Arquivos Diários: 21 março, 2008

QUANTO CUSTA MORRER? por márcio salgues

A morte pode ser boa – desde que não seja a nossa, claro! Afinal, no capitalismo, mesmo a morte tem uma tabela de preços e, com algum investimento, pode-se obter algum lucro com ela. O descanso eterno de um finado pode variar de 50 reais, no caso dos indigentes bancados pelo serviço público a 120 mil dólares, no caso de um serviço mais sofisticado de congelamento, por exemplo. Vamos por partes:

No congelamento, chamado de criogenia, o defunto tem todo o líquido do corpo drenado e substituído por um outro líquido não congelante, sendo depois imerso em nitrogênio líquido, onde permanecerá a espera de uma “cura” para a morte – que a ciência obviamente não descobrirá -, e o sujeito possa ser descongelado, para descobrir que o mundo continua a mesma droga e cometa suicídio. Li recentemente que, nos Estados Unidos, uma família visita regularmente um parente congelado, inclusive comemorando seu aniversário com bolo e velinhas. Só não dá para desejar o “… muitos anos de vida”.

Outra empresa desenvolveu um processo para a confecção de diamantes a partir das cinzas do ente querido, que passa por uma espécie de purificação, a uma temperatura altíssima, até que se obtenha o diamante sintético.

Para os aficionados em internet, uma funerária no Peru lançou um cemitério virtual. Depois de “sepultado”, pode-se encontrar uma biografia do defunto, ver fotos, etc. Há até sala de bate-papo (deve ser uma sala de bate-papo assombrada). Custa 120 dólares para que a alma do finado vague em paz pelo ciberespaço por três anos.

Há também uma galeria de arte que oferece quadros e esculturas confeccionados também com as cinzas do falecido e, finalmente uma empresa que propõe depositar essas cinzas em uma pequena esfera de cimento e depositá-la no fundo mar. A intenção é criar uma mórbida espécie de coral artificial à medida que se acumulem as tais esferas. São as maravilhas que o mundo moderno nos proporciona. Não sei como os homens conseguiram viver, ou melhor, morrer durante tantos séculos simplesmente usando os métodos tradicionais. Se você for curioso o suficiente, encontrará tudo isso na internet, com fotos e calendários dos eventos agendados.

É obvio que esses serviços não são oferecidos no Brasil. A classe média ainda pode optar pelos serviços dos crematórios. Mas, para os mais pobres, que cedem ao chamado do crime organizado, resta a “desova” num matagal ou à beira de uma estrada qualquer. Também já é possível dispor dos serviços de algumas funerárias que oferecem “Planos-Caixão”. Os associados destes planos ainda têm direito a desconto em salão de cabeleireiro, lojas, restaurantes, revendedoras de gás, auto-escola, etc. Mas o que se oferece ao povão mesmo é o bom e velho paletó de madeira, o que pode não durar muito tempo dadas às implicações ecológicas.

Há alguns meses li em O Diário de São Paulo uma matéria falando sobre a aprovação, pela Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Estado, de um Projeto de Lei que proíbe o uso de madeira na confecção de caixões. A explicação, de acordo com o projeto, é que a confecção de uma única urna requer a derrubada de três árvores, destruindo 12 metros quadrados de floresta. A multa pelo descumprimento da lei, de acordo com o projeto, é de 1.000 UFIRs. Como a notícia não dava mais detalhes, suponho que se prevê então que os defuntos passem a ser sepultados aos montes, em grandes valas coletivas, como os nazistas faziam com os judeus na segunda guerra. Aliás, isso que aliviaria o problema da superlotação dos cemitérios nos grandes centros urbanos, que, do que jeito que anda, logo vão se tornar em imensas favelas funerárias. Quem sabe o Stedille organize um Movimento dos Mortos Sem Terra (MMST), incentivando a invasão dos cemitérios privados ocupados pela burguesia, com grandes áreas improdutivas.

O que me incomoda mesmo é que tudo isso reforça a impressão de que, mesmo no além-túmulo, existe uma enorme desigualdade social que só será resolvida quando nosso presidente passar desta para uma melhor e criar um programa “Inferno Zero”, que dará um basta no abismo que separa o céu do inferno e o paraíso seja para todos – com três refeições diárias, claro. Mas é importante que antes disso ele faça uma reforma ministerial, já que até o “Fome Zero” continua no zero. E o atual ministério anda como uma bando de baratas tontas, salvo as exceções. Porque se for assim, até no mundo dos mortos as almas vão se revoltar e começar a gritar “Fora Lula!”.

Mas, sábio como é, ele apaziguará os ânimos com alguma parábola do tipo: “Companheiros, primeiro vamos colocar a casa em ordem. Os meus antecessores transformaram isso num inferno. E o Inferno é como o Brasil: é um sofrimento eterno para o povo. Mas aqui tem muito mais vantagens: não tem FMI, não tem ALCA, não tem gente passando fome, o índice de criminalidade é zero, ninguém morre em acidentes rodoviários e não adianta ser corrupto, pois não existe dinheiro. Além do mais o regime aqui é socialista. Todo mundo come o mesmo pão que o chefe amassou”.

Bom, mas enquanto isso não acontece e como sou precavido, já penso em financiar o meu cantinho em suaves parcelas pagas em 120 meses.

Raul Seixas tinha razão: “… Tem que pagar pra nascer; tem que pagar pra viver; tem que pagar pra morrer… tá tudo errado, tá tudo errado…”.

MEU PAI ESTÁ com ALZHEIMER e agora? por roberto goldkorn

Meu pai está com Alzheimer.
Logo ele, que durante toda vida se dizia “o Infalível”.
Logo ele, que um dia, ao tentar me ensinar matemática, disse que as minhas orelhas eram tão grandes que batiam no teto.
Logo ele que repetiu, ao longo desses 54 anos de convivência, o nome do músculo do pescoço que aprendeu quando tinha treze anos e que nunca mais esqueceu: esternocleidomastóideo.

O diagnóstico médico ainda não é conclusivo, mas, para mim, basta saber que ele esquece o meu nome, mal anda, toma líquidos de canudinho, não consegue terminar uma frase, nem controla mais suas funções fisiológicas, e tem os famosos delírios paranóicos comuns nas demências tipo Alzheimer.
Aliás, fico até mais tranqüilo diante do “eu não sei ao certo” dos médicos;
prefiro isso ao “estou absolutamente certo de que…”, frase que me dá arrepios.
Há trinta anos, não ouvia sequer uma menção a essa doença maldita.
Hoje, precisaria ter o triplo de dedos nas mãos para contar os casos relatados por amigos e clientes em suas famílias.
O que está acontecendo?
Estamos diante de um surto de Alzheimer?
Finalmente nossos hábitos de vida “moderna” estão enviando a conta?
O que os pesquisadores sabem de verdade sobre a doença?
Qual é o lado oculto dessa manifestação tão dolorosa?

Lendo o material disponível, chega-se a uma conclusão: essa é uma doença extremamente complexa, camaleônica, de muitas faces e ainda carregada de mistérios.
Sabe-se, por exemplo, que há um componente genético.
Por outro lado, o Dr. William Grant fez uma pesquisa que complicou um pouco as coisas.
Ele comparou a incidência da doença em descendentes de japoneses e de africanos que vivem nos EUA, e com japoneses e nigerianos que ainda vivem em seus respectivos países. Ele encontrou uma incidência da doença da ordem de 4,1 para os descendentes de japoneses que vivem na América, contra apenas 1,8 de japoneses do Japão.
Os afro-americanos vão mais longe: 6,2 desenvolvem a doença, enquanto apenas 1,4 dos nigerianos são atingidos por ela.
Hábitos alimentares?
Stress das pressões do Primeiro Mundo?
Mas o Japão não é Primeiro Mundo?
Não tem stress?
A alimentação parece ser sem dúvida um elo nessa corrente, e mais ainda o alumínio. Segundo algumas pesquisas, a incidência de alumínio encontrada nos cérebros de portadores da doença é assustadoramente alta.
Pesquisas feitas na Austrália e em alguns países da Europa mostraram que, em ratos alimentados com uma dieta rica, o sulfato de alumínio (comumente colocado na água potável para matar bactérias) danificou os cérebros dos roedores de forma muito similar à causada nos humanos pelo Alzheimer.
Pesquisas do Dr. Joseph Sobel, da Universidade da Califórnia do Sul, mostraram que a incidência da doença é três vezes maior em pessoas expostas à radiação elétrica (trabalhadores que ficavam próximos a redes de alta tensão ou a máquinas elétricas).
Mas não param por aí as pesquisas, que apontam a arma em todas as direções.
Porém, a que mais me chocou e me motivou a fazer minhas próprias elucubrações foi o estudo das freiras.
Esse estudo, citado no livro A Saúde do Cérebro, do Dr. Robert Goldman, Ed. Campus foi feito pelo Dr. Snowdon, da Universidade de Kentucky. Eles estudaram 700 freiras do convento de Notre Dame. Na verdade, eles leram e analisaram as redações autobiográficas que cada freira era obrigada a escrever logo ao entrar na ordem.
Isso ocorria quando elas tinham em média 20 anos. Essas freiras (um dos grupos mais homogêneos possíveis, o que reduz muito as variáveis que deveriam ser controladas) foram examinadas regularmente e seus cérebros investigados após suas mortes.
O que se constatou foi surpreendente. As que melhor se saíram nos testes cognitivos e nas redações – em termos de clareza de raciocínio, objetividade vocabulário, capacidade de expressar suas idéias, mesmo apresentando os acidentes neurológicos típicos do Alzheimer (placas e massas fibrosas de tecido morto) não desenvolveram a demência característica da doença.
Ou seja, elas tinham as mesmas seqüelas que as outras freiras com Alzheimer diagnosticado (e que tiveram baixos escores em testes cognitivos e na redação), mas não os sintomas clássicos, como os do meu pai.
A minha interpretação de tudo isso: não temos muito como controlar todos os fatores de risco apontados como os vilões – alimentação, pressão alta, contaminação ambiental, stress, e a genética (por enquanto). Mas podemos colocar o nosso cérebro para trabalhar.

COMO?
Lendo muito, escrevendo, buscando a clareza das idéias, criando novos circuitos neurais que venham a substituir os afetados pela idade e pela vida “bandida”.
Meu conselho: é para vocês não serem infalíveis como o meu pobre pai; não cheguem ao topo nunca, pois dali, só há um caminho: descer.
Inventem novos desafios, façam palavras cruzadas, forcem a memória, não só com drogas (não nego a sua eficácia, principalmente as nootrópicas), mas correndo atrás dos vazios e lapsos.
Eu não sossego enquanto não lembro do nome de algum velho conhecido, ou de uma localidade onde estive há trinta anos. Leiam e se empenhem em entender o que está escrito, e aprendam outra língua, mesmo aos sessenta anos.
Não existem estudos provando que o Alzheimer é a moléstia preferida dos arrogantes, autoritários e auto-suficientes, mas a minha experiência mostra que pode haver alguma coisa nesse mato
Coloquem a palavra FELICIDADE no topo da sua lista de prioridades: 7 de cada 10 doentes nunca ligaram para essas “bobagens” e viveram vidas medíocres e infelizes – muitos nem mesmo tinham consciência disso.
Mantenha-se interessado no mundo, nas pessoas, no futuro. Invente novas receitas, experimente (não gosta de ir para a cozinha? Hum… Preocupante.)
Lute, lute sempre, por uma causa, por um ideal, pela felicidade. Parodiando Maiakovski, que disse “melhor morrer de vodca do que de tédio”, eu digo: melhor morrer lutando o bom combate do que ter a personalidade roubada pelo Alzheimer.

Dicas para escapar do Alzheimer:

Uma descoberta dentro da Neurociência vem revelar que o cérebro mantém a capacidade extraordinária de crescer e mudar o padrão de suas conexões. Os autores desta descoberta, Lawrence Katz e Manning Rubin (2000), revelam que NEURÓBICA, a “aeróbica dos neurônios”, é uma nova forma de exercício cerebral projetada para manter o cérebro ágil e saudável, criando novos e diferentes padrões de atividades dos neurônios em seu cérebro.

Cerca de 80% do nosso dia-a-dia é ocupado por rotinas que, apesar de terem a vantagem de reduzir o esforço intelectual, escondem um efeito perverso; limitam o cérebro.
Para contrariar essa tendência, é necessário praticar exercícios “cerebrais” que fazem as pessoas pensarem somente no que estão fazendo, concentrando-se na tarefa. O desafio da NEURÓBICA é fazer tudo aquilo que contraria as rotinas, obrigando o cérebro a um trabalho adicional. Tente fazer um teste:
– use o relógio de pulso no braço direito;
– escove os dentes com a mão contrária da de costume;
– ande pela casa de trás para frente; (vi na China o pessoal treinando isso num parque);
– vista-se de olhos fechados;
– estimule o paladar, coma coisas diferentes;
– veja fotos de cabeça para baixo;
– veja as horas num espelho;
– faça um novo caminho para ir ao trabalho.

A proposta é mudar o comportamento rotineiro.
Tente, faça alguma coisa diferente com seu outro lado e estimule o seu cérebro.
Vale a pena tentar!
Que tal começar a praticar agora, trocando o mouse de lado?

o autor é psicólogo e escritor.

MENSAGEM SUBLIMINAR NA MÚSICA, backward masking – por flávio calazans

 Palíndromos para patetas?

Muitas vezes sou procurado para falar sobre entidades metafísicas ou mitológicas que supostamente estariam inserindo subliminares na música popular, são os famigerados Subliminares de Satã.

Como cansei de repetir sempre a mesma coisa, vou explicar este mistério pela última vez.

Tudo exige conhecer um pouquinho de História para saber como tudo começou, as origens do problema.

Após a reforma, alguns protestantes na Inglaterra (agora livres da ameaça do Santo-Ofício, Inquisição) passaram a fazer orgias sexuais em ruínas de igrejas católicas, deitando mulheres nuas na mesa do altar e rezando uma tal de “missa negra”; como não sabiam latim (língua na qual os padres católicos oficiavam e oravam) então, pra dar um toque teatral e misterioso de língua estrangeira, os sarristas diziam frases ao contrário brincando com a igreja católica de modo covarde, vilipendiando símbolo religioso (como o pastor que chutou a santa na televisão Record).

E estes ingleses com suas brincadeiras de mau gosto ficavam repetindo blasfêmias, por exemplo: “ Pai Nosso que estás no Céu” seria pronunciado “Uéc on sátse euq osson iap”, que parece mesmo outra língua e impressiona os incautos e tolos que acreditavam ser mesmo um pacto com diabos chifrudos cheirando a enxofre.

Este “samba do crioulo doido” dava um ar de língua desconhecida, profana, diabólica, e com uma música sensual e mulheres nuas, regado a muito vinho e sexo, liberava as culpas dos ingleses reprimidos sexualmente e impressionava os ignorantes que não sabiam do truque de falar invertendo.

Nas histórias em quadrinhos do Batman tem até uma feiticeira inglesinha de meia arrastão e corpete justo, bem sensual, a Zatana, que diz feitiços somente falando as frases ao contrário, zombando desta palhaçada dos ingleses!

Como os adolescentes são muito impressionáveis, e tem uma fase na qual todo adolescente fica revoltado e questiona os valores religiosos dos pais; sabendo desta fase da Psicologia do Adolescente, algumas bandas de Rock da mesma Inglaterra passaram a colocar figuras satanizadas nas capas dos discos de vinil nos anos de 1970, algumas até usando pentagramas invertidos, bruxas, morcegos, e até com nomes de aparelhos de tortura (fase anal-sádica) como Iron Maiden ou missas negras, algo como Black Sabbath ou outros nomes do gênero…

Muito espertas, as produtoras destas bandas passaram a colocar frases invertidas como as das antigas missas negras da mesma Inglaterra gravadas ao contrário nos sulcos dos velhos disquinhos de vinil, estes discos de vinil eram umas bolachas de um tipo de plástico preto duro muito anteriores aos cd’s, que ainda podem ser encontrados em sebos e museus.

Ora, após inserir tais frases ao contrário e prensar os tais discos de vinil, as gravadoras mandavam cartas aos fanzines espalhando o boato que o vocalista da banda tinha morrido de overdose ou num acidente de carro e feito um “pacto de Fausto” com o próprio Diabo em pessoa lá no Inferno, e que voltara a vida com a missão de espalhar estas frases seduzindo a alma dos jovens.. ..risível, teatral, ridículo, algo que só uma mentalidade infantil e reprimida de um estudante escolar da Inglaterra nos anos 1970 poderia acreditar! Os bobinhos adolescentes então ficavam horas girando os discos ao contrário…e ouvindo tais frases, reunindo os amiguinhos espinhudos com acne para ouvir tais frases e fumando escondidos, bebendo cerveja, e outros “horrores pecaminosos” para os pais puritanos ingleses de 1970!

Acontece que os discos tinham sulcos, como degraus, e uma agulha de diamante da vitrolinha ia batendo nestes sulcos enquanto gira o disco…só que virando ao contrário, a agulha bate direto na quina destes degraus-sulcos e isto vai quebrando, os engenheiros de som chamam de ABRASIVO, desgaste, este resultado..e vai lixando os sulcos, o que estraga o disco bem rapidinho, o som vai ficando chiado, apagado, rouco…o que obriga os tolinhos (otários) a comprar outro disco pra substituir o estragado.

Na verdade, então esta história de frases invertidas sempre foi uma estratégia de marketing bem maldosa, sem vergonha, um desrespeito ao consumidor, tirando proveito da ignorância e infantilidade dos crédulos menininhos ingleses.

E deu tão certo que duplicou as vendas, em alguns casos até triplicou!

Foi aí que aconteceu o inesperado; na Inglaterra e principalmente nos EUA havia nos anos 1970 algumas seitas neo-pentecostais supersticiosas cheias de operários migrantes ignorantes oriundos do campo (caipiras), cujos dízimos vinham de apavorar ameaçando os indefesos crentes com o fogo do inferno e com diabos malvados, com os oportunistas prédios das igrejas sempre construídos em favelas e bairros de pobreza, miséria e ignorância da periferia de Londres e depois de Nova York… talvez já chegando até a São Paulo em pleno Século XXI.

Ora, para estes pastores oportunistas esta estratégia de marketing “caiu do céu”, pois tinham mais uma arma para apavorar os ignorantes e extorquir dinheiro-dízimos dos pobres coitados indefesos e crédulos que confiavam nos pastores; agora todas as músicas tinham frases demoníacas e só doando muito dinheiro podiam ficar exorcizados e livres do mal ! Estes aproveitadores faziam seções públicas com suas vitrolinhas portáteis virando os discos de vinil ao contrário… Mas logo acabaram as músicas de heavy metal que tinham mesmo estas frases, o modismo passou, perdeu a graça para os consumidores adolescentes, acabou a novidade e as gravadoras pararam e partiram para estratégias mais criativas.

Como alguns pastores usam consultoria de psicólogos, logo descobriram um modo de continuar enganando os fiéis; pois existe um mecanismo que a Psicologia chama de projeção; a mente humana quer ver coisas conhecidas e seguras, familiares, e força ordem em padrões caóticos…um exemplo é quando estamos olhando as nuvens no céu, e alguém diz – “Olha só, aquela parece um elefantinho, tá vendo? Como não! Olha ali, mais para cá é a tromba, e ali é a perna, viu agora?”

Assim a imagem contagia a percepção, é uma projeção que foi imposta por sugestão, como um tipo de hipnose coletiva, de massas…

A Projeção é tão antiga, mas tão antiga que já era conhecida no Renascimento italiano, o Leonardo da Vinci, Pintor daquele famoso quadro, o retrato da Mona Lisa. No livro escrito por ele, “Tratado da Pintura”, da Vinci explica a seus alunos que prestem atenção nas manchas da parede do quarto antes de dormir e projetem figuras, cavalos, rostos e castelos para que a cada dia possam forçar a ver coisas diferentes na mesma mancha e ir desenhando tudo para treinar a criatividade. Ora, esta projeção acontece também nos sons, se você tocar uma música de trás para a frente e disser que tem uma frase ali, vai predispondo e sugestionando as pessoas, induzindo-as a projetar no som a frase, e se repetir diversas vezes vai convencendo a pessoa; do mesmo modo que o elefantinho nas nuvens do céu. Este processo é chamado de projeção pela Psicologia, e ao induzir outras pessoas a ver-ouvir o mesmo delírio o que ocorre é sugestão. Se tocar então num aspecto sombra, num medo reprimido, inconsciente, um personagem como o diabo, pode ter até histeria de massas; uma atividade irresponsável e perigosa que pode ocasionar linchamentos ou vandalismo, quebra-quebra! Sem falar em até mesmo um surto psicótico numa pessoa predisposta!

Ouvir estas ditas músicas invertidas é um enorme risco à saúde mental e uma irresponsabilidade destes pastores sedentos de dízimos e sequiosos por riquezas e bens materiais a custa de criar traumas e fobias talvez irreversíveis nas suas vítimas incautas.

Com isto, como toda e qualquer música sempre pode ter tudo o que o indutor-pastor desejar, desde culto ao diabo até ordens de suicídio, uso de drogas, homossexualismo, assassinato, adultério, etc. Todo criminoso/pecador poderia dizer que ouviu ou viu uma “mensagem ao contrário” e que foi induzido ao crime por Satã; ou seja, foi forçado, não estava em pleno uso de suas faculdades mentais, não podendo ser responsabilizado pelo crime, devendo ser solto imediatamente sem culpa nenhuma! Segundo a lógica destas seitas neo-pentecostais você pode assassinar todo mundo que desejar, alegar que foi “subliminado”, como eles dizem, que seu livre-arbítrio foi anulado e minado pela frase invertida (que eles erroneamente ou maldosamente chamam de “subliminar” mesmo sabendo que nada tem a ver com a tecnologia subliminar de vender produtos ou serviços que a propaganda usa), e o criminoso poderia então exigir ser exorcizado e posto em liberdade, para depois matar outra pessoa, estuprar, roubar e sempre dizer que ouviu uma música no rádio ou saindo de uma janela quando passava na rua, livre de conseqüências e de responsabilidades…acho que isto incluiria até mesmo, segundo esta mesma lógica, trucidar até seu próprio pastor. Sempre “subliminado” pelo Satã. Os tais maus pastores ingleses chegaram até a batizar estas frases de uma tal de ‘Backward Masking’.

Além de tudo isto, resta explicar tecnicamente que a agulha de diamante da vitrolinha não toca nunca naquela parte de baixo dos sulcos do disco de vinil, não reproduz o som, apenas o faz quando virando o disco ao contrário. Só então surgem as tais frases ao contrário como naquelas brincadeiras antigas das tais missas negras inglesas!!

As frases nunca foram tocadas nem ouvidas. Caso você grave do modo normal noutra fita a música que tem mesmo frase ao contrário, e a toque ao contrário, tal frase nem apareceria.

Ora, se propositalmente, intencionalmente, consciente e deliberadamente rodamos o disco ao contrário, a mensagem não é subliminar, não tem nada de subliminar na medida em que a mensagem é emitida de forma clara, sem subterfúgios? Ou não sabem o que é subliminar ou desejam induzir em erro aos incautos!

Um menino de família crente, adolescente na fase de revoltado, poderia então agora comprar tranqüilamente cd’s de bandas metaleiras com a desculpa de estudar subliminar e pode até mostrar os trechos para os pais, ainda vai inflar o ego ficando com fama de estudioso e defensor da fé. Esta ai a estratégia de marketing: os pais deixam e até incentivam a compra destes discos de vinil (hoje cd’s). Um golpe excelente, muito bem planejado, conhecendo o comprador inglês pateta e panaca; um golpe desrespeitoso, sem escrúpulos nem ética!

Na verdade a tal ‘Backward Masking’ é apenas e tão somente só um criptocódigo, uma mensagem escondida, como um acróstico, aqueles poemas onde a primeira letra de cada estrofe-linha forma o nome da namorada, mas você precisa avisá-la, é um código consciente como os palíndromos, frases que podem ser lidas de trás pra frente como “Roma é amor”, mas repare que o som ficaria diferente, os fonemas seriam outros se estivesse invertida foneticamente. Tudo não passa de um absurdo sem sentido nenhum; e alguns oportunistas podem usar isto para ganhar dinheiro dos incautos que desconhecem isto tudo, aproveitando-se da ignorância alheia.

Aproveitadores que buscam auto-promoção comparecendo a programas televisivos de cunho sensacionalista com suas vitrolinhas e velhos disquinhos de vinil, nunca resistiriam a um exame sério e com o rigor da metodologia científica; com notação fonética das frases por um fonoaudiólogo habilitado, um perito judicial não-engajado ou praticante que professe a seita neo-pentecostal; bem como engenheiros de som e psicólogos especializados em mecanismos de projeção, em sugestão de massas, e em tecnologia subliminar.

O lamentável é que nesta busca desenfreada por donativos e dízimos, certos fanáticos religiosos estejam maculando uma importante linha de pesquisa da Propaganda Subliminar, super-exposição que banaliza e ridiculariza as pesquisas sérias desta tecnologia que ameaça as instituições democráticas e o modo de vida esclarecido e civilizado, pois pregam a intolerância e propositalmente afrontam o direito a liberdade de professar crença religiosa garantido pela Constituição brasileira e pela Declaração dos Direitos Humanos, pois afirmam que todas as religiões afro-brasileiras seriam culto ao demônio, e que a Bíblia recomenda “não deixarás viver a feiticeira”, incentivando a violência, indo contra a paz pública ao insinuar aos crentes que queimem bruxas vivas ou depredem templos afro-brasileiros, ignorando as palavras de Jesus de “Amai-vos uns aos outros” e “Não faça aos outros o que não queres que te façam”, pregando um Deus de ódio, rancor e violência, e não um Deus de amor como pregou a palavra de Jesus . Com isto, o grande público associa a palavra subliminar ao ridículo e à supertição, ao fanatismo religioso mais infantil, ficando desprevenido e fragilizado frente aos verdadeiros abusos que alguns setores da mídia fazem destas tecnologias subliminares.

Existem, sim, tecnologias subliminares no som, em freqüências baixas, quase inaudíveis, mixadas a outros sons em faixas sobrepostas, como explico no meu livro em Sexta Edição que foi uma Dissertação de Mestrado defendida frente a uma banca de doutores (incluindo um Médico Psiquiatra) na USP, que teve nota dez com distinção.

Estas tais frases ao contrário não constam da minha pesquisa científica reconhecida e aceita pela USP, pois nunca foram subliminares, e sim apenas um golpe pega-trouxa que caiu nas garras de oportunistas destas seitas abusivas que envergonham os verdadeiros neo-pentecostais tementes a Deus; estes oportunistas parecem ser um tipo de gente que acabaria trazendo má fama e péssima reputação a todos os evangélicos, que acabam sendo taxados de fanáticos religiosos e ignorantes graças a estes pastores em sua frenética busca de auto-promoção querendo aparecer na mídia a qualquer custo, sem noção de ridículo e do desserviço que prestam tanto à religião séria quanto à ciência verdadeira.

Maiores detalhes das tecnologias de som subliminares VERDADEIRAS no livro:
CALAZANS, Flávio Mário de Alcântara. Propaganda Subliminar Multimídia. 6.edição, São Paulo, Summus Editorial, 1991. (Coleção Novas Buscas em Comunicação, vol.42), página 44, capítulo O Som Do Silêncio.

Exemplos de músicas brincando com o ridículo das frases invertidas:

Estes exemplos podem ser conferidos até com sonoplastias nas centenas de sites anônimos espalhados na internet cujo único e invariável título é mensagem subliminar, basta colocar estas duas palavras em qualquer mecanismo de busca tipo Google ou Alltheweb e conferir.

1) Capital Inicial – Na música “Mickey Mouse em Moscou”, surge uma conversa estranha com ruídos entre Dinho e outro integrante do grupo. Ao se fazer a inversão destas frases dizem que surge:
Hei Tobi, eu acho que eles estão nos espiando…
-Você acha mesmo?
-Yeah, vamos para um lugar mais reservado
-Que tal na Ilha de Malta?
– Why, animal? .
– Hei você aí, escutando, dá um tempo! Cai fora babaca.
-Hahahahaha… .
.
2) Engenheiros do Hawaii -. Na música “Ilusão de Ótica”, quando executada normalmente no trecho ouve-se ” Ih, não roda assim, não gosto que rode assim….”, que provoca e dá claramente a dica direta ao ouvinte, e quando executada ao contrário, alegam que surge: “Por que você está ouvindo isto ao contrário, o que você está procurando, hein?” claramente ridicularizando os fanáticos por inverter todas as músicas que ouvem, aliás, ótimos consumidores que compram tudo o que sai para ouvir ao contrário!

3) Pink Floyd – Na música “Empty Spaces”, quando executada ao contrário, afirmam surgir a voz de Roger Waters falando: “Congratulations, You have just discovered the secret message. Please send your answer to ‘Old Pink’, Care of the funny farm, Chalfont…” (Parabéns, você descobriu a mensagem secreta. Por favor envie sua resposta para o Velho Pink, aos cuidados da engraçada fazenda, Chalfont), o que geraria um excelente cadastro ou mala direta de quantos fãs podem ser localizados para pré-venda de convites de shows, pré-testes de novos discos, etc. Maxi-Marketing, mala-direta com banco de dados, confirmando ser uma estratégia de marketing antiética mais uma vez.

Há inumeráveis exemplos na internet desta palhaçada que seria cômica se não fosse trágica.

Enfatizo um teste: sugiro ao leitor divertir-se ouvindo os chiados e ruídos sem nexo sem ter lido a frase que direciona a percepção antes, para confirmar os mecanismos de projeção e sugestão e falsear a hipótese alucinada dos fanáticos pseudo-religiosos.

Como você viu, uma pessoa inteligente e bem intencionada percebe que nada há de subliminar em discos de vinil (que nem existem mais, já existe o cd e o dvd), tudo foi para promover grupos ingleses como Iron Maiden e Black Sabbath (que mostram diabos desde a capa, título do disco e dentro das letras às claras, explícito e assumido, nada de subliminar escondido ou oculto), divulgando que havia orações ao diabo invertidas nos discos, insinuado em entrevistas a fanzines nos anos 70, os adolescentes na fase de revolta rodavam o disco errado, raspando os sulcos do vinil, estragando o disco aos poucos cada vez que faziam isto, o que os obrigava a comprar outro… logo, era um pega-trouxa. Foi quando alguns neo-pentecostais desejando extorquir dízimos dos seus crentes passaram a divulgar isto gerando uma histeria entre fanáticos religiosos…por um mecanismo da mente humana , projetamos sentido em nuvens no céus (quem nunca brincou disto?) ou manchas na parede, e fazemos o mesmo com som, se ouvir um chiado diversas vezes, vai forçando a fazer sentido, os psicólogos chamam de projeção e os casos reais de frases invertidas feitos por gravadoras não eram subliminares, e sim golpes para vender mais.

Cuidado com estes fanáticos religiosos pseudo-neo-pentecostais , alguns mais exaltados deliram e afirmam até mesmo que um dos Beatles seria um “clone criado por Extra-Terrestres a mando do Diabo”… e ainda pede dízimos e doações para “salvar o mundo” dos “Subliminares de Satã” …se tudo isto não for piada de internet, quem acredita deve ter problemas mentais sérios e precisa procurar ajuda imediatamente com psiquiatras e psicólogos. Este tipo de delírio ou sensacionalismo desacredita pesquisas sérias de pessoas bem intencionadas, antes de entrar nestas fofocas sem base, deve-se pesquisar sobre o currículo de quem faz estas afirmações e exigir provas científicas, evidências verdadeiras.

No site univesitário das Faculdades SEAMA tudo pode ser esclarecido no artigo “Ética e rigor científico: um caso subliminar” de autoria do professor com Mestrado Chris Benjamin Natal.

Este é o segredo e o mistério desvendado do Subliminar Musical, e Ponto Final!

 

WOK toca rufar. foto de marta ferreira. ilustração do site.