Arquivos Diários: 4 fevereiro, 2008

CARNAVAL? E O NOSSO? env. por loureane castro.

carro alegórico com eusébio, no corso de Loule.

 Quando se fala de Carnaval, os brasileiros acham-se donos da ciência. Pensam que só no Brasil é que há Carnaval? Nanay. Não se esqueçam do Carnaval veneziano…
Espanha também tem tradições próprias e muito antigas. Se, por um lado, temos o mediático Carnaval de Tenerife (mais do mesmo, na linha do Carnaval madeirense, como se pode ver em http://www.carnavaltenerife.es/), o norte da Espanha tem tradições que se assemelham muito às do interior/norte de Portugal e que remontam aos jograis e às sátiras sociais em tom jocoso e por trás de um careto ou de uma máscara.
A sul, mantêm-se as sátiras, mas juntam-se às chirigotas, em agrupamentos de gente que se une para satirizar a actualidade ao ritmo de pasodoble, tanguillo e outros da tradição musical andaluza. Há um concurso central, que é o de Cádiz, mas todas as terras têm o seu concurso local para os melhores chirigoteros. O site oficial é http://www.carnavaldecadiz.com/. O concurso pode também ser visto em directo na tv (ou numa selecção em diferido) no site do CanalSur: http://www.radiotelevisionandalucia.es/
Nós, os saloios dos ibéricos, também temos tradições para tudo. E, sinceramente, eu cá dispenso as mulatas despidas e as escolas de samba e vou-me ficar por ver o concurso de chirigotas em directo na terça-feira. É uma pena que não se incentivem os Entrudos lusitanos assim e que se deixem cair em desuso tradições seculares para adoptar referências culturais que, entre o Halloween dos EUA e o sambódromo do Brasil, não são nossas.
Eles têm o rei Momo, nós temos a Queima e o Enterro do Judas.
E qualquer provinciano ibérico como eu, que oscilo entre o jamón Pata Negra e as tripas à moda do Porto, sabe do que falo.
loureane afirma, em seu email, que retirou, de uma página, na internet, sem assinatura, e que achou interessante. como estamos no carnaval, e o servidor está cheio de confetes e serpentinas, publicamos. se o autor do texto se apresentar, com provas, citaremo-lo. ops! confete no olho.

POEMA de bia de luna

A borboleta branca

É a letra que falta

  

  

na palavra que não sai

CHIAR(O)SCURO poema de bárbara lia

Hora suspensa. Horizonte de sangue.
Despediu-se o sol, não brilha a lua.
Barcas estremecem em marés de fogo.
Sinos dobram a Ave-Maria.
O Bem chora a evaporação do dia.
Lágrimas de anjos pela humanidade crua.
Encontro e fuga de almas no ocaso,
Bebendo o sangue solar – poção
De luz para os dias de aço.
Crepúsculo incendiado.
Átimo de esperança: Um Serafim alado,
Flauta de estrelas flana acima de algas e corais.
Toca a música divina estremecendo cristais.
(Jazz, blues, salsa cubana, sinfonia?)
Som azul unindo sangue celeste e marinho.
Serafim, flauta e sol
Evaporam em silêncio de prece.
A branda noite abraça o arrebol.
O eco da flauta aos puros adormece

ARRANCADO DE MIM poema de paulo matos

Arrancado de mim
Como flor que fosse arrancada
Por uma criança ao passar
E antes que a flor percebesse
Já tivesse sido despetalada
Pela criança que soprava
Suas pétalas ao vento
Para acompanhar-lhes o vôo
No encanto mágico de voar
Como essa flor sem pétalas
Estou despido de mim
Perdido ao lembrar como era
E não saber como sou
Sinto medo
Há silencio em mim
Como se não ter respostas
Fosse a resposta
E tudo se tranqüilizasse
Como um mar em súbita calmaria
E o medo fosse embora
E outro medo então
Se apossasse de mim
O medo de não ter coragem
Para encontrar as respostas
Que provavelmente estão aqui
Dentro de mim

A RARA ARARA (palíndromos) de edu hoffmann

oh, nossas luvas avulsas, sonho
a base do teto desaba
marujos só juram

a sacada da casa
soa como caos
seco de raiva, coloco no colo caviar e doces

rir, o breve verbo rir

Ana me rola, calor emana
a rara arara
amora me tem aroma

ATÉ MAIS, OFÉLIA por zuleika reis

A mulher vai passando silenciosa pelo homem que toca violino junto aos mendigos da Estação República.
Peter Pan encontra a pedra de crack no bolso da calça jeans e se põe a sonhar… Wendy, ao seu lado, também se põe a sonhar…
O olhar do homem que entra no Franz e aguarda o café expresso, não se parece com um céu em chamas. Enquanto toma o café, apenas vê os brancos garçons suspensos por seus fios invisíveis.
O céu baixíssimo protege a velha biblioteca com seus ratos de outros tempos.
O palhaço com imensas pernas de pau atravessa o Viaduto do Chá, anunciando… Você só fala, fala, mas não faz nada, diz a balconista, que jamais leu o papagaio de Queneau.
Fernando Pessoa cumprimenta timidamente a mulher, que continua a passar silenciosa. Ele lhe faz um gesto como quem diz: Isso também passará. O poeta atravessa a Rua Direita com o chapéu em uma das mãos e na outra o gatinho que acabou de recolher da calçada.
O homem que toca o violino vem, cercado pelo séquito de mendigos. O homem que toma café no Franz se cose à parede. Não há como duvidar que os brancos garçons continuem, ad infinitum, a servirem cafés. O palhaço chega à Praça da Sé. Um rato pardo, que acabou de sair do bueiro, tem nos olhos a certeza de que o mundo perfeito não precisa, absolutamente, de queijos. Tento surpreender nele algum ar de mártir cristão ou de monge zen, mas já desapareceu.
Fernando Pessoa solta o gatinho, despe o casaco e se põe a dançar, frenético. Ele grita Ofélia vem dançar vem dançar vem dançar e a multidão que se dirige à missa também grita Ofélia vem dançar vem dançar vem dançar.
Ofélia dança e vai soltando, um por um, todos os seus véus e nua, continua a dançar.
Fernando Pessoa pára, veste o casaco, pega o chapéu do chão com o gato dentro e se despede:

Até mais, Ofélia.

PARA REFLETIR de artur amieiro

CRIME e CASTIGO por walmor marcellino

Após o anúncio da progressão assustadora do desmatamento na Amazônia, e da reunião de emergência do governo Lula da Selva, surge a inevitável pergunta: O presidente da República não teria sido avisado por sua delegacia de ordem política e social, isto é, a ABIn, por sua ministra do Ambiente do Meio(?) Marina Selva, pelo Ministério da Reforma Agrária, pelo Ministério da Defesa, pelo Ministério da Justiça e até pelo Ministério da Pesca e pela direção nacional do PT de que estão depredando a Amazônia? E que os empresários que a borracheira e castanheira Marina e o protelário Lulu estão querendo incumbir de proteger esse patrimônio nacional são assaltantes dos bens públicos?
Afinal, é o começo da PP/P (que os pariu!).

Os governadores, prefeitos, senadores e deputados da região amazônica são sócios do festim nacional do neoliberalismo de esquerda; como o eram no de Fernando-Henrique, ou seja, qualquer “predatório”. Toda vez que eu vi e ouvi os Artur Virgílios discursarem foi para atacar esse “governinho de esquerda” e defender a predação nacional, de direita. Essa escumalha de políticos se revelam a cada momento através de desastres e tragédias que são anunciadas para quem vê o que passa, sob a batuta de Lula-Meirelles-Mântega.

“Política é isso, fazer o quê?” dirão o Berzoini, o Palocci, o Mântega, o Paulo Bernardo, o Meirelles, o Mangabeira, o Luiz Inácio e as bancadas do PT e seus cúmplices no Congresso Nacional. A propósito, a governadora petista do Pará faz o quê, além de administrar o espólio?
O que vai acontecer agora, e depois?
Se alguém souber, me diga.