Arquivos Diários: 9 março, 2008

O SANTO OFÍCIO da TV GLOBO por gilson caroni filho

Se o objetivo de uma entrevista é assegurar o direito do público em ser informado, fica difícil definir qual a natureza do exercício praticado pelo repórter Heraldo Pereira ao entrevistar o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), indicado pela liderança do partido para relatar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos cartões corporativos.

O que assistimos no Jornal da Globo (28/02/2008) guarda alguma semelhança com prática jornalística ou obedece a construções simbólicas que têm por objetivo caracterizar parlamentares governistas, em especial os do Partido dos Trabalhadores, como delinqüentes contumazes? Pessoas sob permanente suspeita, que devem ser inquiridas com técnicas policiais de interrogatório.

O que procurava Heraldo Pereira? Um contato informal, sem pré-julgamentos, visando à obtenção de informações relevantes ou estabelecer ligações com o “suspeito”, valendo-se de uma conversa aparentemente descontraída, que não oculta uma atmosfera carregada de intimidação?

A trama começa com William Waack, no estúdio, perguntando ao repórter qual teria sido o cálculo político que levou o governo a aceitar que a presidência da Comissão fosse ocupada por um parlamentar do PSDB. Pereira, em Brasília, desfia uma série de motivos mostrando um “governo acuado”, sem alternativas e em seguida é apresentada a entrevista com o deputado petista.

O tom jocoso reforça a suspeição prévia. O que se pretende é consolidar a premissa da cobertura. Há um parlamentar que, pela própria filiação partidária, não inspira confiança. A postura é inquisitorial como veremos a seguir

A primeira pergunta não deixa dúvidas quanto a motivações “Acordo do PT e PSDB. Vai ter acordo na CPI também”? Estamos diante de um questionamento jornalístico ou de uma provocação política? A desqualificação prévia do entrevistado revela argúcia do entrevistador? Cremos que uma afirmação de Nílson Lage se encaixa como luva nesse caso:

“O comportamento de alguns repórteres de vídeo deixa dúvidas sobre quem deve ser a “estrela” da entrevista. Todos sabem que a “estrela” deve ser sempre o entrevistado, “por mais conhecido e vaidoso que seja o repórter”.

As demais seguirão a mesma toada: “A investigação vai ser mesmo pra valer ou muita coisa vai ser colocada debaixo do pano por causa do acordo político?” Notemos que o entrevistado já havia declarado inexistir qualquer tipo de acordo. Trata-se, portanto, de deixar evidente que o suspeito tem motivos para cometer o crime.

Quando Luiz Sérgio afirma que “não está na CPI para ser advogado de ninguém”, Heraldo indaga: “nem do governo?”. Estamos diante de um profissional que não quer respostas e muito menos aceita objeções. O fundamental é extrair do entrevistado algo que pareça confissão de culpa. O repórter vive seu momento de inquisidor e se diverte com o papel.

O “Tribunal do Santo Ofício” global se revelará por completo nas duas últimas interpelações feitas ao deputado.

“O senhor vai proteger alguém como relator?” Diante da negativa, Heraldo Pereira arremata: “Esse é um compromisso que o senhor assume perante o público do Jornal da Globo?”. Eis um belo momento de auto-representação da mídia. Cabe a ela, e somente a ela, o papel de justiça em última instância. Esqueçamos a supremacia do interesse coletivo sobre o privado. O que conta é elaborado nas grandes oficinas de consenso.

Nos processos da inquisição, a denúncia era prova de culpabilidade, cabendo ao acusado a prova de sua inocência. O “Directorium Inquisitorum”( Manual dos Inquisidores) definia normas processuais, termos e modelos de sentença a serem utilizados. Pelo que temos presenciado – e essa entrevista está longe de ser uma prática desviante- cabe às corporações midiáticas reescrever o direito canônico contemporâneo. Para tanto é preciso audiência e bastante fervor na fé mercantil.

Oremos por todos.

E o HOMEM? por sérgio bitencourt

“Uma única célula do corpo humano faz cerca de seis milhões de coisas por segundo, e ainda sabe o que todas as outras estão fazendo ao mesmo tempo”
 
– Tudo isto para constituir um homem.
– E o Homem?
– Bem… esse…
– Esse o que?
– Parece querer “ser feliz num chevrolet”

OROBURUS – por helena sut

A serpente engolindo a própria cauda atordoa a percepção de quem tenta encontrar o ponto de partida. Com estranhamento, os olhos percorrem a forma circular enquanto o pensamento se deixa serpentear pelas plurais interpretações e se recria nas formas ovais que sustentam as reflexões e lançam as expectativas espiraladas ao mundo.

Oroborus é a imortalidade e também o renascimento, é o infinito… A negação da morte e a sua afirmação mais contundente. A metáfora absoluta da renovação do ser que se consome e alimenta no mesmo ciclo, renova-se fortalecida com a própria exaustão como a sabedoria que amadurece quando se desfaz das folhas secas e fortalece as raízes e galhos para conquistar os novos tempos.

Um símbolo que sobrevive aos extremos. Seja o círculo ou a sinuosidade de um oito vivo, seja a serpente que devora ou a que se lança de si… Sem começos ou fins, a serpente é uma alegoria única, contínua, um elo inquebrantável que quando percebido transforma a compreensão da existência numa perene filosofia, faz a experiência humana se ornar com as sagradas e profanas vestes de um constante principiante e traz à lembrança os sonhos à espera de realizações.

A dinâmica da morte e da vida ressuscitada num andamento musical, numa linguagem reticente, numa pintura que lança o espectador numa viagem labiríntica à própria essência, numa ausência que a saudade cicatriza no corpo num arrepio ininterrupto, numa presença sempre em busca de um novo significado…

Uma carta retorna ao remetente com a emoção do outro. Um livro abandonado num sebo encontra o leitor e um local na cabeceira. Uma carência aporta no olhar amoroso e ganha um novo significado com a profusão de sentimentos. Sincronia de percepções ao resgatar o sonho plural com anima e animus e vivê-lo nas correntes dos rios cotidianos nas superfícies e subterrâneos redescobertos. Renascimento das fontes, do extravaso dos cursos que se completam e reiniciam em mar, salgados pelas vivências profundas, lançados às vestais areias no zênite do encontro harmonioso. Prazer de se reencontrar em busca…

As imagens do mundo reunificadas nas mandalas originais que se propagam nos círculos dos céus e infernos individuais com os enigmas de anseios e ambigüidades. Liames…

O silêncio. A palavra reclusa ganha nova forma nas abissais lacunas que não podem ser verbalizadas e são esculpidas em renovadas e íngremes perspectivas das alvoradas. A linguagem navegante se lança ao vasto oceano, rebatizado em ondas, e recria os horizontes com a magenta luminosidade dos crepúsculos vespertinos.

A COLUNA VERGA MAS NÃO ESTÁ QUEBRANDO – por josé zokner

Constatação I
Ledo engano de quem acha que mulher é o sexo frágil. Basta ver como alguma delas fecha a porta de um carro. Em alguns casos, chega a abrir a porta do outro lado…

Constatação II

Subsídios para a campanha da vacina para idosos: E o senhor ou a senhora que já passaram dos 60 nunca esqueçam. Na Terceira Idade, a gente pega uma gripe com a maior facilidade e cura com a maior dificuldade.

Constatação III (Homenagem).

Não se pode confundir aflora com a Flora, muito embora sejam foneticamente iguais e nas conhecidas Flora’s, deste assim chamado escriba, sempre aflora por parte delas uma simpatia irradiante. A recíproca não é necessariamente verdadeira. É como aquela história de que nem tudo que reluz é ouro, pois, às vezes, aflora simpatia irradiante de outras pessoas, cujos nomes deixamos de enumerar por falta de espaço nesta coluna. Bem, a bem da verdade, às vezes, não…

Constatação IV

A mulheraça,
Uma loiraça,
Uma senhoraça
Raparigaça
Sem barrigaça,
Mas com peitaça
E um par de coxaça,
Coroando uma bundaça,
Deixava qualquer boa-praça
Numa ameaça
Com risco de desgraça
E numa baita nevoaça
Que até saía da narigaça
Sextilhão de fumaraça.
E dá-lhe tonéis de aguaça
Pra acalmar a populaça…

Constatação V

Não se pode confundir ateroma, que, segundo o dicionário Houaiss, quer dizer “depósito lipídico na superfície interna das paredes das artérias” com teorema, muito embora já se tornou um teorema, axiomático, que não se deve exagerar na gordura, fritura e outras “uras” que, se não metabolizadas devidamente, podem acarretar alguma espécie de ateroma. Daí, a semelhança com a violência, em nosso e outros países, que também provoca mortes, sofrimentos e coisas desse jaez. A recíproca não é verdadeira, pois, por exemplo, o teorema de Pitágoras não tem nada a ver com um eventual ateroma. Como já havia sido dito alhures: elementar minha gente!

Constatação VI (De uma dúvida crucial).

A salada de frutas é uma espécie de pot-pourri, ou o pot-pourri é uma espécie de salada musical. Quem souber a reposta, por favor, cartas à redação. Obrigado.

Constatação VII (De outra dúvida crucial).

Em Curitiba, na Boca Maldita,
Quando se quer soltar um boato
Recomenda-se a coisa dita como não dita
E que não se deve contar a ninguém o fato?

Constatação VIII

Rico tem suposto envolvimento; pobre, tem incontestável indiciamento.

Constatação IX

Rico é pesquisador; pobre, é xereta.

Constatação X

Não só de insubstituíveis o inferno tá cheio. De faltosos, também. De omissos, nem falar…

Constatação XI

Quando o obcecado leu na mídia que os brasileiros estão em segundo lugar no ranking dos que fazem sexo com mais freqüência, de acordo com a Pesquisa Global de Bem-Estar Sexual, realizada em 26 países pela fabricante de preservativos Darex, só perdendo para os gregos, cuspiu para o lado e exclamou: “Para nós brasileiros, como diria o jornalista Boris Casoy, isso é uma vergonha!”

Constatação XII (Com sugestão aos filólogos).

Não se pode confundir rebanho bubalino, que se refere aos búfalos, com rebanho bobalino que são todos os bobões dos eleitores brasileiros, até porque o primeiro é quadrúpede e o segundo é bípede. A recíproca é como é, pois nada impede que os bípedes elejam quadrúpedes e aproveitadores, como nos é dado, desde os tempos imemoriais, a constatar.

Constatação XIII

O cabeça-dura
Levou uma surra
Porque, birrento,
Mexeu com certas crenças
Arraigadas,
Consolidadas
E entre si com desavenças
Já que quis misturar,
Aproximar, aperfeiçoar,
Nem que fosse por um momento,
As três religiões monoteístas
Com umbanda,
Com ateístas
Com quimbanda
Tornando tudo comum
Dizendo que não deveriam
Ser exclusivistas,
Mas que a soma de todas seriam
Não mais nem menos igual a um.
E-mail: josezokner@rimasprimas.com.br

TE AMO ESPANHOLA por ewaldo schleder

Antes de falar em Espanha, uma vaga lembrança. Na escola, a cartilha nos ensinava que o mundo teria 4 raças: a branca, a amarela, a negra e a vermelha figuras do dominador, do perigoso, do escravo e do preguiçoso. Sobre a miscigenação os tons chegavam a ser pejorativos: mameluco, sarará, caboclo, mulato. Palavras que se aplicavam ou se aplicam até a xingamentos. Veio o novo tempo, o novo espaço: século 21, globalização. E como sempre o homem segue itinerante. As raízes lhe incomodam, lhe acomodam. Não somos árvores, nem pedra. Se a terra se mexe, as águas se movem, os ares se movimentam; logo o homem ser movediço por natureza não pode ficar parado.
 
Chegamos às correntes migratórias terrestres, marítimas e aéreas. E à Espanha. Na modernidade, só os brancos fundaram novas nações, fincando bandeiras. Mas sempre se valendo das outras cores. E hoje, pelo que se vê, qual é a coloração do antropo-mundo? Um arco-íris antropológico, uma aquarela borrada com direito a preto-e-branco? Quantas nacionalidades há no Brasil, não sei. Contudo, para a Espanha as cores registradas são as do passaporte europeu. Porém, a matéria-prima desse documento em parte vem das selvas tropicais e das pastas de nossas plantas vagabundas. As demais matérias-primas também, do solo e subsolo do terceiro mundo , disto sabemos faz tempo. Todavia, à União Européia o que importa é comprar barato e dinamizar o produto final comprado, importado, por nós. A Espanha nos manda navegadores, aventureiros, investimentos, bancos, azeite-de-oliva, dançarinas de flamenco, vinhos, imagens de touradas, cavalos andaluzes, Almodóvar. Em troca de lucros, da conquista de mercados, da difusão cultural de inigualável beleza, faça-se justiça. Os gols dos Ronaldinhos, do Real, do Barça, não contam nessa hora. No tabuleiro planetário estão os escravos, aqueles aptos a qualquer serviço caso da maioria dos migrantes brasileiros. Pesquisadores, cérebros, artistas (futebolistas à parte, marketing à parte); estes são desconsiderados neste momento. E temos na leitura especializada os iluminados que dão peso ao dinheiro os parâmetros dos valores-do-dia das moedas. Estes investem e lucram. Com pouca margem de risco. E grana pode migrar sem problemas. Sempre bem limpinhas.
 
Encerro este desabafo em nome da Tupinambrás com uma sugestão ao governo brasileiro: propor ao homólogo espanhol que a cada brasileiro barrado na entrada (em Baralhas), lá, fique aqui um milhão de pesetas (mixaria), como recurso compensatório para ser investido na condição de vida estudo, trabalho etc desse imigrante potencial. À européia: o primeiro hispânico que pisou por aqui às margens de Tordesilhas veio em busca de ouro e prata. Jamais esqueçamos disso, hermanos. Sem embargo