Arquivos Diários: 29 novembro, 2009

MR. KURTZ – por hamilton alves / florianópolis

A Novela de Joseph Konrad, “O coração das Trevas”, sobre a qual Paulo Mendes Campos escreveu possivelmente a melhor e mais bela resenha, indo ao fundo do significado desse personagem misterioso, Mr. Kurtz, um homem que, em busca do marfim, que se colhe das presas dos elefantes, embrenha-se pela mais selvagem selva do Congo, na África, e ali (será só por isso?), envolve-se com o povo indígena nativo, para o fim de comercializar com esse precioso material.

Marlow, que empreende uma viagem para encontrar Mr. Kurtz ou substituí-lo em seu posto, para o que fora contratado pela empresa que se envolve com o marfim, é o narrador dessa história, que antecipa os escritores que virão depois, como Kafka, por exemplo.

O local onde embrenhou-se Mr. Kurtz é de indescritível rudeza. Para ele ou para a sua personalidade se volta a imaginação de Marlow. É impensável que um homem civilizado tivesse abandonado as cidades modernas para viver num meio absolutamente inóspito em troca somente da riqueza que o marfim lhe pudesse proporcionar.

Kurtz era um homem adorado pelos selvagens, como se, para eles, fosse um deus.

Quem é, afinal, esse Kurtz? – é logo a pergunta  que se propõe o narrador. E haverá certamente de formulá-la, logo às primeiras páginas, o ledor, a indagar-se por que um homem vivido no meio civilizado escolheu viver num ambiente hostil, entre silvícolas?

Depois de uma longa viagem pelo rio Congo, cheia de peripécias, de imprevistos, de problemas no motor do barco, que, a certa altura, encalha por problemas mecânicos, tendo que ficar à mercê de que seja conseguida uma peça para de novo seguir sua trajetória, ameaçados seus tripulantes de um ataque, que nunca vem, dos selvagens, consegue-se, a duras penas, um contato finalmente com Mr. Kurtz e realizar a viagem de volta com ele, vindo a sucumbir durante o transcurso.

Marlow entra em contato com a mulher de Kurtz, depois de tentar com dificuldade encontrá-la em Nova York.

A primeira pergunta que lhe é feita por essa senhora é sobre se Kurtz ainda se lembrava dela.

– Sim, disse-lhe, foi a última coisa que ouvi de sua voz a referência, muito amorosa, que fez ao seu nome.

Marlow mentira para que a mulher guardasse de Kurtz uma boa imagem. Ou que sua memória ainda de algum modo estivesse viva em relação a ela.

Mas ao fim e ao cabo, a personalidade de Kurtz, para o leitor, continua um enigma, esse homem que abandonou a civilização para viver na mais aterradora região do planeta.

Na literatura universal, Kurtz é um personagem que não tem paralelo, e “O Coração das Trevas” marca o momento inigualável de Joseph Konrad como escritor.

Rumorejando (Lamentavelmente, os deputados, agora, com a verba indenizatória, continuam aprontando). – por juca (josé zockner) / curitiba

PEQUENAS CONSTATAÇÕES, NA FALTA DE MAIORES.

Constatação I

Perguntou a adolescente para sua amiga, também adolescente:

-“O que você fala com a tua psicóloga ?”

-“Geralmente sobre os meus pais. E você ?”

-“Eu não. Eu falo sobre eu mesma. Acho bem mais interessante”.

Constatação II (De ditados adaptados).

Nem só de ego massageado vive o homem.

Constatação III

Se o fenômeno El Niño ou El Niña não der logo às de vila-diogo, não só muita água passará debaixo da ponte, como também por cima. Lamentavelmente.

Constatação IV (Passível de mal entendido).

-“Aquelas águas termais eram tão afrodisíacas que eu até consegui fazer amor com a minha mulher”.

Constatação V (Via pseudohaicai).

A éguinha relincha

Pra saudar o cavalinho

Seu cupincha.

Constatação VI (Aparentemente paradoxal).

Apalavrou que não cumpriria sua palavra.

Constatação VII (De conselhos úteis, via pseudo-haicai).

Em época de inflação,

Não adianta juntar

Tostão por tostão.

Constatação VIII (De ditados adaptados).

Em terra de idiotas, quem é meio idiota é rei, presidente, ministro, senador, deputado, etc.

Constatação IX (Via pseudo-haicai eufemística).

Levou uma tunda,

Ali, onde as costas

Mudam de nome…

Constatação X

Em terra de vaidoso, quanto mais caro forem os preços dos ingressos dos espetáculos mais sucesso de vendas terá.

Constatação XI (Via pseudo-haicai).

Aquele exame

Quando fiquei

Pra 2ª época: infame!

Constatação XII

Quando você cumprimentar um cara chato: “como é que vai ?”, não tenha dúvida que ele vai se pôr a explicar, interpretando o teu cumprimento como uma pergunta.

Constatação XIII (Via pseudo-haicai).

O ditador se compraz

Com gente do tipo

Leva-e-traz.

Constatação XIV

As empresas que criam sua publicidade na base do antes e depois, como por exemplo, produtos que ajudam a emagrecer, eliminação de rugas, queda de cabelos, ou ainda eliminar os cabelos brancos deveriam, a fim de evitar mal entendidos, colocar o imprescindível aviso: “Não leia da direita para a esquerda, ou de baixo para cima”…

Constatação XV (Via pseudo-haicai).

O equilibrista, no arame,

Parece ter com ele

Um elo, um liame.

Constatação XVI (De conselhos úteis).

Se você só pensa em coisa ruim, pare de acompanhar o noticiário em geral e o policial em particular. De nada !

Constatação XVII (De diálogo via pseudo-haicai).

-“Bradaram aos céus !”

-“Quem ? Os religiosos ?”

-“Ora veja, os incréus”.

Constatação XVIII

A tesão obnubila.

Constatação XIX (Via pseudohaicai).

Foi com um pouco de nojo

Que comeu o pastel da esquina.

Mas, com arrojo !

Constatação XX

E como dizia aquele torcedor fanático: -“A bandeira, a camisa, o distintivo dos outros times, para mim, é poluição visual”.

Constatação XXI (De diálogos meio tangenciais).

-“Eu te adoro. Você para mim é como uma filha”.

-“Só como filha ? Como mulher, não ?”

-“Não. Só como filha. Mas sabe, não é por nada não, mas, em alguns casos, acho o incesto perfeitamente justificável”…

Constatação XXII (De conselhos úteis, óbvios).

As qualidades da erva mate já foram, várias vezes, enaltecidas por Rumorejando. No entanto, há uma única restrição, ou melhor, uma recomendação: é que ele não deve ser ingerido em grande quantidade pouco antes de você ir a um espetáculo público (teatro, concerto, balê, cinema, circo, etc.), com risco de você, além de cada vez ter que pedir licença pro seus vizinhos de poltrona para passar, perder grande parte da apresentação. De nada !

Constatação XXIII

E quando o ator estava sendo entrevistado, a uma determinada pergunta, respondeu: -“Sabendo-se como é a humanidade, é muito mais fácil, mais natural, interpretar o papel de bandido do que o de mocinho”…

Constatação XXIV

E como ameaçou, pseudohaicaimente, aquele pai ao filho que havia acabado de tirar o seu título de eleitor:

“Leva um peteleco

Se não votar

No cacareco*”.

*Cacareco era o nome de um rinoceronte que fazia parte do zoológico da cidade de São Paulo e que, na década de 50 ou 60, recebeu a maior votação para a Câmara de Vereadores daquela cidade, numa das maiores manifestações de protesto contra os políticos já efetuada em nosso país e que, face o que vem ocorrendo, não surpreenderia a ninguém a repetição de algo similar…

DÚVIDAS CRUCIAIS

Dúvida I (Via duplo pseudo-haicai).

Foi o marreco

Que irritou o galinheiro

Tocando reco-reco ?

E foi o Maneco

Que tomou umas e outras

Num baita caneco ?

Dúvida II (Ah, esse nosso vernáculo).

Foi o Cláudio que claudicou com a Cláudia, clamorosamente ?

Dúvida III

Tá certo! Eu sou um sujeito com o pé na terra. Mas, como é que fica ? O planeta Terra, como os demais, não está solto no espaço ?

Dúvida IV

Quando o teu interlocutor te conta uma mentira, daquelas bem escabrosas, é você que fica envergonhado ?

Dúvida V

É somente quando todos tiverem uma cidadania digna é que ninguém precisará cuidar do nosso carro ? Mas, quando todos tiverem uma cidadania digna, será que ainda existirá esse meio de transporte ?

Dúvida VI

Se o feminino de maestro

É maestrina,

O feminino de canhestro

Não deveria ser canhestrina ?

E o de destro

Destrina ?

Dúvida VII

Foi o médico, especialista em alergia, que não parava de espirrar ?

Dúvida VIII

Foi o caíque,

Do cacique,

Que bateu no dique

E foi a pique ?

(Por favor,

Caro leitor,

Não se vá, fique.

Eu prometo, ao senhor

Que não haverá repique).

AS “ESQUERDAS” ESTÚPIDAS – por alceu sperança / cascavel.pr


 

O escritor José Saramago deu um soco na cara de uma certa casta de malandros que se intitulam “esquerda” e assumem governos pelo mundo afora com discursos melosos sobre cidadania e na verdade cultivam práticas maliciosas capitalistas.

Engabelam estudantes, sindicatos, religiosos decentes, ganham milhões de votos e o que fazem é cuspir na face dopovo, arrotando as “novas” políticas de interesse do capital: o “trabalhismo” conciliador com a exploração e o “verdismo” para desviar a juventude da revolução.

Tudo que fazem é tentar “melhorar” o capitalismo, evidentemente sem sucesso, pois não há como corrigir os males causados aos povos pela canalhice da exploração.

Saramago disse não conhecer nada mais estúpido do que essa esquerda: PT aqui e Inglaterra, os reformistas italianos, PS em Portugal, requentando o fracasso do PS na Alemanha e na França, e vai por aí.

Dizendo-se “esquerda”, chegam ao poder, como Lula por aqui, e vão repetir o repetido. Mandar bater em estudantes e trabalhadores, como ocorreu na França. Dando um péssimo exemplo à juventude dizendo que não lê livros, como Lula.

Sem dúvida, isso é muito mais estúpido que a direita. Porque a direita é aquilo mesmo: é a guerra, violência, droga, corrupção, mutreta. A direita ser criminosa é da sua natureza.

Mas quem se diz esquerda e se comporta como a direita é mais estúpido ainda: além de repetir a má prática, cevar a corrupção, sustentar o capitalismo, tentar reformar o que não tem futuro, agrega à malícia a traição. Por isso é preciso dizer, com todas as letras, como fez Saramago: essa é a coisa mais estúpida que já se viu.

Quem ousou se dizer “esquerda” e faz o mesmo que a direita, merece o quê, além de vaias? Claro, a vaia não constrói nada. É apenas uma expressão de impotência.

Os lulistas responderam às vaias do Maracanã afirmando que elas foram “orquestradas” pela “extrema-esquerda”, que seríamos nós, comunistas do PCB, e nossos eventuais aliados do PSol e do PSTU.

A todos, os lulistas reservam, além da pecha de “extrema-esquerda”, o insulto de que estamos nos igualando à direita, porque, dizem, a direita também vaia Lula – ora, na verdade, ela aplaude.

Veja as contribuições de campanha. É o PT, Lula e seu bando que se uniram à direita para liquidar os direitos dos trabalhadores e levar adiante a traição contra a Reforma Agrária, por exemplo.

Não surpreende que os servidores federais pipoquem greves a todo instante. Nem que os movimentos populares comecem a entender (como já entenderam em Cascavel, na Jornada de Agroecologia) que Lula traiu tudo e todos.

Saramago, com toda a razão, acusa essa gente de ser estúpida também por se tornarem “comissários do poder econômico”. Vide hidrelétricas em Rondônia, encomendadas pelo grande capital. A opção preferencial de Lula pelos banqueiros. As propostas de liquidação de direitos dos trabalhadores públicos e privados.

Socialistas de mentirinha, ávidos por cargos DAS, de confiança, dizem duas ou três palavras sobre cidadania e duas a três mil palavras para justificar seus mensalões e traições.

Corretamente, do alto de seus quase 90 anos, Saramago afirma que os governos hoje representam plutocracias, e chama o povo à rebelião:

“O mundo é dirigido por organismos que não são democráticos, como o FMI, o Banco Mundial e a OMC. É a altura de protestar, porque se nos deixamos levar pelos poderes que nos governam e não fazemos nada por contestá-los, pode dizer-se que merecemos o que temos”.