Arquivos Diários: 26 março, 2008

REVITALIZAÇÃO (do Rio São Francisco) – UMA EPOPÉIA -por manoel bonfim ribeiro

                                    “ O homem é a única criatura que
                                     combate a natureza, com loucura”
                                                                              J. Swift

 

Com os compromissos assumidos pelo Governo, de aprofundar os estudos  da Transposição do São Francisco e dar prioridade ao Programa de Revitalização,   após a revolta pacífica de Dom  Luiz Cappio em 2005, (um fato que merece registro) podemos debruçar, agora, sobre este grande tema que é a salvação do nosso rio. A atitude de um homem forte, trouxe à mostra da sociedade o desprezo e o abandono que o Governo tem  por esta grande jugular do Nordeste brasileiro.
Por todo o século XX, o Governo, com inicio no final do Império (1886), construiu, no Nordeste, a maior rede de açudagem do Planeta . Foi também neste mesmo século XX que o rio São Francisco foi literalmente demolido. Enquanto se construía lá, se demolia cá. Cerca de 40  navios a vapor, singrando de Juazeiro a Pirapora, 1371 Km,  consumia, como lenha, anualmente,  900 hectares de mata ciliar, . A agricultura empírica, com  métodos rudimentares, foi deixando o solo do Vale totalmente desnudo. No tempo de Cabral, a  bacia hidrográfica do rio tinha total cobertura verde, a chuva caia sobre a copa das árvores, escorria pelas galharias, e ia formar os lençóis  freáticos  que alimentavam o seu talvegue. A água era cristalina, não tinha carreamento de material sólido, a máxima enchente era  de 12.000 m³/s  e a mínima  5.000 m³/s, em termos gerais.  Era um rio equilibrado.
Agora temos um vale desnudado pela sanha dos madeireiros e por outros processos destrutivos. Solo calcinado, as águas das chuvas descem  como um bólido , abrindo grandes  voçorocas, aterrando o rio e os seus tributários. A largura se abriu de 500 metros, em média, para 1000 metros, pelo fenômeno das terras caídas.  A máxima  chegou  a 19.000 m³/s e a mínima a 500 m³/s , 3% da máxima – rio desequilibrado .Com o mesmo volume de água, mas com sua largura  dobrada, o momento de calado  caiu, perdeu-se o tirante de navegação, prejudicando totalmente a  navegabilidade do Grande rio. O homem é um vândalo, um destruidor das messes que a natureza nos oferece.
 A poluição do  São Francisco ocorreu  pelo processo natural  com o aumento populacional. A poluição dos rios da Terra é causada pelo homem inculto e pelo homem civilizado. Todos fazem do seu rio uma  cesta de lixo. O homem vive em função do rio, mas ele  é o seu próprio algoz. Toda a  concha hidrográfica do nosso rio tornou-se,  totalmente, degradada.
A  revitalização  deste grande  rio é  a inversão do processo a que chegou,  é o restabelecimento de toda a bacia deteriorada e mutilada pelas ações  antrópicas  exercidas ao longo do século XX.
Vejamos em que consiste a tão comentada  revitalização, que não é nada fácil:
Projetos existentes.  Reunir e ordenar todos os projetos e programas da Bacia. Existem cerca de 500 projetos entre particulares e públicos, municipais, estaduais e federais, que devem  ser ordenados e priorizados, tendo a Bacia  como  unidade de planejamento.
Hidrometria.  Recuperar e ampliar a rede hidrométrica do rio e de todos os seus tributários: fluviometria,  pluviometria , temperatura,  evaporação, insolação, etc, que é o recenseamento  do rio, das  águas de toda sua bacia.Trabalho caro , penoso e demorado. Foi um programa que já existiu  no tempo do Departamento de Portos e Vias  Navegáveis,  hoje, totalmente esquecido e desprezado.È a vida de um rio.
Sedimentometria.  Instalar  postos no rio, nos seus tributários  e nos seus barramentos. Estes postos sedimentométricos,  distribuidos  por toda a  bacia, medem o material sólido carreado pelas águas,  no período sazonal de  cheias, responsável pelo grande assoreamento da calha principal, que  obstrui a navegação e  promove o aterramento das grandes represas construídas.
Reflorestamento.   Bacia hidrográfica do rio com 168 confluentes,  rede filamentar  de riachos  e  milhares de  micro-bacias. Trabalho demorado e árduo com técnicas apoiadas na silvicultura, na arboricultura e na vegetação de baixo extrato, adequadas  á vocação do solo, para conter os processos erosivos do Vale, recompondo todo o seu manto verde. Esta operação gigante, mesmo abstraindo cidades, vilas, sistema viário e projetos  agropecuários  deve atingir mais de 40% da bacia hidrográfica do rio.
Lagoas marginais. Consiste na restauração das lagoas, maternidade e berçário de toda a fauna  potâmica. . Estas lagoas ganglionares, ao longo da calha, em ambas as margens, são o  útero do rio,  hoje,  destruído, literalmente, pela mão do homem. A fecundação dos peixes  reofílicos, responsáveis pela piracema, é extra corpórea e o nascimento dos alevinos ocorre nessas lagoas  rasas e quentes. Grande nicho de reprodução, com rica e farta alimentação para anfíbios e répteis, para a fauna terrestre e alada, onde pássaros e insetos se insinuam por  toda a ambiência,  gerando  um bioma de vida própria -água,  vegetação, fauna e  homem – a que chamamos de biocenose. Esta é a vida que faz pulsar  o rio.
Despoluição.  Tema  para adultos. Não é impossível   mas haja dinheiro. A poluição teve o seu começo nos primórdios da civilização, excrementos humanos, animais mortos, lixo. Depois vieram  os biocidas,  a química, os agrotóxicos, a mineração, etc. A poluição contrasta com todos os índices de civilidade. O NILO e a sua fantástica rede de canais está  contaminado pelos insumos agrícolas. Cairo e Alixandría  lançam fosfatos e nitratos no rio, poluindo o litoral mediterrâneo. O TÂMISA , no inicio dos anos 90, era uma cloaca e a Agência inglesa  “Nacional Rivers Autority” ( NRA),  em 9 anos, ressuscitou o rio, deixando, hoje,despejar  suas águas cristalinas  no Mar do Norte. O GANGES,  rio místico, cheio de lendas e fábulas, recebe, “in natura”,  os dejetos de  cidades milenares como Nova Delhi,  Benares, Patna, e Calcutá, esta, o  maior porto fluvial da Índia. O RENO, em 1986, ficou vermelho de mercúrio, 300 toneladas de pesticidas destruindo a  micro e macro fáuna e a  microflora do vale,  poluíção  vinda de Basiléia, o “Vale Químico da Suíça”.Os paises europeus, todos eles, recebem fortes pressões da Comunidade Econômica Européia para não poluírem os seus rios. O PARAÍBA DO SUL, cujo vale é o mais industrializado do Brasil ,( Minas Gerais, São Paulo e Rio), com Votorantin, Refinaria, Cervejarias, etc , só possui 12% dos municípios com tratamento de esgotos. O CAPIBARIBE, com seus 250 Km de extensão, renasceu  no inicio dos anos 90, com o modelo matemático dos ingleses usado no Tâmisa, mas o vinhoto e  a lama negra  e fétida já voltaram ao seu leito. O PARNAÌBA, irmão siamês do São Francisco,  está com seus mananciais soterrados, suas belas nascentes nos contrafortes da Serra das Mangabeiras estão obstruídas. Voçorocas imensas.  No TIETÊ, já foram gastos mais de US$ 2 bilhões e continua sendo um exemplo indesejável de poluição. São 40.000 indústrias e 1,3 milhão de Ton/dia de esgotos. A  capacidade de tratamento operada pelo Governo, representa,  apenas, 10% da capacidade que tem a sociedade de polui-lo. Vergonha nacional. A lista de rios poluídos é infindável. E o VELHO CHICO, o rio que  querem tirar do lugar! À sua direita, o rio das Velhas  recebe, diariamente, 470 toneladas de dejetos da Grande Belo Horizonte, não há   BDO que resista. À sua direita, também, o Paraòpeba, contribuindo com  poluição pesada e venenosa, mercúrio, cádmio, zinco, arsênio, tudo gerado pelo  Quadrilátero Ferrífero Mineiro. Acresce mais os agrotóxicos  de 300 mil hectares irrigados, às margens do rio e seus afluentes. Despoluir o rio é um desfio.
Saneamento básico. Existe no Vale do São Francisco 415 cidades e mais de 800 povoações entre distritos, vilarejos e aglomerados humanos, ocupando   terras  da Bacia, em cinco estados da Federação, totalizando 15 milhões de habitantes,  numa superfície de 640.000 Km²,  área  igual á toda a Península Ibérica (Espanha + Portugal) e mais a Dinamarca, três  paises  europeus. Nada, quase nada temos de saneamento. È outro desafio para esta territorial e imensa  bacia hidrográfica.
Navegabilidade.  Este é o último item da revitalização do rio. Instalado todo o processo sedimentométrico  na calha principal e nos seus afluentes e, uma vez, plantado e implantado o reflorestamento da Bacia, determina-se os pontos de depósitos  aluvionais e os seus volumes  para a grande operação de dragagem. Esta dragagem é contínua, rio acima e rio abaixo, ao longo do curso principal e dos afluentes navegáveis,  garantindo uma navegabilidade permanente durante os 365 dias do ano. Só assim o transporte fluvial  poderá ser restabelecido.
O grande paradigma, um exemplo para o mundo inteiro, é a revitalização do vale do rio TENNESSEE,  a conhecida TVA  (Tennessee Autority Valley) que se tornou um símbolo de desenvolvimento hídrico unificado. A bacia foi projetada e executada como um todo, respeitando a unidade da sua própria  natureza. Ela tem uma área de 360.000 Km², metade  da bacia  do nosso rio e despeja 60 bilhões m³/ano no Ohio, um sub-afluente do majestoso Mississipi. O São Francisco despeja 100 bilhões no Atlântico. O Presidente Franklin Delano Roosevelt elegeu essa revitalização, como  a grande epopéia da sua  administração. Em 20 anos (1933-1953), planejou e construiu toda sua obra: 39 grandes barramentos, sendo cada um deles, um pólo de energia, um pólo de piscicultura, um pólo de irrigação e um pólo de turismo. Restabeleceu a navegação em 1.040 Km dos seus 1.650 Km de extensão, e mais, criou, dentro da bacia, 233 parques de recreação, todos com boa infra-estrutura. Suas margens são perfeitamente contidas e encaixadas, a  água é cristalina, um rio niveal e indômito, hoje, um rio sereno e majestoso.
Este, é um rio revitalizado  na acepção técnica do termo. É tudo o que temos a fazer no rio São Francisco. Diante do que expomos, a REVITALIZAÇÃO DO SÃO FRANCISCO É UMA EPOPÉIA, obra para 30 anos ininterruptos, um projeto governamental para administrações sucessivas.

 

rio são francisco. foto de joão zinclar. ilustração do site.

UM CARÁTER PARA MACUNAÍMA por jorge mautner

Quando eu e Gil nos conhecemos em Londres, em 1972, ele disse para Caetano: ‘Jorge Mautner é o primeiro intelectual branco que respeita a cultura negra no mesmo nível’. Tenho uma arte diferente da dele, mas nos entendemos muito bem. Gil já gravou várias canções minhas, “O Relógio Quebrou”, “Rouxinol”, “Maracatu Atômico”. Essa união de negro, mulato e branco só é percebida por uma minoria, como eu, descendente dos campos de concentração e Gil descendente de escravos – não existe problema que não assimilamos. Figa Brasil tem a ver com isto, como tem a ver com o Movimento do Kaos, jorge-mautner-foto-foto_56.jpgque lancei em 1958. Vamos juntar tudo: Oswald de Andrade, a filosofia humanista, a poética e a filosofia da Democracia, baseada em primeiro lugar na liberdade. Antes até da negritude, antes até das lutas sociais, queremos a visão humanista. Cada ser humano é único e sagrado. Isso nos fez sempre inimigos dos dogmas e suspeitos aos dogmáticos.

Vejo tudo mergulhado numa grande superficialidade, nunca o ser humano foi tão manipulado. Nunca se manipulou tanto a idéia da vida humana, a política, a democracia: o idealismo está sendo submergido. Nossa intenção é reverter essa situação. Queremos criar clubes filosóficos onde as pessoas se reúnam, discutam, analisem. Não se vê mais intelectuais discutindo, mostrando. Até os artistas estão encastelados no tédio dos seus castelos. O ensino, depois do Acordo MEC-USAID, foi completamente barateado, não se discute mais no colégios, não existe mais curiosidade, criatividade, estímulo. Comecei a escrever meus livros em classe, no Dante Alighieri. Tudo era ensinado com vida, palpitação, paixão. Hoje isso foi amordaçado, cortaram as interligações, os fios condutores. O resultado é essa superficialidade, essa tristeza do pós-modernismo, esse desespero.

Figa Brasil é uma convocação para nos comunicarmos de novo. Que venham todos os de boa vontade. Só estão barrados os racistas e os belicistas, pois até os conservadores esclarecidos são bem-vindos. Falando sobre o povo brasileiro, Julian Marias disse que “a maior riqueza do povo é o próprio povo. Existe um sonho que não foi destruído em cada um, que resiste”. O Gil sempre tocou isso para seu grande público, e eu para meus fiéis seguidores. Vamos sair dos pequenos feudos do Brasil, chegar ao Brasil grande. No Brasil, inteligente é quem tira vantagem, idealista virou sinônimo de bobo. Mas não estou desencantado. Acredito em modernizar o país, acredito em ler, escrever, estudar. Acredito na paixão de resgatar a história real, a história do sambista, do feirante, do Filho de Gandhi. Essa história tem sido cerceada pela direita e pela esquerda – que cerceou Gilberto Freyre, por exemplo. Essa universidade paralela proposta pelo Figa Brasil está além da esquerda e direita, sua matéria-prima é a preocupação humanista que resiste em todos os lugares, desde a favela.

Não somos o Messias que chega, apenas juntamos nossas forças. Queremos caminhar sobre a brasa, não sobre a chama. Essa é uma coisa para nós todos fazermos – ou ninguém. Sem lideranças ou prioridades hierárquicas. Vamos misturar tudo, cultura alemã, americana, artes marciais, da China, samba e afoxé, o jeitinho brasileiro, nossa intuição. Chegou a hora de Macunaíma começar a elaborar seu caráter. Queremos o lúdico responsável, a radical democracia. D. Pedro II planejou bem a libertação dos escravos com educação, mas aí os latifundiários aliados com os militares proclamaram a República e jogaram os negros na liberdade selvagem, tão terrível quanto o capitalismo selvagem. Figa Brasil é o desejo de uma alquimia que faça encontrar os que estão separados. Que faça sambar os que só escrevem, que faça escrever os que só têm sambado!

foto sem crédito.

O TEMPO, ESSE IMPLACÁVEL poema de guilherme cantídio

Anjo da morte, implacável destruidor
Algoz infalível dos seres mortais
Fiel guardião da lei do Criador:
“Do pó vieste, ao pó tornarás”.

Não te temo, ó mil vezes amaldiçoado!
Que mal me poderias fazer
Que já não houvesses começado?
Já tanto me fustigaste o corpo e abateste a alma
Que o espírito se eleva a Deus e encontra calma
Certo de que nada que me faças será o fim
Prevalece o amor de Deus que existe em mim.

E quando, enfim, chegar a tua hora
Posto que não és criador, mas criatura
Tudo será um eterno agora
Lançado serás à sepultura

GAIVOTA de helena sut

 

helena-sut-gaivota.jpg

Na murada de um cais distante, o desassossego salgou o instante com uma emoção ainda pretérita… Restou o retrato, quase em preto-e-branco, para me preencher com a intenção do vôo.

Foto de Helena Sut – Orla de Cascais – dezembro de 2007

MINHA QUERIDA e MILENAR AMIGA por ademário silva

1º. De março de 2008.!

Pronto, já passou, não doeu e fiquei mais velho. E todos me desejaram feliz aniversário, inclusive você. Mas eu acho que tem algo meio mal resolvido na linha entre o que somos e o que estamos. Deveríamos neste momento desejar ‘Feliz ano novo’, na razão natural dos acontecimentos. Aí é que essa vida daqui começa.
Quando saímos do ventre da mamãe configuramos nossa apresentação no mundo das formas. Aí está o nosso primeiro dia no mundo das formas iniciando. Assim meio sem jeito, meio constrangido, sem saber ainda onde deve se sentar.
E ao se dar conta que a nossa vestimenta se constitui de retalhos de placenta coloridos de sangue e água, fazemos o primeiro vexame no mundo. Colocamos a boca no trombone e exigimos explicações, mas ninguém entende o nosso dialeto, a nossa atitude então passa desapercebida, até que o médico nos aplica o primeiro trauma.
Mete a mão na tesoura e corta o cordão, primeira relação de umbigo, desliga-nos do antigo e tucha-nos no agora, como se isso fosse solução, é pura imposição! O vento frio da enfermaria causa-nos o primeiro impasse térmico. O médico se aproveita da situação e aplica-nos o primeiro golpe e satisfeito ergue-nos no ar como se fôramos à taça de suas glórias de histórias tão repetidas. Até que alguém de melhor senso, pelo menos é o que eu penso, nos leva de volta ao calor da epiderme da mamãe. Então vem o primeiro ‘cala boca’, mamãe que não dorme de toca faz tempo, conhece o ungüento, coloca sua teta em nossa boca e resolve a mutreta. E aqui também, um caso a ser estudado. É a primeira carícia da ilusão, que conforme o andamento do processo, em muitos casos trocam os seios fartos por chupeta. 
E aí vem o terceiro golpe, percebemos então que nos colocaram na periferia daquele ambiente morno, aconchegante. É o primeiro empurrão na economia.  Muitos de nós já temos o roteiro traçado, é Itaquera, Lajeado, Taipas e outros itinerários estranhos.  E então que percebemos pela primeira vez que o Caetano está poeticamente incorreto. “O sol não vai me encher de alegria e de preguiça”. A casa da preguiça e do descompromisso, após denúncia vazia, foi fechada para reformas e o que é pior sem aviso prévio, e nós recebemos um laudo de expulsão, incluído os detalhes de performance e apresentação. Laudo de expulsão é igual a Certidão de Nascimento, é aquele papelzinho que a burocracia se acha com direito de nos mandar procurar nossa turma
Aqui eu acho que o Noel Rosa está poética e politicamente correto: “Mas a filosofia/Hoje me auxilia/A viver indiferente assim/Vou fingindo que sou rico (louco)/Pra ninguém zombar de mim”
A partir de então se desenrola, pela vida afora algumas contradições, que hoje aos 5.7 já não me espanta. Essa Pátria mãe gentil deitada em berço esplêndido que não se levanta e outras cositas más.
É já dobrei o cabo das tormentas pelas raízes africanas da vida, passando é claro por Cabo Verde pra ouvir uma ‘morna’ canção na voz doce e suave da Cesária Évora e rever os sítios da saudade dormentes na cripta da imortalidade. Afinal, 5.7 anos de idade é certo que a felicidade ganhou algumas rugas, alguns pontos de impedimento, que pra alguns desavisados podem se transformar em tormentos, aquela vontade obsessiva de ser o que não se é, e até já não se tem, por que a vida é na verdade um agente transgressor. Muda por suas próprias razões, em expectativas desejos no Além-Tejo das vontades esquecidas. Ouvir Cesária é claro que incorporando sua alma pela internet, e aprisioná-la num Mp3, que quer dizer “Música preta de terceira dimensão”, mas que ajuda muito nessa nossa vida meio previdenciária de ser. 
Em quase tudo uma vontade, um desejo que se afoga no ostracismo das inverdades desse sistema sócio econômico, realmente tragicômico, que só sabe poluir, desfazer, destruir e colocar a culpa de tudo nos costados do povo, impingindo-lhe um analfabetismo dirigido, subliminar. E como quase tudo da errado na mentalidade desses políticos, CPI vira fuxico nas páginas ‘Caras” de uma certa Revista, e o povo continua “a dançar na pista” como disse o Chico de Holanda, e a elite só “na galeria”. É parece camarim no sambódromo, da Brahma, da Globo. Até quando vamos nos acabar nas quartas-feiras com “As fantasias que são cortinas, que são bandeiras/Pra vida real da quarta-feira”, como cantou o Martinho num samba de enredo da Vila Isabel.
É então que em assim sendo, entendo que o melhor é desejar ‘Feliz ano’ no dia do aniversário.
Feliz ano novo pra vida no dia do aniversário da real fraternidade, quando o salário mínimo não precisar subir por que a extorsão desencarnou…….

LUIZ VAZ DE CAMÕES poema de carlos nejar / porto alegre

Não sou um tempo
ou uma cidade extinta.
Civilizei a língua
e foi resposta em cada verso.
E à fome, condenaram-me
os perversos e alguns
dos poderosos. Amei
a pátria injustamente
cega, como eu, num
dos olhos. E não pôde
ver-me enquanto vivo.
Regressarei a ela
com os ossos de meu sonho
precavido? E o idioma
não passa de um poema
salvo da espuma
e igual a mim, bebido
pelo sol de um país
que me desterra. E agora
me ergue no Convento
dos Jerônimos o túmulo,
que não morri.
Não morrerei, não
quero mais morrer.
Nem sou cativo ou mendigo
de uma pátria. Mas da língua
que me conhece e espera.
E a razão que não me dais,
eu crio. Jamais pensei
ser pai de tantos filhos.

PSICOLOGIA DE UM VENCIDO poema de augusto dos anjos

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

COANDO UM MOSQUITO E ENGOLINDO UM CAMELO (ou a corrupção) por argemiro pertence

  Na  edição  de janeiro de 2008 da revista Brasil Energia, o empresário
 Eike  Batista, dono da holding EBX, controladora da MMX mineradora,
 revelou alguns  dados que associados a fatos recentes fazem o escândalo dos
 cartões corporativos   do  governo  Lula  parecer  brincadeira.  Indagado  sobre
 o faturamento  do  grupo  que  comanda,  Eike foi taxativo: estamos numa
 fase pré-operacional.   O   valor   de   mercado   da   MMX   (mineração)  é
 de aproximadamente  US$  8  bilhões.  O valor da LLX (logística) é de cerca
 de US$  2  bilhões.  O  da  MPX  (energia  elétrica),  que  abriu o capital
 em dezembro  gira  em torno de US$ 4 bilhões. E o da OGX (petróleo e gás)
 está entre US$ 8  bilhões e US$ 10 bilhões.

      Em  outras  palavras, uma mineradora estreante, desconhecida da maior
 parte  do  público  e  dirigida  por  um  auto-assumido  play boy vale R$ 8
 bilhões,  enquanto o governo Fernando Henrique vendeu a Vale do Rio Doce,
 a maior e mais produtivas mineradora de ferro do mundo por R$ 3,3 bilhões,
 ou seja, menos da metade do valor da MMX!!!

       Para  piorar o quadro, uma notícia de 27/09/2007, veiculada no sítio
 http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios revela algo estarrecedor:
 “a forte  valorização das ações da Companhia Vale do Rio Doce nos últimos
 dias fez  o valor de mercado da mineradora atingir R$ 291,14 bilhões,
 encostando no da Petrobras, atualmente em R$ 291,22 bilhões, segundo dados da Bolsa
 de Valores de São Paulo (Bovespa).

      Portanto,  a partir de dados da Bovespa, o valor de mercado da Vale é
 atualmente  cerca  de  90  vezes  o  preço cobrado pelo governo tucano
 pela empresa num daqueles obscuros leilões dos anos 90. Para agravar ainda
 mais.
 O grupo que adquiriu o controle da Vale no leilão dos tucanos foi um tal
 de Bradepar, uma empresa de fachada, criada pelo Bradesco para se esconder,
 já que  o próprio Bradesco participou da “avaliação” da Vale do Rio Doce e
 não poderia arrematar seu controle, conforme as regras do leilão (jornal
 Brasil de Fato de 24/08/2007).

     Este quadro apresenta indícios muito claros de um crime. As diferenças
 entre  o  valor  de mercado e o valor da avaliação são muito gritantes
 para serem  atribuídas  apenas à incompetência dos avaliadores. Até hoje
 ninguém investigou as arbitrariedades desse quilate praticadas pelos tucanos e
 seus asseclas. Um país sério não conviveria com fato semelhante por mais de
 meia hora.  No  entanto,  já  se  passaram  mais  de  10 anos e todos os
 tucanos envolvidos  nessa  lama  continuam  vagando  lépidos e fagueiros pelo
 mundo afora,  vomitando  regras  de  boa conduta. Alguns deles ainda são
 mantidos pelos impostos que nós pagamos, como é o caso do Fernando Henrique.

      O  volume  de  dinheiro  público envolvido neste imbroglio daria para
 manter  a farra com os cartões corporativos do governo Lula por mais de
 100 anos.  Exigimos  que  se  apurem  todos os crimes e se punam os
 criminosos, desde os depósitos na Suíça até a tapioca do ministro, nesta ordem. Isto
 me faz  recordar  o  aforismo  bíblico que nos aconselha a eleger
 prioridades.
 Será  que  estaríamos  “coando  um  mosquito  e  engolindo  um
 camelo?”  –
 Evangelho de São Mateus 23:24.

SEIS HAI CAIs de leonardo meimes

O Amor Por Um Fio

As rosas no jardim
Revelam cores camélias.
Seu perfume de ouro
 

O Animal

O que muda são as
Estações, comportamento
É instintivo. Homem…

O Câncer

O corpo que cresce
Sobre si mesmo, entulho na
Grande metrópole.

O Mal

Seu nome flutua em nós.
Sua insígnia, sombra, atenua
Minha consciência nua

O Velho

A vista que falha.
Pagamento em corpo de quem
Viu e não observou tudo

O Quintal

Se as rosas existem
É para que sejam calor.
Lembrança no inverno