Arquivos Diários: 23 março, 2008

SAIS DE MIM poema de jb vidal

lanço um olhar ao cosmos
na expectativa de senti-lo,
pulsar junto, ser infinito, ser todo,

sê-lo,

lentamente a imagem se reduz,
sem horizonte, as retinas não suportam fixar 
o olhar se cansa, os olhos se fecham, a cabeça tomba,

giro dentro de mim
transpiro rios de sais,
sinto e não sinto,
vejo tudo e nada,

ínfimo, sou grande,
grande, sou meu próprio cosmos

olhar sim, olhar-me

segundos infinitos me abduziram
reajo, retornar não!
miséria não, guerra não,
fome não, peste não,
amor não, ódio não,
morrer não, consciência não!

vida, vida sim!

se sou e não sei onde sou,
sou o que não sei,  onde não estou

MULHER prosa de marilda confortin

Quando o padre falou: “Eu vos declaro marido e mulher”, levei um susto. Desde quando mulher é feminino de marido? E o quê é que ele pensava que eu fosse até aquele momento, então? Homem? Assexuada? Indefinida? Animal? Justo um padre, que não sabe nada sobre a mulher, vai me declarar “mulher”! Quase interrompi meu casamento e me atraquei no tapa com ele.
Isso me lembrou algumas datas comemorativas. Inventaram datas para tudo. Tudo o que deveria ser comemorado durante todos os dias, foi resumido num único dia. Tudo o que leva anos para se resolver, resolveram resolver num dia só. Fácil acabar com os problemas assim. Desse jeito, até eu resolvo.
Duas dessas datas, deixam-me particularmente incomodada: Dia da mulher, por exemplo. Já começa por aí. Tem o dia do homem? Não que eu saiba. No dia 8 de maio, recebi cartões, poesias e dezenas de emails inteiros falando um monte de coisas sobre minha beleza, força, compreensão, inteligência, sensibilidade. Olhei cuidadosamente o destinatário para ver se não havia engano. Era para mim, mesmo. Me peguei rindo, imaginando que, se meus amigos homens dissessem aquelas coisas todos os dias e não só do dia da mulher, correriam o risco de se convencerem de que sou mesmo tudo aquilo que disseram. E aí teriam de admitir que não sou tão burra, tão feia, tão fraca, e até tenho uma certa sensibilidade. E teriam que aceitar o fato de eu ser igual a eles. E aí eu poderia querer ter os mesmos direitos. Já pensou?
É bem cômodo ter o dia da mulher. Se alguma vez esquecermos deste pequeno detalhe amigas, não precisamos nos preocupar. Sempre haverá um bom homem, do tipo que mente pouco (só uma vez por ano, no dia da mulher) que vai nos lembrar do quão emocionante e lindo é ser do sexo frágil. De quanto ele nos admira pela força e inteligência por ter conseguido a genialidade de acumular às nossas funções, as dele também. Por fazer tudo o que faziam nossas avós, e ainda trabalhar fora o dia inteiro, disputando muitas vezes com o próprio marido ou filho, um mercado de trabalho cada dia mais escasso e desumano. E por tentar ficar sempre linda, jovem e bem humorada para nosso amado marido e filhos. Tudo em nome da tal liberação feminina. E por fingir que acreditamos nessa liberdade.
Começo a acreditar que aqueles neurônios a menos, nos fazem falta. Como fomos cair nessa armadilha? E porque continuamos alimentando essa farsa? Merecemos ser consideradas uma minoria problemática e ter o dia Internacional da Mulher!

Nessa mesma linha, tem o Dia das Mães. Tudo bem, o dia dos pais também é um saco. Mas vejam a diferença nos cartões, presentes e mensagens. Os cartões para o dia dos pais são decorados com cores e figuras sóbrias (lupas, furadeiras, livros, mesas de escritório). Coisas concretas que lembram trabalho, austeridade, responsabilidade, realidade. Os cartões do dia das mães são decorados com imagens de santas, moças muito lindas e jovens, bebês corados com asas, flores, anjos, fadas. Como se fossemos eternas, etéreas, entidades abstratas. Borboletas, sem crisálidas.
Os presentes então, são de uma criatividade! Está na hora dos professores se perguntarem: “Quando uma criança lembra da mãe, o ele lhe vem à mente?”. Um avental todo sujo de ovo? Pano de prato? Grampo de prender roupa no varal? Aparador de panela? Colher de pau? Saboneteira? Porta retrato?
Esses são os objetos que os professores de arte ensinam para crianças e as fazem presentear no dia das mães. Parece que somos só um compartimento da casa que precisa de um enfeite, de uma inutilidade.
E tem aqueles maridos que esquecem do dia do aniversário de suas esposas, mas lembram do dia das mães… E aproveitam para dar de presente a elas (às esposas), na data errada, aqueles eletrodomésticos que já deveriam ter comprado há muito tempo. E ainda perguntam: “Gostou, mãezinha?” Quer que ela responda o quê? Maridos, maridos… Vocês estão confundindo as bolas. Dêem e digam isso para suas mães (aquela que vocês chamam de avó, agora).
As mensagens então… São verdadeiras orações à Virgem Maria. Não sei qual a conseqüência psicológica do que vou dizer agora, mas preciso contar um segredo: Nós, mães, não somos mais virgens. Deixamos de ser virgens muito antes de vocês nascerem, filhos. E de santas não temos nada. Vocês não imaginam quantas vezes pecamos para conceber vocês. E com que prazer! E essa mania de enaltecer nossa aceitação em relação a dores e desgraças? Ai caramba! Nenhuma mãe gosta de sofrer, não. Parem com essa história de “ser mãe é padecer no paraíso”. Nós não somos masoquistas! E chega de dizer que somos entidades dotadas de infindável paciência, abnegação, bondade, capacidade de perdoar. Tem paciência! Isso é o que vocês querem que a gente seja. Que a gente diga amém pra tudo e perdoe todas as cagadas da humanidade.
Olha, enquanto vocês são pequeninos, ainda vá lá. A gente sabe que quem escreve essas besteiras não são as crianças. Mas, convenhamos: Marmanjos e marmanjas, maridos, diretores(as) e presidentes de empresa, mandando essas mensagens açucaradas para as mulheres? Parem!
“Você diz isso por que não conhece minha mãe. Ela tem quase oitenta anos e é uma santa”, disse-me um amigo. Cresça, respondi-lhe. Coitada da sua mãe! Imagine a culpa que ela sente por ter criado você assim tão bobinho. Ela não vai morrer nunca, com medo de que você não sobreviva sem ela. Pare de se enganar dizendo que foi morar com ela, depois do divórcio porque ela precisava de você. É você que precisa de mãe e transforma toda a mulher em mãe. Por isso seus casamentos não duram. Cai na real!
Um dos maiores pecados que as mães cometem, é deixar que os filhos cresçam acreditando nessa baboseira toda. Elas se arrependem muito depois, podem ter certeza. É por isso que as mães rezam tanto. Não é porque são santas, não. É para pedir perdão pelos erros que cometeram na criação dos filhos e pela falta de coragem de dizer umas verdades.
Não viverei para ver, mas só dá pra dizer que evoluímos, quando todas essas datas forem extintas do calendário. Quando no dia a dia sem aviso prévio, respeitarmos as crianças, os velhos, os índios, os negros, os brancos, os amarelos, os pais, as mães, as mulheres, os homens, a natureza, a humanindade, a paz, adeus!

O MAR poema de manoel de andrade

Conheço teu agitado marulho
tua voz de barítono
conheço tua zangada pronúncia
tuas lanças arrojadas pelos braços da tormenta
conheço tua suave dança
na onda calma e inumerável
na  crista transformada em súbita canção de espumas
conheço-te na beleza da baía amanhecida
na hora melancólica do crepúsculo
e no teu dorso enluarado.

Me deste a paisagem das águas litorâneas
e a espuma se estendendo sobre a areia
me mostraste a nudez e o encanto das praias solitárias  
a preamar e a vazante
e o teu perfil de mastros e gaivotas
me deste a magia do horizonte
uma vela solta ao vento
e um barco de papel para os meus sonhos
mas nunca me mostraste
a extensão azul dos teus domínios
e nem um indício sequer dos teus enigmas.

Marinheiro sem mar e sem destino
nunca pude navegar tuas distâncias.
Deste banquete
me deste apenas o paladar salgado dos meus versos
minha sílaba de sal
e a tua própria essência salpicada entre meus dedos
molécula elementar
unânime cristal
para que na minha dieta imprescindível
eu possa provar teu sabor todos os dias.

OUTONAL poema de joão batista do lago

As minhas folhas caducas
Começam a desfolhar-me
É chegada a hora de virar planta seca
Preciso desnudar-me
Amarelar-me
Avermelhar-me
 
Tenho que fechar os poros
Das poucas folhas que se me teimam ornar
Desambiguado na nordestinação
Tornar-me seco feito chão rachado
Ainda que a morte seja meu presente
Preciso reter nas minhas entranhas
Sustentar nas minhas raízes – e na minha mente –
A água da vida que, totalmente,
Gerará no futuro novas primaveras
Que se há de transformarem em novos frutos…
E novas sementes
 
Preciso desfolhar-me
Dessas folhas verdes, caducas
Promover o mimetismo do meu ser
Só assim poderei sobreviver nesta selva de pedras
Onde não há árvores floridas – e nem Homens! –
Onde a falta de oxigenação me perecerá
De toda água da vida
De toda primavera florida

Rumorejando (Cartão corporativo? Como toda a população brasileira, abominando). por josé zokner (juca)

Constatação I

O destaque
Do bloco carnavalesco,
No tríduo momesco,
Foi o obcecado, donjuanesco,
Nababesco,
Fanfaronesco,
Pedantesco
Ter comportamento quixotesco
Quando perpetrou um ataque
De modo burlesco,
Caricaturesco
Para conquistar um tedesco,
Achando ser uma gata com badulaque.
Que tava com um atabaque.
Levou um trampesco.

Constatação II

Rico usa preservativo; pobre, camisinha.

Constatação III (Pseudo sextilha para ser recitada pelo técnico do time ao fazer uma preleção aos jogadores de defesa).

Chutar a bola pra frente
Sem que ela saia pra fora
E no pé do companheiro
É de ficar assaz contente
E, daí, saindo um gol se comemora
Seja com um golaço ou frango do goleiro.

Constatação IV

Rico sofre de climatério masculino; pobre, é broxa.
Constatação V
Rico infere; pobre, chega à conclusão (quando deixam, é claro…).

Constatação VI

Murchou o riso
Quando o dentista Narciso,
Qual um “pitoniso”,
Nada indeciso,
Nem impreciso
Ou de improviso
Deu o terrível pré-aviso
Que ela teria de extrair o siso.

Constatação VII

Não se pode confundir proteja com projeta, até porque tem muita gente dizendo “que Deus nos proteja” ao assistir os vários partidos políticos apresentarem seus esquemas de governo que algum mau caráter, ou vários, projeta, naquele esquema de empulhação, embromação, enrolação, enganação, tapeação. A recíproca, provavelmente é só verdadeira no céu, onde um ou outro anjo da guarda projeta para que proteja quem tem conta no exterior, não declarada no Brasil, ou alhures e que intervenha para que um receptor do mensalão não seja cassado e coisas desse jaez.

Constatação VIII

Deu na mídia: “Correspondência revela amante de Einstein”. Evidentemente, para o mestre, como para tantos, a prevaricação, como tudo, era uma questão relativa…

Constatação IX

Rico vive envolvido com um recíproco cafuné; pobre, com uma indefectível comichão.

Constatação X

Rico faz uso da profilaxia; pobre fica a mercê do destino.

Constatação XI

Rica faz operação para botar silicone nas, digamos, partes principais; pobre, forra com enchimento.

Constatação XII (De conselhos úteis).

O chimarrão, segundo os entendidos, é um coadjuvante para evitar um ateroma que, segundo o dicionário Houaiss e que Rumorejando já divulgou é “depósito lipídico na superfície interna das paredes das artérias” que pode provocar um acidente vascular cerebral ou um infarto. Por outro lado (qual lado?), quem toma um chimarrão extremamente quente corre o risco de vir a sofrer de um câncer no esôfago. Portanto, prezado leitor, se o Amigo está a fim de tomar um chimarrão capriche na temperatura do dito. De nada!
P.S. De tereré, muito apreciado no Paraguai e no Mato Grosso, este assim chamado escriba não entende nada. Só sabe que se toma com água gelada o que faz supor que se os ingleses apreciassem tais bebidas não iriam optar pela água gelada, já que apreciam a cerveja fora do gelo*, o que, para nós brasileiros, é inconcebível, mormente quem aprecia a loira “estupidamente gelada”.
*Não foi possível averiguar se eles chegam a esquentar em banho-maria, o que, cá entre nós, ninguém tem nada a ver com isso.

Constatação XIII

Quando o médico recomendou para o ricaço que ele deveria eliminar gorduras e frituras do seu cardápio, maneirar as bebidas alcoólicas e fazer caminhadas diárias, o ricaço, de origem italiana, amante da boa e farta mesa, acompanhado de bons vinhos, contestou: “Doutor, tudo isso que o senhor falou corresponde pra mim uma ofensa, porque o senhor está me dizendo, em outras palavras, para que eu vá me catar. Cáspite!

Constatação XIV

Quando o obcecado leu na mídia a entrevista que o economista José Roberto Mendonça de Barros, comentando a atual situação econômica e do comércio atual que “no mundo conturbado, se ganha na tática”, falou do alto da sua inquestionável sapiência: “Puxa é exatamente o que eu penso e o que eu faço em relação as minhas inumeráveis táticas para ser conquistado”.

Constatação XV

Deu na mídia: “Paul McCartney vai pagar U$ 48 milhões à ex-mulher”. Taí uma notícia de transcendental importância para o futuro da Humanidade, exceto para a ex…

E-mail: josezokner@rimasprimas.com.br