Arquivos Diários: 16 março, 2008

ENTREVISTA com MANOEL de ANDRADE no lançamento de “CANTARES” em CAMBORIÚ

 depois do retumbante sucesso, no meio cultural, de apresentação da sua obra nas livrarias catarinenses no balneário camboriú shopping dia 7/03/08, o autor concedeu esta entrevista, entre outras, ao  jornal tribuna catarinense:

Após 30 anos, o poeta Manoel de Andrade, natural de Rio Negrinho e que cresceu no bairro Vila Operária, em Itajaí, volta a publicar um livro de poemas. O lançamento do livro e a volta ao fazer literário foi marcado nesta última sexta-feira na Livraria Catarinense, no Balneário Camboriú Shopping, em Balneário Camboriú. Hoje morando e trabalhando em Curitiba (PR), seu retorno à literatura se dá com o livro “Cantares”, que fala de ideais compartilhados na década de 60, em plena ditadura militar. Manoel sentiu na pele este período, sendo perseguido e exilado no México. Nesta entrevista, o poeta catarinense fala à Tribuna de seus poemas, da experiência na ditadura, o exílio e suas percepções sobre a esquerda e América Latina hoje. Confira a entrevista.

Jeferson Baldo – Tribuna – Após 30 anos, você volta a publicar um novo livro. Após tanto tempo sem escrever, como foi o retorno?
Andrade – Sim, foram, na verdade, 31 anos de abstinência literária. Meu último poema, da fase latino-americana, foi escrito em 71, no México, e integra meu livro “Poemas para a Liberdade”, com quatro edições em espanhol e ainda inédito do Brasil. É um longo poema chamado “Liberdade” e conta como o significado da liberdade foi nascendo em minha vida para depois se tornar uma bandeira de luta. Creio ser significativo dizer, como catarinense desta região, que neste poema, escrito há 37 anos, na distante Cidade do México, eu recordo dos meus primeiros anos em Piçarras e da minha juventude em Itajaí, como aluno do Colégio Salesiano e morador da Vila Operária. O poema, nesta parte, canta assim a liberdade:

“Primeiro tu foste a inocência
correndo pelas areias ensolaradas no meu mar,
correndo pelo pátio dos recreios
pelo bairro operário onde vivi
e pela praça principal da minha infância”.

Depois deste poema não escrevi mais nada. Voltei ao Brasil e por razões de segurança passei a viver no anonimato social e literário. Voltei a escrever somente em setembro de 2002, indignado por ver um velho amigo mentirosamente atacado, pela mídia, no processo eleitoral de 2002 no Paraná. Inexplicavelmente a inspiração poética voltou com todo o seu lirismo, no poema “Tributo”, que integra este meu último livro. Nele, meus versos falam dos nossos ideais compartilhados na década de 60, e tributam minha gratidão pela sua ajuda, em plena ditadura militar, num dos momentos mais difíceis da minha vida.

Tribuna – O livro fala sobre a manutenção dos ideais ao longo dos anos, os mesmos que você seguia na juventude. Como pratica estes ideais nos tempos de hoje?
Andrade – Aqueles que realmente se despojam de interesses pessoais para se identificar com uma causa que envolva a felicidade de todos, dificilmente deixarão apagar na alma esta chama sublime. Como disse José Ingenieros, no seu genial ensaio “O Homem Medíocre”: “Vives apenas devido a essa partícula de sonho que te sobrepõe ao real.(…) se a deixares apagar, jamais ela se reacenderá. E se ela morrer em ti, ficarás inerte: fria basófia humana”. É claro que meus ideais de hoje não são os mesmos que vivi, num tempo, num país e num continente marcados por tantas tricheiras de luta, pela militância política, bem como pela repressão, pela tortura e pelo sangue dos caídos. Há contudo outras belas bandeiras para se empunhar e a salvação ambiental do planeta é uma delas. Mas é muito difícil, para um poeta, praticar nos dias de hoje seus ideais. Porque a poesia é considerada o “patinho feio” da literatura, e o talento é determinado pelos interesses editoriais do mercado. O poeta, atualmente, é um ser desgarrado, um solitário e apenas tolerado pelo mundo. Somos os sobreviventes de um tempo dominado por uma mídia alienante, marcada por uma cultura hedonista e irreverente. Por isso transitamos na linha de uma fronteira íntima separada, de um lado, pela perplexidade de um tempo marcado por profundos equívocos morais, por indefinições e pressentimentos e, por outro, pela visceral necessidade de acreditar na beleza, na verdade, na justiça e na necessidade imprescindível de sonhar.

Tribuna – Você teve uma experiência bastante marcante pela América Latina depois de ser exilado pela ditadura militar. Como foi isso?
Andrade – Foi uma experiência muito rica para que eu possa sintetizar em tão poucas palavras. Estou pensando em escrever um livro sobre isso, porque esta foi minha verdadeira universidade. Naqueles anos de peregrinação pelo continente inteiro eu acredito ter cumprido uma das mais belas missões da alma humana: aquela que nos impõe a realização de um sonho, de um ideal, porque meus versos expressavam a plena identificação com um compromisso grandioso. Com um processo revolucionário que, a partir da Revolução Cubana, passou a incendiar ideologicamente a América Latina inteira. Meus “Poemas para a Liberdade” são a mais legítima expressão desse sonho incorruptível e inegociável, porque nasceram em pleno parto continental de um tempo semeado de esperanças, e porque cumpriram sua missão despojada de qualquer interesse pessoal, direitos autorais e veleidades literárias e, sobretudo, por ser o fruto da minha indignação por tudo o que, naqueles anos, estava acontecendo no mundo, na América Latina e no Brasil.

Tribuna – Conte um pouco sobre esta experiência da perseguição no exílio
Andrade -Fugi do Brasil em março de 69 por causa da panfletagem do meu poema “Saudação a Che Guevara”, escrito em outubro de 68, quando fez um ano do seu assassinato na Bolívia. Do poema foram mimeografada cerca de 3.000 cópias e distribuídas em novembro e dezembro, pela estrutura do P. Comunista, em Curitiba, nos Centros Acadêmico, Sindicatos, etc, Acontece que em meados de dezembro foi promulgado o AI-5 e então começou a perseguição, prisão e desaparecimento das pessoas comprometidas politicamente. Como o poema pregava a luta armada, pessoas de minhas relações foram presas e na volta de minha viagem do Rio de Janeiro eu fui colocado a par da situação, me escondi e sai de pais em três dias, fugindo para o Paraguai e de lá fui pro Chile. Depois de alguns meses no Chile, fui pra Bolívia pra entrar na Guerrilha, mas depois de uma semana em La paz, assassinaram Inti Peredo, sobrevivente da guerrilha do Che e então comandante do Exercito de Liberação Nacional) E.L.N.) Tudo isso alterou meus planos e por conselho de amigos bolivianos me foi dito que eu era mais importante como poeta que como guerrilheiro e que deveria contar poeticamente tudo o que estava correndo na América Latina. Foi isso que fiz percorrendo todo o continente.

Tribuna – Vendo a situação em que o Brasil se encontra hoje, você acredita que valeu a pena todo aquele movimento contra a ditadura?
Andrade – Como já disse um poeta: Tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Infelizmente, apesar de todos os CAÍDOS e de todos os SOBREVIVENTES daquele “Tempo Sujo”, poucos foram aqueles que, de alguma forma, ousaram preservar seus sonhos. A história recente do país confirma aquela genial frase de Napoleão quando disse que “O político é uma ave rara… para pôr os pés no céu, não se importa de arrastar as asas na lama”.

Tribuna – Você acredita que com o aumento dos governos populistas na América Latina, a gente corre o risco de voltar a ter um ditador como presidente?
Andrade – Não creio que corremos este risco. Diante de um mundo globalizado não se muda tão facilmente as regras do jogo político. Há interesses comerciais, economicamente muito mais poderosos, que precisam ser preservados. Mas eu não gostaria de pagar para ver. Embora os militares estejam hoje silenciados pelo luto de tantas mães e tantos órfãos e por tantos nomes sem sepulturas e tantas sepulturas sem nome, é imprescindível que se mantenha, seja com militares ou civis, o estado democrático de Direito. Por outro lado é preciso não se iludir com o que está acontecendo na Venezuela, no Equador e na Bolívia. Nós já temos as nossas ilusões e decepções domésticas. Governos populistas não são sinônimos de governos revolucionários. Infelizmente hoje nós não temos uma utopia.

Tribuna – O presidente da Venezuela, Hugo Chavez, é uma ameaça para a América Latina?
Andrade – Não acredito que Chaves seja uma ameaça para a América Latina. Contudo há um perigoso jogo de forças nas fronteiras com a Colômbia e ele é um homem imprevisível. Por isso é necessário que o diálogo rompido nestes dias com esta desastrada ação militar do governo colombiano em território do Equador, seja restabelecida com a mediação diplomática. A Colômbia está numa situação muito desconfortável. Já teve, anteriormente, problemas militares com o Equador e desde 2004, com a Venezuela, quando da prisão do chefão das FARC, Rodrigo Granda, em território venezuelano. Agora, com este gesto extremo de Chavez, colocando dez batalhões do Exército na fronteira e fechando sua embaixada, a situação se deteriorou por completo. Há, portanto, um jogo de coalizões ideológicas naquela região que favorece as atitudes intempestivas de Chavez e desfavorece a Colômbia. Além dos estreitos laços com o Equador, Chavez conta com o apoio da Nicarágua, que mantém uma velha disputa com Bogotá pela soberania das ilhas Providência e San Andrés. Embora sua popularidade interna esteja caindo, Chavez quer buscar seu espaço político na região a qualquer preço. Se é uma real ameaça à paz regional, não sei. Contudo é indispensável separar as coisas para não se sujar a imagem socialista e não se abusar do mito da revolução. Com relação às Farc é também indispensável separar traficantes de revolucionários. Na verdade é muito difícil interpretar os sonhos bolivarianos de Chavez. Só Freud pudesse explicar.

Tribuna – O presidente cubano Fidel Castro renunciou e deixou a seu irmão Raul Castro o governo da ilha. Você acredita que ele conseguirá manter Cuba socialista, como Fidel o fez?
Andrade – É o que se espera que ele faça. O marxismo foi a maior força ideológica do século XX, mas quando posto em prática se mostrou inexeqüível. É muito triste reconhecer isso, mas restaram apenas muros derrubados, uma Iugoslávia esfacelada e pouco sobrou na União Soviética. Intacta sobrou apenas a Cuba socialista, que em 1959 pegou o imperialismo de surpresa, fez a reforma agrária e socializou a economia. Cuba foi o farol que iluminou os nossos sonhos e bem quiséramos que esta luz não se apagasse.

Tribuna – Se a ditadura voltasse, a geração de jovens estaria pronta para lutar contra ela, como foi na sua época?
Andrade – Não é o que se vê na grande parte da juventude de hoje. São raros os que se preocupam com a educação política. Por outro lado, não temos mais referências como tínhamos na década de 60. Uma literatura combativa, um teatro engajado, uma poesia politizada e um cinema comprometido com as grandes causas sociais. Tínhamos a classe operária como uma força revolucionária e uma classe estudantil militante que a partir de maio de 68, na França, varreu o mundo questionando uma educação alienante e colocando o dedo nas grandes feridas do sistema capitalista. Hoje vivemos numa cultura comprometida com a pós-modernidade e os movimentos sociais estão acomodados e comem na mão do governo.

Tribuna – O que você acha que teria acontecido ao Brasil se João Goulart tivesse implementado as reformas e não houvesse ditadura?
Andrade – Quem sabe tivéssemos feito a reforma agrária e, conseqüentemente, não tivéssemos, com os trabalhadores do campo, esta dívida social imensa. Quem sabe tivéssemos feito as reformas de base e tivéssemos a escola e a universidade preocupada em formar cidadãos para a vida e não apenas prepará-los para integrá-los num sistema cuja lei é o lucro. Por certo não teríamos este genocídio cultural e político cujas sementes desabrocham hoje na inércia ideológica, porque as reformas acenavam, sobretudo, com a participação das massas anônimas e destituídas. E muito mais.

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pintura representando a saga de manoel de andrade , obra do artista visual claudio kambé, em acrílica sobre tela medindo 70cmX90cm, deverá ser a capa da edição em portugues do livro POEMAS PARA LA LIBERTAD composto no exílio, seu próximo lançamento.  

É a…É o…deixa pra lá! por josé zokner (juca)

 RUMOREJANDO:

Constatação I

Rico é phd; pobre, é p. velha.
 

Constatação II

Rico tem costume; pobre, vícios.

Constatação III

Rico é imaginativo; pobre, pervertido.

Constatação IV (De uma dúvida crucial).

Quando num casal, durante uma discussão, um deles acusa o outro de mau-gosto ele, ou ela, estará se auto-recriminando?

Constatação V

E como se informava apavorado o obcecado, decadente, na sua roda de amigos: “Alguém de vocês aí, sabe aonde tem uprima, viagra, levitra ou cialis em promoção?”

Constatação VI (De uma dúvida assaz crucial).

Afinal, foi a besoura que chamou o besouro de casca grossa ou foi a tartaruga que chamou o tartarugo? Quem souber, por favor, cartas à redação. Obrigado.

Constatação VII (Quadrinha para talvez ajudar a resolver o problema do alto desemprego em nosso país).

Ando em busca de emprego
Tá difícil, já passei dos setenta
Um que não me massageia o ego
É o de olho-de-seca-pimenta.

Constatação VIII

Rico, como no filme, canta na chuva; pobre, fica com medo de deslizamento de terra.

Constatação IX

Não se pode confundir intenção com invenção, muito embora mesmo tendo a intenção de tentar uma invenção do tipo um substitutivo para o petróleo, barato, corre-se o risco de acabar derretido em ácido e jogado no bueiro de qualquer esquina, tal os interesses que se vai contrariar como, por exemplo, o das 7 Irmãs (Shell, Exxon, Texaco, etc.). Tentar vender o apartamento que ganhou, no casamento, dos pais da noiva. E coisas desse jaez. A recíproca, como já foi apregoada em Rumorejando é como é e tá acabado. Tenho antiautoritariamente dito.

Constatação X

E como elucubrava o obcecado convencido: “A grande vantagem dessas máquinas fotográficas digitais é que a gente pode tirar mais facilmente fotografias da gente mesmo, não só para exercitar um eventual narcisismo – desnecessário no meu caso, é claro –, mas também para achar uma que poderá vir a fazer mais sucesso junto ao mulherio”.

Constatação XI (Coisas que precisam ser inventadas).

Tinta para impressora que custe apenas 10% do que a HP filhadap…mente cobra.

Constatação XII

Deu esta semana na mídia: “Fraude em filantropia deixa rombo de R$ 4 bi”. Data vênia como dizem nossos juristas e poderiam dizer nossos filólogos, pelos valores auferidos, isso poderia ser chamado de auto-filantropia ou auto-ajuda-filantrópica…

Constatação XIII (Espécie de confissão sem ser uma justificativa…).

O arquiteto e escritor norte-americano Frank Lloyd Wright enunciou que “depois de se tornar um especialista, a pessoa pára de pensar. Para quê? É especialista”. Data vênia, como diriam os nossos juristas, mas este assim denominado escriba toma a liberdade de discordar. Durante 27 anos, trabalhei no Banco de Desenvolvimento do Paraná S.A. – Badep, tendo exercido várias funções, dentre as quais as de analista de projetos e acompanhamento de financiamentos. A análise de projetos do setor privado, que recorria ao Badep em busca de financiamento para implantação ou ampliação das empresas, ensejava que se estudasse os diferentes ramos da atividade industrial. Por exemplo: uma indústria que fabricasse tijolos e telhas tinha um equipamento que se chamava maromba a vácuo, que amassa e mistura o barro. Parêntesis: Certa vez um engenheiro, que já estava acompanhando se a empresa havia feito a que se havia proposto, perguntou ao gerente de produção de uma empresa financiada: “Cadê a maromba a vácuo que os senhores tinham que adquirir ainda no mês passado?” Resposta: “Taí. O senhor tá sentado em cima dela”. Fecha parêntesis. Efetivamente não é possível se entender e conhecer tudo que existe. Aí, o pessoal, na troça, era intitulado como “Técnico ou Especialista em Generalidades”. Aquele que conhece, ou tenta conhecer, superficialmente, um pouco de tudo. Seria o Especialista em Generalidades que não entra no que o arquiteto e escritor Frank Lloyd Wright se referiu. Afinal, mesmo que fosse superficialmente, havia necessidade de se inteirar daquilo que se estava tratando… Parar de pensar? Técnico em generalidades? Pois sim… É a… É o… Deixa pra lá…

E-mail: josezokner@rimasprimas.com.br