escuto e danço enquanto

admiro o ritmo desses traços,

que ondulam e contornam nossa

terra natal. Sua obra flâmula ao vento,

firme, tremendamente graciosa, in-

ponente. Um lápis em sua mão,

é mais revolucionário que a

revolução russa; mais

modernista que Macuna-

íma, que a poesia de Décio

Pignatari, somada à de Oswald

Andrade. Um lápis em sua mão, é a

profecia de uma ruptura; sua arquitetura

sempre nova tirou o latim de nossas

igrejas, fez tudo lembrar as praias

cariocas, onde quer que sua

arte esteja. Além de

você, só Deus, para es-

crever certo por linhas tortas.

mas não o chamarei de senhor,

pois como seus traços, você é eter-

namente jovem. Sua arte tem sotaque

do Rio de Janeiro! E se, vita brevis,

Sua arquitetura é ars longa

E a mim, só resta dizer:

Niemeyer, como eu,

também é bra-

sileiro!

OS MENINOS E EU poema de bárbara lia

 

Os meninos empinavam pipas;

eu, pássaros.

 

Os meninos folheavam revistas

de garotas nuas;

eu, assistia ao namoro dos sapos.

 

Os meninos iam ao cine;

eu, atravessava a pé

o igarapé.

 

Os meninos desenhavam piratas

tesouros, navios;

eu, a escafandrista solitária.

 

Agora

solidão nos devora

em negros prédios

meio à elite ignara

 

Os meninos vestem

negro/desencanto

seguem com cifras

nas pupilas vítreas

 

Tão tristes os meninos

reclusos, bebendo

o índice Dow Jones

com café.

 

Trocando de amantes

a cada inverno.

A alma pesada os faz andar

em cadência de elefante.

 

Eu,

desenho gravuras

em tons rosa chá

teço minhas roupas

danço minhas músicas

escrevo meus poemas.

 

Não atravesso

o vidro frio do templo

moderno

– shopping center –

 

Não atravesso

a porta de cedro

do antigo templo

 

(enquanto o Vaticano

não doar aos pobres

todo o ouro seu)

 

Vivo nas esferas

desço ao chão

para pisar águas

dos igarapés.

 

Adormeço

no berço-arraia

que me embalazul

no “mar/

belo mar selvagem…”

 

 

 

 

“Os meninos e eu” – poesia classificada entre as dez finalistas do Concurso Nacional de Poesias Helena Kolody – 2.007

CORAÇÃO e NERVOS por alceu sperança

“Você é um triste, estranho e pequeno homem. Tenho pena de você… Adeus!” (Buzz Lightyear, o robozinho futurista de Toy Story, criado para superar na preferência das crianças o bonequinho de cow-boy, a boneca de pano e os soldadinhos de chumbo)

….

As grandes corporações fabricantes de computadores estão sistematicamente desafiando os campeões mundiais de xadrez para milionários games: neles, o homem ganha fortunas em troca de alguns empates e uma ou outra derrota. É fácil para qualquer máquina superar a inteligência do homem quando ele se deixa iludir, trapacear ou é “convertido”, à custa de uma bela grana, a aceitar que a máquina é superior e aos homens inúteis só resta morrer por conta própria (“Adeus!”, diz Buzz) ou se deixar matar pelas “guardas” criadas a todo instante a pretexto de defesa da sociedade. É fácil para as máquinas – e seus poderosos manipuladores – dominar os homens que entram nesse jogo mortal.

Em 1993, como que a iniciar antecipadamente o terceiro milênio, o mundo conheceu o primeiro livro escrito por um computador. Claro, essa coisa de besta do Apocalipse tinha que dar o ar de sua desgraça nos EUA, a nação mais maravilhosa e iludida deste planeta. O “livro” não teria nada de mais se não entrasse no mercado na condição de obra futurista, que faria do gênio humano uma coisa ultrapassada e inútil até quando se trata de fazer literatura, na medida em que a arte é o último bastião da espécie humana.

As grandes corporações, portanto, não querem apenas mostrar que as máquinas podem fazer tarefas braçais e arriscadas, limpar latrinas e arriscar o couro no lugar dos homens: querem provar, simplesmente, que o gênio e a rebeldia criadora do homem são dispensáveis, que o espírito, a dor, a angústia, a neurose e o amor – essas coisas tão humanas – são desprezivelmente inúteis. O “livro”, intitulado Just This Once (“Apenas Desta Vez”), como a dizer, envergonhadamente, que essa ousadia absurda não se repetiria, teve 75% do seu texto criado por um computador, porque os outros 25% foram bestas humanas alimentando a máquina com um software de inteligência artificial e uma lista de elementos contidos em livros escritos por gente de carne e osso, coração e nervos.

Essa “obra literária” vendeu na sua primeira edição 15 mil exemplares (se fosse para ser apenas uma vez, não haveria outras edições). Esse número significa um volume de vendas duas ou três vezes superior à de qualquer livro cunhado no Brasil pelo gênio humano. Talvez à exceção de um Paulo Coelho, uma espécie de computador humano: ele requenta (ou simplifica) textos tradicionais da antiguidade para misturá-los e entregar a pizza a um público desesperado, desiludido e desencantado com a vida, ávido por coisas supostamente espirituais e “superiores”.

Mas só há uma “coisa” realmente superior: a vida, com todas as suas dores, angústias, trapalhadas, equívocos e alegrias.

GERALD THOMAS: Óbvio que a ARTE está morta: não PASSAMOS de IMPOSTORES de Renda, cabideiros de emprego: Marcel DUCHAMP, o URINOL que deixava o artesanato de pé em seu próprio MIJO!

“DUCHAMP: O AUTORTURADO DaDaISTA”

 

Está em cartaz no MAM, aqui em São Paulo, uma retrospectiva de Marcel Duchamp. A simples idéia de uma retrospectiva pra Duchamp teria sido, no mínimo, algo impensável, ridículo ou risível, quando ele rompeu com tudo, com a caretice de tudo, com o Samaritanismo da arte, o chamado “bonitismo” da arte no início do século XX. Foi aí que começou o nosso “desastre”. Duchamp, Freud, e alguns outros são os culpados pelos nossos fracassos. Mas explico. São os nossos grandes HERÓIS. Meus grandes, grandes, imensos heróis.

Quem destrói pra construir é aquele que consegue transformar o mundo num abrir e fechar de olhos, e deixar todo mundo de pé, plantado em seu próprio mijo, sem ter o que dizer: claro, e não é à toa que o URINOL de Duchamp foi um dos primeiros READY MADES (achados prontos) – um combate contra a arte artesanal, pintura, escultura tradicional, etc. Sim, deixar o espectador pasmo em pé, em seu próprio mijo de espanto! Retrospectiva de Duchamp é muitíssimo estranho. Quando eu era aluno de Ivan Serpa e Helio Oiticica, eles só me falavam em Duchamp. Haroldo de Campos foi mais longe, já que era Dos Campos, um Duchamp também, Du Champos! A Arte de vanguarda fala em uníssono sempre a mesma coisa, berra sempre a mesma coisa. Mas uma retrospectiva dela nos traz uma lágrima de crystal japonês. E porque?Porque quando Duchamp cancelou sua parceria com Tristan (sem Isolda) Tzara, e deixou Paris, e virou um NovaYorkino, o movimento em si, de deixar o velho pelo novo, já tinha um significado. Falo de 1911 ou algo assim. O Armoury Show.“Achar” objetos prontos na rua e juntá-los, “casá-los” como se fosse um destino “by arrangement” no sentido oriental, é um humor que os americanos não tinham. Só vieram a ter na década de 60 com Wharol, Andy Wharol.Então, certo dia, Duchamp cancelou sua expo na Pace Gallery na rua 57 em Manhattan. Falou “retirem todos os quadros, apareço aí mais tarde com objetos novos”. E, pra juntar-se ao já famoso “NU DESCENDO a ESCADA“ (um dos mais escandalosamente LINDOS tributos à arte desconstrutivista, Duchamp pintou uma mulher descendo uma escada, nua, EM MOVIMENTO, pode-se dizer que remota e cremosamente cubista. E…..ao lado do MOEDOR de CHOCOLATE e ao LARGE GLASS (também chamado de THE BRIDE STRIPPED BARE BY THE BACHELORS EVEN – algo como: “ a noiva desnudada pelos solteiros ATÉ!, nessa ordem, escrito nessa cadência concreta das palavras) somou-se ao seu maior e mais conhecido piece ou seja, peça, ou seja, marca, ou seja QUADRO-NÃO-QUADRO, ou seja: o pai e mãe disso que chamamos hoje de INSTALAÇÃO/manifesto.A RODA DE BICICLETAEssa roda (objeto de obsessão meu) (o que posso fazer? nasci torto!), foi assim: nesse mesmo dia em que Duchamp cancelava sua Expo na Pace, andava pelo Bowery (equivalente a 3ª Avenida, na lower Manhattan) perto da Houston Street, de um lado da rua tinha uma roda de bicicleta jogada fora. Do outro lado um desses bancos de mandeira de bar! Ele GRAMPEOU, tacou a roda em cima do banco e levou o treco pra Pace!

Então, esse foi o MAIOR REVOLUCIONÁRIO de todos os tempos, em qualquer contexto, em qualquer arte (porque sem ele não teríamos John Cage na música ou Merce Cunningham na dança (aliás, a Fabi estuda com o Merce Cunningham em Westbeth até hoje).

A arte está morta? Rose Selavy? Como ironizava seu próprio personagem feminino com uma estrela escupida em seu CABELO, ou os cubinhos de mármore dentro de uma gailola (: porque não espirrar Rose Selavy?:) ou …

Chega de descrever Duchamp !!!

A melhor maneira e a mais triste de representar uma RETROSPECTIVA foi desenhada por Saul Steinberg. O Cartum é assim: um Coelho olhando pro Oeste está sentado em cima de uma Tartaruga que caminha lentamente para o Leste.

Duchamp foi um dos primeiros ENORMES iconoclastas. Com humor. Quebrou o vidro? Deixa lá, quebrado. O acaso é otimo!

O movimento dadaísta (não os surrealistas caretas e marqueteiros que só eles!), o iconoclástico, desconstrutivista, atonal, dodecafônico, serialista, abstrato, abstrato expressionista, minimalista, enfim, tudo isso visa uma só coisa:

– colocar a arte debaixo da lente do microscópio, autopsiá-la; ver, dissecar se as verdades e mentiras dos séculos anteriores de música e pintura e iluminismo e jacobeanismo e Renascentismo, e ismo, ismo de anos e anos de arrotismo de tantos e tantos Rembrants, Velasquez, Beethovens, Monteverdis, Wagners, Lord Humes e Hegels e Kants, e os tantos Goethes, faziam realmente sentido na era pós Freud, na era pós industrializada numa América ainda a ser desvendada pelos bachelors de toda a humanidade enclausurada em suas culturas pré-guerra, fugindo pra lá, digo pro novo mundo, fugindo das emboscadas culturais da pequenina Europa, onde à cada 16 km o teu sotaque te colocaria num campo, num Duchamp de concentração!

E no que deu? Estamos na mesma. Aliás, estamo mais CARETAS. Estamos numa era PRÉ DUCHAMP, porque hoje olhamos Duchamp como se ele estivesse no nosso passado e, toda essa porcaria pseudo inovadora (salvo alguns, óbvio, como Kiefer, Josef Beyus, Nuno Ramos, Tunga, Warhol, Damien Hirst e outros POUCOS) ainda estão naquela era de DECORAR a sala de estar da madame porque – já que voltamos aquela era do GOLD RUSH, à corrida pelo petroléo e à plantação de cana – nada mais óbvio mesmo do que declarar um ESTADO de DIREITO, e colocar um estatuto logo de uma vez:

O que vale aqui é o muralista Siqueiros, ou o medíocre Portinari, ou o idota do Henry Moore, ou a Hepworth.

E o povo, ignorante como sempre, se concentra ali na estátua dos retirantes no Ibirapuera, a metros, meio quilometro da RETRO de Duchamp, sem sequer saber o que foi tudo aquilo, ou se o ovo de Colombo ficou em pé ou não, porque, afinal de contas: não foi Pedro Alvares Cabral que descobriu as AMERiKas de Kakfa?

A Arte está MORTA sim. E faz anos que fazemos teatrinho de representação infantil em torno de seu enterro pra não perdermos emprego. Não passamos é de canastrões de última categoria, com a azeitona na ponta do esôfago, segura ali por algum Nexium, Plexium, Sexium ou Mylanta, Maalox, ou anti-ácido.

Afinal, antigamente as pessoas tomavam ácido.

HOJE: só tomam anti-ácido

CURITIBANA: A FAMILIA PROVINCIANA

Com família, sem caretice e de portas abertas

 

Há poucos dias, a pesquisadora da UFPR Araci Asineli da Luz, especialista em questões de infância e adolescência, surpreendeu-se num simpósio com a fala de um representante da iniciativa privada – um interessado em questões de educação. Os professores, disse, não sem razão, devem lembrar aos alunos que vão ser pais um dia, aos 30 e poucos anos. “Mas muitos deles já são pais. E damos aulas para diversas adolescentes grávidas”, protesta Araci, diante desse exemplo do descompasso que ainda rege o discurso em torno da juventude. Não causa espanto que muitas políticas cheirem a mofo. “Não se fala com o jovem. Como é que pode haver política que funcione?”, questiona.

A secretária de estado da Criança e da Juventude, Thelma Alves de Oliveira, bem poderia fazer coro com Araci. Ela até hoje está pasma com a postura dos shoppings em relação ao público jovem. “Curitiba tem de aprender a ser mais acolhedora e tolerante. É uma cidade muito excludente e conservadora”, lamenta a mulher que promove no Paraná o pacto da infância e da juventude, mas que volta e meia, bate com a cara na porta. Em outras palavras – reina a caretice.

A bandeira de Thelma é conhecida – a moçada precisa de cinemas, de áreas de lazer, de espaços de produção cultural. Mas não faltam obstáculos impedindo o impulso que eles têm de se agregar e expressar, desejo que ficou declarado nas conferências estadual e nacional para a juventude, ocorridas no primeiro semestre deste ano.

Em miúdos, o pensamento sobre a juventude está só engatinhando, mas corre o risco de nascer marcado pelo mesmo autoritarismo e paternalismo que ainda marcam as políticas públicas brasileiras. O assunto renderia um fórum em dias de eleição, o que provavelmente não vai acontecer. “Nunca antes nesse país” houve tantas políticas sociais, infelizmente acrescidas de dependência do estado, impedindo a autonomia necessária ao setor. Quem faz, sabe.

 

gazeta do povo. por José Carlos Fernandes

marcador de texto do site.

 

ilustração do site. cheirando cola. com todos créditos. infelizmente.

POEMAS de sara vanegas/ ecuador

el faro es una mancha en la noche

la noche

 

cicatriz en el océano

 

___________

 

 

el recuerdo es ave

migrante

 

entre mi corazón y la nada

 

 

___________

 

a veces

la soledad es una flor morada

 

en el espejo

 

 ___________

 

tu niñez:

ese barco en la mirada

 

que un día partió sin despedirse

                                                                                             

 

            __________

 

la inquietud del rosal todas las tardes

es un beso de sol

 

traspasado de hastío

 

            ___________

 

 

cuando los pájaros se fueron

quedaron huecos oscuros

 

en el viento

 

            ___________

 

 

el puerto se ha lanzado tras la barca

en un día sin sol

 

y sin retorno

                                                                                 

 

            ___________

 

 

 

mi corazón arrastra su silencio

salobre

 

hasta llegar al mar

RUMOREJANDO (Com os jogos olímpicos, que jamais participou, rememorando).- por josé zokner (juca)

PEQUENAS CONSTATAÇÕES, NA FALTA DE MAIORES.

Constatação I (Dúvida crucial, via quadrinha).

A corneta

De certos quartéis

Soa como lambreta

Por causa dos decibéis?

Constatação II

Rico tem a capacidade de memorizar; pobre, impossibilidade de lembrar.

Constatação III

Deu na mídia: “Um ano depois de ter escapado do sequestrador que a manteve em cativeiro por oito anos, a austríaca Natascha Kampusch diz estar cada vez mais triste com a morte dele”. Vá lá alguém procurar entender a intrincada alma humana.

Constatação IV (Teoria da relatividade para principiantes).

É muito melhor cantar uma gata do que cantar ‘Parabéns pra você’, numa festa infantil, àquela que tá cheia de balões e outras crianças, que você foi obrigado a ir porque era da filha do teu chefe. Nem a possibilidade de você poder levar um balão colorido pra casa pra você levar à tua neta, nem a presença da secretaria boazuda da empresa atenua o atazanante programa.

Constatação V

Rico dá sugestão oportuna; pobre, palpite errado.

Constatação VI

Rico se preocupa com a alta da Bolsa de Valores; pobre, com os baixos valores do bolso.

Constatação VII

Quando o obcecado leu na mídia que a China havia fechado 44 mil sites pornográficos, em 2007, exclamou indignado: Isso é um acinte contra a liberdade de expressão e, daria pra dizer, até da imprensa.

Constatação VIII

Um dos fatos que sempre chamou a atenção deste assim chamado escriba é o investimento de ricaços em jogadores de futebol e, assim, passarem a ser o dono, parcial ou total, do passe do jogador. Segundo alguns, o ricaço estaria ajudando o seu time do coração; segundo alguns outros, ele estaria tentando fazer um negócio; e segundo, terceiros, as duas coisas. Seja como for, para Rumorejando soa como uma espécie de trabalho escravo tal tipo de “investimento”. Fica-se imaginando o cartola falando para o “seu” jogador: “Olha, vê se você dá um pouco mais de você, se esforça mais, porque “nós” temos que ganhar esse jogo e os demais. É tua chance de passar a jogar num time grande do eixo Rio São Paulo e mesmo ser adquirido por um time da Europa que paga em euros, o que é uma maneira de você conseguir a tua independência financeira”. E por aí ele vai. Naturalmente, sem citar o lucro que ele teria. Data vênia, como diriam nossos juristas, mas para Rumorejando soa, também, como mais uma forma de capitalismo selvagem e de filhadap…ce. Por favor, cartas por e-mail, telegrama, pelo blog (http://rimasprimas.blogspot.com/), etc., opinando sobre o assunto. Obrigado.

Constatação IX

E como elucubrava o obcecado, mostrando estar por dentro do que se passa na maior potência do Planeta e suas repercussões: “Nem a turbulência do mercado mundial, nem a desaceleração em setores da economia, tampouco as altas e baixas da Bolsa de Valores irão afetar a elevação do que mais me interessa…

Constatação X

Rico é lisonjeador; pobre, puxa-saco.

Constatação XI

O filme “Saneamento Básico” é tão bom quanto os já citados anteriormente por Rumorejando. Dá, mesmo com o comportamento dos políticos, para proferir a frase, já conhecida, “porque me ufano do meu país”. Tenho, sem patriotada, dito!

Constatação XII

E o programa Certa Vez, apresentado pelo Amigo Beto Guiz, na rádio Educativa FM, além de sábado na AM, aos domingos, às seis horas da manhã, não é para nenhum boêmio, que tá chegando essa hora em casa ou quem acorda cedo, botar defeito. E Revivendo, da mesma emissora, apresentado aos sábados, às 4 horas da matina, pelo radialista Ubiratan Lustosa, é o mesmo caso.

Constatação XIII

Sinistrose*, teu nome é dengue, febre amarela, vaca louca e os políticos.

*Sinistrose = “1. tendência a alardear a iminência de colapsos e perigos terríveis, individuais ou sociais, a vaticinar desastres, ruínas, grandes perdas materiais, catástrofes em empreendimentos, planos econômicos, projetos políticos

2. a inquietação causada por tais riscos e perigos sinistros”. (Houaiss).

Constatação XIV

Deu na mídia: “O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, considera possível que a inflação já tenha parado de subir”. Data vênia, como diriam nossos juristas, mas S. Excia., aparentemente, não freqüenta supermercado…

E-mail: josezokner@rimasprimas.com.br

 

ORAÇÃO das MULHERES resolvidas – autor desconhecido

Que o mar vire cerveja e os homens tira gosto,

que a fonte nunca seque,

e que a nossa sogra nunca se chame Esperança,

porque Esperança é a última que morre…

 

Que os nossos homens nunca

morram viúvos,

e que nosso filhos tenham pais ricos e mães gostosas!

Que Deus abençoe os homens bonitos,

e os feios se tiver tempo…

 

Deus…

Eu vos peço sabedoria para entender um homem,

amor para perdoá-lo e paciência pelos seus atos,

porque Deus, se eu pedir força,

eu bato nele até matá-lo.

 

Um brinde…

Aos que temos, aos que tivemos e aos que teremos.

Um brinde também aos namorados que nos conquistaram,

aos trouxas que nos perderam

e aos sortudos que ainda vão nos conhecer!

 

Que sempre sobre,

que nunca nos falte,

e que a gente dê conta de todos!

Amém.

 

P.S.: Homens são como um bom vinho.

Todos começam como uvas, e é dever

da mulher pisoteá-los e mantê-los no escuro

até que amadureçam e se tornem

uma boa companhia pro jantar.

 

ilustração do site. “o sonho” a senadora ideli salvatti e zé sarney.

SEM CHANCES e A SORTE DOS MERCADORES – mini contos de raimundo rolim

Sem chances

 

Que inferno que nada, gritava o ateu empírico. Deus? Céu? Nem pensar! Não vou e não quero. Recuso-me terminantemente a ir a qualquer desses lugares pelo simples, tranqüilo e justificado motivo de nunca ter comungado com tais Entidades antes. Não seria agora, depois de fazer a grande travessia da vida que se entregaria, assim sem lutas, nem bandeiras. Fez uma careta danada de feia, torceu os braços numa banana sólida. Fora-lhe o último gesto a carregar túmulo adentro. 

 

 

         A sorte dos mercadores

 

E veio a neve e veio o frio e veio a chuva e a tempestade e o maremoto. Depois o furacão impiedoso e o granizo, a peste e a fome. Os vulcões explodiram, liberando um forte cheiro de enxofre e na saraivada de impropérios, o carrasco brandindo a machadinha na mão direita com o decreto real na esquerda, despojava a todos de seus bens. Mulheres e filhos abandonados à própria sorte correram, e os trovões se expuseram assustadores. Raios e mais raios coriscaram os céus e a terra com intensidade jamais imaginadas enquanto os cães ladravam. Um dragão saiu do fundo do mar e a besta do Apocalipse roncou alto. Nos campos, os grãos secaram e um terremoto sacudiu a crosta. As montanhas vieram abaixo e os vales se elevaram enquanto a caravana passava tranqüila.

 

 

O QUÊ FAZER ? – por reni ribeiro

O quê fazer? Olho para cima da geladeira, duas garrafas de vinho. Uma abaixo da metade (vinho nacional produzido no Vale de São Francisco, Bahia, MINHA Bahia) o outro da Serra Gaúcha (e por que não dizer MEU Rio Grande?). Fim de semana monótono como uma tarde de inverno inteira e seu céu cinza (uma das minhas cores prediletas, aliás). Bem, é fato que estava só em casa, acompanhado apenas por mim mesmo, o micro e as músicas salva nele. Ainda dei uma volta pelo centro da cidade (moro no interior do RS, imagina a “agitação da cidade”) e sinceramente nada de interessante encontrei.

 

Voltei para casa depois de passar na farmácia e comprar um analgésico e passar na livraria e escolher o que vou comprar na semana que vem. Graças a Deus ainda me resta a literatura, mas dá um desespero olhar um livro e ler os comentários comprados sobre a obra, com comentários vazios tipo: “neste livro a autor consegue desbravar a mente humana com maestria, além de ter um ritmo narrativo empolgante, bem ao estilo Umberto Eco em o ‘O nome da Rosa’ – sempre citam o Eco – e Dan Bronw”. SEMPRE o comentário vem seguido do autor da frase e o veículo da impressa estados-unidense em que trabalha (Washington Post, New York Times, etc). Cara, como se uma obra precisasse do aval de qualquer pessoa ou ser parecida com a obra de outrem para ter valor. Já li muita porcaria engrandecida pela crítica nacional e estrangeira e muita coisa boa esquecida por ela. Mas fazer o quê?

 

Mas não é sobre livros que estou falando mesmo e sim da monotonia e da luta para suplantá-la. Fui ver alguns sites, ler alguns comentários de blogs, tentar conversar com algum amigo desavisado do MSN, em vão, e continuei com aquela profunda sensação de vazio. Mas fazer o quê, não é mesmo?

 

Tenho uma nova diversão que é ler comentários sobre notícias e artigos de blogs e sites jornalísticos da web. É divertido gente, vocês têm de ler. Alguns são bem legais, comentam sem sair do tema, levaram a serio o que foi dito, criticam mesmo o texto (criticam aqui não é sinônimo de falar mal do texto), mas tem o pessoal que é meio louco, que parece não pensar direito e que expõe aquilo que não podem fazer pessoalmente em casa, no trabalho, na escola, no barzinho da esquina: soltar a língua envenenada para cima de quem esboçou alguma opinião na web. Xingam, ridicularizam, falam asneiras sobre os autores dos textos, perdem a noção das coisas diante de um texto. Imagino que num jornal ou revista devem fazer o mesmo, mas os editores com certeza editam ou mesmo excluem esses comentários. Já na web o “gatekeeper” não tem muito espaço para manobras. Estão lá registrados todos os comentários, bons ou ruins, sobre determinado texto, imagem ou qualquer coisa que seja publicado na internet. É bom lembrar, o que falta de educação sobra em bom humor e desrespeito. Quer um exemplo? Vai nesta página aqui: http://colunistas.ig.com.br/geraldthomas/2008/07/19/obvio-que-a-arte-esta-morta-nao-passamos-de-impostores-de-renda-cabideiros-de-emprego-marcel-duchamp-o-urinol-que-deixava-o-artesanato-de-pe-em-seu-proprio-mijo/#comment-112302.

 

Ao texto do Gerald Thomas não consegui chegar ao final, não consigo perder tempo com discussões do tipo “fim da arte”, “fim da história”, etc, mas os comentários demonstram a falta de educação de nossos patrícios e até mesmo a graça desses comentários. Só fico imaginando o que vão comentar deste aqui. Mas, fazer o quê, não é mesmo? Vou é tomar mais um copo de vinho.

SONHOS e DESEJOS (I) poema de rosa mel

O sonho que eu sonho
Dou para ti em desejo
E em corpo eu deponho
O desejo que almejo
Estar em teus braços
Sedentos de amor
Mirando-me os traços
Tremulos de ardor

Derreto em teu corpo
Quente e aconchegante
É este o meu porto
Onde fico estonteante

Abrasador e envolvente
Mergulhado em minh’alma
Absorvente e carente
Onde busco a minha calma

Por entre corpos enroscados
Sem começo e nem fim
Pernas e braços entrelaçados
E a ternura brotando em mim

Muito grande esse tesão
Que por ti eu sinto e quero
E eu desperto num repelão
A mulher ardente e espero

Que ventura me cobrir
Com beijos apaixonados
No amor e no servir
Vivendo entrelaçados

 

 

 

ESCÂNDALO: Monsanto na USP. Halliburton na Agência Nacional do Petróleo

Transnacionais estadunidenses avançam sobre setores estratégicos do Estado brasileiro. Maior instituição de ensino firma convênio com transnacional líder no setor de transgênicos, com cláusula de sigilo; já empresa ligada à Halliburton – também dos EUA – administra o banco de dados da ANP.

O jornal Brasil de Fato desta semana (ed. 284) denuncia dois acordos que colocam instituições públicas a serviço dos interesses privados. A Monsanto firmou um convênio com a Universidade de São Paulo (USP), no início deste ano, cuja versão original do contrato, revisto após pressão de professores e estudantes, submetia a USP a sigilo absoluto e a subordinava a uma lei dos EUA. Uma cláusula que permaneceu no documento, a oitava, estabelece que a Universidade e sua Fundação, a Fusp, são obrigadas a manter sigilo em relação à toda informação relacionada às atividades da Monsanto.

A parceria entre a USP e a transnacional estadunidense se insere dentro de um projeto de pré-iniciação científica para estudantes do ensino médio da rede estadual, feito também em parceria com a Secretaria de Educação do Estado. A USP disponibilizará seus laboratórios e alguns docentes que aceitem receber esses estudantes. A Monsanto financiará parte do projeto, num valor de R$ 220 mil, destinado a garantir bolsas a professores da rede estadual que acompanharão os alunos participantes. Ao todo, o projeto atingirá 500 estudantes e 60 docentes. As bolsas estudantis serão, por sua vez, financiadas pelo banco Santander, com uma verba bastante superior àquela fornecida pela Monsanto.

Para Ermínia Maricato, representante docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo no Conselho de Pesquisa da USP, o convênio com a transnacional pode prejudicar a imagem da instituição de ensino. “Não concordo que a USP assine convênio com essa empresa, contra a qual existem fatos graves”, finaliza.

 

Promíscuas relações na ANP

Parcerias como essa não são novidade, mas afastam instituições públicas da sociedade e a instrumentalizam para atender interesses privados. Um outro exemplo disto é o caso de outra denúncia, desta vez apresentada pelos engenheiros da Petrobras, de que a também transnacional estadunidense Halliburton controla há 10 anos o Banco de Dados de Exploração e Produção da Agência Nacional de Petróleo (ANP) sem ter ganho nenhuma licitação.

O fato foi questionado, em 2004, por parecer da Procuradoria Geral da República que exigiu que os serviços prestados ao banco de dados passassem por concorrência. De acordo com currículo publicado no site da ANP, o diretor Nelson Narciso possui experiência de “24 anos em cargos de direção e gerência na Indústria de Petróleo”, sendo que o último ano antes de assumir seu atual cargo foi na Halliburton, entre maio de 2005 e junho de 2006. Narciso é o responsável pelas superintendências de Gestão e Obtenção de Dados Técnicos, de Promoção de Licitações, de Comercialização e Movimentação de Petróleo, seus Derivados e Gás Natural e de Definição de Blocos. “A raposa está no galinheiro”, definiu nota emitida pela Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet). Ou seja, as informações do BDEP podem ser acessadas pela Halliburton que, além disso, está ligada ao diretor responsável pela definição dos blocos que vão a leilão.

Paulo Metri, engenheiro mecânico e conselheiro do Clube de Engenharia, informa que o BDEP contém dados sobre levantamentos sísmicos, análises e resultados de perfurações realizadas em diversas áreas do território brasileiro. “Essas informações são estratégicas, pois a partir delas é possível estimar, com maior chance de sucesso, a possibilidade de ocorrência de petróleo”, completa.

 

Dafne Melo e Luís Brasilino, da redação

COMENTÁRIO:

Enviado por Raymundo Araujo Filho em 07/08/2008 09:52

 

James Petras é importante cientista político, ligado ao Tribunal Russel para a América latina. Tem um livro “Ensaios contra Ordem”, onde descreve com exatidão os meios e métodos que o Imperialismo se utiliza para a invasão militar, cultural e/ou tecnológica dos países.

Um dos capítulos refere-se à compra de intelectuais, jornalistas e cientistas, para de forma insidiosa e clandestina, validarem sua ideologia e produtos tecnológicos.

Este casamento USP e Monsanto, apenas confirma a ese de James Petras.

E o que mais me preocupa é a falta de gigantesca e visível manifestação de repúdio pela comunidade acadêmica.

Depois reclamam da iniciativa do MST ter as suas próprias escolas. Estas, com todas a sdificuldades e até possíveis equívocos, formará cidadãos e não robôs.

brasil de fato.

ilustração do site. sem comentários.

 

 

UM MAU POEMA – poema de p.v.

Somos invadidos pela péssima arrogância
de um poema flâmengo armado em queijo
qual burro embalsamado no conservatório
qual erasmo principiante no ágora, escorraçado
este mesmo poema, que aqui se lê.
Um poema dislexico e cheio de erros
E que é a expressão do poeta
quando consumiu café em vez de carne
bolachas em vez de ódio
cigarros em vez de fruta fresca
flocos em vez de filosofia

Uma ode ao poeta mau
que ele dure até ao dia em que retorne à aprendizagem da vida

que ele consuma o absoluto rápidamente
e invente de novo o sol
para que não se apaguem dos livros
as emoções tremendas
de um amanhã sem rumo

RETTA NO SESC ÁGUA VERDE – É HOJE 8/8/08

EXPRESSO PARA O NIRVANA – pela editoria

Jill Bolte Taylor é uma neurocientista da universidade de Harvard, em Boston nos EUA. Jill tem um irmão com esquizofrenia e essa foi a razão pela qual ela decidiu dedicar sua carreira ao estudo de doenças mentais. Como cientista, queria entender como o cérebro consegue captar sinais do ambiente, transformá-los em sonhos e depois em realidade. O irmão de Jill não consegue captar esses sinais da realidade e por isso vive isolado. A pesquisa dela era justamente comparar as diferenças biológicas entre os cérebros normais e os daqueles com doenças neurológicas.

Numa manhã de dezembro de 1996, Jill passou por uma experiência única, que muitos neurocientistas só chegam a conhecer de forma teórica: teve um derrame que a levou direto ao nirvana. Uma veia explodiu no hemisfério esquerdo e durante quatro horas ela acompanhou seu cérebro deteriorar e perder a capacidade de processar qualquer tipo de informação. Não podia falar, andar ou lembrar de qualquer episódio de sua vida. Estava ausente.

O cérebro humano possui dois hemisférios, conectados por um feixe de 300 milhões de fibras nervosas conhecido como corpus caloso. Numa analogia computacional, podemos dizer que o hemisfério direito funciona como um processador paralelo enquanto que o esquerdo funciona como um processador serial. Justamente porque eles processam informação de formas diferentes, cada hemisfério é responsável por tarefas distintas.

O hemisfério direito é responsável pelo visual e intuitivo. Informações que chegam pelos sistemas sensoriais são conectadas e formam uma imagem de um determinado momento. Dessa forma, o hemisfério direito é o responsável pela sua inserção no ambiente. Para essa parte do cérebro, não existe uma definição do “eu”, tudo pertence a um mesmo momento, somos todos a mesma coisa pois estamos juntos naquele mesmo instante.

O hemisfério esquerdo é bem diferente, processa a informação de forma linear e metódica. Considera as ações sempre no passado e no futuro. É o lado do cérebro responsável pela triagem das informações adquiridas no momento presente, classificar cada detalhe, associando com lembranças do passado e projetando as diversas possibilidades no futuro. Ao contrário do hemisfério direito, o esquerdo usa uma linguagem verbal e não visual. Esse hemisfério exclui o indivíduo do resto, pois é o responsável pelas conseqüências das ações do “eu”.

E foi justamente o hemisfério esquerdo o afetado no cérebro de Jill. Depois de sentir uma sensação dolorosa atrás do olho esquerdo, ela começou a perceber que os músculos estavam ficando rígidos. Com esforço, conseguiu chegar no banheiro onde perdeu o equilíbrio e se apoiou na parede. Foi ai que teve uma das mais estranhas sensações, pois não conseguia mais focar nos limites do próprio corpo, como se os átomos do seu braço estivessem se misturando com os átomos da parede. A percepção física do limite de seu braço não era mais o encontro da pele com o ar.

Jill descreve esse momento como se fosse a realização de que tudo está conectado numa mesma massa energética. Seu cérebro pôde apreciar o que estava acontecendo mas sem compreender nada, pois a experiência fugia daquelas do seu dia-a-dia. Momentos mais tarde, ela compararia esse sentimento com o “nirvana”, como se o derrame tivesse sido dado a ela a oportunidade de experienciar algo mágico. Naquele momento, ela perdia toda a bagagem sensorial que carregava desde o nascimento e se sentia livre. Estava viva apenas no presente e em total equilíbrio com o ambiente ao seu redor. Esse sentimento trouxe a ela um respeito maior pelas coisas que a cercam.

Quando você faz parte de um grupo, você respeita isso, para ela o grupo naquele momento era o universo. Imagine se todos tivéssemos essa oportunidade?

Após alguns minutos nesse estado, o hemisfério esquerdo começou a funcionar e chamar a atenção da consciência de Jill: alguma coisa estava errada e ela tinha que agir. Foi aí que perdeu o movimento de um braço e só então percebeu que estava tendo um derrame. Conseguiu então chamar por ajuda e sobreviveu. Uma cirurgia que retirou um coágulo do tamanho de uma bola de golf de seu cérebro seguido de oito anos foram necessários para que se recuperasse.

Esse sentimento de nirvana não faz necessariamente parte da experiência das pessoas que sofrem derrame. Algumas observam alteração no humor quando o lado esquerdo é afetado. Jill foi salva porque o derrame não danificou completamente o hemisfério esquerdo, fazendo com que recuperasse a consciência serial e buscasse por ajuda.

O hemisfério esquerdo é responsável pelo ego, contexto, tempo e lógica; enquanto que o direito se dedica a empatia e criatividade. Na maioria das pessoas, o esquerdo é dominante e a sociedade atual é fruto dessa dominância. Mas para Jill não precisa ser sempre assim, a experiência do nirvana estaria contida dentro do cérebro de cada um, seria uma forma de estabelecer conexões com os outros. Para ela, isso não é um milagre, mas ciência. Desde o episódio, a pesquisadora tem sido contactada por uma série de grupos religiosos que buscam nela uma confirmação espiritual. Mas para ela, religião não passa de uma “história que o hemisfério esquerdo conta para o direito”.

Ou seja, para Jill não precisamos de religião para atingir esse estado. Então como fazemos sem ter que sofrer um derrame? Essa é a grande questão dessa história toda e não sabemos a resposta. A pesquisadora está convencida que exercitar o lado direito com atividades visuais como desenho e pintura, diminui a dominância do lado esquerdo. Interessante notar que diversas linhas de meditação também buscam a imersão no presente através de técnicas de respiração.

Chamo a atenção para a prática de Yoga, diversas evidências descrevem esses exercícios milenares como uma efetiva forma de redução dos níveis de estresse. Mas concordo que isso está longe de propiciar o mesmo sentimento que Jill teve.

Como esse tipo de sensação não dá pra estudarmos em modelos animais, temos que coletar diversas ocorrências em humanos para entender quais as conexões nervosas seriam responsáveis por essa experiência. Enquanto isso não acontece, não custa acrescentar uma nova atividade para quebrar a rotina. Pode não te levar ao nirvana, mas com certeza alguma coisa nova você vai aprender.

 APÓS DERRAME, NEUROCIENTISTA ALCANÇA “O NIRVANA”

… A história de Taylor não é comum entre os pacientes de derrames. As lesões no lobo esquerdo do cérebro em geral não conduzem a uma prazerosa iluminação; as pessoas muitas vezes afundam em um estado de irritabilidade constante, e perdem o controle de suas emoções. Taylor também foi ajudada pelo fato de que o hemisfério esquerdo de seu cérebro não foi destruído, e isso provavelmente explica porque ela conseguiu se recuperar plenamente.

Hoje ela se diz uma nova pessoa, capaz de “penetrar a consciência de meu hemisfério direito” sempre que assim deseja, e de ser “uma com a totalidade da existência”. E ela diz que isso nada tem a ver com a fé, e sim com a ciência. Taylor oferece profunda compreensão pessoal a algo que havia estudado por muito tempo: a grande diferença entre as personalidades das duas metades do cérebro.

O hemisfério esquerdo em geral nos fornece contexto, ego, tempo, lógica. O hemisfério direito nos oferece criatividade e empatia. Para a maioria das pessoas de fala inglesa, o hemisfério esquerdo, que processa a linguagem, é dominante. A percepção de Taylor é que isso não tem necessariamente de ser verdade.

A mensagem dela, a de que as pessoas podem escolher viver uma vida mais pacífica e espiritual deixando de lado a porção esquerda do cérebro, atrai muita gente.

Em fevereiro, ela palestrou na conferência TED, sobre tecnologia, meio ambiente e design, um fórum anual para a apresentação de idéias científicas inovadoras. O resultado foi eletrizante. Depois que sua palestra de 18 minutos foi postada no site da TED, ela se tornou uma espécie de celebridade instantaneamente.

Mais de dois milhões de pessoas assistiram ao vídeo, e mais de 20 mil ao dia continuam a fazê-lo. Ela também concedeu uma entrevista veiculada no site de Oprah Winfrey e foi escolhida como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2008, pela revista Time.

Também recebe mais de 100 e-mails de fãs ao dia. Alguns deles são cientistas especializados no estudo do cérebro, fascinados com o fato de que uma colega tenha sofrido um derrame e agora tenha podido retornar e traduzir essa experiência nos termos que eles estão acostumados a empregar. Outros são vítimas de derrames ou profissionais de saúde que trabalham nessa área, interessados em contar suas histórias e em agradecê-la pela franqueza.

Mas muitos dos que a procuram têm interesse em fenômenos espirituais, especialmente budistas e praticantes de meditação, para os quais a experiência pela qual ela passou confirma sua crença de que existe um estado de alegria ao qual se pode chegar.

Taylor decidiu estudar o cérebro – e obteve um doutorado em ciências com especialização em neuroanatomia -, porque seu irmão enfrentava uma doença mental e sofria ilusões de que estava em contato direto com Jesus. E de seu antigo laboratório de pesquisa em Harvard, ela continua a falar em defesa das pessoas mentalmente doentes.

Mas reduziu sua carga imensa de trabalho. Ela vive em beco arborizado a alguns minutos de distância da Universidade de Indiana, onde fez seu curso de graduação e onde hoje leciona na Escola de Medicina.

O vestíbulo da casa está pintado de uma cor púrpura intensa. Ela recebe os visitantes com abraços calorosos e, quando fala, seus olhos de um azul pálido não se desviam dos olhos de seus interlocutores. Solteira, ela vive com seu cachorro e dois gatos, e não hesita em definir sua mãe, 82 anos, como sua melhor amiga.

Taylor diz que escreveu suas memórias porque acredita que haja muito de aproveitável em sua experiência, no que tange à recuperação de pacientes de trauma cerebral.

Quanto a questões mais sérias, como a paz mundial, ela diz que não sabe como atingi-la, mas acredita que o hemisfério direito do cérebro possa ajudar – ao menos foi o que disse na conferência TED. “Creio que quanto mais tempo usarmos os circuitos de paz de nosso hemisfério direito, mais paz projetaremos no mundo, e mais pacífico será o planeta”. Quase parece ciência.

 

Tradução: Paulo Migliacci ME

The New York Times 

 

 

(PESQUISA) NÓS E O DANIEL DANTAS SUBIMOS!- por walmor marcellino

MARGINALIDADES E VERTICALIDADES

 

Evoé! Mais 20 milhões de pessoas (completando 86 milhões de brasileiros em êxtase, ou 46% de pessoas vívidas) subiram de classe e já estaríamos ameaçando avalanchar (aluir) as classes de cima. O socialismo bate às portas do mercado nacional, corroendo a acumulação capitalista-especulativa e desenfreada dos 10% mais ricos (oligarcas, aristocratas, plutocratas, com a sua “elite” sebácea apensa nos estamentos administrativos e burocráticos do Estado). E quem está provocando esse terremoto? A doutrina social-nacional do nosso Partido dos Trabalhadores guiada pelos timoneiros Luiz Inácio Lula da Silva-Henrique Meirelles-Guido Mântega, que tiveram três eurekas: a continuação das políticas neoliberais de Fernando-Henrique, o superávit primário e as reformas sociais lentas em homenagem ao Betinho.

Anunciam-me, com atestado estatístico do IBGE, que as classe D e E estão desaparecendo e que eu também ingressei numa elite social de renda (embora nem econômica nem política, logo sem florescência social) através da caracterização que nos fazem as agências de propaganda como cidadãos-clientes de mercado, ou consumidores de eletrodomésticos móveis e imóveis. Imaginam que até eu possa comprar um Mercedes Benz em fixos de 60 meses, se der uma entrada de R$50 mil!

Fiquei exultante de patriotismo e de satisfação-Brasil, pois que agora vamos enfrentando os inimigos nacionais que sempre estiveram a serviço do imperialismo* (como esses Dantas, Lalaus e Mendes exportadores de juros, royalties e lucros e com retornos em forma de capital, sem ônus fiscal), as oligarquias dos grilos e latifúndios, os manipuladores de agronegócios, os especuladores rentistas das bolsas do presente e dos futuros; enfim os vis detratores dessa grande frente social-trabalhista-nacional, porque alcançamos democraticamente o poder político-administrativo e ameaçamos assumir o poder real das instituições em sua práxis política.

Vou exultante de um lado e meio ressabiado de outro, pois me preocupa que os 10% mais ricos também estão rindo muito. Um deles me provou, debochadamente, que nunca ganharam tanto para cima e para os lados (vertical e horizontalmente) como nos últimos anos; e chegou a dizer-me: “Adoro essa carta náutica do PT. Temos plena confiança no comandante-piloto e em seus imediatos. Assim, nada como um dia depois do outro; motor à vante, como se diz: velas soltas, vamos vencendo procelas e rebojos, sucessivamente”.

 

(* No “Brasil de Fato”: A Associação dos Engenheiros da Petrobrás denuncia a presença de agente da Halliburton (EUA) nos quadros da Agência Nacional do Petróleo, administrando seu banco de dados e produção).

 

Curitiba, 7/8/2008

 

 

segundo a pesquisa da corte mudei de classe. como vou pra casa?

ilustração do site.

 

LEONARDO MEIMES comenta em ” A CRIANÇA E O PRAZER DE LER”

COMENTÁRIO:

LEONARDO MEIMES

 

Muito bom. O trabalho que os professores tem feito com a literatura têm literalmente MATADO a leitura. Os professores de língua portugesa tem que perceber que a leitura é a parte principal do aprendizado da língua, não só a leitura da literatura mas em geral. Já é mais do que óbvio que só saber falar, escrever e ler não forma um bom leitor. O contato constante coma leitura é a única forma de realmente praticar o que se aprende. E importante a o uso da literatura como pretexto para ensinar gramática deve ser PROIBIDO. Assim o professor acaba matando a literatura que tem um poder estético intrinseco, artístico e isto é que deve ser mostrado a criança. A literatura de entretenimento tem nesta prática o papel mais importante, leitores não são formados lendo os clássicos. Primeiramente é necessário um contato com leituras fáceis e divertidas para depois e aos poucos se introduzir leituras mais complexas. Obrigada pela contribuição Graziele. é sempre importante relembrar a todos que a literatura é um objeto do prazer de ler e não da obrigação de ler para passar de ano ou no vestibular.

 

veja o tema: AQUI

KEVEN comenta em “COMO ACABAR COM A VIOLÊNCIA NA ESCOLA”

COMENTÁRIO:

KEVEN

1.      A violência na escola
Os meios de comunicação audiovisual, não raras vezes retratam acontecimentos violentos protagonizados pelos alunos nas escolas. De facto, “inverteram-se os papéis; os métodos violentos de alguns professores eram tradicionalmente mais frequentes no mundo escolar: castigo físico, humilhações verbais…” (Fermoso: 1998:85). Actualmente, os professores não podem exercer qualquer tipo de castigo aos alunos sob pena de sofrerem sanções disciplinares, mas e os alunos? Que perfil apresentam os adolescentes que se envolvem em actos de violência nas escolas portuguesas?
Um estudo realizado em 2001 por Margarida Matos e Susana Carvalhosa baseado em inquéritos a 6903 alunos de escolas escolhidas aleatoriamente, com as idades médias de 11, 13 e 16 anos, analisaram a violência na escola entre vítimas, provocadores (incitação na forma de insulto ou gozo de um aluno mais velho e mais forte do que o outro) e outros (similarmente vítimas e provocadores) demonstram os seguintes dados bastante curiosos:
o Mais de metade dos alunos inqueridos são do sexo feminino (53.0%);
o 25.7% dos jovens afirmaram terem estado envolvidos em comportamentos de violência, tanto como vitimas, provocadores ou duplamente envolvidos;
o As vítimas de violência são maioritariamente masculinas (58.0%);
o Os inqueridos que se envolveram em comportamentos de violência em todas as suas formas situavam-se nos 13 anos de idade;
o Os jovens provocadores de violência são aqueles que têm hábitos de consumo de tabaco, álcool e mesmo de embriaguez. Também são os que experimentaram e consumiram drogas no mês anterior à realização do inquérito;
o Quanto às lutas, nos últimos meses anteriores ao inquérito, 19.08% dos jovens envolveram-se em comportamentos violentos;
o Os vitimados pela violência, são os que andam com armas (navalha ou pistola) com o intuito da sua própria defesa;
o Os adolescentes que vêem televisão quatro horas ou mais por dia são os que estão mais frequentemente envolvidos em actos de violência;
o As vítimas e os agentes de violência não gostam de ir à escola, acham aborrecido ter que a frequentar e não se sentem seguros no espaço escolar;
o Para os actores de violência a comunicação com as figuras parentais é difícil;
o 16.05% das vítimas vive em famílias monoparentais e 10.9% dos provocadores vive com famílias reconstruídas;
Quanto aos professores, os alunos sujeitos e alvos de violência consideram que estes não os encorajam a expressar os seus pontos.

 

veja o tema: AQUI

Ser-âmica – poema de cleto de assis

Matéria arrancada do ventre da terra

Vem a minhas mãos para ser amassada

                                    obediente

                                    mentalizada

                                    moldada

                                    torneada

                                    formada.

 

Com as pontas dos dedos

                                     pressiono

                                     pressinto

                                     imagino

                                     rezo

                                     me deifico.

 

Ela se forma na deformação

                                     indolente

                                     dolentemente

                                     ardilosamente

                                     argilosamente.

 

E só terá sentido se abandonar a brandura

                                     a ternura

                                     a suave textura

                                     para, dura,

                                     cingir-se em definitiva arquitetura.

 

Para cumprir teu destino, acrisola-te no fogo.

Tu és pedra: e sobre teus cacos construo a minha vida.

 

Curitiba – 10.jan.2008

 

COMO A LDB TRATA OS PROFISSIONAIS DE ENSINO – vicente martins

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) dá diferentes títulos aos profissionais de educação escolar: professores, docentes e profissionais de ensino. O que pode estar por trás dessa nomenclatura do ponto de vista do legislador e dos que atuam no campo educacional? Que incumbências são outorgadas aos docentes dos estabelecimentos de ensino?

No meio social, professor é todo que ensina uma ciência, uma arte, uma técnica, uma disciplina. É um termo bastante abrangente e equivalente a mestre, este, mais utilizado no período imperial, por força da Constituição de 1824 e da Lei de 15 de outubro de 1827 que chamavam mestres todos aqueles que exerciam uma “cátedra”.

À luz da legislação federal, todos aqueles profissionais de educação escolar, em particular, os das redes oficiais de ensino, que ingressam, no serviço público, através de concurso público de provas e títulos, são, portanto, detentores de cargos públicos, e, por isso, têm incumbências enumeradas ou responsabilidades explicitadas pelo Estado.

No inciso VII, do artigo 3º da LDB, no âmbito dos Princípios e Fins da Educação Nacional, o concurso público, princípio de ensino, é uma forma de valorização do profissional dos que trabalham no magistério oficial. No referido inciso, ainda podemos cogitar a possibilidade de entendermos o espírito da lei de dar um sentido mais genérico à figura do profissional da educação escolar, o que englobaria, no nosso entendimento, não apenas aqueles que estão atuando em sala de aula, ministrando aulas, mas que fazem parte da escola, como servidores que trabalham como porteiros, secretários escolares, coordenadores pedagógicos ou diretores da escola.

A LDB, assim, ao referir-se aqueles que profissionais que têm cargos efetivos de professores os chamam de docentes. A escola, por sua vez, zelando pela valorização profissional de educação escolar, tem a incumbência inalienável de envolver os docentes no seu processo de construção ou gestão escolar.

No inciso IV, do artigo 12 da LDB, os estabelecimentos de ensino receberam a incumbência de velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente. Assim, na organização nacional da educação nacional, os docentes são importantes agentes no projeto pedagógico da escola, o que exige da parte da gestão escolar, o zelo pelo seu plano de trabalho docente, o PTD, que deve ser, por sua vez, afinado (não necessariamente atrelado a) com a proposta pedagógica da escola.

 O artigo 13 da LDB é reservado exclusivamente aos docentes. Pelo menos, são seis as incumbências dos docentes, isto é, dos profissionais de ensino que têm cargos ou funções específicas ou especializadas na escola.

A primeira incumbência magisterial, prevista no inciso I da artigo 13 da LDB, determina que cada docente deva participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino. A participação ativa do docente se faz necessária à elaboração da proposta pedagógica uma vez que a escola, efetivamente, só se realiza, enquanto estabelecimento de ensino, com a presença física dos docentes, ou seja, de profissionais da educação escolar que, habilitados, em nível de educação superior, na área de sua atuação profissional, são, regularmente, contratados ou admitidos na atividade de magistério, respaldando, pois, legalmente, a instituição escolar.

A segunda incumbência magisterial, prevista no inciso II da artigo 13 da LDB, determina que cada docente deva elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino. O plano de trabalho docente é, ao certo, uma das atividades mais acadêmicas, produtivas e interessantes dos profissionais de ensino. A partir do plano de trabalho, o docente pode assinalar, no período letivo, suas metas curriculares e educacionais. Por exemplo, é a oportunidade de o docente propor e perseguir metas como o fim da evasão escolar e melhorar a qualidade do seu serviço educacional através de uma didática eficiente e eficaz, que tenha por principal finalidade o desenvolvimento da capacidade de aprender e de aprendizagem dos alunos.   

A terceira incumbência magisterial, prevista no inciso III da artigo 13 da LDB, prescreve que cabe ao docente zelar pela aprendizagem dos alunos. Aqui, decerto, reforça, no processo ensino-aprendizagem, a aprendizagem como princípio do bom fazer pedagógico. O componente ensino, centrado no professor, refere-se à organização do material curricular a ser transmitido em sala de aula em prol da aprendizagem que, aqui, passa a ser entendida como a assimilação ou estocagem de conhecimentos e saberes historicamente acumulados pela sociedade.

A quarta incumbência magisterial, prevista no inciso IV da artigo 13 da LDB, diz que cada docente deve estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento. Mais uma vez, o aluno, nesse inciso, é o foco da atenção do processo ensino-aprendizagem.

O papel do docente é o de levar o aluno ao desenvolvimento das habilidades e competências requeridas pelo projeto pedagógico ou plano de desenvolvimento da escola.

Se os alunos deixam de aprender, nas condições de oferta de ensino, caberá ao docente assegurar as estratégias de recuperação, para que os alunos com dificuldades de aprendizagem superem seu menor rendimento, isto é, alterem as baixas notas que os reprovam ou que os levam ao fracasso escolar,  convertendo-as em notas boas, dentro da média, que os aprovam e os promovam ao ano seguinte, segundo as regras estabelecidas pelo processo de avaliação.       

A quinta incumbência magisterial, prevista no inciso V da artigo 13 da LDB, traz a seguinte responsabilidade para os que atuam no magistério: cada docente deve ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional. Um dia é considerado eletivo quando, no ambiente escolar, há a presença do aluno e do professor, o que quer dizer a garantia da presença física do professor e a permanência do aluno na escola. A noção de hora-aula sugere, por seu turno, dentro da tradição pedagógica, a aula presencial do professor; claro, utilizando-se, para isso, de todos os recursos dos jogos didáticos, da moderna tecnologia da informática educacional e a internet.   

A sexta incumbência magisterial, prevista no inciso VI da artigo 13 da LDB, define a responsabilidade que cada docente tem de colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade.

Na essência do inciso VI do artigo supra citado,  a lei parece indicar o grau de descentralização da escola, propondo, explicitamente, que os docentes devam se articular com as famílias e com as comunidades. Os desafios do professor  passam a ser desafios também dos pais e da comunidade. Se o aluno deixa de aprender, a família, em tempo hábil, deve ser comunicada da situação do aluno, não apenas em se tratando das informações de avaliação escolar, mas de sua motivação, curiosidade e interesse de aprender, para que, em regime de co-responsabilidade educacional, participe do esforço docente de recuperar o aluno e não permitir sua retenção no processo educacional.

As comunidades, especialmente as religiosas, sociais e todas as outras formas de organização societária, que agregam e congregam as pessoas da vizinhança, devem ser convidadas a participar das agendas escolares, especialmente quando questões como a violência urbana, desemprego e desmotivação para aprender passam a ser ordem do dia dos agentes educacionais e a ter reflexos preocupantes para o futuro das crianças, jovens e adultos, dentro ou fora da escola.        

Vicente Martins, palestrante, é professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), em Sobral, Estado do Ceará, dedica-se entusiasticamente às dificuldades de aprendizagem relacionadas com a leitura(dislexia), escrita(disgrafia) e ortografia(disortografia).

AÍ CLASSE MÉDIA, CHEGAMOS LÁ! – por jb vidal

acabei de ouvir no jornal nacional (05/08/0 oito) as 20:26 hs, que a classe média é maioria no Brasil. uhnn ? o que é isso? o que eles estão pretendendo com essa informação em forma de notícia? há tempos atrás ela já foi formadora de opinião, sustentáculo da arrecadação, decidia eleições, sofredora na inflação!

William Bonner e Fátima Bernardes ( o casal ideal da classe média) transmitem esta informação (sic) com o melhor semblante possível além da maquiagem, a fim de convencer quem está no barraco de que eles estão fora da estatística,  e, assim, deixá-los mais depressivos e impotentes para qualquer reação quanto ao seu destino. “você é um pobre, ta fudido e fica na tua não venha nos aborrecer com suas queixas que são problemas teus, eu sou maioria e as maiorias se impõem.”

 

quem fez a pesquisa? quem formulou as perguntas? quem analisou? os “especialistas” conhecidos do Delúbio? ou foram importados de DOHA?

 

pessoal!! nada disso importa! o importante é que somos MAIORIA!! e agora nos sobrepomos a tudo!! isto não é fantástico? se o país quiser mudar de rumo terá que nos consultar!!! enfim somos o poder!!! quem diria?

 

a burguesia caiu e a pobreza subiu!

 

maravilha!! PRÁ FRENTE BRASIL! lembram?

 

o milagre econômico do delfim neto? qualquer office boy tinha uma carro zero km financiado em 60 meses! o sistema financeiro e as multinacionais INFLACIONANDO o país! hoje você compra um veículo, zero km, para entupir nossas cidades, financiado em 80 meses! qualquer sobrevivente da economia informal pode compra-lo!

 

minha cadelinha clarice latiu para mim dizendo: “enfim pai, saímos da merda! já posso pegar aquele ossão lindo do shopping?” fiquei com uma cara de cachorro olhando pra ela e a resposta fugiu ou nem de Brasília saiu.

para ser classe média “neste país” basta receber o BOLSA FAMILIA. acho que passei pra burguesia e deus me livre que clarice saiba disto.

 

aqui, oh Brasília e TV Globo de merda!  ainda existem alguns não-idiotas! enfiem sua pesquisa naquele lugar e vão pra puta que as pariu!!!

 

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Hoje 06/08/0 oito)

 

Comentário abaixo que recomendo a leitura.

 

Com este comentário complemento, sucintamente, o texto acima.

 

a minha indignação, registrada acima, prende-se ao fato da visual manipulação dos dados feita pelos “especialistas” coordenados pela corte. vou utilizar o seu texto: “A pesquisa compreende o período de 1992 a 2008 e considera pobre o indivíduo que tem renda mensal de até meio salário mínimo (R$ 207,50).”

caro amigo qual seria o conceito de miséria para os “especialistas” da corte? se quem ganha entre C$0,1 e C$207,50 eles consideram apenas pobres?

a pesquisa diz ainda que, quem ganha entre C$1.064,00 e C$4.591,00 é CLASSE MÉDIA, e, o que “eles” consideram ELITE (classes A e B) ficam acima de C$4.591,00!

talvez eu esteja desatualizado e não saiba que os “especialistas” mudaram as faixas de classificação das classes economicamente ativas. esqueceram de se referir, ou criar uma classe para quem ganha entre C$207,00 e C$1.064,00, esses indivíduos NÃO EXISTEM, pelo menos na pesquisa “deles”. “eles” são “especialistas” nisso. (veja foto do jornal gazeta do povo).

 

um pai de família com esposa e dois filhos que ganha C$1.064,00 mensais, alguém pode me dizer como e onde mora? qual sua alimentação? o que veste? qual seu nível de educação e da família? sem falar nos demais itens que compõem a designação  de classe média em qualquer país, mesmo na Nigéria.

então podemos concluir que a maioria da classe média brasileira está favelada!

vou deixar para os leitores fazerem suas reflexões e mirabolantes cálculos financeiros para saberem onde se enquadram. não será difícil, os “especialistas” da corte facilitaram tudo! estamos em tempos eleitorais.

mudei de classe sem ganhar mais nem menos: sou ELITE piazada. a corte me promoveu, ainda bem que eles são sérios e honestos!

JB VIDAL

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hoje 6/8/0 oito as 15:00

 

quando recebi a foto enviada por l. k. sobre o assunto acima, não hesitei em publicá-la. é exatamente esta a cena que a corte e seus “especialistas” imaginaram de nós os leitores da notícia/pesquisa/eleitoral.

 

ilustração do texto. 

ISABELLE MARA comenta em LÉPIDA e LEVE

COMENTÁRIO:

Isabelle Mara

Simplesmente maravilhoso estar aqui a navegar por PALAVREIROS, mesmo que faça algum tempo sem enviar um pouco de mim! Vou carregar no capricho de estar sempre por aqui e certamente se ainda me permitirem, enviar algo, já que tenho escrito muito ultimamente. Sucesso ao site e mais e mais sucesso aos que participam, enviando seus trabalhos, que não deixam de ser um pouco do mais profundo do ser de quem descreve seus sentimentos em forma de versos, de poemas, etc, etc. Prossigam colaborando e desta maneira, estarão se divulgando e não engavetando o que poderia transmitir tanto à tantos.
Um grande e fraternal abraço,
Isabelle

 

veja o tema: AQUI

UMA ANÁLISE SOBRE O FRACASSO ESCOLAR BRASILEIRO – por cibelle maciel

Dos estudos realizados sobre o fracasso escolar, foram formulados três conceitos sobre essa problemática, o fracasso dos indivíduos (Poppovic, Exposito & Campos, 1975), o fracasso de uma classe social (Lewis, 1967, Hoggart, 1957) ou fracasso de um sistema social, econômico e político (Freitag, 1979; Porto, 1981).Para os estudiosos que conceituam o fracasso dos indivíduos, a privação cultural seria a causa desencadeante das dificuldades escolares, devido estes alunos não terem bem estruturados em seu seio familiar a cognição necessária para desenvolver habilidades matemáticas e lingüísticas.

Quanto ao fracasso de uma classe social, os autores conceituam que os próprios membros da classe pobre não valorizam a educação, para estes a evasão escolar não é um problema, visto ser mais importante uma ocupação monetária do aluno para auxiliar no rendimento familiar (Hogart, 1957).

Para Freitag, ocorre uma reprodução cultural, onde os alunos pobres não se desenvolvem devido o próprio sistema escolar não propiciar isso.

Segundo Poppovic é preciso revermos todos esses conceitos de fracasso escolar, no sentido que a escola deve reavaliar as suas metodologias, pois se o aluno é visto como remanescente de uma cultura que não preparou para a aprendizagem, a escola precisa adequar-se a essas exigências individuais, pelo papel social que desempenha.

Em alguns países o estudo sobre o fracasso escolar está avançado, tendo inclusive considerado a etnografia dos alunos, como por exemplo, Labov (1969) acompanhou as diferenças na verbalização das crianças pobres do Harlem em situações informais e formais. Isso significa que a resolução das questões, como as matemáticas muitas vezes dependem do seu contexto.

No Brasil um estudo realizado com alunos pobres em situações formais na escola e informais, onde trabalhavam, demonstrou a habilidade de resolução prática e a dificuldade de sistematizar o que sabiam resolver dentro do ambiente escolar, pois a escola determina uma “estrutura” inacessível para este aluno, devido o seu contexto cultural.

Nos testes, as crianças foram melhores nas situações que envolviam um contexto, ligado às atividades desenvolvidas no comércio, carrinho de pipoca, venda de coco e etc. Enquanto que o teste formal teve resultado inferior.

Na escola é aceito que devê-se ensinar aritmética isoladamente de contextos, essa idéia foi desmentida pelos resultados obtidos na pesquisa.

Podemos concluir que a evolução na aprendizagem matemática reporta-se em muito daquilo que o professor considera do raciocínio lógico desenvolvido pelo aluno, assim como a escola precisa reaver vários conceitos infundados, porque as alunos são diferentes e consequentemente a resolução de um mesmo problema tem formas diferentes de resolução. Além disso, é necessário conhecer quais são as vivências anteriores e atuais desses alunos, para contextualizar o conteúdo de forma significativa.

Bibliografia: CARRAHER, Teresinha N. et all. Na vida dez, na escola zero.São Paulo,Cortez,1990,p 23 a 43.

 

FORA do BUSÃO a VIDA é um INFERNO – por alceu sperança

‘‘Dante uma vez fez um inferno com a poesia e eu escrevo sobre o inferno que é a vida real de nossa época’’ (Victor Hugo, sobre seu livro Os Miseráveis, 1862)

………..

A tarifa do transporte coletivo urbano (TCU) do Paraná e do Brasil em geral faz que o custo do deslocamento da arraia miúda seja um dos mais elevados do mundo.

Se o usuário do TCU desconfiar que seus gastos mensais com o lotação podem pagar a prestação de uma bicicleta ou moto, as ruas ganham duas rodas a mais e o TCU perde um dos imprescindíveis financiadores do sistema.

O pior é que comprar um carro usado é quase tão fácil quanto comprar uma bicicleta ou moto. E os usuários mais atrevidos ambicionam passar do ônibus diretamente às quatro rodas.

Uma lástima que atravancaria ainda mais as ruas, pondo esse sistema tão útil e cidadão à beira da ruína: um consumo maior de combustível; danos ao meio ambiente; reflexos inevitáveis na saúde física e mental; mais mortes no trânsito; aumento nos custos do sistema.

E mais mordidas no bolso dos cidadãos que insistem em privilegiar o sistema, com o conseqüente agravamento da crise do TCU. Sem contar as propagandinhas chatas, sanguinolentas e inúteis sobre o risco de acidentes.

O transporte constitui um dos grandes problemas do Brasil. Esburacadas pistas de rodagem escoam máquinas porcalhonas e assassinas que trazem carradas de problemas: consumo excessivo de energia caríssima, terríveis prejuízos ambientais, criminalidade estradeira, mortandade no tráfego.

Essa realidade mostra que o estímulo ao transporte individual, via elevação dos custos do TCU, é o ovo da serpente de um desastre social.

Se o TCU continuar a ser desestimulado via encarecimento, logo cada família terá dois ou três veículos – e pelo menos um dos familiares vai passar por uma UTI ou receber o atestado de óbito por conta de um acidente. Alguém bem próximo a você já sofreu o horror do trânsito.

Não é possível um destino positivo para o sistema com a queda de renda do trabalhador e elevação dos custos de seu deslocamento, acompanhadas pelo privilégio ao transporte individual e a definitiva badernização do trânsito.

O consumo de energia no setor chegou a um volume indecente. Enquanto a indústria coloca no mercado uma geladeira que economiza energia, o carro usado adquirido no 18° aniversário pelo garotão da família vai se encarregar de liquidar essa economia energética.

A realidade planetária mostra que a era do petróleo se aproxima rapidamente do fim e isso levará a uma radical transformação na sociedade.

Mas as indústrias vão vender na reta final de seu fastígio o máximo de veículos, através de facilidades enormes ao transporte individual. E o encarecimento do TCU e seu colapso servem perfeitamente a esse objetivo maléfico.

As alterações que a companhia de trânsito está constantemente promovendo no sistema viário não vão melhorar objetivamente a situação do tráfego se o TCU perder muitos usuários para o transporte individual. O congestionamento tenderá a crescer na mesma proporção em que se desprestigiar o TCU.

O ideal seria quem ama sua família e a quer proteger da poluição pagar ao cidadão para andar de lotação e deixar a porcaria poluente com a qual desfila orgulhosamente a distribuir veneno, para uso essencial.

Uma espécie de extintor de incêndio, equipamento que se compra sem a intenção de usar a toda hora.

Mas, ao contrário, uma teia da aranha envolve o TCU com a ameaça de um colapso que, ao fim e ao cabo, será a desgraça do próprio poder público, revelando incapacidade para cumprir a sua única verdadeira obrigação: tornar a vida digna de ser vivida.

 

sem crédito. ilustração do site. ponto de ônibus em Copacabana. anos 60.

DE POESIA E FAMAS: o retorno do anjo vingador – de jairo pereira

 

 

 

Engraçado, esse mundo, o nosso. Milhões de dólares investidos no esporte. E deveria ser investido ainda mais. Grandes grupos econômicos botando dinheiro ali. Dinheiro farto no automobilismo, dinheiro em penca no tênis de quadra, no basquete, nos esportes náuticos… e por aí afora. Pra nós, da poesia um nada elevado à milionésima potência. Fico triste e putho, quando vejo poetas vendendo carros, motos, bicicletas pra editar um pequeno livro ou cd de poesia. Não há público, e não há reverência pra poesia. Quando assisto a um jogo qualquer: sinto a presença maciça de público, a participação da galera, eufórica com seus ídolos. A nós da poesia, as casas de espetáculos, sempre vazias e muitos nãos nos correirões. Ultimamente pago com a mesma moeda a arte e esporte alheio. Fico frio. Friíssimo. Pedem-me se estou gostando, gostei: nem vi, não sei… desdigo. Não participo, não aplaudo, não vivo aquilo q. é fora do meu circulo, digamos (ético-estético espirithual). Anjo vingador dos poetas recusados, peguei muitas espheras de significados difusos às mãos. Espheras como linguagens novas, diferenciadas. Espheras caídas de estrelas distantes. Trouxe tudo, o lux e os reflexos do lux, pra poesia q. fiz e conheci, comentei. Nada aconteceu. E nada acontecerá. Convoco poetas pra um violento levante guarani (não esquecer bodoques, bordunas e tacapes): tomar as gráficas (as grandes editoras). Tomar parcialmente, em espaços sagrados pra poesia. Falte nos o pão à mesa, mas nunca a poesia. Q. o pobre mais pobre tenha acesso fácil à dita. Tomar, é de tomarmos tudo o q. nos retiraram no tempo. O poeta com o chapéu roto à mão, esmolando apoio financeiro, esmolando público e reconhecimento. A mídia lacaia, interessada apenas no lucro fácil. O escândalo do dia. A putha q. deu pro putho do senador da República, da piroqueta, do pirobeu, antropheu’s… Poeta recusado, convoco a todos: tomar de assalto a Editora Abril, a Globo, a Companhia das Letras, a Record, dos mui amigos da poesia, fulanos de tais… em março de dois mil e seis. Muitas máquinas imprimindo só pra nós. As grandes carretas ganhando as estradas esburacadas do Brasil. Containers cheios, com nosso livros, ganhando o Atlântico, tomando o Pacífico. Aeronaves, até então ociosas, da FAB, riscando os céus, só pra nós, signos largados no espaço sidério do Brasil. O poeta é e não é, deve ser megalômano. O poeta é e não é, deve ser visionário. O poder da palavra é o poder do não-poder, tudo q. engana os nossos sentidos. Chega de colóquios, seminários, encontros, festivais poéticos, sem ação direcionada a um fim. Chega de papo, sem práxis. Tomar de assalto as grandes editoras nacionais, e suas gráficas de encomendas. Um chega pra lá no patrocínio infiel. Um rasgo na Lei Rouanet, e nas ações não-ações do Ministério da Cultura. Roubar do esporte, ou pelos menos dividir, parte daqueles milhões de dólares, ali investidos. Mens sujis in corpore semi-sano, o pessoal vai querer nos matar. Pensem bem, já fizemos quase-tudo no futebol, no remo, no surfe, no tênis, agora é a hora e vez da poesia. Treine seus filhos em casa, desde cedo. Não deixe as crianças se perder em esportes sem futuro. Um cigarro, uns goles de cachaça, quando crescerem é claro (é bom se auto-destruir um pouco) e muita, mas muita, mesmo, P O E S I A. Não quero e não estou fazendo apologia de vícios ruins. Nem tampouco almejo destruir gerações. Pare com esse papo, de q. esporte é pura saúde. Conheço grandes idiotas, egressos do esporte, e milhares deles dentro dessa action inutile. Aqueles corpos, enormes, sarados, e aquelas mentes vazias de conteúdo. Vazias do sujo da vida: miséria, angústia, tédio, inquietação, niilismo. Vazio de tudo, q. o “maldito” do esporte lhes tira em vida. Nós os poetas vamos acabar com tudo isso: botar fumaça e pólvora nas relações. Subverter com outras linguagens os ritos. Vazia a vida, sem o sujo dos dias. O vapor da fome, o vapor da miséria, o vapor do desamor, da opressão, do trabalho sem amor e sem finalidade. Dez esportistas pra cada poeta, com seus patrocínios da Nike, da Adidas, da Petrobrás, da Umbro, da Nestlé, e estamos feitos. Eu mesmo, posso tratar de uns cinqüenta. Meus ofícios de modificar o ser humano. Primeiro, colocar o felizardo indivíduo na mnerda da sobrevivência, sem pai nem mãe (lago ness da têmpera e talento), pagando pra trabalhar, em trabalhos ásquilos q. não levam a nada. Segundo, comer o pobre feijão com arroz, ovo frito (estrelado) no prato de louça, limonada, tirada de limões do fundo do quintal, e uma q. outra sopa pobre nos finais de semana. Em meio a tudo isso, pinga de alambique, da mais barata, cigarros, muito cigarro, preocupação, despatrocínio, nãos, recusas generalizadas, hospitais, postos de saúde, atrapalhos de todo naipe, aluguel atrasado, luz, água, telefone em corte, etc… etc… tudo q. é squizira ruim nos dias bons de semana, finais e feriados. Transporte a pé, ao desportista oferecido desde já pela manhã. Rush de trânsito, jornada de trabalho mínima na construção civil de 14 horas diárias. Briga de boteco. Traição de mulher, pobre e barraqueira. Filhos desregrados. Vereador traficante, pra trabalhar na campanha política, e tudo mais q. é desgraça em cima de desgraça. Aqui a vida, amigos. O sagrado viver, sem precedentes, só com seu destino. Niq’s ao esporte das estrelas, onde o tolinho com sua raquete de tênis, entorpece famílias no horário nobre com suas raquetadinhas. Aqui a vida, mais pra baixo o buraco do resistir a tudo e todos. Todos os governos defenestrados, naquele gole de absinto (digo cachaça) no bar do Zica, na esquina da Tumeleros com a São João. As havayanas gastas, e uma longa estrada pela frente. Ser pobre e fodidão. Uma mnerda, ouro, diamante pro alto conhecimento. Auto-conhecimento. Viver e transgredir a vida com suor, trabalho, ócio, inquietação no caminho de q. caminho?! A poesia como religião, se fazer presente, em todos os atos. Maratonas poéticas. Procissões de poemas. Tudo q. não presta a sujar a mente. O poema nasce dali, do entulho. Adições, sempre de mais lixo, corrosão na corrosão, corrosão no espíritho. Sujas as mentes dos novos poetas. Vaticínios no vaticínio. Foda-se com seu dinheiro, Sr. dos Precipícios. Uma bola de futebol corre contra o vento no íngreme da avenida. Um ovo de páscoa de chocolate, a bola. Uma esphera positrônica de linguagem. Corre o bólido esphérico à avenida. No boteco da esquina: o corpo jaz ao chão, entre mesas e cadeiras. O corpo do bêbado recém-assassinado. Não tem poesia na morte. Não tem poesia, na cachaça. Não tem poesia nos cadernos de anotações. Não tem poesia onde tem só realidade. É de sonho também q. esse bolo se faz. Sonhos, oníricas visagens. Na cachoeira daquele rio, erigi transmundos, só com o vapor das águas em acidente. Acidentes dos sentidos, o desregramento em comando. Deteriorar as relações só por prazer. De um mix de febre interior e riso, pouca lona pra um grande circo. Atiradores de facas no escuro: poetas no circo, sob patas de elephantes. Poetas no chafariz do jardim rico. As cavernas dos miliardários, ilustradas com poemas, nefertímoros. O q. é um poema nefertímoro?! Óxido no ferro do portão. Racho na parede, reflexo no reflexo do abajur azul. Oxigênio, no café da manhã: poesia poesia poesia. Delírio de grandeza a palavra em ação poética, pra quê e pra quem?? Nenhuma explicação pro seu fenômeno de ser, estar, acontecer no mundo. Explorar o inexplorado, invocar o invocado, alardear significação às coisas não nascidas, essa a vã missão da poesia. Sujar as mentes, com seus signos profícuos: a poesia gerar multiplicidade na unidade. De tão mal, estou, não sei mais o q. dizer. Atentar contra o esporte, impulso nefasto. Saber sei de meus ofícios de crítica. Impensadas as ações contra de per si. Ser contra por contradito. Contra, por contrariedade, ânsia infinita de buscar o q. não existe. Inalcançáveis os desígnios da poesia. Fossem delimitados no espaço-tempo, nem seria poesia. Atentar contra o esporte, vício milenar dos corpos sãos. Atentar contra o lúdico. Atentar contra o q. é pura competição: rasa luta. Retiro o q. falei não falei pensei despensei. O problema é o mesmo. Anjo vingador dos poetas recusados, ainda não encontrei espaço, provisão, sustento, na midiosfera núlia. Um conjunto de signos (anjos) no dizer do poeta, vai erigindo transmundos, sebes, construções cheias de gente dentro, público, ovação, alarde de vozes no tempo. E, isso é de passar de geração pra geração. Ser em ser, tocado pelo vento. Nenhuma grande peneira cósmica, é capaz de deter a invasão dos ditos singulares. Prepare-se meu superatleta, pra nova vida, saltos de obstáculos nos signos. A poesia te visita pra ficar, comer em tua casa, nadar em tua piscina, usar teu cartão de crédito, lamentar teus mortos ilustres, navegar teus barcos, galopar teus cavalos, proferir teus insultos e amar tuas mulheres. Prepare-se pra nova vida q. o poeta agora impõe: nada de fala só pra se comunicar, nada de signo só pra pensar, no golpe de amanhã, nada de palavra, só pra mentir. Um novo dom, a tua fala, com os atributos da poesia. Tua língua, crispada de sóis e luas. Teus olhos em alcances longos. Teus cabelos, soltos no vento. Ali onde era só pedras, heras renascem. Ali onde haviam out doors, árvores resistem. Teus ofícios de só trazer, nunca levar, partilhar, enterrados no piso da cozinha. Poesia na porta da casa, acolhendo pássaros de estação. Não quero forçar amizade com este texto só pra colocá-lo num livro. Não quero, não posso espiralar o dizer, em busca de sentido. Justificar um crime de lesa-esporte. Tudo bem, devo ficar só com meus acintes. Fechar a porta e abrir a casa, pra quem quiser me encontrar, nu e desfalecido. Eis, o poeta da nova vida, q. é de um fazer sem compromisso, de um amar, verdadeiramente sentido. Da fama da poesia todo mundo já sabe. E do q. a mesma pode, não pode, tenta… poucos assimilam. Salto triplo do signo no desconhecido, o poeta joga com isso também meu amigo triatleta. Salta, acelera os ditos como anzóis a pescar imagens no imenso oceano dos signos.

 

 

jAiRo pEreIrA

 

Autor de CAPIMIÃ e outros.

 

DECLARAÇÃO poema de zuleika dos reis

Para Álvaro Alves de Faria

 

 

Afirmo sob juramento: Hoje

nesta terça-feira, dia de Marte,

na noite seqüestrada pela urbe

vi uma estrela no profundo céu.

 

 

Temo que não consigas tu me ouvir

no bulício de tantas aflições.

Temo que não me possas tu falar

em hora assim, de céus longe demais.

 

 

Contrapondo, tal flor furando o asfalto,

ouso afirmar-vos: Eu vi uma estrela

fugitiva das luzes de néon.

 

 

A vós, poeta por escolha e fado,

a contragosto arauto deste Reino,

reafirmo: Uma estrela escapou.

E PUR SI poema de walmor marcellino

Quando parto não esqueço

da morte que vou contando,

reconta meu patível descenso,

os degraus que insone desço,

em lástimas me perguntando:

Debaixo vou desse labéu

a invocar um sino, temente

ao abandono, em alvoroço;

infante clamando ao céu

como fosse um inocente.

Sou velho desde bem moço,

sendo por verdadeiro, mente

para si mesmo o sempre,

quando se faz semovente.

AMOR À FLOR DA PELE poema de marilda confortin

 

Nossas mãos enrijecidas

insensíveis ao toque

não nos  provocam arrepios

 

nossos corpos

frascos vazios

 

o beijo no rosto

disfarça o desgosto

dos nossos lábios frios

 

não nos damos mais ouvidos

olvidamo-nos

 

nossos olhares suicidas

perdem-se

cada qual em seus vazios

 

perdemos o instinto

e os cinco sentidos

não fazem mais sentido

 

Ah! Quem diria

que nosso amor

tão à flor da pele

Nem criaria raiz…

 

COLEÓPTERO poema de joão batista do lago

Vasto-me de indivíduos-inseto

Desde a planície ao planalto

Vago em vôos rasantes

Perscrutando a presa fácil

Que me servirá de covil

Onde nem veredas mais há

Neste deserto que um dia foi floresta

– floresta de pau-brasil!

 

Vasto-me, assim, Coleóptero!

Voando com asas de estojo

Entre as éticas e as virtudes

Enfim, é preciso esconder o nojo

Que de mim fede como joaninha

Perfume de colarinhos brancos

Já encardidos pelas roubalheiras

– desta floresta jaz uma nação inteira

 

E de tantos indivíduos-inseto

Vasto-me não-conspícuo

Na inclareza das identidades

Sem ter por certo a pureza de formar

Desde a planície ao planalto

Uma nesga firme de caráter

Que me revele sujeito capaz de ter

– desta floresta! – toda virtude; todo poder!

MEU CÉU! poema de bárbara lia

“Deixai fora toda a esperança,

      vós que aqui entrais” 

      Dante Alighieri

 

 

Desobediente, vivo meus purgatórios,

com a mochila da esperança

atreladas às costas,

e volto com as omoplatas fendidas

e a esperança debulhada

escorrendo pelo seu fecho éclair

torrões desperdiçados de doçura.

Seja meu céu!

Para tua boca

de cravo e pétalas

restou um único torrão de açúcar.

 

Seja meu céu!

Encante-me, como encantas

o colibri rajado

na tua varanda branca.

 

 

Seja meu céu e abra

teus lábios franciscanos

para que eu deite

este último torrão,

feito hóstia.

 

Seja meu céu!

Pastor de pássaros e verbenas.

Encantador de rios e mulheres,

Luz agreste última

que me resta.

PODEROSOS do MUNDO querem a AMAZÔNIA! BRASILEIROS SE OMITEM. – por hélio fernandes

Grupo dos 100, que se julgam donos do mundo: “Só a internacionalização pode salvar a Amazônia”. Deputados e senadores da Itália, pátria da “corrupção endêmica” de que falou outro corrupto, o presidente Clinton: “A destruição da Amazônia será a destruição do mundo”.

Ecologistas da Alemanha, reunidos em Congresso: “A única salvação para a Amazônia brasileira é a sua internacionalização”.

 

Mikhail Gorbachov, traidor do seu próprio país, a União Soviética, que entregou de mãos beijadas aos piores interesses multinacionais: “O Brasil deve ceder parte de seus direitos sobre a Amazônia aos organismos internacionais competentes”.

 

François Mitterrand, quando acabava de obter o segundo mandato de presidente da França, com pequeníssima margem de diferença, no segundo turno: “O Brasil precisa aceitar uma soberania sobre a Amazônia. Mesmo que seja uma soberania relativa”.

 

Ecologistas reunidos nos EUA: “Dois terços do oxigênio do mundo vêm da Amazônia do Brasil. Eles não podem ser o pulmão do mundo, pois não têm competência para isso”.

 

Warren Cristopher, secretário de Estado dos EUA, da mesma linha de John Foster Dulles, Kissinger e outros: “Temos que aproveitar a liderança dos EUA para impor nos países da Amazônia, principalmente o Brasil, a diplomacia da força. E com isso ficarmos com a Amazônia do Brasil”.

 

Outro grupo de verdes da França, ditos democráticos, mas na verdade mantidos por multinacionais exploradoras: “A Amazônia, principalmente a do Brasil, tem que ser intocável, pois é o verdadeiro banco de reservas florestais da humanidade”.

 

Margaret Thatcher, baronesa da privatização mundial, 13 anos no poder na Inglaterra e hoje no mais completo ostracismo: “Se os países subdesenvolvidos não conseguem pagar suas dívidas externas, que vendam seus territórios, suas riquezas, suas fábricas, suas reservas”. (O “conselho-intimação-intimidação” de Dona Thatcher foi seguido fielmente pelo governo FHC).

 

Conselho Mundial de Igrejas Cristãs: “A Amazônia é um patrimônio da humanidade. A posse dessa área colossal pelo Brasil, Venezuela, Colômbia, Peru e Equador não pode ser permanente”.

 

Grupos multinacionais, reunidos nos EUA, a pretexto de defender o direito dos índios ianomâmis a terras que correspondem ao território de 27 Bélgicas: “É preciso ratificar e defender o direito dos índios ianomâmis a territórios que pertencem a eles, na fronteira com a Venezuela”.

 

PS – Isso é o que alguns grupos multinacionais e seus testas-de-ferro dizem da Amazônia. E o que poderíamos dizer deles? Pois fiquem sabendo que defenderemos a Amazônia como os chineses defenderam Porto Artur em 1905 da invasão estrangeira: com a própria vida.

 

 

OPINIÃO por patrícia maria santana

O saudoso educador Paulo Freire certa vez proferiu que “não há educação sem amor”. Sabiamente ele foi ao âmago de tudo, pois educar sem amor pode resultar em um mero ganha pão, em um simples contar de hora-aula ou em uma assinatura de folha de ponto apenas. É mister que viver de verdade exige vontade, alegria, doação,ou seja, exige paixão. E vou além aproveitando o poema do diplomata Francisco Otaviano de Almeida Rosa que diz que “quem passou pela vida em brancas nuvens, (…) passou pela vida e não viveu”. Acredito que mais que a própria razão, a condição de amar é que nos torna especiais dentre os seres que habitam a terra. E na hora de transmitir nossos conhecimentos aos outros homens é importante fazer valer isto que há de belo dentro de nós, sempre transmitindo conhecimentos com afeto.

De acordo com a perspectiva walloniana, falar de afetividade no ato educacional, mais precisamente na relação professor-aluno, é falar de como lidar com as emoções, com a disciplina e com a postura do conflito eu-outro. Vale ressaltar que essa postura de conflito eu-outro ocorre em dois momentos distintos da vida do educando: na infância e na adolescência. Para a criança, o conflito se dá com as diversas interferências da família, sua primeira comunidade, e da escola (ou qualquer outro ambiente que ela freqüente) em sua vida. Para o adolescente, o conflito ocorre com o estranhamento de si com o mundo que o cerca. A sociedade acaba influenciando no desenvolvimento psíquico do aprendiz. O professor deve estar atento e consciente de sua responsabilidade como educador. O ambiente de sala de aula, que muitas vezes pode se mostrar frio, severo e hostil aos nossos educandos, deve ser recolocado, reapresentado aos mesmos de forma mais amena e amigável. Quando a maioria das tarefas de sala de aula exige que a criança fique parada e estática, com uma atenção direcionada ao que é exposto pelo professor, mui certamente este local não será um dos mais atraentes a ela. Não é difícil, dentro desse clima austero, surgir hostilidade da criança em relação ao professor e ao ambiente escolar. Dentro dessas situações de conflito facilmente observadas nas escolas, o professor pode fazer toda a diferença. Se o professor tiver conhecimento do conflito eu-outro na construção da personalidade do aluno, com certeza, ele saberá conduzir as relações e receberá esses estímulos com mais calma, não tomando os mesmos como uma questão pessoal. O professor precisa compreender o aluno e seu universo sócio-cultural. Mas conhecer esse aluno (e seu universo) implica em uma pré-disposição de amá-lo. Cabe ao professor investigar mais esse aluno e, ao longo de sua formação, não deixar que esse educando acumule raivas ou questionamentos. Hoje muito se sabe que o lado intelectual caminha de mãos dadas com o lado afetivo.

De acordo com esses pontos discutidos, o relacionamento entre professor e aluno deve ser de amizade, de respeito mútuo, de troca de solidariedade, não aceitando de maneira alguma um ambiente hostil e opressor que semeie o medo e a raiva no contexto de sala de aula. A prática pedagógica deve sempre prezar o bem estar do educando. Quando o educador consegue entender o poder dessa pedagogia do amor e toda a bem querência que a mesma traz, mais e mais alunos aprenderão com maior facilidade e gosto e, acima de tudo, mais e mais professores notáveis e inesquecíveis passarão pela vida de nossos educandos deixando suas marcas positivas

Rumorejando (Como o dólar americano, cambaleando). por josé zokner (juca)

PEQUENAS CONSTATAÇÕES, NA FALTA DE MAIORES.

Constatação I

E como filosofava, enquanto degustava algumas ostras e bebericava um vinho, culminando com um chá a base de catuaba, o obcecado: “Não ter um amor todo o tempo é um desperdício das horas, dos minutos, dos segundos e até mesmo dos décimos de segundo”.                                                                                                               

Constatação II (Passível de mal-entendido).

E como comentava aquela consumista contumaz com as amigas: “Eu sempre estarei totalmente aberta e receptiva para grandes e variadas novidades”.

Constatação III (De uma declaração de amor, via pseudo soneto, escrita antes do aquecimento global).

Acordei já não me lembro em qual cidade

E senti falta da minha Curitiba cinza

Dela me deu uma imensa saudade

Que até me deixou meio ranzinza.

 

Por causa do calor abafado, dormi pouco

Tive maus sonhos, terríveis pesadelos

Eu tava num asilo, tinha ficado louco

O que arrepiou todos os meus cabelos.

 

Alagado em suor, coração opresso

Na boca, gosto de chá de corrimão

De uma repartição pública, eu padeço.

 

Quero pro meu torrão voltar correndo,

Minha amada fria do meu sofrido coração

Não! Não quero mais viver sofrendo.

 

Constatação IV

Não se pode confundir solidário com solitário, muito embora a gente possa ficar o único, solitário, incausado* com certas causas, ao contrário do corporativismo solidário dos deputados e senadores com relação ao despautério de um colega que, comprovadamente, usou de falcatrua para seu – dele – próprio benefício ou de seus familiares. A recíproca, como toda a recíproca pode ser verdadeira ou não. Obviamente elementar, minha gente…

*Incausado = “que não tem causa; que não tem explicação; desmotivado, inexplicável” (Houaiss).

Constatação V

E não se pode confundir furtos com frutos, muito embora, em certos países, há uma infinidade de pessoas colhendo os frutos de roubos, assaltos, furtos, seqüestros, executados por bandos, quadrilhas, assaltantes, súcias, governantes, deputados, senadores. A recíproca é verdadeira, porque há muitos frutos que são motivos de furtos, exceto no caso de frutos, como no caso, antológico, da “laranja madura na beira da estrada tá bichada Zé ou tem marimbondo no pé”, segundo nos fala o grande e imortal mestre Ataulfo Alves.

Constatação VI (Dúvida crucial via pseudo-haicai).

Não ter brincado com a prima

De médico, quando criança, pode

Ter afetado a auto-estima?

Constatação VII

Rico se atrasa no tráfego; pobre perde a hora.

Constatação VIII (Quadrinha, para alguns, masoquismo; para outros, puro sadismo).

Um amor não correspondido

É um martírio, um padecimento

Como se você nunca tivesse tido

Qualquer outro tipo de tormento.

Constatação IX

Deu na mídia: O jogador português Cristiano Ronaldo, do Manchester United, é o jogador “mais apaixonante” do Campeonato Inglês, segundo o diretor-executivo da Associação dos Jogadores Profissionais da Inglaterra, Gordon Taylor”. Data vênia, como diriam nossos juristas, mas essa do diretor-executivo, não sei, não…

Constatação X

Quem ainda não visitou a exposição do Hélio Leites, na Casa Culpi, em Santa Felicidade, não tá com nada. E quem não conhece a obra do artista Attila Wensersky tá com o dobro de quem não visitou a exposição do Hélio. Tenho dito!

Constatação XI (Ah, esse nosso vernáculo).

A governadora,

Nada impoluta,

Impostora,

Pouco positiva,

Impôs,

Apôs

Impostos

Numa procedura,

Numa impostura

Impositiva,

Nada batuta.

Constatação XII

Quis fazer um papagaio

Pra pagar minhas contas.

O gerente me olhou

De través, de soslaio

E disse que não seria possível

Mas com cara-de-pau me forçou

A comprar ações do banco

E destarte,

Reter uma parte

Por um tempo na conta-corrente

Tão-somente.

O líquido que eu receberia,

Que me competiria

O, digamos, ajutório

Era tão irrisório

Que até fiquei meio às tontas

E quase tive um desmaio.

Ele alegou,

Dizendo ser muito franco,

Por causa da indefectível

Reciprocidade.

Já viram tamanha maldade?!

Tanta iniqüidade?!

Constatação XIII

Rico é badalativo; pobre, puxa-saco.

Constatação XIV

Rico se acostuma; pobre, vicia.

Constatação XV (Dúvida crucial).

Será que, quando Aristóteles, se referindo aos supostos racionais, proferiu “O homem é um animal político”, a frase suscitou protestos dos animais?
E-mail: josezokner@rimasprimas.com.br

 

        sem crédito. ilustração do site. CORAGEM É ISSO!

CLETO DE ASSIS comenta SOLIVAN BRUGNARA

COMENTÁRIO:   

 

Cleto de Assis

Em um tempo em que nossos dirigentes políticos temem em definir como terroristas seus amigos terroristas; em um tempo em que os segredos da vida são desvendados com maior velocidade e se ela se torna mais sagrada do que a vida cantada nos templos religiosos; em um tempo em que os idealistas do passado não têm coragem para serem revisionistas de suas próprias histórias e idéias; em um tempo em que é mais fácil aderir aos suaves encantos da ira contestadora, dá gosto ler um poema-recado como o de Solivan Brugnara, que não conheço pessoalmente, aprendi a conhecê-lo nesta senda aberta por J.B.Vidal e, mesmo com pouca leitura, já passei a admirar.

Talvez porque senti que sua visão poética olha para dentro das pessoas e coisas para entender o que nos rodeia. Talvez porque ele parte das pequenas cintilações para depois chegar às estrelas, embora, em seu poema de apresentação, tenha sugerido fazer o caminho inverso. Razão principal: dá para sentir que é um poeta de verdade.

Magnífico o seu poema. Corajoso, sobretudo. Como seria bom se todos os Mustafás-com intestinos-de-dinamite e seus colegas de todo o mundo recebessem seu recado!

veja o tema: AQUI

 

 

CÃOPEÃO DE VOTOS, os politicões que se cuidem! – pela editoria

Com uma pequena diferença para o segundo colocado, apenas 233 votos, Nícolas ganhou o concurso Cachorro do Ano, mas ainda aguarda o que seria seu maior prêmio, um lar verdadeiro

O Cachorro do Ano 2008, da Gazeta do Povo, é a maior prova de que o amor e o cuidado podem transformar um cão arisco, sofrido e maltratado em um animal carinhoso e saudável. Nícolas, que foi resgatado da Praça Rui Barbosa, no centro de Curitiba, em março último, foi o grande vencedor, eleito com 52.262 votos!

Ele ultrapassou os demais colocados nos últimos minutos do prazo final de votação que, aliás, quebrou todos os recordes. Foram mais de 2,06 milhões de votos, sendo mais de 1,48 milhão na primeira fase e 585 mil na segunda. Este volume supera em mais de um milhão a quantidade alcançada na edição passada: 1,07 milhão.

Premiação

A entrega dos prêmios do concurso Cachorro do Ano 2008 será no domingo, dia 17 de agosto, às 16 horas, no Parcão (atrás do Museu Oscar Niemeyer), em Curitiba.

Com uma pequena diferença do segundo colocado, apenas 233 votos, Nícolas é o símbolo da posse responsável e do que a ausência dela pode resultar. Hoje, o cãozinho em nada lembra o animal desnutrido, com problemas de pele e desconfiado de poucos meses atrás, conta a protetora responsável por ele, Sheila Schneider, que faz parte da ONG Probem (Associação de Proteção e Promoção do Bem-Estar Animal).

Ela relata que, em março, foi comunicada que havia um cão abandonado na praça. Por duas vezes, tentou resgatá-lo, “mas ele não nos deixava chegar nem perto”. Ela conta que algumas pessoas, principalmente lojistas da região (que inclusive deram o nome a ele), davam comida mas que, para a maioria, o cão era invisível. “Nos contaram que muitas vezes Nícolas ficava no ponto de ônibus olhando as pessoas, como se estivesse procurando um dono”, diz.

Lar temporário

O resgate também foi uma atração que mobilizou toda a praça. Sheila já havia tentado pegá-lo algumas vezes, mas foi outra protetora, Elaine Petrelli, que conseguiu capturá-lo. “Ele não queria ir. Tentamos até o enforcador, mas ele fugia. Com a ajuda de algumas pessoas, demos um prato de comida e um senhor conseguiu pegá-lo”, conta. Depois, explica, ela o colocou no carro e foi acalmando o bichinho. “Hoje, o ‘Cabeção’ (como ela carinhosamente o chama), está tranqüilo e bem melhor”.

Depois disso e até agora, Nícolas mora em um lar temporário com outros 15 cães. “Só não fiquei com ele porque moro em apartamento e tenho outros três cachorros”, conta Sheila que, vez ou outra, o leva para passear de carro, uma das maiores diversões dele.

Atualmente, Nícolas é um cão so-cializado, castrado, vacinado e que se alimenta de ração. Ele também participa de campanhas de adoção, mas até agora não conseguiu um dono. “A maioria das pessoas prefere filhotes e cães de raça”, conta Sheila. O administrador do centro médico veterinário Vetsan, Adolfo Sassaki, diz que aparentemente Nícolas está saudável e deve ter em torno de 4 anos.

Portanto, a história do cão que conquistou a todos não terminou. Ele ainda está à procura de um lar. Hoje, das 10 às 16 horas, ele estará em uma campanha de adoção no Antiqüário Anjo Barroco (R. Brigadeiro Franco, 2.189).

Publicado em 02/08/2008 | Priscila Bueno, especial para a Gazeta 

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Hedeson Alves/Gazeta do Povo

 

OS IDIOTAS CONFESSOS – por nelson rodrigues

Antigamente, o idiota era o idiota. Nenhum ser tão sem mistério e repito: — tão cristalino. O sujeito o identificava, a olho nu, no meio de milhões. E mais: — o primeiro a identificar-se como tal era o próprio idiota. Não sei se me entendem. No passado, o marido era o último a saber. Sabiam os vizinhos, os credores, os familiares, os conhecidos e os desconhecidos. Só ele, marido, era obtusamente cego para o óbvio ululante.

Sim, o traído ia para as esquinas, botecos e retretas gabar a infiel: — “Uma santa! Uma santa!”. Mas o tempo passou. Hoje, dá-se o inverso. O primeiro a saber é o marido. Pode fingir-se de cego. Mas sabe, eis a verdade, sabe. Lembro-me de um que sabia endereço, hora, dia etc. etc.

Pois o idiota era o primeiro a saber-se idiota. Não tinha nenhuma ilusão. E uma das cenas mais fortes que vi, em toda a minha infância, foi a de uma autoflagelação. Um vizinho berrava, atirando rútilas patadas: — “Eu sou um quadrúpede!”. Nenhuma objeção. E, então, insistia, heróico: — “Sou um quadrúpede de 28 patas!”. Não precisara beber para essa extroversão triunfal. Era um límpido, translúcido idiota.

E o imbecil como tal se comportava. Nascia numa família também de imbecis. Nem os avós, nem os pais, nem os tios, eram piores ou melhores. E, como todos eram idiotas, ninguém pensava. Tinha-se como certo que só uma pequena e seletíssima elite podia pensar. A vida política estava reservada aos “melhores”. Só os “melhores”, repito, só os “melhores” ousavam o gesto político, o ato político, o pensamento político, a decisão política, o crime político.

Por saber-se idiota, o sujeito babava na gravata de humildade. Na rua, deslizava, rente à parede, envergonhado da própria inépcia e da própria burrice. Não passava do quarto ano primário. E quando cruzava com um dos “melhores”, só faltava lamber-lhe as botas como uma cadelinha amestrada. Nunca, nunca o idiota ousaria ler, aprender, estudar, além de limites ferozes. No romance, ia até ao Maria, a desgraçada.

Vejam bem: — o imbecil não se envergonhava de o ser. Havia plena acomodação entre ele e sua insignificância. E admitia que só os “melhores” podem pensar, agir, decidir. Pois bem. O mundo foi assim, até outro dia. Há coisa de três ou quatro anos, uma telefonista aposentada me dizia: — “Eu não tenho o intelectual muito desenvolvido”. Não era queixa, era uma constatação. Santa senhora! Foi talvez a última idiota confessa do nosso tempo.

De repente, os idiotas descobriram que são em maior número. Sempre foram em maior número e não percebiam o óbvio ululante. E mais descobriram: — a vergonhosa inferioridade numérica dos “melhores”. Para um “gênio”, 800 mil, 1 milhão, 2 milhões, 3 milhões de cretinos. E, certo dia, um idiota resolveu testar o poder numérico: — trepou num caixote e fez um discurso. Logo se improvisou uma multidão. O orador teve a solidariedade fulminante dos outros idiotas. A multidão crescia como num pesadelo. Em quinze minutos, mugia, ali, uma massa de meio milhão.

Se o orador fosse Cristo, ou Buda, ou Maomé, não teria a audiência de um vira-lata, de um gato vadio. Teríamos de ser cada um de nós um pequeno Cristo, um pequeno Buda, um pequeno Maomé. Outrora, os imbecis faziam platéia para os “superiores”. Hoje, não. Hoje, só há platéia para o idiota. É preciso ser idiota indubitável para se ter emprego, salários, atuação, influência, amantes, carros, jóias etc. etc.

Quanto aos “melhores”, ou mudam, e imitam os cretinos, ou não sobrevivem. O inglês Wells, que tinha, em todos os seus escritos, uma pose profética, só não previu a “invasão dos idiotas”. E, de fato, eles explodem por toda parte: são professores, sociólogos, poetas, magistrados, cineastas, industriais. O dinheiro, a fé, a ciência, as artes, a tecnologia, a moral, tudo, tudo está nas mãos dos patetas.

E, então, os valores da vida começaram a apodrecer. Sim, estão apodrecendo nas nossas barbas espantadíssimas. As hierarquias vão ruindo como cúpulas de pauzinhos de fósforos. E nem precisamos ampliar muito a nossa visão. Vamos fixar apenas o problema religioso. A Igreja tem uma hierarquia de 2 mil anos. Tal hierarquia precisa ser preservada ou a própria Igreja não dura mais quinze minutos. No dia em que um coroinha começar a questionar o papa, ou Jesus, ou Virgem Maria, será exatamente o fim.

É o que está acontecendo. Nem se pense que a “invasão dos idiotas” só ocorreu no Brasil. Se fosse uma crise apenas brasileira, cada um de nós podia resmungar: — “Subdesenvolvimento” — e estaria encerrada a questão. Mas é uma realidade mundial. Em que pese a dessemelhança de idioma e paisagem, nada mais parecido com um idiota do que outro idiota. Todos são gêmeos, estejam uns aqui, outros em Cingapura.

Mas eu falava de que mesmo? Ah, da Igreja. Um dia, ao voltar de Roma, o dr. Alceu falou aos jornalistas. E atira, pela janela, 2 mil anos de fé. É pensador, um alto espírito e, pior, uma grande voz católica. Segundo ele, durante os vinte séculos, a Igreja não foi senão uma lacaia das classes dominantes, uma lacaia dos privilégios mais hediondos. Portanto, a Igreja é o próprio Cinismo, a própria Iniqüidade, a própria Abjeção, a própria Bandalheira (e vai tudo com a inicial maiúscula).

Mas quem diz isso? É o Diabo, em versão do teatro de revista? Não. É uma inteligência, uma cultura, um homem de bem e de fé. De mais a mais, o dr. Alceu tinha acabado de beijar a mão de Sua Santidade. Vinha de Roma, a eterna. E reduz a Igreja a uma vil e gigantesca impostura. Mas se ele o diz, e tem razão, vamos, já, já, fechar a Igreja e confiscar-lhe as pratas.

Cabe então a pergunta: — “O dr. Alceu pensa assim?”. Não. Em outra época, foi um dos “melhores”. Mas agora é preciso adular os idiotas, conquistar-lhes o apoio numérico. Hoje, até o gênio se finge imbecil. Nada de ser gênio, santo, herói ou simplesmente homem de bem. Os idiotas não os toleram. E as freiras põem short, maiô e posam para Manchete como se fossem do teatro rebolado. Por outro lado, d. Hélder quer missa com reco-reco, tamborim, pandeiro e cuíca. É a missa cômica e Jesus fazendo passista de Carlos Machado. Tem mais: — o papa visitará a América Latina. Segundo os jornais, teme-se que o papa seja agredido, assassinado, ultrajado etc. etc. A imprensa dá a notícia com a maior naturalidade, sem acrescentar ao fato um ponto de exclamação. São os idiotas, os idiotas, os idiotas.

[19/8/1968] in A Cabra Vadia.

sem crédito. ilustração do site.

 

DISNEY VENDEU a ALMA ao DIABO? por flávio calazans

Denúncias sem sentido de subliminares em wesites de fanatismo religioso por toda a Internet.
Navegando a Internet os jovens são surpreendidos com web-sites de um acentuado rancor e ódio, carregados de preconceitos e de fanatismo religioso irracional destilando um amargor sobre cada cantor ou artista ou esportista de sucesso, acusando-o de pacto com o diabo, e até delirantes e agressivas “provas”
de “Subliminares de Satan” , ou o que eles chamam de “Backwarding Masking”, que seriam umas inaudíveis frases invertidas em velhos discos de vinil, algo que originalmente era um velho golpe de marketing de gravadoras inglesas e hoje, contando com mecanismos psicológicos de projeção e muito teatro, encenação e sugestão, tornou-se um golpe de marketing de certos pseudo-pastores mal–intencionados ao cultivar fraudes, seguidos de pseudo-missionários, todos auto-intitulados “pesquisadores de subliminares” que sequer sabem definir o que seja e como funcione um estímulo subliminar.
Eis que surgem enormes e detalhados “estudos” dos desenhos animados Disney para “demonstrar” a existência de “subliminares” com órgãos genitais masculinos, palavras sexuais, homossexualismo, drogas e tudo o que representaria o suposto “culto a Satan” e que ocorreria devido ao pacto ou contrato com o Diabo que teria sido assinado com sangue por algum executivo da Disney.
Os próprios divulgadores destas bobagens e delírios jamais se deram ao trabalho de pesquisar um pouquinho para pelo menos saber a origem de sua ignorância e fanatismo, pensando bem, se lessem ou estudassem não seriam assim fanáticos, a preguiça deve fazer parte dos sintomas destes intolerantes obtusos e suas sandices.
Caso efetuassem uma busca rápida no ‘google’ sobre animais falantes dariam com certeza com o termo FÁBULA, um tipo de literatura educativa e moralista onde os bichos humanizados falam e demonstram bons exemplos em anedotas, ou seja, historietas curtinhas, micro-contos.
Fábulas com um enunciado final, uma MORAL DA HISTÓRIA bem educativa e simples, existem em todos os povos, árabes tem o clássico famoso CALILA E DIMNA de IBN AL-MUKAFA, onde leões e tigres são nobres e chacais são comerciantes ou intriguentos mentirosos, também há fabulas chinesas, japonesas, aborígines australianas, de índios brasileiros, etc… Ou seja, o Gênero Fabula faz parte do imaginário de todos os povos e é um tipo de narrativa folclórica muito estudada, muito valiosa para identificar os valores de cada povo repassados aos jovens por meio destas metáforas coloridas, poéticas, divertidas.
E em sendo folclore, produzido espontaneamente pelo povo, lembre-se que “A voz do povo é a voz de Deus” (Vox populi, vox Dei) ..
Entre os antigos gregos, berço da nossa filosofia e de todo o modelo clássico de literatura e mitologia, o escravo ESOPO escrevia lindas fábulas que existem até hoje sendo narradas pelas avózinhas aos netinhos, uma sabedoria reconhecida e eterna, que figura em qualquer coletânea de literatura.
Na França existiu LA FONTAINE, escritor de belas fábulas igualmente imortalizadas, e parando por aí já se comprovou o valor da Fábula como narrativa válida de um povo ou de toda a civilização, fabula como uma produção cultural humana.
Quer gostemos ou não da multinacional de entretenimento DISNEY, o que ela faz em grande parte de seus desenhos animados nada mais é do que reviver e animar estas velhas fabulas, historinhas com bichos, animais falantes, o mesmo faz Hanna-Barbera e tantos outros animadores incluindo o brasileiro Mauricio de Souza com o elefante Jotalhão dos anúncios de televisão do molho de tomate CICA e sua “turma da Mônica”…
Então, por qual tortuosa razão os fanáticos religiosos dos web-sites e livros destilam tamanho ódio direcionado especialmente á Disney?
A terrível resposta esta trancada nos porões escuros da ERA DAS TREVAS.
Sim, a IDADE MÉDIA, época quando a Igreja Católica dominou a Europa, e neste período de ignorância e retrocesso além da venda de indulgências e perdões papais houve a CAÇA ÁS BRUXAS, a famigerada INQUISIÇÃO.
Neste período negro quaisquer benzedeiras, parteiras, velhas viúvas solitárias morando na floresta fazendo chás e tudo o que ameaçasse o monopólio dos doutores da Igreja e seus médicos formados em universidades dentro de catedrais, tudo era visto como rival, como “PACTO COM O COISA-RUIM” .
Era a época das FOGUEIRAS DA INQUISIÇÃO onde bruxas eram queimadas vivas.
E nos tais processos de caça às Bruxas, baseados no livro Martelo dos Malvados (Malleus Maleficarum) era muito, mas muito comum procurar um DEMÔNIO FAMILIAR, familiar seria um gato preto, corvo, coruja, sapo ou até mesmo uma pulga escondida, uma aranha no teto, qualquer bicho que pudesse ser acusado de ser um diabinho particular deixado pelo DIABO para servir a bruxa que fez com ele um pacto, vendeu a alma ou o que fosse acusada.
O casebre da acusada era vasculhado em busca do tal “Familiar”, o diabrete que falaria com ela dando dicas, ensinando poções, trazendo mensagens de Satanás, o “familiar” era um misto de conselheiro e Office-boy, e após a revista da casa, despia-se a velhinha e procuravam nas dobras de suas rugas, chegando até a raspar os pêlos púbicos na busca de uma única pulga que pudesse ser mostrada como o “familiar” capturado.
Ora, velhinhas solitárias encorajam mascotes como gatos, corujas ou até sapos a viver em suas vazias cabanas, isto era a coisa mais freqüente e até hoje pessoas sozinhas tem pets ou mascotes, e na imundície e sujeira generalizada da Idade Media todos os corpos sujos sem banho tinham pulgas ou carrapatos rastejando nas roupas velhas e surradas, pois cada pessoa mal tinha um único farrapo para vestir na pobreza e ignorância em que viviam forçadas pelo fanatismo religioso.
Deste modo, os animais eram presos junto com as donas, chegavam até mesmo a sofrer TORTURAS para que confessassem ser DEMÔNIOS FAMILIARES (imagine um gato sendo chicoteado, acorrentado, ou tendo a cabeça afundada em um balde cheio de água enquanto um religioso exigia que confessasse! Ridículo seria se não fosse trágico) até hoje existem os autos destes processos vergonhosos que comprovam o cumulo da ignorância dos nossos longínquos ancestrais.
Tais “familiares” chegam até mesmo a ser QUEIMADOS VIVOS em fogueiras, e muitos gatos, corvos, até bodes e porcos foram amarrados pelos religiosos e queimados vivos em praça pública! Quanta ignorância e fanatismo!
Pois aquele povinho ignorante que por sadismo e voyerismo pervertido ia assistir as fogueiras da inquisição saía do “show” repetindo que o animal falava, e cultivando boatos jurando ter ouvido nos gritos desesperados do bode, gato ou porco, palavras humanas amaldiçoando fulano ou beltrano… Estes boatos foram crescendo, acumulando-se e espalhando-se pela Europa toda… Tudo fruto de projeção, de tanto prestar atenção nos urros dos bichinhos sofrendo por um mecanismo que a psicologia chama de projeção, eles imaginavam ouvir frases ou palavras entre os ruídos dos ganidos, miados e balidos dos pobres bichinhos sofrendo dores atrozes nos estertores da morte mais dolorosa, pelo fogo queimados vivos.
(Os celtas e druidas no solstício costumavam queimar um sacrifício humano junto a diversos animais em um espantalho gigante chamado HOMEM DE PALHA, existem filmes sobre estes rituais pré-romanos)
Assim, dos pobres animais queimados vivos e gritando, surgem reforços das historinhas religiosas dos DEMÔNIOS FAMILIARES, e com o passar dos séculos surgem Lutero e Calvino, a Reforma Protestante do Cristianismo, mas o costume de queimar bruxas continua em diversas destas seitas.
Algumas sub-seitas neo-neo-pentecostais hoje em dia, perdidas e desorientadas, crescendo nos guetos e periferias miseráveis e pobres ao extremo, com seus crentes ou fieis sub-alfabetizados, trabalhadores braçais desqualificados e com escasso acesso a leitura, reproduzem desordenadamente mitos de animais que falam como demônios pertencendo a quem fez pactos e vendeu a alma ao Diabo.
Como sua quase única mídia é a televisão, os animais falantes estão nos comercias de produtos feitos em computação gráfica e principalmente NOS FILMES DE DESENHO ANIMADO DA DISNEY.
Esta é a explicação de tamanho ódio cego pela Disney, a ignorância, maldade e vontade de manipular para pedir dízimos, em um esforço para ver nos ratinhos Mickey e patinhos Donald demônios, pois animais não falam, se fosse o desejo de DEUS falariam, como só falam na televisão, que é “A caixa do Diabo”, logo são demônios do mal e as crianças devem ser poupadas de ver o mal.
E por esta tortuosa forma de pseudo-pensamento recheado de falácias e sofismas resultantes do mais ignorante fanatismo religioso, cultiva-se um ódio cego e rancoroso a Disney, que por ter sucesso e dinheiro demonstraria ser do mal (por esta lógica deturpada, ter sucesso sempre seria uma evidencia indiscutível de pacto com o Diabo, de ter vendido a alma como Fausto).
Por conseguinte, em sendo a Disney cheia de animais falantes, todos seriam endiabrados, ou como eles dizem: “Encapetados” , desde os faxineiros até os diretores, quem vender uma revista ou boneco Disney seria um aliado do mal a ser queimado vivo (e surge a singela cantoria dos evangélicos: “Queima ele, Jesus, queima ele” que é o supra-sumo do anti-Jesus, o oposto da palavra de Jesus Cristo que pregava o amor e o perdão).
Seguindo esta parodia terrível do que poderia ser um raciocínio eivado de falácias, sofismas e extrema maldade e perversidade distorcendo tudo para atender aos interesses lucrativos de “missionários”, “Pastores”, “Irmão Obreiro” ou “Bispo” que hoje fazem uso até da Internet para arregimentar soldados de Cristo, ou coletar dízimos, por estes aproveitadores desavergonhados que exploram a boa fé e simplicidade do povo, ainda chegam ao cúmulo de falsificar capas de DVDS ou cartazes dos desenhos animados Disney para “denunciar” os “SUBLIMINARES DE SATAN” que comprovariam os tais pactos.
O pior é que mesmo adolescentes com possibilidade de desmentir estas fraudes com a mais breve pesquisa caem neste discurso mentiroso, sensacionalista, paranóico e fanático, aceitam os pretensos “subliminares” diabólicos sem o menor senso critico e ainda espalham esta TEORIA CONSPIRATÓRIA irresponsavelmente, sem pensar que o vendedor de balas do semáforo pode vir a ser linchado por vender biscoitos com o Donald impresso, ou que o aposentado da banca de jornais pode ser queimado vivo dentro de sua banca pelo “pecado” de ter revistas Disney a venda!
Basta procurar Fábulas, Esopo, La Fontaine, Al-Mukafa e tantos outros termos no ‘Google’ e confirmar, a fabula é um gênero literário universal, não foi criado pelo Disney em troca de um pacto de sucesso vendendo a alma ao Diabo!
E o ponto final na ilogicidade de tais fanatismos: O Diabo tentou Eva para que comesse a maçã de livre e espontânea vontade, fazendo uso de seu livre-arbítrio … Caso o Diabo tivesse usado subliminares e forçado Eva a comer, ela não teria feito livremente como sua escolha, então não teria pecado, pois o pecado é livremente escolhido pela pessoa.
Este argumento Teológico explica a razão religiosa pela qual NUNCA poderiam existir mensagens subliminares que levassem as pessoas a adorar o Diabo, o Diabo NUNCA teria feito isto, pois seria burrice, ele jamais conseguiria nenhuma alma com subliminares.
Subliminares são mensagens escondidas que influenciam tomadas de decisão posteriores, despercebidas, e anulam a livre-escolha, sem livre-arbitrio, qualquer contrato de compra e venda é NULO, assim, o contrato pecaminoso de vender a alma ao Diabo influenciado pelos tais supostos subliminares é NULO!
NUNCA o Diabo, retratado como tão ardiloso, teria apelado para um expediente subliminar no qual ele próprio sairia perdendo.
Todos que pregam isto dos Subliminares de Satã em seus web-sites ilustram sua mais profunda ignorância ou talvez sua maldade e perversidade disseminando ódio e intolerância para auferir lucros com o pavor e paranóia que cultivam nas mentes mais fracas ou indefesas.
Cabe a cada um que ler este texto confirmar os dados citados e repassar para todos que caem neste golpe dos Subliminares de Satã, quanto mais gente souber, menos mal será feito, menores as chances de inocentes trabalhadores serem linchados ou queimados vivos.
Ajude este mutirão de esclarecimento repassando a todos teus correspondentes este texto.

Flávio Calazans | MENSAGEM SUBLIMINAR NA MÚSICA:BACKWARD MASKING-PALÍNDROMOS PARA PATETAS?
Muitas vezes sou procurado para falar sobre entidades metafísicas ou mitológicas que supostamente estariam inserindo subliminares na música popular, são os famigerados SUBLIMINARES DE SATÃ.
Como cansei de repetir sempre a mesma coisa, vou explicar este mistério pela última vez.
Tudo exige conhecer um pouquinho de História para saber como tudo começou, as origens do problema.
Após a REFORMA, alguns protestantes na Inglaterra (agora livres da ameaça do Santo-Ofício, Inquisição) passaram a fazer orgias sexuais em ruínas de igrejas católicas, deitando mulheres nuas na mesa do altar e rezando uma tal de “MISSA NEGRA”; como não sabiam latim (língua na qual os padres católicos oficiavam e oravam) então, pra dar um toque teatral e misterioso de língua estrangeira, os sarristas DIZIAM FRASES AO CONTRÁRIO brincando com a igreja católica de modo covarde, vilipendiando símbolo religioso (como o pastor que chutou a santa na televisão Record)…
E estes ingleses com suas brincadeiras de mau gosto ficavam repetindo blasfêmias, por exemplo: “ Pai Nosso que estás no Céu” seria pronunciado “Uéc sátse euk osson iap”, que parece mesmo outra língua e impressiona os incautos e tolos que acreditavam ser mesmo um pacto com diabos chifrudos cheirando a enxofre.
Este “samba do crioulo doido” dava um ar de língua desconhecida, profana, diabólica, e com uma música sensual e mulheres nuas, regado a muito vinho e sexo, liberava as culpas dos ingleses reprimidos sexualmente e impressionava os ignorantes que num sabiam do truque de falar invertendo.
Nas histórias em quadrinhos do Batman tem até uma feiticeira inglesinha de meia arrastão e corpete justo, bem sensual, a Zatana , que diz feitiços somente falando as frases ao contrário, zombando desta palhaçada dos ingleses!
Como os adolescentes são muito impressionáveis, e tem uma fase na qual todo adolescente fica revoltado e questiona os valores religiosos dos pais; sabendo desta fase da Psicologia do Adolescente, algumas bandas de Rock da mesma Inglaterra passaram a colocar figuras satanizadas nas capas dos discos de vinil nos anos de 1970, algumas até usando pentagramas invertidos, bruxas, morcegos, e até com nomes de aparelhos de tortura (fase anal-sádica) como IRON MAIDEN  ou missas negras, algo como BLACK SABBATH ou outros nomes do gênero…
Muito espertas, as produtoras destas bandas passaram a colocar frases INVERTIDAS como as das antigas missas negras da mesma Inglaterra gravadas ao contrário nos sulcos dos velhos disquinhos de vinil, estes discos de vinil eram umas bolachas de um tipo de plástico preto duro muito anteriores aos CDs, que ainda podem ser encontrados em sebos e museus.
Ora, após inserir tais frases ao contrário e prensar os tais discos de vinil, as gravadoras mandavam cartas aos fanzines espalhando o boato que o vocalista da banda tinha morrido  de overdose ou num acidente de carro e feito um “pacto de Fausto” com o próprio Diabo em pessoa lá no Inferno, e que voltara a vida com a missão de espalhar estas frases seduzindo a alma dos jovens… risível, teatral, ridículo, algo que só uma mentalidade infantil e reprimida de um estudante escolar da Inglaterra nos anos 1970 poderia acreditar!
Os bobinhos adolescentes então ficavam horas girando os discos ao contrário…e ouvindo tais frases, reunindo os amiguinhos espinhudos com acne para ouvir tais frases e fumando escondidos, bebendo cerveja, e outros “horrores pecaminosos” para os pais puritanos ingleses de 1970!
Acontece que os discos tinham sulcos, como degraus, e uma agulha de diamante da vitrolinha ia batendo nestes sulcos enquanto gira o disco…só que virando ao contrário, a agulha bate direto na quina destes degraus-sulcos e isto vai quebrando, os engenheiros de som chamam de ABRASIVO, desgaste, este resultado..e vai lixando os sulcos, o que estraga o disco bem rapidinho, o som vai ficando chiado, apagado, rouco…o que obriga os tolinhos (otários) a comprar outro disco pra substituir o estragado.
Na verdade, então esta história de frases invertidas sempre foi UM GOLPE DE MARKETING  bem maldoso, sem vergonha, um desrespeito ao consumidor, tirando proveito da ignorância e infantilidade dos crédulos menininhos ingleses.
E deu tão certo que duplicou as vendas, em alguns casos até triplicou!
Foi aí que aconteceu o inesperado; na Inglaterra e principalmente nos USA havia nos anos 1970 algumas seitas neo-pentecostais supersticiosas cheias de operários migrantes ignorantes oriundos do campo (caipiras), cujos dízimos vinham de apavorar ameaçando os indefesos crentes com o fogo do inferno e com diabos malvados, com os oportunistas prédios das igrejas sempre construídos em favelas e bairros de pobreza, miséria e ignorância da periferia de Londres e depois de NEW YORK…talvez já chegando até a SÃO PAULO nos dias de hoje, em pleno Século XXI.
Ora, para estes pastores oportunistas este golpe de marketing “caiu do céu”, pois tinham mais uma arma para apavorar os ignorantes e extorquir dinheiro-dízimos dos pobres coitados ignorantes, indefesos, crédulos que confiavam nos pastores; agora todas as músicas tinham frases demoníacas e só doando muito dinheiro podiam ficar exorcizados e livres do mal!
Estes aproveitadores faziam seções públicas com suas vitrolinhas portáteis virando os discos de vinil ao contrário…mas logo acabaram as músicas de heavy metal que tinham mesmo estas frases, o  modismo passou, perdeu a graça para os consumidores adolescentes, acabou a novidade e as gravadoras pararam e partiram para outros golpes de marketing mais criativos.
Como alguns pastores usam consultoria de psicólogos, logo descobriram um modo de continuar enganando os fiéis; pois existe um mecanismo que a Psicologia chama de PROJEÇÃO; a mente humana quer ver coisas conhecidas e seguras, familiares, e força ordem em padrões caóticos…um exemplo é quando estamos olhando as nuvens no céu, e alguém diz – “Olha só, aquela parece um elefantinho, tá vendo?  Como não! Olha ali, mais pra cá é a tromba, e ali é a perna, viu agora?”
Assim a imagem contagia a percepção, é uma projeção que foi imposta por sugestão, como um tipo de hipnose coletiva, de massas…
Isto de Projeção é tão antigo, mas tão antigo que já era conhecido no Renascimento italiano, o Leonardo da Vinci, Pintor daquele famoso quadro, o retrato da Mona Lisa, tem um livro escrito por ele, “Tratado da Pintura”, onde Leonardo da Vinci explica pros alunos estudantes que prestem atenção nas manchas da parede do quarto antes de dormir e projetem figuras, cavalos, rostos, castelos..e que a cada dia podem forçar a ver coisas diferentes na mesma mancha e ir desenhando tudo para treinar criatividade.
Ora, esta projeção acontece também nos sons, se você tocar uma música de trás para a frente, ao contrário, e disser que tem uma frase ali, vai predispondo e sugestionando as pessoas, induzindo-as a projetar no som a frase, e se repetir diversas vezes vai convencendo a pessoa; do mesmo modo que o elefantinho nas nuvens do céu…este processo é chamado de PROJEÇÃO pela Psicologia, e ao INDUZIR outras pessoas a  ver-ouvir o mesmo delírio o que ocorre é SUGESTÃO…se tocar então num aspecto sombra, num medo reprimido, inconsciente, um personagem como o DIABO, pode ter até histeria de massas; uma atividade irresponsável e perigosa que pode ocasionar  linchamentos ou vandalismo, quebra-quebra! Sem falar em até mesmo um surto psicótico numa pessoa predisposta!!
Ouvir estas ditas músicas invertidas é um enorme risco à saúde mental e uma irresponsabilidade destes pastores sedentos de dízimos e sequiosos por riquezas e bens materiais a custa de criar traumas e fobias talvez irreversíveis nas suas vítimas incautas.
Com isto, como toda e qualquer música sempre pode ter tudo o que o indutor-pastor desejar, desde culto ao diabo até ordens de suicídio, uso de drogas, homossexualismo, assassinato, adultério, etc…todo criminoso/pecador poderia dizer que ouviu ou viu uma “mensagem ao contrário” e que foi induzido ao crime por SATAN ; ou seja, foi forçado, não estava em pleno uso de suas faculdades mentais, não podendo ser responsabilizado pelo crime, devendo ser solto imediatamente sem culpa nenhuma!
Ou seja, segundo a lógica destas seitas neo-pentecostais você pode assassinar todo mundo que desejar, alegar que foi “SUBLIMINADO”, como eles dizem, que seu livre-arbítrio foi anulado e minado pela frase invertida (que eles erroneamente ou maldosamente chamam de “subliminar” mesmo sabendo que nada tem a ver com a tecnologia subliminar de vender produtos ou serviços que a propaganda usa), e o criminoso poderia então exigir ser exorcizado e posto em liberdade, para depois matar outra pessoa, estuprar, roubar…e sempre dizer que ouviu uma música no rádio ou saindo de uma janela quando passava na rua, livre de conseqüências e de responsabilidades…acho que isto incluiria até mesmo, segundo esta mesma lógica, trucidar até seu próprio pastor…sempre “SUBLIMINADO” por SATAN.
Os tais maus pastores ingleses chegaram até a batizar estas frases de uma tal de ‘Backward Masking’.
Além de tudo isto, resta explicar tecnicamente que a agulha de diamante da vitrolinha não toca NUNCA naquela parte de baixo dos sulcos do disco de vinil, não reproduz o som, apenas o faz quando virando o disco ao contrário…só então surgem as tais frases ao contrário como naquelas brincadeiras antigas das tais missas negras inglesas!!
Ou seja, as frases NUNCA foram tocadas nem ouvidas…caso você grave do modo normal noutra fita a música que tem mesmo frase ao contrário, e a toque ao contrário, tal frase nem apareceria…
Ora, se propositalmente, intencionalmente, consciente e deliberadamente rodamos o disco ao contrário, a mensagem não é subliminar, não tem NADA de subliminar  na medida em que a mensagem é emitida de forma clara, sem subterfúgios? Ou não sabem o que é subliminar ou desejam induzir em erro aos incautos!
Um menino de família crente, adolescente na fase de revoltado,  poderia então agora comprar tranquilamente cds de bandas metaleiras com a desculpa de estudar subliminar e pode até mostrar os trechos para os pais, ainda vai inflar o ego ficando com fama de estudioso e defensor da fé, é aí o golpe de marketing, os pais deixam e até incentivam a compra destes discos de vinil (hoje cds)… um golpe excelente, muito bem planejado, conhecendo o comprador inglês pateta e panaca, golpe de marketing desrespeitoso e sem escrúpulos nem ética!
Mas na verdade tudo isto  da tal de ‘Backward Masking’ é apenas e tão somente só um criptocódigo, uma mensagem escondida, como um acróstico, aqueles poemas onde a primeira letra de cada estrofe-linha forma o nome da namorada, mas vc precisa avisá-la, é um código consciente…como os PALÍNDROMOS, frases que podem ser lidas de trás  pra frente como “ROMA É AMOR” , mas repare que o som ficaria diferente, os fonemas seriam outros se estivesse invertida fonéticamente..tudo não passa de um absurdo sem sentido nenhum; e alguns oportunistas podem usar isto para ganhar dinheiro dos incautos que desconhecem isto tudo, aproveitando-se da ignorância alheia.
Aproveitadores que buscam auto-promoção comparecendo a programas televisivos de cunho sensacionalista com suas vitrolinhas e velhos disquinhos de vinil, nunca resistiriam a um exame sério e com o rigor da metodologia científica; com notação fonética das frases por um fonoaudiólogo habilitado, um perito judicial não-engajado ou praticante que professe a seita neo-pentecostal; bem como engenheiros de som e psicólogos especializados em mecanismos de projeção, em sugestão de massas, e em tecnologia subliminar.
O lamentável é que nesta busca desenfreada por donativos e dízimos, certos fanáticos religiosos estejam maculando uma importante linha de pesquisa da Propaganda Subliminar, super-exposição que banaliza e ridiculariza as pesquisas sérias desta tecnologia que ameaça as instituições democráticas e o modo de vida esclarecido e civilizado, pois pregam a intolerância e propositalmente afrontam o direito a liberdade de professar crença religiosa garantido pela Constituição brasileira e pela Declaração dos Direitos Humanos, pois afirmam que todas as religiões afro-brasileiras seriam culto ao demônio, e que a Bíblia recomenda “ não deixarás viver a feiticeira”, incentivando a violência, indo contra a paz pública ao insinuar aos crentes que queimem bruxas vivas ou depredem templos afro-brasileiros, ignorando as palavras de Jesus de “Amai-vos uns aos outros” e “Não faça aos outros o que não queres que te façam”, pregando um Deus de ódio, rancor e violência, e não um Deus de Amor como pregou  a palavra de Jesus .
Com isto, o grande público associa a palavra subliminar ao ridículo e à supertição, ao fanatismo religioso mais infantil, ficando desprevenido e fragilizado frente aos verdadeiros abusos que alguns setores da mídia fazem destas tecnologias subliminares.
Existem, sim, tecnologias subliminares no som, em freqüências baixas, quase inaudíveis, mixadas a outros sons em faixas sobrepostas, como explico no meu livro em Sexta Edição que foi uma Dissertação de Mestrado defendida frente a uma banca de doutores (incluindo um Médico Psiquiatra) na USP, que teve NOTA DEZ COM DISTINÇÃO.
Mas estas tais  frases ao contrário não constam da minha pesquisa científica reconhecida e aceita pela USP, pois nunca foram subliminares, e sim apenas um golpe de marketing PEGA-TROUXA que caiu nas garras de oportunistas destas seitas abusivas que envergonham os verdadeiros neo-pentecostais tementes a Deus; estes oportunistas parecem ser um tipo de gente que acabaria trazendo má fama e péssima reputação a todos os evangélicos, que acabam sendo taxados de fanáticos religiosos e ignorantes graças a estes pastores em sua frenética busca de auto-promoção querendo aparecer na mídia a qualquer custo, sem noção de ridículo e do des-serviço que prestam tanto à religião séria quanto à ciência verdadeira.
Maiores detalhes das tecnologias de som subliminares VERDADEIRAS no livro:
CALAZANS, Flávio Mário de Alcântara. Propaganda Subliminar Multimídia. 6.edição, São Paulo, Summus Editorial, 1991. (Coleção Novas Buscas em Comunicação, vol.42), página 44, capítulo O SOM DO SILÊNCIO.
EXEMPLOS DE MÚSICAS BRINCANDO COM O RIDÍCULO DAS FRASES INVERTIDAS:
Estes exemplos podem ser conferidos até com sonoplastias nas centenas de sites anônimos espalhados na internet cujo único e invariável título é MENSAGEM SUBLIMINAR, basta colocar estas duas palavras em qualquer mecanismo de busca tipo Google ou Alltheweb e conferir.
1) Capital Inicial – Na música “Mickey Mouse em Moscou”, surge uma conversa estranha com ruídos entre Dinho e outro integrante do grupo. Ao se fazer a inversão destas frases dizem que surge:
– Hei Tobi, eu acho que eles estão nos espiando…
-Você acha mesmo?
-Yeah, vamos para um lugar mais reservado
-Que tal na Ilha de Malta?
– Why, animal?
– Hei você aí, escutando, dá um tempo! Cai fora babaca
-Hahahahaha…
2) Engenheiros do Hawaii – Na música “Ilusão de Ótica”, quando executada normalmente no trecho ouve-se ” Ih, não roda assim, não gosto que rode assim….”, que provoca e dá claramente a dica direta ao ouvinte, e quando executada ao contrário, alegam que surge: “Por que você está ouvindo isto ao contrário, o que você está procurando, hein?” claramente ridicularizando os fanáticos por inverter todas as músicas que ouvem, aliás, ótimos consumidores que compram tudo o que sai para ouvir ao contrário!
3) Pink Floyd – Na música “Empty Spaces”, quando executada ao contrário, afirmam surgir a voz de Roger Waters falando : “Congratulations, You have just discovered the secret message. Please send your answer to ‘Old Pink’, Care of the funny farm, Chalfont…” ( ” Parabéns, Você descobriu a mensagem secreta. Por favor envie sua resposta para o Velho ‘ Pink’, aos cuidados da engraçada fazenda , Chalfont…”), o que geraria um excelente cadastro ou mala direta de quantos fans podem ser localizados para pré-venda  de convites de shows, pré-testes de novos discos, etc..Maxi-Marketing, mala Direta com Database, banco de dados, confirmando ser tudo golpe de Marketing mais uma vez.
Há inumeráveis exemplos na internet desta palhaçada que seria cômica se não fosse trágica.
Enfatizo um teste:  sugiro ao leitor divertir-se ouvindo os chiados e ruídos sem nexo sem ter lido a frase que direciona a percepção antes, para confirmar os mecanismos de projeção e sugestão e falsear a hipótese alucinada dos fanáticos pseudo-religiosos.
Como você viu, uma pessoa inteligente e bem intencionada percebe que nada há de subliminar em discos de vinil (que nem existem mais, já existe o CD e o DVD), tudo foi um golpe de marketing de grupos ingleses como Iron Maiden e Black sabbath (que mostram diabos desde a capa, título do disco e dentro das letras às claras, explícito e assumido, nada de subliminar escondido ou oculto), divulgando que havia orações ao diabo invertidas nos discos, insinuado em entrevistas a fanzines nos anos 70, os adolescentes na fase de revolta rodavam o disco errado, raspando os sulcos do vinil, estragando o disco aos poucos cada vez que faziam isto, o que os obrigava a comprar outro…logo, era um PEGA-TROUXA, um golpe de marketing das gravadoras…foi quando alguns neo-pentecostais desejando extorquir dízimos dos seus crentes passaram a divulgar isto gerando uma histeria entre fanáticos religiosos…por um mecanismo da mente humana , projetamos sentido em nuvens no céus (quem nunca brincou disto?) ou manchas na parede, e fazemos o mesmo com som, se ouvir um chiado diversas vezes, vai forçando a fazer sentido, os psicólogos chamam de PROJEÇÃO…e os casos reais de frases invertidas feitos por gravadoras não eram subliminares, e sim golpes para vender mais…
Cuidado com estes fanáticos religiosos pseudo-neo-pentecostais , alguns mais exaltados  deliram e afirmam até mesmo que um dos Beattles seria um “clone criado por Extra-Terrestres a mando do Diabo”… e ainda pede dízimos e doações para “salvar o mundo” dos “Subliminares de Satan” …se tudo isto não for piada de internet, quem acredita deve ter problemas mentais sérios e precisa procurar ajuda imediatamente com psiquiatras e psicólogos…este tipo de delírio ou sensacionalismo desacredita pesquisas sérias de pessoas bem intencionadas, antes de entrar nestas fofocas sem base, deve-se pesquisar sobre o currículo de quem faz estas afirmações e exigir provas científicas, evidências verdadeiras.
Há um site na Internet no qual tudo pode ser esclarecido,site univesitário das Faculdades SEAMA, “ ÉTICA E RIGOR CIENTÍFICO: UM CASO SUBLIMINAR” de autoria do professor com Mestrado Chris Benjamin Natal:
http://www.seama.com.br/C61PUBR1.htm
Mas há casos de subliminares verdadeiros que resultaram até em processo:
Em novembro de 2002 a MTV foi processada, conforme Claudio Julio Tognolli
na “Revista Consultor Jurídico, 5 de novembro de 2002” (confirme pois está
no ar na INTERNET). O juiz da 12ª Vara Cível de São Paulo, Paulo Alcides
Amaral Salles, concedeu liminar a pedido do Ministério Público. Os
promotores Deborah Pierri, Motauri Ciochett e Vidal Serrano, que atuam em
defesa dos consumidores e da infância e adolescência, ingressaram com ação
civil pública contra a MTV Brasil. De acordo com o MP, a vinheta “no plano
consciente veicula imagens regulares com o logotipo da MTV, mas quando as
imagens do referido clipe são submetidas à velocidade mais lenta, percebe-se
que as mesmas trazem cenas explícitas de prática sexual chamada de
sadomasoquismo”.
Os promotores afirmaram que a “a fita de VHS enviada ao Instituto de Criminalística foi periciada e ali foi constatado de fato as cenas de perversão sexual mantidas clandestinas”.
Segundo afirma Claudio Julio Tognolli na “Revista Consultor Jurídico, 5 de novembro de 2002″ vou copiar entre aspas: ” o Ministério Público citou o professor Flávio Calazans, conhecido estudioso de mensagens subliminares, em seu pedido. Segundo o professor, “a teoria subliminar remonta do filósofo
grego Demócrito (400. a.C.) e é descrita por Aristóteles, Montaigne, pelo físico brasileiro Mario  Schenberg, pelo filósofo da linguagem Flusser e vários outros”.
Calazans afirma que “os efeitos dos estímulos sensoriais imperceptíveis conscientemente vêm sendo medidos pela psicologia experimental até que, em 1919, o dr. Otto Poetzle (ex-discípulo de Freud) sustentou que as sugestões pós-hipnóticas têm o mesmo resultado prático dos estímulos subliminares para alterar o comportamento humano”. O juiz afirmou que a “manutenção da publicidade poderá causar danos irreparáveis às pessoas, em especial aos menores, que assistem à programação”. A MTV não poderá veicular “qualquer outro programa ou evento em que haja publicidade clandestina, subliminar, especialmente quando houver insinuações de práticas sexuais, sob pena de suspensão de sua programação no mesmo dia e horário da semana subseqüente”.
Caso descumpra a decisão, terá que pagar multa de R$ 10 mil” ” fecho as aspas.
Come vê, graças às minhas pesquisas é que este caso pôde ser denunciado, sendo que sou citado muitas vezes no processo, todos podem conferir na INTERNET e com os autores da denúncia cujos nomes cito acima.

                                                 

                                                          sem crédito. ilustração do site.

REQUIEM para A.W. por jorge lescano

 

Não há balas perdidas. Existe um número preciso de disparos sem o qual a guerra não se realiza plenamente. A este número, imensurável porém limitado e apenas conhecido pelo contador sobre-humano, corresponde um número proporcional de vítimas.

            A 15 de setembro de 1945, faltava que uma bala fosse disparada para completar a ação total da guerra. Esta bala estava na arma de um açougueiro norte-americano, soldado ocasional. À bala faltava-lhe a vítima. A guerra havia acabado, portanto, a vítima deveria ir ao encontro da bala. Nem a vítima nem o soldado conheciam seu desígnio, porém, ambos estavam vinculados a um ato que completaria o ritual.

             Era necessário que o atirador e o alvo ignorassem a identidade do outro. O enredo exigia que a vítima fosse um civil para evitar qualquer noção de rivalidade. A ordem era de que nenhum interesse pessoal interferisse no cumprimento da cerimônia. Somente assim o fato se revelaria ato não humano, circunstância pura.

            Em Salzburgo é pouco mais de vinte e duas horas de uma agradável noite de fim de verão.

            O músico vai para a rua depois do jantar. Na outra calçada, sombra nas sombras, um vulto pronuncia algumas palavras em inglês, que o austríaco, provavelmente, não compreende. Com um gesto familiar àqueles que o conhecem, o civil leva a mão a um bolso do paletó, à procura de um charuto.

            Então, o tiro. Único no silêncio da noite; e outra vez o silêncio.

            Este eco da guerra, quando todos os estrondos se haviam esgotado, procurava um ouvido capaz de dar-lhe significado? O certo é que ele será o réquiem e o epitáfio do artista. O silêncio não deveria ser o mesmo depois daquele disparo. Agora seria um vazio povoado de ausências, a moldura de sutilíssimos sons, quase nada, que não mais seriam modulados.

Não fosse a vítima Anton von Webern e o tiro passaria despercebido. E não teríamos a revelação do mecanismo do ritual, sem que pretendamos com isto compreender-lhe a razão.  Esta continuará acaçapada por trás do acaso, da coincidência, fatalidade, azar, mal entendido.

Talvez, no momento do disparo, as funções do soldado e do músico foram trocadas, sem que se alterassem a ação ou as identidades das personagens: uma oferenda, Baal, uma bala. Talvez os dois homens fossem meros suportes, acidentes no tempo e no espaço. No entanto, ambos foram necessários para consumar o sacrifício à deidade corporificada no projétil.

 

ATRASO por lélia almeida

Era uma vez um país onde muitos acocaram na boquinha da garrafa, adoraram a Eguinha Pocotó e dançaram o créu com a Mulher Melancia. E na semana em que este país aprovou a pesquisa com as células-tronco e deu um passo definitivo à civilidade, nesta mesma semana e neste mesmo país, Carlão e Bernardinho se casaram, mas não puderam beijar na boca! O beijo foi censurado!
Atraso e hipocrisia no país mais galinha do mundo! Ou devo dizer, no país mais careta e moralista do mundo?
Sábado à noite as comportadas famílias brasileiras puderam assistir ao último capítulo da novela Duas Caras de Aguinaldo Silva. Um casamento coletivo foi realizado e, como é de praxe, todo mundo casou e foi feliz para sempre.
Durante os meses de novela a discussão sobre o politicamente correto e sobre algumas políticas governamentais estiveram na ordem do dia. Bem ou mal, falou-se sobre quotas na universidade, sobre inclusão, sobre racismo e sobre paternidade homoerótica (juro que não fui eu que inventei este termo). Dondocas descobriram que a vida com o povão na favela podia ser uma farra e alguns bandidos se reabilitaram, como foi o caso do inescrupuloso Carlão, que explorou o pobre Bernardinho à farta.
No país que cria uma ficção, em plena novela das oito, onde uma criança pode, legalmente, ter dois pais e uma mãe, e onde um dos pais pode casar com outro homem, acontece o inusitado: casar pode, mas não pode dar beijo na boca!
Assim caminha a humanidade e assim caminha a sociedade global brasileira: um passo a frente, dez para trás. Atraso, minha gente, o nome disso é atraso. Talvez quando tivermos os resultados das primeiras pesquisas com as células-tronco, dentro de alguns anos, Carlão e Bernardinho, quem sabe, depois de assinar a união estável na frente de um juiz, poderão pegar na mão e dar um virginal beijo no rosto. Espantoso!
Porque na vida real a coisa é outra. Na vida real, a coisa é gay. O mundo está gay. As relações são gays, a estética é gay, a moda é gay, e o fashion é ser gay. O cenário obrigatório é queer eye for the straight gay. Confesso que estou exausta com a coisa gay. Estou exaurida com a moda gay. Estou de saco cheio da caricatura. Estou cheia da histeria da ditadura gay para quem tudo é homofóbico, e estou farta da assepsia do politicamente correto e da punheta virtual também. E do feminismo que só discute, na academia e nos movimentos sociais, relações parentais homoeróticas, técnicas reprodutivas para casais homossexuais, quando a discussão sobre gênero, na atualidade, tem um único e último objetivo que é a discussão sobre a coisa gay.
Eu mesma, depois deste desabafo, serei, muito provavelmente, espinafrada por estas poucas linhas, denunciada como preconceituosa e homofóbica. Mas eu realmente estou de saco cheio destes tempos muito sem graça em que estamos vivendo.
Particularmente, tenho saudades da sacanagem e do deboche, sinto falta do tempo em que os homens gostavam de foder com as mulheres e as mulheres se derretiam para dar a bichana. Sinto falta dos tempos em que homens e mulheres podiam se esfregar e assediar e amassar sem que isso fosse um sintoma, uma doença, um desvio, uma ameaça, tenho saudades dos tempos em que era considerado relativamente saudável, – para dizê-lo em bom português, e para que não esqueçamos os nomes das coisas – homens e mulheres gostarem de namorar, transar, trepar ou foder. Estou quase saudosa de pérolas pré-históricas como a coçada no saco, a boa e velha pegada, um peito cabeludo e um mundo de homens sem brincos.
Estou cansada com o exagero da coisa gay, mesmo sabendo que o exagero é necessário para que algumas demandas venham a público. Assim como foi absolutamente necessário que as feministas queimassem sutiãs, há muitos anos atrás, e assim como foram necessários gestos definitivos e exagerados para que reivindicações e novas condutas se estabelecessem.
E mesmo cansada da moda e da patrulha gay que assola a contemporaneidade, digo que o que vi sábado à noite me fez ter medo de um retrocesso à obscuridade da noite dos tempos. Foi patético, Bernardinho e Carlão ali, lado a lado, dando um passo sério e definitivo, em direção a formas afetivas mais livres e menos preconceituosas.

Mas sem beijo na boca! Com beijo na boca censurado!
Atraso, o nome disso é atraso.

BAILANDO NA CHUVA/terceto cruzado – de ângela lugo

Dançando entre os pingos da chuva quente
Que caiu de repente
Você vem e abraça-me fortemente

Vez ou outra vem o choro calmamente
Choro um amor contido
Ainda bem que tu me olhas docemente

Não podes imaginar meu sonho partido
Por te amar escondido
Um amor sem ser correspondido

Dançando na chuva vejo teu bailar descontraído
O amor nos dá maior percepção
Para sabermos quando estás distraído

Queria que tu tivesses sobre o amor mais informação
Sem deixar-me aqui nesta chuva em solidão
Bailando contigo e sustentando a minha condenação

Meu amor por ti é honesto e cheio de retidão
É alentador e acomodado
E quero que um dia ele saia da escuridão

Declarando a ti este sentimento que está sufocado
Dentro do meu coração
Não precisa ser aqui na chuva neste bailado

Pode ser em um dia quando tiver mais emoção
Quando você não estiver em clima de tensão
Procurando justamente por uma afeição

Sentir-se sozinho e não querer da vida somente ilusão
Então poderei te oferecer meus sentimentos
E assim doar-te o meu amor sem dimensão

Quando acontecer viverei intensamente todos os momentos
E quando assim em teus olhos encontrar o amor por mim
Enfim estarei ao teu lado com a alma repleta de contentamentos

PROJETO NORDESTE FÉRTIL – por ana maria maruggi

 

Conta que o presidente Luiz Horácio e sua comitiva visitavam o sertão nordestino para aferir o sucesso do Programa Nordeste Fértil.

 

Nesse Projeto foram construídas muitas cisternas espalhadas pelos municípios e a água era conduzida por meio de tubos de ferro fundido para quase todo o sertão nordestino.  Com essa medida o solo estaria mais apropriado para as diversas culturas da região e a fome começaria a ser erradicada do nordeste.

 

Saíram da capital do país em  Boing presidencial ultra moderno aterrizando numa próspera capital nordestina. Lá o presidente deparou com  um Programa que  ia de vento em popa. O que lhe parecia normal.

 

Mas havia queixas de que nos cafundós do Estado a coisa ia de mal a pior. Incrédulo, o homem ordenou que  embarcassem para um distrito pouco assistido para que ele soubesse com  era o “ir de mal a pior”.

 

As notícias começaram a ficar ruins naquele mesmo instante, pois não poderiam viajar de avião para   distritos que não tivessem aeroportos. É claro!

 

Isso lá era verdade, pensou o presidente com seus bufões. Iriam de carro então. E lá foram até Esperancinha, cidade pequena com pouco mais de 2500 habitantes, poeirenta, com algumas lojinhas de alimentos toscos e uma mercearia onde se servia refeição em prato-feito. No armazém, sentaram e comeram arroz, feijão com toucinho, mandioca cozida com alecrim, e galinha de panela. Não se tratava de um banquete, mas a comida era boa. Não fossem aqueles mosquitos, a sujeira acumulada nas mesas, a louça quebrada nas beiradas, os talheres entortados, o sol escaldante sobre as cabeças,  teria sido um bom almoço. Salvo pela cerveja gelada que foi oferecida gratuitamente para comitiva. Uma única latinha para cada um.

 

Eu estava sentada numa outra mesa  e vi a cara de desolação da comitiva quando lhes foi negada a segunda latinha sob alegação de que faria falta para o freguês que chegasse depois deles.

 

Curioso o presidente tomou a frente e perguntou ao proprietário se o Projeto Nordeste Fértil tinha beneficiado Esperancinha, no que a resposta foi afirmativa devido a proximidade com a Capital.

 

Mas o Chefe do país ainda queria visitar um lugarejo que não tivesse nada além parcas casinhas de pau-a-pique, e seguiram em pau-de-arara até a desconhecida Jaicosa.

 

Movida pelo impulso patriota, juntei-me a eles nesse trecho da viagem. A estrada que nos levava à cidade escolhida era quase intransponível. Sinceramente não saberia dizer o que havia mais: buracos ou poeira. Nenhuma vegetação à beira da estradinha. Ninguém cruzou nosso caminho em mais de duas horas. Mas, finalmente, lá estava Jaicosa! Cidade ausente do mapa do Estado, mas lá estava ela com suas, quase dezoito casinhas. Quase porque uma delas estava em construção há mais de cinco anos e seus proprietários haviam morrido de doença ruim. O esqueleto de construção, num caso como esse, era abandonado à própria sorte. Era aquela a cidade que o presidente queria conhecer!

 

Meu corpo doía em todos os músculos e ossos. O calor nos castigava. Nossas vestes não eram apropriadas e nossa última bebida tinha sido aquela única latinha de cerveja lá em Esperancinha. Desci com dificuldade do pau-de-arara, mas estava tão curiosa em saber que tipo de gente habitava aquele lugar inóspito que nem liguei para minhas dores. Embolei-me no meio da comitiva de mais de 20 pessoas e me esgueirei para frente do grupo, pois não queria perder nem uma ceninha do acontecimento histórico que  estávamos vivendo. Eu, e Jaicosa.

 

O presidente Luiz Horácio protegido pelos seguranças pediu ao assessor que batesse à porta da casa mais próxima. Saiu de lá uma mulher barriguda, despenteada, cheirava mal a pobre coitada, com vivos sinais de sujeira por todo o corpo. A boca sem dentes nem sorria. Não demonstrou nenhum espanto ao ver aquele bando de estranhos  à sua porta, apenas perguntou o que queriamos. O assessor sorriu brandamente diante da falta de curiosidade da moradora e pediu água para beber. Ela nem titubeou, fechou a portinha e manteve o grupo do lado de fora.

 

O assessor sem entender olhou para o Presidente que disse “insista, ela não entendeu o que você disse”. Ele bateu de novo. A porta que não estava trancada, foi abrindo lentamente e lá vem a mulher desajeitada, mancando e coçando a cabeleira.

 

Ele diz: “Boa tarde. Somos da comitiva do Presidente  e queremos saber se o Programa Nordeste Fértil chegou por aqui”.

 

Ela foi imediatamente dizendo: “Aqui não chegou ninguém não sinhô. Faiz mais de seis anos que não vem ninguém aqui. O derradêro foi o Doto Lino, meu cumpadre. Veio e me feiz um fio, o Luiz, e dispois num vortô mais. Nunca mais.”.

 

O grupo não pode evitar  um risinho aqui e outro ali. De repente estavam todos rindo alto. Inclusive a dona da casa. Quando todos já conseguiam falar o assessor  se apressou em pedir água para beber. E ela não demorou em atende-lo. “Luiz Horááááácio, vem cá meu fío. Vai lá na tina buscar água pro moço bebê que ele chegô agora de viaji e tá aguniado”.

 

Ao ouvir que ela dera seu nome ao filho, o presidente adiantou-se e, com um sorriso incomum, perguntou: “- A senhora deu o nome de Luiz Horácio ao seu filho em homenagem a alguém?”

 

A mulher não reconhecendo o presidente foi logo dizendo: “- Ahn, qui nada seu moço! O nome dele é Eufrázio Lino. O mesmo nome do pai, do avô e de um montão di genti aqui de Jaicosa. Mas dizem qui ele se parece muito com um tar de Luiz Horácio, intão o povo chama ele assim”.

 

E o presidente emendou: “Ele ainda poderá ser famoso, senhora. Poderá ser até chegar a  Presidente do Brasil”.

 

E a mulher se benzendo: “Arre qui não, seu moço,  é que farta um dedinho na mão dele , i é purisso que o povo daqui chama ele assim.

 

                   cangaceiros corisco e pancada.  ilustração do site.

ADILSON, O Jabá – por josé alexandre saraiva

 

De todos os bêbados convictos que conheci, Adilson, o Jabá (ou Xarope, como era chamado pelos colegas do ofício), foi o mais feliz e fiel executor da arte de beber. Ninguém sorriu tanto na vida, diante de uma cachacinha da boa, como o inesquecível Adilson.

      Para cada gole, principalmente quando alguém pagava, já que era desempregado e pobre, logo se via o maior sorriso do mundo derretendo em contentamento suas rugas, em nada lhe inibindo a falta dos dois incisivos superiores.

O polaco bebia com o mesmo entusiasmo com que criança come chocolate e com a satisfação de quem, num só instante, saboreava, a cada copo, todos os prazeres e delícias que dizem existir no mundo. Dava a impressão de que sufocava, também, as feridas da alma. E as amarguras que já tinha sofrido, ao longo de seus quarenta e tantos anos de deliciados sorvos da “branquinha”.

Eis que, no sábado passado, Jabá, cujo único defeito era torcer ferrenhamente para o “Coxa” (mas quem é que não tem seus pecadinhos?), acordou às onze, ajudou um vizinho protestante que trocava um pneu do carro e foi ao “Bar Estrela Dalva” para beber o que quis e como quis. Bebeu, bebeu, bebeu … Depois, às sete da noite, com auxílio dos colegas (todos bêbados, evidentemente), foi-se para o barraco de madeira que erguera no quintal da casa onde morou com ex-esposa. Dela estava separado por ser ateu e amante da saborosa cachaça. A sós, na plenitude de sua feliz solidão, completamente encachaçado, morreu de morte morrida.

A notícia correu a Vila Maria Antonieta. Ninguém se conformava. “Era sujeito bom demais … Como pôde ter morrido assim, sem mais nem menos… Gostava tanto das crianças… Sempre tinha sorrisos para todos… Até os cachorros do Zé Piúdo respeitavam a careca do Xarope, para quem latiam sorrindo… Ele sempre colaborou com a “Igreja da Salvação…”

Em meio a uma dúzia de velas e poucas flores campestres colhidas na redondeza, lá estavam, dia seguinte, os companheiros do “Jabá”, enterrando o caixão azul e roxo na cova nº 5840 do cemitério de Piraraquara. Nenhum discurso, nenhum lamento exagerado, como ocorre nas sepulturas de defuntos ricos, famosos. O silêncio. Apenas o silêncio dos sentimentos e as discretas lágrimas não contidas do irmão mais velho, que viajara de Chapecó, solavancos de horas cansadas. Foi ele prontamente consolado pelos perspicazes colegas do Jabá, na certeza de um patrocínio iminente para desafogar a tristeza. Afinal, eles não tinham participado do velório realizado na casa da ex-sogra do falecido, apesar do caloroso protesto da CAC – Comunidade Alcoólatra Convicta, fundada por Jabá, sem qualquer estatuto ou registro.

Saltitando no topo de árvore desfolhada, a mais elegante das figuras marcava presença:

— “Bem-te-vi … Bem-te-vi …”

Nem mais um só eco de emoção naquela tarde fria.

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                         sem crédito. ilustração do site.

AQUÁRIO poema de manoel de andrade

 

 Silente e impassível
o mar
navega sua beleza
em  preguiçosas caudas
e barbatanas velozes,
ilumina-se em translúcidas medusas
e na cromática simetria das escamas.

Refrata a luz e a vida
no remanso submerso das águas,
em seus relicários de pérolas
e no  balé  itinerante dos cardumes.

Mar, ó mar…
escondeste teus íntimos mistérios
na pressão insuportável dos abismos
nessas paisagens indevassáveis da vida
onde transitam  feições primordiais jamais iluminadas.

Abres, contudo, as pálpebras da aurora
e o sol emerge do teu ventre  qual fornalha ardente
e na superfície das águas
ilumina tua face absoluta
nesta horizontal extensão do azul
nesta planície sulcada de quilhas e naufrágios
onde se agitam as caudas gigantescas das jubartes
e as asas serenas do albatroz.

Teus brancos litorais abraçam a Terra
desde sempre marejados pelo teu íntimo palpitar.
Tuas marés redesenham os cinturões de areia
e delimitam teu espaço inconquistável.
Os manguezais invadidos retratam teus domínios.
Contra teu furor levantam-se falésias
fiordes verticais e punhais de granito.
Edificas tua linha de recifes,
teus castelos de corais,
cultivas teus jardins de algas e sargaços
onde mandíbulas poderosas,
venenos e descargas fulminantes,
ditam teu código submerso.

Mar, ó mar
transparente  beleza de flores e de frutos
território enigmático de vidas e silêncio
abismo onde flutuam os sobreviventes
sudário de todos os náufragos.

Mar azul
chamo-te água absoluta
porque absoluta é a tua sedução
a tua irresistível espuma
a mobilidade do teu ritmo
tua incessante sinfonia
teu eloqüente silêncio.

E contudo…
diante do etérico oceano…
diante dessas deslumbrantes ilhas estelares…
tu és apenas um úmido ponto no infinito
um aquoso respingo
minúsculo aquário
um minuto ondulante na eternidade
há bilhões de anos se espraiando
nessa gota salgada suspensa no universo.
                                 

 

Curitiba, março de 2004
Este poema consta do livro “Cantares”, editado por Escrituras

A CENTRAL DE GOLPES por walmor marcellino

Há só três pontos de vista sobre os acontecimentos no mundo: 1) o da liberdade, do progresso econômico-social-político e autodeterminação dos povos, 2) o do capitalismo-imperialismo, com sua dominação política e produção-destrutiva dos recursos e bens naturais, e 3) o de Vargas Lhosa, Arthur Virgílio-Fernando‑Henrique Cardoso‑Roberto Freire e outros imbecis de vários matizes. Essa redução aqui da espécie humana a simples paradigmas, entretanto, soará sectária ou “radical”, porém não há outra forma de exposição sucinta de temas mais complexos sobre os quais a Rede de Intrigas CNN‑Globo (et caterva) ensinam o gentio e os idiotas a pensar ciberneticamente.
Para quem pensa que vou fazer algum ensaio, desilusão. Cito apenas o jornal “El País” (de “centro-direita”) na sua edição de “viernes, 4 de julho de 2008), que mancheteia: “A operação Jaque começou em janeiro”, e subtitula: “Um grupo de coronéis treinados em Israel e Estados Unidos desenhou o plano de resgate”. Agora, vocês podem ler e escolher uma das informações (que se interpenetram): a minha já passada a vocês pela internet tachada de marxista delirante e a do jornal, que goza de um conceito de “independente”.
A CIA, a DEA, o Moussade (Israel) e até o M-16 foram os autores, os três primeiros planejando a ação-corrupção de resgate e o outro sócio-“informado” como aliado na grande cruzada da Internacional Negra. Claro que era preciso ter projetos táticos aperfeiçoados: nas práticas da CIA e de seus paramilitares colombianos, nos infiltrados na guerrrilha e sua caixinha de “até 100 milhões de dollares” para este caso no aliciamento dos “voluntários”, nos “narcocorrompidos” e no “pay-cash” dos “amigos dirigentes colombianos”. O ensaio do Equador não servira de advertência para os governos da região, de que se trata de um planillo dentro do grande plano estratégico: o governo satélite Uribe como relembrança de que as canhoneiras farão “a sombra política” da determinação imperialista da renascida “Doutrina Monroe”: o México neocolonizado vai infiltrar-se nos demais convidados “G” (China, Índia, Brasil, África do Sul e México) no G-8; a Colômbia vai sinalizando o modelo de cooperação neocolonial-neoliberal, juntamente com o Chile, o Peru e o vacilante Uruguai.
Bem, voltemos: as ações da CIA (como exemplo, nos genocídios políticos praticados pelos militares tipo Castelo Branco-Costa e Silva-Medici-João Figeiredo-Pinochet-Vidella-et fezes) são sabidas embora pouco conhecidas; a canalha oligárquica, institucional e burocrático-militar em nossos países é vista por nós com “seriedade democrática”, as campanhas contra “o narcotráfico” orientadas pela DEA e CIA recebem apoio de todos os idiotas e corruptos: moralistas, políticos e juristas, como pretexto para asfixiar as classes “desobedientes”; o Mossade se associou ao gangsterismo político globalizado para garantir-se “as informações de dentro” da internacional negra do imperialismo e manter o apoio das forças repressivas internacionais; atua em toda parte como “serial killer” bem treinado em matar árabes e palestinos. Continuamos bem.

DA TERRA AO CAOS – conto de leonardo meimes

A terra ainda era menina demais, pois esta história remonta aos longínquos anos em que os homens ainda se dedicavam à vida pacata. O mundo humano se resumia a uma família e a porção de terra conhecida ainda era reconfortante, muito parecida com o paraíso. Na vila, única, se via apenas uma grande casa cercada por pequenas construções de um cômodo e de campos abertos, onde todos cuidavam do ofício de serem pastores ou de plantar hortaliças. Eles não foram sempre pastores, a tradição começou quando o irmão mais novo decidiu criar, cuidar e finalmente usufruir a vida animal, então todos o seguiram. Dantes fora ainda mais pacata suas vidas, resumidas as sombras das florestas de onde retiravam seu sustento comendo frutas suculentas e delícias que afloravam com a terra. Agora ali os animais eram, sim, pastoreados, as ovelhas e os pequenos borregos caminhavam tranqüilamente, sem perceber as intenções de seus criadores, que não deixavam de ser boas. Apenas o necessário era utilizado, pouca mata havia sido avariada, sendo as poucas casas feitas de barro e alguns fragmentos de madeira encontrados já ao chão. O campo não era dividido em áreas, toda área era comum, porém os animais obedeciam apenas a seus pastores. As famílias provenientes do mesmo pai e mãe conviviam em paz, aliás, desdenhas ainda não haviam sido criadas entre os viventes, só entre os viventes e os criadores.

O primeiro filho nascido nesta terra, um grande homem, de barbas espessas ruivas e um apetite voraz por tudo que da terra provinha, foi também o primeiro agricultor. Tinha um nome da terra e se chamava Mica. Arou os campos e refez a terra de modo que tudo o que plantasse, crescia. Ao término de alguns anos, na família santa havia mais de dez filhos, cada um com sua família e criação. Porém à Mica, o velho, não foi dada a graça de uma esposa fértil. Cada um dos irmãos a seu jeito ajudava a crescer a espécie humana, porém Mica e o mais novo, Balé, ainda não tinham plantado raiz nesta terra. Balé era magro, bem frágil e por muitas vezes pensativo, foi quem descobriu a arte de lidar com os animais, de alimentá-los e, mais por necessidade do que por perversidade, de os sacrificar para fartura das famílias. Este irmão, porém, ainda era novo e havia a pouco se casado com uma de suas irmãs, também muito nova, apesar de mais velha do que ele, e planejavam viver sem constituir família, ajudando e trabalhando para o bem de todos os outros moradores da vila.

O irrequieto e voraz Mica decidiu então pedir a deus que este lhe fizesse a graça de lhe conceder um filho. Recolheu as mais bonitas frutas, fez ramos de trigo e pediu que sua mulher fizesse doces e especiarias para que fossem oferecidas a deus num apelo. Armou um templo com estas gostosuras da terra que nem ele, acostumado a ver tanta fartura, recusaria qualquer desejo que lhe fosse pedido. Porém deus, ao contemplá-lo em tal fervorosidade, respondeu que ele seria o último dos irmãos a ter uma progênie, pois seu trabalho como agricultor era um dos mais importantes dentre os que eram desenvolvidos entre os irmãos e não podia ser incomodado. Ficou assim enraivecido o brutal Mica, suas veias saltaram e ele num feroz balbucio despejou desvairadas injurias a tudo e todos. Essas se dirigiam principalmente ao irmão menor, Balé, que não tinha em mente a constituição de uma família, impossibilitando assim que o mais velho pudesse procriar.

Em um encontro, mais do que desnecessário, Mica rogou ao piedoso Balé que fosse junto dele pedir a deus que fosse permitida a cria, que Balé explicasse ao onipotente que não tinha planos de ter filhos e que não podia desta forma o seu destino estar entrelaçado ao do irmão ou o mais velho nunca os teria. Improvisaram um altar, com fogo e ervas essenciais, que espalharam um cheiro que qualquer um cederia. Balé procurou o bezerro mais bonito dentre suas criações, pediu-lhe encarecidamente que participasse do sacrifício e não sendo respondido pelo animal julgou que tudo ia bem. Mica recolheu mais frutas e verdes diversos do que antes e produziu um belo arranjo para a oferenda. Ao amanhecer eles começaram a oferenda e o sacrifício, chamando deus que lhes ouvisse. Este mais uma vez disse que a intenção era boa, porém o destino dos dois estava mais entrelaçado do que o de qualquer dos outros irmãos e que fruto de tal destino haveria de se cumprir para que o mundo fosse completo. Mica enraivecido outra vez perguntou a deus de punhos cerrados e num suplicante gorgolejo se havia meio de sua vontade ser atendida de alguma forma. Deus lhe disse que só com o maior ato de amor e devoção à sua pessoa o destino poderia ser mudado.

Mica olhou ara seu irmão ali ao seu lado ajoelhado e bradou a deus, “Ó deus, lhe ofereço a vida de meu irmão e cometo uma grande ofensa para provar que faço tudo por minha vontade”. Agarrou Balé pelos ombros e desferiu mortal golpe em seu irmão. Balé ali jazia e a voz de deus não foi mais ouvida por Mica.

Mica explicou aos outros irmãos que Balé havia se sacrificado para que deus lhe concedesse a graça da prole e que em nove meses nasceria uma criança. Porém tais meses foram de incrível solidão para Mica, que não tinha coragem de olhar para o rosto dos irmãos e já tinha perdido a vontade de plantar e colher, aderindo ao hábito de andar a sós à noite, o que antes lhe causava repulsa, mas agora era muito reconfortante. Sua mulher foi cada vez mais apresentando os sinais da gravidez. Em três meses já tinha uma barriga e mal podia se mover. Outros fatos estranhos tomaram vez. Havia uma espécie de pássaros que ajudava os homens no laboro com a terra, plantando e espalhando sementes, estes já não eram mais vistos, assim como mais cinco outras espécies, incluindo roedores, peixes, e miúdos. No quarto mês as pragas começaram. Atacando as lavouras foram seis pragas ao todo uma em cada mês que a criança crescia. Ao término dos nove meses, o irmão poeta já havia escrito seis tragédias ali ocorridas, em lindas métricas por ele inventadas. Então, a criança nasceu, em uma caverna onde Mica decidira se instalar. O leito era de pedra sem nada para confortar o bebê. A esposa não teve coragem de chamar os outros irmãos para ver sua criança. Este era um menino, de bom peso e boa aparência, porém eles estavam com dúvidas na escolha do nome. A criança depois de horas sem um nome começou a chorar. De grande altura foi o choro e os animais notaram que uma nova vida havia surgido, curiosos vieram visitar.

Vieram vários animais, cada um ao seu ritmo e ofereceram ajuda a Mica na escolha do nome. Mica expressou seu desejo por um nome animal, pois queria que seu filho tivesse intimidade no lido com estes. Talvez numa homenagem a seu irmão morto escolheu o nome Cordeiro. Olhou para os lados procurando entre os animais um cordeiro para pedir-lhe permissão e como não havia ali um desses foi escolhido o nome. Os animais ali concordaram, pois cada um tinha seu motivo em não dar seu nome a criança que havia desencadeado tal desordem, mesmo antes de nascer. Cordeiro de imediato começou a chorar mais alto. A criança se contraia e corava como se o estivessem torturando. Então Mica retirou-lhe o nome e tudo voltou ao normal, a criança olhava para os lados com uma feição indagativa. Não se fez consenso sobre o nome que o menino receberia e nem haveria tempo para tal, pois três homens chegaram à caverna, cada um montado em seu animal.

Mica não reconheceu nenhum deles como um de seus irmãos e perguntou-lhes de onde vinham. Os três se aproximaram e em rima e verso responderam:

 

 

 

 

O primeiro:

“Sou o rei do alto ocidente!

Venho aqui presentear a criança com ouro.

Ó mestre, que nasceu para reinar valente

Sobre toda a vida existente!”

 

Este estava montado sobre um lindo mustangue e usava roupas vermelhas e azuis.

“serás, ó Rei, o mais temido entre os homens!”

 

O segundo:

“Sou o rei do alto oriente!

Venho lhe presentear com negra especiaria,

Que a sede com a fome sacia!

Ó grão mestre, que nasceu para o que devia!”

 

Desceu de seu camelo, pôs seu turbante ao lado do garoto e ajudou o pequeno a beber o viscoso liquido negro.

“serás o mais temido entre os homens, ó Rei!”

 

O terceiro:

“Sou o rei do sul do mundo!

Venho lhe trazer minha influência.

Pois sei que de norte a sul do mundo,

Todos lhe deverão obediência!

 

Desceu de seu jegue, pegou a criança e lhe deu um beijo.

“serás entre os homens o mais temido, ó Rei!”

 

E sorrateiramente guardou o ouro debaixo de seu casaco.

Tais gloriosos reis seguiram seu caminho terminando o maior ato de reverência a um mortal já feito até aquele momento em toda história. Mica estava abismado com o destino que deus havia dado à sua criança. Uma dúvida agora pairava na mente de todos os animais, que nome haveria de ter tão grande rei? Os animais estavam ansiosos e cada um queria agora que seu nome fosse dado à criança, entusiasmados pelas previsões dos reis. Começaram a declamar.

O Cão:

“Serás Cão!

Pois sua voz soará como um rosnar assustador

À quem se atrever a atrapalhar seu destino!”

 

O Bode:

“Serás Bode!

Pois terá a sabedoria que um líder precisa para

Acabar com seus rivais!”

 

Um Morcego ali alojado:

“Serás Príncipe das Trevas!

Pois não terá medo de infligir a escuridão,

Que seus inimigos tanto temem, como um morcego faz!”

O Lobo:

“Serás Besta!

Pois terá a fúria e a impiedade que só os lobos tem!”

 

O Porco:

“Serás Sujo!

Pois assim manterá longe qualquer indesejado rival,

como fazem os porcos!”

 

Seguiram falando depois o Gato-preto, a Serpente, a Mariposa, o Dragão, o Escorpião e a Aranha. Travaram os animais uma discussão na qual decidiram chamar o menino de Mestre. Só que as conseqüências daquela noite acabaram por irritar o garoto. Após tantos nomes serem dados, a criança se contraiu em um gesto e com um lamento ainda mais alto que o primeiro amaldiçoou a todos. A terra tremeu aos pés dos homens, rachou e se dividiu em várias porções enormes de terra à deriva. Na vila, situada em uma destas porções, as pessoas sentiram uma forte dor em seus ouvidos e ao cessar do lamento já não conseguiam se entender em palavras. Cada um dos irmãos e suas famílias começaram a se desentender, suas vozes eram de um absurdo total e foi necessário que cada família fosse para um canto do mundo para que não brigassem. Levaram consigo, sua forma de falar, suas especialidades, suas crenças e cada um seu nome diferente para o ser que havia perturbado uma paz que reinava há anos. Os animais também passaram pelo mesmo processo e ao término do lamento não se entendiam mais. As vacas em vez de falar a língua dos homens mugiam, os lobos uivavam e todos tentaram desesperadamente dialogar, mas já não era possível.

Mica deitou e chorou. Sua mulher não resistiu ao parto. A criança, soluçando ao fim do lamento, foi então alçada em vôo por um abutre que a levou para longe. A terra se curou, abasteceu-se de novas vidas já abundantes e prosperou, porém nunca mais se livrou da sombra causada pelo garoto. O abutre muito velho e perspicaz criou o menino, alimentou-o e ajudou a crescer quem nós chamamos hoje por vários nomes, todos semelhantes pelo ar sombrio e pesaroso.

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ilustração do site. foto do telescópio hubble. nebulosa da Águia.

O PIRILAMPO E O SAPO poema de marquesa de alorna

 

Lustroso um astro volante
Rompera as humildes relvas:
Com seu vôo rutilante
Alegrava à noite as selvas.

Mas de vizinho terreno
Saiu de uma cova um sapo,
E despediu-lhe um sopapo
Que o ensopou em veneno.

Ao morrer exclama o triste:
– Que tens tu de que me acuses?
Que crime em meu seio existe?
Respondeu-lhe: – Porque luzes?

 

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a poeta Marquesa de Alorna.

peripknestsinder OUTRA VEZ POETAS BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS – por jairo pereira

Outra vez Hermes Lucas Perê e outra vez poetas brasileiros contemporâneos. Onde foram parar aqueles guris, acho q. da USP, q. apareceram uma vez na Veja falando de poesia & experimentos de linguagens?! Isso, faz mais ou menos dezessete anos. Lembro q. a repórter (ou o) ouviu Hilda Hilst e Leminski, poesia em camiseta e contrariedade entre os poetas. Promessas poéticas descumpridas. É sempre aquela questão do querer e o poder fazer. Há muito poeta bom por aí, mas fraco de obra. Tem q. produzir mais. Coisa de megalômano, a aventura com os signos e a materialização dessa aventura em obras. Muitas obras. Os velhos já nos resistem, ante pilhas de papéis sujos do nosso dizer. Imagine, salpicando um poeminha aqui outro acolá. E ficando só nisso. O mundo é dos loucos convictos na criação. Os loucos q. ante toda torpeza expandem o dito e arremessam petardos ao deus dará. Tá vendo. Por isso, tô cada vez pior de trabalho e financeiramente. Depois da última abdução, ainda mais misantropo. Firmeza, convicção, acreditamento no produto do seu espíritho, isso é o q. mais falta. Me chama atenção a força da poesia de Neuza Pinheiro, inédita em livro individual. Ninguém, ou quase-ninguém a menciona, quando o assunto é poesia hoje. Ainda não conseguiu um editor interessado na publicação do seu livro. Fico pasmo. Tanta coisinha ruim sendo publicada por aí, e essa enorme poeta, potentada dominadora dos signos ainda inédita. Pra quem não a conhece: Neuza, é também cantora e compositora, tendo atuado na Banda Sabor de Veneno, com Arrigo Barnabé, e participado de festivais de canção da extinta tv Tupi. Tudo é tão pouco quando se fala dessa grande e injustiçada artista brasileira. Um dia ainda tomaremos os meios de produção. Gosto de brincar sobre isso com alguns raros amigos poetas. Uma gráfica para cada dez e estamos felizes. Alguns navios também e grandes carretas, pra distribuir os livros, nesse imenso continente brasilis.

O Douglas Diegues, na fronteira Brasil/Paraguai, está cada vez melhor, espero me mande em breve o seu novo livro de poemas, q. diz ter título retirado de ensaio sobre sua poesia q. fiz certa vez: Una flor na solapa de la miséria. O livro foi editado em Buenos Aires. Douglas manja tudo e sabe do q. estou falando, e q. tem q. por mais esperma e pus nesse processo do criar poeticamente, e do reconhecimento de talentos poéticos no Brasil. Os velhos resistem, covardemente, irreconhecendo a produção contemporânea brasileira, de jovens poetas. Alguém já viu ou ouviu o Ferreira Gullar, alguma vez mencionar o nome de um ou dois ou três poetas das novas gerações, reconhecendo seus talentos? Ou o crítico Wilson Martins, levantar a varinha mágica e revelar um talento atual. O Augusto de Campos –esse- não fala, portanto não vamos ouvir nunca algo sair de sua santa boca. A essas alturas, treme o computher, em ideogramas e compostos puramente visuais. O Haroldo de Campos, mais parlapatão e seguro de si, abria o coração e alarmava gente (poetas jovens) pra todo lado. Raramente, uma alma consagrada, abre caminho na noite veloz, pros bons e jovens cavalos. Há um ódio de gerações, q. perpassa a razão e a emoção. É fria, muito fria, se é q. dá pra se chamar assim, essa dolorida sucessão. Não gosto de ver poetas pedintes, submissos às velhas ratazanas. Poeta q. é poeta sabe disso: meu verso meu guia, minha senda, meu destino sobre todos os destinos. Me alarma, saber do ódio de gerações e a indiferença dos medíocres (alguns até consagrados), às gerações sucessoras. Vais dizer q. não há sucessão dos corpos, das mentes, das linguagens, e q. o q. se institui é imutável e perene?! Na cosmodinâmica, q. imagino tudo é vão e passageiro, e os acentos desocupam e são ocupados novamente em saudável variação. Nunca tive e não tenho esse problema (irreconhecer outro talento). Pelo contrário, gosto de alardear a energia vital, do estreante, do jovem q. descobre a força do signo e constrói veredas da criação, jamais imaginadas por autores veteranos. Esse o grande milagre da criação. Ela –a criação- nunca esgotar-se em si mesma. Contra toda corrente de destruição e morte, as hastes verdoengas ressuscitando sob os cascos dos velhos cavalos. Parafraseando ou repetindo Caetano, isso é lindo. Importa saber q. a noite é grande e extensa a estrada em meio à floresta dos signos. 

Outra questão: o poema social (participativo). Numa época de morte nathural das ideologias, cada vez mais, poetas insistem em cultivar temas exclusivamente intimistas, alheios à realidade social. Intimismos à parte, ninguém vive em asteróide, fora de órbita terrena, (quer dizer eu apenas posso fazer isso porque abduzido). Tal fato, faz refletir o social, no poema. A mesma água do mesmo córrego sujo, q. vai pra planta, q. vai pro pão, q. vai pro bicho beber, q. vai pra fazer o arroz e o feijão, a mesma água q. bebemos e nos banhamos, traz a realidade pra dentro da gente. Cada vez q. o poeta fala em realidade, um frio percorre a espinha. Realidade é objeto jornalístico. Objeto sociológico. Objeto antropológico, philosóphico até, mas nunca poético. Creio q. é tudo isso ao mesmo tempo e mais ainda: fator determinante da melhor poesia, quando a infância com seus arquétipos prensados na alma, conduz o ver & o sentir nas construções do alto espíritho. Lembro do meu amigo Marcos Macedo, assistindo o filme Gringo Velho e chorando. O Marcos só na sala, embebido daquela história. Meu pai mal no hospital, eu no quarto de hóspedes e o Marcos na sala chorando e assistindo aquele filme. Irrelevante ou não, nunca mais pude esquecer aquela cena. Uma liderança, um ideal, uma vida doada a um povo, opressão e luta, e o choro quieto do Marcos. Choro chorado pra dentro. O Marcos é um homem político e idealista per nathura. Não sei porque lembrei disso agora, e se tem algo a ver com o tempo & poesia… Poesia realmente está no emissor dos signos e também no receptor. Não existe a obra sem o outro. A interação dos elementos q. compõem a relação é q. fazem o bom (ou bem) da arte. Esse é Hermes Lucas Perê, repentista de microidéias e quem quiser q. faça outro, mais culto ou sábio. Protonathuralmente é q. tomo decisões e precipito ditos sobre o fazer dos outros. Um instinto de indeterminação (acaso e acidente) conduz meus passos no transfinito mundo das idéias. Poesia melhor q. a de Batista de Pilar, o poeta errante de Curitiba, é rara, em vida e espontâneidade. Quantas vezes o vi –seminu- embaixo do viaduto, ou na Galeria do TUC, com os papéis sujos às mãos, a declamar versos improperiais. Do sujo, do morto, do letargido, da miséria –dessa flor na lapela- difícil de se ver e sentir, é q. nasce as vezes a melhor poesia. Poesia desinteressada, nos fins formais e mesmo de conteúdo. Inaugurações do eu, nathuralmente em estado de graça. Já vi tudo e nada vi ainda pra meu sustento. A vida ensina vida a vida. Cada qual com seu destino, sua luz tênue de poeta. É duro, mas não tenho mais nada a dizer. De repente, não foi a hora certa. Ensaio uns versos só por prazer & escárnio: Vinte anos esperei o bom judeu/q. me editaria/olhava os aviões no céu interiorano/e nada/revoada de andorinhas ao redor da casa/falsos os sinais/quando, quando, o escolhido virá/a colocar-me na rica estante dos consagrados??!! Depois por mero acidente, não sei, resolvi fazer mais uns só pra engrossar este texto: sou um civil/investido de soldado/mas não quero morrer nesta guerra/morrer nesta luta inglória/por um tirano fedendo a bosta/mil vezes morrer/por um poema na lapela da miséria/estou com Douglas Diegues e não abro/uma duas três belas vaginas/pra meu recusado caralho/amor amor amor/& mis vaginas prum tímido e pobre soldado/rico esteta & poeta desesperançado… Não gostou é?! Ínspio o vício lipsio. E por aí vai como vou. Meus filhos crescem livres/ao redor da casa/para o futuro/as hastem progridem belas/nada perdi e tudo ganhei/na loteria dos signos. Aqui graças aos meus deliberados de última hora, quem manda, seu grande filho da putha, soy dio, author, editor, livreiro e marqueteiro, e ninguém (ningum phuto) bota mirgúncias nos meus ditos transfusiados. Os ruídos vão se chegando, as vespas límias, os besouros metálicos, cerzuras de fios invisíveis, comprimindo, enlaçando, os corpos, as almas nos pântanos do consciente e inconsciente. O baralho espiritophânico dá as cartas do meu destino. O galo canta e o cão ladra, o novo dia. Os cavalos estalam os cascos, torneados em acrílico, na estrada asfáltica da grande e velocíssima noite. Uma lua como uma concha um búzio partido conquista cardumes de peixes no meu mar azul alucinógeno. Fragmento-me entre insetos lemptos. Um sapo gordo vem e me engole aos poucos. É a última noite. É a noite do fim dos tempos. Em peripknestsinder, uma língua q. inventei dia desses, composta quase-só de adjetivos, poesia é nandhertesinpher (solitude), perdhiphásilec’s (pensar), arratzhisins (ação) na linha do espíritho q. procura e nunca encontra o sol dos pequeninos.

 

 

hErMes lUcAs pErê, do transpoético

Autor de Anemoria (poesia) e

Arroz, feijão e philosophia (multiprosa)

a serem publicados por editora do Asteróide

AZPHIZ’S 555, da Órbita Savagé no ano 2010.

 

MUTABILE poema de lilian reinhardt

(líricas de um evangelho insano)

Travessia, sumidouro,
fratura d’água, dentirrostro
atravessa o escorso do vento,
perde-se  além do vidro da ilha,
escorre pela vinha dos olhos,
arriba nos pássaros da estiagem,
não diz a palavra caída,
nem rejunta a perdida sombra,
mas, se encolhe no verso vazado,
recicla de azul o céu molhado de aço,
dorme pelos caminhos murchos,
e sob os ossos  escreve na transmigração impressentida…
a rotunda forma de bebidas quimeras,
impermanência coagulada,
líquido tempo, vazante…
Afunda na garganta, das rosas!

ARREVESAMENTO poema de carlos vogt

 

 

A verticalidade

vertiginosa

da poesia mergulha

o cotidiano da novidade

no esquecimento

da atualidade

horizontal da prosa

PAPEL HIGIÊNICO LITERÁRIO – por jaime leitão

Os puristas e conservadores entortarão o nariz para essa idéia no mínimo original e exótica. Uma empresa lançou há pouco tempo na Espanha um produto que está fazendo o maior sucesso: o papel higiênico literário. Isso mesmo: papéis higiênicos, com papel e tinta especiais, trazendo obras de escritores clássicos: Cervantes, Shakespeare, Unamuno e outros grandes nomes da literatura espanhola e mundial.As vendas têm sido muito boas. O dono da empresa, Raúl Camarero, justifica a sua ousadia com o seguinte argumento: “Hemingway dizia que clássico é o livro que todo mundo respeita e ninguém lê. O que estamos fazendo é levar o livro aos banheiros, aproximando a literatura dos homens”. Completa: “E surge aí um conflito interessante: limpar o traseiro com uma bela obra e o dilema moral que isso representa”. Da Bíblia foram colocados trechos do “Apocalipse”, dos “Provérbios” e do “Cântico dos Cânticos”, três livros extraordinários. Do budismo, os escolhidos foram o “Sutra do Lótus” e “O Livro Tibetano dos Mortos”. Um dos sócios quis colocar trechos do “Corão”, livro sagrado dos muçulmanos, mas os outros recuaram com medo de represália.

A idéia surgiu quando Camarero, que é diretor e autor teatral, escreveu uma peça sobre uma empresa que havia criado os tais papéis higiênicos literários. A peça ganhou um prêmio no Festival de Sevilha, fazendo com que Camarero propusesse a alguns amigos sociedade no empreendimento. O nome da peça é “Empreendedores”, da empresa também. A realidade extraiu da ficção o produto, o que torna ainda mais interessante o projeto.

 

O autor mais solicitado pelos “leitores de banheiro” tem sido o genial poeta espanhol Federico García Lorca. Eu sou defensor ardoroso do livro e do jornal, mas não posso ser contra essa idéia que, de uma maneira ou de outra, estimula a leitura e pode fazer com que aqueles que não lêem livro passem a se interessar por eles depois dessa leitura feita na intimidade de um banheiro.Ler é fundamental. Temos que buscar os mais variados suportes para que a leitura seja incentivada. Se uma empresa aqui no Brasil me procurasse e me propusesse publicar os meus microcontos em versão papel higiênico, eu toparia. Antes da higiene corporal, por que não fazer uma higiene mental, lendo trechos de uma obra? É claro que um romance não é uma boa idéia, mas frases, haicais, textos de humor e microcontos se dariam muito bem nesses rolos literários.

O preço não é para qualquer bolso. Um rolo de papel higiênico-literário na Espanha custa 3,70 euros, cerca de R$9,80. O comprador-leitor pode escolher a cor e a obra. As letras são grandes, com grande espaço entre elas, para facilitar a leitura. Os donos da empresa vêm sendo convidados para entrevistas em diversos canais de televisão da Espanha, prova que estão agradando.
                         sem crédito. ilustração do site.
                                                                                        

CONVITE poema de osvaldo wronski

A cada encontro uma nobre ocasião

Sem precisar você é precisa

Um beijo na medida proibida

Vindo arrancar o canto dos meus cisos

Com suas mãos incisivas

Feliz me revelo

ao desvendar seus segredos

Campo sem batalhas

para uma nova conquista

Sentir-te saudades a perder de vista

E  lembrar-te logo na despedida

Quem me dera poder te ver

antes que você se vista

no instante da inesperada visita

o poema se atreve a dizer

o que esta escrito

na página branca do seu corpo

lendo esta indecifrável sensação

a cada encontro estaremos a sós

presentes sem omissão

 

W3 – de tonicato miranda

(anos plúmbeos e “aliás”)

W-3

em qual mês,

minha primeira vez?

Lembro de você, serpente

deitada desde o poente

até os limites da Torre de TV

W-3

todo mês

fez menino fez / fez menina fez

minha rua / minha tez /

W-3 / W-tez / toda sua / toda minha / um de cada vez

passo lento / passa vento / passa passa – W-3

W-3

era bom lhe ver

passear você e a cidade não ver

passar nas suas vitrines a ver

primeiras e últimas novidades

tentação feminina, limiar do querer

W-3

BiBaBo, Mocambo, Casebre 13,

lojas guardadas na sua rica caixa

uma delas Casa da Borracha, onde está

nos guardados não mais se acha?

queimou –se, virou fogueira, virou acha

W-3

centro comprido, reta pura

loja depois de loja, confundindo a procura

lugar de encontros e cursos de costura

escolas de datilografia; casas de fotografia

3×4, 5×8; dentistas com dentaduras na polia

W-3

cruzava-a todos os dias sem lhe partir

No rumo do CASEB e do Elefante Branco

Elefante que não solapava seus barrancos

Elefante Branco, Branco, Branco, Branco

distante um pouco dos seus muitos bancos

W-3

não tenho saudade de você avenida

nem das suas praças de cimento

pois ainda está aí, com todas suas feridas

no seu canteiro já teve retornos e carros

muito mais árvores, algumas muito floridas

W-3

querem agora lhe dar bonde moderno

pensam lhe remoçar como nova noiva

para a visita dos homens de terno

queira não, chama o povo a um beijo terno

diga que lhe apraz o céu mais do que o inferno

W-3

em qual mês,

minha primeira vez?

Lembro de você, serpente

deitada desde o poente

até os limites da Torre de TV

W-3

todo mês

fez menino fez / fez menina fez

minha rua / minha tez /

W-3 / W-tez / toda sua / toda minha / um de cada vez

passo lento / passa vento / passa passa – W-3

 

Brasília, 20/07/2008

COMO ALFABETIZAR SEM REPROVAR – por vicente martins

 

Uma criança, em sala de alfabetização, não deve nem pode ser reprovada.  Direi de outra maneira: a alfabetização não tem caráter avaliativo, com fim de promover o aluno de um nível de ensino para outro.

 O presente artigo prova, através da legislação educacional, que a sala de alfabetização não é reconhecida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)  nem tem, por isso mesmo, caráter reprovativo. Nenhum aluno, matriculado, em sala de alfabetização, em escolas públicas ou privadas, municipais, estaduais ou federais, pode ficar retido em sala de alfabetização,ou pode ser rotulado de  “reprovado”, mesmo que a escola considere que criança não está alfabetizada em leitura.

A Lei 9.394, a LDB, promulgada em 20 de dezembro de 1996, não reconheceu a sala de alfabetização como nível ou subnível de ensino. Pelo artigo 21, da referida Lei, a  educação escolar compõe-se de: (1)  educação básica, formada pela educação infantil ensino fundamental e ensino médio e (2)  educação superior.

O que se pode observar pelo artigo 21 é que a Lei não faz qualquer referência à alfabetização.  No artigo 29, a LDB, sim, refere-se à Educação Infantil entendida como primeira etapa da educação básica cuja finalidade precípua é “o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”.

Durante muito tempo instituições privadas de ensino entenderam que a classe de alfabetização poderia ser considerada um  subnível da educação infantil. Ou, talvez, uma fase intermediária e imprescindível entre a educação infantil, especialmente a pré-escola e o ingresso na primeira série do ensino fundamental. Uma concepção com boas intenções, mas com uma origem equivocada ou falaciosa: o ensino fundamental, no seu primeiro ciclo, é exatamente para dar início ao processo de alfabetização. Veja que utilizei a palavra processo para dizer que durante toda a fase da educação básica o aluno, ao certo, está sendo “alfabetizado” em leitura, escrita, ortografia, informática, e assim adiante.

A educação infantil não acolhe a sala de alfabetização. No artigo 30, a lei diz que a  educação infantil será oferecida em: (1) creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade e (2)  II – pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade. Na verdade, hoje, com a Lei nº. 11.274, de 2006, a rigor, a educação infantil só vai até os cinco anos.

          E por que existe sala de alfabetização no Ceará? Ora, por pura tradição e predomínio de uma pedagogia de época que via na alfabetização uma fase preparatória para o ingresso da criança no Ensino Fundamental, etapa que os professores já esperavam, também, o domínio rudimentar em leitura, escrita e cálculo por parte dos alunos.

          Durante muito tempo, a pedagogia de alfabetização do bê-á-bá também favoreceu o surgimento de sala de alfabetização não só no Ceará como em muitos estados da Federação, especialmente os da Região Nordeste. Por alfabetização, se entendia e se entende, em muitas escolas, a prática de ensino da primeiras letras. É o que os teóricos de leitura chamam de decodificação, onde o principal papel da escola é ensinar a criança a reconhecer as letras, nomeá-las e de forma não muito sistemática a relação letra-fonema, para o início da leitura mecânica. Aqui, vale dizer  que não se cogita ou se cogitava o ensino da leitura com sentido, isto é, ler o texto para atribuir-lhes sentidos.

          Em  outros casos, o pensamento ou metodologia de muitos alfabetizadores, favorecidos,  quase sempre, pelas cartilhas de alfabetização, do abecê, concebia (m)  a alfabetização como a iniciação no uso do sistema ortográfico. Ora, esta concepção é descartada, hoje, é ampliada e  vista como processo de aquisição dos códigos alfabético e numérico ou, em outras palavras, como o uso social da língua verbal e não-verbal, o chamado letramento  que deve ser trabalhado, principalmente, na primeira série do ensino fundamental e enfatizada até a quarta-série do mesmo nível de ensino. É aqui que se ensina, realmente, a língua e o sentido que permeia as habilidades lingüísticas como leitura, escrita e ortografia e os números. Na etapa anterior, a da educação infantil, o que se pode fazer é uma educação lingüística, enfatizando, em sala, a linguagem e suas funções, mas sem qualquer conotação ou apelo metalingüístico ( por exemplo, estudo das vogais, das consoantes, das semivogais, das sílabas, dos ditongos etc)

          Agora, tanto na educação infantil como ainda nas remanescentes salas de alfabetização (no Rio Grande Sul, por exemplo, não existem mais salas de alfabetização) não têm caráter de promoção, isto é, não é pré-requisito para que a criança entre no ensino fundamental. O pai ou responsável pode, inclusive, queimar esta etapa e matricular a criança diretamente no ensino fundamental. Claro, o maior prejuízo, nesse caso, é a perda da socialização uma vez que se aprende bem a língua materna em interação, na relação interpessoal e em vida social. Na educação infantil, pode a escola, desde cedo firmar as bases do aprender a ser, a conviver, a conhecer e a fazer, pilares da educação universal, segundo a UNESCO. Mas isso é uma alfabetização para a vida, para um olhar novo sobre o mundo, como quis a pedagogia paulofreiriana.

         O artigo  31, da LDB, diz, textualmente e reafirma o que dissemos anteriormente, que na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental. O quer dizer que os pais ou responsáveis podem, repito, não matricular seus filhos nesta etapa e, aos seis anos, podem matricular a criança diretamente no ano inicial do ensino fundamental, mesmo sem “ ser alfabetizado”. Por quê? Porque o ensino fundamental, especialmente no seu primeiro ciclo, é exatamente o período para a alfabetização em lectoescrita.

Mais recentemente o artigo 32, da  LDB, foi modificado pela Lei nº. 11.274, de 2006. A lei determinou que o ensino fundamental obrigatório passou a ficar com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, e tendo, por objetivo,  a formação básica do cidadão.

        (1) – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;

        (2) – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;

        (3)  – o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores.

          O item 3 do artigo 32, da  LDB, como podemos observar, se constitui, assim, um momento de alfabetização no ensino fundamental onde a criança vai desenvolver a competência de aprender através do domínio da leitura, da escrita e do cálculo.

          Diria que nesta fase de ingresso da criança, aos seis anos, no ensino fundamental deve ser prioritariamente dedicado ao “o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social”, conforme acentua o inciso IV do artigo 32, da LDB

          Vale salientar que o artigo 6º da LDB, modificado pela Lei nº. 11.274, de 2006 estabelece, de forma compulsória, o dever dos pais ou responsáveis de efetuar a matrícula dos menores, a partir dos seis anos de idade, no ensino fundamental.

          Uma outra novidade que deve ser considerada por gestores educacionais, pais ou responsáveis e educadores é que o artigo 32 da LDB sofreu, pela Lei 11.274, a seguinte modificação em sua redação: o ensino fundamental obrigatório passou duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade e terá por objetivo a formação básica do cidadão.

         Uma palavra final: não permita que se filho ou filha seja retido (a) em sala de alfabetização. A existência de sala de alfabetização revela hoje o quanto a escola está na contramão da LDB e dos demais estados que têm experiência exitosa em alfabetização, como os da Região e Sudeste do País.  Em caso de resistência da escola, procure esclarecimento junto ao Conselho Estadual de Educação ou evoque à LDB através da promotoria pública.

 

 

Vicente Martins é professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), de Sobral, Estado do Ceará. –

                 sem crédito. ilustração do site.

                        

O AGÁ e o JOTA por alceu sperança

 

 

Ouve-se dizer, freqüentemente, que a educação é a solução para todos os males. É coisa falsa. No Brasil, os adeptos do senador e ex-ministro Christovam Buarque repetem muito esse conceito, sem entender direito o que o mestre quer dizer. Se você quantificar os prejuízos causados por todos os crimes cometidos por miseráveis de baixa escolaridade e formar uma pilha de dinheiro e depois amontoar os prejuízos causados à sociedade pelos colarinhos brancos, verá que a pilha dos prejuízos cometidos por gente com ensino superior é muito maior.

O moreninho é criminoso. Já o seu dotô de olhos azuis apenas deu um mau passo na vida. O miserável tem que ser executado na periferia: vai cortar lenha pro Capeta, como dizia Novaes. Mas seu dotô tem que ter mais uma chance para ir à igreja e fingir que está orando ao Onipotente. Pobre, quando está correndo, foge da polícia; o rico foge da gordura. A educação é fundamental, mas não resolve nada por si mesma. Pode-se perfeitamente formar um grande canalha na melhor universidade.

A educação necessária é aquela que arranca o cidadão do controle ideológico. Só a educação das massas hoje oprimidas pela brutal exploração poderá fazê-las compreender que são escravizadas pela hegemonia cultural do neoliberalismo e seu mercado de horrores: guerras, preços altos de comida e remédios, doenças espalhadas e curas sonegadas, fé no irrelevante e descrença em si mesmo.

A ideologia domina tão completamente os cidadãos que eles não percebem como são tratados. Usuários, pagam duas, três vezes, por um mesmo serviço. Quando pagam impostos, já pagam os serviços públicos em geral, mas ainda têm que pagar de novo por asfalto, transporte, pedágio, água, coleta de lixo, energia, escola dos filhos, exames médicos etc. Quem compra é “consumidor”, e ao comprar está pagando ainda mais impostos. Paga os impostos de todos os que produziram, transportaram e venderam o produto. Quem diz que gera emprego não gera nada: quem gera é o cara que pagou todos os impostos dos produtores e vendedores. Ou seja, você.

Os indivíduos, assim, são reconhecidos apenas por um valor utilitário conferido pelos donos do mundo: “Você é quanto lucro pode me dar”. Mas aquilo que tem valor de uso não é gente, é objeto. Se os indivíduos não são pessoas, então são coisas, e quem não consome não vale nada, segundo o escritor Luiz Fernando Ferreira:

− Um cachorro manco nos comove mais. A brutalidade contra animais gera reações de revolta bem mais constantes que a crueldade rotineira contra homens e mulheres. E essa crueldade crescente e gratuita, sem outro fim que ela mesma, é de um tipo novo: é uma adaptação. Os crimes contra a vida não se esgotam na morte. É indispensável fazer sofrer, torturar, queimar, esquartejar. Tais atos de negação extrema (…) atingiram um grau de banalização desconcertante.

Quando o pobre-diabo é brutalizado na periferia, executado por traficantes aos quais não pagou pela droga (pois uma hora o corpo arria e nem roubar mais o sujeito consegue), há um coro feliz: “É uma limpeza! Teve o que mereceu”. E quanto mais limpam, mais sujeira aparece.

Não basta diploma para ser honesto com agá maiúsculo. Para haver a verdadeira honestidade é preciso também haver justiça com jota maiúsculo.    

 

….

O autor é escritor.

ilustração do site. tela de mazé mendes.

 

Rumorejando (Por razões óbvias, os noticiários não podem parar de mostrar tantas falcatruas. A ética e a moral estaria, de vez, se esfumando?) – por josé zokner (juca)

PEQUENAS CONSTATAÇÕES, NA FALTA DE MAIORES.

 

Constatação I (Homenagem a todos os cartunistas).

Não se pode confundir gênios com gêmeos, exceto no caso mais conhecido por Rumorejando dos gêmeos Caruso, os cartunistas.

 

Constatação II (Ah, essa falsa cultura).

O Incrível Hulk, cujo nome verdadeiro é Dr. Robert Bruce Banner, é um personagem conhecido das histórias em quadrinhos, criado por Jack Kirby e Stan Lee, em 1962, que se inspiraram em Frederico Garcia Lorca que escreveu Romance sonâmbulo que começa “Verde que te quero verde”.

 

Constatação III

E como dizia aquela bisavó que ainda lembrava-se do tempo, contado por sua avó que falava no Marechal Deodoro da Fonseca: “Efetivamente, está havendo uma deterioração dos costumes. Depois dos vestidos e blusas ‘tomara que caia’, hoje em dia se vê as mocinhas usando calça comprida que dá pra chamar com o mesmo nome e que, acho que se inspiraram no ator Mario Moreno, mais conhecido por Cantinflas.

 

Constatação IV (Quadrinha para ser recitada para senhores da assim chamada Terceira Idade, como exemplo da Teoria da Relatividade para principiantes).

Uma prostatite

Não é melhor,

Nem pior

Do que uma uretrite.

(Perdão, jovens leitores e também os nem tanto).

 

Constatação V

Tenho que ser franco:

Sendo velho freguês,

É um tormento

Pagar, ao banco

Quinze por cento

De juros, ao mês.

 

Constatação VI (Análise combinatória de: Arranjos, Permutações e Combinações).

Tem obcecado que faz do amor um teatro;

Tem obcecado que faz do teatro um amor;

Tem amor que é obcecado;

Tem amor que é teatro.

 

Constatação VII (Dúvida crucial via haicai).

É muito dolorido

Ter um amor

Desabrido?

 

Constatação VIII

Rico tem um atraso temporário; pobre, perde o metrô. (O bonde da história nem falar). 

 

Constatação IX

Rico come caviar; pobre, bóia fria.

 

Constatação X

Fiz uma seresta

Pra ela.

A mãe enfarruscada,

Enfezada

Apareceu na janela.

Acabou a festa.

Coitada.

Dela*

*Não ficou muito claro se “dela” se refere à mãe ou à filha. Afinal, a mãe também deixou de escutar minha maviosa voz.

 

Constatação XI

E já que falamos no assunto, não se pode confundir voz com vez, muito embora no mundo, de maneira geral, e em nosso país, em particular, os pobres não têm vez nem voz ao contrário dos ricos que possuem as duas condições retro mencionadas. E, segundo alguns, inclusive, indevidamente…

 

Constatação XII (Ah, esse nosso vernáculo).

Quando ela pisa no meu calo, eu me abalo e não me calo. Se não, eu me ralo e tudo acaba no ralo. Então, eu falo. E tudo culmina com prejuízo do que falo e, claro, do meu pobre e inocente fal, digo ato falho…

 

Constatação XIII

Quanto ao tempo passado,

A gente é originado

De algum antepassado,

Provavelmente casado

E de papel passado.

 

Constatação XIV

O monólogo

Com si mesmo

Descambou

Prum diálogo,

Sem prólogo,

Pra uma discussão

Acirrada

Onde até rolou

Palavrão

A esmo.

Obviamente,

Apenas, não ocorreu,

Não aconteceu,

Pescoção

Ou bofetada

Tão-somente.

Coitada!

 

Constatação XV (Dúvida crucial de um pobre genro).

Parece um iracundo vulcão,

Da terrível sogra a explosão,

Quando entra em erupção?

Ou assemelhava-se a um tufão?

 

Constatação XVI

Deu na mídia: “BRASÍLIA – O presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse nesses dias que o vazamento de informações de processos judiciais está generalizado e que são necessárias medidas que inibam essa prática. ‘Há deputados e senadores que vazam mais que chuveiro, tem ministros de tribunais superiores que falam mais com a imprensa do que nos autos, tem Polícia Federal que age fora da lei, tem Ministério Público que às vezes também abusa de sua autoridade’, criticou Chinaglia”. Data vênia, como diriam nossos juristas, mas Rumorejando acha que S. Excia. não lembrou dos vazamentos que permite que escritórios de advocacia liguem pra casa das pessoas oferecendo serviços (20 a 30% de honorários), a fim de recuperar as diferenças dos Planos Bresser, Collor, etc. Indubitavelmente, foram funcionários de bancos que vazaram a lista de pessoas que podem auferir esses montantes. Aliás, o governo teria que obrigar os bancos a devolverem essas diferenças, independente de ter que se entrar em juízo. Passado o prazo, o dinheiro fica e ficou com os bancos. Afinal, isso não é grave, os bancos estão só praticamente dobrando o seu patrimônio a cada ano. E viva “nóis”… E os banqueiros, é claro…

E-mail: josezokner@rimasprimas.com.br

 

sem crédito. ilustração do site. esperto?

OFERTÓRIO-DOR poema de jb vidal

a dor que ofereço não foi provocada

nem   apacentada por mim e a solidão

veio com a chuva, c’os raios

com os aneis de saturno, na cauda do meteoro

fez poeira de lágrimas

e instalou-se nesta podridão

 

 

soube então da dor de parir

e parido fui,

da dor da fome e fome senti

da dor do sangue e o sangue correu

em minha’lma gnóstica

a dor assumiu e sobreviveu

 

quero então oferecer

esta dor maior  que o corpo

mais que desprezo e humilhação

mais que guerras e exploração

mais que almas aleijadas

mais que humanos em farrapas degradação

 

 

ofereço a dor do amor que amei

da partida sem adeus

da saudade sem sentir

da espera inquietante

do futuro irrelevante

da ânsia divina de morrer

 

do livro OFERTÓRIO a ser lançado em setembro de 2mil e oito. 

MORS-AMOR poema de antero de quental

Esse negro corcel, cujas passadas
Escuto em sonhos, quando a sombra desce,
E, passando a galope, me aparece
Da noite nas fantásticas estradas,Donde vem ele? Que regiões sagradas
E terríveis cruzou, que assim parece
Tenebroso e sublime, e lhe estremece
Não sei que horror nas crinas agitadas?

Um cavaleiro de expressão potente,
Formidável, mas plácido, no porte,
Vestido de armadura reluzente,

Cavalga a fera estranha sem temor:
E o corcel negro diz: “Eu sou a morte!
“Responde o cavaleiro: “Eu sou o Amor!”

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o poeta.

SÚPLICA poema de florbela espanca

Olha pra mim, amor, olha pra mim;
Meus olhos andam doidos por te olhar!
Cega-me com o brilho de teus olhos
Que cega ando eu há muito por te amar.

O meu colo é arrninho imaculado
Duma brancura casta que entontece;
Tua linda cabeça loira e bela
Deita em meu colo, deita e adormece!

Tenho um manto real de negras trevas
Feito de fios brilhantes d’astros belos
Pisa o manto real de negras trevas
Faz alcatifa, oh faz, de meus cabelos!

Os meus braços são brancos como o linho
Quando os cerro de leve, docemente…
Oh! Deixa-me prender-te e enlear-te
Nessa cadeia assim eternamente! …

Vem para mim,amor…Ai não desprezes
A minha adoração de escrava louca!
Só te peço que deixes exalar
Meu último suspiro na tua boca!…

 

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a poeta.

———————————————–

Biografia

Mesmo antes de seu nascimento, a vida de Florbela Espanca já estava marcada pelo inesperado, pelo dramático, pelo incomum.

Seu pai, João Maria Espanca era casado com Maria Toscano. Como a mesma não pôde dar filhos ao marido, João Maria se valeu de uma antiga regra medieval, que diz que quando de um casamento não houver filhos, o marido tem o direito de ter os mesmos com outra mulher de sua escolha. Assim, no dia 8 de dezembro de 1894 nasce Flor Bela Lobo, filha de Antónia da Conceição Lobo. João Maria ainda teve mais um filho com Antónia, Apeles. Mais tarde, Antónia abandona João Maria e os filhos passam a conviver com o pai e sua esposa, que os adotam.

Florbela entra para o curso primário em 1899, passando a assinar Flor d’Alma da Conceição Espanca. O pai de Florbela foi em 1900 um dos introdutores do cinematógrafo em Portugal. A mesma paixão pela fotografia o levará a abrir um estúdio em Évora, despertando na filha a mesma paixão e tomando-a como modelo favorita, razão pela qual a iconografia de Florbela, principalmente feita pelo pai, é bastante extensa.

Em 1903, aos sete anos, faz seu primeiro poema, A Vida e a Morte. Desde o início é muito clara sua precocidade e preferência a temas mais escusos e melancólicos.

Em 1908 Antônia Conceição, mãe de Florbela, falece. Florbela então ingressa no Liceu de Évora, onde permanece até 1912, fazendo com que a família se desloque para essa cidade. Foi uma das primeiras mulheres a ingressar no curso secundário, fato que não era visto com bons olhos pela sociedade e pelos professores do Liceu. No ano seguinte casa-se no dia de seus 19 anos com Alberto Moutinho, colega de estudos.

O casal mora em Redondo até 1915, quando regressa à Évora devido a dificuldades financeiras. Eles passam a morar na casa de João Maria Espanca. Sob o olhar complacente de Florbela ele convive abertamente com uma empregada, divorciando-se da esposa em 1921 para casar-se com Henriqueta de Almeida, a então empregada.

Voltando a Redondo em 1916, Florbela reúne uma seleção de sua produção poética de 1915 e inaugura o projeto Trocando Olhares, coletânea de 88 poemas e três contos. O caderno que deu origem ao projeto encontra-se na Biblioteca Nacional de Lisboa, contendo uma profusão de poemas, rabiscos e anotações que seriam mais tarde ponto de partida para duas antologias, onde os poemas já devidamente esclarecidos e emendados comporão o Livro de Mágoas e o Livro de Soror Saudade.

Regressando a Évora em 1917 a poetisa completa o 11º ano do Curso Complementar de Letras, e logo após ingressa na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Após um aborto involuntário, se muda para Quelfes, onde apresenta os primeiros sinais sérios de neurose. Seu casamento se desfaz pouco depois.

Em junho de 1919 sai o Livro de Mágoas, que apesar da poetisa não ser tão famosa faz bastante sucesso, esgotando-se rapidamente. No mesmo ano passa a viver com Antônio Guimarães, casando-se com ele em 1921. Logo depois Florbela passa a trabalhar em um novo projeto que a princípio se chamaria Livro do Nosso Amor ou Claustro de Quimeras. Por fim, torna-se o Livro de Soror Saudade, publicado em janeiro de 1923.

Após mais um aborto separa-se pela segunda vez, o que faz com que sua família deixe de falar com ela. Essa situação a abalou muito. O ex-marido abriu mais tarde em Lisboa uma agência, “Recortes”, que enviava para os respectivos autores qualquer nota ou artigo sobre ele. O espólio pessoal de Antônio Guimarães reúne o mais abundante material que foi publicado sobre Florbela, desde 1945 até 1981, ano do falecimento do ex-marido. Ao todo são 133 recortes.

Em 1925 Florbela casa-se com Mário Lage no civil e no religioso e passa a morar com ele, inicialmente em Esmoriz e depois na casa dos pais de Lage em Matosinhos, no Porto.

Passa a colaborar no D. Nuno em Vila Viçosa, no ano de 1927, com os poemas que comporão o Charneca em Flor. Em carta ao diretor do D. Nuno fala da conclusão de Charneca em Flor, e fala também da preparação de um livro de contos, provavelmente O Dominó Preto.

No mesmo ano Apeles, irmão de Florbela, falece em um trágico acidente, fato esse que abalou demais a poetisa. Ela aferra-se à produção de As Máscaras do Destino, dedicando ao irmão. Mas então Florbela nunca mais será a mesma, sua doença se agrava bastante após o ocorrido.

Começa a escrever seu Diário de Último Ano em 1930. Passa a colaborar nas revistas Portugal Feminino e Civilização, trava também conhecimento com Guido Batelli, que se oferece para publicar Charneca em Flor. Florbela então revê em Matosinhos as provas do livro, depois de tentar o suicídio, período em que a neurose se agrava e é diagnosticado um edema pulmonar.

Em dois de dezembro de 1930, Florbela encerra seu Diário do Último Ano com a seguinte frase: “… e não haver gestos novos nem palavras novas.” Às duas horas do dia 8 de dezembro – no dia do seu aniversário Florbela D’Alma da Conceição Espanca suicida-se em Matosinhos, ingerindo dois frascos de Veronal. Algumas décadas depois seus restos mortais são transportados para Vila Viçosa, “… a terra alentejana a que entranhadamente quero”.

 

 

 

FARO FINO e AMNÉSIA – mini contos de raimundo rolim

 

Faro-fino

        

Acordou com uma leve impressão de que aquele dia seria diferente! Intuição pura! Farejou o ar assim que abriu os olhos. Despejou imenso, ruidoso e tamanho bocejo que fez desabar a casa em cima de tudo; e da própria boca que bocejava. Uau!!!

 

Amnésia

 

Tudo pronto! Só que o leão estava velho, quase senil e não haviam ainda se dado conta desse fato. A fidelidade da rotina a que estavam sujeitos naquele mundo de espetáculo circense não permitia especulações, nem divagações! E o “bichanão” saiu da jaula e deu umas quantas voltas pelo picadeiro. O admirável público em pé, preparava-se para algo que estava no ar. Alguns suavam frio, outros agarravam os filhos para protegê-los do que parecia não ir bem. Ao menos, ao que se supunha, o negócio havia escapado ao controle do homem que em vão gritava palavras em código e chicoteava o chão com mais e mais força, enquanto ele, o leão, se insurgia contra as ordens, fera magoada. Num salto preciso – treinado em muitos e intermináveis anos extra-selva, – conseguiu finalmente alcançar aquele que o fizera pular por todas as rodas de fogo, e mostrar as garras inúteis por centenas de cidades ao longo da carreira. Desta vez, saiu-se a exibir o amigo, seu exclusivo amo-domador, que imobilizado, suspenso e seguro pelo meio da cintura, ficara preso na enorme e poderosa mandíbula, trespassado por caninos igualmente majestosos. Saíram assim, fera e domador, desse jeito, a caminhar pelo meio da platéia. O chicote despencou-lhe bestamente da mão que sem destino, despenhou-se inerte e pálida, enganchando-se ao carrinho de pipoca do lado de fora da lona, sob olhares de quantos ainda, ingressos à mão, não acreditavam naquele “novo número” que o circo, talvez por um lapso, esquecera de anunciar: “O SAFARI DO REI DOS ANIMAIS LEVANDO A REBOQUE O SEU FIEL DOMADOR”.

 

sem crédito. ilustração do site.

NOSSO ÚLTIMO CONTATO – por ana maria maruggi

Homem de aparência rude, olhos cansados. A pele maltratada pelo sol intenso da roça já carregava  rugas profundas aos 42 anos.

 

Honorato, de pouca fala e poucos gestos. Olhar manso, e desinteressado.

Pai de cinco filhos. Homem cuidadoso, de poucas carícias, e de muita firmeza. Trabalhador exemplar.

 

Esposou Dona Julieta quando ela tinha apenas dezesseis anos. Foi um pedido do pai da moça, que ele aceitou com prazer, pois era a filha mais bonita do Seu Lucindo. Tornou-se um marido zeloso, de muita atenção e respeito.

 

Nada poderia ser dito em desabono ao Senhor Honorato Oliveira. Proprietário de pequena porção de terra nos cafundós de Guaxupé, que pagou com sacrifício e muito suor.  Neste espaço montou roça de milho e feijão, construiu sua casinha e constituiu família. 

 

Viveu  sempre discretamente sem muitos amparos, e sem nenhum luxo. Suas roupas velhas e puídas pareciam ser as mesmas há anos.

 

Conheci esse sitiante, por acaso:

 

Era um novembro calorento. Eu estava em viagem  pelo interior de Minas Gerais, quando meu carro sofreu uma pane. Lugarzinho inóspito, e poeirento. Estava faminta, cansada, e sem nenhuma perspectiva de socorro naquele fim de mundo. Foi quando apareceu esse homem simples, montando um velho e caquético cavalo marrom, de raça desconhecida.   Ele estancou diante de mim, me olhou como se eu fosse um ser de outro planeta, fez uma reverência  com a cabeça enquanto tirava o chapéu em forma de respeito, e balbuciou um cumprimento quase inaudível.

Tomando conhecimento do meu problema,  propôs-se prontamente a buscar ajuda.  Disse, e saiu.

 

Não acreditei que alguma ajuda viria por intermédio dele, mas só tinha isso.

 

Esperar era a única saída.

 

Já estava começando a escurecer, e os insetos tomavam conta do silêncio, quando pude ouvir ao longe o ruído de um motor.

 

Fiquei eufórica!

 

Era O Nando, o mecânico da cidade. E junto com ele, o Seu Honorato em sua montaria me trazendo uma garrafa de água e uns sequilhos.

 

Meu veículo foi guinchado para a oficina, e dentro dele, eu.

E o incansável Honorato ao lado do guincho.

 

O carro ficou com o Nando para consertar. E eu ganhei uma simpática hospedagem na casinha do Seu Honorato e sua família.

 

Embora cansada, fiquei até muito tarde tagarelando com eles. Contei como eu vivia e o que eu fazia para ganhar a vida.   Lembrei algumas piadas e rimos muito. Os meninos tinham muitas histórias engraçadas. Comemos uma  saborosa galinhada, cozida com mandioca e cravos da índia, preparada por Dona Julieta que, muito prestativa, fez questão de cozinhar um arroz fresco colorido com açafrão, feijão com miúdos de frango, e salada de alface. Orgulhavam-se em contar que tudo que comíamos ali era fruto do trabalho deles.

 

Quando o Nando veio trazer meu carro, senti uma pontinha de tristeza em sair de lá. Nos despedimos, trocamos endereços e deixei meu telefone para contato.

 

Parti imaginando que nunca mais nos veríamos, e isso me incomodava.  Mas me sentia realizada por ter conhecido pessoas tão verdadeiras.

Fiquei três dias com a família e pude aprender muito sobre como viver bem com o que se tem.

 

No Natal, enviei-lhes um cartão  e uma carta de sincero agradecimento.

 

Não esperava que me escrevessem, pois nem gostavam muito de falar.

 

Depois de alguns cartões e cartas contando a minha volta e a venda do meu carro, dona Julieta me escreveu umas linhazinhas tortas, mas com muito sentimento e pureza. Ela contou que o Fernando, filho mais velho, ia se casar em breve, e que Seu Honorato mandava lembrança. E revelou que ele não sabia ler e escrever.

 

Fiquei feliz por ter recebido notícias.

 

Voltei lá alguns meses depois para o casamento do filho, e levei muitos presentes para todos.

 

Seu Honorato vestiu seu velho e bonito paletó de linho azul-marinho, que há muito guardara como símbolo de sua juventude vaidosa. E dona Julieta usou o vestido novo que eu lhe presenteei.

 

Deixei a casa deles no domingo, e de novo com a triste impressão de que não mais os veria.

 

Talvez eu estivesse enganada. Talvez eu os visitasse no Natal seguinte.

 

Mandei carta de agradecimento, e não sei se receberam.

 

Mandei mais um cartão no Natal do ano seguinte, mas não recebi nenhuma linha.

 

Sei que eles estão lá naquele sitiozinho pobre,  cheio de vida e carinho.

Eles sabem que estou aqui em São Paulo em labuta constante, e que penso neles.

 

A distância nos calou, truncou nossas falas, e nos separou pelo resto de nossas vidas.

 

ilustração do site. ovelhas. de raphael.

CAOS poema de joão batista do lago

                                                                      dedicado ao poeta  JB Vidal

 

entre a tensão de mudanças e de origens

cobra-se a mudança da origem.

como mudar o caos da virgem?

nela não há céu, tampouco inferno;

não há terra, tampouco mar!

Ela é simplesmente caos:

abismo nebuloso que me faz vagar

como força misteriosa

moldada entre vazios diásporos.

e assim, filho do caos da virgem

vou-me originando em cada verbo

sem pressentir que em cada verso

pretendo transgredir a virgem

num poema feito de versos noviços

pensando rasgar o abismo

da virgem em palavra que me pariu poeta

poeta sem terra, nem céu!

poeta sem inferno, nem mar!

 

[…]

 

poeta do caos!

 

APÁTRIA poema de zuleika dos reis

                   Onde nasceste?

                   Em Apátria.

                   Ah, sempre ouvi falar deste País, mas tu és o primeiro apátria

                   que conheço                  

                   Estamos todos espalhados pelo mundo.

                   Então, teu país não existe.

                   Existe, sim.

                   Onde?

                   Em Memória.

                   Memória? É um continente?

                   Não, não é um continente.

                   Neste caso, o que é?

                   Digamos… um arquipélago.

                   Apátria é uma ilha?

                   Sim, uma ilha.

                   Lembras do nome das outras ilhas?

                   Não me lembro… faz tempo… faz tanto tempo…

                   Desde quando estás aqui?

                   Desde que vim de minha Pátria.

                   Não deixaste nada nem ninguém em Apátria?

                   Eu sou Apátria.

DESCONEXOS CAUSAIS por walmor marcellino

O que tem de ver as razias da polícia do Rio nas favelas do Rio com a denunciada força sindical na corrupção do BNDES, com o hábeas-corpus de Daniel Dantas e Nagib Nahas, com a distribuição de novos cargos no Senado Federal? Em comum o ônus da República e as atitudes políticas na formação jurídico-política da democracia social que vamos construindo. Todos esses fatos e seus motivos têm haver com a justiça porém estão amparados no direito e nas práticas institucionais. Alguns chamam isso de jogo democrático de poder; outros, de delinqüência institucional; terceiros, de estado geral de corrupção-decomposição institucional-constitucional, com a ação dos “patifes ilustres” (“a lei é uma semântica ao dia”, conforme sua hermenêutica) das celebradas mordomias público/privadas.

O governante do Rio de Janeiro e sua troupe instauraram um “tolerância zero” ao estilo fascista de Rodolpho Giuliani nas favelas e outras áreas de pobreza; e cuidam de estatísticas: para cada 10 inocentes pelo menos um criminoso é executado. O Paulinho Pereira ganhou um ministério e um acesso aos cofres públicos; é mera contrapartida política no jogo democrático. O Supremo, por seu presidente, afirma que bandido de colarinho não foge à luta, portanto não deve ficar preso como se fosse marginal. Os patifes do Senado atropelaram as leis e decidiram distribuir mordomias por cabeça e partido.

Ai de nós se não fosse a polícia, o BNDES, o Supremo Tribunal e o Senado Federal. Mas se esse é o “barato” do jogo, não quero mais jogar; mesmo porque não posso fechar a tavolagem nem o prostíbulo. Não sei o que devo ir achando embora pense em mudar de igreja já que não posso mudar de país. De classe e de estilo de vida não, porque estaria muito velho para azeitar dobradiças.

Segundo velho brocardo, o tempo e a indiferença são os melhores remédios, porque depois que tudo passa tudo já passou.

RESPEITO ao “VELHO CHICO” por mauro chaves

 

Ao se omitir de um debate profundo sobre o projeto de transposição do Rio São Francisco, deixando que a sociedade brasileira e as futuras gerações venham a sofrer os efeitos desastrosos de um “fato consumado”, imposto pelo governo, o que pode resultar numa obra tão faraônica quanto ambientalmente estúpida, o Congresso Nacional está passando um recibo de criminosa irresponsabilidade.O Velho Chico, rio da integração nacional, cuja força das águas já foi tamanha que durante séculos o fez avançar vários quilômetros adentro do Oceano Atlântico, a ponto de embarcações pararem em pleno oceano para se abastecerem de sua água doce, hoje sofre em sua foz um trágico recuo, por insuficiência de vazão. Já se disse que esse projeto de transposição é a transfusão que tem como doador um doente internado na UTI. Se a idéia de levar águas do São Francisco, por gravidade, para o semi-árido do Nordeste setentrional já estava na cabeça generosa de dom João VI, é porque naquele tempo não existiam açudes, nem adutoras, nem estudos hidrogeológicos.

Durante séculos muitos têm defendido a transposição como solução salvadora para a tragédia das secas. Mas a quantidade formidável de açudes já construídos – que já chega a cerca de 70 mil – e a possibilidade de retirada de água do subsolo nordestino (que, embora muitos não saibam, é abundante em água) sugerem soluções muito menos dispendiosas e mais eficazes para distribuir água às populações que dela mais necessitam. E distribuição, no caso, é a palavra-chave, pois em grande parte a malsinada “indústria das secas” nordestina tem sido mantida pelos chefetes políticos para comandar o abastecimento de água de seus currais eleitorais. A transposição não significará a oferta de água a 12 milhões de nordestinos – como têm dito seus defensores -, mas sim a canalização para determinados projetos de irrigação do agronegócio, enquanto falta distribuição de água até para projetos e populações bem mais próximas do rio, nos Estados ribeirinhos.

O engenheiro Manoel Bomfim Ribeiro, especialista em hidrologia e geologia, ex-diretor do Dnocs e autor do livro Potencialidades do Semi-Árido Brasileiro, num texto sobre as obras inconclusas do Nordeste assevera: “A indústria das secas é um fato inerente à vida política da região nordestina tendo como carro chefe o pipa a desfilar pelos nossos sertões sequiosos, onde o chefe político exerce o seu poder sobre a água. Esta indústria vem num crescendo constante com obras de todos os tamanhos, açudes, canais, adutoras, obras inconclusas. Agora é a vez da Transposição, obra inócua e desprovida de significado, pois que o Nordeste setentrional, penhoradamente, agradece e dispensa as águas do rio São Francisco, por total e absoluta falta de necessidade, uma vez que já acumula, somente nos oito grandes açudes, 13 bilhões de metros cúbicos de água (5 vezes e meia a baía da Guanabara), exatamente os 8 açudes plurianuais que irão receber os magros 2 bilhões/m3 anuais (127m3/s) advindos do canal da Transposição. A evaporação anual dos 13 bilhões é da ordem de 4 bilhões, o dobro da água que vai chegar do rio. Uma irrisão. Mais ainda, os 3 Estados mais ávidos por mais água, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, já acumulam nos seus imensos reservatórios 26 bilhões de metros cúbicos, 70% das águas estocadas no semi-árido brasileiro, 11 vezes as águas da baía da Guanabara.”E em outro texto escreve o especialista: “Dos aqüíferos do Nordeste podem ser extraídos até 20% das reservas existentes, cerca de 27 bilhões de m3/ano sem queda de pressão hidrostática, pois são reabastecidos, anualmente, pelas águas de chuvas e que drenam verticalmente para o seio da terra. Só extraímos até hoje cerca de 4% deste potencial disponível, 800 a 900 milhões de m3 através de 90.000 poços, sendo que 40% destes estão paralisados por razões diversas menos por falta de água. O deserto de Negev, com área de 16.000 km2, fornece para Israel 1 bilhão de m3/ano de água extraído do seu subsolo, mais que a produção da nossa região cuja área é 60 vezes maior que aquele deserto.”

 

Esse projeto faraônico, de pelo menos R$ 15 bilhões, além de poder resultar em desastre ambiental – como o do Rio Colorado (para o México) e o do Rio Amarelo, na China, dentro do “espetáculo de horror dos rios que morreram” a que se refere João Alves Filho -, está criando uma cizânia entre os Estados ribeirinhos e o do Nordeste setentrional, acirrada pelo presidente Lula, quando disse aos cearenses que seus irmãos nordestinos não lhes negarão (com a transposição) “uma cuia de água”. Só não contou que está mandando o Velho Chico pra cucuia.

Se o Congresso mostra vergonhosa frouxidão em não debater esse tema, cabe à sociedade mobilizar-se para fazê-lo.

Mauro Chaves é jornalista, advogado, escritor, administrador de empresas e pintor.

 

 

rio são francisco “velho chico.” foto de joão zinclar.

SOBRE o MSN – por arnaldo jabour

Sempre odiei o que a maioria das pessoas fazem com os seus MSN’s.

Não estou falando desta vez dos emoticons insuportáveis que transformaram a leitura em um jogo de decodificação, mas as declarações de amor, saudades, empolgação traduzidas através do nick.

 

O espaço ‘nome’ foi criado pela Microsoft para que você digite O NOME que lhe foi dado no batismo. Assim seus amigos aparecem de forma ordenada e você não tem que ficar clicando em cima dos mesmos pra descobrir que ‘Vendo Abadá do Chiclete e Ivete’ é na verdade Tiago Carvalho, ou ‘Ainda te amo Pedro Henrique’ é o MSN de Marcela Cordeiro. Mas a melhor parte da brincadeira é que normalmente o nick diz muito sobre o estado de espírito e perfil da pessoa. Portanto, toda vez que você encontrar um nick desses por aí, pare para analisar que você já saberá tudo sobre a pessoa…

 

‘A-M-I-G-A-S o fim de semana foi perfeito!!!’ acabou de entrar. Essa com certeza, assim como as amigas piriguetes (perigosas), terminou o namoro e está encalhadona. Uma semana antes estava com o nick ‘O fim de semana promete’. Quer mostrar pro ex e pros peguetes (perigosos) que tem vida própria, mas a única coisa que fez no fim de semana foi encher o rabo de Balalaika, Baikal e Velho Barreiro e beijar umas bocas repetidas.

O pior é que você conhece o casal e está no meio desse ‘tiroteio’, já que o ex dela é também conhecido seu, entra com o nick ‘Hoje tem mais balada!’, tentando impressionar seus amigos e amigas e as novas presas de sua mira, de que sua vida está mais do que movimentada, além de tentar fazer raiva na ex.

‘Polly em NY’ acabou de entrar. Essa com certeza quer que todos saibam que ela está em uma viagem bacana. Tanto que em breve colocará uma foto da 5ª Avenida no Orkut com a legenda ‘Euem Nova York’. Por que ninguém bota no Orkut foto de uma viagem feita a Praia-Grande – SP ?

 

‘Quando Deus te desenhou ele tava namorando’ acabou de entrar. Essa pessoa provavelmente não tem nenhuma criatividade, gosto musical e interesse por cultura. Só ouve o que está na moda e mais tocada nas paradas de sucesso. Normalmente coloca trechos como ‘Diga que valeuuu’ ou ‘O Asa Arreia’ na época do carnaval.

 

Por que a vida faz isso comigo?’ acabou de entrar. Quando essa pessoa entrar bloqueie imediatamente. Está depressiva porque tomou um pé na bunda e irá te chamar pra ficar falando sobre o ex.

 

‘ Maria Paula ocupada prá c** ‘ acabou de entrar. Se está ocupada prá c**, por que entrou cara-pálida? Sempre que vir uma pessoa dessas entrar, puxe papo só pra resenhar; ela não vai resistir à janelinha azul piscando na telinha e vai mandar o trabalho pro espaço. Com certeza.

 

‘Paulão, quero você acima de tudo’ acabou de entrar. Se ama compre um apartamento e vá morar com ele. Uma dica: Mulher adora disputar com as amigas. Quanto mais você mostrar que o tal do Paulão é tudo de bom, maiores são as chances de você ter o olho furado pelas sua amigas piriguetes (perigosas).

 

‘Marizinha no banho’ acabou de entrar. Essa não consegue mais desgrudar do MSN. Até quando vai beber água troca seu nick para ‘Marizinha bebendo água’. Ganhou do pai um laptop pra usar enquanto estiver no banheiro, mas nunca tem coragem de colocar o nick ‘Marizinha matriculando o moleque na natação’.

 

‘ < . ººº< . ººº< / @ || e $ $ ! || |-| @ >ªªª . >ªªª >’ acabou de entrar. Essa aí acha que seu nome é o Código da Vinci pronto a ser decodificado. Cuidado ao conversar: ela pode dizer ‘q vc eh mtu déixxx, q gosta di vc mtuXXX, ti mandá um bjuXX’.

 

‘Galinha que persegue pato morre afogada’ acabou de entrar. Essa ai tomou um zig e está doida pra dar uma coça na piriguete que tá dando em cima do seu ex. Quando está de bem com a vida, costuma usar outros nicks-provérbios de Dalai Lama, Lair de Souza e cia.

 

‘VENDO ingressos para a Chopada, Camarote Vivo Festival de Verão, ABADÁ DO EVA, Bonfim Light, bate-volta da vaquejada de Serrinha e LP’ acabou de entrar. Essa pessoa está desesperada pra ganhar um dinheiro extra e acha que a janelinha de 200 x 115 pixels que sobe no meu computador é espaço publicitário.

 

‘Me pegue pelos cabelos, sinta meu cheiro, me jogue pelo ar, me leve pro seu banheiro…’ acabou de entrar. Sempre usa um provérbio, trecho de música ou nick sedutores. Adora usar trechos de funk ou pagode com duplo sentido. Está há 6 meses sem dar um tapa na macaca e está doida prá arrumar alguém pra fazer o servicinho.

‘Danny Bananinha’ acabou de entrar. Quer de qualquer jeito emplacar um apelido para si própria, mas todos insistem em lhe chamar de Melecão, sua alcunha de escola. Adora se comparar a celebridades gostosas, botar fotos tiradas por si mesma no espelho com os peitos saindo da blusa rosa. Quer ser famosa. Mas não chegará nem a figurante do Linha Direta.

 

Bom é isso, se quiserem escrever alguma mensagem, declaração ou qualquer coisa do tipo, tem o campo certo em opções ‘digitem uma mensagem pessoal para que seus contatos a vejam’ ou melhor, fica bem embaixo do campo do nome!! Vamos facilitar!!!!

 

ARRUFOS e O GRITO – por deborah o’lins de barros

“Arrufos – Belmiro de Almeida”

  

O quadro “Arrufos”, de Belmiro de Almeida, foi pintado em 1887 e, para mim, é uma das maiores obras-primas da pintura nacional. O termo “arrufos” é, nada mais, nada menos que uma briguinha boba, mas o que eu vejo é mais, muito mais…

   Todas as vezes que parei em frente a esse quadro, no Museu Nacional de Belas-Artes do Rio de Janeiro, sempre me deparei com uma das mais tristes cenas já pintadas. Sempre imagino que a mulher pecou e até está arrependida, mas sabe que dessa vez não terá volta. Já o homem, sentado fumando um charuto, está tão decepcionado que parece preferir não pensar no assunto, e não dá bola para as súplicas da mulher. E eu tenho a impressão de que não foi a primeira vez que isso aconteceu, pois o homem não está chorando.

   Bem, essa é a minha interpretação, triste, romântica, mas gosto dela. No roteiro que escrevi sobre o meu amado-morto Álvares de Azevedo há uma cena que na minha cabeça só terá o sentido que quero se ficar visualmente semelhante a esse magnífico quadro, cheio de frestas onde nossa imaginação dá asas ao sentimento.

 

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              “O Grito de Munch”

 

Parece inconsebível, sob um olhar romântico, que esse quadro tenha sido pintado em 1893. No século XIX. Mesmo hoje, no século XXI, ele ainda é enigmático, quase assustador. Quase sempre imaginamos um final de século XIX sem luz elétrica, sem automóveis, sem fotografia colorida e com saias compridas. Mas não devemos esquecer que três anos antes de Munch dar seu Grito ao mundo, Van Gogh morria na França.

   Imagino que Munch deva ter se inspirado nas decisivas mudanças daquele fim de século: sufragismo; unificação italiana e alemã; a movimentada Paris, com as coristas de Toulouse-Lautrec; os bondes; o investimento na construção de navios gigantescos, comparados aos que haviam até então; as peças de teatro escritas por Oscar Wilde…

   Meu Deus! Que fim de século mais turbulento! É exatamente isso que passa pela minha cabeça quando vejo esse personagem amarelo desesperado. Deve estar se perguntando: “Aonde estão o bucolismo? e a mansidão? e o meu livro do Stendhal?”, “Como será o mundo dos meus filhos? meu Deus! e dos meus netos?”, “Será que o mundo acabará em uma grande guerra?”

    É, esse quadro foi uma premonição que o mestre do expressionismo Munch teve, no angustiado final do século XIX, sobre os devastadores séculos que viriam em seguida.

 

PAIXÃO NÃO VÁ EMBORA NÃO poema de zazisca

Sentido sem aviso;

Chega invade;

Reage, domina, contamina;

Aquece, esfria.

Paixão ai paixão quem tu és?

És bendita ou és maldita.

Afinal como vens, por onde vens?

Chega sem avisar, e já se apodera de mim.

Por que sofro assim, é bom é ruim.

Quero você pra mim.

Isso sim.

Me sinto viva,

Descobri por onde vens!

É um olhar a contaminar,

Entras pela janela da alma.

Assim cheia de calma.

Vais ao coração e da aquela bela explosão.

Não quero que vás embora, pelo menos não agora.

Sofres a metamorfose, como uma lagarta vira borboleta.

És bela, mas não mais a mesma,

Outra fase.

De Paixão viras Amor, fase boa .

Mas depois de Amor viras Respeito;

Aí não tem mais jeito, sofro assim você longe de mim.

Para onde tu foste bela Paixão, me deixas-te por pequenos tostões.

Escapaste de minhas mãos , a não! Foste embora de vens do meu coração.

O respeito te quero não, vai-te daqui. Quero de volta a minha Paixão.

Ai como era bom, Amor te Amo, mas a Paixão era diferente ;

Era a força motriz, como se diz ? Nossa eu sou uma infeliz…………

 

ESTA É DENÚNCIA DO SITE: “FLORES ROUBADAS do JARDIM ALHEIO” – por ivo barroso

“As Flores do Mal” – Charles Baudelaire – texto integral – Tr. Pietro Nassetti – Editora Martin Claret (São Paulo, 2001) – 192 págs. R$19,00

 

Já tivemos aqui a oportunidade de mostrar como algumas obras literárias estão sendo criminosamente “apropriadas” por editores inescrupulosos e reeditadas sob o nome de falsos tradutores. No caso anterior, vimos como a tradução genial do “Cyrano de Bergerac”, de Edmond Rostand, devida ao falecido professor pernambucano Carlos Porto Carreiro, foi simplesmente “clonada” e atribuída a um desconhecido Sr. Fábio M. Alberti, que já devia ficar contente se seu nome aparecesse como autor das notas de pé de página que figuram na edição. Nelas há esclarecimentos sobre personagens e fatos um tanto ou quanto incomuns, pelo menos para a classe de leitores desses livros ditos “populares”, vendidos em bancas de jornal. Apressamo-nos em esclarecer que nada temos conta esse tipo de venda e achamos mesmo que se trata de um serviço prestado ao leitor médio, que pode assim adquirir livros de grandes autores a preços inegavelmente convidativos. O que não nos parece ético é o escamoteio e a usurpação do nome dos tradutores originais desses livros, seja pela prática da sua atribuição a outrem, seja pelo artifício vergonhoso do plágio disfarçado.

Nessa última categoria podemos incluir, consistentemente, a edição de “As Flores do Mal”, o clássico livro de poemas de Charles Baudelaire, lançada “no verão de 2001” pela Martin Claret, de S. Paulo, em tradução ali atribuída a Pietro Nassetti, que, não se tratando de um pseudônimo de Jamil Almansur Haddad, responde certamente pelo nome de seu plagiário indecoroso, tal a maneira inequívoca com que se apropria da obra alheia.

É sabido que temos no Brasil pelo menos duas edições integrais de “As Flores do Mal”. A mais conhecida e, a nosso ver, a mais bem realizada, a de Ivan Junqueira, foi editada pela Nova Fronteira, sendo de 1985 a última reimpressão, com o texto original de face à tradução. Foi essa a escolhida para figurar no volume “Charles Baudelaire – Poesia e Prosa”, que organizamos para a Editora Nova Aguilar e que foi editado em 1995, em papel bíblia, reunindo em português praticamente toda a obra do Poeta. A outra, mais antiga, de 1958, editada pela Difusão Européia do Livro na coleção Clássicos Garnier, é de Jamil Almansur Haddad, poeta paulista, autor de “A lua do remorso” (1951), que além de Baudelaire traduziu também “As Líricas”, de Safo, “O Cântico dos cânticos”, de Salomão, o “Rubaiyat”, de Omar Khayyam, o “Cancioneiro” de Petrarca, o “Decamerão” de Boccaccio e as “Odes” de Anacreonte. O leitor, ainda que não versado no assunto, pode bem imaginar o que representa de tempo e esforço a tarefa de traduzir poesia, principalmente no caso de um autor como Haddad que respeita a métrica e a rima existentes no original. Mas hoje parece estar se generalizando a prática certamente recriminável de se tomar um texto preexistente e maquiá-lo, mudando aqui uma palavra mais difícil, ali uma construção mais arrevesada, e, passando por cima dos ditames métricos e rímicos, apresentá-lo ao leitor numa “nova” edição popular, supostamente feita por outro tradutor.

No presente caso a contrafação é tão explícita que chega a ser vergonhosa. Tomemos por exemplo o poema “Hino à Beleza”, dos mais característicos do estilo baudelairiano, com seus termos específicos e construções originais. As três primeiras quadras são iguais, ipsis litteris, coincidência que seria impossível de obter-se mesmo no caso de uma prova de tradução à qual se habilitassem centenas de candidatos. “Infernal et divin” é traduzido por ambos como “celestial e daninho”; “le couchant et l´aurore” por “matutina e noturna” e o verso “Qui font le héros lâche et l´enfant courageux” é impressionantemente resolvido da mesma forma: “Se à criança dão valor, tornam o herói covarde”. E naquele que encerra o terceiro quarteto: “Et tu gouvernes tout et ne réponds de rien” – o copiador chegou a incidir no mesmo erro de interpretação do seu modelo, traduzindo “réponds” por “respondes”, quando a construção francesa “réponds de rien” equivale a “submeter-se a nada”. “Bénissons ce flambeau!” é “Bendito lampadário” em ambos e “tombeau” (túmulo) é transformado também por ambos em “sudário”. Há momentos, no entanto, em que o copiador servil resolve “melhorar” (como talvez pense) o texto saqueado. Em geral isso ocorre diante de palavras que ele julga “difíceis” ou pouco atuais. Assim, onde Jamil escreveu “O amoroso anelante a pender sobre a bela”, o tradutor-xerox reescreve: “O namorado ofegante a pender sobre a bela”, não se importando com isso de sacrificar a métrica do verso. Neste mesmo poema há inúmeros exemplos dessa espécie: “Pisando mortos vais, com ar de desacato” (Jamil) e “Caminhas sobre os mortos, com ar de desacato” ( pseudo tradutor). O “papel carbono” parece ter achado que o “vão” (adjetivo) de “Sobre teu ventre vão dança amorosamente” poderia ser entendido pelos seus leitores como verbo e “conserta” para “Sobre teu ventre orgulhoso dança amorosamente”, conseguindo o fenômeno de um alexandrino de 14 versos. Outro: “Beleza! monstro ingênuo e de feição adunca!” lhe soa muito precioso e ele emenda para: “Beleza! monstro ingênuo, assustador e horrendo!” Mas pasmem que temos no início da quinta quadra o que se poderia chamar de dupla coincidência: No verso “Uma efêmera vai ao teu encontro, ó vela”, tanto na tradução de Jamil quanto na de seu “vampiro” Pietro Nassetti há uma nota de pé de página dizendo exatamente o mesmo: “Efêmera: substantivo comum, espécie de inseto”, que, se não fosse cópia servil seria um caso de duplicidade até na indigência definidora. Estender a amostragem seria recair ad infinitum na certeza que desde já se patenteia de que os poemas apresentados nesta edição de “As Flores do mal” foram subtraídos do berço alheio e criados por pais adotivos em proveito próprio.

Essa prática inescrupulosa da apropriação de traduções alheias – pela cópia deslavada ou enganosa maquiagem – parece estar se ampliando junto a editores de livros em série ou coleções ditas populares. Há muitos títulos de obras clássicas que circulam por aí que, se examinados com cuidado, revelariam – como um triste palimpsesto – o nome apagado e explorado do tradutor original.

UMA PENA – poema de jorge barbosa filho

 

 

uma pena, deve ser

um olhar de índio

em teu coração aflito.

deve ser.

 

seja a canção

uma pena,

deve ser.

eu pago a pena

qualquer preço.

deve ser.

fico parado

no incêndio

e as penas voando.

voando.

 

tento entender

porque queimar plumagens

quando seríamos

o pássaro

e voarmos

no justo instante

que você me dissesse

sim.

 

ah! tô muito a fim

pra qualquer bobagem

que te falasse

em pleno vôo, 

fingindo minha própria rapina.

 

desisti, meu amor

do índio que havia em mim   

e faleço em pleno sonho.

 

fiquei só

do tamanho de um dó

e não percebi.

que me quis

uma música.

uma nota, sol.

um beijo.

 

 

 

a tarde ardia

num lusco-fusco desesperado.

mas mesmo assim

faço dos meus dias

uma lágrima escorrida,

um desenho, em si,

um oceano,

na qual te via

o meu rosto insano.

 

ah! já deixei de ser

tudo aquilo que queria:

tudo aquilo que sumia

pelas minhas mãos

de pianista.

 

amor, não fuja de mim,

tenho os vôos nos olhos

e as chamas, e as chamas

de quem te chama.

penas

de quem te ama

te ama.

 

ACROBATA DA DOR poema de cruz e souza

Gargalha, ri, num riso de tormenta,
Como um palhaço, que desengonçado,
Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
De uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
Agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche, salta clown, varado
Pelo estertor dessa agonia lenta…Pedem-te bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
Nessas macabras piruetas d’aço…

E embora caias sobre o chão, fremente,
Afogado em teu sangue estuoso e quente
Ri! Coração, tristíssimo palhaço.

 

 

————

 

o poeta.

SEQUENCIAL PARA UMA CONTEMPLAÇÃO ABSTRATA poema de altair de oliveira

 

Pressinto a festa que infesta os olhos

que bebem saias que sugerem vôos

de flores tintas que animam cores

de aves raras com motivos vivos

que giram loucos nesta dança rouca

e tomam a tarde feito revoada

inesperada de alegrados risos

de nove noivas soltas na calçada.

 

Мэр Костромы подала в отставку. Эксперты прогнозируют борьбу за региональный центр – por Ирина Переверзева

 

время публикации: 22 июля 2008 г., 17:24
последнее обновление: 22 июля 2008 г., 18:32

 

 

 

 

 

Мэр Костромы Ирина Переверзева завершит работу на посту главы города 29 июля, сообщили “Интерфаксу” во вторник в пресс-службе горадминистрации.

“Ирина Переверзева подписала постановление о сложении полномочий главы города Костромы 29 июля текущего года в связи с отставкой по собственному желанию”, – рассказал собеседник агентства.

В пресс-службе добавили, что постановление об отставке до конца дня будет направлено в Костромскую гордуму.

Заявление о готовности досрочно сложить с себя полномочия главы Костромы Ирина Переверзева сделала 27 июня на заседании городской Думы сразу после отчета о работе в 2007 году, пишет Regions.ru. В коротком докладе, она, в частности, призналась, что многие из предвыборных обещаний остались не выполнены. “Продолжать работу на посту главы города с учетом требований настоящего момента я не могу”, – сказала Переверзева, предоставив продолжать заседание своему заместителю Александру Кудрявцеву.

Как сообщается на сайте Центра политической конъюнктуры России, в смене руководства мэрии Костромы было заинтересовано большинство влиятельных игроков, так что за контроль над региональным центром развернется нешуточная борьба. По мнению эксперта Центра Оксаны Гончаренко, победа (или избрание лояльного кандидата) на мэрских выборах может стать рычагом влияния на решения областной администрации. В числе “заинтересованных лиц” от “Единой России” – депутат Госдумы прошлого созыва и крупный региональный бизнесмен Евгений Трепов и депутат областной думы Алексей Ситников. Последний проиграл Переверзевой мэрские выборы-2003 во втором туре и может быть особенно заинтересован в том, чтобы взять “реванш”.

Возможно и выдвижение на пост мэра “губернаторской” кандидатуры, которая получит преимущественные шансы на победу за счет использования административного ресурса региональной власти.

Гончаренко также не исключает и возможность изменения процедуры формирования мэрии Костромы: избрание мэра из числа депутатов гордумы или же привлечение к управлению сити-менеджера, работающего по контракту.

На введении должности сити-менеджера, в частности, настаивал костромской губернатор Игорь Слюняев. Он занял свой пост в октябре 2007 года, а к апрелю 2008-го стало ясно, что губернатор и мэр вместе работать не смогут, пишет журнал “Эксперт”.

Еще в конце июня губернатор Костромской области Игорь Слюняев заявил, что градоначальница должна уйти в отставку. Губернатор нередко публично критиковал состояние городского хозяйства и состояние костромских дорог.

Согласно нынешнему уставу Костромы, в случае досрочного прекращения полномочий мэра его полномочия до вступления в должность вновь избранного главы города временно исполняет один из заместителей. Кандидатуру должна определить дума.

Выборы мэра проводятся по мажоритарной системе абсолютного большинства по единому избирательному округу, составляющему всю территорию Костромы. В случае, если баллотируется три и более кандидата и ни один из них не получает более 50% голосов избирателей, проводится повторное голосование по двум кандидатам, получившим наибольшее число голосов.

Тогда результаты определяются на основе относительного большинства. Решение о назначении досрочных выборов также принимает дума города.

Досье

Ирина Переверзева возглавила Кострому в декабре 2003 года и стала единственным в России женщиной-мэром областного центра, сообщает “Эксперт”.

 sem crédito.  ilustração do site.

SEGUNDO MANUSCRITO SOBRE F.K. – por jorge lescano

Como se conta uma viagem da alma, a essência, não a seqüência do sonho?

A história da literatura informa que F.K. teria pedido ao seu amigo M.B. – o caso foi contado por este – que queimasse seus manuscritos depois de sua morte porque eu, por meu lado, não tenho forças para destruir esses testemunhos de minha solidão. M.B. se recusa a cumprir o pedido e registra a recusa em nota à primeira edição do romance O Processo. Com louvável dedicação assume a tarefa de publicar a obra do morto.
 Esta a versão tradicional, imposta pelo testamenteiro, sem dúvidas a maior autoridade no assunto, e aceita pela maioria dos leitores. Consumado o fato, as interpretações variam. Vejamos três delas.
 Quis o caos de minha biblioteca, ao qual chamo Destino, que os três leitores convocados para testemunhar tenham origem argentina. A seqüência das citações é cronológica e não expressa nenhum juízo de valores.

No caso de Kafka, sabemos muito pouco. Sabemos apenas que ele estava muito insatisfeito com o seu próprio trabalho. É claro, quando ele disse ao seu amigo Max Brod que queria que seus manuscritos fossem queimados, como fez Virgílio, suponho que ele soubesse que seu amigo não faria isso. Se um homem quer destruir seu próprio trabalho, ele o joga no fogo, e lá se vai. Quando diz a um amigo íntimo: “Quero que todos os manuscritos sejam destruídos”, ele sabe que o amigo jamais fará isso, e o amigo sabe que ele sabe e que ele sabe que o outro sabe que ele sabe, e assim por diante.*

A interpretação parece plausível, até provável. Em todo caso não é absurda. Contudo, existe a notícia de que Dora Dymant chegou a queimar alguns originais e M.B. menciona quatro cadernos dos quais encontrou apenas as capas, todas as folhas haviam sido destruídas.

Para os sufis, todos os homens que executam uma determinada tarefa, são o mesmo homem. Transferindo-se tal concepção para a história da literatura, poder-se-ia concluir que o que importa a esta é a obra, não seu autor. Assim, não seria um despropósito afirmar que a obra supera a vontade do autor. Seguindo suas próprias leis de sobrevivência, sacrifica homens e outras circunstâncias. Neste caso, a vontade de F.K. é apenas uma digressão.
 Ricardo Piglia, o segundo leitor, expressa seu parecer no romance Nome Falso:

A grande tentação de Max Brod não consistiu em publicar os textos ou queimá-los. No jogo dessa dupla obediência, talvez tenha pensado que a resposta do enigma estava na própria ordem: se Kafka realmente tivesse querido destruir seus manuscritos, ele mesmo os teria queimado. Tampouco é muito atrevimento pensar que outra dúvida assaltou Max Brod em algum momento. A dúvida foi (deve ter sido) a seguinte: “Ninguém – a não ser eu, a não ser Kafka, que morreu – sabe da existência  desses escritos. Então: publicá-los sob o nome de Kafka ou assiná-los e publicá-los como sendo de minha autoria? Esses textos não são de mais ninguém: não são de seu autor, que não os quis. Não são de ninguém”. A imortalidade, a fama, ou o simples papel de testamenteiro, de suave  e  humilde ajudante que dedica sua vida à maior glória de um escritor querido mas desconhecido? Oposto de Eróstrato (que fascinava Kafka), a opção de Max Brod enobrece-o mas ao mesmo tempo – por um estranho paradoxo, mais uma vez típico de Kafka – aniquilá-o  Não teria sido mais agradável (não podemos pensar que era isso o que ele desejava?), para o gênio distante e perverso de Franz Kafka, um Max Brod que usurpa a fama do defunto e que na hora de morrer revela a alguém (a outro testamenteiro serviçal, a outro Max Brod) a secreta autoria daqueles textos?*
Dúvida, secura, silêncio, é assim que tudo se passará.
Entre as considerações do porque da negativa, e nas notas sobre o manuscrito, diz M.B.:
Entre os escritos que deixou, não se encontrou testamento. Na sua escrivaninha, no meio dos papéis, descobriu-se um bilhete escrito a tinta e já dobrado, endereçado a mim. Esse bilhete dizia:
Querido Max,
Este é meu último pedido: tudo o que se pode encontrar no que deixo depois de mim (ou seja, na minha biblioteca, no meu armário, na minha escrivaninha, em casa e no escritório, ou no lugar que for), tudo o que deixo em termos de cadernos, manuscritos, cartas pessoais ou não, etc., deve ser queimado sem  restrição e sem ser lido, assim como todos os escritos ou notas minhas que você possua; outras pessoas também os têm, você os reclamará a elas. Se houver cartas que não ;he queiram devolver, será preciso, pelo menos, que se comprometam a queimá-las.
Seu, de todo o coração
 Franz Kafka.*

E acrescenta outro bilhete provavelmente mais antigo e escrito a lápis, no qual F.K. é mais explícito:
Só se devem conservar os seguintes títulos: Urteil, Heizer, Verwadlung, Strafkolonie, Landarzt, e a novela Hungerkünstler. (Os poucos exemplares da Betrachtung  podem ficar, não quero dar a ninguém o trabalho de destruir a edição, mas não se deve reimprimi-la.) Quando digo que só se conservem esses cinco livros e essa novela, isso não significa que eu deseje que sejam reimpressos para serem transmitidos à posteridade; pelo contrário, se desaparecerem completamente, o acontecimento terá correspondido a meus desejos. Mas como já existem, se alguém quiser guardá-los, não o impedirei.
 Em compensação, todos os meus outros escritos (tudo o que pode ter saído em revistas, todos os manuscritos, todas as cartas), tudo o que você puder encontrar ou pedir de volta aos possuidores (você os conhece quase todos, trata-se principalmente de N.N., e não se esqueça sobretudo de alguns cadernos que estão em poder de N.), tudo isso deve ser queimado sem nenhum tipo de exceção, e de preferência sem ser lido (não o impeço de dar uma olhada, mas preferiria que não o fizesse; em todo caso, ninguém mais tem o direito de olhar), e peço-lhe que proceda a essa operação o mais breve possível.
Franz.*
 Se o pedido de F.K. é uma invenção de M.B. – é este quem garante a autenticidade das notas transcritas – o leitor  – você – terá o encargo de descobrir ou imaginar o móvel dessa atitude. Descartam-se propositadamente os interesses do mercado livreiro. Está-se num tempo –aquele onde transcorre a ação – em que o livro, a obra literária, ainda não é um produto a mercê da ditadura do consumo.
Analisado do ponto de vista literário, o meu destino é muito simples. O talento que eu possuo para passar a limpo a minha vida íntima, vida que está aparentada ao sonho, fez com que todo o resto caísse no acessório. Ora, a força de que posso dispor para realizar essa narração é totalmente imprevisível. Estou, portanto, flutuante, lanço-me sem descanso para o topo da montanha, porém somente com dificuldade ali posso estar um momento. Outros estão flutuantes também, porém em regiões mais baixas e com mais energia.

Alberto Manguel, nosso terceiro leitor, em seu livro Uma História da Leitura, diz:

É famosa a história segundo a qual Kafka pediu ao amigo Max Brod que queimasse seus escritos depois de sua morte: sabidamente, Brod desobedeceu. O pedido de Kafka foi considerado um gesto autodepreciativo, o obrigatório “eu não mereço” do escritor que espera que a Fama lhe responda: “Mas como não? É claro que merece”. Talvez haja outra explicação. Como Kafka percebia que, para um leitor, cada texto precisa ser inacabado (ou abandonado, como sugeriu Paul Valéry),  que na verdade um texto pode ser lido somente porque  é inacabado, deixando assim espaço para o trabalho do leitor, talvez quisesse para seus escritos a imortalidade que gerações de leitores concederam aos volumes queimados na biblioteca de Alexandria.
Como para confirmar sua tese, na página seguinte cita:
Ernst Pawel, no final de sua lúcida biografia de Kafka, escrita em 1984, nota que “a literatura que trata de Kafka e sua obra compreende atualmente cerca de 15 mil títulos, na maioria das principais línguas do mundo”.*

 As obras mais conhecidas de M.B. são: Os Falsários, drama, uma biografia de F.K., e preservar do fogo e publicar os escritos do seu biografado. Não se deseja insinuar que ele salvasse a obra apenas para ter a oportunidade de escrever sua biografia. Tampouco que lhe usurpasse o nome – F.K. era praticamente desconhecido à época de sua morte, digo: era menos conhecido que M.B.
 Não seria arbitrário acreditar que este, por um salto da imaginação, decidisse criar um alter-ego, com o qual pudesse homenagear seu amigo. Nesta hipótese, os livros que conhecemos como sendo de F.K. são, na realidade, apócrifos, seu verdadeiro autor é M.B. e F.K. por favor, considere-me um sonho, seria um personagem “kafkiano” criado por seu mentor, e então K., o agrimensor, e Joseph K., poderiam ser indicações e, ao mesmo tempo, uma pueril maneira de ocultar a verdadeira identidade do seu “modelo”  não me falta nada, apenas me falto a mim mesmo.
 Talvez esta interpretação necessite uma justificativa. Tratando-se de uma obra religiosa não creio que sejamos um naufrágio radical de Deus; simplesmente um dos seus aborrecimentos, um mau dia – tal é a visão de M.B. -, é conveniente que seja anônima ou de um profeta já morto.*  Esta circunstância, ignoro por que, dá mais crédito à palavra divulgada por seus apóstolos. Assim, ao ceder sua obra, M.B. satisfaz este requisito e transfere para o alter-ego seu destino atroz: a fama e a incompreensão perdoa-me porque eu não me perdôo.
 À semelhança de Sócrates, alguém já havia cogitado sobre a não existência de F.K. sem, contudo, fornecer argumento. Nessa ordem de idéias, não faltou quem conjeturasse se tratar da criação de um sionista ou rabino de Praga, cidade maneirista, como se sabe, ponto de encontro da alquimia, da cabala e da lingüística.
 Não pretendo estabelecer meras especulações no lugar da verdade histórica. Todavia, suspeito que estas não desagradariam aos protagonistas do caso,** a algum poeta português ou dramaturgo italiano e, com certeza, não seriam desprezadas por um mestre taoísta, para quem as borboletas podem sonhar que são homens.

 
* Quase a totalidade dos críticos insiste em diminuir a importância desta afirmação do único biógrafo que conviveu com F.K… Para eles, provavelmente, o teto da Capela Sixtina perde interesse artístico pelo fato de estar destinado à veneração dos fiéis – de alguns fiéis. E que quê dizer, então, da obra de Johann Sebastian Bach? De nossa parte, sabemos que toda obra significativa supera a intenção do artista. A obstinação destes estudiosos os torna suspeitos de – para dizer o menos –preconceito cultural. (N. do C.).

** Vale lembrar  “A Primeira Longa Viagem de Trem ou Richard e Samuel – Viagem Curta pelas Regiões da Europa Central”, texto inconcluso, no qual F.K. e M.B. se atribuíram a personalidade do outro. (N. do A ).

* Jorge Luís Borges, entrevista concedida em julho de 1966 à Paris Review, em: Os Escritores; Companhia das Letras, S.P., 1988, pág. 209 (N..A). 

* Ricardo Piglia: Nome Falso-Homenagem a Roberto Arlt , Iluminuras; S.P, 1988, pág. 49-50 (N.A).

 **Max Brod: Notas a O Processo; Círculo do Livro; S.P., s.d., pág. 266 (N.A).
* Max Brod; op. Cit., pág. 267

Alberto Manguel: Uma História da Leitura; Companhia das Letras; S.P., 1997; pág. 112-113

COPACABANA, NUA e CRUA! (l) conto de jb vidal

todas rodoviárias são iguais, têm um cheiro característico. ruim. 
              a de Porto Alegre, cidade onde  morávamos, óbvio, não era diferente. 
              ali estava eu. eu e José Luiz, o amigo que teve a idéia de fazermos esta viagem para o Rio de Janeiro.
              mês de julho. 1966. ditadura. férias. pouco dinheiro. contamos o que tínhamos. dava para curtir uma semana. ficaríamos numa pensãozinha. uma refeição por dia e sanduíches. pronto. vamos. o nosso negócio era praia e mulheres!
                                      
              tirando o cheiro de chulés e outros, a viagem foi normal.

              chegamos às quinze horas de um sábado. um tumulto. gente  pra caralho. aquele cheiro novamente. inacreditável que houvesse um mil e quinhentos quilômetros entre uma e outra.

              como moscas tontas andamos, de um lado para outro, a fim de obter informações, em local oficial, pois não estávamos dispostos a virar presas fáceis de qualquer má intenção.
                                    
              aceitamos a indicação da moça do setor turístico e fomos para uma pensão na rua do Resende em Botafogo. diária e café da manhã compatível com nossos recursos. o local estava próximo a Copacabana, nosso objetivo permanente. praia, mulheres e cervejas. talvez não nessa ordem.

              Madalena, a dona – também de uma bela bunda – mostrou-nos o quarto e o banheiro no final do corredor. casa antiga, confortável.
              tomamos banho e rua.
              dezoito horas, e lá estávamos andando na av. Atlântica. os olhos atentos buscavam todas as mulheres. lembrei da dona da pensão.
              escolhemos, estrategicamente, uma das mesas do calçadão no Bar e Restaurante OK, junto à praça do Lido. sabia que ali, após as dezenove horas, muitas apareceriam para um chope, comer ou serem comidas. 
              “cerveja garçom!” gritou o Zé Luiz, com uma empáfia que me fez rir e pensar “afinal estamos no Rio, para o que der e vier!”
              tínhamos que ganhar as minas que topassem nos levar para a casa delas, pois Madalena havia alertado para a proibição. isto dificultava as coisas.
              “mais uma!” e as mesas lotaram.
              
              uma noite quente abraçou Copacabana e o frenesi dos carros que iam e vinham com suas luzes cintilavam nos copos e garrafas criando um ballet de sombras e brilhos destacando o anonimato das pessoas e cada qual assumia sua identidade hipnoalcoólica condição para chegar à madrugada onde só a euforia seria a companheira de Baco.
             
              retornava do banheiro quando uma jovem tesuda, com quem já havia trocado sorrisos, sedutoramente vestida, pega minha mão e diz “vem comigo”.
              levou-me para o centro da praça. encostou-me numa árvore e passou a me beijar como se estivesse apaixonada. beijava, mordia, pegava no pau, na bunda “é hoje! estou com sorte!” pensei, enquanto amassava aquelas tetinhas e chupava o pescoço com gosto de banho recente.

“voei para o bondinho do Pão de Açúcar, subi pelo cabo pé ante pé, olhei a praia do Flamengo, linda, com a orla iluminada naquela noite quente, virei-me e vi o Cristo Redentor, noturnamente maravilhoso, mas, achei que ele piscou para mim e fez um olhar de advertência, para não encara-lo, olhei rapidamente a baia da Guanabara, a vi como um escuro infinito e senti-me engolido por aquele buraco negro.”       
                                        
              “vamos voltar minha amiga pode se preocupar.” eu era um fogo só.    
             antes de sair da praça dei uns tapas no pau para amolecê-lo. “você é daqui?” perguntou, “não” “eu sabia!”.
                                         
              “viu?” “vi, e a outra? vai dar pé? elas têm onde levar a gente?” “calma! eu nem falei com ela, não deu tempo, deixa eu  tomar fôlego, uns goles e vamos pra mesa delas.”
             
               eufórico, pedi uma dose de Trigo Velho para acompanhar a cerveja, ficar mais “alto”. agora, a iniciativa era minha.

               o Rio, na minha época de garoto, era o que se chama “sonho de consumo,” as praias maravilhosas, o relevo da cidade nada monótono. Copacabana! a sedutora de todos os boêmios, onde encontrei no “Beco das Garrafas” tom Jobim, Maísa, Antonio Maria, Vinicius, Elis ….. o Rio inspirava poetas e cantadores com perucas loiras da corte, com bailes na Ilha Fiscal ao mesmo tempo em que viam negras esbeltas subindo os morros da cidade, selvagens ainda, para onde correram os escravos recém libertos. e a paixão da nobreza era aquela negra com uma lata d’água na cabeça, feliz, cantarolando sua canção africana revestida de banzo, sonhos e desejos.
                                          
              “cadê as mina Rodrigo?” perguntou o Zé Luiz. olhei em direção à mesa onde deveriam estar. ninguém. procuramos. nada.
              debaixo de acusações mútuas, buscamos o culpado pelo descuido.    
              nenhuma conclusão. óbvio.
              andamos por outros bares e boates. sem sucesso. nem elas nem outras. as que topavam queriam grana. nem pensar.
              o Zé pagou o táxi e fomos dormir desenxavidos.

              “que domingo lindo! que sol! essa mulherada pelada! Copacabana é realmente a melhor praia do mundo!” disse o Zé tentando me animar.
              sem toalha, sentado naquela areia escaldada pelo sol das treze horas, meus colhões cozinhavam. levantei e fui ao mar. nadei com raiva e voltei.
              “vamos bicho! se anime! qualé? em vez de ficarmos uma semana, serão quatro dias! tá bom!”. 
              “que habilidade! ah! se encontro aquela puta! vai devolver todo o dinheiro e vou encher de porrada! ladra, vagabunda!”.
              o resto do domingo transcorreu nesse clima, pra baixo. 
             
              a gente sofre quando as coisas não saem como planejadas, mesmo as pequenas.
                                          
              fui salvo por um porre que apareceu no inicio da noite e me jogou na madrugada.
                                           
              segunda-feira. tarde. o Zé salta da cama e tenta me acordar.     
              desiste e sai. despertei quando era noite com Madalena batendo na porta.  queria saber se estava bem ou necessitava de algo “não, obrigado”. fiquei mais puto comigo, poderia ter fingido alguma coisa ela entrava e quem sabe…
                                      
              toquei uma punheta pensando nela.
                                      
              ainda estava de pau duro e com a porra na mão, quando o Zé entra no quarto aos safanões dados por dois milicos da PM. um deles, apontando o fuzil, manda que me levante com as mãos na cabeça.
              como havia dias que não transava nem me masturbava e somando à excitação com a puta-ladra no Lido, era muita porra, que, ao levantar as mãos escorreu para os cabelos, rosto e peito.
              “porco de merda! não gosta de mulher!?” gritou, encostando o fuzil no estômago e pressionando contra a parede. doeu muito.
              o Zé, que tinha saído sem os malditos documentos, caíra numa blites para carros e pedestres na saída do túnel da av. Princesa Isabel. agora, apresentava todos, com mãos que mal podiam segurá-los. mostrei os meus. reviraram tudo. toda a casa; pois logo após os dois, entraram mais cinco. não encontraram nada que comprometesse alguém.
                                      
              me pegaram pra cristo. com os demais hóspedes encostados nas paredes do corredor e Madalena, histérica, dizendo que era amiga de um tal coronel do exército, me tiraram do quarto, nu e com as mãos na cabeça, obrigaram-me andar alguns passos “este porco não gosta de mulher! flagramos o filho da puta tocando punheta! ele é bichona!”
             
              desde que me conheço por gente, fui assim, diante de uma situação de enfrentamento primeiro surge o medo e a seguir uma raiva crescente. o cérebro, dá a impressão que incha e a mente entra num torvelinho de espiral ascendente buscando uma saída para a orgia de pensamentos, confusos, cinzas, inexatos e velozes. a razão vai pro caralho.
corri pra cima do milico “bicha é tu filho da puta!” que me esperou com uma coronhada de fuzil no estômago. estatelei-me desmaiado.  
              queriam me levar. por desacato e atentado ao pudor. todos argumentaram. Madalena pediu, implorou. foram-se.
              
              ficou claro que a dona da bela bunda interferiu, não por mim, mas para resguardar a moral da sua pensão, que certamente seria escrachada na imprensa de aluguel por abrigar subversivos políticos, razão alegada naqueles tempos para qualquer arbitrariedade. ordenou que deixasse-mos a pensão imediatamente. cumpriu-se o pensamento do bar OK “estamos no Rio para o que der e vier”.

não esperava tanto.    

                   sem crédito. ilustração do site.

DAS LESMICES DITAS LÍRICAS poema de joão batista do lago


O que é a lírica feita apenas de lírica?
– um montinho de imagens que fedem estética – merda pura! –
um jeitinho bonitinho de arrumar palavras sobre palavras
castelos de areia que não agüentam a primeira maré

essa tua poesia feito peido de gabinete
que circula nos ares nobres de salões engalanados
sacramenta a idiotia das modernas gentes
que relincham como adestrados ginetes

sim! cansei das lesmices ditas líricas
feitas ao sabor do cântico factótum
donde te pensas deus-de-américas
contudo regurgitas tão-somente teu verso póstumo

pede meu verso que te peça perdão
– ele não canta ilusões… ele não tem qualquer paixão
meu verso é víscera que transcende o amor
ele é apenas verso de fome, sede e dor

ÚLTIMO ALMOÇO poema de marilda confortin

Já não há mais nada de interessante

nas paredes desse restaurante

para consumir nosso tempo

Os  velhos marujos de gesso

nos conhecem pelo avesso.

A coleção de nós de corda de navio

orna com nossos laços, frios.

Não vai chover,

nem esquentar,

nem esfriar.

Não há mais tempo

nem assunto.

O silêncio incomoda.

O garçom some.

Quem paga a conta

dessa falta de fome

que nos consome?

 

 

Escritores e críticos analisam literatura brasileira em Parati

Paul Auster, Martin Amis, Ian McEwan e Margaret Atwood. OK. Mas e nós? Aproveitando o dia mais brasileiro da Festa Literária Internacional de Parati, que terá de manhã Ferréz, pela tarde o trio Lygia Fagundes Telles, Moacyr Scliar e Luis Fernando Verissimo e Chico Buarque na entrada da noite, a Folha ouviu escritores, críticos, agentes literários para bater uma chapa da ficção que fica aqui depois que o circo da Flip for desmontado. Qual a situação da literatura brasileira hoje?
O caçula do festival, Daniel Galera, 25, dá o mote da toada. “É impossível definir como é a ficção feita hoje no país. É tudo muito variado, cada um seguindo sua viagem.” Escritor e dono da microeditora Livros do Mal, ele é inimigo ferrenho de “geração 90”, “geração 00” e outras estampas que pregam nas costas dos autores que se consolidam agora.

A ânsia de classificar o que está sendo feito agora, opina Augusto Massi, é sinal da falta de “espírito crítico”. Ator, diretor e contra-regra, ou seja, editor, ensaísta, professor e poeta, ele acredita que o problema não está na produção literária nacional nem naqueles que a imprimem. “Quando ninguém consegue se localizar montam-se logo antologias. São coletâneas feitas por gerações, gêneros ou ‘os cem melhores’. Mas essas listas são pouco confiáveis.” Massi acredita que faltam críticos novos, que possam organizar um mercado que dá espaço “para todo mundo: do cara dos poemas pornôs ao best-seller”.

Raimundo Carrero, 14 romances nas costas, discorda. “Faltam é leitores.” E a oferta nacional das novíssimas gerações (“nova geração sou eu também, não morri”), segundo ele, é das mais generosas possíveis. “Vivemos a perplexidade de um novo milênio. A literatura brasileira vive o que Alejo Carpentier chamou de terceiro estilo, que é a falta de um estilo”, aponta o autor pernambucano.

Os “novíssimos” apontam a internet como multiplicadora desses modos tão variados de prosear. “A palavra é jogo. Nós jogamos os textos na internet e estamos jogando literariamente para encontrar nossos caminhos, nossos estilos”, opina Emílio Fraia, 22, paulistano.

Essa “busca de caminhos” o trouxe às Veredas da Literatura. Esse é o nome de um projeto literário da Flip que reuniu de quinta a hoje uma trupe de 50 autores inéditos ou nos primeiros passos para uma oficina com o romancista e professor Milton Hatoum.

Vindos de diversas cidades, e agrupados “woodstockianamente” em uma pousada, eles terão um mês a contar de hoje para apresentarem projetos de livros. Dois deles serão brindados pela Vivo, patrocinadora do projeto, com R$ 12 mil (oito de R$ 1.500) para concluírem os escritos.

Os “novíssimos” farão “vanguardismos”? Não necessariamente. Antonia Pellegrino, 24, carioca, fala sem meias palavras. “Caguei para a vanguarda. Escrever uma boa história já é ótimo. Se quer fazer vanguarda, tem que ser gênio. Ficar no meio do caminho não dá”, diz a neta do poeta e psicanalista Helio Pellegrino.

Um dos principais contistas brasileiros, Sérgio Sant’Anna, safra 1941, não pensa assim. “A palavra ‘vanguarda’ envelheceu, mas o desejo de inovar não. Quem prega que o que importa é só o enredo, e não a linguagem, são setores conservadores, um pouco reacionários”, diz o escritor, que pôs o tema na roda ontem em encontro com Luiz Vilela.

Carrero, Marcelino Freire, Ivana Arruda Leite e Daniel Galera, reunidos em frente à Igreja da Matriz, rezam nessa cartilha. Em conversa com a Folha, dizem eles que a ficção brasileira tem muita gente experimentado bem a linguagem, sim. Mas não acreditam que esse (ou qualquer outro traço) possa ser amarrado nas novas escrituras brasileiras.

“Tentar definir o que está acontecendo é como abrir o liqüidificador enquanto a vitamina está sendo feita. Voa abacate para todo lado”, diz o poeta, prosador e editor Joca Reiners Terron. Sem receio dos “abacates”, Augusto Sales, editor da revista literária “Paralelos” e um dos organizadores da Veredas da Literatura, arrisca um retrato de corpo inteiro.

“Os autores cariocas trabalham mais a partir da memória afetiva. São pequenas obsessões, crises existenciais e o incômodo com a superficialidade do mundo contemporâneo. Já São Paulo é mais ‘faca no bucho’, fala mais da violência urbana. Tem influência de Rubem Fonseca e do cinema. No Sul, vejo mais elementos fantásticos. Mas, em comum, têm a concisão, o apreço pelos minicontos, o que é influência da internet.”

Contam-se em dedos minguados os jovens autores que não trabalham com a “rede”, a julgar pela amostragem da oficina Veredas. Uma delas vem do interior paulista. Fabíola Moura, 31, é o nome da “avis rara”. “Sou uma exceção aqui, porque não tenho blog. Sou autora do século passado. O que acho ótimo nos novos autores é a desmistificação da escrita. A busca de comunicação direta pela net possibilita isso.”

Outra “desmistificação” é a de que não é possível exportar nossa literatura. Lucia Riff, principal agente literária brasileira, diz que não passa nenhum mês sem negociar autores brasileiros com o exterior. “Tenho recebido pedidos de países que nunca publicaram nossa literatura. Anos atrás o desconhecimento da literatura brasileira chegava a ser constrangedor. Agora estamos na moda.”

Mas ainda falta. Com a palavra o enviado do jornal espanhol “El País”, José Andrés Rojo: “O leque da literatura brasileira é imenso, com obras de variedade surpreendente. É literatura ainda praticamente desconhecida, que precisa ser posta em órbita”.

 

 

 

Por: CASSIANO ELEK MACHADO e
LUIZ FERNANDO VIANNA

de conrado maestro. ilustração do site.

 

 

EDU HOFFMANN e seus HAICAIS (ll)

cirandar

 

 

     amor que prende

 

     amor que solta

 

   amor que me leva

 

   e me traz de volta

 

 

   =

 

 

                              noite alta

 

                     criança risonha sonha  

 

 

                          estrelas azuis

 

 

=

 

 

 

                rã saltando

 

 

         enche minha boca

 

                  d’água

 

 

=

 

                       no alto galho

 

 

                pensava estar vendo o sol

 

 

                       era um caqui

 

 

               =

 

 

assim que se escreve

 

 

 

 

                      procuro e não tem

 

 

                           meu Deus

 

 

                  sem caneta sou ninguém

 

 

=

 

 

                    Clínica Freudulenta

 

 

                          no recreio

 

 

                 servia bolachas reichiadas

 

SÍNDROME POR UMA CAMA DECENTE por darlan cunha

Durmo num sofá, e isso requer paciência, porque é como vestir roupa que não seja nossa, e assim é que se está sempre sob desconforto de dores e insônia.

Com os pés e a cabeça mais elevados, a gente fica como um longo “U” a noite toda, madrugada inteira, e se levanta corcunda, cheio de tristeza, empapuçado o olhar, sensação de amor mal-feito e, de verdade, nem feito nem sonhado.

Durmo num sofá, só eu e minhas (in)consequências já muito duradouras, e sei que devo dar logo um jeito definitivo nisso de viver com dores no lombo quanto nos quadris e nos ombros, carregando uma placa na testa onde se lê “Insônia”.

SEDE DE AMAR poema de bárbara lia

A mulher dobra o arco-íris
e o esconde sob a mortalha.
Colhe a estrela matutina
e a aninha, ainda quente,
entre as rosas mortuárias.
A pedra pequena recolhida
nos trilhos da rua do amado
coloca em seu ouvido
como concha
para levar na eternidade
o eco dos passos dele.
Ela está morrendo
e seu amor não sabe.
Bebe o último copo d’água
sabendo
que a sede mais intensa
nunca foi saciada.

A LEI DO TURISTA-CIDADÃO/ por alceu sperança

Por falta de capacidade (ou vontade) de resolver os problemas reais que as pessoas vivem, nas campanhas eleitorais surgem, como sempre, propostas absolutamente irrelevantes, como a criação de guardas municipais a pretexto de combater a criminalidade.

Outra proposta que não muda o valor do dólar ou do euro nem reduz a buraqueira que o crack faz nos cérebros das crianças é o debate sexo-angelical sobre se o setor de turismo deve fazer parte da Secretaria Municipal da Cultura ou da Indústria e Comércio? Partindo dessa dúvida absolutamente bestial, como diriam os “patrícios”, poderíamos embutir nessa questão outras perguntas. Por que o turismo não faz parte da Educação, já que é necessário educar toda a população para bem receber os turistas? Sem educação, como trataremos bem os gringos e seus dólares/euros?

Vamos em frente: como tratar bem os turistas se continuamos atropelando gente e fazendo roleta-paulista por aí? Não seria, então, o caso de atrelar o turismo ao Detran? Em Cascavel, um burocrata da Prefeitura tentou dar um pouco de educação (sempre ela) ao pessoal que lida com o tráfego e foi chamado de maluco por pretender transformar o serviço de táxi numa espécie de organizado Yellow Cab americano. A crítica mais habitual é “aqui não funciona”.

Mas o turismo talvez pudesse ser reivindicado pela Secretaria do Planejamento, pois a cidade não está preparada nem para o convívio dos cidadãos “aborígines” – por que cargas d’água estaria para os estranjas? Claro que a Secretaria de Assuntos Comunitários também poderia reclamar o turismo, na medida em que depois de dar cidadania e civilidade aos “agentes ecológicos” (catadores de papel) pode também transformar os “flanelinhas” em “recepcionistas turísticos”, inclusive com noções de gringuês.

A Secretaria da Saúde, por sua vez, reclamaria o turismo alegando que alguém poderia vir do exterior trazendo a gripe aviária, sendo necessário criar, talvez junto com a tal Guarda Municipal, um cadeião todo almofadado, tipo cinco estrelas, decorado com retratos de mulatas seminuas e motivos paisagísticos tropicais, para que os gringos visitantes ficassem de quarentena até que o risco de transmitir a perigosa doença fosse contornado.

A Secretaria do Meio Ambiente poderia com justa razão reivindicar o turismo para motivar a visitação aos velhos e aos novos parques temáticos de preservação das fontes e dos fundos de vale. A Secretaria das Finanças poderia baratear o custo do desassoreamento dos lagos entulhados cobrando de cada turista um pedágio adicional: um caminhonaço de lodo tirado do lago lhe valeria o título de Cidadão Honorário Sanepariano do Município.

Temos secretarias demais, departamentos demais, gastos demais com caciques e pouca esperteza na articulação entre as instâncias da administração, que deveriam jogar juntas, como as peças de uma equipe – digamos o insopitável Coxa – que pretende ganhar uma competição.

O turismo é uma grande fonte de renda. Será nosso grande negócio se soubermos lidar com ele. Mas não é preciso criar nenhum departamento de Turismo nem na Cultura, nem na Indústria e Comércio, nem em qualquer outro lugar: basta cumprir uma pequenina lei, a exemplo das Três Leis da Robótica, de Isaac Asimov, com apenas três artigos:

“Art. 1° – Em Curitiba, Estado do Paraná, toda pessoa residente no perímetro municipal será tratada como turista, com todos os seus direitos de cidadão, mordomias e salamaleques assegurados;

“Art. 2° – Todo visitante e turista será, para todos os efeitos, tratado como o é todo cidadão curitibano.

“Art. 3° – Revoguem-se as disposições (e as patetadas) em contrário.”

Não sei se essa “lei”, tecnicamente, tem fundamento, pois leis não podem embutir ironias nem, talvez, uma proposta mal disfarçada de revolução final contra a opressão capitalista. Mas deveria começar a vigorar imediatamente, ao menos em nosso coração.

 

sem crédito. ilustração do site.

MPB – UMA EXPRESSÃO AMBÍGUA (II) – por alberto moby

Na mensagem anterior afirmei que, ao utilizarmos as expressões “música popular brasileira” e “MPB” não estamos falando do mesmo objeto, pelo menos se o período a ser analisado for o do regime militar. Para ajudar a sustentar essa afirmação vou fazer aqui uma breve análise da reação de alguns compositores dos anos 70 frente ao rigor da censura nos chamados “anos duros” da ditadura – o período compreendido entre a edição do Ato Institucional n.º 5 e o término do governo do general Emílio Médici. Eram esses compositores (ou a maior parte deles) que eram chamados pelo público e por parte da mídia como MPB.

Numa entrevista de 1974, para o jornal Opinião, não publicada por ter sido proibida pela Censura, Chico Buarque de dialogava com a jornalista Ana Maria Bahiana:

– Quer dizer que até o fim do ano você não pretende mexer com nada de música?

– Ah, isso é pacífico. Tem aí umas idéias – mas não tem nada marcado – de um dia fazer um disco com músicas de outros autores, mais tarde um disco de retrospectiva, porque pra esse ano não vai dar, mesmo.[1]

Na mesma entrevista, Chico Buarque comentava o LP Chico canta, do ano anterior, contendo as canções da peça teatral Calabar – o elogio da traição, dele e de Ruy Guerra:

– Bem, eu estive pensando, no final das contas, olhando bem, não é um bom disco, entende? Quer dizer, é um disco cuidado, com arranjos lindos do Edu [Lobo], mas quem vai comprar um disco que metade das músicas não tem letra? Vale como documento, mas você não pode obrigar as pessoas, ninguém está informado de nada. Não estão informa¬das, como é que vão comprar um disco de capa toda branca? O título do disco é CHICO CANTA, quer dizer, não tem nada a ver, é a capa que não é capa. Uma porção de músicas sem letra e, aí sim, muito mais presas a uma peça que não houve. Quer dizer… todas as músicas de CALABAR se ressentem da au¬sência da peça, porque estão muito mais vinculadas a ela.[2]

Como a peça, vetada pela Censura, o disco tivera as letras de várias das canções a ela vinculadas também censuradas. Além disso, foi proibida a capa do disco, com a palavra Calabar pichada num muro[3]. Na canção Fado tropical (proibida para o show Tempo e contratempo, de 1974, com Chico e o conjunto MPB-4) foi proibida a frase “além da sífilis, é claro” (uma das heranças lusitanas no sangue brasileiro, segundo o personagem Mathias), parte de um texto declamado por Ruy Guerra, co-autor também das músicas. Anna de Amsterdã teve toda a letra proibida, assim como Vence na vida quem diz sim, só sendo permitido incluí-las no disco em versão instrumental. Na canção Bárbara, foi cortada a palavra “duas”, que sugeria um relacionamento homossexual entre as personagens Anna de Amsterdã e Bárbara, viúva de Calabar. Anna de Amsterdã e Bárbara sofreriam os mesmos cortes, substituídos por palmas, no LP Caetano e Chico juntos e ao vivo, gravado naquele mesmo ano durante um show no Teatro Castro Alves de Salvador. Além dessas duas canções, a música Partido alto, interpretada por Caetano no show, só fora permitida com alterações na letra, onde foram substituídas as palavras “brasileiro” (por “batuqueiro”) e “pouca titica” (por “pobre coisica”).

A violência da Censura contra o disco Calabar, no entanto, já era o resultado do aumento sistemático da violência contra o trabalho de Chico Buarque, que continuaria ainda por muito tempo. Angustiado, Chico declararia a Ana Maria Bahiana: “… eu espero que daqui a um ano eu possa fazer música de novo, no momento me considero um ex-compositor”[4]. Mas, mais adiante, o próprio Chico relativizava essa declaração, talvez na tentativa de se proteger de um tipo de acusação que até hoje o persegue – a de que se fazia de vítima da ditadura para conquistar o público e vender:

– Também não quero usar isso como álibi, é preciso saber até que ponto eu pego no violão e não tenho vontade de compor porque acho que não vale a pena, que não vai passar. Não é autocensura, é um cansaço de se empolgar com um troço bonito e perdê-lo. Então você antes disse: já não vai fazer pra não ter o desgosto. Agora também não posso dizer que é só por causa disso, primeiro porque eu não quero dar esse gosto a ninguém […]. É uma crise. Tem umas gotinhas vindas de fora, uma pressão; mas não é só isso”.[5]

A angústia e a tensão entre a luta contra a Censura e uma (im)provável falta de criatividade acabam levando Chico Buarque a concluir: “Não dá pra fazer show de capa branca, com metade das músicas sem cantar”[6]. Além do mais, acrescenta: “é muito chato isso das pessoas te pararem na rua e perguntarem pela censura, e não pelo meu trabalho. Como artista eu quero ser julgado pelo meu trabalho. Foi um ano perdido”[7].

O vigor com que a Censura se abateu sobre Chico Buarque não seria “privilégio” dele, nem tampouco novidade em 1973. Só para citar mais alguns exemplos, o LP Paulinho da Viola, de 1971, teve as canções Chico Britto, de Wilson Batista e de Afonso Teixeira (música composta em 1949), e Um barato, meu sapato, de Paulinho da Viola e Milton Nascimento, proibidas[8], por destacarem o “clima marginal do samba”[9]. Em 1972, Jards Macalé teria que reescrever sete vezes a letra de Revendo amigos (LP Movimento dos barcos). Em 1973, Raul Seixas teria 18 composições vetadas pela Censura, Luís Melodia, em seu disco de estréia, teve várias palavras podadas de suas canções, além de várias músicas vetadas na íntegra.

Mas o disco que faria par com Calabar, em 1973, seria o álbum (um LP e um compacto simples) Milagre dos peixes, de Milton Nascimento. Apesar de ter contado com participações especiais, como Radamés Gnatalli como arranjador, Clementina de Jesus e Gonzaguinha, entre outros, a Censura não se intimidaria, vetando as canções Hoje é dia d’El Rey, Cadê e Escravos de Jó, impedindo a participação no LP de Dorival Caymmi, que deveria cantar uma das faixas mutiladas. Além disso, outras canções teriam as letras parcialmente proibidas, como é o caso de Diálogo entre pai e filho, cuja única frase permitida dizia: “Meu filho”!. Conformado, Milton Nascimento decidiu gravar apenas as melodias das canções vetadas.

Ainda naquele ano, a revista Veja[10] revelava que o LP Luiz Gonzaga Jr., contendo dez faixas, era o sobrevivente dos cortes de quinze músicas pela Censura. Isso sem contar que a canção Comportamento geral, gravada nesse LP, fora proibida de ser executada nos meios de comunicação.
A onda de repressão à música popular dos primeiros anos da década de 1970 faria o crítico musical Tárik de Souza mostrar-se “surpreso”, em meados de 1974, com a “calmaria excessiva e perigosa, sujeita a discos técnicos e performances de discreta estética comportada”[11] que se abatia sobre o mercado musical brasileiro. Ironicamente, Tárik de Souza concluía seu raciocínio, refazendo-se do “susto”:

Evidentemente que quem quisesse acompanhar ainda com maior profundidade as oscilações da linha de frente da música brasileira deveria munir-se de um sismógrafo resistente. Muitos fatores contribuem para os efeitos de luzes e sombras que tingem os rostos dos espectadores. A estes muitas vezes será preciso ainda informar que tudo pode acontecer pelos costumeiros – e sempre insondáveis – motivos de ordem técnica. Perdão, leitores.[12]

Na próxima mensagem vou tentar comentar as formas que a MPB encontrou para resistir ao rigor da Censura.


PS: Este post é uma versão adaptada das p. 146-150 do meu livro Sinal Fechado: a música popular sob censura (1937-45/1969-78, publicado no ano passado pela editora Apicuri, do Rio de Janeiro (www.apicuri.com.br).

[1] BAHIANA, Ana Maria. Nada será como antes: MPB nos anos 70. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980, p. 36. Sobre os discos de que fala Chico Buarque, o primeiro deles, com músicas de outros autores, foi realmente produzido: trata-se do LP Sinal Fechado (Philips, 6349122), de 1974, onde apenas a canção Acorda, amor, assinada com os pseudônimos de Leonel Paiva e Julinho de Adelaide, inventados por Chico, era dele. Quanto ao disco de retrospectiva de sua carreira, não chegou a ser realizado.
[2] Idem, p. 37.

[3] A capa foi proibida “pois os censores enxergaram um significado subversivo. Chico reagiu lançando o mesmo disco com capa totalmente branca e sem título. O seu Álbum branco, digamos assim. Manteve, entretanto, a ficha técnica da capa anterior, com os nomes dos fotógrafos (eram três), evidenciando, assim, mais uma vez, a ação da Censura. O curioso é que esta capa também acabou sendo recolhida, mas não por ordem da repressão. A decisão foi da própria gravadora. É que o disco simplesmente não vendeu, e o departamento comercial da Philips identificou na capa branca a causa do fracasso comercial. Semanas depois, o LP foi relançado com nova capa, mais simples, mais normal, apenas com uma foto do artista, de perfil, com o título Chico canta.” (MARTINS, Lula Branco. “Chico Buarque e a imagem do artista: como se deu a construção de um símbolo nacional”. JB online, 13/JUN/2004. Disponível em http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/cadernob/2004/06/12/jorcab20040612013.html. Acesso em 13/04/2008.)

[4] BAHIANA, Ana Maria. Nada será como antes…, cit., p. 37.

[5] Idem, p. 39.

[6] Ibidem.

[7] Idem, p. 40.

[8] Chico Britto só seria regravada em 1979, no LP Zumbido, e Um barato, meu sapato, provavelmente modificada, com novo nome, Meu novo sapato, e sem a parceria com Milton Nascimento, sairia no LP Memórias cantando, de 1976.

[9] “Um caso à parte”. Veja, 10/11/1971, p. 90.

[10] “Bem inspirado”. Veja, 25/07/1973, p. 98.

[11] SOUZA, Tárik de. “Música popular: interferências empresariais e outras”. Opinião, (78):23, 06/05/1974.

[12] Ibidem.

EM NOME DO PAI & DA PALAVRA – de jairo pereira

 

Em nome do pai, do filho e do espíritho santo da poesia. A palavra tem esse dom, de concentrar energias, q. nossos sentidos não conseguem identificar. O signo e suas sadias espirithações, como já disse na apresentação do meu livro-poema Espirith Opéia. A gente vai e volta, na mesma questão: a palavra será capaz de manter-se no tempo, como signo majoritário à poesia do futuro!? Não tenho dúvidas q. sim. Partícula mínima das linguagens escritas, a palavra, oferece a possibilidade do processo de conhecimento. Ciências, philosophias, éticas e estéticas, tornam-se acessíveis pelas linguagens escritas. Assim, o conhecer se dá diretamente pelo manuseio da língua e da palavra q. a compõe. Ninguém vai muito longe, guiando-se só por signos visuais, símbolos ou ideogramas, no processo do cognocer. Ainda mais por ícones expressos numa tela de computador.

Instrumento criado por Deus, a palavra, não poderia ser diferente, nas suas qualidades numinosas, ou seja: ser simples, direta, como água de fonte, e ao mesmo tempo ensejando complexas variações, na formação das mais diversas linguagens. E, não só isso: o exercício pleno e libertário das linguagens (compostas de palavras) opera o milagre da comunicação, numa primeira instância. Em segunda e terceira instância, nas mãos do artista, (poetas e escritores) A PALAVRA, alcança o estágio de elevação espirithual, também realizando outro grande milagre: a criação livre de author. A obra e seu lugar no espaço-tempo. A voz da linguagem, é nua e pura, em estado bruto. E, a linguagem da voz, após a intelecção (quando a linguagem não tem como escopo principal a comunicação direta) se traduz, na criação poético-ficcional. Entendo assim, sponte própria, nos meus parcos conhecimentos lingüísticos. Na realidade meus conhecimentos lingüísticos, são mais de poeta, manejador diuturno dos signos. A intimidade com a palavra é q. nos dá a compreensão do fenômeno e grandeza, dessa alma (palavra) aparentemente simples e impotente. Muitos governos ruíram, em face da palavra. O Poder da palavra, é maior de q. muitos poderes instituídos pelos homens. Não à toa, alguém contemplava reverencialmente, as inscrições nas pedras, no deserto. A palavra corroendo a pedra do tempo, e sempre mantida nas intempéries. Muitas vozes romperam fronteiras, trazendo na palavra novas ideologias. A palavra registra a vida, costumes, atos, fatos, idéias, projetos, realizações. A sã convicção do sujeito no dizer a palavra, vale mais q. muitos livros escritos, repousados nas grandes bibliotecas, como mortos em sarcófagos subterrâneos. Cristo, é exemplo paradigmático, quando se trata da força da palavra nos tempos. Gosto daquela belíssima sentença, ou duas conjugadas, na forma como aparecem: Eu vos deixo a paz. Eu lhes dou a minha paz. É de se perguntar aos sábios lingüistas, onde está, nos ditos acima, a voz da linguagem e a linguagem da voz?? Creio, comporem as presentes sentenças, conjugadas como estão, uma só linguagem e uma só voz. Portanto una, a linguagem da voz e a voz da linguagem. Prescindível, qualquer intelecção humana à emissão sígnica, acima expressa, o que retira de antemão a linguagem da voz. O que isso tudo tem a ver com poesia?! Pense o q. quiser pensar. Tem tudo e nada ao mesmo tempo. Primeiro porque a poesia tem o poder de instituir-se da mesma forma q. a palavra nathuralmente, num processo de simples fala, quando se trata de poetas sem a dita cultura civilizada. Segundo porque os deuses excêntricos da criação, com suas extravagâncias, de conduta, mentem muito e em prestidigitações inumeráveis, enganam o sujeito/criador. A relação sujeito x objeto x prismas de análise, tríade, originária de toda arte, fulgurações no céu, acidentes da língua, fala e consciência, são determinantes do produto final: a obra. O que era simples palavra no início, na abordagem primária dos objetos, torna-se com ação e esforço ou acidente dos sentidos, composto singular, complexo nos meios e fins, ao ponto de o emissor dos signos, esquecer q. aquilo tudo fora constituido pela simples palavra, q. encanta e ilumina. Não gosto dessa coisa, de ficar procurando símbolos arbitrários no computador, (embora já tenha feito isso) ou nos diversos outros meios eletrônicos, a fim de compor um poema, um conto, uma criação livre de author. Todos os conflitos étnicos, fatos philosóphicos, antropológicos, místicos e religiosos, estão contidos na simples palavra. O bom dia (esse simples cumprimento) diz mais q. muitas teses de lingüistas eméritos da USP e outras grandes universidades brasileiras. O q. interessa ao poeta é o q. interessa à poesia: milagre de luz na criação q. comunica e expande o signo/palavra. É muita tese, pra pouco resultado prático. O q. buscam eles, os “gênios” da lingüística?! Só deus sabe. E, o acúmulo inócuo de teses é imensurável. Nós os poetas, podemos prescindir da tese e atingir o nirvana com a simples palavra q. ilumina. Comer o pão pela manhã e servir-se da palavra no todo dia. A palavra como ente sagrado, inesgotável na sua tridimensionalidade de significação, combinações infinitas, etc. Um mundo, dois mundos, três mundos, multimundos se erigem com a simples palavra q. ilumina. Uma benção, indescritível esse poder, q. não é conquistado à força, não é vendido, nem leiloado pelos trogloditas tecnocratas. Q. a força de minhas palavras na esteira crística, pastoreiem belas imagens, a fim de compor minha poesia. Uma poesia de força de investimento nos atos, fatos, pensamentos. Os governos detém a palavra como instrumento de PODER, falseando-a, em verdade, ética e impondo estéticas de horror. A própria palavra nos parlamentos, vinga-se dos ordinários. Anjos poliglotas vigiam, o bom uso da língua e os desideratos singelos da santa palavra. Não se iluda. Tua sanha de poder e asco, nada pode contra os atributos do signo verbal. O poeta, procura extrair da palavra o seu poder sacrossanto, criônico, e de revelação da vida. Andar pelas veredas impostas pela palavra e descobrir os mundos novos, q. o imaginário propicia, é dos melhores prazeres terrenos. Minhas mulheres, idealizadas nas palavras. Minhas utopias, projeções de mundos ideais, relações cordiais e profícuas criações. A mãe sabe disso: a mãe provedora universal, a linguagem de minhas verdadeiras palavras. A poesia, nunca irá trair o desiderato da pobre e glorificada palavra. Aos monstros, a subversão deletéria dos signos. Como liberdade de expressão, ético-estética, o poeta também pode fazer isso, e o faz, mas num plano de criação livre, embalado pelas musas e os amplos horizontes de confirmação do talento, chuvas de facas e fumacear de gases tóxicos. O dramaturgo, o cineasta em seus roteiros, o ficcionista em sua prosa, idem nas especulações/projeções fantasiosas com os signos. A questão é manter o respeito e render-se aos milagres q. o signo/verbal nos oferece. Esta a nossa grande estrela, poetas, (a palavra) oferecida no céu da lira entusiasmada, como majoritário instrumento da criação. Todo signo, símbolo, ideograma, ícone e módulos de significações semióticos, fotópticos & afins, serão bem vindos ao processo da poesia do futuro. Mas jamais, podemos prescindir da palavra, língua e linguagens, no processo de conhecer e ser conhecido, decodificar e ser decodificado, megassêmico cosmos do dizer e ser dito. Há de se ter destreza com a palavra, sim. Destreza, interesse, razão, emoção, projeção, pontos importantes, aos compostos do alto espíritho. Minhas palavras, meus sopros, meus gritos, meus nervos, minha intelecção, minha construção de mundo, minha philosophia, minha práxis e ideologia. Quem é capaz, de descartar em sua vida o esplendor da palavra? Na lúdica jogada do viver e fazer poesia, a palavra é como santinha de igreja, de se carregar no bolso. Falta nos água, mas não palavra, falta nos o pão, a mesa posta, mas não palavra. Falta nos o sonho, mas não a palavra, mesmo sendo essa a Senhora esplendorosa do sonho. Um não-sonhar, é só quando a palavra solipsia, e o sujeito criador, se deixa levar pelo baixo espíritho. As negras presenças invisíveis, cerceiam, caçam e prendem a palavra. Um poeta, estar sempre em guarda, na liberdade plena e irrestrita da palavra. Ela a deusa do dizer, conhecer, compor, nos levará aos mundos da razão e des-razão, aos elevados/enlevados da alma dos tempos. Mesmo os loucos-loucos nos manicômios, rendem-se aos ruídos da alma (proto-palavras, palavras), a denotar seus estados de ser, sentir e estar no mundo. Os loucos e as palavras tem tudo em comum: vertentes de significados difusos, quando é preciso, monólogos longos ao caminho do nada, q. é perder-se e encontrar-se na própria palavra.    

A palavra vã, em suas vestes pobres, milagreira da imagens: identidade e contradição, silêncio e ruído, realidade e imaginação, todas antinomias, na sua órbita de entendimento. Mãe dos entes concretos e abstratos, a palavra, pisa todos os caminhos, navega todos os mares, e nunca se dá por vencida na sua missão de nos revelar a vida. O homem q. habita na palavra está em sintonia com o cosmos. É espelho da alma contrita do signo lêtrico, navega, configura e expande o dicionário universal. Resido de há tempos, nesse ente numinoso, bem coletivo, supercomum a todos os homens. Em seus canais de significação, interpreto a vida, crio meus poemas, ensaio, ficciono, produzo a estética e philosophia de minha grande verdade. Sou portanto, inquilino vitalício da palavra, e o aluguel q. pago, sopro vital, meu entusiasmo diante do objetário q. me cerca, reflete na minha nathureza (consciência e inconsciência) e é devolvido em texto pra esse mesmo mundo e realidade. Viva a vida, sempre renovada, no interior da palavra. E viva a poesia q. emana da sua lavra preciosa, mina inesgotável de um dos minérios mais caros, ao homem: o sublime.

 

hErMes lUcAs pErê

Autor de Anemoria (poesia),

Poie-açu (poesia) e Arroz, feijão e philosophia

(multiprosa), inéditos, a serem publicados

no ano 2010, por editora do Asteróide

ZIPHSK 333, da Órbita Savagé.

 

 

 

sem crédito. ilustração do site.

Rumorejando (Quanta gente da coluna social para a policial passando) – por josé zokner (juca)

PEQUENAS CONSTATAÇÕES, NA FALTA DE MAIORES.

 

Constatação I (De uma dúvida crucial. Não deste assim chamado escriba).

E como ponderava o obcecado em suas – dele – lucubrações: “Não vejo mal algum no que aconteceu entre o Bill Clinton com a Mônica Levinski. Será que alguma alma piedosa, caridosa e beatífica poderia me explicar o porquê de tanta celeuma?

Constatação II (Dúvida crucial via pseudo-haicai).

É um xereta sexual

Também

O voyeur virtual?

Constatação III

Rico fala com convicção; pobre, enrola.

Constatação IV

Quem não lê, não tem assunto. Consequentemente, ficando falando dos outros. E, evidentemente, em condição (a)normal de pressão e temperatura, só mal…

Constatação V (Dúvida crucial, via pseudo haicai).

Foi o jacaré que ‘seliconou’

A sua – dele – “poupança”

E se sentou?

Constatação VI (De diálogos matrimoniais).

Disse o marido recém casado pra mulher:

-“Um pedido teu pra mim é uma ordem”.

Respondeu a mulher:

-“Eu jamais faço pedido. Eu apenas dou uma ordem”.

-“Ah bom, quer dizer, ah ruim, quer dizer, ah bom mesmo”.

Constatação VII

A cera técnica no jogo de futebol pode fazer falta no final para quem estava todo o tempo fazendo. Mal comparado, às vezes, é o tipo do tiro (de meta ou de falta) que saiu pela culatra (chutado contra o próprio arco).

Constatação VIII

A gente pode não ter ganhado um Prêmio Nobel, mas tem o fato de sempre estar inovando no nosso sistema democrático, representado pelo Executivo, Legislativo e Judiciário. Principalmente nas incongruências…

Constatação IX

Em homenagem ao Dia Mundial do Rock’n’roll passei o dia escutando chorinho, mas com o pensamento respeitoso aos adeptos desse ritmo. Se houver um Dia Mundial ou, ao menos Brasileiro, do Chorinho vou passar o dia escutando os mesmos chorinhos para lembrar a minha homenagem ao Dia Mundial do Rock’n’roll…

Constatação X (Reminiscências…)

O engenheiro Karlos Rischbieter lançou no dia 1° de abril deste ano o livro Fragmentos de Memória, abordando, dentre outros, aspectos da sua vida profissional. Nele, há referência a sua participação na vinda da Volvo para Curitiba. O que me suscitou a lembrança de um fato, com relação à fábrica de ônibus e caminhões sueca que ocorreu quando eu era empregado do BADEP – Banco de Desenvolvimento do Paraná S. A. Vamos a ela, pois:

Lá pela década de 70 fui instado a atender dois funcionários, ligados à comunicação social da Volvo sueca, que chegaram, após passar por São Paulo, a Curitiba. Do aeroporto Afonso Pena levei-os para a Cidade Industrial de Curitiba, a fim de mostrar o terreno aonde iria se localizar a fábrica, como de fato veio a acontecer. Também para que vissem as indústrias já implantadas ou em fase de implantação. Na volta, passamos pela CEASA – Centrais de Abastecimento do Paraná S.A., o terminal abastecedor de alimentos, onde foi explanado como uma provável fonte supridora para o refeitório da empresa. Quando estávamos circulando pelo pátio da CEASA, os suecos se puseram a gritar: “Um caminhão Volvo! Um caminhão Volvo!” Saltaram do carro e começaram a tirar fotos de todos os ângulos possíveis e imagináveis de um caminhão Volvo, modelo da década de 50, que se encontrava estacionado. Copiaram o número do motor, do chassi, da placa, do certificado de propriedade. Abriram o capô, examinaram por cima e por baixo. Fizeram mil perguntas ao proprietário. Após solicitar que fosse posto em movimento, auscultaram o ritmo do motor. Enfim, fizeram um estardalhaço tal que até o guarda em serviço veio ver o que estava acontecendo. Também ele não deixou de levar sua lembrancinha da Volvo, àquela altura distribuída em profusão. Mormente ao dono do caminhão que já estava ficando tonto com toda aquela inesperada atenção.

Em certo momento, o proprietário – um catarinense dono de uma simplicidade e simpatia irradiantes – me chama ao lado e me pergunta:

-“Mas afinal, quem são esses caras aí?”

-“Esses ‘caras aí’ são funcionários da Volvo. Não sei se o senhor sabe, a Volvo vai implantar uma fábrica de caminhões em Curitiba”.

-“Ah é? E vai demorar muito?”, tornou a perguntar.

-“Não. Acho que daqui a dois anos deverá estar pronta”.

-“Então será que o senhor poderia perguntar se, quando os caminhões estiverem prontos, eles me dariam um novo de presente?”

E-mail: josezokner@rimasprimas.com.br

 

            a fenomenal barriga do “fenômeno.” sem crédito. ilustração do site.

A ARTE ESTÁ DE LUTO: MORRE DERCY GONÇALVES

Morre Dercy Gonçalves aos 101 anos

Ela estava internada no Hospital São Lucas, em Copacabana. A atriz era famosa por suas entrevistas irreverentes

A atriz Dercy Gonçalves, de 101 anos, morreu às 16h45 deste sábado (19) no Hospital São Lucas, em Copacabana, Zona Sul do Rio. Segundo a assessoria de imprensa do hospital, Dercy foi internada na madrugada deste sábado, e com um quadro de pneumonia comunitária grave, que evoluiu para uma sepse pulmonar e insuficiência respiratória.

Dercy Gonçaves era famosa por suas entrevistas irreverentes, pelo seu bom humor e pelo uso constante de palavras de baixo calão. É a maior expoente do teatro de improviso no Brasil.

“Ninguém é mais feliz”

Em entrevista em abril do ano passado, ela disse que ninguém era mais feliz do que ela. Sem um pingo de nostalgia, disse que o passado não interessava. “O ontem acabou. Não tenho mágoa de nada e nem saudade de nada. Vivo o hoje. Tenho alegria de viver, adoro a vida”.

Vaidosa, a comediante disse que já havia feito mais de dez plásticas. “Não quero ficar feia. Também já fui criança ou você pensa que fui velha a vida inteira?”, brincou. Depois de se curar de um câncer e sobreviver a uma tuberculose, ela se achava uma vencedora. “Tudo que passou, acabou. Eu sobrevivi.”

Dercy fugiu de casa aos 14 anos e dizia não se arrepender. Argumentava que aprendeu tudo o que sabe da melhor forma possível: vivendo. “Meti a cara, casei. Vivi 20 anos casada, com dignidade. Nada de ruim me aconteceu. Não me envergonho de nada.”

Mesmo depois de ter viajado por vários países, Dercy disse que não tinha lugar mais bonito que o Brasil. “Conheço mais da metade do mundo. Não tem país de mais calma e dignidade que o Brasil. Isso aqui é lindo”. Ela não se dizia religiosa, mas acreditava na natureza. “Não acredito em santo nenhum. Minha religião é a natureza. Deus é um apelido. Ele pra mim não existe. O que existe é a natureza. Deus é fantasma, mas a natureza é a verdade.”

 

 foto sem crédito. texto rpc.com

BRASILEIRO ESTÁ LENDO MAIS POESIA? por felipe lindoso

A recente divulgação da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”[1][i], em sua segunda edição (a primeira pesquisa do gênero foi feita em 2000) provocou uma surpresa – agradável, para todos os que comentaram o assunto: foi anunciado que a poesia estava como o quinto gênero de livros mais lidos no Brasil, com 28% dos leitores declarando sua preferência[1][ii].

Entre os autores brasileiros mais admirados pelos leitores apareciam Vinícius de Moraes (5º. lugar), Cecília Meireles (6º. lugar), Carlos Drummond de Andrade (7º. lugar), Mário Quintana (11º. lugar) e Manuel Bandeira (14º. lugar) e Castro Alves (21º. Lugar). Todos poetas do cânone. Em outros gêneros o primeiro lugar é uma surpresa: o autor mais admirado é Monteiro Lobato. Seria ótimo se não fosse o fato de Lobato não ter livros nas livrarias quando da pesquisa – a lembrança veio do programa de televisão e das histórias em quadrinho. Depois de Lobato seguem Paulo Coelho, Jorge Amado e Machado de Assis; depois dos três poetas já citados aparecem Érico Veríssimo, José de Alencar e o quadrinista, Maurício de Souza. O resto da lista pode ser visto no site do Instituto Prolivro, que organizou e financiou a pesquisa.

         É verdade que não aparecem poetas contemporâneos e vivos, mas sem dúvida os citados estão entre os melhores da poesia brasileira moderna e o condoreiro fica sempre bem.

A surpresa se manifestava também pelo fato da “subida” da poesia na preferência dos leitores ter sido significativa, não tanto na posição, mas sim na quantidade de leitores que declaravam essa preferência em relação à pesquisa do ano 2000. Naquela pesquisa, respondendo à pergunta se tinham “consultado, folheado ou lido nos últimos 12 meses”, a poesia aparecia em 6º. Lugar, com 19% dos entrevistados masculinos e 26% dos femininos respondendo afirmativamente.

         Quando perguntados (em 2000) sobre suas preferências por gênero de livro (resposta única, naquela ocasião), a poesia aparecia em 5º. lugar no geral, com um total de 4% dos leitores fazendo essa afirmação (1% dos leitores homens e 5% dos leitores mulheres).

 

Em 2008, a quantidade de entrevistados que declarou ter lido pelo menos um livro nos últimos três meses anteriores à pesquisa foi de 95,6 milhões de pessoas (55%) da população estudada. Mas, importante ressaltar, 47,4 milhões desses leitores são estudantes que  lêem livros indicados pelas escolas, incluindo aí os didáticos. Portanto, os leitores que declararam sua preferência por poesia como gênero (não exclusivo) seriam 26,323 milhões, dos quais a metade estudantes.

         Destaque-se também, para referência, que o universo da pesquisa de 2008 incluía toda a população acima de cinco anos de idade, independentemente do nível de escolaridade.

No ano 2000 a situação era diferente.

Em primeiro lugar o universo estudado era diferente: foi pesquisada a população acima de 14 anos de idade e com pelo menos três anos de escolarização.

Nesse universo a preferência por gêneros de leitura era assim:

 

 

 

Para matizar um pouco mais o quadro vejamos como os leitores do ano 2008 se dividiam por sexo.

 

A pesquisa do ano 2000 não tem uma tabela idêntica (e nunca esqueçamos que trabalha com universos diferentes). Entretanto apresenta outra tabela também interessante para ser vista. É a tabela formada pelas respostas dadas pelos entrevistados a partir da pergunta sobre se nos últimos doze meses tinham tido contato, folheado ou lido algum livro dos gêneros, com a possibilidade de respostas múltiplas. Ou seja, uma pergunta um pouco mais parecida com a feita em 2008 na primeira tabela.

 

Note-se que alguns gêneros, ainda que declarados como preferidos, não foram mencionados entre aqueles lidos ou consultados nos doze meses anteriores (técnicos, fisiologia, jurídico, saúde e sexo/eróticos)[1][iii].

         Antes de examinarmos o conjunto dos dados para tentar entender que leitores brasileiros gostam de poesia é importante acrescentar mais duas tabelas, referentes à pesquisa de 2008. Mas desta vez só transcrevemos as informações sobre os leitores de poesia.

Esses resultados estão tabulados por escolaridade, idade, nível de renda familiar e classe social[1][iv]

 

 

 

 

 

O que nos dizem esses números?

         A pesquisa de 2008 mostra que os leitores que declararam sua preferência pelo gênero poesia são em sua maioria menores de 14 anos e estudantes (48,3% do total). Pelo perfil de renda e socioeconômico é provável que a maioria deles esteja na escola pública. Esses leitores estavam fora da pesquisa de 2000.

         A tabela disponível que permite especular um pouco sobre as duas pesquisas é a que distribui os leitores de poesia por gênero (masculino e feminino). Em 2000 a proporção era de 19% dos leitores masculinos e 26% dos leitores femininos. Já em 2008 essa proporção era de 22% para os homens e 32% para as mulheres.

         No perfil demográfico da amostra de 2008 a população com menos de 14 anos de idade representa 20% do total. Entretanto, é nessa população que se concentram 48,3% dos leitores de poesia.

         O que os números nos mostram, portanto, é que a escola é a grande fonte dos leitores do gênero. Mais importante ainda é que esses jovens declaram que a poesia é seu gênero preferido de leitura.

         A partir desses números, entretanto, não se sustenta a idéia de que “os brasileiros” em geral estão lendo mais poesia. É impossível comparar com precisão os dados das pesquisas de 2000 e 2008 a respeito, mas as poucas porcentagens que vimos mostram que as diferenças para a população acima de 14 anos não são tão significativas quanto poderiam parecer.

         A persistência da preferência pela poesia na idade adulta desses jovens que estão com menos de 14 anos hoje é algo que só poderemos ver quando fizermos, no futuro, novas pesquisas do gênero Retratos da Leitura no Brasil.

         Até lá os poetas têm que trabalhar – muito além de escrever as poesias – para que essa preferência não esmoreça. Ao contrário, que se consolide. Para isso é importante que os poetas sigam o velho chamado de Castro Alves e se dirijam ao encontro de seus jovens leitores nas escolas, nas feiras de livros, em festivais de poesia.

         O animador é que existe essa receptividade para poesia. E lembrem-se que há trinta ou quarenta anos atrás os poetas lidos pelos adolescentes se mediam pelo padrão J. G. de Araújo Jorge. Acho que já melhorou, e pode melhorar ainda mais.

         É preciso ter esperança de que não apenas os índices de leitura de poesia cresçam, mas que aumentem os índices de leitura em geral, para todos os gêneros, em todas as idades e situações sócio-econômicas.

         Se os livros estiverem mais disponíveis para todos e se o nível educacional da população continuar melhorando é certo que isso acontecerá, e isso define nossa equação para que o Brasil seja um país de leitores:

         Mais livros disponíveis = mais bibliotecas + mais educação de qualidade = mais leitores.

 


[1][i] RETRATOS DA LEITURA NO BRASIL ver em http://www.prolivro.org.br

[1][ii] Resposta estimulada ao questionário da pesquisa em que o leitor podia escolher mais de uma opção.

[1][iii] Essas incongruências mostram uma das características de pesquisas de opinião. Os entrevistados respondem a todas as perguntas, mas quando as respostas puxam pela memória – no caso, lembranças de um ano – nem sempre elas correspondem entre si.

[1][iv] O critério de “classe social” é o da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa – ABEP

 

 

Felipe Lindoso é editor, antropólogo, e estudioso do mercado editorial e das políticas públicas para o livro no Brasil. Tem vários artigos publicados sobre o tema e o livro “O Brasil pode ser um pais de leitores?”. Trabalhou em instituições da área cultural e do livro, e hoje dá assessoria sobre a questão. Criou e desenvolve um projeto que, apoiado pela Lei Rouanet, instala Bancas-Bibliotecas por todo o país.

 

 

QUANDO MORRE UM POETA por pedro salgueiro

“Eu sou eu, íntegro e inviolável dentro de mim mesmo. (…) O que está no limiar e afogado no abismo.”

(José Alcides Pinto, 10/09/1923 — 03/06/0 oito)

 

Quando morre um poeta o mundo fica lastimavelmente mais pobre.

Terrivelmente mais triste. Inevitavelmente mais feio.

Às 11h15min de um sábado, dia 31 de maio de 2008, um imenso dragão, disfarçado de motocicleta, atacou impiedosamente o velho poeta, de 85 anos, José Alcides Pinto, em plena Rua General Sampaio, bem em frente ao palacete conhecido como Vila do Barão, de ladinho da Praça da Bandeira, nos arredores da Faculdade de Direito do Ceará.

O rapaz da banca de revista próxima disse que ele havia passado cedo com alguns envelopes na mão, “dessa vez não vinha com a moça loura”, completou; no envelope iam os dois livros recém publicados, mas ainda não lançados, que despacharia para alguns amigos do Rio e São Paulo. Voltava devagarinho (talvez ainda não recuperado do cobreiro que o maltratara meses atrás), esperou debaixo de uma árvore o trânsito acalmar, apressou o passo e… Parou no meio da pista ainda molhada pela garoa de fins de maio, quando finalmente avistou o pássaro enorme em vôo rasante, ainda deu pra notar o vermelho dos olhos da fera, as teias de aranhas das asas e o barro seco das garras, que era com certeza lá das coroas do rio Acaraú.

O poeta saiu quebrado numa ambulância, o motoqueiro foi manquitolando atrás; a moto esquecida na sarjeta. 40 minutos depois sua filha passa tranqüilamente na mesma calçada; o rapaz da banca grita para avisar do acidente, ela apressa o passo fugindo do enxerimento. Quem deve ter lhe contado a triste notícia?

No dia 02 de junho a alma, também magérrima, do nosso saudoso poeta maldito foi, na frente, esperar pelo corpo que já ia em cortejo rumo a São Francisco do Estreito, Santana do Acaraú, Fazenda “Terras do Dragão”, comboiado por Sérgio Braga, Lustosa da Costa, Audifax, José Teles, Carlos Augusto Viana e outros amigos do peito. Deu tempo ainda de pôr os últimos números em sua lápide, que havia sido meticulosamente preparada por ele anos antes. Não havia tido coragem de adivinhar o último algarismo. Reencontrava enfim seu pai, sua terra, sua paz…

 

SOB O SIGNO DA POLÊMICA

Na juventude freqüentava a casa de Otacílio de Azevedo, convivendo com os filhos do pintor e poeta, Rubens, Miguel Ângelo (Nirez) e Rafael Sânzio; já tinha um jeito despojado e falaz.

Sua alcunha entre os estudantes era “Alma de Gato”, talvez pela magreza exagerada.

Sua ida para o Rio, sua volta à terrinha, sua saída do emprego na Universidade Federal do Ceará, seu uso de um traje franciscano, sua adesão ao nascente concretismo, seus amores e desamores, enfim, seu comportamento de uma vida inteira foi marcado pela polêmica.

Enquanto os outros grandes poetas de sua geração vestiram o paletó e(ou) a camisa da oficialidade e(ou) o da reclusão, ele arriscou a jaqueta surrada da marginalidade e da maldição; enquanto uns cavavam prêmios e condecorações e outros se fechavam mais e mais em seus casulos, ele corria calçadas, mexendo com as moças, instigando jovens poetas sujos e cabeludos, espalhando boatos difamatórios sobre si mesmo. Criou uma imagem tão forte e polêmica sobre ele próprio, que às vezes ele mesmo esquecia quem realmente era: um sujeito frágil e religioso, bom pai, que ia à missa toda semana e rezava antes de dormir. E tinha uma das gargalhadas mais sinceras que conheci.

Sempre estava cercado (e ajudado) por uma leva de boas almas, mas também por uma corja de parasitas, cujas benesses (e elogios) ele sabia manipular com maestria; todos admiradores de seus poemas e de seu comportamento arrojado. Sobre os de boa-fé quase sempre despejava injúrias, não raro alguns de seus melhores amigos e colaboradores saíram magoados de seu convívio; em cima dos oportunistas jogava iscas, elogios falsos e prefácios não escritos. Sempre esteve acima do bem e, principalmente, do mal; todos debitavam suas ações polêmicas ao seu gênio literário. Os ofendidos perdoavam sempre; os canalhas engordavam à sombra de suas asas negras.

Estava acima do bem e do mal: tanto fazia engendrar um poema genial (e pendurá-lo no arame do varal) como caluniar um amigo que tanto o ajudara. Todos o perdoavam com um rizinho de escárnio.

Estava acima do bem e do mal.

 

UNS ALTOS MUITO ALTOS, UNS BAIXOS…

Ao amigo que me dizia que ele tinha altos e baixos, eu retrucava: “— E qual o poeta que não os têm!?”. Depois lembrava que para cada poema fraco dedicado a Lady Diana ou Chico Mendes (ou algumas rimas escatológicas) ele tinha no mínimo uma dúzia de versos endiabrados.

Precisaríamos de alguém com muito talento, coragem e ética para fazer um inventário de sua vida e obra; alguém com isenção estética e moral para mapear suas forças e fraquezas.

Talvez com a devida distância do corpo físico.

 

A CAVERNA DO DRAGÃO

Na minha “Crônica da Gentilândia”, do livro Fortaleza Voadora, digo: “…e o velho dragão Alcides Pinto sobrevoando as copas das árvores, com suas asas negras — quando ele se cansa de resmungar sozinho em sua caverna e sai para assustar os últimos bêbados da Gentilândia”.

À sua casa corriam as mais diversas faunas literárias; escritores de várias idades, ideologias e estéticas, principalmente os mais jovens, que ficavam embevecidos com as atitudes despojadas, estridentes e loquazes do velho poeta.

Sua residência mais famosa foi a da Rua Rodrigues Junior, casa grande, sempre muito freqüentada; ainda hoje muitos contas histórias e causos nem sempre verídicos, muitas fantasias e traquinagens ficaram no anedotário boêmio-intelectual dessa nossa loirinha desmiolada pelo sol, tão pródiga em tipos populares e bodes YoYôs, literários ou não.

Já o conheci na Vila Cordeiro, na Av. Tristão Gonçalves, bem próximo à vilinha em que ainda hoje mora minha mãe. Habitava uma casa conjugada, numa pobreza franciscana mas digna, com sua querida filha Jamaica. Também conheci seu filho Antonin Artaud, um rapaz magro como o pai, porém de temperamento calmo, com uma timidez oposta à tagarelice do seu progenitor.

Convivi por um bom tempo com o poeta (era meados dos anos 1990), através dele e de suas muitas visitas fiquei sabendo dos subterrâneos de nossa literatura, tão pródiga em fofocas e vaidades. Ali tive um curso intensivo de como transitar, e sair sem arranhões (embora eu não tenha tirado boas notas em algumas matérias) da famigerada guerrilha literárias e suas disputas por farelos e migalhas.

Um dia me pediu para que organizasse seus contos, que estavam dispersos em um livro, Editor de Insônias (1965), e uma miscelânea, Reflexões, terror, sobrenatural (1984), além de alguns inéditos datilografados em folhar amarelecidas. Em 1997, o Dr. Martins Filho publica essa edição de seus contos completos, Editor de Insônias e outros contos, pela Coleção Alagadiço Novo.

Depois soube que ele andou criticando umas palavras que inseri como “Nota do Organizador”, ou sugerindo que eu estava querendo aparecer às suas custas. Nunca passei recibo nem tomei satisfação, apenas me afastei um pouco de seu convívio. Depois disso ele sempre repetia para mim ou para alguns amigos: “Se não fosse você, o livro não teria saído”, no que eu sempre respondia: “Pois não é, poeta. Quem sabe se um dia a gente não tira uma 2ª edição, não é!?”. No seu último livro tem um poema dedicado a mim (quem sabe ainda resquício de uma consciência pesada) e a Nilto Maciel, a quem levei, depois da volta definitiva deste ao Ceará, à sua casa e anunciei alto da porta:

“— Poeta, tô aqui com o maior contista do Ceará!”, no que ele perguntou lá de dentro: “— Quem, poeta, o Airton Monte?”, acabando de vestir as calças; caímos na gargalhada.

A última vez que o vi ele estava saindo da sua vilinha com a Jamaica, cumprimentei-o e ele me perguntou onde era o “Buraco da Gia”, pois estava querendo arranjar uma empregada e lhe deram um endereço, falei que era na Princesa Isabel, vizinho à minha casa, e fomos caminhando devagar. Quando chegou perto do beco ele parou, receoso, e disse que só entraria lá se eu fosse com eles, depois puxou uma pequena faca de mesa, dessas de cortar bife, e disse que estava preparado (mas que era bom eu entrar com ele, disse assombrado). Olhei para Jamaica, que também estava rindo, e disse que não tivesse receio que ali só morava gente de bem, e me despedi alegando ainda ir pegar minha filhinha no colégio.

Não tive coragem de ir vê-lo em seu velório na Academia Cearense de Letras. Queria ficar com a lembrança dele vivo, alegre e brincalhão.

E parece que estou vendo aquele sujeito magro (“tão magro que parecia estar sempre de perfil”, como bem disse, em seu A Guerra do Fim do Mundo, Vargas Llosa), com sua gargalhada sempre sincera, dizendo — e apontando pra si mesmo — para os muitos anjinhos (ou demoninhos, tanto faz) que lhe cercam em algazarra:

“— Agora quem manda aqui é esse poeta ‘Viadão Pós-Moderno’!”

 

“Eu sou aquele que come as flores do aniversário.”

(José Alcides Pinto, 10/09/1923 — 03/06/2008)

 

 

 

Pedro Salgueiro tem dois filhos, dez irmãos e derrubou algumas árvores para fazer diversos livros. Faz uns continhos que, de tão curtos, estão quase desaparecendo. Tem uma mãe que faz o melhor capote da cidade. Sente muita saudade de um pai que era sapateiro de chinelos e idéias.